quinta-feira, 18 de junho de 2015

Doce remédio - Michael Pollan

Doce remédio

Pesquisas com drogas psicodélicas, como o LSD, prometem aumentar a eficácia de tratamentos psíquicos e trazer alívio para doentes terminais
 MICHAEL POLLAN
Patrick Mettes, 54 anos, diretor de jornalismo de um canal de televisão, estava se tratando de um câncer nas vias biliares quando, numa segunda-feira de abril de 2010, leu na primeira página doTimes um artigo que mudaria sua morte. Ele recebera o diagnóstico três anos antes, pouco depois de Lisa, sua mulher, comentar que ele estava com os olhos amarelos. O câncer já havia se espalhado para os pulmões, e Mettes vinha sofrendo com uma quimioterapia debilitante e o medo cada vez maior de não sobreviver.
O artigo, intitulado “Alucinógenos voltam a despertar interesse médico”, mencionava ensaios clínicos realizados em várias universidades, inclusive a de Nova York (NYU), que prescreviam psilocibina – o ingrediente ativo dos chamados cogumelos mágicos – a pacientes com câncer, para aliviar a ansiedade e a “angústia existencial”. Um dos pesquisadores afirmou que, sob a influência do alucinógeno, “o indivíduo transcende sua identificação primária com o próprio corpo, liberando-se de seu ego e voltando [da viagem] com uma nova perspectiva e uma profunda aceitação”. Ainda que nunca tivesse experimentado uma droga psicodélica, Mettes resolveu se apresentar como voluntário. Lisa foi contra. “Eu não queria uma saída fácil”, ela me explicou. “Queria que ele lutasse.”
O jornalista se candidatou ao programa e foi aceito, depois de preencher uma série de formulários e responder a um questionário minucioso. Como os alucinógenos podem desencadear problemas psicológicos latentes, os pesquisadores procuram excluir voluntários de risco, daí a necessidade de interrogar sobre antecedentes de droga e casos de esquizofrenia ou transtorno bipolar na família. Após a triagem, Mettes foi encaminhado ao terapeuta Anthony Bossis, um psicólogo cinquentão, barbudo e corpulento, especializado em cuidados paliativos, e um dos dois pesquisadores-chave do experimento da NYU.
Depois de quatro encontros, Bossis prescreveu a Mettes um placebo “ativo” (uma dose alta de niacina, que pode produzir uma sensação de formigamento) e uma pílula contendo psilocibina. A administração de cada uma das drogas ocorreria em duas sessões, num local que, longe de parecer um consultório médico, lembrava uma sala de estar – com um sofá confortável, quadros de paisagens, livros de arte e mitologia, bem como uma tralha de objetos de caráter esotérico, entre os quais uma imagem de Buda e um cogumelo de cerâmica.
Ao longo de cada sessão, que ocuparia praticamente o dia todo, Mettes ficaria deitado no sofá, com máscara nos olhos e fones nos ouvidos, escutando uma série de músicas escolhidas a dedo – Brian Eno, Philip Glass, Pat Metheny, Ravi Shankar. Bossis e outro terapeuta, presentes o tempo todo, pouco falariam, mas estariam a postos caso ocorresse qualquer problema.
Conheci Bossis no ano passado, na sala de tratamento da NYU, onde ele estava com seu colega Stephen Ross, professor adjunto de psiquiatria na Escola de Medicina da NYU e responsável pelos experimentos com psilocibina. De terno e gravata, o quarentão Ross passaria por banqueiro. Ele também dirige a divisão de uso abusivo de drogas do hospital Bellevue e contou que não sabia muito a respeito das substâncias psicodélicas – que produzem mudanças radicais no estado mental, inclusive alucinações – até um colega lhe contar que, nos anos 60, o LSD havia sido ministrado com sucesso no tratamento de alcoólatras. Ross resolveu estudar o assunto e ficou perplexo com o que descobriu.
“Eu me senti mais ou menos como o arqueólogo que desenterra todo um corpo de conhecimentos”, disse Ross. A partir dos anos 50, as drogas psicodélicas passaram a ser empregadas para tratar uma vasta gama de problemas, inclusive alcoolismo e medo da morte. A Associação Americana de Psiquiatria realizou várias reuniões para discutir o LSD. “Com financiamento do governo, alguns dos melhores psiquiatras investigaram a fundo esses compostos em modelos terapêuticos”, disse Ross.

Entre 1953 e 1973, o governo federal gastou 4 milhões de dólares para financiar 116 estudos sobre o LSD que envolveram mais de 1 700 cobaias humanas declaradas. Em meados da década de 60, a psilocibina e o LSD eram legais e fáceis de obter. Sandoz, o laboratório suíço no qual, em 1938, Albert Hofmann sintetizou pela primeira vez o LSD – sigla deLysergsäurediethylamid, termo alemão para a dietilamida do ácido lisérgico –, fornecia quantidades maciças de Delysid (nome comercial da substância) a qualquer pesquisador que o solicitasse, na esperança de que se descobrisse um uso para o produto.
As drogas psicodélicas eram testadas em alcoólatras, portadores de transtorno obsessivo-compulsivo, indivíduos depressivos, crianças autistas, esquizofrênicos, pacientes terminais de câncer e presidiários, assim como em artistas e cientistas (para estudar a criatividade) e em estudantes de teologia (para investigar a espiritualidade) saudáveis. Os resultados com frequência eram positivos. Para os padrões modernos, porém, muitos estudos eram mal planejados e raramente bem controlados, se é que de algum modo o eram. Mesmo quando havia algum controle, os pesquisadores quase sempre sabiam quais voluntários haviam tomado a droga, problema recorrente até hoje.
Em meados dos anos 60, o LSD escapou do laboratório e ganhou a contracultura. Em 1970, Richard Nixon assinou a Lei de Substâncias Controladas, que classificou grande parte das drogas psicodélicas na categoria 1, proibindo sua prescrição para qualquer finalidade. A pesquisa foi suspensa, e tudo que se aprendera até então foi como que varrido do campo da psiquiatria. “Quando entrei na faculdade de medicina, nem se falava mais nisso”, Ross disse.
Os experimentos clínicos na NYU – está em curso um segundo, que utiliza psilocibina para tratar o alcoolismo – fazem parte da retomada da investigação sobre drogas psicodélicas, vigente em várias universidades americanas, inclusive na Johns Hopkins, no Centro Médico Harbor-Ucla (da Universidade da Califórnia) e na Universidade do Novo México, bem como no Imperial College, de Londres, e na Universidade de Zurique. Com o arrefecimento do combate à droga, os cientistas se animaram a reavaliar o potencial terapêutico das substâncias psicodélicas, a começar pela psilocibina. Em janeiro passado, The Lancet, o periódico médico mais famoso do Reino Unido, publicou um editorial apoiando essa pesquisa.
A psilocibina produz efeitos semelhantes aos do LSD, mas, como um pesquisador explicou, “não carrega a bagagem política e cultural dessas três letras”. Além de provocar efeitos mais fortes e duradouros, o LSD pode causar mais reações adversas. Os pesquisadores estão usando ou pretendendo usar a psilocibina não só para tratar ansiedade, tabagismo, alcoolismo e depressão, mas também para estudar a neurobiologia da experiência mística, que pode ocorrer mediante doses altas da droga. Quarenta anos depois que a administração Nixon vetou as substâncias psicodélicas, o governo está permitindo que um pequeno número de cientistas retome o trabalho com essas moléculas poderosas e, de algum modo, ainda misteriosas.

