sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Serviço - Eduardo Almeida Reis

Serviço


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 24/10/2014



Depois que bandidos incluíram meu endereço eletrônico numa lista vendida a milhares de chatos, são dezenas os e-mails que recebo todos os dias. Incluí uma porção em “lixo eletrônico”, mas continuam chegando assim mesmo e me obrigam a excluí-los diariamente. Entre os remetentes habituais, todas as lojas conhecidas, Ponto Frio, Bahia, Ricardo etc., que vivem anunciando nas televisões.

Considerando que jornalismo é serviço, tomo a liberdade de repassar ao leitor sério alguns dos e-mails que tenho recebido: Alice Bueno “Estimulante sexual para qualquer ocasião” @tripleonline.com.br; Milena Moreira “Fortifique seu desempenho na cama” @brasilverde.info; Solange “Amor e Sexo: tenha uma vida sexual mais ativa” @painel.levemkt-org.com.br; Salete Machado “Tenha mais segurança na hora do sexo” @brasilverde.info; Pedro Araujo “Acabei com a impotência com essa dica” @top2014.us; Ana Maria “Atraia sexualmente quem você quiser” @painel.semprenamidia-online.com.br; Jociane “O que fazer quando o sexo não flui por disfunção, libido ou fadiga?” @painel.vpsenvio2.com.br.

Jociane terminou seu conselho com um ponto de interrogação, sinal de que não sabe o que deve ser feito quando o sexo não flui por disfunção, libido ou fadiga. Sou forçado a recomendar-lhe que procure Alice Bueno, Milena Moreira, Salete Machado e outras invasoras de endereços eletrônicos. Ou, então, que procure o potente Pedro Araujo e me poupe dos seus e-mails diários.

Cidades
Centralia, nos Estados Unidos, Epecuen, na Argentina, Fordlândia, no Brasil, Humberstone, no Chile, Kayaköy, na Turquia, Kolmanskop, na Namibia, Hashima, no Japão, Ordos, na China, Pripiat, na Ucrânia e Pyramiden, a 1.300 quilômetros do Polo Norte, foram algumas das cidades desabitadas que encontrei pesquisando no Google. Há muitas outras, grandes ou pequenas, espalhadas pelo planeta. Nenhuma, contudo, chegou perto de abrigar 9.500 mil habitantes – nove milhões e quinhentas mil pessoas – como deve ficar grande parte de São Paulo se não chover até março de 2015.

Até lá a Sabesp garante que aquela parte da capital paulista vai ter água. Depois, é claro que vai continuar tendo, porque vai chover, mas a notícia é assustadora. Água consegue ser mais importante que cerveja, vinho e champanha. O homem pode sobreviver sem os três últimos – e tenho sido prova nos últimos dois anos –, mas depois de 48 horas sem água surgem as perturbações hidreletrolíticas e todos passam desta para a pior.

Considerando que as águas dos rios paulistanos são intratáveis, é tempo de o prefeito Haddad, administrador da cidade mais rica do estado mais rico do Brasil, pensar nas soluções possíveis, ainda que muito caras. Sua excelência diz que vai furar poços. Talvez o Aquífero Guarani, com 1.200.000km2 de área, tenha um pedaço embaixo de Sampa. Dessalinizar águas do Atlântico e bombeá-las para São Paulo? Inventar uma transposição ao contrário do São Francisco, trazendo água do Amazonas para o Sudeste? Deve ser a melhor solução, porque pode aproveitar para abastecer com água do Amazonas o Velho Chico, que, por seu turno, será transposto para o Nordeste.

Dos 9.500 mil moradores ameaçados de ficar sem água, uns 2 milhões devem ter vindo lá do Nordeste acostumados com as secas, mas tinham o mandacaru e outras cactáceas, além dos caminhões-pipas e as cisternas da Sudene, que faltam na capital paulista. E só uma coisa é certa: vocês ficam brincando com coisas sérias, mas o quadro é muito grave.

