sexta-feira, 22 de agosto de 2014

História viva

Congonhas celebra Semana Aleijadinho com concertos, teatro e lançamento de livro. Público poderá acompanhar ao vivo o trabalho de Carlos Bracher a partir de obras do artista barroco


Walter Sebastião
Estado de Minas: 22/08/2014



Carlos Bracher vem se dedicando a pintar a contribuição de Aleijadinho para a cultura de Minas. Na segunda-feira, ele estará em Congonhas, onde terá como tema o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (Sérgio R. Reis/Divulgação
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Carlos Bracher vem se dedicando a pintar a contribuição de Aleijadinho para a cultura de Minas. Na segunda-feira, ele estará em Congonhas, onde terá como tema o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos


Com um concerto do coro Cidade dos Profetas, sob regência do maestro Herculano Amâncio, dedicado aos clássicos da música barroca, começa amanhã em Congonhas a Semana Aleijadinho. A programação vai até dia 29 e prevê apresentações de peças teatrais e lançamentos de livros. O grupo vocal apresenta na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos composições de Lobo de Mesquita, padre João de Deus Castro Lobo, Manoel Dias de Oliveira, Vivaldi, Bach e Verdi. O coral faz apresentação com orquestra de câmara formada por músicos convidados, dirigida pelo violinista Elias Barros.

“A músico do período colonial é o grande patrimônio imaterial de Minas Gerais”, afirma Herculano Amâncio, regente do Cidade dos Profetas. Ele informa que na Minas Gerais dos séculos 18 e 19 estiveram em atividade cerca de 5 mil compositores e 15 mil músicos vivendo profissionalmente do ofício. Movendo tal atividade, explica o maestro, está a importância concedida à música nas celebrações católicas. Peças escritas para cada ocasião, que muitas vezes não eram repetidas, já que as irmandades patrocinadoras queriam novidades anuais, o que resultou em número enorme de composições.

O maestro chama a atenção para Magnificat, de Manoel Dias(1734/5-1813). “É obra bonita, grandiosa, empolgante, que apresentada na basílica revela toda a pompa que tinham as celebrações religiosas na época”, explica. “Mas não dá para esquecer que o concerto tem também peças de João de Deus e Lobo de Mesquisa”, observa. De grande beleza, na avaliação do regente, é também a peça Tota pulchra es, Maria, de autor desconhecido. Amâncio conta que, diferentemente do Barroco europeu, na antiga Minas Gerais o importante era participar das celebrações, mais até do que ser conhecido como o autor da obra. E é esta convicção por parte dos compositores que explica o fato de haver muitas obras sem autor conhecido.

Espírito

No dia 25, o artista Carlos Bracher estará trabalhando em Congonhas, tendo como tema a Basílica de Bom Jesus do Matosinhos. “É provavelmente o primeiro grande e real santuário do Brasil”, afirma. “Se, no geral, as fotos de lugares assim são mais bonitas do que o real, em Congonhas a situação se inverte: o real, quando você vê com seus olhos, é maior, mais comovente do que foto do local”, acrescenta. O conjunto de Congonhas, para o pintor, até por ser a obra final de Aleijadinho, integra “os vetores anímicos” que movem o artista: arte e espiritualidade. “Ver as obras de Aleijadinho, feitas para Congonhas, in loco, traz misticismo tátil, uma transcendência misteriosa, que muda a percepção que temos do que ele fez”, observa.

Aleijadinho, para Bracher, é artista que nasce das mesmas forças com que ele trabalha. “Ele tem sentido do abismo que é o estético e o mistério religioso. É semelhante a Michelangelo, homem que tem este mesmo tônus”, argumenta. “São artistas que até as incoerências se tornam concernentes, são procedentes”, observa. “Aleijadinho é filosoficamente não um, mas o artista. Como Bach. Criadores em que há correspondência entre o homem e a vida, a arte e o absoluto.” Extraordinário, para o pintor, é a obra do escultor não ter momento de declínio, mas se configurar como processo de contínuo crescimento, de expansão, “o que é raro inclusive em grandes artistas”, completa Bracher.

A pintura que Carlos Bracher vai fazer em Congonhas integra série alusiva ao bicentenário de morte de Aleijadinho, elaborada a partir de acervos do escultor existentes em Congonhas, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei, Tiradentes e outras localidades, que vai dar origem a exposição e livro.

O homem e o mito


“Meu livro é simples como foi Aleijadinho, não grandioso como é a obra dele”, observa Marcos Paulo de Souza Miranda, autor de O Aleijadinho revelado (Editora Fino Traço). O volume, produto de pesquisas no Brasil e em Lisboa, traz biografia de Antônio Francisco Lisboa. Desde as origens da família até as principais obras, detalhando formação artística e profissional. Traz ainda trabalhos de um tio de Aleijadinho, o padre Félix Antônio Lisboa, autor de esculturas que são confundidas com as da criador dos profetas de Congonhas.

“Aleijadinho foi perfeccionista, muito dedicado à arte e tinha consciência da qualidade do que fazia. Recusou trabalho porque não queriam pagar o que ele cobrou: uma oitava de ouro por dia”, conta Marcos Paulo. O artista tinha informações sobre a arte de seu tempo, não viveu às ocultas, sendo homem integrado socialmente, conta o pesquisador. Com relação ao retrato oficial, uma pintura de Euclásio Pena Ventura, do século 19, hoje no Museu Mineiro, Marcos Paulo explica que não é possível afirmar que seja mesmo a face do artista, ainda que existam indícios neste sentido.

