sábado, 14 de março de 2015

Astronomia - Eduardo Almeida Reis

Neste país grande e bobo a roubalheira, a violência, a incompetência, a ignorância %u2013 tudo é astronômico


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 14/03/2015 


Cinco e dez da matina ainda no horário brasileiro de verão. Em fevereiro, logo depois da lua cheia, quando o tempo não estava nublado, um ponto de raro brilho era visível através da janela do meu quarto. Ignorante também em astronomia, ousei pensar em Vésper, a estrela da manhã, fui ao Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, do astrônomo R. R. de Freitas Mourão, e o verbete Vésper me remeteu para Vênus, verbete imenso em letrinhas miúdas que não tenho tempo de ler. De repente, o ponto brilhante é o planeta Vênus e não se fala mais nisso.

Na excelente matéria televisiva que a não menos excelente jornalista Leila Sterenberg fez nos observatórios do Deserto de Atacama, no Chile, dava para ver uma porção de jovens astrônomas trabalhando. Namorar bela astrônoma deve ser uma delícia. O leitor já pensou na emoção de ficar com uma jovem morena, em noite de chuva, sabendo que ela estudou o asteróide Philoctetes 1.869, descoberto em 24 de setembro de 1960 pelo astrônomo PLS no Observatório Palomar e Leiden. O pormenor noite de chuva é óbvio, porque nas noites estreladas a morena trabalha com telescópios e computadores, que não roncam nem emitem ventosidades com estrépito. Pensei que PLS fossem as iniciais de um astrônomo ou de um dos milhares partidos políticos brasileiros, mas parece que é Plano de Logística Sustentável. No dicionário consultado está: “pelo astrônomo PLS”. De repente, é o que fica de plantão no Plano de Logística Sustentável.

Insustentável, enquanto philosopho, é o desejo de lembrar ao leitor que o Brasil é país astronômico. Vejamos: o adjetivo astronômico, em sentido figurado, significa altíssimo, de grandes proporções. Neste país grande e bobo a roubalheira, a violência, a incompetência, a ignorância – tudo é astronômico. Um só país, num só planeta, não pode ter um governo que faça tantas besteiras ao mesmo tempo.

Blá-blá-blá

Quando aprende que fato jurídico é aquele que produz efeito jurídico, o futuro bacharel sai da aula na faculdade achando que é o rei da cocada-preta, mas deve ser informado de que, num país grande e bobo, o efeito jurídico pode parar na mais alta Corte e vai ser julgado por um ministro que foi reprovado nos dois concursos que fez para magistrado de primeira instância. A partir desse fato jurídico e notório, ninguém precisa de um PhD em direito para saber que a Operação Lava-Jato, no que diz respeito aos ladrões que têm foro privilegiado, vai dar em águas de bacalhau.

O Mensalão, ou AP-470, foi considerado um sucesso por atingir quem atingiu, mas as penas foram ridículas, os bandidos não gramaram um ano de cadeia, estão soltos, alegres, fagueiros e ricos. Impende notar que de lá para cá a composição da mais alta Corte para muito pior. Por via de consequência, como dizia o saudoso Aureliano Chaves, ninguém deve esperar nadinha de Justiça no que respeita aos larápios que têm foro privilegiado.

Vosso país degringolou e está muito mais para funk ostentação do que para nação com assento entre as civilizadas. Vocês têm visto na tevê os espetáculos do funk ostentação? Vejo no Houaiss que funk, a partir da década de 1960, é tipo de música americana de origem negra com ritmos sincopados e em compasso binário. A ostentação é coisa de funkeiro, bicheiro, traficante e daquele rapaz mineiro que tinha na sala de sua casa, como peça de decoração, um Lamborghini avaliado em R$ 2,8 milhões.

O mundo é uma bola

14 de março de 1309: Abu al-Juyuch Nasr ascende ao trono do reino nasrida de Granada, deposto seu meio-irmão Muhammad III al-Makhlu. Abu reinou até 1314, livrando-se, portanto, da crise que assola a Espanha atual. Como é do desconhecimento universal, o reino nasrida abrangia Granada, Málaga e uma parte das províncias de Sevilha, Córdoba e Jaén. Acabo de descobrir que Jaén fica na comunidade autônoma da Andaluzia.

Em 1402, a rainha Isabel ordena a seus súditos judeus e muçulmanos que se convertam ao catolicismo, sob pena de expulsão de Castela. Em 1794, Eli Whitney patenteia seu descascador de algodão, invenção que revolucionaria a indústria algodoeira norte-americana.

Em 1847 nasceu Castro Alves, isto é, Antônio Frederico de Castro Alves, na Fazenda Cabaceiras, em Curralinho, BA. Em 1863, foi reprovado no vestibular da Faculdade de Direito do Recife, no estado em que seria tribuno e poeta famoso. Morreu tuberculoso em 1871, portanto com 24 aninhos. Hoje é o Dia dos Animais, da Poesia e do Vendedor de Livros.

Ruminanças

“Um dos principais deveres do homem é cultivar a amizade dos livros” (Thomas Carlyle, 1795-1881).

