domingo, 15 de fevereiro de 2015

Otelo, o grande

No ano do centenário de seu nascimento, o maior ator negro do Brasil é tema de escola de samba; a família do artista planeja documentário e sede para fundação com seu nome


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 15/02/2015

O ator, compositor, cantor e escritor mineiro Grande Otelo, que morreu em 1993, em Paris (O Cruzeiro/em/d.a.press/1952)
O ator, compositor, cantor e escritor mineiro Grande Otelo, que morreu em 1993, em Paris
Alguns vão se lembrar dele em Macunaíma (1969), filme de Joaquim Pedro de Andrade, em que interpretou o papel-título, do herói sem nenhum caráter; outros do Eustáquio, o ingênuo e divertido personagem da Escolinha do Professor Raimundo e seu inesquecível bordão, ‘‘Aqui. Que queres?’’ (atualmente no ar no Canal Viva). Os mais antigos, da inesquecível parceria com Oscarito nas comédias dos anos 1940 e 1950.

O poeta e compositor Vinicius de Moraes chegou a considerá-lo o melhor ator brasileiro, que tinha ‘uma bossa fantástica para representar’. O cineasta norte-americano Orson Welles, que o queria levar para os Estados Unidos, foi mais longe e o tachou de o maior ator da América do Sul. Já Chico Anysio afirmou que ele foi a primeira figura importante a lhe dar força e a primeira com quem trabalhou num teatro.
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Realmente ele foi grande, e não é à toa que leva o termo até no seu pseudônimo artístico. O ator, comediante, cantor, escritor e compositor mineiro Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, completaria um século de vida em 2015. Mesmo 22 anos depois de sua morte, está presente no imaginário das pessoas. O jornalista e crítico musical Sérgio Cabral, autor de Grande Otelo, uma biografia, escrita a partir do arquivo pessoal do artista, acredita que ele jamais poderá ser esquecido, não só pelo talento genial, mas pelo papel que exerceu no fortalecimento do cinema e dos espetáculos brasileiros.

“Tenho Grande Otelo na conta de um personagem de imenso destaque na história da cultura brasileira, como um cidadão de origem modesta, negro, feio, que venceu tranquilamente todos os preconceitos para se transformar numa figura indispensável na história da cultura popular do Brasil”, diz o biógrafo.

Primogênito do ator, que teve cinco filhos, Carlos Sebastião Vasconcelos Prata, de 59 anos, conhecido como Grande Otelo Filho Prata, revela que fica impressionado como a todo momento é abordado nas ruas por gente que admira a carreira do pai. “Realmente o tempo dele passou, mas papai ainda está vivo na memória de muitos, mesmo de quem não o conheceu. Até jovens na faixa dos 12, 13 anos vêm falar comigo. A internet é um instrumento que facilita muito nesse sentido, e a reprise de programas como a Escolinha do Professor Raimundo também ajudou bastante nessa retomada e divulgação”, comenta.

No ano do centenário de seu nascimento – que será celebrado em 18 de outubro –, estão programadas atividades não só para lembrar o momento, como também para resgatar a memória do uberlandense.

A primeira grande homenagem estava prevista para ontem, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, com a escola de samba Santa Cruz, do grupo de acesso, que escolheu o enredo O pequeno menino que se tornou Grande Otelo. “Mesmo sem patrocínio, nossa agremiação decidiu prestar este tributo, mostrando toda a história do Otelo, desde o início de sua carreira, quando foi embora de Minas para São Paulo com um circo, o sucesso nos cassinos, no cinema e no teatro. Contamos com o apoio da comunidade e também da família”, diz um dos carnavalescos da escola, Munir Nicolau.

Nicolau diz que “Grande Otelo é admirável porque veio de uma família humilde e virou um astro”. Segundo o carnavalesco, as pesquisas sobre a vida do homenageado revelaram “coisas muito interessantes, como ele ser um poliglota que aprendeu sozinho a falar vários idiomas”.
Grande Otelo com Chico Anysio, nos anos 1970; ambos trabalharam juntos no teatro  (Fernando seixas/o cruzeiro/em/d.a.press)
Grande Otelo com Chico Anysio, nos anos 1970; ambos trabalharam juntos no teatro

Fundação Outra plano para comemorar os 100 anos é a criação de uma sede física para a Fundação Grande Otelo, que atualmente é detentora dos direitos sobre o nome, imagem, obra e acervo do ator e compositor. O projeto é encabeçado por Grande Otelo Filho. “A ideia é não só a perpetuação e a divulgação da memória, do trabalho e da vida do maior artista negro do nosso país, mas que seja um espaço para trabalhar a arte e a formação de artistas também. Ainda quero fazer um documentário sobre meu pai e já até fiz o convite para o Daniel Filho”, diz.