O mundo é uma bola
24 de outubro de 1147: conquista de Lisboa aos mouros. Não fosse ela, todos vocês estariam rezando cinco vezes por dia voltados para Meca. Em 1241, eleição do papa Celestino IV, que morre 17 dias depois. Nascido Gauffredo Castiti Glioni (Pisa (?)-Roma, 1241), Celestino IV era sobrinho do papa Urbano III. Foi monge cisterciense na abadia de Hautecombe, onde escreveu sua famosa História da Escócia. Foi o primeiro papa a ser escolhido numa eleição fechada, por isso chamada conclave, do latim concláve,is 'toda parte de uma casa fechada a chave, quarto, alcova'. Em 1763, um edital manda demolir todas as barracas de madeira e pano montadas em Lisboa depois do terremoto. Em 1848, Manaus é elevada à categoria de cidade. Etimologia: manau(s), nome da nação aruaca da região + sufixo -ara, provavelmente tupi ou nheengatu, com a noção 'ser de, oriundo de' (cf. parauara, paroara, potiguara etc.). Claro que ninguém se interessa pela etimologia de Manaus, mas estou precisando espichar este “O mundo é uma bola”, que os sueltos de hoje ficaram curtinhos. Em 1812, pulei as Guerras Napoleônicas próximas de Moscou. Ando mais preocupado com os jihadistas em França, porque tenho amigos que vivem visitando Paris. Em 1855, foi extinto o concelho de Pinheiro da Bemposta, mas você clica em Pinheiro da Bemposta e descobre que o concelho foi extinto em 2013. Em 1929, “Quinta-feira negra”, início da Grande Depressão. Em 1930, deposição do presidente Washington Luís, ponto culminante da Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder. Em 1933, pedra-fundamental de Goiânia, capital de Goiás, onde pontifica Carlinhos Cachoeira. Em 1945, criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, com o Brasil fazendo parte dos primeiros 27 países signatários.

Ruminanças
“Pedimos conselho, mas esperamos aprovação” (Charles Caleb Colton, 1780-1832). 

Eterna Diva - Ailton Magioli

MPB » Eterna diva Caixa com cinco CDs reúne gravações de Maysa Matarazzo no exterior. O repertório reúne clássicos como Ne me quitte pas e o disco feito por ela nos estúdios da Columbia, nos EUA


Ailton Magioli
Estado de Minas: 24/10/2014

Se cantando em português ela já é excelente, imagine em inglês, italiano e espanhol, além, claro, do francês, língua em que se tornou conhecida pela interpretação do clássico Ne me quitte pas, do belga Jacques Brel. Dona de estilo inconfundível, até hoje copiado escancaradamente por candidatas ao posto de diva da fossa, Maysa Matarazzo (1936-1977) tem parte importante de sua carreira fonográfica resgatada com o lançamento da caixa Maysa internacional pelo selo Discobertas, de Marcelo Froes.

O box com cinco CDs reúne preciosidades como Sings songs before dawn (1961), álbum gravado nos estúdios da Columbia Records, em Nova York. Além de standards americanos, há o primeiro registro feito por ela de Ne me quitte pas. “Trata-se do segundo álbum americano de Maysa, que já havia gravado The sound of love em São Paulo. Além da qualidade do repertório e dos arranjos (Jack Pleis), o disco se destaca pela produção e a capa”, afirma o produtor e pesquisador Marcelo Froes. 
O recorte internacional do repertório, explica o produtor, resgata “um dos diversos elos perdidos da carreira de 20 anos da estrela”. Marcelo diz que alguém precisava “costurar” esses elos, pois a trajetória de Maysa se dividiu entre diversas gravadoras. Graças ao apoio de Jayme Monjardim, filho único da cantora, o produtor e pesquisador traz de volta CDs com raridades, muitas delas lançadas em compacto. O tema de abertura da novela Bravo!, da TV Globo, assinado por Maysa e o maestro Julio Medaglia, fez parte de um compacto da Som Livre, de 1975, completamente obscuro. “Foi a última gravação dela em estúdio. Os fãs e as novas gerações precisam conhecê-la”, avalia o pesquisador Tiago Silva Marques, que assina a coprodução da caixa.
Segundo Marques, desde a minissérie Maysa – Quando fala o coração (2009), apresentada em nove capítulos pela TV Globo, não se falava mais na cantora, cuja biografia, Maysa – Só na multidão de amores, foi escrita por Lira Neto. “Ela estava absolutamente esquecida”, lamenta, salientando a importância de os fãs conhecerem a incursão da brasileira no exterior. Além de se aventurar nos EUA, Maysa investiu no mercado latino e gravou em espanhol quando morava na Europa. No anos 1960, dividida entre o Brasil e o exterior, ela enfrentou um período obscuro em sua carreira. 

PÉROLAS Os três CDs da caixa, dedicados a raridades, estão datados. O primeiro, de 1959 a 1966; o segundo, de 1967 a 1969; e o terceiro, de 1969 a 1976. O segundo traz pérolas como Missão (Sergio Ferreira da Cruz) e Em qual estrada (Fred Falcão e Paulinho Tapajós), com as quais a cantora concorreu no 2º Festival Universitário da Guanabara, da TV Tupi, em 1969.
Em 15 anos de Discobertas, Marcelo Froes produziu cerca de 50 lançamentos. Para ele, no entanto, Maysa é diferente. “Totalmente livre, ela fazia o que queria e quando queria. As gravadoras nunca a dominaram”, garante. Entre outras pérolas raras da caixa apontadas por Tiago Silva Marques estão as gravações feitas na França de Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Cent mille chansons (Michel Magne e Eddy Marnay), em 1963. “Para mim, é como se ela se repatriasse”, conclui.