“Dediquei-me à biografia porque considero que é importante entender o homem para compreender a obra”, explica Marcos Paulo. A família do artista barroco era de São José de Odivelas, um distrito de Lisboa, tinha ligações profundas e antigas com os ofícios de entalhe e carpintaria. O avô de Aleijadinho e três filhos, entre eles Manuel Francisco Lisboa, o pai do escultor, teriam chegado a Minas Gerais em data anterior a 1720, momento em que a região vivia o auge da efervescência artística. O que revela que Antônio Francisco Lisboa “nasceu e foi criado” em família ligada às artes, tendo sido formado neste ambiente, independentemente de mestres que possa ter tido posteriormente.

O pesquisador considera difícil afirmar que doença acometeu Antônio Francisco Lisboa. A curiosidade pelo tema, conta Marcos Paulo, levou a três autópsias no corpo do escultor (em 1930, 1970 e 1998), e uma quarta, clandestina, descoberta agora, feita pelo inglês John Bernard Bury. Durante as duas décadas de pesquisa, que estão na origem do volume, também não foi localizado nada que indique a participação de Antônio Francisco Lisboa na Inconfidência Mineira.

Apesar dos indícios, nada garante que a imagem oficial de Aleijadinho, do acervo do Museu Mineiro, corresponde ao personagem histórico
 (Museu Mineiro/Divulgação)
Apesar dos indícios, nada garante que a imagem oficial de Aleijadinho, do acervo do Museu Mineiro, corresponde ao personagem histórico


Semana  Aleijadinho
Programação


. Dia 24, às 19h45
A vida é inadiável, com o Grupo Palco Tablado. Cine Teatro Leon
. Dia 25, às 15h
Aleijadinho. Pintura ao vivo por Carlos Bracher. Santuário de Bom Jesus de Matosinhos.
. Dia 26, às 19h45
Lançamento do livro Cirurgias espirituais de José Arigó, de Leida Lúcia de Oliveira. Romaria
. Dia 27, às 19h45
Ai, meu Zeus – Os deuses na indústria, com o Grupo Circo Sesi. Romaria
. Dia 28, às 19h45
Lançamento do livro O Aleijadinho revelado – Estudos históricos sobre Antônio Francisco Lisboa, de Marcos Paulo de Souza Miranda. Romaria
. Dia 29, às 19h45
Apresentação do projeto da visita virtual ao Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Romaria

Coral Cidade dos Profetas

Amanhã, às 11h, na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas. Regência do maestro Herculano Amâncio. Composições de Lobo de Mesquita, padre João de Deus Castro Lobo, Manoel Dias de Oliveira, Vivaldi, Bach e Verdi. Entrada franca.

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 22/08/2014



 (Akson Studio/Divulgação)

Massacre na floresta


Em 1939, após a invasão da Polônia pelos nazistas, tropas russas ocuparam o leste do país. Milhares de oficiais poloneses foram presos e enviados a campos de concentração. Entre eles estava Andrzej, que se recusou a fugir com a mulher, Anna, para honrar seu compromisso com o Exército. Assim como inúmeras outras mulheres, Anna aguardou ansiosamente o retorno do marido, mesmo com evidências de que ele havia sido assassinado. Até que, em 1943, foram descobertas grandes covas coletivas em uma floresta na Rússia. Esse é o enredo de Katyn, que a Cultura exibe hoje, às 22h.

Muitas alternativas  no pacotão de filmes

O canal FX emenda hoje os filmes A múmia (20h45) e O retorno da múmia (22h30). Na faixa das 22h, o assinante tem mais quatro boas opções: Meu passado me condena, no Telecine Pipoca; Busca explosiva 3, no Telecine Action; Spacecamp – Aventura no espaço, no Telecine Cult; e A lista, no Max Prime. Outras atrações da programação: Nascido para matar, às 21h, no Cinemax; A bela da tarde, às 21h30, no Arte 1; Uma noite mais que louca, às 22h05, no Universal; e Incontrolável, às 22h35, no Megapix.

Pedro Urano valoriza a cultura da cachaça

Apresentado como um road movie espaço-temporal, o documentário Estrada Real da cachaça, dirigido por Pedro Urano, faz um estudo da presença da cachaça na cultura brasileira. O filme foi programado pelo canal Curta! para hoje, às 20h. Já às 21h45, a emissora exibe Tancredo Neves – A travessia, de Silvio Tendler.

Pegaram o monstro do  pântano da Louisiana

Chega ao fim hoje, às 22h, no canal History, a minissérie Monstro do pântano, sobre uma criatura que aterroriza uma cidadezinha da Louisiana (EUA). O bicho é finalmente capturado e identificado como Rougaru, um tipo de lobisomem que também já foi descrito como Pé Grande. No mesmo horário, o canal Bio exibe o especial A batalha final dos 300, sobre o lendário confronto em que 300 espartanos liderados pelo rei Leônidas enfrentaram o exército de Xerxes, rei da Pérsia.

Samba e pop rock na  programação do Bis


O canal Bis apresenta hoje, às 22h, os melhores momentos dos shows de Thiaguinho, Sorriso Maroto, Diogo Nogueira e Nosso Sentimento no Festival Samba Brasil, realizado sábado passado, em Fortaleza. À meia-noite, a emissora mostra as participações de Beck, Jarvis Cocker e Jamie Lidell no programa From the basement.

