domingo, 5 de abril de 2015

EM DIA COM A PSICANáLISE » Fundamentalismo

Estado de Minas: 05/04/2015 





De acordo com Adriana Küchler em artigo para a revista Superinteressante, o termo fundamentalismo se refere à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre diversos religiosos e todos pregam os dogmas de seus livros sagrados para que sejam seguidos à risca.

O termo surgiu no começo do século 20, nos EUA, quando protestantes determinaram que uma das exigências da fé cristã é acreditar em tudo que está escrito na Bíblia. Mas o fundamentalismo só começou a preocupar o mundo em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã em Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso, aos olhos do Ocidente. Mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto, proibiram-se a exposição de imagens e as festas.

Os fundamentalistas não aceitam nenhuma ideia de modernização. Ignoram que preceitos religiosos precisam ser interpretados em concordância com a época e as circunstâncias atuais, guardando grande distância da época em que foram criados. Por exemplo, o mandamento “crescei-vos e multiplicai-vos” pode ter sido adequado para tempos imemoriais, mas não para hoje, quando o problema da superpopulação ameaça o planeta e a qualidade de vida nas cidades. Hoje em dia, precisaríamos do controle de natalidade nos grandes centros urbanos. Haja vista o problema da água: oriundo da má administração pública dos rios e também dos desmatamentos, ele afeta a todos. Há também a má distribuição de renda e várias outras injustiças.

Para os fundamentalistas, cada palavra, cada sentença do texto sagrado é verdadeira e imutável. Isso tem consequências graves, como, por exemplo, fomentar grandes intolerâncias, pois pensar assim torna o ponto de vista da pessoa absoluto e nenhuma outra verdade pode ser aceita. Nesse sentido, o dono da grande e única verdade, ao alcançar o poder, impõe seus dogmas a todos, execrando quem discorda deles.

No plano político, muitas vezes vimos fanáticos como Hitler imporem seu pensamento como palavra de ordem, até mesmo instaurando, por meio do estado de exceção, uma guerra civil que abole regras constitucionais referentes às liberdades individuais. No caso do führer, houve eliminação física de adversários políticos e de categorias inteiras de cidadãos.

O fundamentalismo político é uma temeridade, porque vale tudo para garantir o poder – os fins justificam os meios, até o ilegal. Tivemos a ditadura brasileira de 1964, quando praticaram tortura e assassinato. Isso é uma vergonha. Em contrapartida, para os radicais que se opunham à ditadura, como é o caso de nossa presidente, nosso governador, José Dirceu e de outros companheiros, valiam luta armada, assalto a banco, sequestro, etc. Foram considerados, por alguns e naquelas circunstâncias, atos heroicos.

Uma cena que não se apagará é a prisão de José Genoíno e José Dirceu na ocasião do mensalão. Eles foram detidos dando socos no ar como se tivessem vencido olimpíada ou coisa parecida. Como se fossem heróis! Numa reunião do PT na cidade, João Vaccari, tesoureiro suspeito de corrupção na operação Lava-Jato, foi muito aplaudido.

Ainda outro dia, escutava no rádio reportagem sobre a CPI da Petrobras em que se questionava o senhor Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. O parlamentar se declarou absolutamente indiferente aos protestos (o que dizer de um político que declara isso?!). Em vez de prestar esclarecimentos sobre sua possível participação na operação Lava-Jato investigada pela Polícia Federal, ele foi homenageado pelo corporativismo daquela casa. Sinceramente, creio que o fundamentalismo corporativista e partidário no Brasil é caso grave e precisa urgentemente ser banido. Seja em que partido for praticado.

Uma colega me dizia que os candidatos mais votados no Brasil sempre apresentaram um traço perverso. Achava-a radical. Está aí, mais claro como nunca, o desvelamento desta verdade. Precisamos repensar essas escolhas. Que parte perversa de nós próprios nos faz eleger e permitir a manutenção de tão indigna representação?

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