segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O valor dos consensos - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 08/09/2014

A Rede quer fazer da política um jogo em que todos ganhem. Mas pode isso funcionar nas questões mais polêmicas?



Para entender Marina, seu programa e sobretudo seu impacto em intenções de voto, é bom falar um pouco dos tipos de jogos. Estamos acostumados a jogos em que um lado ganha e outro perde. O futebol, por exemplo. A vitória do São Paulo é a derrota do Corinthians. Ou apostas. O dinheiro que amealho é o mesmo que meus adversários perderam. Mas nem todos os jogos são assim. Um roubo rende menos ao ladrão do que o prejuízo causado à vítima. Se ele rouba o som de seu carro, o dinheiro que receberá pelo equipamento será menos do que você gastará para comprar um novo e consertar a janela. E há os jogos em que os dois perdem.

O grande exemplo do jogo perde-perde é a poluição. As motosserras e carvoarias da Amazônia causam perdas imediatas, em vidas e saúde, e lucros também imediatos: a riqueza de quem desmata. Mas, a médio prazo, todos perdem com a devastação da natureza. A seca que este ano assola o Centro-Sul pode derivar desse descaso com a base natural da vida. Correu faz um tempo a lenda de que o general Westmoreland, que comandou a destruição norte-americana do Vietnã, teria perdido um filho depois da guerra, contaminado pelo pior desfolhante ali utilizado, o agente laranja. É só uma estória, mas com uma moral: quem destrói a natureza paga por isso.

A ideia de uma situação perde-perde contrasta com nossa visão usual da política e da economia, na qual sempre imaginamos que haja ganhadores e perdedores. Mas, se houver situações em que todos perdem? Então, deve também haver soluções ganha-ganha.

Ou será mais democrático o dissenso?


Temos aqui um dos raciocínios mais poderosos em termos de meio ambiente ou ecologia. Uns ganham a curto prazo com a destruição, outros perdem, mas em uma geração, todos perdemos. Assim, se revertermos esses processos, sairemos todos ganhando.

Esta é uma das lógicas subjacentes à candidatura Marina Silva. Quando ela afirma que governará com os melhores dos dois lados em que se cindiu a política brasileira, exprime a convicção de que pode unir as pessoas capazes e bem-intencionadas numa só direção. Não é fortuito que a Rede tenha nascido de uma preocupação ecológica - embora esta não seja mais o centro de suas análises e propostas. No horizonte, sempre está o ganha-ganha.

Daí, o modelo de discussão que a Rede prefere, ironizado por alguns críticos, o de construir um consenso. Reuniões duram horas. O objetivo não é tomar uma posição, o que se faria rápido com um voto. Porque votos só acentuam o racha, e a Rede quer unir as pessoas. A meta é construir propostas melhores e com maior apoio. Isso funciona muitas vezes. Gera um engajamento maior na proposta finalmente aprovada. Não exclui nenhum dos participantes. Opera de forma centrípeta, ao passo que a política é centrífuga, com as pessoas se dividindo por vaidade, interesses e até subornos. A Rede quer levar para a esfera política formas de convívio testadas em ambientes de empresas e organizações, as quais buscam aproximar, e não opor, as pessoas.

Mas os problemas são óbvios. Nada garante que, na gestão de uma sociedade complexa, essa demora dê certo. Se o presidente tem que "matar um leão por dia" (dizia FHC), não é possível construir um consenso em cada caso. Ademais, nem todas as questões podem ser conduzidas ao modelo ganha-ganha. Esse modelo serve como uma luva para a ecologia, mas bem menos para a economia.

Há o risco de que a busca do consenso paralise o processo de decisão, nublando também os conflitos reais que precisam ser decididos. Existem situações ásperas de conflito. Quem fez as contas do novo programa da Rede+PSB diz que ele não cabe no orçamento da União. Como criar um ambiente favorável às empresas e ao mesmo tempo lançar programas sociais ambiciosos?
Não custa lembrar a etimologia de decisão: vem da palavra "cisão". Decidir é cortar possibilidades. Nem sempre a decisão satisfaz, sequer parcialmente, as partes em confronto. Ou seja, o modo de convívio prezado pela Rede serve para certas situações, não para todas, talvez não as mais importantes. Para incorporar a Rede ao PSB, ao que consta Marina ouviu muitos, mas decidiu sozinha. Fica um contraste grande entre o ideal democrático, de ampla participação, e a prática por vezes monocrática.

Mas com certeza uma parte dos conflitos que hoje vivemos pode ser resolvida de modo mais manso. Conflitos entre vizinhos ou mesmo parentes poderiam sair da esfera judicial, em que apenas pioram, passando para o âmbito da conciliação. Aqui temos o que muitos chamam, palavra inflacionada de que pessoalmente não gosto, um novo "paradigma". Num mundo em que as relações sociais se tornaram mais democráticas, o que é bom, mas ao mesmo mais tensas, o que é ruim, seria uma forma de melhorar a convivência entre as pessoas, de unir o melhor da independência de cada um com o melhor da cooperação entre os próximos.

Outro risco é que sejam encobertas algumas tensões reais. Por exemplo, a certa altura o programa da candidata diz que o Tesouro deve deixar de gastar dinheiro público com certas medidas. Parece bonito, mas na verdade significa que as despesas em questão vão passar para nossos bolsos. Nossos impostos não mais as pagarão, mas nós arcaremos com elas. No final, pagaremos o valor em questão, ou nos impostos como agora, ou direto ao prestador de serviços. O custo para o cidadão pode até aumentar. Esse é um conflito real, mas que está sendo apresentado como solução, quando na verdade cria novo problema. Pode ser justa essa transferência de despesas, mas não está explicitada no programa. Ou seja, a crença no consenso pode ocultar conflitos reais. Talvez não seja por acaso que, na filosofia política, os pensadores mais recentes da democracia preferem falar em dissenso: este, pelo menos, explicita os pontos de divergência.


Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br


TeVê

TV paga

Estado de Minas : 08/09/2014



 (Globo/Divulgação)

Construção


O canal Viva estreia hoje, às 23h10, a série Amor em 4 atos, inspirada em canções de Chico Buarque. Como indica o título, serão apenas quatro episódios. O primeiro conta a história da jovem cineasta Letícia (Marjorie Estiano, foto) e do pedreiro Antônio (Malvino Salvador). Moradora de um prédio no Centro de São Paulo, Letícia se encanta por Antônio quando vai reclamar do barulho da reforma que ele está fazendo no apartamento acima do dela.

Ótimas opções para
quem curte música


Por falar em música, o canal Curta! exibe hoje à noite quatro documentários: Rua da Escadinha 162, às 20h30; Rogério Duprat – Vida de músico, às 21h; A sede do peixe, às 22h; e um episódio sobre o saxofonista John Coltrane na série Jazz icons, às 23h. No Bis, às 21h, vai ao ar um show da cantora Pink em Melbourne, na Austrália. No Arte, além da reprise da biografia de Billie Holiday, às 22h30, tem um concerto da Orquestra Jovem Simon Bolivar, regida pelo maestro Gustavo Dudamel, às 23h30.

Assinante vai entrar
numa fria no canal ID


O canal ID (Investigação Discovery) estreia hoje, às 22h, a segunda temporada de Matadores frios, que reconstitui crimes hediondos ocorridos no território do Alasca, uma região de contrastes, isolada geograficamente do restante dos Estados Unidos. Cada episódio conta um caso policial, reunindo depoimentos de familiares das vitimas, oficiais envolvidos na investigação e testemunhas, com reconstituições e imagens de arquivo.

Canal Gloob estreia a
série Desencantados


Novidade também no Gloob, que estreia, às 16h15, a série Desencantados. A animação narra as aventuras de três adolescentes: Júnior, filho baixinho do gigante João e o Pé de Feijão; Lancelote, sobrinho de Merlin e mágico atrapalhado; e Fúria, a filha que não voa da Fada do Dente.

+Globosat faz um giro
pelos templos da Índia


No +Globosat, estreia hoje, às 22h30, Templos da Índia, uma série de ocumentários sobre os mais belos e exóticos santuários espalhados pelo país. O programa faz uma viagem por lugares milenares e apresenta ainda construções como o Karni Mata, o curioso Templo dos Ratos, no Rajastão, e as basílicas da vila Khajuraho, na Índia Central, com esculturas que representam o kama sutra.

