sexta-feira, 10 de abril de 2015

A arte de envelhecer

A arte de envelhecer Os experientes, que estreia hoje, coloca em evidência personagens idosos. 

Diretor Fernando Meirelles diz ter interesse em saber "o que muda quando estamos cara a cara com a morte"


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 10/04/2015



O ator Juca de Oliveira como o personagem Napoleão em Os experientes

 (Jairo Goldflus/Divulgação)
O ator Juca de Oliveira como o personagem Napoleão em Os experientes


Desde garoto o cineasta Fernando Meirelles se interessa pelo tema da velhice. Pode parecer estranho, mas ele sempre pensou diariamente na morte. Essas características somadas a uma ideia de seu filho e também diretor Quico Meirelles levaram os dois a se aventurar numa empreitada pouco explorada pela TV.

“Acho que meu interesse no assunto é entender o que muda em nós pelo fato de estarmos cara a cara com a ‘indesejada da vida’, ou seja, a morte. Cara a cara com o fim, com o outro lado, ‘indo para essa região desconhecida cujas raias jamais viajante algum atravessou de volta’, como diria Hamlet”, afirma Meirelles, diretor-geral, ao lado de Quico, da série Os experientes, que estreia hoje na Globo. Escrita por Antônio Prata e Márcio Alemão Delgado, a série é uma coprodução da Globo com a O2 Filmes, de Meirelles.

O roteiro do seriado, que tem quatro episódios dissociados, aborda o comportamento de uma terceira idade cada vez mais numerosa, ativa e que hoje desfruta de benesses que os velhinhos de 30 anos atrás não conheceram. Histórias sobre envelhecer, mas também sobre se redescobrir, se reinventar e até começar a viver uma das melhores fases da vida.

“A ideia foi do Quico. Ele tem uma relação muito próxima com os avós e gosta bastante do universo da terceira idade, por isso quis fazer um projeto sobre e para eles. Na verdade, a série pode interessar às pessoas mais velhas, mas foi feita pensando em todos os públicos, talvez até mais nos mais jovens, que, às vezes, nem enxergam quem passou dos 50. Já filmei personagens mais velhos, mas nunca sendo a idade o tema central”, afirma o diretor, que vem do exitoso Felizes para sempre?

ELENCO


O elenco traz Beatriz Segall, Selma Egrei, Joana Fomm, Juca de Oliveira, Othon Bastos, Lima Duarte, além do cantor e baterista Wilson das Neves, do jornalista e apresentador Goulart de Andrade e dos músicos Germano Mathias e Zé Maria.

Na avaliação de Meirelles, a idade conferiu a esse time uma experiência de valor inestimável. “Esses atores sabem tudo sobre o ofício, têm estofo, têm peso em cada gesto e fazem seu trabalho aparentemente sem esforço. Dirigi até a Joana Fomm, de quem era fã há décadas. Quem diria! Só não pedi para fazer um selfie com cada um deles porque tive vergonha.”

Para um dos episódios, Atravessadores do samba, como os personagens fazem parte de um grupo de samba, o elenco exigia músicos de verdade. “O Goulart de Andrade é o único que não é músico, mas já foi ator e sabe tocar tamborim. Então deu certo. Wilson das Neves é um grande ator e poderia investir na carreira. O sensacional Germano Matias faz o Germano Matias mesmo, o mesmo jeitão que tem na série ele tem em sua vida. Nem precisou interpretar. Finalmente o Zé Maria, que toca cavaquinho, tem uma presença muito forte e uma voz tão potente que pedimos para ele narrar as quatro histórias”, conta Meirelles.