Para os fãs e admiradores do eterno Macunaíma, uma parte do acervo e de informações sobre ele está disponível no site www.ctac.gov.br/otelo. O material catalogado foi fundamental para o conteúdo do Projeto 90 anos de Grande Otelo, com o patrocínio da Petrobras, fornecendo informações inéditas sobre o ator para a biografia do escritor Sérgio Cabral.

Entre as raridades que podem ser conferidas, encontra-se uma carta escrita para o filho mais velho, em março de 1993. O primogênito considera o texto uma espécie de despedida, já que Grande Otelo faleceu, vítima de um infarto, em Paris, em novembro daquele ano. “Eu morava em Manaus, então, a gente ficou muito tempo sem se ver. Naquele ano, não o vi, e acho que esta carta era um adeus. Ele me falava de legado, das responsabilidades que eu deveria assumir”, recorda.

Num dos trechos, Otelo escreve: ‘‘Desejo que tua família esteja na paz do Senhor, que é quem rege nossos destinos. O legado que você deve carregar e os teus, até o fim da vida, é um legado muito difícil, eu sei, mas o que é que vamos fazer senão cumprir a vontade do Senhor’’. E encerra com um abraço, assinando como Sebastião Prata: ‘‘Parei, acendi um cigarro (não posso fumar, mas o cigarro é Free e só quando fico nervoso ou preocupado...). Continuando com este final, devo te dizer que, pelo menos, para nós e alguns outros, a liberdade é uma utopia. Somos todos escravos das obrigações assumidas e dos deveres. Um abraço do teu pai, para os teus e até qualquer dia…’’

“Papai era meu grande amigo, confidente e sinto muitas saudades. Ele foi um crioulinho irrequieto, que não parava e sempre estava criando algo. Foi assim desde menino. E tinha aquela coisa do mineiro, de ficar quieto, de gostar de observar. Era um ser único.”


Samba-enredo da Santa Cruz

O pequeno menino que
se tornou Grande Otelo


Menino pequeno sim
Gigante em seu caminhar
Sem eira, nem beira, venceu as barreiras
Correu pelo mundo pra se libertar
Em Uberlândia, a pele negra, ama a branca
Palhaço na arte seguiu no compasso
Tambores da fé, o samba no passo da vida
Um boêmio apaixonado, revista
Nesse teatro iluminado
No Cassino da Urca uma pequena notável


Ao tê-lo de novo vou cantar
Otelo “o grande” legado popular
O verso indolente abraça a rima
Herói dessa gente é Macunaíma

Ôôôô
Mais um sucesso da Atlântida
Das ondas do rádio à televisão
A vida imita a arte então
Eustáquio que queres moleque
Os louros da fama, o dia de graça
És prata da noite, a estrela negra
Talento, exemplo da raça
No seu centenário o povo te abraça

Se você está feliz
Dá um grito, vem comigo e cai no samba
Com Grande Otelo eu vou, que emoção
A Santa Cruz é dona do meu coração



Três perguntas para...

Sérgio Cabral
jornalista, escritor, crítico musical e biógrafo de Grande Otelo

O que mais lhe chamou a atenção na trajetória de Grande Otelo?
Basta imaginar a época, tão pouco tempo depois da abolição da escravidão, para não deixar de se impressionar com as façanhas de um negro, baixinho, que venceu todos os preconceitos usando apenas o seu talento. Tenho Grande Otelo na conta de um personagem brasileiro que marcou a sua biografia pela capacidade de, apenas com o talento, vencer todos os preconceitos que apareceram.

Quais as diferenças entre o Sebastião Prata e o Grande Otelo?
Sebastião Prata sofreu muito, mas Grande Otelo não parecia ser atingido nem mesmo pelas tragédias. Não sei se Grande Otelo e Sebastião Prata faziam algum esforço para se separar. Desconfio que eles mesmos se confundiram muitas vezes.

Como define Grande Otelo?
Tenho Grande Otelo na conta de um grande cidadão brasileiro, um exemplo para todos nós. Era um brasileiro exemplar. É realmente difícil imaginar que aquele negro baixinho, apenas com o seu talento, tenha derrotado todos os preconceitos, numa época em que os preconceitos pareciam permanentemente vitoriosos.