CARAS & BOCAS » Retorno ao trabalho
Simone Castro

Renata Vasconcellos recebe a atriz Cláudia Jimenez, que fala de amor e carreira no Fantástico (Thaís Martinelli/TV Globo)
Renata Vasconcellos recebe a atriz Cláudia Jimenez, que fala de amor e carreira no Fantástico

A atriz Cláudia Jimenez, que está afastada há nove meses do trabalho – saiu no meio da novela Além do horizonte, em 2013, por problemas de saúde –, bate papo com Renata Vasconcellos, domingo, no Fantástico (Globo). Ela revelou como foi difícil a recuperação por que passou e como está sendo sua volta ao trabalho. A atriz relembra sua infância e revela que já viveu o grande amor de sua vida. Depois de cinco pontes no coração, reconstrução da válvula aórtica e implante de marcapasso, a atriz vai voltar à TV em grande estilo, como protagonista de Sexo e as nêga, novo seriado de Miguel Falabella, que vai estrear em setembro. A atriz vai interpretar Jesuína, dona do bar que é o ponto de encontro onde as quatro negas do título trocam confidências. Narradora da história, Jesuína tem um programa na rádio comunitária onde comenta e levanta as questões que são abordadas na atração. O Fantástico acompanha uma gravação de Cláudia no Projac e seu reencontro com colegas de elenco.

CONFIRA TUDO SOBRE A
RODADA DO BRASILEIRÃO


Fique por dentro da rodada do Brasileirão no Alterosa esporte desta sexta-feira, às 11h50. Tudo sobre o confronto entre Cruzeiro e Grêmio, atual time de Felipão, que retornou ao Mineirão depois do vexame dos 7 a 1 da Alemanha na Copa do Mundo. Confira a marcação cerrada em Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, recém-convocados por Dunga. O programa vai mostrar também: Kalil, presidente do Atlético, renuncia à candidatura a deputado federal para cuidar mais do clube.

ANA PAULA ARÓSIO PODE
VOLTAR A FAZER CINEMA


Longe dos holofotes desde a polêmica em que abandonou o papel de Marina em Insensato coração (Globo), em 2011, no início das gravações, e acabou substituída por Paolla Oliveira, Ana Paula Arósio estaria prestes a gravar um filme, no Uruguai, a partir de setembro, segundo o site R7. Depois de viver em um sítio em Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo, a atriz e o marido, o empresário Henrique Pinheiro, teriam se mudado para Londres. Em entrevista ao site Purepeople ontem, Claudete Arósio, mãe da atriz, afirmou que não vê a filha há bastante tempo, confirmando que Ana Paula está vivendo na Inglaterra. Ela reclamou que a atriz não tem acompanhado nem sequer o problema de saúde do pai, que tem mal de Parkinson e está internado em um hospital em São José dos Campos, em São Paulo. A última aparição de Ana Paula na TV foi na série Na forma da lei (Globo), em 2010.

JOÃO DONATO É DESTAQUE
NO SARAU EM DUAS EDIÇÕES


Os 80 anos do músico João Donato serão festejados no Sarau, que estreia nova temporada. Com duas edições, que vão ao ar hoje e na sexta-feira, 29, o programa promete uma volta ao tempo com muita música e boas histórias desse mestre da música brasileira. Além do próprio João Donato, a atração conta com a participação especial do cantor Luiz Melodia e Raul de Souza, gênio do trombone. “No Sarau em sua homenagem, pedimos que João Donato escolhesse dois artistas para convidar. Ele nos mandou uma lista com mais de 20 nomes! Donato é um dos maiores agregadores da música brasileira”, explica Chico Pinheiro. “Donato é um fenômeno, é melancolia positiva. Queria compor e tocar como ele”, elogia Luiz Melodia, fã declarado. O Sarau, vai ao ar hoje, às 23h30, na GloboNews.

CHAMADA ENGRAÇADA

A gravação do Marília Gabriela entrevista, esta semana, que vai ao ar no domingo, às 22h, no GNT (TV paga), foi interrompida de forma cômica. A jornalista batia papo com o humorista Paulo Gustavo quando o celular dele tocou. Constrangido por não ter desligado o aparelho, ele atendeu. Do outro lado da linha estava a atriz Mônica Martelli, que queria tirar uma dúvida com o amigo. Marília, com seu poder raro de driblar imprevistos, brincou ao dizer que queria saber do que se tratava. “Não foi gafe, foi esquecimento. Não rolou qualquer mal-estar. Foi divertido e amigável, simples assim”, afirmou ela ao site Caras online. Ela relembrou outros casos semelhantes em suas gravações. “Cafú, no início dos anos 2000, estava me dando uma entrevista quando o jogador Roberto Carlos ligou e eu fiz com que ele respondesse no ar. Divertido! E o Rodolfo, então vocalista dos Raimundos, no início dos 2000, me dava entrevista quando sua mulher ligou e eu fiz com que ele atendesse: ela queria saber o que ele queria jantar. Divertido de novo. Uma delícia para quem assiste, ou deveria ser, eu acho!”

VIVA
Bem estar (Globo), que traz boas edições com dicas preciosas sobre a saúde.

VAIA
Felipe Simas não tem atuação convincente como o Cobra em Malhação (Globo).

23ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO‏

Setecentas mil pessoas são esperadas na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que investe no diálogo da literatura com outras artes. Espaço infantojuvenil ganha destaque


Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 22/08/2014



Autor de Os instrumentos mortais, o norte-americano Harlan Coben vai participar da bienal paulistana

 (BERTRAND LANGLOIS/AFP)
Autor de Os instrumentos mortais, o norte-americano Harlan Coben vai participar da bienal paulistana


Começa hoje a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a maior da América Latina, que reunirá expositores do Brasil e de outros países. O tema desta edição é Diversão, cultura e interatividade: tudo junto e misturado. Até dia 31, cerca de 700 mil visitantes, grande parte estudantes, são esperados em 400 atividades nas áreas da literatura, música, gastronomia, quadrinhos, teatro, dança, circo e cinema.

