quarta-feira, 15 de outubro de 2014

MARTHA MEDEIROS - Quartos de hotéis

Zero Hora - 15/10/2014


A maioria das pessoas adora hotéis. Eu também adoro quando estou acompanhada, já que é sinônimo de lua de mel, minha modalidade favorita de viagem. O mundo lá fora deixa de importar e me converto: era exatamente o que estava precisando, um tempo alienado para praticar todo o amor que houver nessa vida.

Mas nem sempre estamos acompanhados. A inspiração deste texto veio da exposição fotográfica do argentino radicado na França Daniel Mordzinski, chamada Quartos de Escrita – Retratos de Escritores em Hotéis. Ele clicou 70 escritores hospedados em diversos locais do mundo. Há quem tenha sido captado em momento íntimo e introspectivo e há os que fizeram poses bem-humoradas. O elenco é de respeito: estão entre eles Saramago, Vargas Llosa, Jorge Amado, Umberto Eco, Philip Roth, Verissimo, Nélida Piñon, García Márquez, Jorge Luis Borges, Jonathan Franzen – a nata.

Literatura e hotel formam uma dupla mística. O Pera Palace, em Istambul, até hoje é conhecido como a segunda casa de Agatha Christie. Assim como ela, muitos autores iniciaram ou terminaram seus romances entre as quatro paredes impessoais de uma espelunca de beira de estrada ou de suntuosas suítes. Romances literários e romances carnais também – num hotel, tudo acontece.

Viajo muito a trabalho e conheço bem a sensação de ser uma escritora recolhida em um quarto isolado entre centenas de outras portas: também sou envolvida pela introspecção, mas não produzo. Nem uma única linha escrevo fora do escritório que mantenho em casa. Preciso da dinâmica dos dias para me impulsionar. Num quarto de hotel, o tempo sofre uma estagnação, a falta de rotina engessa os minutos e as horas. As Horas. Nome do romance de Michael Cunningham, em que ele escreve uma das cenas mais pungentes da literatura norte-americana, a fuga de uma dona de casa para um quarto de hotel a fim de resgatar sua solidão. Que melhor lugar para esse encontro íntimo?

Não sei se paro de viver quando estou sozinha num quarto de hotel ou se estou viva demais, além do que posso suportar. Para mim, trabalhar em um quarto de hotel significaria acolhê-lo e por ele me sentir acolhida, no entanto, não consigo invocar essa familiaridade. Preciso que a mística se mantenha: eu e ele com a respiração suspensa por sermos dois estranhos sabedores do nosso curto e estéril tempo de convívio. O nada define minha estada.

Sozinha num quarto de hotel, sou ninguém. Não escrevo porque perco minhas referências. A paz vira melancolia. Tudo é lindo, limpo, confortável, mas se alguém tentasse me fotografar, me pegaria totalmente fora de foco.

*Na próxima atualização do meu site, segunda-feira, postarei algumas fotos da exposição e demais comentários, em martha-medeiros.com  

Noticiário - Eduardo Almeida Reis

Difícil, mesmo, é abrigar, alimentar, educar, tratar de 7,5 bilhões de pessoas, a caminho de 9 bilhões


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 15/10/2014



No mesmo dia, duas notícias que ensejam alto philosophar. No Pará, estado que já foi governado pela senhora Ana Júlia Carepa, arquiteta e bancária filiada ao PT, sobrenome de sinonímia original – caspa, lanugem de alguns frutos, pó que aparece na superfície das frutas secas, superfície áspera de madeira aplainada grosseiramente com enxó, pequenas lascas de ferro que saltam do ferro candente batido na bigorna, fuligem que se forma dentro dos cilindros dos motores de explosão – Carepa é tudo isso e Ana Júlia é muito mais, que não posso contar aqui, mas posso falar das imagens de satélites que acusaram o recrudescimento das derrubadas no Pará, depois de um período em que diminuíram em toda a Amazônia. O novo desmatamento teria sido de 230 mil hectares.

Até aí, tudo bem: um hectare tem 10 mil metros quadrados. Portanto, desmataram 230 mil áreas de 10 mil metros quadrados. Aí, o repórter da imensa rede de tevê resolve simplificar o entendimento do telespectador informando que a área desmatada equivale a 230 mil campos de futebol. E ninguém diz nada: seu editor, o diretor regional da rede, o diretor de jornalismo – todos acham muito natural a comparação imbecil: 230 mil campos de futebol.