Drama, ação e humor
no pacotão de cinema


Na programação de filmes, o destaque é a estreia do suspense Circuito fechado, com Ciarán Hinds, Eric Bana e Rebecca Hall, às 22h, no Telecine Premium. No Telecine Cult, a homenagem a Charles Bronson continua hoje com Renegado impiedoso, às 20h05. No FX, Homem-Aranha abre a semana especial Aranhas e macacos, às 22h30. Outras atrações: meninamá.com, às 21h, no Cinemax; A busca, às 22h, no Telecine Touch; Vida de adulto, igualmente às 22h, na HBO 2;O vigarista do ano, também às 22h, no MGM; Antes do por do sol, às 22h10, no Glitz; e Um homem misterioso, às 22h30, no Space.


CARAS & BOCAS » Tempo de reviravoltas
Simone Castro

José Alfredo (Alexandre Nero) vai surtar quando perder seu amuleto (Alex Carvalho/Globo)
José Alfredo (Alexandre Nero) vai surtar quando perder seu amuleto

“O monte é meu norte”, repetia um desesperado José Alfredo, se esvaindo em sangue depois de ter sido baleado, na primeira fase de Império, ainda interpretado por Chay Suede. Ele queria dizer que a grande virada de sua vida tinha começado no Monte Roraima, que se tornou seu local cultuado. Foi lá que ele escondeu o diamante cor-de-rosa, um amuleto de sorte e referência de sua fortuna, de seu império. Pois quando for furtado, ele, supersticioso, vai surtar, pensando que cairá em desgraça. Ele não sabe que a autora o furto foi Maria Marta (Lília Cabral), em vingança pela traição do Comendador (Alexandre Nero) com Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa). Os próximos capítulos de Império serão marcados por reviravoltas na história, segundo o autor Aguinaldo Silva. A mais impactante? O Comendador vai forjar a própria morte no capítulo 100. Realmente, a trama pede uma movimentação, pois está emperrada. Será uma segunda novela, segundo Aguinaldo. Ele adianta que apenas o telespectador saberá que José Alfredo não morreu. O furto do diamante vai levá-lo a repensar a vida e ele quer saber como sua família se comportará com a sua suposta morte. Todos os personagens vão acreditar que ele se foi. De acordo com Aguinaldo Silva, as cenas a partir da “passagem” do Comendador prometem. Diante do caixão do ricaço, Maria Marta e Maria Ísis ficarão mais uma vez cara a cara. “O encontro das viúvas no cemitério vai render o maior barraco de toda a novela!”, avisa Silva.

ALTEROSA ESPORTE REVELA
OS DESTAQUES DA RODADA


Confira tudo o que rolou na rodada do Campeonato Brasileiro no Alterosa esporte, que vai resumir os principais lances das partidas, com destaque para os times mineiros. A apresentação é de Leopoldo Siqueira, com comentários da bancada democrática.

MASTERCHEF SELECIONA OS
COMPETIDORES DO REALITY


O segundo episódio do MasterChef, amanhã, às 22h45, na Band, vai mostrar candidatos lutando por um avental para passar à próxima fase da competição. Depois de alguns erros e surpreendentes acertos, os jurados Erick Jackin, Paola Carosella e Henrique Fogaça passam 31 cozinheiros para a etapa seguinte. Eles terão que provar duas habilidades no desafio de cortar o máximo de cebola. Quem não conseguir será eliminado. Os 23 restantes vão testar sua criatividade ao criar um prato com o ovo como principal ingrediente. Os jurados avaliam cada um e selecionam os 16 participantes para a continuação da disputa.

ATRIZ PODE EMPLACAR MAIS
UMA MOCINHA NA CARREIRA


Carolina Dieckmann está cotada para ser a protagonista da novela Favela chique, de João Emanuel Carneiro, que deve estrear no segundo semestre do ano que vem, substituindo Babilônia. Outro trabalho previsto para 2015 é a minissérie Irmãos Karamazov, adaptação do clássico de Dostoiévski, que será filmada na Rússia, na qual a atriz vai contracenar com Caio Blat.

PORTA DOS FUNDOS MIGRA
DA WEB PARA A TELEVISÃO


Está prevista para 14 de outubro a estreia do Porta dos Fundos, canal de humor de sucesso no YouTube, na grade da Fox (TV paga). No início, a ideia é transmitir apenas as pílulas em que não estiverem presentes os contratados de outras emissoras. Não haverá material inédito por enquanto. Isso deve acontecer apenas no próximo ano.

PARECE, MAS NÃO É

A terceira noite de apresentações do Esse artista sou eu surpreende mais uma vez. As performances dos participantes elevam o nível da competição. O destaque é o mexicano Christian Chávez, que interpreta o cantor Justin Timberlake e põe todo mundo para dançar ao som da música Sexy back. Já Leo Maia surge caracterizado de Tim Maia, seu pai, e arrasa na interpretação de Me dê motivo. Marcelo Augusto fica irreconhecível como a cantora Cher e agita com a música Believe. Vanessa Jackson traz a o balanço do grupo Kaoma e as canções Chorando se foi e Dançando lambada, e ganha uma surpresa: no final da apresentação, a cantora Loalwa Braz, que fez parte da banda de 1989 a 1999, sobe ao palco e faz dueto com ela. Se Li Martins escolheu sensualizar ao interpretar Rihanna, Rosemary vai prestar homenagem a Elis Regina. Em tepo: Syang não participou por problemas pessoais. Confira hoje, às 23h, no SBT/Alterosa.

VIVA
Susy Rêgo, que dá um show como a Beatriz, de Império. É uma das melhores interpretações da trama da Rede Globo.

VAIA
As derrapadas de Ana Maria Braga no Mais você (Globo) já se tornaram corriqueiras. E pegam muito mal!

O bolachão não morreu‏

Estreia hoje, no canal pago Bis, o segundo ano da série Minha loja de discos, feita para o consumidor de música que não troca os velhos LPs de vinil pelos registros da era digital

Mariana Peixoto
Estado de Minas: 08/09/2014



A Louisiana Music Factory é a primeira loja retratada na nona temporada da série (Ton Ton Filmes/Divulgação)
A Louisiana Music Factory é a primeira loja retratada na nona temporada da série

Maior mercado consumidor de música do mundo, os Estados Unidos contam hoje com 3 mil lojas de discos. A despeito de todas as dificuldades que o mercado enfrenta há pelo menos duas décadas, elas continuam sendo abertas naquele país, mesmo que muitas fechem com não mais de um ano de funcionamento. Mas há lojas históricas, que sobrevivem contra tudo e todos. Treze delas, localizadas em diferentes cidades do território norte-americano, serão mostradas na série Minha loja de discos, que estreia sua segunda temporada hoje, às 19h, no canal Bis (TV paga).

Se na primeira temporada a dupla de diretores Elisa Kriezis e Rodrigo Pinto percorreu as lojas britânicas, desta vez teve que viajar por um número muito maior de cidades. Ao longo de quatro meses, eles foram a Los Angeles, Nova Orleans, Memphis, Austin, Chicago, Detroit, Nova York, Nashville, Porland, San Francisco e Seattle, chegando até mesmo ao Havaí. A partir de um levantamento de 40 lojas, os dois chegaram às 13 retratadas na série. A que abre a temporada é a Louisiana Music Factory, em Nova Orleans.

Tradição “Escolhemos aquelas que têm maior afinidade com a cena musical local e que tivessem pelo menos mais de 10 anos de história”, conta Rodrigo. Além de entrevistar proprietários, funcionários e público frequentador, eles conversaram também com artistas, como Moby, Johnny Winter, Jeff Mils e Mark Ramone e músicos das bandas Sonic Youth, Warpaint, Neville Brothers e Pixies. “Como os Estados Unidos têm muito mais espaço físico que no Reino Unido, obviamente isso traz um impacto grande nos estoques (das lojas). Com raras exceções, as lojas britânicas, em geral, são muito específicas, enquanto as americanas vendem de tudo”, continua Rodrigo.

O programa foi até a maior loja do mundo, a célebre Amoeba, de Los Angeles, como também à Goner Records, em Memphis, que realmente vendem de tudo, mas priorizando o punk. “Algumas só vendem vinil, como a Mississippi Records, em Portland, mas em geral você também encontra de tudo, tanto novos quanto usados. Como vinil está em alta, você encontra especialmente muitos usados. As lojas geralmente compram por US$ 40 mil grandes coleções em que um disco custa US$ 2. Daí, o vendem por US$ 15.”