Na sala de tratamento da NYU, Tony Bossis e Stephen Ross se mostravam empolgados com os resultados. De acordo com Ross, pacientes com câncer que receberam uma única dose de psilocibina sentiram uma redução imediata e considerável no nível de ansiedade e depressão, e essas melhorias se mantiveram por no mínimo seis meses. Os dados estão sendo analisados e devem ser divulgados para a avaliação de outros profissionais ainda este ano.
“Achei que as primeiras dez ou vinte pessoas haviam sido plantadas, elas só poderiam estar fingindo”, Ross me falou. “Diziam coisas como ‘Para mim o amor é a força maior do planeta’, ou ‘Tive um encontro com meu câncer, essa nuvem negra de fumaça’. Gente que claramente estava apavorada com a morte perdeu o medo. Descobrir que uma droga ministrada uma única vez pode ter esse efeito tão duradouro é algo inédito. Nunca presenciamos nada parecido no campo da psiquiatria.”
Fiquei surpreso ao ver um cientista, justo um especialista no uso abusivo de drogas, demonstrar abertamente seu entusiasmo por uma substância que, em 1970, o governo classificou de inaceitável para uso médico e capaz de criar dependência. Mas a classe médica em geral apoia a retomada da pesquisa. “Sou pessoalmente a favor desse tipo de estudo”, disse o neurocientista Thomas R. Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH). “Se essa droga de fato ajuda quem está sofrendo, merece nossa atenção. O fato de ser psicodélica não a desqualifica.” Já Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas (Nida), enfatizou: “É importante lembrar que, fora do contexto de pesquisa, o uso de drogas que viciam pode produzir sérios danos.”
Muitos pesquisadores foram entusiásticos ao descrever suas descobertas e alguns até empregaram termos como excepcionais. Bossis falou: “As pessoas não imaginam como são poucas as ferramentas de que dispomos para tratar a angústia existencial. Xanax (o alprazolam) não dá conta. Por que não explorar essa via, se ela pode recalibrar o modo como morremos?”
O psiquiatra Herbert D. Kleber, diretor da divisão de uso abusivo de drogas do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, da Universidade Columbia, e um dos maiores especialistas do país, recomendou cautela: “A pesquisa é fascinante, mas não podemos esquecer que as amostras são pequenas.” Ele também ressaltou o risco de efeitos adversos e a necessidade do acompanhamento de “tutores, já que se pode ter uma experiência boa ou assustadora”. E acrescentou, referindo-se à investigação da nyu e da Johns Hopkins: “Esses estudos estão nas mãos de terapeutas competentes, dedicados, que sabem o que estão fazendo. Mas será que dá para falar disso no horário nobre?”

Aideia de ministrar uma droga psicodélica a moribundos foi concebida pelo romancista Aldous Huxley. Ele conheceu a mescalina em 1953, por meio do psiquiatra inglês Humphry Osmond; no ano seguinte, relatou sua experiência em As Portas da Percepção. (Foi Osmond quem cunhou a palavra “psicodélico” – “que torna visível a mente” – numa carta que escreveu a Huxley em 1956.) O escritor propôs uma pesquisa sobre a “administração do LSD a pacientes terminais de câncer, na esperança de tornar a morte um processo mais espiritual e menos estritamente fisiológico”. Em seu leito de morte, Huxley pediu à mulher que lhe injetasse a droga – ele morreu de câncer na laringe, aos 69 anos, em 22 de novembro de 1963.
Em 1957, R. Gordon Wasson – então vice-presidente do banco J. P. Morgan, em Nova York –, que estudava fungos por diletantismo, escreveu para a revista Life um artigo de quinze páginas sobre os cogumelos que contêm psilocibina, despertando assim o interesse da medicina ocidental (e da cultura popular). Dois anos antes, depois de passar anos recolhendo relatos sobre o uso clandestino de cogumelos entre indígenas mexicanos, Wasson acabou por experimentá-los por meio de uma curandera do sul do México. Sua descrição maravilhada, na primeira pessoa, da viagem psicodélica que fez durante uma cerimônia noturna inspirou vários cientistas a estudar a psilocibina – dentre os quais Timothy Leary, conceituado psicólogo que realizava pesquisas sobre personalidade em Harvard. Após experimentar os cogumelos em Cuernavaca, em 1960, Leary criou o Harvard Psilocybin Project para investigar o potencial terapêutico dos alucinógenos. Envolveu-se com o LSD alguns anos mais tarde.
Albert Hofmann experimentou os cogumelos em 1957, na esteira do trabalho de Wasson. “Trinta minutos depois, o mundo exterior começou a sofrer uma estranha transformação”, escreveu. “Tudo adquiriu um aspecto mexicano.” Hofmann então tratou de identificar, isolar e, por fim, sintetizar o ingrediente ativo, a psilocibina, o composto utilizado na pesquisa atual.
Talvez o mais influente e rigoroso desses estudos pioneiros tenha sido o experimento da Sexta-Feira Santa, conduzido em 1962 por Walter Pahnke, psiquiatra e pastor que fazia sua tese de doutorado em Harvard, sob a orientação de Leary. Pouco antes da cerimônia da Sexta-Feira Santa na Capela Marsh, no campus da Universidade de Boston, vinte estudantes de teologia receberam uma cápsula de pó branco – em dez havia psilocibina; nas outras dez, um placebo ativo (ácido nicotínico). Como se tratava de um experimento duplo-cego, nem pesquisadores nem pesquisados sabiam quem tomava o quê.
Oito dos dez estudantes que ingeriram psilocibina relataram uma experiência mística e apenas um do grupo de controle teve um sentimento do “sagrado” e uma “sensação de paz”. (Não era difícil distingui-los, o que transformava o duplo-cego num conceito meio vazio: a turma do placebo sentou tranquila nos bancos, enquanto os outros se deitaram ou ficaram andando pela capela, resmungando frases como “Deus está em toda parte” e “Oh, a glória!”.) Pahnke concluiu que as experiências dos oito que tomaram psilocibina eram “indistinguíveis” das experiências místicas clássicas relatadas por William James, Walter Stace e outros.

