quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Coincidência - Eduardo Almeida Reis

Coincidência


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 02/10/2014




 (Lelis)


Philosophava o philosopho sobre o meme dos banhos de água com pedras de gelo, relacionados com as doações de 100 dólares para financiar as pesquisas sobre a ELA, esclerose lateral amiotrófica, quando a comadre veio se despedir depois de mais uma jornada de trabalho. Perguntou-me se aceitava o copo com água gelada, que deixa para o patrão atenta ao fato de que os idosos perdem a noção de sede.

Cinco anos atrás levantei-me à noite para ir ao banheiro e tive uma tontura. Assentei-me na cama belo-horizontina e me dei conta de que havia passado o dia inteiro com um só copo d’água. Desde então, procuro tomar dois litros por dia.

Por isso, aceitei o copo oferecido, que chegou num átimo, e consegui quebrá-lo sobre a mesa do computador encharcando boa parte da área de trabalho. É muita coincidência: pensar nos banhos e despejar a água gelada. Salvei o celular e perdi bons 10 minutos enquanto a comadre secava as águas, justo no momento em que o philosopho precisava responder uma mensagem urgente. Entre secos e molhados, perdi o belo copo e dei conta do resto.

Desrespeito
Entende-se que a Rede Globo não esteja interessada nas corridas de Fórmula 1: a audiência despencou. Daí a desrespeitar o telespectador atrasando o início da transmissão do GP da Bélgica, porque transmitia também ao vivo e em cores um jogo de vôlei feminino entre o Brasil e o Japão, como fez no último dia 24 de agosto, vai uma distância que deixa furiosos muitos telespectadores.

São esportes diferentes: o fã do automobilismo de competição se lixa para o vôlei e vice-versa. Deve ter sido muito importante para o Brasil a vitória das meninas do vôlei. Se o país tem meninas que vencem meninas japonesas naquele esporte, tem tudo que interessa e está dispensado de cuidar da educação, da segurança pública, da saúde, da corrupção. Tudo bem: que transmitam o vôlei pela Globo, mas nos façam o favor de remeter a transmissão da Fórmula 1 para o SporTV.

Terminada a vitória das meninas, ainda tivemos anúncio do TSE sobre a importância do voto. O tribunal escolheu a dedo os artistas que, “sem cobrar cachê”, invadiram com a sua graça as nossas casas: aquela cantora baiana que trocou o marido por uma jornalista, além de um cavalheiro cabeludo, barbudo e risonho, que deve ser muito importante, e um outro nascido em Salvador, BA, dia 23 de novembro de 1962, Antônio Carlos Santos de Freitas, que deu ao planeta a honra de figurar na cerimônia de encerramento da Copa 14 – por sinal, pavorosa –, que o caro, preclaro e intrigado leitor talvez conheça pelo nome artístico Carlinhos Brown.

A julgar pelos seus comerciais, o TSE pretende afastar o eleitor das urnas no próximo domingo. Voto deveria ser coisa séria; eleição, outrossim, não fosse o país grande e bobo. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

 Frases
 • A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor.

• A diplomacia é como filme pornográfico: é melhor participar do que assistir.

•A inveja é o mau hálito da alma.

• Sou chamado a responder rotineiramente à pergunta: haverá saída para o Brasil? Respondo dizendo que há três: o aeroporto do Galeão, o de Cumbica e o liberalismo.

• Estatização no Brasil é como mamilo de homem: não é útil nem ornamental.

• Apesar de intransigentemente privatista, advogaria a estatização da pena de morte, que é hoje indústria rentável em Alagoas e na Baixada Fluminense.

• A burrice é o único símile do infinito.

• Os índios brasileiros são os maiores latifundiários pobres do planeta.

• Os artistas brasileiros são socialistas nos dedos ou na voz, mas invariavelmente capitalistas nos bolsos. (Roberto de Oliveira Campos, 1917-2001).

O mundo é uma bola
 2 de outubro de 313: o papa Milcíades, no Sínodo de Latrão, declara o donatismo heresia. Não faço, como presumo que o leitor também não faça, a mais mínima ideia do que tenha sido o donatismo, mas vou ao Houaiss e copio: doutrina religiosa fundada por Donato, bispo de Cartago, durante o século IV, que reclamou um tratamento severo (reprovado pela maioria da Igreja católica) para os cristãos que haviam fraquejado durante a perseguição do imperador romano Diocleciano.

Em 1187, Saladino derrota os cruzados e conquista Jerusalém. Saladino ou Salãh ad-Din Yüsuf ibn Ayyüb (1138-1193) foi um chefe militar curdo muçulmano que se tornou sultão do Egito e da Síria, liderando a oposição islâmica aos cruzados no Levante. Figura emblemática na cultura curda, árabe, persa, turca e islâmica em geral, adepto do islamismo sunita, tornou-se célebre entre os cronistas cristãos da época por sua conduta cavalheiresca, exemplo dos princípios da cavalaria medieval.

Deve ter tido um caminhão de odaliscas. Quando morreu, seu tesouro foi aberto e não havia dinheiro suficiente para pagar pelo seu funeral: Saladino havia doado todo o seu imenso tesouro para caridade. Está enterrado no Mausoléu de Saladino, no complexo da Mesquita dos Omíadas, em Damasco, onde era atração turística antes de os bandidos começarem a guerrear o meu ídolo, o médico Bachar Hafez al-Assad.

Ruminanças
“A época da cavalaria acabou; sucedeu-lhe a dos sofistas, economistas e calculadores, e a glória da Europa apagou-se para sempre” (Burke, 1729-1797).