quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Só agora? - Eduardo Almeida Reis

Só agora?


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/11/2014




 (LELIS)


E dizer que o jornalista Walter Sebastião aguardou minha mudança para dar notícia do pintor Antônio Dionísio da Cruz, de 77 anos, residente no Bairro Jardim Atlântico, na capital de todos os mineiros ou de parte deles. Guimarães Rosa escreveu: “Minas é muitas”, assim mesmo. Descobri nas eleições de outubro, com imensa tristeza, que há mineiros e mineiros.

Volto ao pintor. Se ainda morasse em BH, descobriria onde fica o Jardim Atlântico para comprar alguns quadros do Dionísio. Sua pintura bateu com o meu gosto. Entre os muitíssimos significados do verbo bater, “estar em concordância” congemina com o que achei da pintura do artista: gostei muito e gostaria de recobrir as paredes do apê com alguns dos seus quadros.

Aquele quadro O Grito, de Edvard Munch, que foi vendido num leilão por US$ 119,9 milhões, não penduro na parede nem de graça. Gosto não se discute, não se explica nem se transmite por via paterna. Há 15 anos tenho escultura lindíssima, que já não tenho onde pendurar. Dei a peça a uma de minhas filhas, que até hoje não encontrou espaço em sua imensa casa para exibir o presente do pai. Fazer o quê?

Internet

Cavalheiros e damas ocupados não têm tempo de passear pela internet lendo parte do que se escreve sobre todos os assuntos. Parte: pequena porção de um todo. É tanta coisa publicada que, lendo o dia inteiro, não há tempo para acompanhar o que sai em português numa só hora.

Hoje, contudo, procurando informações sobre determinada jornalista conhecida – do tipo casamento, idade, filhos etc. –, acabei sem saber se a moça é casada, quantos anos tem, se tem filhos, e fiquei horrorizado com o que escreveram sobre ela. E a postagem, texto imenso, foi de hoje. Nunca imaginei que se pudesse escrever e lançar na internet um texto daquela ferocidade em português correto, posto que meio confuso. Como há 250 mil entradas sobre a jovem senhora – duzentos e cinquenta mil! –, presumo que muita gente fale bem e muita gente fale mal.
Que coisa, hein? E o fenômeno é recente. A transmissão do primeiro e-mail da história ocorreu no dia 29 de outubro de 1969, vejo na própria internet, mas a vulgarização do negócio tem no máximo 20 anos. Em 1996, quando me mudei para Belo Horizonte, a um quarteirão do Shopping Diamond Mall, tive internet na velocidade de jabuti preguiçoso.

Agora, o Brasil inteiro fala das redes sociais, essencialmente antissociais, que servem para tudo, até para marcar brigas de torcedores dos times de futebol. Bela sociabilidade. Estudiosos sérios sustentam que o país tem 70% de analfabetos funcionais, isto é, indivíduos cujas habilidades de leitura e escrita são insuficientes para atender às necessidades práticas do dia a dia e para promover o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Red discus

O mundo da pesca e do comércio de peixes ornamentais é muito maior do que se possa imaginar. Há revistas e livros especializados, produção e comércio de aquários, loucura total. Fui colega de trabalho de um brasileiro que fabricava aquários e me contou história interessante sobre o acará-disco, nome comum de todas as espécies de peixes de água doce classificadas no gênero Symphysodon, família dos ciclídeos, comuns na América do Sul nos rios amazônicos do Brasil, do Peru e da Colômbia. Têm formato discoide, cores originais, atingem 15 centímetros em média e são muito populares no mundo inteiro.

Espécie ornamental e pacífica, exigente quanto à qualidade (limpeza) da água, faz um sucesso danado. Meu colega e seus companheiros de pescaria pegaram vários acarás-discos de cor desconhecida, vermelho forte, e se apressaram a publicar as fotos numa revista internacional. Como bons brasileiros, se esqueceram de dizer que o vermelho resultava de umas frutinhas que existiam no lago amazônico em que pescaram e que o acará-disco, depois de uns dias sem comer as frutinhas, voltava às cores normais.

Pra quê? Pouco tempo depois, por meio da revista, receberam carta de um milionário americano que os convidava, citando-os pelos nomes, a viajar para o tal lago em seu jato particular, todas as despesas pagas. Viria ao Rio para apanhá-los com o seu jatinho e no Amazonas pescariam Red discus no lago, viajando em hidroavião alugado por ele, champanhe, caviar e uísque incluídos no convite. Levaram meses fugindo do milionário e da revista para não contar que o Red discus das fotos era resultado da frutinha.

O mundo é uma bola

27 de novembro de 1807, diz a Wikipédia, “a família real portuguesa foge para o Brasil na sequência da invasão do país por tropas napoleónicas”. Pelo napoleónicas dá para perceber que o texto foi escrito em Portugal. Parece-me que “foge” é pouco simpático: prefiro “transmigra”, do verbo transmigrar: mudar(-se) de uma região, país etc. para outro.

Em 1912, França e Espanha assinam um tratado segundo o qual todas as terras do que é atualmente Marrocos, ao sul do Rio Drá, passariam ao domínio espanhol; esse território teve as designações de colônia de Cabo Juby e zona sul do protetorado espanhol de Marrocos.

Hoje é o Dia do Técnico de Segurança no Trabalho.

Ruminanças

“O trabalho é a maldição das classes bebedoras” (Oscar Wilde, 1856-1900).