Em 1991, Rick Doblin, diretor da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps), publicou um estudo de acompanhamento da experiência na Capela Marsh. Para tanto, localizou todos os estudantes de teologia, à exceção de um, que experimentaram a psilocibina e entrevistou sete deles. Todos afirmaram que a experiência foi determinante para suas vidas, tendo deixado marcas profundas e duradouras nos planos pessoal e profissional. Mas Doblin encontrou falhas no texto de Pahnke: ele não mencionou a ansiedade aguda que alguns dos estudantes sofreram durante a experiência. Um deles precisou ser contido e receber uma dose de Torazina (a clorpromazina), um antipsicótico poderoso, depois que saiu correndo pela avenida Commonwealth, convencido de que fora escolhido para anunciar a vinda do Messias.
A primeira leva de pesquisas envolvendo drogas psicodélicas pecava pelo entusiasmo excessivo em relação a seu potencial. Os cientistas que trabalhavam com essas moléculas extraordinárias tendiam a acreditar que tinham em mãos uma novidade capaz de mudar o mundo – um evangelho psicodélico. Não era fácil admitir que essa maravilha ficasse confinada em laboratórios, com seu uso restrito a enfermos. Não demorou muito e cientistas respeitáveis se irritaram com a ciência objetiva – para Leary, por exemplo, a ciência agora não passava de mais um jogo social, uma caixa de convenções a ser destruída – junto com todas as outras.
A interrupção da pesquisa envolvendo drogas psicodélicas teria sido inevitável? Stanislav Grof, psiquiatra de origem tcheca que nos anos 60 ministrou muito LSD em seu consultório, acredita que a substância “perdeu o elemento dionisíaco” nos Estados Unidos e, como representava uma ameaça aos valores puritanos do país, acabou sendo rechaçada. (Ele acha que a história pode se repetir.) Roland Griffiths, psicofarmacologista da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, ressalta que a cultura americana não é a primeira a se sentir ameaçada pelas drogas psicodélicas: Gordon Wasson precisou redescobrir os cogumelos no México porque os espanhóis os viam como perigosos instrumentos do paganismo e por isso trataram de eliminá-los.
“A experiência mística primária provoca uma sensação de autoridade tão intensa que pode ser ameaçadora para as estruturas hierárquicas existentes”, Griffiths me explicou, quando fui encontrá-lo na primavera passada. “Acabamos demonizando esses compostos. Você conhece alguma outra área da ciência considerada tão perigosa, tão tabu a ponto de estagnar toda a pesquisa durante décadas? Isso não tem precedente na ciência moderna.”

No início de 2006, Tony Bossis, Stephen Ross e Jeffrey Guss, psiquiatra e colega na NYU, passaram a se encontrar toda sexta-feira à tarde, depois do expediente, para ler e discutir sobre drogas psicodélicas. Autodenominaram-se Psychedelic Reading Group (PRG) [Grupo de Estudos Psicodélicos] – ao cabo de alguns meses, porém, o R de PRG já significava Research [Pesquisa]. Decidiram tentar iniciar um ensaio clínico usando psilocibina como uma terapia adjuvante para tratar a ansiedade de pacientes com câncer.
Os obstáculos eram imensos: a Agência de Controle de Alimentos e Medicamentos (FDA) e o Departamento de Repressão às Drogas (DEA) autorizariam o uso da substância? O Conselho de Estudo Institucional (IRB) da NYU, encarregado de proteger indivíduos submetidos a experimentos, permitiria que prescrevessem uma droga psicodélica a pacientes com câncer? Em julho de 2006, a Psychopharmacology publicou um artigo de autoria de Roland Griffiths e colaboradores que foi um verdadeiro divisor de águas: “A psilocibina pode provocar experiências do tipo místico com significado pessoal e espiritual substancial e duradouro.”
“Todos nós adoramos o artigo de Roland”, lembra Bossis. “Ele reforçou a certeza de que podíamos seguir adiante. A Johns Hopkins havia demonstrado que era possível fazer isso sem problema.” O texto também forneceu a Ross munição para persuadir um irb cético. “A aprovação foi facilitada pelo fato de a pesquisa sobre drogas psicodélicas ser feita na Hopkins – considerada a principal escola de medicina do país. Foi um estudo surpreendente, com uma concepção muito elegante.”
Mesmo assim, a pesquisa ainda é rigidamente regulamentada e vigiada. A experiência da NYU só teve início depois que Ross obteve a aprovação da FDA; do Conselho de Estudo de Oncologia da NYU; do IRB; do Comitê Bellevue de Estudo e Pesquisa; do Centro Bluestone para Pesquisa Clínica; do Instituto de Ciência Clínica e Translacional, e, por fim, da DEA, que precisava autorizar o uso de uma substância incluída na categoria 1.
O experimento duplo-cego de Griffiths repetia o que Pahnke fizera nos anos 60, porém com muito mais rigor científico. Trinta e seis voluntários que nunca haviam tomado alucinógeno receberam uma pílula contendo ou psilocibina ou um- placebo ativo (Ritalina, o metilfeni-dato); na sessão seguinte, os pesquisadores alternaram as pílulas. “Ministrada com o devido apoio”, o estudo concluiu, “a psilocibina suscitou experiências semelhantes às vivências místicas que ocorrem espontaneamente.” Os participantes consideraram tais experiências tão marcantes quanto o nascimento de um filho ou a morte de um genitor. Para dois terços deles, a sessão de psilocibina foi uma das cinco experiências espiritualmente mais importantes da vida; para um terço, foi a mais importante. Catorze meses depois, essas classificações baixaram apenas ligeiramente.
Além disso, a “plenitude” da experiência mística seguiu de perto as melhorias relatadas quanto ao bem-estar pessoal, a satisfação com a vida e a “mudança positiva de comportamento” – aferidas dois meses e, novamente, catorze meses após a sessão. (Os pesquisadores se utilizaram das autoavaliações dos participantes do estudo e das de seus colegas de trabalho, amigos e parentes.) Os autores do estudo determinaram a plenitude da experiência mística por meio de dois questionários, um dos quais era o Questionário da Experiência Mística Pahnke–Richards, parcialmente baseado em As Variedades da Experiência Religiosa, de William James.
Tal questionário avalia sentimentos de comunhão, religiosidade, inefabilidade, paz e alegria, bem como a impressão de ter transcendido o espaço e o tempo e a “sensação noética” de que a experiência revelou uma verdade objetiva a respeito da realidade, uma nova percepção dessa mesma realidade. Uma experiência mística “plena” é aquela que apresenta essas seis características. Griffiths acredita que a eficácia duradoura da droga se deva a sua capacidade de provocar essa expe-riência transformadora sem mudar a química do cérebro no longo prazo, como faz uma droga psiquiátrica convencional como o Prozac (a fluoxetina).
Um estudo de acompanhamento realizado por Katherine MacLean, psicóloga do laboratório de Griffiths, constatou que a experiência com psilocibina também teve um efeito positivo e duradouro na personalidade da maioria dos participantes. (A psicologia convencional sustenta que em geral a personalidade está definida aos 30 anos, e depois dessa idade dificilmente passa por alguma alteração substancial.) Mais de um ano depois das sessões de psilocibina, os voluntários que haviam tido as experiências místicas mais plenas apresentaram um aumento significativo em sua “abertura”, um dos cinco aspectos que os psicólogos analisam ao avaliar traços de personalidade – os outros são: consciência, extroversão, afabilidade e neuroticismo, isto é, a tendência a um estado emocional negativo. A abertura, que inclui apreciação estética, imaginação e tolerância em relação a opiniões alheias, é um bom indício de criatividade.
“Não quero usar o termo excepcional”, disse Griffiths, “mas, como fenômeno científico, que tal conseguir criar condições nas quais 70% das pessoas vão dizer que essa foi uma das cinco experiências mais marcantes que tiveram na vida? Para um cientista é uma coisa incrível.”