Com a presença de especialistas de diversos países, será realizado o 5º Congresso Internacional do Livro Digital, que vai discutir o mercado para as novas tecnologias.

Entre os 22 autores estrangeiros convidados para o Salão de Ideias e a Arena Cultural, destacam-se o norte-americano Harlan Coben, autor de romances de mistério; Cassandra Clare, que escreveu a saga Os instrumentos mortais; Ken Follette, autor do best-seller Os pilares da sabedoria; a inglesa Sally Gardner, que lançou O menino que sabia voar; e Kiera Cass, autora da trilogia A seleção.

Pratas da casa como Nélida Piñon, Cristóvão Tezza, a mineira Paula Pimenta, Alberto Mussa, Luiz Felipe Pondé, Milton Hatoum, Ignácio de Loyola Brandão e Mário Sérgio Cortella, entre outros, estão entre os 186 brasileiros que vão autografar livros e conversar com o público.

Programação especial, com mais de 100 atrações, ocupará o Espaço Imaginário, reservado para o público infantojuvenil. Autores consagrados como Pedro Bandeira, Eva Furnari e Daniel Munduruku estarão presentes. Em termos de venda, apostam-se muitas fichas nesse segmento, o que mais cresce no mercado editorial brasileiro.

Multicultural


Karina Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, informa que foram captados R$ 4,8 milhões para o evento por meio da Lei Rouanet. “Nosso objetivo é reforçar que a bienal de São Paulo é multicultural. Tudo passa pelo universo dos livros: atrações musicais, teatrais, circences e gastronômicas, entre outras”, afirma.

De acordo com ela, o visitante é a prioridade dos organizadores. “A mensagem de diversão, cultura e interatividade permite que o livro faça parte de todas as manifestações artísticas presentes entre as atrações da bienal”, reforça.

O espaço Cozinhando com as Palavras, que terá curadoria do chef André Boccato, vai reunir destaques da gastronomia, como Carlos Bertolazzi, Roberta Sudbrack, Carla Pernambuco, Mônica Rangel e Palmirinha.

Outro destaque é o espaço Clássicos da Periferia: rappers vão recontar, de forma criativa, clássicos da literatura como Vidas secas, O príncipe e A revolução dos bichos.

23ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO
Até dia 31. Pavilhão de Exposições do Anhembi, Avenida Olavo Fontoura, 1.209, Santana, São Paulo. De segunda a quinta-feira: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia-entrada). Sexta-feira, sábado e domingos: R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia). Informações: www.bienaldolivrosp.com.br.

Reflexões sobre o mundo

Estado de Minas: 22/08/2014 



Papa Francisco é tema de livro de Leonardo Boff, que conversa com os leitores

 (ASUYOSHI CHIBA/AFP - 25/7/13)
Papa Francisco é tema de livro de Leonardo Boff, que conversa com os leitores


Sem pieguismos, Frei Betto e Leonardo Boff falam ao coração do leitor. Não é à toa que palestras da dupla costumam atrair imensas plateias em BH. Hoje à noite, no Museu de Artes e Ofícios, os dois conversam com o público sobre temas caros ao homem contemporâneo, como consumismo, espiritualidade e, sobretudo, a necessidade urgente de reinventar a vida.

Essa reinvenção é personificada por um dos homens mais fascinantes do mundo contemporâneo: o papa Francisco, tema do livro Francisco de Assis e Francisco de Roma – Uma nova primavera na Igreja? (Mar de Ideias), que Boff autografa. Para o teólogo, obrigado a deixar a Igreja Católica por causa de suas ideias progressistas, “o inverno eclesial de muitos anos chegou a seu fim”.

Um dos ideólogos da teologia da libertação – reinterpretação da fé cristã considerada heresia pela cúpula de Roma –, Boff explica a fina sintonia entre o papa argentino e o santo italiano, devotado aos miseráveis. Ele aposta na “revolução da ternura” protagonizada pelo papa, “centrada nos pobres e sofredores deste mundo e numa Igreja que se entende como ‘hospital de campanha’, pronta a socorrer todos com compaixão, cuidado, misericórdia e amor”.

O papa argentino já deu várias provas de que sua revolução não é mero marketing para conquistar fiéis. Ele visitou imigrantes africanos na Ilha de Lampedusa, na Itália, confortou desempregados em Córsega e contrariou setores conservadores da Igreja ao defender que gays não devem ser julgados por sua opção sexual. Para Leonardo Boff, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, vindo da periferia do mundo, “fora da velha cristandade europeia”, escolheu o nome de Francisco porque está convicto de que a Igreja deve se pautar no compromisso de São Francisco de Assis com os pobres. Simplicidade e humildade são as marcas de seu pontificado, avesso aos luxos que sempre cercaram a instituição.

Escola

Em Reinvenção da vida (Vozes), Frei Betto reúne pequenos textos com reflexões sobre o dia a dia. Ele fala de amigos que redescobriram o amor na terceira idade, da descriminalização das drogas e da necessidade de revolucionar a escola, por exemplo. Temas políticos também marcam presença: desigualdade social, consumismo, ecologia e a ditadura do mercado. “Pós-liberalismo, marxismo, comunitarismo ou socialismo, não importa o nome. Importa enfrentar o fenômeno mais escandaloso de nossa realidade: a esmagadora pobreza, seres humanos privados de direitos tão elementares como saúde, alimentação, trabalho, transporte, educação, moradia, terra, cultura e lazer”, aifrma o autor em “A esquerda e a pauta das elites”.

Frei Betto lança também Começo, meio e fim (Rocco), destinado às crianças. O frade dominicano aborda a morte em texto delicado sobre a história de uma garota que perde o avô, vítima de câncer.