Para realizar entrevistas com os artistas, a dupla rodou os principais festivais de música. Foi no New Orleans Jazz & Heritage Festival que eles entrevistaram, em 3 de maio, o guitarrista Johnny Winter, encontrado morto em 16 de julho, num hotel na Suíça, aos 70 anos. “Para a câmera, acredito que deva ter sido uma das últimas entrevistas dele”, diz Rodrigo. “Encontramos nos bastidores com um senhorzinho que respirava com certa dificuldade. Tivemos que repetir algumas perguntas, algumas vezes ele perdeu o fôlego. Mas falou do blues no Sul do Texas, que tem uma longa história de música negra. Assim que terminou (a entrevista) e ele subiu ao palco, o som foi maravilhoso”, conclui.

Arte de bamba - Ailton Magioli

Novo trabalho de Arlindo Cruz confirma o artista, revelado com o Fundo de Quintal e a turma de Cacique de Ramos, no grupo dos grandes nomes do samba na atualidade

Ailton Magioli
Estado de Minas: 08/09/2014



O pagodeiro carioca Arlindo Cruz comemora a força demonstrada pelo mais legítimo dos ritmos brasileiros. O disco Herança popular será lançado dia 4, no Rio de Janeiro (Washington Possato/Divulgação)
O pagodeiro carioca Arlindo Cruz comemora a força demonstrada pelo mais legítimo dos ritmos brasileiros. O disco Herança popular será lançado dia 4, no Rio de Janeiro

Nasce mais um clássico da discografia do samba, diriam os mais empolgados, depois da primeira audição de Herança popular, CD que o cantor, compositor e instrumentista carioca Arlindo Cruz está lançando pela Sony Music. Primeiro disco integralmente autoral do ex-integrante do Fundo de Quintal, que também fez carreira em dupla com o parceiro Sombrinha, o novo trabalho do companheiro de Regina Casé no dominical Esquenta! tem tudo para se tornar uma pérola do gênero, com direito a participações pra lá de especiais de Hamilton de Holanda, Marcelo D2, Pedro Scooby, Maria Rita, Zeca Pagodinho e Mr. Catra.

“É um disco para ser ouvido inteirinho. As músicas estão bem entrelaçadas, com uma sequência que vai de Ilicitação (faixa 4) a Jogador (faixa 7), na qual há algo entremeado. Depois que fiz foi que percebi”, revela Arlindo Cruz, salientando a coerência temática das quatro canções, que abordam da corrupção política ao sonho de todo garoto de se tornar jogador de futebol, passando pelo orgulho do cidadão brasileiro, que faz da fé e do trabalho a salvação do seu dia a dia, com direito à citação do Salmo 91 (“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo”). O lançamento está agendado para 4 de outubro, no Citibank Hall, no Rio de Janeiro.

Professor Enquanto isso, Arlindo Cruz promete parar Madureira, capital do subúrbio carioca, onde vai gravar nos próximos dias o clipe da música Não penso em mais nada. Como faz questão de dizer, onde houver um compasso dois por quatro, pandeiro e repique, tem samba e Brasil. Do partido-alto romântico ao recém-incorporado samba-funk, o bom e velho samba – que, com a chegada do Fundo de Quintal, nos anos 1980, passou a ser chamado de pagode – faz escola com o professor Arlindo Cruz. Ele diz ter superado preconceitos graças ao programa Esquenta!, exibido pela Globo, onde, além do sertanejo e do axé, ele passou a conviver com o funk.

De acordo com o mestre, o samba atual “vai daquele com sotaque mais de raiz ao mais radiofônico”. “Todas as grandes emissoras de rádio, atualmente, têm o samba em sua programação”, aposta Arlindo, lembrando que o gênero vai muito bem, pois quase todas as grandes cidades têm rodas de sambistas e muitos grupos dedicados ao ritmo.

Hamilton de Holanda, que participa da faixa-título Herança popular, elogia a produção musical de seu vizinho de prédio, no Rio de Janeiro. Diz que ela é completa em termos de melodia, harmonia e letra. Para o bandolinista, a principal contribuição de Arlindo e de sua geração para o samba – Sombrinha, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Almir Guineto, entre outros – reside no Bairro Cacique de Ramos.

“Trata-se de um movimento tão importante quanto a bossa nova, Clube da Esquina e, mesmo, a Tropicália”, afirma. Hamilton ressalta a qualidade da música feita pela turma do bloco que resultou no Fundo de Quintal, responsável por verdadeira revolução no samba ao introduzir instrumentos como banjo, tantã e repique de mão nas rodas.


Palavra de sambista


Aline Calixto
cantora

Fã de carteirinha

“Apropriando-me do nome de um de seus CDs, considero Arlindo Cruz um verdadeiro ‘sambista perfeito’. Ele faz samba pro povo, independentemente de classe social, cor, gênero. Suas composições tratam dos mais diversos temas, sempre com a mesma qualidade e competência. Sua generosidade é reconhecida em qualquer canto, sempre disposto a ajudar a nova safra do samba, que o vê como uma das maiores referências desse segmento. Arlindo é um exemplo a ser seguido, meu grande amigo e conselheiro. A gratidão que tenho por ele é imensurável. Que ele possa nos presentear, mais uma vez, com sua Herança popular.”


Três perguntas para...

NEI LOPES
compositor e pesquisador

Qual é a contribuição do Arlindo Cruz para o samba?
A principal contribuição do Arlindo é ser compositor em tempo integral, com obra vastíssima (são 700 composições), que vai do samba romântico ao samba-enredo, gênero no qual tem aparecido em várias escolas de samba ao mesmo tempo. Trata-se, sem dúvida, de um dos compositores mais profissionais da música brasileira.

Até que ponto o Cacique de Ramos e, consequentemente, o Fundo de Quintal fizeram dele um sambista original?
Os pagodes do Cacique de Ramos e o Grupo Fundo de Quintal – que se confundem – foram uma grande escola para muitos sambistas da geração de 1980. Os pagodes criaram e difundiram um estilo de samba, que acabou sendo rotulado como “pagode”, que, além de incorporar novos instrumentos ou modos de executá-los, servia-se das infindáveis possibilidades harmônicas popularizadas através da bossa nova. Além disso, o estilo redesenhou a polirritmia; e o cavaquinho saiu da limitação dos acordes fundamentais para experimentar as infinitas possibilidades e alterações das “sétimas” e “diminutas”. O Arlindo, filho de violonista e cavaquinista, se formou aí. E hoje é professor, influenciando a garotada que veio depois.

Pode-se dizer que Arlindo Cruz é herdeiro de que escola de samba?
Como no Sambista perfeito, um samba que me deu pra botar letra na segunda parte, ele é “cativante do jeito Martinho” e “malandro e contagiante do jeito Zeca Pagodinho”. Essas são suas escolas, além de Candeia, evidentemente, e, falando de agremiações, do eixo Oswaldo Cruz-Serrinha.

Amarga brincadeira‏

Especialistas alertam que molhar a chupeta dos filhos com cerveja ou drinques indica uma permissividade com o álcool que pode despertar interesse precoce pela bebida

Paloma Oliveto
Estado de Minas: 08/09/2014


Alguns acham engraçado, outros o fazem por hábito cultural. Ainda há os que pensam que, assim, vão desestimular os filhos a beber no futuro. O fato é que não é raro os adultos oferecerem um pouco de álcool às crianças, seja molhando a chupeta na cerveja, seja deixando que tomem um golinho. Embora não exista consenso se a prática poderá, mais tarde, influenciar um comportamento de abuso ou adição, especialistas alertam que, por trás da brincadeira, está a permissividade familiar em relação à bebida alcoólica. E isso, sim, pode ter consequências negativas.

Na edição deste mês da revista Alcoholism: Clinical Experimental Research, será publicado um artigo de pesquisadores americanos no qual se procurou investigar como crianças com menos de 12 anos têm esse primeiro contato com a bebida. Os especialistas do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh e do Centro de Pesquisa em Adição da Universidade de Michigan não estavam interessados em analisar o comportamento de adolescentes que bebem regularmente ou consomem drinques eventuais. Na verdade, queriam entender o que se passa antes disso, uma fase que chamam de iniciação na prova do álcool.
“O primeiro drinque regular não é, geralmente, a primeira experiência que muitas crianças têm com a bebida”, observa o psiquiatra Robert A. Zucker. Segundo o pesquisador de Michigan, embora pesquisas indiquem que apenas 7% de adolescentes com 12 anos já tomaram o primeiro drinque, mais da metade deles experimentou alguma vez antes, por volta dos 8 anos. “E, apesar disso, historicamente, essa ‘provinha’ de álcool na infância tem recebido muito pouca atenção de nós, pesquisadores”, reconhece o médico, acrescentando que, para o estudo, beber tem o significado de consumir uma dose inteira e provar quer dizer tomar um ou poucos goles.