Juca de Oliveira, 80 anos de vida e 51 de carreira, é o protagonista do episódio O primeiro dia, em que intrerpreta Napoleão Roberto, que vive uma complicada relação com o filho Luiz (Dan Stulbach). O ator considera Os experientes um projeto extremamente rico. Ele diz que, sendo completamente diferente de seu personagem, o trabalho para fazer aflorar as características psicológicas de Napoleão e sua busca pela reconciliação com o filho acabou levando-o a uma pesquisa interior que o ajudou a conhecer melhor a psicologia do velho e, por extensão, a se conhecer. “Quando isso acontece, o trabalho é uma alegria e uma recompensa. Acho a ideia desta série excelente. Com o aumento da longevidade, há uma considerável sobrevivência de velhos, o que provoca problemas até mesmo à Previdência Social, que tem seus custos onerados. A sociedade e a família têm que encarar e aceitar essa mudança. Os velhos de hoje são muito mais ativos que os do passado. Atuam socialmente, trabalham até mais tarde e têm uma vida social intensa. Os velhos de Os experientes nos ajudam a compreender melhor este novo estágio da nossa convivência com os velhos da vida real”, ressalta.

Moda

A moda também está se rendendo aos mais experientes. Há um recente interesse da indústria fashion por modelos mais velhos, para estrelar campanhas publicitárias, catálogos ou até desfilar. A norte-americana Carmen Dell’Orefice, de 83 anos, é uma referência nesse sentido, já que é a manequim mais velha em atividade, e foi destaque na Semana de Moda de Paris de 2014. No Brasil, algumas agências estão recrutando profissionais na faixa etária da ‘terceira idade’, como a Bravo! Model, em São Paulo, que contabiliza cerca de 50 modelos entre 55 e 70 anos.

Três perguntas para...
Juca de Oliveira
ator

Como você vê o espaço que os mais velhos têm nas produções brasileiras de TV, teatro e cinema?

Os velhos atores sempre tiveram espaço no teatro, no cinema e na televisão. Há grandes personagens em toda a dramaturgia universal à espera de intérpretes velhos, ou ‘mais experientes’. Possivelmente, os melhores e mais ricos personagens. O Rei Lear, de Shakespeare, que estou tendo o privilégio de representar – já fiz uma temporada em São Paulo no Eva Herz e outra no Rio, no Teatro dos Quatro – é um deles.

Como foi seu processo de envelhecimento?

Normal. Sou caipira do interior de São Paulo (São Roque), vivo numa fazenda há quase 50 anos e aprendi com as plantas e os animais, os bichos, enfim, que todas as etapas da vida são iguais. Sempre achei que estivesse vivendo o melhor momento da minha vida. Aos 15, aos 30, aos 60 e agora aos 80 vivo, sem dúvida, o melhor mesmo! Aliás, nunca trabalhei tanto como agora. Atuando como ator e escrevendo. Uma delícia!

O que há de melhor e de pior em envelhecer?

O pior em envelhecer é você perder a noção de que está envelhecendo. É a ilusão de que tudo continua igual, o seu humor, as reuniões, as festas, os papos. Se você sempre foi a alegria da festa, se todos adoravam as suas piadas e riam de você, preste atenção: ao envelhecer nem todos continuarão fascinados pelas suas histórias. Porém, os velhos amigos, os amigos de sempre, sim, esses estarão sempre com você. Mas os mais jovens, os garotos e as garotas, irão saindo de fininho, muito antes do final das tuas façanhas. Se, no entanto, você tem consciência de que está envelhecendo, só existirá o melhor de envelhecer e tudo será naturalíssimo.