LEONARDO BOFF E FREI BETTO

Bate-papo com o público e sessão de autógrafos dos livros Começo meio e fim, Reinventar a vida e Francisco de Assis e Francisco de Roma – Uma nova primavera na Igreja. Hoje, às 19h30. Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação, s/nº, Centro. Entrada franca.

Um coração pulsa no oceano‏

Um coração pulsa no oceano 
 
Uma bela formação recifal com contornos do órgão humano em sua forma lúdica, bem no complexo de recifes do Parque de Coroa Alta, em Santa Cruz Cabrália, surpreende biólogos e estudiosos marinhos
Marcus Celestino

Estado de Minas: 22/08/2014



Desenho do conjunto de corais intrigou pesquisadores que fazem mapeamento marinho nesta região da Bahia e analisam também de que forma as mudanças climáticas afetam as colônias coralíneas

Localização no mapa do complexo de recifes: diferentemente das formações brasileiras mais comuns, este é fundo e tem paredes retas
Santa Cruz Cabrália ganhou notoriedade por ter sido a casa da Seleção Alemã de futebol, campeã do mundo na Copa realizada no Brasil. Localizada na Costa do Descobrimento, a cidade, porém, poderia estar no lugar de Porto Seguro nos livros de história. O jornalista e escritor gaúcho Eduardo Bueno, em sua obra A viagem do descobrimento, levanta a hipótese de os portugueses terem atracado na localidade ou na vizinha Prado, ao contrário do que aprendemos no colégio. Permeada por toda essa “mística”, Cabrália ainda “herdou” da natureza uma belíssima formação recifal, com contornos de um coração no complexo de recifes do Parque de Coroa Alta, formato que só foi descoberto recentemente pelo biólogo marinho e coordenador-executivo do Projeto Coral Vivo Gustavo Duarte, enquanto checava alguns mapas.

Os contornos lúdicos do coração – e não no formato bruto do órgão responsável por bombear sangue para todo o organismo – foram descobertos pelo biólogo, quando fazia a avaliação de algumas imagens de satélite, relacionadas ao mapeamento físico dos recifes do Parque Municipal Marinho Coroa Alta. “Além de coordenador do projeto, atuo na pesquisa de como as mudanças climáticas afetam os corais. Estava, por acaso, dando uma revisada nos mapeamentos e percebi que havia esse recife com formato de coração. Como está voltado para o Leste, estava de lado na imagem e dificultava um pouco a percepção”, comenta Duarte.

A formação está localizada especificamente na região dos Alagados (não confunda com a área de mesmo nome em Salvador), ao Sul do complexo recifal citado. Nos paredões, o coral casca-de-jaca (Montastraea cavernosa) se faz presente em suas grandes colônias. Ademais, róseas algas calcárias cobrem as paredes quase verticais, e garoupas têm no local sua morada. “Diferentemente dos recifes brasileiros, ele é muito fundo e tem paredes retas. Parece ter sido cortado com uma forma de biscoitos, naquele formato específico”, brinca o pesquisador.

PROFUNDIDADE O recife “coração” teve sua profundidade máxima aferida em 10 metros, enquanto a mínima ficou nos três. Isso foi constatado na primeira fase de levantamento batimétrico, ou seja, a medição de fundura dos oceanos, rios e lagos. Para o processo, os pesquisadores utilizam a ecossonda, instalada no casco da embarcação, e também o Strata scan – equipamento adquirido recentemente pelo projeto. O primeiro atua como um sonar, emitindo um som. O tempo que ele leva, de sua emissão da superfície até a recepção, é o determinante para medir a profundidade. Já o segundo atua escaneando o fundo do mar, transmitindo as nuances do solo. O aparelho consegue especificar onde há lama, areia, corais ou rochas. O mapeamento servirá para mostrar o relevo do recife em três dimensões.

A embarcação utilizada para auxiliar no processo é o catamarã Iamany (Senhora das Águas, na língua pataxó) – com certas adaptações para facilitar as pesquisas. Como a estrutura da embarcação fica pouco dentro d’água, há a facilidade de “passear” pelos recifes, com mais tranquilidade para fazer o levantamento batimétrico deles. No entanto, o processo não é tão simples quanto parece. “Temos que mapear lentamente, pois o motor da embarcação não pode funcionar a plena potência. Além disso, quando o mar está revolto, não há chances de se trabalhar”, comenta o pesquisador do Coral Vivo Jhone Araújo, mestrando de geologia no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Interação com a comunidade

A formação recifal sequer havia sido notada pelos pescadores locais. “Foi uma surpresa até para eles. O pessoal achou muito bacana quando mostramos o mapeamento”, afirma Jhone Araújo. O Projeto Coral Vivo procura interagir com as comunidades e trabalhar sempre junto a elas. “A interação é muito boa. Temos, inclusive, uma política de contratação de moradores das comunidades, que trazem sua experiência, suas interações coralíneas desde pequenos, para nós. É uma troca de conhecimento muito grande”, salienta Gustavo Duarte.

A expectativa é de que o mapeamento físico completo dos recifes da Coroa Alta seja finalizado no próximo ano e entregue às prefeituras de Santa Cruz Cabrália e adjacências, que poderão trabalhar em conjunto com o Coral Vivo e comunidades para a preservação da área. A pesquisa ficará disponível também no site do projeto (www.coralvivo.org.br). O coração de Cabrália pode tornar-se parte integrante do turismo da região.

