sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Mestre-cuca - Eduardo Almeida Reis

Antes de implicar com os padres que sucumbem à tentação da carne, penso que a igreja do papa Francisco deve acabar com esta bobagem de celibato


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/12/2014




De supetão, o fato assustador: a caminho do trabalho, a comadre arranjou uma nevralgia do nervo ciático ou de suas ramificações, que se manifesta por dores lombares irradiadas para a parte posterior do quadril e da coxa, podendo chegar até o pé: ciática ou lumbago. E isso num sábado, dia de aprontar o de comer do final de semana. Já viajei três dias dirigindo um Opala com dois amigos, compradores e revendedores de grandes lotes de vacas leiteiras, e um cardiologista belo-horizontino com o terrível lumbago. O médico sentado de lado no banco traseiro, tomando remédios, com uma perna sobre a perna de um dos fazendeiros. Apesar das dores, encantado com a conversa dos comerciantes de gado: “É a Academia da Velhacaria!”. Realmente, só quem ouviu as conversas de compradores de imensos lotes de vacas pode conhecer por dentro a Academia da Velhacaria. Os dois acadêmicos eram meus amigos, mas nunca levei jeito para me candidatar ao sodalício.

Volto ao lumbago da comadre apanhada de carro pelo marido para ir à UPA mais próxima e voltar para sua casa deixando o philosopho sem o de comer sabático e dominical. Sai dessa, caro e preclaro leitor. Há restaurantes, é certo, mas aqueles dois dias foram reservados para ficar em casa. Ainda bem que já ouvi falar, como o leitor também já deve ter ouvido, de um negócio chamado “poder do pensamento positivo”. Fui à luta e resolvi o problema do almoço do sábado esquentando um arroz com alho para comer com quatro ovos mexidos, tudo na manteiga. Sobremesa: musse de maracujá que tinha sobrado da véspera.

Escrevo à tarde, depois de queimar levemente um dedo (não doeu) e de ter confirmado que os ovos mexidos soltam respingos de manteiga quente. Deve ser o sal da manteiga, pois tive cautela de deixar para salgar os ovos depois de prontos. Ficaram muito razoáveis. Até agora foram duas frigideiras. Preciso ver se há outras no armário, porque sobraram muitos ovos, muita manteiga, algum arroz com alho ainda na geladeira e um presunto Sadia, 250 gramas que combinam com os ovos mexidos. Algo me diz que o almoço de domingo está garantido.

Libido

Obrou mal o bispo diocesano de Governador Valadares, dom Antônio Carlos Félix, ao suspender da ordem e retirar do exercício do ministério sacerdotal o padre César Ribeiro de Freitas pelo “crime” de engravidar uma senhora casada em Conselheiro Pena, município mineiro da Microrregião de Aimorés, distante de Belo Horizonte cerca de 400 quilômetros. Padre César não matou a paroquiana, que, por seu turno, quando se envolveu com ele só demonstrou que o seu casamento com um conselheiro-penense, cidade com 23.088 pessoas como informam as estatísticas de 2014 do IBGE, não caminhava bem. E o padre César, pela foto estampada na edição de 8 de novembro aqui do Estado de Minas, parece cavalheiro jovem e bem-apessoado. Antes de implicar com os padres que sucumbem à tentação da carne, penso que a igreja do papa Francisco deve acabar com esta bobagem de celibato. Santo Agostinho, em suas conversas com Deus, já pedia que sua castidade só fosse cogitada depois que ele, Aurelius Augustinus Hipponensis, já estivesse pra lá de Bagdá.

Um amigo do philosopho, brasileiro inteligentíssimo e cultíssimo, fluente em 11 idiomas, o único não judeu a escrever um romance diretamente em hebraico, antes de ser jornalista foi padre católico nos Estados Unidos, onde se apaixonou por moça judia. Deixou a batina, a israelita se converteu ao catolicismo e se casaram na imensa Catedral de Nova York, cerimônia oficiada pelo cardeal Francis Joseph Spellman (1889-1967).

Seria lindo, lógico e humano que a senhora conselheiro-penense, livre do marido, pudesse cuidar de seu filhinho vivendo um caso de amor com o padre César no exercício da nobre missão sacerdotal. É a minha opinião e não aceito melhor juízo.

O mundo é uma bola

12 de dezembro de 1098: os exércitos da Primeira Cruzada conquistam Ma’arrat al-Numan, cidade muçulmana sob domínio dos fatímidas, na atual Síria. Como é do desconhecimento geral, fatímida foi dinastia bérbere e xiita que governou o Norte da África e especialmente o Egito, entre a segunda metade do século X e a segunda metade do século XII, fundada por um descendente de Fátima, filha de Maomé.

Em 1602, os genebrinos repulsam o ataque dos duques de Saboia, feito que passou a ser conhecido como L’Escalade. Em 1804 a Espanha declara guerra à Inglaterra. Em 1897, aí sim, temos notícia da melhor supimpitude: inauguração da Cidade de Minas, que a partir de 1901 passa a se chamar Belo Horizonte, BH, Belô ou Belzonte. Em 1963 foi proclamada a independência do Quênia, em suaíli Jamhuri ya Kenya, lema Harambee, que, como é do conhecimento geral, quer dizer “Vamos trabalhar juntos”.

Em 1821 nasceu Gustave Flaubert, que marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises psicológicas, seu senso de realidade, sua lucidez sobre o comportamento social e pela força do seu estilo. Em 1915 nasceram Frank Sinatra, cantor e ator, e Augusto Ruschi, agrônomo, advogado, ecologista e naturalista brasileiro, que não foi poupado em 1986 de uma pajelança em que pontificaram o cacique Raoni e o pajé Sapaim, ritual de purificação de um ridículo inominável. Hoje temos o aniversário de Belo Horizonte.

Ruminanças

“Os muitos milhões de brasileiros trabalhando no crime explicam a pequena taxa de desemprego no país” (R. Manso Neto).