sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Pot-pourri - Eduardo Almeida Reis

Minha geladeira de duas portas, por exemplo, não tem sensores nas prateleiras para ler os códigos de barras dos produtos e saber se estão vencidos


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/02/2015




Faltando pouco mais de hora e meia para o almoço de sábado, fico entre a cerveja, que me espera na geladeira, e o comentário sobre a liminar do STF que liberou, após ano e meio de prisão, o proprietário da ADUD, Assembleia de Deus dos Últimos Dias, pastor Marcos Pereira da Silva, que antes de ser preso residia em modesto apartamento de 4 milhões de dólares na Avenida Atlântica.

Santo homem que estuprou uma porção de crentes, vivia cercado de senhoras e senhoritas metidas em vestidos longos, e, se bem me lembro, promovia espetáculos nos presídios do Rio em que derrubava fileiras de voluntários. Vou à cerveja e volto ao pastor amanhã ou depois.

Voltei! É reconfortante viver num país em que a sua mais alta corte de Justiça liberta pastores, de mesmo passo em que outros são nomeados ministros, como o santo George Hilton para os Esportes, pasta que foi ocupada pelo notório Aldo Rabelo, hoje à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma “patada natalina” como explicou a cronista Cora Rónai, lembrando que Rabelo, como deputado federal, apresentou projeto de lei que proibia o uso de tecnologia nas repartições públicas para evitar que os burocratas perdessem os seus empregos.
Outro leitor mandou-me e-mail dizendo ser difícil levar Aldo Rabelo a sério no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, quando é sabido que ele, como relator no Congresso do novo Código Florestal, propôs a naturalização da jaca, não o conjunto das nádegas, especialmente da mulher, mas o fruto da jaqueira (Artocarpus heterophylla).

Muitíssimo a propósito, circula na internet um conjunto de fotos coloridas do Kremlin, palácio onde apita o Putin, neto do cozinheiro de Stálin. Rabelo tem foto imensa do genocida Stálin em sua sala. No Kremlin, a sala de reuniões dos manda-chuvas é gigantesca e tem mesa retangular, enquanto na sala do Palácio do Planalto, em Brasília, que reúne o pastor George Hilton e o não menos inacreditável Aldo Rabelo, a mesa tem a forma sugestiva de uma ferradura.

Necessidade
Em Lisboa, como acabo de confirmar na Wikipédia, o Palácio das Necessidades tornou-se residência dos reis da Dinastia de Bragança a partir de dona Maria II de Portugal, exceção feita ao seu filho dom Luís I de Portugal, que preferiu o Palácio Nacional da Ajuda.

Dom Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha e Koháry, marido de dona Maria II, residiu no palácio até morrer e nele reuniu uma grande coleção de arte, dispersa com o passar dos anos. Hoje funciona no palácio, que fica no Largo do Rilvas, freguesia da Estrela (Prazeres), em Lisboa, a sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O que o leitor certamente não sabe é que a tecnologia transformou nossas casas, a minha, a sua e as dos nossos amigos, em residências das necessidades, tamanha a quantidade de “dispositivos”, que ainda não instalamos, ligados à internet e interconectados. Minha geladeira de duas portas, por exemplo, não tem sensores nas prateleiras para ler os códigos de barras dos produtos e saber se estão vencidos ou se o conteúdo de uma embalagem está para acabar, hipótese em que enviaria a informação para o smartphone Samsung, o qual ainda não sei mexer.

As lâmpadas aqui do apê iluminam, mas ainda não estão on-line, portanto não podem ser ajustadas por apps de smartphone e tablet com o usuário fora de casa. Como o utente pouco sai de casa, não sabe usar o smartphone e devolveu o tablet à filha que sabe mexer com ele – e aqui vai um trocadilho infame: nas mãos do pai o tablet era um tableau – me permito concluir que o interruptor serve perfeitamente para as lâmpadas do apê.

E a cama, hein? Minha cama não conta com o dispositivo Sleep Number, que custa 999 dólares e tem sensores que captam dados como respiração, batimentos cardíacos e movimentos do corpo enviados a um app de smartphone que os usa para avaliar a qualidade do sono e propor ações para melhorá-la. Em minha casa e na sua, caro e preclaro leitor, faltam dezenas de apps (aplicativos) sem os quais não podemos viver. Sugiro que você os instale e me conte, por favor.

O mundo é uma bola

6 de fevereiro de 1294: pedra fundamental da construção do Castelo de Alandroal, lançada por dom Lourenço Afonso, mestre da Ordem de Avis, reinado de dom Dinis. Até hoje, Alandroal está em bom estado de conservação.

Em 1336, casamento por procuração do herdeiro do trono português dom Pedro, o Justiceiro, o Cruel, o Cru, com Constança Manuel (1318-1345), nobre castelhana, rainha de Leão e Castela, e mãe de Fernando, rei de Portugal. Constança tinha a virtude do nome Manuel, de largo prestígio entre os portugueses. Por mal dos pecados, contudo, no seu séquito de aias vinha Inês de Castro, jovem galega, filha natural do poderoso fidalgo Pedro Fernandes de Castro.

Por ela, “a mísera e mesquinha que depois de morta foi rainha”, se apaixonou o Justiceiro, o Cruel, o Cru, “homem arrebatado, brutal com o seu quê de vesânico”. Pausa, que vou ao Houaiss em busca de vesânico, relativo a vesânia: denominação genérica das diferentes formas de perturbação ou alienação mental, loucura. Hoje é o Dia do Agente de Defesa Ambiental.

Ruminanças

“Montaigne, Voltaire, Shakespeare e Cervantes teriam existido se houvesse televisão?” (R. Manso Neto).

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