Os especialistas utilizaram dados de um estudo longitudinal sobre fatores de risco para ingestão precoce de álcool, o Projeto Adolescente. No início da década de 2000, uma amostra de 452 crianças — 238 meninas e 214 meninos — de 8 a 10 anos e suas famílias foi escolhida aleatoriamente e contatada pelos pesquisadores. Os pequenos, então, passaram por uma entrevista com ajuda de computador, assim como os pais deles. Os questionários foram refeitos três vezes ao longo de 18 meses. Sete anos e meio depois, os participantes voltaram a ser procurados pelos investigadores.

A abordagem com as crianças consistia em perguntar se elas sabiam que bebidas como licor, cerveja e vinho continham álcool e questionar se já haviam provado alguma delas. Aquelas que diziam “sim” deveriam clicar em todos os contextos nos quais isso havia ocorrido: cerimônia religiosa, jantar com a família, festa familiar, sozinhas ou com alguém fora do seio familiar. Então, perguntava-se se já haviam tomado um drinque inteiro alguma vez. Os pesquisadores colocaram no grupo de abstêmios as que só tinham provado álcool na prática religiosa. Quanto às demais, 201 tinham tomado pelo menos um gole na infância.

União de fatores Nas entrevistas, também se procurou saber se as crianças achavam que os pais aprovavam esse comportamento. Um teste semelhante foi aplicado com os adultos, que deveriam responder se tinham alguma objeção em relação ao contato precoce dos filhos com a bebida, além de dizer se consumiam álcool e em qual frequência. O fator que mais influenciou as crianças a provar o álcool foi a percepção da aprovação dos pais. O fato de o pai e/ou a mãe beber socialmente também teve influência. “Por sua vez, as respostas das famílias foram bem de acordo com as das crianças, com os pais admitindo que aprovavam plenamente que seus filhos tomassem alguns goles de álcool”, conta Zucker.
Na amostra analisada, passados sete anos e meio, nenhuma dessas crianças havia desenvolvido problemas como abuso de álcool, consumo de maconha e outras drogas, delinquência e comportamento sexual de risco. “Isso sugere que, sozinho, o fato de provar álcool na infância não está relacionado ao envolvimento com esses tipos de problema na adolescência”, diz o pesquisador.

 O que não significa, contudo, que está tudo bem oferecer golinhos de bebida para crianças. “Essa pesquisa também sugere que, se as crianças não percebem seus pais como desaprovadores, elas serão mais propensas a tomar o primeiro passo no uso de álcool. Mais do que isso, ela mostra que, se os pais bebem na frente dos filhos, eles também terão maior propensão a beber quando crianças. Espero que isso faça os pais mais cautelosos a respeito de beber na frente dos filhos e sobre as mensagens que estão enviando para elas quanto à bebida”, afirma o coautor do estudo, John E. Donovan, psiquiatra do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh.

Além disso, Donovan alerta que pesquisas anteriores — algumas conduzidas por ele — indicam que provar o álcool na infância aumenta os riscos de se começar a beber regularmente antes da idade adulta. De acordo com Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e Outras Drogas (Abead), os que experimentam a bebida aos 12 anos têm 12% de risco de se tornarem dependentes, percentual que vai para 2% quando esse contato é feito aos 22. “O ideal é adiar o máximo possível”, aconselha a psiquiatra.
 Festeje, mas também eduque

Publicação: 08/09/2014 04:00

Internados em uma clínica de reabilitação, França e João tiveram exemplos distintos dentro de casa (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Internados em uma clínica de reabilitação, França e João tiveram exemplos distintos dentro de casa


Para o psiquiatra John E. Donovan, uma das principais mensagens da pesquisa do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh e do Centro de Pesquisa em Adição da Universidade de Michigan é que a permissividade dos pais em relação ao consumo do álcool — próprio ou por parte das crianças — deve ser repensada.

Presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e Outras Drogas (Abead), Ana Cecília Marques concorda. “A história do álcool tem a ver com a história da humanidade, está até na Bíblia. Por isso, não é tão fácil fazer a prevenção. Mas o modelo parental é fundamental para a estruturação dos filhos, é preciso explicar para a criança e para o adolescente que, quanto mais tarde experimentar, melhor.”

A psiquiatra afirma que os pais não precisam se tornar abstêmios. “Mas, se estão em uma festa de adultos e os filhos também estiverem ou forem brindar em um momento especial, têm de aproveitar para ensinar que aquele não é um produto para crianças e adolescentes. Também têm de prestar atenção à quantidade e não ficar enchendo a cara na frente dos filhos. Não vejo como erradicar a bebida alcoólica do planeta, mas é preciso proteger os filhos sendo pais equilibrados”, diz.
Aos 13 anos, França*, hoje com 56, ficou órfão de pai e, a contragosto, foi designado pela mãe como o “homem da casa”. Até então, jamais havia chegado perto de álcool. O pai, operário que ajudou a construir Brasília, não era “farrista”, embora a mãe gostasse de beber escondida. Por volta dos 15, 16 anos, quando arrumou o primeiro emprego, o rapaz começou a frequentar festas e, em uma delas, se embriagou. Chegou à casa constrangido, mas se surpreendeu com a reação materna. “Em vez de me repreender, ela disse que homem tinha de ter um vício”, recorda.

Sem responsabilizar a mãe pela dependência que desenvolveu, hoje, França está internado pela segunda vez em uma clínica de reabilitação. “Ela bebia escondida desde moça. Morreu no fim do ano passado aos 86 anos e eu soube que tinha bebido. Mas não a responsabilizo. Eu continuei a beber porque gostei, porque aquilo me dava prazer”, ressalta.

Inclinação natural Diretora da Clínica de Recuperação Renascer, localizada no Distrito Federal, a psicanalista Janete Krissak Pinheiro observa que existe uma inclinação natural na sociedade para encontrar a culpa no outro, principalmente no que diz respeito aos comportamentos de dependência, como o alcoolismo. “Mas, independentemente da família estimular a bebida, se acontece um efeito de prazer, é isso que fica. Não é porque você vive em um meio em que é muito mais fácil beber que vai se tornar alcoolista.”

Contudo, a psicanalista reforça a importância de os pais darem o exemplo e colocarem limites nos hábitos dos filhos. “A criança é o fruto da educação que recebe. Embora não dê para classificar que beber é algo insano, você também não vai começar a beber às 10h e parar às 16h. A criança vê isso. Obviamente, se a família traz essa mensagem de permissividade com o álcool, a criança vai entender e assimilar isso como algo natural. O desenvolvimento do alcoolismo se dá porque algo na ordem do limite não foi associado pela criança”, reforça.

Entre os pacientes da clínica, está João*, de 52, há mais de 80 dias internado para reabilitação. Diferentemente de França, ele começou a beber tarde, com 21 anos. Embora dependente, decidiu jamais deixar que os filhos, hoje dois homens de 18 e 21 anos, chegassem perto de bebida no ambiente doméstico e nunca deu uma provinha para eles. “Depois que eles nasceram, álcool dentro de casa só o de limpeza”, conta. A falta de incentivo parece ter surtido efeito — nenhum dos dois bebe. (PO)

* Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

Embalagens inteligentes

Elas também avisam ao consumidor sobre a qualidade do produto


Estado de Minas: 08/09/2014

 (Daniel Sotto Maior/UFV/Divulgação)

Belo Horizonte —
Maior segurança alimentar, produtos mais saudáveis e com menos conservantes. Quem diria que todas essas demandas do consumidor poderiam ser atendidas a partir da adoção das chamadas embalagens ativas (aquelas que interagem de maneira intencional com o conteúdo para melhorar algumas de suas características) e inteligentes (informam condições do produto acondicionado ou do ambiente externo).

Pesquisas voltadas para o desenvolvimento de alternativas que evitem a deterioração química e microbiológica e também monitorem a qualidade e a segurança dos alimentos estão em andamento em todo o país. Pioneira nessa área, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) já detém quatro patentes de recipientes ativos e outras 10 solicitações em andamento. Coordenado pela pesquisadora Nilda Soares, o Laboratório de Embalagens do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV se debruça sobre o assunto há 17 anos e avança para a incorporação da nanotecnologia no processo de desenvolvimento e produção desses materiais.