Aatual retomada da pesquisa se beneficiou em grande parte da respeitabilidade de seus defensores. Aos 68 anos, Roland Griffiths, que se especializou em behaviorismo e ocupa posição destacada nos departamentos de psiquiatria e neurociência da Hopkins, é um dos maiores pesquisadores americanos no campo do vício em drogas. Com mais de 1,80 metro de altura, magro como um palito e reto como um poste, tudo o que tem de indisciplinado é o cabelo branco, tão abundante que parece desafiar o pente. Tom Insel, diretor do NIMH, definiu-o como “um cientista famoso pela análise meticulosa de dados”, e aprovou seu envolvimento “numa área que outras pessoas poderiam ver como um incentivo ao uso de drogas”.
A carreira de Griffiths sofreu uma reviravolta inesperada nos anos 90, depois de duas grandes descobertas. A primeira foi em 1994, quando um amigo lhe apresentou o Siddha Yoga. A meditação o fez conhecer “algo que estava além, muito além de uma visão material do mundo, e não posso falar com meus colegas sobre isso, porque envolve metáforas ou conjecturas que são pouco confortáveis para um cientista como eu”. Ele passou a acalentar “pensamentos fantasiosos” de abandonar a ciência e ir para a Índia.
Em 1996, Charles R. (Bob) Schuster, um velho amigo e colega que acabava de se aposentar como diretor do Nida, sugeriu que ele conversasse com Robert Jesse, um jovem que acabara de conhecer no centro de estudos alternativos Instituto Esalen, em Big Sur, na Califórnia. Interessado em questões espirituais, Jesse não era médico nem cientista – vice-presidente da Oracle, trabalhava com computadores. Imbuído da missão de ressuscitar a pesquisa com drogas psicodélicas, Jesse organizara uma reunião de cientistas e religiosos para discutir o potencial espiritual e terapêutico dessas substâncias e como reabilitá-las.
Quando se escrever a história da segunda leva de pesquisas sobre drogas psicodélicas, Bob Jesse será lembrado como um dos dois leigos em ciências que trabalharam nos bastidores para fazê-la decolar. (O outro é Rick Doblin, o fundador da Maps.) Enquanto esteve de licença da Oracle, Jesse criou uma entidade não lucrativa, o Conselho em Práticas Espirituais (CSP), com o objetivo de “tornar a experiência direta do sagrado mais acessível a mais pessoas”. (Em vez de “psicodélico”, ele prefere o termo “enteógeno”, ou “que facilita o acesso a Deus”.)
Em 1996, o CSP organizou uma histórica reunião no Esalen. Dos quinze presentes, muitos eram pesquisadores veteranos, como James Fadiman e Willis Harman, que anos antes haviam estudado as drogas psicodélicas em Stanford, e teólogos como Huston Smith, renomado estudioso de religião comparada. Mas Jesse sabiamente resolveu convidar Bob Schuster, especialista em uso abusivo de drogas que trabalhara em dois governos republicanos. No final do encontro, o grupo decidiu promover “uma pesquisa honesta, inatacável, a ser realizada numa instituição com pesquisadores acima do bem e do mal” e, de preferência, “sem qualquer promessa de tratamento clínico”. Jesse estava menos interessado nos distúrbios mentais do que no bem-estar espiritual das pessoas – queria usar os enteógenos para o que chama de “aperfeiçoamento de gente saudável”.
Pouco depois da reunião no Esalen, Bob Schuster (que morreu em 2011) ligou para Jesse e lhe comunicou que seu velho amigo Roland Griffiths era “o pesquisador acima do bem e do mal” que ele buscava. Jesse foi a Baltimore para conhecê-lo, e desse encontro se originou uma série de conversas e reuniões sobre meditação e espiritualidade. Griffiths se dedicou à pesquisa sobre drogas psicodélicas, coroada pelo artigo de 2006, publicado na Psychopharmacology.

Omérito do artigo transcendeu as descobertas nele relatadas. Por iniciativa da revista, vários pesquisadores e neurocientistas foram convidados a comentá-lo e se convenceram da importância de retomar as investigações. Herbert Kleber, da Universidade Columbia, aplaudiu o texto e reconheceu que “grandes possibilidades terapêuticas” poderiam resultar de novos estudos sobre essas drogas, alguns dos quais mereceriam “o apoio do Instituto Nacional de Saúde (NIH)”. Solomon Snyder, o neurocientista da Hopkins que nos anos 70 descobriu os receptores opioides do cérebro, resumiu o que Griffiths havia conquistado para a área: “A capacidade desses pesquisadores para conduzir um estudo duplo-cego bem controlado mostra que a investigação clínica sobre drogas psicodélicas pode ser segura, não carecendo vedá-la à maioria dos pesquisadores.”
Roland Griffiths e Bob Jesse abriram uma porta que por mais de três décadas permanecera cerrada. Charles Grob, da Ucla, foi o primeiro a transpô-la, obtendo a aprovação da FDA para a Fase I de um estudo piloto que avaliaria a segurança, a dosagem e a eficácia da psilocibina no tratamento da ansiedade em pacientes com câncer. Seguiram-se os experimentos da Fase II, recém-concluídos na Hopkins e na NYU, que envolveram doses mais altas e grupos maiores (29 na NYU; 56 na Hopkins) e incluíram Patrick Mettes e mais uma dúzia de pacientes com câncer em Nova York e Baltimore.
Desde 2006, o laboratório de Griffiths vem conduzindo um estudo piloto sobre o potencial da psilocibina para tratar o tabagismo (os resultados foram publicados na Psychopharmacology de novembro passado). A amostra é pequena – quinze fumantes –, mas a taxa de sucesso é impressionante. Doze participantes que já haviam tentado largar o cigarro por meio de outros métodos continuavam sem fumar seis meses após o tratamento, o que representa 80% de êxito. Para se ter uma ideia do sucesso, hoje em dia o principal tratamento para o tabagismo é a terapia de substituição da nicotina. Um artigo publicado numa edição recente do BMJ – chamado até 1988 deBritish Medical Journal – informa que depois do tratamento apenas 7% dos fumantes permaneceram longe do cigarro durante seis meses.
No estudo da Hopkins, os participantes passaram por duas ou três sessões de psilocibina e um curso de terapia cognitivo-comportamental para ajudar a controlar
a vontade de fumar. A experiência com a substância psicodélica parece permitir que se reveja e se interrompa um hábito arraigado. “Fumar parecia irrelevante, e por isso parei”, disse um deles. Os voluntários que relataram uma experiência mística plena tiveram mais sucesso em largar o hábito. Um experimento mais longo da Fase II, comparando a psilocibina à substituição da nicotina (ambas em associação com a terapia cognitivo-comportamental), está em curso na Hopkins.
“Precisamos desesperadamente de uma nova forma de tratar um vício”, Herbert Kleber me falou. “Nas mãos das pessoas certas – e enfatizo isso, porque toda a área das drogas psicodélicas atrai gente que em geral acha que entende do assunto, mas na verdade não sabe nada –, esse tratamento pode ser muito útil.”
Até o momento, a crítica à pesquisa tem sido restrita. No verão passado, Florian Holsboer, então diretor do Instituto de Psiquiatria Max Planck, de Munique, disse à Science: “Não se pode ministrar uma substância a um paciente só porque ela tem um efeito antidepressivo, entre muitos outros. É extremamente perigoso.” Nora Volkow, do Nida, me enviou um e-mail em que dizia que “a maior preocupação com esse trabalho é induzir o público a pensar que a psilocibina pode ser usada sem problema. Na verdade, os efeitos adversos dessa droga são bem conhecidos, embora não sejam totalmente previsíveis”. E acrescentou: “O uso de alucinógenos tem diminuído, sobretudo entre os jovens. Não gostaríamos que essa tendência se revertesse.”
Sabe-se que o uso recreativo de drogas psicodélicas está relacionado a casos de psicose, flashback e suicídio. Tais efeitos adversos, porém, não ocorreram nos experimentos da NYU e da Johns Hopkins, que envolveram a administração de quase 500 doses de psilocibina. Mas é preciso levar em conta que os participantes se apresentaram espontaneamente, passaram por uma triagem cuidadosa, foram preparados para a experiência e assistidos por terapeutas aptos a lidar com os eventuais episódios de medo e ansiedade. Além das moléculas envolvidas, uma sessão de terapia e uma experiência recreativa têm muito pouco em comum.
Atualmente, o laboratório da Hopkins está desenvolvendo um estudo que interessa particularmente a Griffiths, uma vez que vai examinar o efeito da psilocibina em praticantes de meditação veteranos. Quarenta participantes terão o cérebro monitorado por meio de imagens de Ressonância Nuclear Magnética Funcional (fMRI) – antes, durante e depois de tomar psilocibina, para avaliar alterações na atividade e conectividade cerebral.
O laboratório de Griffiths, em colaboração com a NYU, também está iniciando um estudo para verificar em que medida a experiência da droga, ministrada a sacerdotes de várias religiões, poderia contribuir para o trabalho deles. “Eu me sinto como uma criança numa confeitaria”, Griffiths disse. “A pesquisa pode enveredar por caminhos os mais variados. Vivemos o efeito Bela Adormecida – depois de três décadas sem nenhuma pesquisa, estamos esfregando os olhos para afastar o sono.”