Relação com a cidade é de atração e repulsa 

  Orgulho pela fama do filho ilustre não impede manifestações de preconceito racial e de desdém pela origem humilde do artista, que escolheu ser sepultado em sua terra natal


Ana Clara Brant/Enviada especial
Grande Otelo, em imagem de 1957, quando Uberlândia ensaia projeção nacional usando a figura do ator de rádio e TV (O Cruzeiro/EM/D.A Press)
Grande Otelo, em imagem de 1957, quando Uberlândia ensaia projeção nacional usando a figura do ator de rádio e TV

Uberlândia – Quando Grande Otelo nasceu, no começo do século 20, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a cidade ainda se chamava São Pedro do Uberabinha. Filho da empregada doméstica Maria Abadia de Souza e de Francisco Bernardo da Costa, conhecido como Chico dos Prata por ser empregado da fazenda da família Prata, segundo a biografia de Sérgio Cabral, Sebastião Bernardes de Souza Prata teria ido embora de sua terra natal ainda menino.

O Circo Serrano, de São Paulo, estava na cidade, quando convidou o garoto para participar de um espetáculo. Isabel e Abigail Parecis, mãe e filha e responsáveis pela companhia, gostaram tanto dele que pediram à sua mãe para adotá-lo. Otelo foi entregue a elas e levado para a capital paulista.

O biógrafo afirma que o artista mineiro sempre falava de Uberlândia com afeto, porém não pôde estar tantas vezes lá como gostaria. O filho Carlos Sebastião diz que o pai nunca se esqueceu de sua origem e esboçou desejo de morar lá nos últimos anos de vida, o que acabou não se concretizando. “Mas conseguimos atender sua vontade de ser enterrado na cidade natal. Ele tinha orgulho de lá”, diz seu primogênito.

Além do mausoléu com os restos mortais de Sebastião Prata e de um busto seu em uma das principais praças da cidade, a Tubal Vilela, hoje Uberlândia abriga uma creche, uma rua e um teatro com o nome do artista.

Mas o teatro está fechado e é alvo de um imbróglio judicial. O secretário de Cultura de Uberlândia, Gilberto Neves, afirma que a administração anterior quis derrubar a construção. No entanto, o Ministério Público embargou o prédio. “Há dois anos, o município tentar reaver a posse para reconstruir o teatro. Temos um projeto que quer não só reformá-lo, mas transformá-lo num memorial e num cinema”, diz o secretário.

A prefeitura da cidade planeja uma série de atividades para o segundo semestre em comemoração ao centenário de nascimento de um dos seus filhos mais ilustres. Além de reaver e reconstruir o teatro, a ideia é realizar mostra de filmes, de cartazes e fotos, um concurso de redação em escolas com direito à premiação, o lançamento de uma revista sobre o artista e ainda encomendar uma escultura em tamanho natural de Otelo.

“Como não temos muitos recursos, estamos tentando captar, em parceria com a Fundação Rádio e Televisão Educativa da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), via lei de incentivo”, afirma Neves.

Conflito Mas a relação de Grande Otelo com Uberlândia não foi livre de conflitos. O historiador Tadeu Pereira dos Santos, doutorando em história pela UFU, tem realizado pesquisa nas áreas de cidade, memória e biografia. Desde 2002, analisa a trajetória do ator, compositor e comediante, sobretudo sua ligação com a terra natal e com o racismo.

Tadeu define como conflituoso o relacionamento do artista com a cidade pelo fato de uma parte da população local ser extremamente elitista e conservadora. Sebastião Prata deixou Uberlândia em 1925, como um ‘joão ninguém’ e 20 anos depois, apareceu numa tela de cinema, protagonizando Moleque Tião. “A partir daí, começa a despertar os olhares e interesses da localidade. Uberlândia tenta trazer Grande Otelo e Linda Batista para se apresentarem, mas o Cassino da Urca acaba barrando, por outros compromissos. E então a imprensa e a opinião pública começam a tratá-lo com desdém”, cita Santos.

O historiador acrescenta que, a partir de 1956, há uma tentativa de projetar Uberlândia no cenário nacional, e a figura de maior expressão da terra, naquele momento, é justamente um artista negro e de origem humilde. “Então, é preciso justificar que esse sujeito é daqui. Precisam enraizá-lo e mostrar que aqui é a terra do Grande Otelo. Até 1970, há esse processo de namoro, de valorizar o sujeito. Com isso aconteceram a inauguração do busto, a iniciativa de batizar o teatro com o nome dele. Ficam nesse jogo o tempo todo. De namoro e rompimento”, pontua.