“Tenho a expectativa de que a área fique apta à visitação. Nosso coração tem 350 metros de diâmetro e um fundo de areia de coral. Além disso, há a formação de ondas em seu contorno. Mesmo distante da costa, seria interessante que surfistas checassem se a área é surfável”, comenta Duarte. Além disso, o mergulho é uma atividade que também pode ser explorada. Tudo depende do plano de manejo realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Toda unidade de conservação (UC) deve ter esse plano e o prazo máximo de elaboração, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é de cinco anos.

De acordo com Araújo, a região sofreria muito mais com a atividade turística, não fosse a atuação dos guias. “O volume de pessoas que visita o parque é muito grande, mas o ambiente não é tão maltratado, graças aos guias turísticos que instruem, por exemplo, os visitantes a não retirarem um coral, mesmo que este esteja morto”, diz. 

BIOMAR

O Projeto Coral Vivo integra a Rede Biomar – Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha. Os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz também fazem parte. Todos eles são patrocinados pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Ambiental, com o intuito de conservar a biodiversidade marinha do Brasil, atuando nas áreas de proteção e de pesquisa das espécies e dos hábitats relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também graças ao copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque. Além de Gustavo Duarte e Jhone Araújo, atuam no mapeamento o geólogo José Carlos Seoane, coordenador do trabalho, o piloto e monitor do Coral Vivo Márcio José, nativo da região, e os alunos de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Bia Sabino e Ian Fortes. 

ESTUPROS » Dor que não deve ser silenciosa‏

Presença e indignação de mulheres no Aeroporto de Congonhas, na chegada do ex-médico preso no Paraguai, são incentivo à vítima de violência sexual sair do anonimato e denunciar o criminoso


Valquiria Lopes
Estado de Minas: 22/08/2014




No momento em que as vítimas de estupro do ex-médico Roger Abdelmassih vão ao aeroporto, em São Paulo, para recebê-lo e mostrar indignação com os crimes e alívio com a prisão do acusado no Paraguai, muitas mulheres molestadas em Belo Horizonte se calam. O homem condenado em 2010 a 278 anos de prisão por 48 ataques a 39 mulheres chegou ontem ao Brasil e foi levado para o presídio de Tremembé, no interior paulista.
Por medo, constrangimento, vergonha ou dor, vítimas de abusos sexuais resistem em relatar os casos à polícia e guardam, sozinhas, marcas físicas e psicológicas. A estabilização das ocorrências de estupro em BH é reflexo dessa fragilidade. De janeiro a julho deste ano, 118 crimes foram denunciados, contra 125 no mesmo período do ano passado. O total de 222 ocorrências de todo o ano de 2013 também é menor que o do ano anterior, período em que 293 casos chegaram à Polícia Civil. Segundo a delegada Silvana Fiorilo Rocha de Resende, titular da Delegacia de Mulheres da capital, muitos abusos não vêm à tona porque ocorrem no ambiente familiar ou pela angústia da vítima, que não quer reviver dor.
No desembarque de Roger Abdelmassih, as mulheres que estiveram no Aeroporto de Congonhas para uma espécie de “purificação” dos dramas que sofreram, demonstraram emoção e precisaram ficar atrás de um cordão de isolamento. Abdelmassih era especialista em fertilização in vitro e teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo depois que as denúncias de abuso sexual vieram à tona.
Conhecido por atender celebridades, o ex-médico abusava das pacientes depois de sedá-las para procedimentos de reprodução assistida. Foragido desde 2011, quando tentou renovar o passaporte, Abdelmassih teve a prisão decretada, deixou de se apresentar e passou a ser procurado. O ex-médico passou por exames feitos por peritos do IML ainda dentro do aeroporto e seguiu para a prisão.
Se os crimes praticados por Abdelmassih têm repercussão, o mesmo não ocorre nos casos de vítimas isoladas, como o de T., hoje com 17 anos. Aos 14 anos ela foi estuprada pelo marido da prima em uma casa no Bairro Jaqueline, Região de Venda Nova, e demorou a contar o drama à mãe. Foram duas semanas de angústia, sofrimento, ameaças e medo, que pareciam não ter fim. O constrangimento de ter sido alvo de um crime sexual tirou a paz da adolescente. Somente com a ajuda da mãe a garota conseguiu relatar o drama à polícia. O agressor foi intimado e a investigação, comprometida pela falta de provas, está em andamento. A jovem diz que ainda guarda marcas psicológicas do crime. Mas passou a entender a importância de ter quebrado o silêncio e denunciado o estuprador, mesmo sendo ele um membro da família.
“A gente fica com vergonha porque tem que contar detalhes à polícia. É constrangedor”, diz. Ela ressalta, entretanto, que é preciso vencer o medo e denunciar. “Quando aconteceu, eu não entendia a importância de contar logo para a minha mãe e perdemos as provas. Até hoje, ele (o agressor) diz que sou louca e que nada aconteceu”, conta a jovem, que diz sentir raiva pelo fato de homem ter ficado sem punição.
Com 20 anos de experiência na Delegacia de Mulheres, a delegada Silvana Fiorilo diz que a elucidação de crimes e prisões de agressores, como o do ex-médico Roger Abdelmassih, encorajam mais mulheres a enfrentar a dor e denunciar. “É doloroso porque mexe com a intimidade. Muitas mulheres não querem retirar a cortina desse drama e reviver tudo na presença do policial, do promotor ou do juiz.” Mas Silvana destaca: “Elas, talvez, não possam imaginar a contribuição que dão à sociedade ao denunciar. Com a prisão do agressor, outras pessoas deixarão de passar pelo mesmo drama”.