"Inefabilidade” é uma característica da experiência mística. Ao descrever as bizarrices que lhes passam pela cabeça durante uma viagem psicodélica assistida, muitos se esforçam para não dar pinta de maluco ou guru new age. O léxico nem sempre dá conta de relatar uma experiência que parece remover o sujeito de seu corpo, levá-lo a percorrer vastidões de tempo e espaço e colocá-lo face a face com divindades, demônios e antevisões da própria morte.
Voluntários do experimento com psilocibina da NYU foram convidados a redigir um relato da experiência logo após o tratamento, e o jornalista Patrick Mettes levou a tarefa a sério. Sua mulher disse que, depois de uma das sessões – era uma sexta-feira –, ele passou o fim de semana trabalhando para compreender a experiência e descrevê-la.
Quando Mettes chegou ao local do tratamento, na Primeira Avenida com a rua 25, Tony Bossis e Krystallia Kalliontzi, seus tutores, receberam-no, repassaram a programação do dia e, às nove da manhã, deram-lhe uma pílula. Nenhum deles sabia se era placebo ou psilocibina. Perguntaram a Mettes o que ele pretendia ao se inscrever para o experimento, e ele disse que queria aprender a lidar melhor com a ansiedade e o medo do câncer. Atendendo à recomendação dos pesquisadores, levou algumas fotos que foram dispostas no cômodo – uma dele com Lisa, no dia do casamento, outra de Arlo, seu cachorro.
Às nove e meia, Mettes deitou no sofá, colocou os fones nos ouvidos, a máscara nos olhos, e ficou em silêncio. Mais tarde, ele comparou o início da viagem ao lançamento de uma nave espacial – “uma arrancada fisicamente violenta e meio desengonçada que acabou dando lugar à bendita serenidade da ausência de peso”.

Leonarde Plume e a falange dos fiéis

 fonte

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mexicanas - Martha Medeiros

Zero Hora 27/05/2015

“Ando tão mexicana...” Certa vez, coloquei essa queixa na boca de uma personagem de um livro para resumir como ela se sentia depois do fim de um amor. Ela chorava muito, tinha reações extremadas, dramatizava sua situação como se estivesse enfiada num vestido floreado e com uma flor vermelha no cabelo: uma mulher sofrendo sem nenhuma sobriedade.

O que eu sabia do México na época em que escrevi o livro? Que era um país colorido, apimentado e de emoções exuberantes – certamente eu estava induzida pela imagem que tinha de Frida Kahlo, cuja vida e obra se misturaram adquirindo uma potência que é hoje reconhecida por todos. O México me parecia um país cuja história e costumes estavam sempre escancarados, um país sem bastidores, apenas palco. Sofrer com sobriedade é para escandinavos, não para latinos.

Uma visão estereotipada, reconheço, mas depois de ter conhecido o México, de onde voltei recentemente, pude comprovar que eu não estava tão enganada. É um país que não engaveta seu passado e cujas cores berrantes nas fachadas, no artesanato e nos murais são um atestado de bravura e de orgulho. O México se expõe. Eu tinha razão ao adjetivar como mexicana uma mulher com suas feridas abertas.

Só não sabia que isso nada tinha a ver com vitimização.

Voltemos a Frida: teve poliomielite aos seis anos de idade. Aos 18, sofreu um acidente de ônibus que deixou sequelas graves – um pedaço de ferro entrou pelo seu quadril e saiu pela virilha. Passou por 35 cirurgias. Engravidou três vezes – e três vezes sofreu abortos espontâneos, não conseguindo realizar o desejo de ser mãe. Foi amada por seu marido Diego Rivera, mas teve que dividi-lo com várias outras mulheres, entre elas sua irmã mais próxima. Esse é apenas um resumo acanhado da biografia da pintora, sem entrar no mérito de sua arte e de seu engajamento político. Frida passou por dores torturantes, tanto físicas quanto emocionais, e em nenhum momento a gente tem dela a imagem de uma coitada. Por quê?

Porque, ainda que ela tenha revelado todo o seu drama nas telas que legou ao mundo, choramingar não era seu verbo. Viver, sim. Sofreu sem jamais perder o viço, o gosto e o entusiasmo pelos dias.

O sofrimento é um velho conhecido de todos nós, mas costumamos ter pudor com nossas lágrimas. A maioria das pessoas reparte sua infelicidade só com dois ou três amigos, às vezes com ninguém. Poucos sofrem com a vitalidade de Frida, que transformou sua dor em uma causa.