Tentou-se vincular à cidade mineira até o pseudônimo artístico de Grande Otelo, conforme diz Santos, já que Sebastião Prata trabalhava na porta do Grande Hotel da cidade vendendo jornais e convocando as pessoas para se hospedar lá e vivia gritando: Grande hotel, Grande hotel.

“Uma das teorias sobre o apelido dele vem daí. A cidade reclama essa ‘paternidade’ e quer associá-lo à ela de qualquer jeito.”

Na década de 1980, o conflito se aprofunda quando ocorre a campanha de separação do Triângulo Mineiro, e Grande Otelo fica do lado de Minas Gerais. “No fim da vida, ele expressou o desejo de morar em Uberlândia, passar o restante da vida aqui. Mas quando decide ser enterrado na terra natal, Otelo imputa à cidade essa coisa da preservação da sua memória. No Rio, ele seria mais um. Agora, a cidade tem a obrigação de celebrar esse centenário. Essa história dele com Uberlândia é como se fosse uma fratura, algo que nunca se fecha”, resume o pesquisador.

Fachada do teatro em Uberlândia que leva o nome do ator e está sob disputa judicial; prefeitura diz querer reformá-lo (alexandre guzanshe/em/d.a.press)
Fachada do teatro em Uberlândia que leva o nome do ator e está sob disputa judicial; prefeitura diz querer reformá-lo

Apelido é referência a Shakespeare


Busto de Grande Otelo instalado numa das principais praças de Uberlândia (alexandre guzanshe/em/d.a.press)
Busto de Grande Otelo instalado numa das principais praças de Uberlândia

Embora não se tenha uma confirmação exata do ano em que Grande Otelo nasceu, devido a problemas de documentação, tudo leva a crer que Sebastião Bernardes de Souza Prata nasceu no dia 18 de outubro de 1915, em São Pedro do Uberabinha (hoje Uberlândia).

Depois de se mudar para São Paulo com uma companhia de circo, integra, nos anos 1920, a Companhia Negra de Revistas, cujo maestro era Pixinguinha.

Em 1932, entra para a Companhia Jardel Jércolis, do pai de Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista. É lá que ganha o apelido de Pequeno Otelo, pelo fato de saber declamar vários sonetos de Shakespeare, mas ele prefere ‘The Great Otelo’. Depois, traduz a expressão para o português, tornando-se Grande Otelo.

Em 1935, estreia no cinema, com o filme Noites cariocas. Seria o primeiro de muitos títulos, como Moleque Tião, Macunaíma, Rio Zona Norte e Assalto ao trem pagador. Nos anos 1940, já no Rio, começa a fazer shows nos cassinos cariocas e também a compor músicas, como o célebre samba Praça Onze, em parceria com o eterno amigo Herivelto Martins.

Em 1949, uma tragédia abala a vida do ator. Sua primeira mulher mata o filho menor e suicida-se. Ele se casa novamente com Olga Vasconcelos de Souza, com que tem mais quatro filhos, incluindo o ator José Pratinha. Nos anos 1950, passa a trabalhar na rádio e na televisão. A partir dos anos 1960, Otelo é contratado da TV Globo, onde atuou em várias telenovelas de sucesso, como Uma rosa com amor. Também trabalhou no humorístico Escolinha do Professor Raimundo, nos anos 1990.

Seu último trabalho foi uma participação na telenovela Renascer, pouco antes de morrer. Grande Otelo morreu em 1993, com 78 anos, de um ataque do coração, quando viajava para Paris para uma homenagem que receberia no Festival de Nantes.

Francisco - Eduardo Almeida Reis

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 15/02/2015



Biblicista é o indivíduo versado em assuntos bíblicos. Tive a esperança de que papista fosse indivíduo versado em declarações papais para entender o que diz o papa argentino, que fala pelos cotovelos. Descobri no Houaiss que papista, regionalismo brasileiro, é o indivíduo que sofre de geofagia, mania de comer terra ou barro. Nosso jornalismo também come mosca quando não entende o que diz o papa.

Vejam-se as suas declarações sobre o sexo dos coelhos: “Os católicos não precisam se reproduzir como coelhos”. Papistas que comem terra, barro e mosca interpretaram a declaração pensando na multiplicação dos indivíduos da família dos leporídeos, enquanto o papa, argentino culto, pensava no ato sexual dos mamíferos Oryctolagus cuniculus, conhecidos pela velocidade com que fazem amor.

Em vez de curtir, de mordiscar a orelhinha da coelha amada, ouvindo-a gritar “me bate!”, “me mata!”, “me chama de coelhinha Playboy!”, o sexo leporídeo é complicadíssimo porque têm uma libido meio marota como explica Robert A. Wallace, ph.d em sexo animal. A transa dos coelhos selvagens pode ser resumida em um bando de machos seguindo uma fêmea, cada um deles tentando montá-la – e me parece que Francisco não pensa no seu rebanho agindo assim.