ONDE DENUNCIAR
Delegacia de Mulheres
Rua Aimorés, 3.005 – Barro Preto  (31) 3291-2931
Casa de Direitos Humanos
Avenida Amazonas, 588 (atendimento 24 horas)

 É preciso preservar as provas do crime 




A criação da Lei Maria da Penha, que trata da violência contra a mulher, foi um grande avanço na proteção de vítimas de crimes sexuais e punição dos agressores. Mas, para ser efetiva na erradicação desse tipo de violência, a polícia reforça a necessidade de que as provas técnicas, como sêmen e marcas no corpo, sejam preservadas. De acordo com a delegada Silvana Fiorilo, a vítima deve, logo após o ataque, procurar a delegacia e denunciar o criminoso. “Ela deve ir sem tomar banho ou antes de fazer qualquer tipo de higiene.” De lá, a mulher agredida é levada a uma unidade de saúde para passar por exames e fornecer material genético que possa ajudar na identificação e prisão do autor do crime.

Ainda que a mulher não se sinta confortável a seguir com o inquérito policial, a delegada orienta que ela deve procurar a polícia para registro da ocorrência e para que possa ser atendida pela rede de assistência a vítimas de crimes sexuais. “Com o comparecimento da vítima, o material genético poderá ser coletado e armazenado em um banco de dados para cruzamento de informações em caso de múltiplos ataques ou naqueles em que já há um acusado”, diz Silvana. A chamada cadeia de custódia, um laboratório que armazena as cargas genéticas no Instituto de Criminalística da Polícia Civil, na capital, já contribuiu para a elucidação de vários crimes, segundo a delegada.
Em BH, cinco hospitais oferecem atendimento especializado a vítimas de crimes sexuais. No Odilon Behrens, Hospital das Clínicas, João XXIII, Odete Valadares e no Júlia kubitschek, mulheres que foram abusadas contam com serviços de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e acompanhamento médico e psicológico pelo tempo que for necessário. “O sofrimento é muito grande e se o trabalho de assistência não for bem feito, ela pode não se curar da dor”, afirma a delegada.

Carlos Herculano Lopes - A passageira ao lado‏

A passageira ao lado
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 22/08/2014

  (Son Salvador)
Espremido dentro de um ônibus do Move, que mais de uma hora depois o deixaria na estação Ouro Minas, da Avenida Cristiano Machado, o homem está ao lado de uma moça. Morena clara, de altura mediana, ela embarcou no mesmo ponto que ele, na Rua Professor Moraes, esquina com Rua Cláudio Manoel, mais ou menos às 18h30, horário de pico, quando todo mundo, após um dia de trabalho, só pensa em chegar em casa. Nem é preciso dizer que o trânsito, como é costume, estava de desanimar.

A princípio calada, como os demais passageiros, uns 20 minutos depois, quando passavam pela Alameda Ezequiel Dias, aquela moça, que carregava uma pequena mochila, virou-se para o homem e disse, com um sorriso tímido: “Não sei o que está acontecendo hoje, mas está pior do que os outros dias”.

Foi o suficiente, uma espécie de senha para que eles, daí em diante, começassem a conversar, enquanto o ônibus, um pouco mais depressa, continuava a rodar. Já estavam na Avenida dos Andradas e, daí a pouco, se tudo continuasse no mesmo ritmo, chegariam à Praça da Estação, onde havia outro ponto.

“Você toma esse carro todos os dias?”, quis saber o homem, que naquele instante não conseguiu formular pergunta mais criativa. Após outro sorriso, esse mais aberto, a moça respondeu que sim, pois trabalhava numa lanchonete na Avenida Getúlio Vargas, quase com Avenida Afonso Pena. “Fica perto de uma casa lotérica, e de um restaurante de comida árabe, que talvez você conheça”, ela disse.

“Sei onde é, a dona se chama Vanessa e, às vezes, costumo almoçar lá. A comida é muito boa”, o rapaz respondeu, para em seguida perguntar à moça como ela se chamava. “Meu nome é Natália”, respondeu, ao mesmo tempo em que, com outro sorriso, estendeu-lhe a mão e disse: “Muito prazer”.

O ônibus, àquela hora, depois de passar pela Praça da Estação, em cujo ponto entraram vários passageiros, enchendo-o totalmente, rodava com mais desenvoltura em direção à Avenida Cristiano Machado, onde finalmente teria uma pista só para ele. Estranhos, mas quase amigos, aquele homem e a mulher continuavam a conversar, como está cada vez mais raro ocorrer nesta cidade, onde a desconfiança mútua é prática corriqueira. “E você gosta de trabalhar na lanchonete?”, ele quis saber.

“É bem legal, as pessoas são educadas, e aprendi a fazer sucos muito gostosos, que eu não conhecia”, Natália respondeu, não sem uma pontinha de orgulho. “É mesmo? E quais são os mais pedidos?” “O de açaí sai bastante; os de mamão, laranja, e morango, também são muito pedidos. O de morango, mais.”

Na Cristiano Machado, na pista só dele, o ônibus ia à toda. Adiante, na Estação Sagrada Família, desceram algumas pessoas, quando então a moça, depois de um intervalo na conversa, voltou-se para o homem: “Você ainda não me falou seu nome...”. “Me chamo Carlos, e trabalho perto de você, no jornal Estado de Minas.” Ao que ela, como se falasse a si própria, disse: “Estou precisando voltar a estudar. Ano que vem, quero ver se recomeço...”. Mas aí, quando o papo ia continuar, chegaram à Estação Ouro Minas, onde o homem desceu. Natália, que mora com a mãe no São Gabriel, prosseguiu viagem.