Quando minha personagem disse “ando tão mexicana”, ela não sabia o que falava e eu não sabia o que escrevia. Ambas reclamando de uma intensidade que só hoje reconheço como virtude. Agora sei que sentir-se mexicano é um elogio, não um estigma.

domingo, 24 de maio de 2015

Bá, agora tu me pegou - Martha Medeiros

Zero Hora 24/05/2015

Tenho vontade de abraçar afetuosamente aquele que se confessa inapto para explicações com tanta gente enrolando por aí
O texto em que condenei os serviços prestados em estabelecimentos comerciais de Porto Alegre (Chardonnay Tinto, publicada em Zero Hora do dia 13 de maio) teve um retorno expressivo. Alguns empresários me alertaram de que o problema não se resume a treinamento há também muita falta de comprometimento dos funcionários, que optam pelo rodízio de empregos em vez de se dedicar a um plano de carreira.
Feito este registro, o que restou foi a concordância maciça dos leitores e relatos de casos engraçados envolvendo atendimentos sofríveis. Da série rir para não chorar.
O que mais me divertiu foi uma frase clássica que se aplica em restaurantes no momento em que pedimos para o garçom esclarecer o modo de preparo de um prato. Sabe-se que o cliente não tem superpoderes para adivinhar do que se trata o “Filé Gruta Azul” ou o “Frango à moda do chef” e, se a descrição não está no cardápio, só resta perguntar: como é que é? Não raro o garçom, simpático e solícito, responde: “Bá, agora tu me pegou”.
Com você, nunca?
Não só em restaurantes. Você entra numa loja e pergunta se tem aquela calça verde da vitrine, só que na cor preta. “Bá, agora tu me pegou.” Dá para pagar com cheque? “Bá, agora tu me pegou.” O feriado é na terça, a loja abrirá na segunda? “Bá, agora tu me pegou.”
É a expressão que define o atendimento gaúcho. Estão todos os elementos ali. O orgulho local (“Bá”), nenhuma cerimônia com desconhecidos (“tu”) e a concordância verbal peculiar (“me pegou”) – sem falar na comédia toda. Pô, o sujeito não tinha decorado essa parte. Como será feito o raio do Filé Gruta Azul? É um convite para chutar, mas melhor não. Bora perguntar para o cozinheiro. E torcer para que ele saiba.
Recentemente, eu estava na padaria de um súper sem ninguém para atender no balcão quando vi uma moça uniformizada empilhando umas embalagens ali ao meu lado. Perguntei se era ela quem atendia naquele setor, e ela confirmou assim: “Tu tá com pressa?”.
Inúmeras vezes entrei em lojas cujo atendente estava de olho no seu smartphone e nem levantou a cabeça para dar bom dia, e lembro também... Ah, deixa pra lá, isso já está virando bullying. Fiquemos com a graça da coisa: “Bá, agora tu me pegou”.
Tenho vontade de abraçar afetuosamente aquele que se confessa inapto para explicações. É um indefeso. Não está preparado para enfrentar perguntas difíceis. Tanta gente enrolando por aí, enquanto ele revela sua fragilidade sem subterfúgios. Admite a própria limitação. Mas, obstinado em acertar, vai em busca da resposta.
“O cozinheiro disse que o filé Gruta Azul, moça, é na verdade uma maminha temperada com muita pimenta e que vem acompanhada com batatas ao molho picante e ervas.”

Ervas finas ou ordinárias?, você pergunta, só para zoar.

Saudoso e-mail - Martha Medeiros

“Não senhora, você não pode pensar nem cinco, nem dois, nem meio segundo, precisa escrever feito um raio, num flash, sem pestanejar’’

 Quando o e-mail surgiu, foi considerado um meio prático, porém frio de se corresponder. Mas agora que o e-mail foi reduzido a pó pelo Face, WhatsApp & cia., agora que ele sobrevive apenas para a troca de mensagens profissionais (e olhe lá), agora que ele respira por aparelhos, já podemos lembrar, nostálgicos, de como ele era refinado.

O e- mail entrava discretamente na sua caixa de mensagens e ficava ali, quietinho, aguardando pacientemente o momento em que o destinatário pudesse lê- lo e respondê-lo. Havia todo o tempo do mundo para isso. A resposta podia ser bem articulada, revisada e enviada sem nenhuma aflição. Claro que não era agradável deixar alguém aguardando uma semana, mas na maioria das vezes não levava tanto tempo assim, o retorno geralmente era dado no mesmo dia ou no dia seguinte, e isso era suficiente para comemorar esta vibrante conexão virtual.

Isso foi ontem. Anteontem. Um século atrás. Dá no mesmo.

Agora você troca mensagens instantâneas, um toma-lá-dá-cá que faz todo mundo parecer meio esquizofrênico. A questão do corretor de texto é uma insanidade. “Oi, Patricia!’’ se transforma em “Ouviu, patife!’’ e o que era para ser um gentil cumprimento vira um insulto. Não preciso dar outros exemplos, você passa por isso todos os dias: corrigir com avidez as bananices que o corretor comete à revelia.

Mas o mais grave nem é isso.

É ter que responder de bate-pronto. Eu às vezes não sei exatamente como reagir a algo que me escreveram, gostaria de ter ao menos cinco minutos para processar a informação e entender o que estou sentindo antes de mandar uma resposta, cinco minutos não é tanto tempo assim, é? Ora, em cinco minutos o interlocutor já se atirou do oitavo andar, sentindo-se rejeitado pelo meu silêncio. Não senhora, você não pode pensar nem cinco, nem dois, nem meio segundo, precisa escrever feito um raio, num flash, sem pestanejar, porque o outro está digitando ao mesmo tempo e isso configura um duelo, ganha quem disparar primeiro. Portanto, seja ligeira e tenha presença de espírito — ia esquecendo: é imperativo mostrar que é engraçadinha.


Só que não sou engraçadinha. Sou cautelosa. Ponderada. Gosto de construir frases. Criar raciocínios. Sou escritora, dê um desconto. Não consigo me contentar com frase de telegrama, que é uma coisa bem antiga, se não me falha a memória.

Bom mesmo seria se a gente continuasse a se comunicar frente a frente, transmitindo nosso estado de espírito com o próprio rosto, sem precisar do auxílio de algum emoji. Se a gente pudesse falar com calma e o outro responder com calma. Mas isso parece que também é coisa muito antiga.
Nasci atrasada, estou sempre correndo atrás do tempo: aquele tempo que o e-mail me dava pra pensar.      
  • 24 mai 2015
  • O Globo
  • Martha Medeiros martha.medeiros@oglobo.com.br

Luzes da ribalta

Luzes da ribalta 

Cauby Peixoto volta (mais uma vez) ao centro da cena, com lançamento de documentário. Ator Diogo Vilela planeja nova temporada do musical em que interpreta o cantor


Ailton Magioli
Estado de Minas: 24/05/2015



O cantor Cauby Peixoto em registro de 1961. Hoje, aos 84 anos, ele é tema do documentário Cauby - Começaria tudo outra vez, que estreia na quinta (JEAN SOLARI/O CRUZEIRO/EM BRASIL)
O cantor Cauby Peixoto em registro de 1961. Hoje, aos 84 anos, ele é tema do documentário Cauby - Começaria tudo outra vez, que estreia na quinta

O que mais fascina o documentarista Nelson Hoineff, de 66 anos, em Cauby Peixoto, 84, é o eterno recomeço do cantor, que, não por acaso, está de volta à cena em variadas frentes, depois do susto pregado pela diabete, que o levou a uma internação recente.

Hoineff é o diretor do documentário Cauby – Começaria tudo outra vez, que estreia na próxima quinta-feira em cinco capitais, incluindo Belo Horizonte. Apesar da demora de quase uma década para a conclusão do filme, o título se manteve todo o tempo na cabeça do cineasta – e sempre pertinente.