“Utilizamos compostos naturais, como a goma de mandioca, que têm partículas grandes. Quando produzimos na escala nano, conseguimos ter um efeito muito maior daquele composto com uma quantidade reduzida. Sem contar que, em tamanhos menores, ele é mais bem incorporado à embalagem. Tudo isso torna o produto economicamente mais viável”, afirma a PhD em ciência de alimentos pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Inclusive, foi na instituição americana que Soares participou do desenvolvimento de um filme plástico capaz de retirar o gosto amargo do suco da fruta grapefruit, muito comum naquele país.

De acordo com o objetivo que se quer atingir, vários são os tipos de compostos que podem ser adicionados ao processo de produção das embalagens ativas, que se assemelham aos filmes plásticos disponíveis no mercado. “Podem ser incorporados aromatizantes, antioxidantes e antimicrobianos”, detalha Nilda Soares. A partir do momento em que esses elementos integram a composição do plástico, podem interagir com qualquer produto com o qual entre em contato, exercendo a função desejada.

“Os compostos antimicrobianos, por exemplo, são atualmente adicionados diretamente ao alimento para aumentar seu tempo de prateleira. Eles evitam o crescimento de bactérias, bolor e levedura. Quando tiramos ele do produto e colocamos na embalagem, o consumidor irá ingerir apenas a quantidade de aditivo necessária para garantir a manutenção do conteúdo naquele período”, explica Nilda.

Isso porque a liberação dos compostos antimicrobianos presentes na embalagem ocorre de maneira lenta e gradual e varia de acordo com o tempo que aquele alimento está na gôndola. “Se a pessoa comer a versão tradicional no primeiro dia, vai ingerir toda a quantidade de aditivo, enquanto a opção com o conservante na embalagem estará praticamente em sua forma in natura”, detalha Nilda. A pesquisadora adianta que há interesse da indústria na nova tecnologia e que parcerias já estão sendo fechadas.

COMUNICAÇÃO Na linha das embalagens inteligentes, a UFV caminha para desenvolver um filme capaz de mudar de cor, indicando ao consumidor o estado de conservação do alimento. “A embalagem interage com o alimento e muda de cor, informando para o consumidor se o conteúdo está próprio ou não para o consumo”, explica Nilda. Pesquisas similares nessa linha também estão sendo realizadas na Universidade Federal de São Paulo (USP) e tiveram os primeiros resultados apresentados no início do ano.

Feita à base de fécula de mandioca, a embalagem, além de renovável e biodegradável, é capaz de medir o grau de acidez do alimento, que é alterado à medida em que avança o processo de decomposição. Identificada essa alteração, o filme muda de cor, graças à adição da antocianina, um pigmento retirado da casca da uva. Há a possibilidade também de se desenvolverem embalagens capazes de informar se o alimento sofreu variações de temperatura que possam ter comprometido sua qualidade, informa a professora Nilda.

SUSTENTABILIDADE Reduzir o impacto da decomposição dessas embalagens no meio ambiente é outra preocupação dos pesquisadores e uma vertente de estudos que tem ganhado força. No Laboratório de Embalagens da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza, no Ceará, cera de abelha, cera de carnaúba, amido e até polpa de acerola estão sendo combinados aos polímeros convencionais para produção de embalagens com características biodegradáveis. “Com o apelo ambiental, nossas pesquisas caminham nessa direção. Materiais naturais sendo utilizados na elaboração de um item que é derivado do petróleo”, explica a pesquisadora Socorro Bastos.

Inicialmente, essas embalagens teriam cerca de 30% de sua composição vinda de materiais naturais, como a goma. “Isso porque ainda não se alcançaram as características exigidas pelo mercado, como a própria resistência”, reconhece Socorro. Além de avanços na elaboração dos novos produtos, pesquisadores em geral reconhecem que é preciso também que a indústria crie condições de produzir esses materiais em larga escala, já que hoje só é possível em nível laboratorial.

O QUE PODE
VIR POR AÍ

 Acondicionamentos ativos

Antimicrobiano
» Incorpora substâncias antimicrobianas capazes de interagir com o alimento, eliminando ou inibindo a ação
de microrganismos deterioradores ou patogênicos.

Antioxidante
» Incorpora substâncias antioxidantes em filmes plásticos, papéis ou sachês que protegem o alimento da degradação oxidativa, que, além de alterar o gosto e a qualidade nutritiva, ainda resulta em compostos reativos tóxicos que podem ser prejudiciais à saúde do consumidor.

Aromático
» Libera aromas com o intuito de melhorar o odor e aumentar a percepção do sabor dos alimentos.

 Acondicionamentos
 inteligentes

Indicador de gases
» Informa se há alterações químicas e biológicas provocadas pela liberação de determinados gases.

Indicador de PH
» Capaz de mudar de coloração à medida que o pH (grau de acidez) do alimento se altera, devido
à sua decomposição.

 Acondicionamentos biodegradáveis
» Alternativa para os produtos derivados de petróleo, a opção seria produzida à base de fécula de mandioca ou de outros compostos naturais, como cera de carnaúba, cera de abelha e até polpa de frutas.

Eduardo Almeida Reis-Tristeza‏

Vejo nos jornais o renascimento das bolsas masculinas, muito usadas há 20 ou 30 anos. Não por mim, sempre fiel às pastas, mas por cidadãos de variada natureza


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/09/2014



Vega (De la voz prerromana *vaica) 1.f. Parte de tierra baja, llana y fértil. O vinho espanhol Veja Sicilia deve seu nome à fertilidade das terras em que as parreiras foram plantadas e à santa venerada na região. É considerado um dos melhores do mundo, tem 150 anos e a vinícola foi comprada por David Álvarez faz algum tempo.

David nasceu pobríssimo num povoado paupérrimo da Espanha, anos antes da Guerra Civil. Trabalhou, fez imensa fortuna, teve uma porção de filhos e está no terceiro casamento, o segundo que faz com ex-secretárias. Tem 89 anos e a gata não é propriamente um broto, pois passa dos 60.

Cinco dos filhos de David estão em guerra com dois irmãos e o pai pelo controle das empresas da família, entre as quais figura a vinícola situada na Ribera del Duero, que se transforma no Rio Douro ao entrar em Portugal. O assunto só foi parar nas páginas do The New York Times porque envolve o vinho famoso, que deve representar uma dx da fortuna dos Álvarez.
Ainda uma vez temos filhos brigando pelas heranças. Que tristeza! Onde há dinheiro, ex-mulher ou madrasta mais nova que o mais velho dos filhos (caso dos Álvarez), as brigas parecem inevitáveis. No Rio, temos Geyer contra Geyer, cofres arrombados, quadros subtraídos, como nos contou a revista Veja, edição de 6 de agosto. Briga que mexeu comigo. Fui vizinho de fazenda e amigo dos avós dos brigões.


Modismos

A notícia de que só na região de Campinas, SP, houve no primeiro semestre 260 roubos das cargas de caminhões suscita o tema transportes. Em Campinas, roubam produtos valiosos como tablets, notebooks e smartphones fabricados na região. No Brasil chique, o transporte individual de tablets, notebooks, carteiras de notas, celulares inteligentes, carregadores de celular e fones de ouvido fez renascer o modismo das bolsas masculinas.

O brasileiro comum continua transportando nas mochilas, fenômeno posterior aos meus anos de estudos. Não me lembro de uma só mochila entre os alunos e alunas das escolas e da universidade que frequentei. Havia pastas, algumas normais, outras idiotas. Tive uma idiota, em couro legítimo, que se abria em duas partes iguais. Depois, aderi às pastas comuns ao longo de uma existência espichada. Ainda tenho três guardadas nos armários.

Vejo nos jornais o renascimento das bolsas masculinas, que foram muito usadas há 20 ou 30 anos. Não por mim, sempre fiel às pastas, mas por cidadãos de variada natureza, muitos deles respeitáveis. O que mais me impressionou nesta nova febre foi o preço dos recipientes produzidos para transportar tablets, smartphones, notebooks, carteiras de notas, cartões etc. Presumo que também sirvam para transportar pentes, escovas de dentes, fios e cremes dentais, bem como lenços de papel hoje indispensáveis, sem falar dos charutos inseparáveis dos homens de bem.

Cavalheiro da nova classe média, inventada para famílias que faturam pouco mais de mil reais por mês, pode comprar, em dez prestações, uma bolsa Diesel de tecido verde, debruado em couro claro, por R$ 490. Além da alça manual, tem aquela tira para pendurar no ombro.

