sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Eduardo Almeida Reis - Arte fotográfica II

Cabeça inteira de peixe 'báltico', com olho e tudo%u2026 'Delicioso, incrível', informa o gourmet brasileiro. Sou mais o torresminho mineiro com cerveja belga


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 26/09/2014



Na edição de ontem, falei das mais de mil fotos que recebi de um casamento em castelo francês. Casamento em castelo francês varia do suprassumo do ridículo ao suprassumo do chiquê. Bom exemplo do primeiro foi o matrimônio do craque Ronaldo Fenômeno com La Cicarelli, união que durou dois meses. O casamento das mil e tantas fotos foi original, porque sacramentou união estável de mais de 15 anos, com direito a um filho de cinco aninhos presente à cerimônia, e teve por lá diversos parentes e amigos do philosopho.

Na falta de dinheiro para me casar em França, exigi no Rio cerimônia oficiada por um bispo. A recepção foi num bom apartamento, vizinho do Copacabana Palace, mais de 500 convidados obliterando os diversos cômodos com direito a padrinhos de fraque bebendo champanha sentados na mesa de pingue-pongue. O noivo de 28 anos, sem fraque, metido num peço a palavra cortado pelo Victor. Não é nada, não é nada, o peço a palavra pega bem à beça e à bessa. Fugi das latas amarradas ao para-choque traseiro, deixando o fusca de segunda mão estacionado na rua mais próxima. Lua de mel num alto de serra em Lambari, frio inenarrável, sexo de cabaninha, aquele em que o herói namora debaixo de quatro cobertores e um edredom.

Se entendi alguma coisa, o dispositivo que transmite mil fotos num átimo tem relação com um negócio chamado Rods via Dropbox. Você abre o treco e tem centenas, milhares de fotos do matrimônio na Borgonha, vê os vinhos, os queijos e só bota um defeito na cerimônia: o de não ter sido convidado. Se fosse, agradeceria e não iria: já passei da idade de andar de avião. Estou mais para sítio arqueológico do que para cidadão. No dia em que os arqueólogos me descobrirem, era uma vez um philosopho.

Ingesta
Texto chique é outro departamento. Escritores de meia-tigela recorreriam a outros títulos para este suelto em que trato do que foi ingerido e consumido pelo organismo. Prefiro ingesta, que é puro latim e pega bem à beça.

Linguicinhas, pururuquinhas, torresminhos, caldinhos – estes festivais de gastronomia são muito bonitos para movimentar o turismo em certas cidades, sem que tenham relação com a arte de bem comer. Comilão ou gourmand, aquele que come em quantidade, glutão, guloso, frequenta festivais; o verdadeiro gourmet, que aprecia e entende de boas mesas, de bons vinhos, que se regala com finos acepipes, vai ao melhor restaurante do mundo.

Ao contrário de Angra dos Reis, que tem 156 melhores casas, o planeta só tem um melhor restaurante, que no momento é o Noma. William Shakespeare, que morreu em abril de 1616 – por incrível coincidência um dia depois de Cervantes, mas há quem diga que foi no mesmo dia o passamento das duas expressões máximas das respectivas línguas – Shakespeare escreveu que havia algo de podre no Reino da Dinamarca. Claro que não se referia ao restaurante Noma, situado em Copenhague.

Você precisa fazer a reserva com cinco ou seis semanas, especificando cartões de crédito, garantias e confirmação 15 dias antes. No verão, quando o sol na Dinamarca se esconde por volta das 11 da noite, você vai jantar com dia claro encantado com a brigada e o passadio, antes de confirmar que o preço é salgado, mas não destoa dos cobrados pelos bons restaurantes da Europa e dos Estados Unidos.

O resto só vendo e comendo em Copenhague, como fez um empresário e gourmet brasileiro, velho amigo meu. Impressionou-me vivamente um dos pratos, que não como nem que me paguem 40 milhões de reais: cabeça inteira de peixe “báltico”, com olho e tudo, defumado na área externa do restaurante para ser destrinchado com as mãos. “Delicioso, incrível”, informa o gourmet brasileiro. Sou mais o torresminho mineiro com cerveja belga, mesmo sabendo que gosto não se discute.

O mundo é uma bola

26 de setembro de 1633: fundação da colônia inglesa de Windsor, o primeiro assentamento do estado americano de Connecticut, sinal de que o dia 26 de setembro foi pobre de eventos antes de 1633, pois a Wikipédia não fala de batalhas, eleições de papas e outros fatos de importância histórica.

Em 1907, independência da Nova Zelândia, país que estudei à beça e à bessa quando andei lendo sobre pecuária leiteira. Em 1909 – atenção, cinéfilos – fundação do Kino Pionier (Cine Pioneiro), por Albert Pitzke, na cidade alemã de Stettin, atualmente Szczcin, na Polônia, o mais antigo cinema do mundo. Em 1993, data gloriosa para a luso-brasilidade: entra em órbita o PoSAT-1, primeiro satélite português. Mais dia, menos dia, lançaremos o nosso da Base Aérea de Alcântara, no Maranhão, hoje como sempre brilhantemente administrado pelo clã Sarney.
Em 2005, Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo e Chico Alencar, lideranças petistas, abandonam o Partido dos Trabalhadores. Em 1945 nasceu Maria da Graça Costa Penna Burgos, que você talvez conheça como Gal Costa. Hoje é o Dia Interamericano do Profissional de Relações Públicas.

Ruminanças
“Eu vou gritando: paz, paz, paz!” (Petrarca, 1304-1374).