Hoineff decidiu abordar a trajetória do cantor – um dos raríssimos remanescentes da era de ouro do rádio brasileiro, ao lado de Angela Maria, 86, confrontando permanentemente o artista e o personagem que ele criou para si.

“O recomeço constante é um desejo do próprio Cauby, que, além das inúmeras plásticas (nunca admitidas), renova o repertório com uma enorme frequência, às vezes para melhor, às vezes para pior”, afirma Hoineff, que diz encontrar paralelos da trajetória do cantor apenas em nomes como os de Beth Carvalho, Caetano Veloso e João Gilberto. “Além do dom vocal, nos shows eles praticamente contam uma história.”

NOVO DISCO Não só a estreia de Cauby – Começaria tudo outra vez está jogando novas luzes sobre o cantor, cujos fãs vão de “uma velinha de 90 anos até um casal de 20 anos”, como observa Hoineff. Até o fim do mês, deve ser lançado o disco Cauby sings Nat King Cole, com shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mais: recuperado da crise provocada pela diabete, o eterno intérprete de Conceição voltará a se apresentar no Bar Brahma, no Centro de São Paulo, onde cumpre temporada semanal há 12 anos.

No filme, Cauby surge literalmente brilhante, vestindo um blaser de tecido resplandescente. A canção escolhida para abrir o documentário é Minha voz, minha vida, composta especialmente para ele, por Caetano Veloso. Ao longo dos 90 minutos de exibição, o público se assenta em três pilares: além da ideia do eterno recomeço, o modelo de interpretação atemporal de Cauby Peixoto e a sinergia entre ele e a plateia, que transcende gerações.

No início do filme, o espectador é levado para o subúrbio carioca (Olaria) onde vive Tadeu Kebian, de 15 anos. Fã incondicional do cantor, que conhece na  infância por influência de seu avô, ao ficar sabendo da realização do documentário, ele tomou a iniciativa de entrar em contato com a produção.

Que ninguém vá assistir a Cauby – Começaria tudo outra vez em busca de revelações. Figura historicamente contraditória e dúbia, o cantor até se expressa sobre a sexualidade, admitindo experiências homossexuais na infância. Mas acaba manifestando preconceito sobre o tema, além de se atribuir um romance com a atriz Dorinha Duval, que a própria nega no decorrer do filme.

DUALIDADES Como lembra o biógrafo Rodrigo Faour, em depoimento no filme, ao longo de sua trajetória, o cantor se destacou pelas dualidades: chique e brega, popular e sofisticado, masculino e feminino. Segundo Thiago Marques Luiz, produtor musical de Cauby Peixoto, ele gostou do filme, assim como do musical Cauby! Cauby!, de Flávio Marinho, protagonizado por Diogo Vilela, e da biografia Bastidores – Cauby Peixoto – 50 anos da voz e do mito, de Faour.

Com farto material televisivo de arquivo (TVs Excelsior, Tupi, Globo, Record, CNT e TVE) à sua disposição, Hoineff leva para a tela cenários antológicos como o auditório da Rádio Nacional e a Confeitaria Colombo, além de trazer à tona personagens como Edson Di Veras (1914-2015), o também famoso empresário do cantor, que não poupou esforços para transformá-lo em ídolo. Veras mandou extrair toda a arcada dentária de Cauby, aos 20 anos, para trocá-la por uma prótese, e contratou as famosas “macacas de auditório” que acompanhavam o artista das emissoras de rádio às ruas, sempre aos gritos.

Entre os momentos mais consagradores da carreira do cantor, Nelson Hoineff destaca a volta de Cauby ao Rio, nos anos 1950, depois da temporada americana, onde, além de se encontrar com Nat King Cole, Louis Armstrong, Bing Crosby e Carmen Miranda, fez um único filme em Hollywood (Jamboree, de Roy Lockwwod); e a gravação de um disco com composições originais de Caetano Veloso (Minha voz, minha vida) e Chico Buarque (Bastidores), entre outros astros da MPB, já nos anos 1980. Ainda nos 1950, ele foi o primeiro a interpretar e dançar um rock (Rock’n ’roll em Copacabana), que gravaria a seguir.

Preparando-se para voltar a encenar, no ano que vem, o musical em homenagem a Cauby, Diogo Vilela diz que será a primeira remontagem da carreira dele. “E como disseram que Cauby estava desanimadinho, acho que será uma boa homenageá-lo em vida”, diz o ator.

Para Vilela, trata-se de “um intérprete precioso de canções, que faz parte do inconsciente coletivo brasileiro”, a exemplo do mineiro Ary Barroso, que ele também interpretou no teatro, além de Nelson Gonçalves. “Temos de parar com a nossa falta de memória e aprender a gostar da gente mesmo. No Brasil, vive-se o mito do importado”, afirma Vilela, detentor dos prêmios Shell e da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo espetáculo. Ele ficou dois anos estudando canto e se aperfeiçoando para viver Cauby.


Um cantor polêmico que se fez eterno

Rodrigo Faour*

Hoje, todo mundo fala bem de Cauby. Ainda bem! Mas nem sempre foi assim. Cantor polêmico, incomodou muita gente no início de sua explosão, a partir da gravação de Blue gardenia, seu primeiro grande sucesso, em 1954. Ocorre que foi lançado com uma agressiva estratégia de marketing do saudoso empresário Di Veras, para que em pouco tempo se tornasse “o maior cantor do Brasil”, o que de fato se concretizou.

Para conseguir manter os holofotes de uma indústria cultural ainda em formação sobre seu pupilo, valia quase tudo o que depois passou a ser banal com outros artistas: deu-lhe um banho de loja, plantou notícias, criou slogans, sugestionou que as fãs suspirassem e desmaiassem por ele... Fora o fato de que nem sempre se conseguia ouvi-lo direito no rádio, porque suas fãs estavam numa constante histeria coletiva.

Os mais refinados torciam o nariz, ainda mais que o rapaz tinha um jeito delicado, incomum para um país ainda mais machista do que hoje. O tempo passou, o repertório de grandes versões e sambas-canções acrescentou bossas novas e umas breguices aqui e ali. Depois, mais longe dos estúdios, virou o rei da noite, cantando em boates – até na de sua propriedade, o Drink, em Copacabana, entre 1964 e 1968 – e churrascarias do país inteiro.

Em 1980, a redenção! Munido de um repertório reciclado e de uma nova estratégia de marketing, desta vez da Rede Globo e da Som Livre, Cauby voltou à moda – e ganhou aquilo que lhe faltava, o prestígio dos formadores de opinião, incluindo a grande imprensa. Descobriram que Cauby era um grande cantor subestimado.

E a partir de então, não passa cinco anos sem que alguém o redescubra e seu legado venha à tona. E ele soube tirar partido disso. Em busca do tempo perdido, gravou muito. Tudo o que quis e em outros tempos não teve oportunidade. Além disso, manteve o estilo, o glamour, a delicadeza e a extravagância, mostrando que imagem, voz, estilo e respeito ao público podem ser eternos.