Fio de cabelo denuncia uso de droga

Testes com urina e saliva informam consumo por período relativamente curto. Já as amostras de cabelo, pelo e unha mostram uso ou abstinência por tempo maior


Bruno Freitas
Estado de Minas: 14/03/2015



 (Valf)
Você desconfia ou quer saber se o seu filho, funcionário ou uma pessoa próxima está usando drogas? Testes toxicológicos em cabelos são um meio que aponta resultados rápidos para os principais grupos de tóxicos. Entre eles, anfetaminas e metanfetaminas, cocaína (crack), maconha e benzodiazepínicos. Feitos nos Estados Unidos desde a década de 1970, os testes por meio dos fios capilares vêm se tornando rotina no Brasil em diversos segmentos, como concursos públicos, advocacia, magistratura, na área de transportes, órgãos governamentais e militares, além de clínicas de tratamento de dependentes químicos. Comparado a outros métodos, esse oferece a vantagem da fácil coleta, dispensa da necessidade de testemunha e refrigeração, – diferentemente da coleta por urina –, baixo risco de adulteração, possibilidade de detectar o uso da droga num período de até três meses e resultados mais confiáveis, graças ao maior índice de detecções positivas do que o exame de urina. Além disso, permite fazer o exame em cadáveres para perícias e exumações.

“A análise de drogas em cabelo oferece um histórico do uso de drogas dentro de um longo período de tempo, a partir de semanas até alguns meses, dependendo do comprimento do cabelo”, afirma a diretora do ChromaTox, laboratório especializado em testes toxicológicos, Cristina Pisaneschi. Sediado em São Paulo, o laboratório é o único acreditado pelo Inmetro para realização do teste no país. Nos demais, a avaliação é feita fora do Brasil, o que demanda mais tempo para a chegada dos resultados.

De acordo com o mapa interativo da Organização das Nações Unidas (ONU) – que mostra os hábitos de usuários de drogas em todo o planeta –, no Uruguai, primeiro país a legalizar e regulamentar a venda da maconha, 8,3% da população reconheceu ter consumido a droga nos últimos anos. A Islândia, onde há amplo debate sobre a descriminalização de diversas substâncias, é a nação com o maior percentual de usuários: 18,3%. O Brasil tem média de 8,8% de usuários de maconha, à frente da França (8,3%). Apesar disso, pesquisas no país indicam que drogas legais como álcool e tabaco são as mais consumidas, seguidas pela maconha, inalantes, estimulantes, cocaína e crack, hipnóticos e sedativos, alucinógenos e opiáceos.

A escolha da amostra depende da finalidade da análise. Urina e saliva produzem espectros transitórios de uso de droga por um período relativamente curto, refletindo um consumo ocorrido horas antes da coleta – de 24 horas a 48 horas para saliva ou até cinco dias para a urina. As amostras de cabelo, pelo e unha, entretanto, fornecem informação de uso ou abstinência por um período relativamente maior. O cabelo detecta o uso de drogas por um período aproximado de cinco a seis dias até três meses, dependendo do seu comprimento. Isso ocorre porque os fios incorporam as drogas que foram utilizadas através da corrente circulatória que irriga o bulbo capilar. Como o cabelo cresce cerca de um centímetro por mês, para cobrir o período de um ano, o laboratório deverá contar com um fio de no mínimo 12cm de comprimento. Um fio tem cerca de um décimo de milímetro de espessura. “Se segmentarmos o cabelo de um em um centímetro, teremos um histórico de uso mensal de um indivíduo, podemos dizer qual substância foi usada e fornecer um perfil de uso. O cabelo é a única amostra que permite determinar o perfil de uso de um mesmo indivíduo. Isto é, podemos dizer se houve diminuição ou aumento no uso, ou mesmo abstinência”, sustenta Cristina.

No laboratório, drogas e metabólitos são reunidos em grupos de acordo com as classes farmacológicas. Porém, analisados individualmente. Um exemplo é o grupo da cocaína, onde são analisados a cocaína e seus metabólitos, cocaetileno (cocaína com álcool), benzoilecgonina, como também o Aeme, produto da decomposição térmica da cocaína. Normalmente, coleta-se em torno de 50 a 100 fios (espessura de meio lápis) da coroa da cabeça cortados rente ao couro cabeludo. No passo seguinte, o cabelo é armazenado em papel de alumínio com indicação onde é a raiz. O resultado é emitido de três a cinco dias depois da chegada da amostra ao laboratório. O custo médio desse teste é de R$ 350, mas, no caso de ser usado para um candidato a concurso público, o valor chega a ser inferior: R$ 280.


Média positiva Em um estudo feito em 2013 com 3.800 amostras de um concurso público, o laboratório de Cristina Pisaneschi encontrou 1,2% de amostras positivas, distribuídas entre 64% para cocaína, 9% para maconha, 9% para maconha + cocaína e 4% para ecstasy. No índice, deve-se considerar que o teste toxicológico é uma das fases do concurso. Portanto, uma amostra positiva resulta na eliminação do candidato. Entre as análises de amostras particulares, a média de positivas é de 32%, sendo 17% positivas para cocaína, 17% para maconha e 3,4% para ecstasy. O índice de positividade elevado (32%), segundo Cristina, é explicado pela desconfiança em relação ao uso. “No caso de motoristas, algumas atitudes estão sendo tomadas, como a Resolução 460 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que os obrigará a fazer testes toxicológicos nas renovações de carteiras de habilitação”, afirma a especialista.