Cavalheiros da velha classe média podem comprar em dez vezes (no cartão) uma Ermenegildo Zegna por
R$ 2.660 ou uma Salvatore Ferragamo por R$ 3.990, ambas sem aquela frescura de pendurar no ombro. Fosse para mim, escolheria a Zegna, muito mais bonita e clássica que a Ferragamo.
Cidadãos do funk de luxo, celebridades e outros imbecis devem escolher entre a Prada (R$ 10.600) e a Cartier (R$ 11.600), mas algo me diz que vão preferir a Burberry, não pelo modesto preço de R$ 6.995, mas pelas horríveis tiras e bolinhas que tem, ao arrepio da fama de bom gosto da marca. Como é, gostaram desse “ao arrepio”? Significa “ao contrário”. Tchau e bênção procês todos.


O mundo é uma bola

8 de setembro: faltam 114 dias para terminar o ano. Em 780 tem início o reinado de Constantino VI como imperador bizantino. Foi casado com Maria de Âmnia e com Teódote. Imperou até 797 e morreu com 31 aninhos. Com Maria de Âmnia teve duas filhas; com Teódote teve Leão e um menino de nome desconhecido.

Em 1264, pelo Estatuto de Kalisz, o príncipe Boleslau, o Piedoso, assina a carta que regulamenta as liberdades dos judeus na Polônia e as obrigações dos cristãos. Em 1504, primeira exibição da estátua de David, de Michelangelo. Observadores atentos constataram que David tinha o pinto pequeno. Na foto do Google, o fato pode ser confirmado. Nossa ministra da Cultura, Marta Suplicy, quando sexóloga na tevê, disse que não importa o tamanho da varinha, e sim o que ela é capaz de fazer.
Em 1612, fundação da cidade de São Luís do Maranhão, hoje pertencente ao clã Sarney para glória do povo maranhense e felicidade geral da nação. Em 1636, fundação da Universidade Harvard, primeira instituição de ensino superior dos Estados Unidos. Hoje é feriado municipal numa porção de cidades brasileiras, inclusivamente em São Luís do Maranhão.


Ruminanças

“O maior gênio da humanidade? Edison, inventor do fonógrafo. O pior?
Bell, inventor do telefone” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

Conflito homem x bichos‏

Jacarés, capivaras e quatis fora de controle mostram que Belo Horizonte não tem política adequada de manejo dos animais silvestres que vivem em áreas urbanas

Sandra Kiefer
Estado de Minas: 08/09/2014



Rapaz fotografa quati no Parque das Mangabeiras.  Convivência complicada na principal reserva ambiental de BH (JUAREZ RODRIGUESEMD. APRESS)
Rapaz fotografa quati no Parque das Mangabeiras. Convivência complicada na principal reserva ambiental de BH


Uma das maiores metrópoles do país, Belo Horizonte ainda não está preparada para lidar com a presença cada vez mais constante dos animais silvestres que, em função da destruição do seu hábitat, acabam indo buscar alimento e abrigo nos grandes centros urbanos. O problema do desequilíbrio ambiental começou com os quatis do Parque das Mangabeiras, que, por falta de orientações e conscientização para as pessoas não alimentarem os bichos, se proliferaram sem controle em um dos pontos turísticos mais charmosos da capital. Em seguida, a questão atingiu proporções mais graves com as capivaras da Lagoa da Pampulha, cartão-postal da cidade. E, agora, o desafio são os jacarés encontrados na mesma lagoa. Levantamento feito pela empresa que executa as obras de desassoreamento da represa mostra que 21 exemplares da espécie vivem na represa.

No caso das capivaras, a remoção dos animais, já autorizada pelo Ibama e pelo Ministério Público do Meio Ambiente, começa hoje. Sem uma política estabelecida de manejo e castração dos mamíferos roedores, o que antes era uma única família multiplicou-se em nove grupos de capivaras, que se espalharam por diversos pontos da barragem da Pampulha. “Se demoraram a retirar as capivaras, imagine quanto tempo vai levar para darem um jeito nos jacarés”, questiona o empresário Vicente Procópio, morador do Bairro Castelo. Ele evita levar à Pampulha o filho Davi, de 6 anos, por medo da contaminação com a febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela, que se hospeda nas capivaras.

O alerta em relação ao aumento descontrolado do número das capivaras surgiu em julho de 2013, quando elas foram flagradas pastando e pisoteando os jardins tombados de Burle Marx, nas imediações da Casa do Baile, que estavam em processo de restauração. Depois da longa novela da remoção, com idas e vindas, a prefeitura garante que, a partir de hoje, elas começam a ser encaminhadas para o cercado do Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego. “Decidimos enfrentar um problema que está aí há mais de 20 anos. Primeiro, as capivaras vão para um lugar isolado no parque, onde as famílias serão identificadas e marcadas. Só então serão transferidas para local específico, licenciado pelo Ibama”, defende-se o vice-prefeito e secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros. Ele garante que nenhuma capivara será sacrificada e que o processo será acompanhado de perto pelo MP e por representantes da Sociedade Protetora dos Animais.

Embora os ativistas de defesa dos direitos dos animais critiquem a remoção das capivaras, especialistas alertam que elas estão ameaçadas na Pampulha. Em março, três foram atropeladas na Avenida Otacílio Negrão de Lima, perto da igrejinha da Pampulha. Durante os exames nos corpos dos animais foi constatado que eles estavam com alto nível de contaminação do organismo, causado pelo contato com a água poluída da represa. “Não adianta só achar bonitinho apreciar os animais silvestres. A Pampulha é frequentada por um grande número de pessoas, que caminham na orla e se deitam na grama. As capivaras não estão em situação de equilíbrio e representam um problema de zoonose”, alerta o biólogo Ricardo Motta Pinto Coelho.

BOA CONVIVÊNCIA Durante congresso no Paraná, no último fim de semana, Coelho visitou os municípios de Marechal Rondon, Toledo e Foz do Iguaçu, citados como exemplo de boa convivência entre animais silvestres e a população, dentro de parques ecológicos. “Não é o caso da Pampulha. São lagos urbanos dentro de reservas, em equilíbrio, onde os animais ficam isolados do restante da população. Fico encantado que as pessoas possam admirar a vida silvestre, mas em condições controladas e em segurança”, reforça o biólogo.

Quanto aos jacarés, cujo manejo será estudado pela PBH, segundo Délio Malheiros, eles não são uma ameaça à população. “A não ser que haja pessoas se banhando na água, os jacarés não oferecem risco”, esclarece o biólogo da UFMG Paulo Garcia, doutor em zoologia. Ele explica que esses animais atacam apenas em situação de pressão e priorizam presas menores, como peixes, aves e filhotes de capivaras. Encontraram na Pampulha ambiente ideal para botar os ovos e se reproduzir nas ilhas assoreadas. “Quanto mais sujo e desorganizado o ambiente, melhor eles se camuflam para capturar as presas. Se a água estiver limpa, a tendência é haver uma regulação natural da espécie”, diz.


Jacaré-de-papo-amarelo

Nome científico: Caiman Latirostris
Classe: Reptilia
Ordem: Crocodylia
Família: Alligatoridae
HÁbitat: Lagoas e rios
Pode medir até 3 metros de comprimento. Tem cor esverdeada, com o         ventre amarelado, o foci nho largo e achatado. Alimenta-se de peixes,         aves e mamíferos. Seu período de reprodução é entre janeiro e março e         uma fêmea põe entre 30 e 60 ovos por ninhada. Pode viver até 50 anos.

Fonte: Fiocruz


Quati

Nome científico: Nasua nasua
Classe: Mammalia
Ordem: Carnívora
Família: Procyonydae
HÁbitat: Árvores

Tem comprimento de 60cm e mais 75cm só de cauda. Com garras  longas e fortes e focinho em forma de trombeta, é capaz de escavar por  toda parte em busca de comida. Sobe em árvores e se desloca pelo chão de forma rápida, com a cauda erguida. Pode pesar até 11kg e viver  15 anos. Tem uma ninhada por ano.

Fonte: Portal Saúde Animal


CaPIVARA

Nome científico: Hydrochoerus hydrochoeris
CLASSE: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Hydrochaeridae
HÁbitat: Florestas úmidas e secas, pastagens  próximas à água

Mamífero roedor típico da América do Sul,  seu nome em  tupi-guarani significa comedor de capim. Tem quatro dedos nas patas dianteiras e três nas traseiras unidos por uma membrana, fazendo dela uma ótima nadadora. O tempo de vida varia de 10 a 12 anos. Ao nascer, pesa cerca de 2kg e, adulto, pode passar de 60kg.