*Rodrigo Faour é jornalista, produtor, historiador de música brasileira e biógrafo de Cauby Peixoto

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Consumidos pelo excesso

Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 24/05/2015 



A vida anda corrida para a maioria das pessoas. Pelo menos é a impressão que se tem. Interessante, o relógio anda no mesmo compasso. Então, que tipo de vida moderna é essa da pressa, da falta de tempo, da dificuldade de encontrar amigos e sair pra relaxar? Será que virou moda dizer que falta tempo? Dizer que estamos sempre ocupados é valorizar o passe?

Não é só isso. De fato, moramos em grandes cidades, o deslocamento é mais difícil por causa das distâncias e do trânsito geralmente caótico. Tempo é dinheiro! Trabalha-se muito mais. Pra comprar coisas que nem usamos tanto, somos seduzidos pela oferta excessiva . Outro dia, peguei o caderno Divirta-se para ver o que ele trazia sobre o Bairro do Prado. A profusão de bares, restaurantes e pizzarias me surpreendeu.

A semana é curta para tanto trabalho. O fim de semana é curto para tanta oferta. Exposições, cinema, amigos e ainda descansar. O sentimento é de que todo o tempo é pouco para tanto. Não bastassem os aspectos externos que citei, ainda somos dotados da tal da subjetividade. Não estou reclamando... Seria contraditório, afinal, sou psicanalista, vivo disso!

Atentar para o desejo é algo que devemos praticar sempre, senão a demanda te suga inteiro. E não só a demanda externa, os atrativos sociais, culturais, os amigos, malhação, compras e tantas ofertas. Nós também somos cativos da demanda de amor. Por ele, deixamos o desejo de lado. Esse desejo te obriga a fazer cortes, que aliviam, evidentemente, mas para muitos são extremamente difíceis...

Queremos atender o outro para sermos amados. Temos dificuldade em abrir mão dos programas, perder uma coisa ou outra, pois ainda inventaram mais um imperativo categórico para nos torturar: quem não é visto não é lembrado!!! Quem inventou isso deve ser algum publicitário fissurado da propaganda, a serviço de sabe-se lá quais interesses.

Esse imperativo me dá verdadeiro pavor. Se fôssemos atendê-lo, correríamos o risco de ficar tal e qual temia a mãe de uma amiga de adolescência, que dizia: “Não vai sair todo dia, nem ir a todas as festas, senão vai ficar igual a arroz-doce”. Naquela época, isso doía nos nossos ouvidos. Hoje, seria um bálsamo sagrado!!!

É muito bom quando podemos dizer para nós mesmos que neste fim de semana ficamos por conta própria, só vamos fazer o que quisermos, sem compromisso a não ser com o desejo. E ninguém poderá nos corromper com seduções deliciosamente convidativas.

Afinal, se se esquecerem da gente, pegamos o telefone. Nada que um bom papo não resolva, matando saudades e preparando o próximo encontro. Infelizmente, hoje em dia as pessoas perderam a boa educação: convidam e resolvem tudo por WhatsApp!!! Que deselegância um moço chamar uma moça pra sair sem gastar um telefonema... Isso não é de bom agouro. Preservar um pouco dos homens de antigamente não faria mal nenhum – e de mulheres também. Afinal, até para encontros amorosos a pressa é o tom mais comum: sair e ir logo às vias de fato, sem tecer o afeto. Passado o afã da atração, nada resta. A maioria das pessoas se sente exilada e nem sabe dizer por quê!

Na pressa de amar, perde-se o amor, porque amor não obedece a vontades. Ele tem o seu tempo, e, caso não possamos lidar com ele com menos ansiedade, abortam-se as chances.

Viver é difícil de suportar, dizia Freud em O mal-estar na civilização (1927), porque a realidade nos contraria, decepciona, frustra, faz sofrer. E a busca incansável pela felicidade, essa busca que cada um faz a seu modo, produz maior sofrimento. Talvez a correria deste nosso tempo de mil ofertas atenda a um mecanismo de defesa, levando-nos a viver correndo para evitar sentir o que quer que seja.

Estamos sempre em desarmonia no quesito felicidade total. O outro, entre outras fontes de sofrimento, é a maior delas: nunca é o que esperamos. Porque é um chato? Não. É que o desejo é único e intransferível. Talvez por isso devamos ir mais devagar. Não adianta ir com tanta sede ao pote, atropeladamente, sem respeitar o espaço, o tempo e a sensibilidade do outro. Então, tem horas em que o menos vale mais. Mesmo.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pega-ratão - Martha Medeiros

Zero Hora 20/05/2015

Outro dia usei uma expressão que andava sumida do meu vocabulário: pega-ratão. De onde saiu isso?
Há quem diga que é o mesmo que uma pegadinha, mas não vejo assim. Pegadinha é uma piada que logo se assume como tal. Alguém envolve você numa situação que parece verdadeira, mas no instante seguinte revela que não era pra valer, estava apenas se divertindo com a sua reação. O objetivo era fazer todos darem risada, uns antes (os que arquitetaram a brincadeira), e depois o pobre do mané ao descobrir a tramoia da qual foi vítima. Qual a saída dele a não ser rir também? Pegadinha é isso, um pega-ratinho.
Pega-ratão, como o superlativo indica, é uma armadilha mais engenhosa e que não é revelada nem antes nem depois: os mentores jamais admitirão que tentaram engambelar. Alegarão que não ousariam cometer essa deselegância conosco, os ratões, pessoas bem-informadas, que pagam ingressos caros para ver um show, para visitar uma exposição e até mesmo para comer um determinado prato num restaurante da moda. Para pegar um ratão, é necessária uma artimanha sofisticada e de preferência amparada pela mídia, que também pode ter entrado de gaiata.
Salvo exceções, considero que instalações artísticas são uma espécie de pega-ratão com um verniz intelectualizado. Se eu estiver sendo muito provinciana, aceito humildemente a crítica e o xingamento, mas o fato é que quase nunca entendo o que significam aquelas latarias, ferragens, cordas caindo do teto e demais materiais inorgânicos (às vezes, orgânicos) promovidos a arte moderna, bastando um holofote jogado em cima.
Restaurante minimalista, com pratos insípidos e minúsculos custando a bagatela de R$ 80: pega-ratão. A recompensa talvez seja a publicação da foto da guloseima no Instagram e o cliente ter o nome publicado na coluna social, o que uma macarronada honesta num restaurante simples não proporcionaria – macarronada sacia sua fome, não seu apetite de status.
Encontros às escuras, anúncios de apartamentos “nobres” em que os quartos são menores do que banheiros, filmes que se anunciam como continuação de um sucesso: tudo pega-ratão. Está passando nos cinemas um tal Divã a 2, cujo cartaz possui a mesma programação visual do filme baseado no meu livro Divã e que teve excelente bilheteria em 2009, com a grande Lilia Cabral liderando o elenco, além de roteiro de Marcelo Saback e direção de José Alvarenga Jr, todos feras. 
Pois, afora esse cartaz enganoso, o filme atual não conta com o mesmo elenco, nem a mesma equipe e não tem nada a ver com meu livro. Por falta de estofo próprio, recorreu à armadilha de colocar um número 2 no título para – nhac! – atrair os desavisados.


Então, esteja avisado. Os ratos estão do outro lado do balcão.