ESCÂNDALO DA PETROBRAS

ESCÂNDALO DA PETROBRAS » Em dia de ratos na CPI, respostas vazias de Vaccari Roedores soltos no plenário atrasam sessão. Tesoureiro do PT presta depoimento burocrático, admite que esteve no escritório de doleiro e volta a defender legalidade das doações ao partido


João Valadares e André Shalders
Estado de Minas: 10/04/2015




Ao longo de todo o depoimento na CPI da Petrobras, João Vaccari Neto repetiu que era inocente. Ele voltou a afirmar que tem apoio interno do PT para continuar como tesoureiro da legenda  

 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Ao longo de todo o depoimento na CPI da Petrobras, João Vaccari Neto repetiu que era inocente. Ele voltou a afirmar que tem apoio interno do PT para continuar como tesoureiro da legenda


A captura de um hamster, dois esquilos-da-mongólia e dois ratos cinzas provocou correria e troca de acusações entre deputados
 (Luís Macedo/Câmara dos Deputados)
A captura de um hamster, dois esquilos-da-mongólia e dois ratos cinzas provocou correria e troca de acusações entre deputados

Brasília – O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, admitiu ter ido ao escritório do doleiro Alberto Youssef, o principal operador do esquema  de corrupção na Petrobras. Alegou que foi convidado pelo próprio Youssef e informou, durante depoimento conturbado ontem na CPI que apura irregularidades na estatal, não saber o motivo do convite. Nervoso, com respostas automáticas para qualquer questionamento e classificado de “ladrão” por oposicionistas, Vaccari defendeu a legalidade das doações eleitorais recebidas pelo partido e negou ter tratado sobre finanças da legenda com o doleiro ou com qualquer diretor da Petrobras.

O comportamento dele irritou a oposição. Na véspera, Vaccari recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ser liberado de dizer a verdade. O receio dos petistas era de que algum deputado tentasse dar voz de prisão ao tesoureiro, criando um fato político. Principal depoimento realizado até agora pela CPI, a fala do tesoureiro do PT começou em meio a tumulto e bate-boca entre parlamentares. Logo após a entrada de Vaccari, acompanhado de seu advogado, um homem abriu uma caixa e soltou cinco ratos no plenário da CPI. Ele foi identificado como Márcio Martins Oliveira, servidor da segunda vice-presidência da Câmara (leia texto abaixo).

Chamado de “um dos maiores ladrões da história do Brasil” pelo deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), Vaccari manteve a calma e repetia o mantra combinado com o advogado. Disse que não tinha intimidade com a presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Afirmou que só deixará o cargo de tesoureiro do partido quando o diretório nacional assim decidir. “Reafirmo que os termos das delações premiadas em relação à minha pessoa não são verdadeiros.” A repetição irritou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). Nervoso, o tucano afirmou que a prisão dele estaria perto e que o PT seria extinto. Em seguida, se retirou da CPI. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) protestou e chegou a dizer que o líder saiu correndo feito um rato, numa alusão aos roedores soltos no início da sessão.

Vaccari iniciou o depoimento apresentando slides sobre a arrecadação dos partidos para mostrar que outras legendas também ganharam recursos das empresas investigadas na  Lava-Jato. “Em 2014, foram R$ 222 milhões para todos os partidos das empresas investigadas. O PT obteve 25%, o PSDB obteve 24%, o PMDB obteve 21%”, afirmou. Quando questionado sobre a afirmação do ex-diretor de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco que o PT haveria recebido US$ 200 milhõess em propina mascarada de doação oficial, o tesoureiro deu respostas evasivas e repetidas.

Durante a sessão, disse que estaria à disposição para uma acareação com os delatores. Concordou em passar por um detector de mentiras, em resposta à deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO). Ao ser interrompido pela deputada, Vaccari chamou a atenção dela afirmando ainda não ter tido tempo de responder o que foi indagado. Mariana, então, ironizou: “Não tem problema, o senhor não respondeu nenhuma desde as 9h30, não faz diferença”. Também a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) perdeu a paciência. Primeiro perguntou a Vaccari se ele era inocente. O tesoureiro respondeu que sim. Depois, a deputada emendou: “O senhor veio para mentir. Ficou muito claro”. (Com agências)

As acusações

João Vaccari Neto, tesoureiro do PT desde 2010, foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ele é apontado como operador do PT no esquema de pagamento de propina oriunda de contratos firmados entre empreiteiras e a Petrobras.