    Fonte: Portal Saúde Animal

Ameaças à vida animal Hábitos da população de BH põem em risco a sobrevivência de espécies que habitam o Parque das Mangabeiras e outras regiões da cidade. Ninguém se preocupa com os bichos
Sandra Kiefer


Segundo os ambientalistas, as capivaras deveriam permanecer na Lagoa da Pampulha, em convivência harmônica com as pessoas (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Segundo os ambientalistas, as capivaras deveriam permanecer na Lagoa da Pampulha, em convivência harmônica com as pessoas


Apesar das insistentes placas distribuídas no Parque das Mangabeiras, ensinando a manter distância mínima de dois metros dos animais silvestres, a descartar o lixo em casa e a não dar comida, muitos moradores de Belo Horizonte ainda menosprezam e riem das recomendações. “Trouxemos bananas para atrair os micos. Viemos com um grupo de oito alemães que estão doidos para ver macacos no Brasil”, revelou a integrante de um grupo de intercâmbio para idosos. “A gente joga uma banana. De um lado, vêm os micos, e do outro, os biólogos do parque”, explica a mulher, que tomou o cuidado de, pelo menos, não oferecer alimentação industrializada aos animais.
Da mesma maneira, duas pipas são avistadas no céu, embora esteja terminantemente proibido entrar com papagaios no parque. Nos últimos dois meses, na temporada de ventos, foram recolhidas cerca de 800 aves feridas e mutiladas pelas linhas, mesmo sem o uso de cerol, entre gaviões, corujas, pardais e rolinhas. “Se o atendimento de saúde para a população já é precário, imagine a situação dos animais acidentados em vias públicas que dependem da boa vontade de voluntários e das clínicas veterinárias para ajudar”, denuncia o veterinário Leonardo Maciel, especialista em animais selvagens. Ele lembra que a capital paulista já estuda construir o segundo hospital veterinário gratuito.

“Belo Horizonte precisa desenvolver uma relação de respeito para com os bichos. O problema é que o ser humano deixou de conviver com os animais, a não ser que estejam presos no zoológico ou na coleira”, alerta a advogada Val Consolação, ativista da causa animal. Mais eficiente do que o manejo das capivaras e jacarés da Pampulha, além de outros sujeitos ao desequilíbrio, os ambientalistas preconizam como estratégia para a capital mineira a castração dos animais. “É uma forma de controle populacional ética. Os bichos deixam de se reproduzir e a situação se resolve naturalmente, por meio do envelhecimento”, afirma Maciel. Segundo ele, foi o que aconteceu com a população de gatos do Parque Municipal de BH, castrados com a ajuda dos voluntários das ONGs especializadas na proteção aos direitos dos animais.

ATRAÇÃO NA COPA “É bom lembrar que os animais silvestres chegaram aqui antes de nós”, adverte Fernando Perini, que estuda os mamíferos no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Ele lembra que, no caso da Lagoa da Pampulha e do Parque das Mangabeiras, o ser humano criou verdadeiros oásis para os animais silvestres, ao espantar predadores maiores e oferecer alimento em abundância. “Essa política de remover as capivaras da Pampulha vai se tornar inócua, porque outras virão pelos córregos, assim como vieram as primeiras. É perfeitamente viável a convivência pacífica entre os homens e os animais silvestres”, defende ele, dizendo que as capivaras foram a maior atração para os estrangeiros na Copa do Mundo, mais do que a arquitetura de Niemeyer e os jardins de Burle Marx.

A adaptação das aves ao ambiente urbano é outro desafio a ser enfrentado. Segundo o ecologista de aves da UFMG Marcos Rodrigues, das 700 espécies de aves existentes em Minas Gerais, somente 200 conseguem sobreviver em meio às luzes da cidade. “Elas são fotofóbicas, ou seja, têm medo da luz. Gostam de viver no escurinho da cidade e estão totalmente adaptadas à vida na floresta, alimentando-se de insetos e frutos”, explica. Ao mesmo tempo, em função da maior oferta de recursos alimentares nas metrópoles, algumas aves estariam se dando bem com as novas condições ambientais nos centros urbanos. Com o aumento das palmeiras nos condomínios fechados, que oferecem coquinhos, começaram a aparecer revoadas de tucanos e periquitos nas cidades grandes, nos últimos 20 anos. Para tudo existe um lado bom. 

Somos um país em guerra -

Enquanto a educação não for a prioridade, desacertos vão continuar

Aquiles Leonardo Diniz

Estado de Minas: 08/09/2014



A ofensiva militar israelense contra o Hamas na Faixa de Gaza, desde o início julho, já deixou mais de 2 mil mortos, em sua maioria, civis. Outras 7 mil pessoas ficaram feridas em pouco mais de 30 dias. Mais de 40 mil estão sendo mantidas em abrigos. O preço da reconstrução das regiões afetadas pode ficar perto de US$ 6 bilhões. Não é por menos que o conflito é destaque nos noticiários do mundo inteiro. No entanto, os números da violência no Brasil são mais assustadores e de proporções que superam os das muitas guerras mundo afora. Os dados do Mapa da Violência divulgados recentemente dão conta de que 112.709 pessoas morreram em situação de violência no país. Desse total, 56.337 foram vítimas de homicídio, enquanto 46.051, de acidentes de transportes. A ONU considera aceitável o índice de 10 homicídios para cada grupo de 100 mil, enquanto o Brasil registra mais que o dobro de incidência, igualando-se a países mais pobres da América Latina e África.

O levantamento de 2012, feito a cada dois anos, é o maior da série histórica do estudo. A tendência de evolução da violência aponta um diagnóstico ainda mais preocupante. As maiores vítimas da violência, em 53,4% dos casos, são os jovens com idade entre 15 e 29 anos. Impressiona a disseminação da violência, que atinge todas as regiões indistintamente, com crescimento maior que o dobro em cidades do Norte e até o triplo no Nordeste, em um período de 10 anos. Em 30 anos, mais de 1 milhão de pessoas foram vítimas de homicídio, uma média de quatro assassinatos por hora. Somos obrigados a nos ater às estatísticas para chamar a atenção da sociedade em geral e cobrar medidas urgentes das autoridades. Até quando vamos aceitar que exterminem dessa maneira os nossos jovens? A violência se agrava a cada dia, principalmente em função das desigualdades sociais. Um exemplo é o crescente déficit habitacional brasileiro. Sem moradia adequada, não há inclusão social. Mesmo com o tão propagado Programa Minha Casa Minha Vida do governo federal, que em cinco anos entregou 1,68 milhão de unidades, o país possui cerca de 33,9 milhões de pessoas sem moradia. A população favelada no Brasil aumentou 42% nos últimos 15 anos e alcança quase 11 milhões de pessoas. Só nas áreas urbanas, são 24 milhões que não possuem habitação adequada ou não têm onde morar. Para combater as desigualdades, não basta fornecer benefícios por meio de transferências passivas de renda. Precisamos de políticas públicas que criem oportunidades reais de médio e longo prazos e, não medidas paliativas que dissimulam os problemas.

É aí que a educação desempenha o seu principal papel de inclusão. Mas os números, mais uma vez, são desfavoráveis. O país, nos últimos 20 anos, assinala um aumento de mais de 100% no número de matrículas. No entanto, apenas 50% dos jovens concluem o ensino médio. A evasão escolar afasta os jovens do ensino justamente no momento em que mais necessitam dele. Assim, sem o devido preparo e com baixa qualificação profissional, acabam relegados ao acaso. Enquanto o Brasil não fizer da educação sua prioridade número um, os desacertos sociais continuarão crescentes a cada dia. 

BASQUETE » Adiós, hermanos!‏

BASQUETE » Adiós, hermanos! 

 
Depois de se curvar à Argentina nos últimos 12 anos, Seleção Brasileira faz partida histórica, vence por 20 pontos de vantagem e se garante nas quartas do Mundial
Estado de Minas: 08/09/2014


Contraste assim que o relógio zerou em Madri. A festa brasileira e a decepção dos jogadores argentinos, eliminados da competição (Dani Pozo/AFP  )
Contraste assim que o relógio zerou em Madri. A festa brasileira e a decepção dos jogadores argentinos, eliminados da competição



Depois de sucessivas derrotas nas principais competições internacionais, a Seleção Brasileira Masculina de Basquete, enfim, exorcizou o trauma e venceu a Argentina, ontem, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, na Espanha. E o tão esperado triunfo veio em alto estilo: 85 a 65, com atuação consistente no segundo tempo e desempenho brilhante do mineiro Raulzinho, caçula do grupo, que saiu do banco para terminar o confronto como cestinha, com 21 pontos. O Brasil, de volta às quartas de final de um Mundial, enfrenta a Sérvia, quarta-feira, às 13h. Na primeira fase, os brasileiros venceram por 81 a 73.