Se a coelha selvagem não simpatiza com a ideia dos machos, sai correndo ou fica sentada. Contudo, se estiver disposta a aceitar o parceiro, tudo que faz é mostrar-lhe o rabinho. Ele, por seu turno, mostrará o seu. Na verdade, exibem suas partes brancas, geralmente ocultas, que aparecem quando as pernas se esticam. Não raras vezes o macho recorre ao galanteio supremo de urinar sobre a fêmea, impregnando-a do seu cheiro – que Wallace considera um rasgo de exaltado romantismo entre os coelhos.

Ainda aí, tenho a certeza de que não foi disso que Francisco falou no avião que o levava de volta para Roma. O coelho sofre de ejaculação precoce mais que necessária para cair fora, quando se sabe que há outros machos em volta querendo mordê-lo e escoiceá-lo. A coelha geralmente aceita as homenagens de um fluxo constante de admiradores. Os espermatozoides dos confrades podem esperar até 30 horas, di-lo Wallace, “dentro do útero agasalhador da coelha”. Em um mês, ela dará à luz uma ninhada de até cinco filhotes.

Cultura
Na rubrica antropologia, cultura é o conjunto de padrões de comportamento, crença, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social. Está na forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais do Brasil atual: é a “civilização” brasileira de 2015. Vosso país tem um Ministério da Cultura, hoje comandado pelo sociólogo baiano João Luiz Silva Ferreira, nascido em 1949, conhecido como Juca Ferreira.

Juca sucedeu a ministra Marta Suplicy, mãe do Supla, ex-senhora Felipe Belisario Vermus, num casamento que eletrizou a administração pública do país. Diz ela que tem sobre o seu sucessor informações capazes de horrorizar 200 milhões de brasileiros.

O ministro Juca, que usa brinquinhos de ouro no lóbulo de sua orelha direita, tratou de se proteger do bombardeio da ex-senhora Vermus recorrendo à pajelança de um índio da tribo acreana achaninca, benzedura com o objetivo de cura, prognóstico de acontecimentos, intercessão de poderes sobrenaturais que devem poupar o sociólogo soteropolitano das ameaças da ex-ministra.

Os achanincas, que se expressam em língua campa, da família linguística aruaque, são povo indígena que vive no Acre (cerca de mil), no Peru e na Bolívia (cerca de 68 mil), também conhecidos como campa, Ande, Anti, Chuncho, Pilcozone, Tamba, Campari, asheninka, acháninca e asháninka, e se fizeram representar, junto com a presidente Dilma Vana Rousseff, na posse do presidente boliviano Evo Morales.

Em trajes típicos ou na falta deles, o indígena acreano benzeu o ministro Juca bem benzido, que, bento, de brinquinho na orelha, está em condições de conduzir nossa cultura ao topo do mundo civilizado juntamente com Sua Excelência, o ministro da Ciência e Tecnologia, que é contrário à tecnologia, e Sua Excelência o ministro dos Esportes, que não sabe distinguir uma partida de vôlei de um jogo de basquete, e não aceita pajelança porque é afamanado pastor neopentecostal.

O mundo é uma bola

15 de fevereiro: que adianta falar da eleição do papa Eugênio III em 1145, da assinatura do Tratado de Hubertusburgo entre a Prússia e a Áustria em 1763, da descoberta da nebulosa Olho de Gato em 1768 por William Herschel, da eleição do papa Pio VI em 1775, da Batalha de Nive em 1814, se o leitor do Estado de Minas, em 2015, está se lixando para esses fatos, a exemplo do seu philosopho. Vivemos preocupados com o espantoso ministério, o estado catastrófico da das nossas estradas federais, a seca, a violência, a crise energética e o mais que se vê por aí.

Preciso preencher este espaço imaculado de nossa mídia impressa, motivo pelo qual peço licença para falar dos nascimentos no dia 15 de fevereiro. Em 1564, Galileu Galilei; em 1710, Luís XV de França; em 1811, Domingo Faustino Sarmiento, que foi presidente da Argentina e deve ter sido muito melhor do que os peronistas, até porque, igual ou pior seria impossível; em 1877, Louis Renault, o fundador da fábrica de automóveis, magro e bigodudo, que morreria aos 67 anos.

Ruminanças

“A imprensa é a artilharia do pensamento” (Antoine de Rivarol, 1753-1801).