Conforme os investigadores, Vaccari articulava reuniões com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque para fazer o acerto das propinas.

Os subornos, segundo o Ministério Público Federal, eram pagos por meio de doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores. Segundo a investigação, Vaccari seria o responsável pela manobra para “lavar” o dinheiro sujo.

Os procuradores da República identificaram 24 doações em 18 meses.

Vaccari é apontado como o responsável por indicar as contas onde os recursos deveriam ser depositados. Conforme o MPF, ele tinha consciência de que os pagamentos eram feitos a título de propina.

ESCÂNDALO DA PETROBRAS » Câmara demite servidor



Isabella Souto


Márcio Oliveira detido após soltar os ratos: ele nega responsabilidade, diz um deputado
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Márcio Oliveira detido após soltar os ratos: ele nega responsabilidade, diz um deputado

A presença inesperada de cinco roedores – um hamster, dois esquilos-da-mongólia e dois ratos cinzas sem raça aparente – provocou tumulto e correria na reunião de ontem da CPI da Petrobras. Os animais teriam sido levados à sala por Márcio Martins de Oliveira, funcionário de cargo comissionado da segunda-vice-presidência da Câmara, pelo qual recebia salário mensal de R$ 3.020,85. Ontem mesmo, foi assinada a exoneração dele.

Os animais foram soltos por volta das 10h, logo que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no plenário. Agora ex-chefe de Márcio, o deputado federal Giacobo (PR-PR) afirmou ao Estado de Minas que o funcionário negou ser o responsável pela soltura dos ratos. “Ele já disse que não foi ele, mas, se foi, foi uma atitude isolada dele e terá que arcar com as consequências”, disse o parlamentar, que o empregava há apenas um mês. Antes de trabalhar com Giacobo, ele foi secretário legislativo do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, entre abril de 2014 e 8 de março de 2015.

Os roedores foram apreendidos e levados para o Departamento de Polícia Legislativa da Câmara. O esquilo-da- mongólia é comercializado no Brasil há cerca de 30 anos e é considerado doméstico. A venda do animal – cujo valor é em torno de R$ 30 – só é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) em criadouros e lojas especializadas. A estimativa de vida é de 4 a 5 anos. Já o hamster e os ratos são comercializados por valores entre R$ 10 e R$ 20.

Dois deputados integrantes da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, Ricardo Izar (PSD-SP) e Laudívio Carvalho (PMDB-MG) solicitaram a guarda dos roedores. Apenas o hamster aparentava ter sido ferido durante a confusão na CPI. A CPI já requisitou imagens da Câmara para saber como os animais chegaram à Casa. “Não podemos de forma alguma permitir que isso passe em branco”, avisou Valmir Prascidelli (PT-SP). O objetivo é apurar se os ratos foram levados pelo próprio Márcio Oliveira ou se ele estava em conluio com alguém.

Logo depois da confusão, policiais legislativos passaram a barrar a entrada de pessoas não-credenciadas no plenário. Relator da CPI, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) fez o registro de “descontentamento” com a soltura dos ratos e afirmou desconfiar de uma “ação encomendada”. “O circo armado mostra o nível em que nos encontramos” , reclamou. (Com agências) 

"Não somos iguais ao PT"

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), rebateu ontem a declaração do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de que o PSDB e outros partidos receberam recursos de empresas investigadas pela Operação Lava-Jato. Aécio disse que o PT faz um “esforço enorme” para se mostrar igual a partidos que combatia no passado, mas que o PSDB não pode ser comparado à sigla. “O PT passou boa parte da sua existência querendo provar que era diferente dos outros. Hoje faz um esforço enorme para se mostrar igual aos outros. Mas nós não somos iguais ao PT. Nós não recebemos financiamento em troca de superfaturamento de obras, como aconteceu com o desvio de recursos públicos e, segundo as inúmeras delações premiadas, com o PT”, disse Aécio.