Foi a vitória do alívio. Há mais de uma década que a geração argentina – formada justamente sob a batuta do atual treinador do Brasil, o argentino Rubén Magnano –, levava a melhor sobre os brasileiros. Foi assim nos Mundiais de Indianápolis’2002 e Turquia’2010; nos pré-olímpicos de 2007 e 2011 e na Olimpíada de Londres’2012. Ontem, Magnano foi o responsável por enterrar a geração que ele mesmo criou, já que atletas como Luis Scola, Andrés Nocioni e Pablo Prigioni, todos veteranos, não devem ter vida longa na alviceleste.

Não foi um triunfo tranquilo. No primeiro tempo, os argentinos dominaram, com bons arremessos de três pontos. O time do técnico Julio Lamas venceu o primeiro quarto por 21 a 13 e foi para o intervalo vencendo por 36 a 33. No segundo tempo, brilhou a estrela de Raulzinho, que substituiu Marcelinho Huertas, que tem feito um campeonato apenas regular. O mineiro ficou 24 minutos em quadra e estava com a pontaria afiada: acertou nove de 10 arremessos, sendo um de três pontos, além de dois lances livres.

ACERTO Além de Raulzinho, o Brasil se destacou pelo excelente jogo dos pivôs que, além dos pontos e rebotes, anularam o antigo algoz brasileiro, Luis Scola, que fez apenas nove pontos, acertando apenas dois arremessos no jogo. Tiago Splitter fez 10 pontos e pegou nove rebotes e Nenê e Varejão, além do importante trabalho no garrafão, ainda distribuíram quatro assistências cada.

“Fizemos uma aposta de jogar nossos jogadores mais altos contra os mais baixos do adversário. E felizmente isso deu resultado. Todos sabem da importância desse resultado”, afirmou o técnico Rubén Magnano, que destacou a força do grupo e a importância de se concentrar para enfrentar a Sérvia. “Nós temos 12 jogadores que estão preparados para entrar e jogar. E o Raulzinho é um deles. A Sérvia é uma grande seleção e não podemos imaginar que ganharemos novamente. Precisamos jogar muito”, analisou.

Brasil: Marcelinho Huertas (0 pontos), Leandrinho (10), Marquinhos (13), Varejão (8) e Splitter (10). Entraram: Raulzinho (21), Larry Taylor (4), Alex (5), Giovannoni (7) e Nenê (7). Técnico: Rubén Magnano

Argentina: Campazo (11), Prigioni (18), Gutiérrez (6), Nocioni (4) e Scola (7). Entraram: Mata (0), Laprovittola (0), Delia (2), Herrmann (5) e Safar (10). Técnico: Julio Lamas.

COLUNA DO JAECI » Façam suas apostas‏

COLUNA DO JAECI » Façam suas apostas
Estado de Minas: 08/09/2014


 (Sérgio Moraes/REUTERS-19/8/14)


Nova Iorque – Nos despedimos de Miami ontem, quando os jogadores brasileiros fizeram um treinamento visando a partida de amanhã, contra o Equador, em Nova Jérsei, a segunda sob o comando de Dunga (foto). O papo entre nós, da imprensa, é até quando Dunga continuará como “Dunguinha Paz e Amor”? A alguns jornalistas, ele sequer dá bom-dia, mas com outros ainda consegue manter um relacionamento amistoso. Sou da filosofia de que ninguém muda. É possível uma trégua, por conveniência de ambas as partes, mas a personalidade e o jeito de ser serão revelados no momento oportuno, e no futebol sabemos que esse momento atende por derrotas. É nelas que conseguimos detectar o equilíbrio das pessoas. E como por aqui poucos acreditam no sucesso da nova era Dunga, dificilmente esse momento deixará de chegar.

Acho que o ponto crucial serão as Eliminatórias. Estamos atrás de Chile, Argentina e Colômbia em preparação, e lado a lado com o Uruguai. Teremos, talvez, as Eliminatórias mais difíceis da história. Mas Dunga tem sorte. Ninguém esperava um jogo tão bom, de nossa parte, contra os colombianos. Bom pelas circunstâncias, pois estamos resgatando um trabalho, depois de irmos ao fundo do poço com aqueles 10 a 1. Sim, não foram apenas os 7 a 1, impiedosamente aplicados pelos alemães, que nos mataram. Aqueles 3 a 0 da Holanda, sem que tivéssemos qualquer iniciativa, foram o golpe que faltava. E muitos daqueles jogadores estão aqui, tentando provar que aquilo foi um aborto da natureza e que não mais acontecerá. Tenho minhas dúvidas. Sempre gosto de avaliar os jogadores pelo que fazem nos clubes e na Seleção. Diego Tardelli, por exemplo, entrou como se fosse um veterano com a amarelinha. Jogou como se estivesse no Galo, e agradou a todos. Éverton Ribeiro, em pouquíssimo tempo, deu o que falar, e pode assumir uma vaga. Oscar não vai passar disso que temos visto, e não entendo a insistência com ele. Para mim, é aquela água de salsicha, que não serve para nada. Num momento em que Ganso está jogando um bolão, Philippe Coutinho e Éverton Ribeiro estão aqui, não vejo motivos para a vinda de Oscar. O tempo deverá mostrar isso a Dunga.

Outro que não engulo é o bebê chorão David Luiz. Sei que ele tem um marketing incrível, principalmente com os jovens, mas a bola é pequena. Aquele negócio de chorar e dizer que “só queria agradar e levar alegria ao meu povo” foi de lascar. Acho que esse zagueiro limitado ainda não percebeu a bobagem que falou. Ou será que ele se intitula um líder mundial, como o saudoso Nelson Mandela?

Delírios à parte, não foi à toa que José Mourinho o mandou embora do Chelsea, na primeira proposta. Hoje, infelizmente, tem gente que joga muito mais com o marketing do que com o próprio futebol. David Luiz é um exemplo disso. Miranda seria meu titular fácil. E também não sei se daria chance ao outro chorão Tiago Silva. Muitos o consideram o melhor zagueiro do mundo. Discordo veementemente. Sou mais Dedé, 10 vezes mais.

Preferências à parte, acredito numa outra vitória amanhã, o que dará a Dunga a tranquilidade necessária para a continuidade do trabalho. Como ele mesmo disse, tempo é o que não existe na Seleção. É preciso matar um leão por jogo para se manter no cargo, e, neste primeiro momento, todos estão sob rigoroso teste. Como teremos duas Copas América, em 2016, a oficial, no Chile, e a de 2017, pelos 100 anos da Conmebol, Dunga não terá vida fácil, e talvez tenha que matar um leão por treino, e não apenas por jogo. Raramente um técnico que começa o trabalho chega ao Mundial, mas o próprio Dunga contrariou esta regra, ao começar em 2006 e disputar a Copa da África, em 2010. Ele voltou para resgatar seu nome e prestígio. Fez isso como jogador em 1994, depois do fracasso em 1990. Quem sabe o fará agora, como treinador?


Fenômeno

Enquanto na Terra do Tio Sam o futebol está cada vez mais em alta, no Brasil ele vai morrendo aos poucos. Para que vocês tenham uma ideia, a média de público em Seattle, cidade próxima ao Canadá, é de 65 mil pagantes hoje e nos três próximos anos, com os ingressos já vendidos antecipadamente. Isso chama-se organização e qualidade. No país da Copa, o Brasil, os estádios, novinhos em folha, feitos para os ricos, não recebem mais que média de 12 mil pagantes no Brasileiro, nosso principal campeonato. Tem ou não algo errado? Talvez por isso Sérgio Manoel, aquele veterano que atuou, entre outros clubes, pelo Cruzeiro, esteja morando aqui, justamente com o futebol que, ele acredita, estará em alto nível no máximo em 10 anos.


Júnior

Um dos maiores laterais-esquerdos do mundo, Júnior, hoje comentarista, não se cansa de elogiar os três camisas 10 do momento: Éverton Ribeiro, Philippe Coutinho e Paulo Henrique Ganso. Para ele, Ganso já deveria estar no grupo, pois é o único que se assemelha aos camisas 10 de sua geração, que paravam a bola, pensavam e lançavam com perfeição. Ele lembra que esses camisas 10, como Rivelino, por exemplo, quase não entravam na área, mas colocavam a bola onde queriam.