É impossível que alguém “realize” o que são 230 mil campos de futebol, a começar pelo seguinte: as dimensões dos gramados variam. Ainda assim, você pode ter ideia do tamanho de um campo ou de cinco campos, mas de 230 mil? Já trabalhei numa fazenda que tinha 270 mil hectares e não consigo pensar em 270 mil campos de futebol.

A área do município de Belo Horizonte é de 330 km2. Diz a Wikipédia que um km2 equivale a 100 hectares. Portanto, 330 km2 correspondem a 33 mil hectares. Se a área desmatada no Pará foi de 230 mil hectares, equivale à área de sete belos-horizontes e a gente continua na mesma.
Outra notícia que enseja alto philosophar é a de que a camada de ozônio, objeto do terrorismo dos ambientalistas histéricos, vulgo ecochatos, voltou aos níveis de 1980. O tal buraco deixou de aumentar e é provável que a camada se recomponha até 2050. Nunca vi ambientalista falar da maior e mais assustadora das poluições: a humana, o excesso de gente.

Tudo bem que o lixo, os lixões, os esgotos despejados in natura em nossos rios, os plásticos que duram 100 anos entupindo bueiros, rios, oceanos – são muito preocupantes, mas têm jeito se houver educação e conscientização do povo através de propaganda inteligente. Difícil, mesmo, é abrigar, alimentar, educar, tratar de 7,5 bilhões de pessoas, a caminho de 9 bilhões. Disso os ambientalistas não falam.

Falam do ozônio, da camada de ozônio, do buraco na camada de ozônio bem como do oxigênio produzido pela floresta amazônica, quando é sabido que as florestas tropicais em clímax não apresentam saldo de oxigênio. Vivem do terrorismo ambiental e vivem muitíssimo bem, têm votos, empregos.

O brasileiro precisa perder a mania de só ver o lado ruim das coisas. Na disputa entre Dilma e Osmarina, por exemplo, existia um lado ótimo que não foi analisado. Uma das duas seria derrotada, motivo de alegria para todos nós. A derrota de ambas é mais que a felicidade, é a glória!

Lucidez
Dia 20 de setembro escrevi o seguinte: “Fosse cronista-Fifa seria obrigado a analisar o time do Cruzeiro em 2014. Não digo que tenha assistido a todas as partidas do time, que nossa imprensa diz ser maravilhoso, mas vi uma porção dos jogos cruzeirenses neste Brasileirão. Por mais que me esforce, não consigo ver o esquadrão de ouro que a imprensa vê. O técnico é cavalheiro simpático e educado, o goalkeeper Fábio continua sendo um dos melhores do Brasil, há três ou quatro jogadores entre os melhores deste Brasileirão – e é só. Se o time está vários pontos à frente do segundo colocado e vai ser campeão, a explicação é simples: é o menos ruim dos 20 que disputam a Série A”.

É chato ser lúcido. Razão teve o Nelinho, no dia em que me conheceu num supermercado: “Tu não é o Eduardo? Faz muito bem: não entende de futebol e vai logo dizendo que não entende, mas acaba entendendo muito mais que estes imbecis que palpitam por aí”.

O mundo é uma bola

15 de outubro de 1582: primeiro dia (?) do Calendário Gregoriano, obra do papa Gregório XIII. Em 1864, casamento da princesa Isabel com o conde d’Eu. Em 1875, nasce dom Pedro de Alcântara Luís Filipe Maria Gastão Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança, filho primogênito de Isabel com o príncipe imperial consorte dom Luís Gastão de Orléans e Saxe-Coburgo-Gota, conde d’Eu.
Veja o leitor que eram decorridos 11 anos do casamento de Isabel com o príncipe imperial consorte. Hoje o pessoal se adianta e tem os filhos antes dos casamentos plebeus ou reais.
Caçador, Professor, Juiz de Casamento, Normalista, Securitário, Frentista, hoje é o dia de tudo, até o Dia Mundial de Lavar as Mãos.

Ruminança
“A Petrobras tem razão quando se diz vítima. Falta explicar que é vítima dos ladrões nomeados pelos governos petistas” (R. Manso Neto).