Eduardo Almeida Reis - Perseguição‏

O cidadão só existe nas fases em que está apaixonado. Pena que as paixões tenham prazo de validade, geralmente de seis meses a dois anos

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/08/2014



Não dá para entender a implicância de certos jornalistas com os improvisos da excelentíssima senhora Dilma Vana Rousseff. Sua excelência não foi eleita para discursar, mas para administrar. Se os resultados de sua gestão são estes que temos visto, não há de ser um discurso lido aqui, ou um improviso acolá, que possa explicar 39 ministérios, crescimento pífio, juros altíssimos e inflação inquestionável.

Ainda outro dia, respeitado jornalista comentou improviso de sua excelência, que encantou seus admiradores com estas sábias palavras: “Eu queria inicialmente primeiro falar pra vocês...”. Maravilha! Inicialmente primeiro permite uma porção de começos: inicialmente segundo, terceiro, quarto e o inicialmente da posteridade, admiração que as futuras gerações, num país de memória curta, podem ter pelo governo Rousseff.

No tal improviso injustamente criticado pelo talentoso jornalista, a presidente continuou: “Tudo na vida é superação. Acho que aquela frase do samba de Paulo Vanzolini, ‘levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima’, eu até coloquei-a no meu Twitter, é um exemplo que nós temos de ter presente diante do que aconteceu” /.../ “os prognósticos que se fazia sobre a Copa eram os mais terríveis possível”.

Ora, sua excelência não foi eleita por sua oratória nem pelos seus conhecimentos de português, regências, concordâncias e outras bobagens, mas por sua admirável competência gerencial, que vai da compra de refinarias em Pasadena, passa pelos 39 ministérios e se materializa no PIB deste ano de 2014.

Axixás existem 

Ficam no Maranhão, em Goiás e em Tocantins. A primeira tem hoje cerca de 12 mil axixaenses. Acabo de ter notícia de sua existência depois de ruminar, à noite, um soneto que decorei num período em que andei apaixonado. Pois é: o cidadão só existe nas fases em que está apaixonado. Pena que as paixões tenham prazo de validade, geralmente de seis meses a dois anos. Feliz do sujeito que espicha sua paixão. Conheço poucos: um engenheiro juiz-forano e dois arquitetos, um de BH e outro carioca, até hoje apaixonadíssimos por suas mulheres.

O município maranhense de Axixá foi colonizado pelo português Manuel de Pinho. Ele e outros portugueses, mais tarde, fundaram em São Luís a Martins & Irmãos, grande casa comercial. Com a proclamação da República, Axixá foi anexado a Icatu e permaneceu como distrito até 1917. Só em 1938 recuperou sua autonomia, no dia 29 de março. Belarmino de Matos e Adelino de Fontoura Chaves, este nascido em 1859, morto em Portugal no ano de 1884, foram os mais ilustres axixaenses. Adelino foi amigo de Artur Azevedo, mudou-se para o Recife e depois foi para o Rio, onde já residia Artur Azevedo.

Participou do aziago A Gazeta da Tarde, jornal que em menos de 3 anos teve todos os seus fundadores mortos de mortes morridas. Comprado por José do Patrocínio com Adelino doente, o axixaense foi enviado como correspondente para tratar-se em Paris e piorou com o inverno francês. Patrocínio instou para o correspondente voltar ao Brasil, mas o jornalista morreu em Lisboa com 25 aninhos e nenhuma obra publicada.

Sua poesia esparsa somava cerca de 40 obras, reunidas pela primeira vez na Revista da Academia, números 93 e 117. Dou ao leitor o soneto que decorei numa de minhas paixões, que foram poucas, mas apaixonantes: “Eu nada mais sonhava nem queria / Que de ti não viesse, ou não falasse; / E como a ti te amei, que alguém te amasse, / Coisa incrível até me parecia. / Uma estrela mais lúcida eu não via / Que nesta vida os passos me guiasse, / E tinha fé, cuidando que encontrasse, / Após tanta amargura, uma alegria. / Mas tão cedo extinguiste este risonho, / Este encantado e deleitoso engano, / Que o bem que achar supus, já não suponho. / Vejo, enfim, que és um peito desumano; / Se fui té junto a ti de sonho em sonho,/ Voltei de desengano em desengano”.
Isto posto, convenhamos em que declamar tal soneto alta madrugada, na gélida Manchester Mineira, inspirada na terra do Manchester United, que tem hoje como coach o holandês Van Gaal, foi das piores demonstrações de loucura já vistas neste pobre planeta. Vou às obras completas de Freud, edição eletrônica, a ver se encontro explicação para o surto.

O mundo é uma bola

22 de agosto de 1415: comandadas pelo rei dom João I, tropas portuguesas conquistam Ceuta iniciando o Império Português, que em algumas partes do planeta “foi um feio monumento de ignomínia”, como, de resto, costumam ser todos os impérios.
Em 1791, começa a rebelião dos escravos no Haiti, que resultaria na independência do Haiti, que continua sendo o Haiti, hoje com expressiva representação num país grande e bobo. Em 1864, criação da Cruz Vermelha Internacional. Nos Estados Unidos, em 1906, venda por US$ 200 da primeira vitrola do mundo: uma fortuna! Dia desses, comprei por R$ 199 um toca-CDs para ouvir Beethoven na hora do almoço, ficando livre dos atuais letristas brasileiros no rádio.
Em 1910, anexação da Coreia pelo Japão, que andou a pique de extinguir a cultura coreana. Em 2003, explosão do foguete brasileiro VLS-1 V3 na Base Aérea de Ancântara, MA.

Ruminanças
“Mulher bela é uma graça; / Espanta melancolias, / Consola mágoas de amor” (Livro dos Cantares, séc. VI a.C.). 

Os graves malefícios do tabaco - Evanius Wiermann

Evanius Wiermann
Oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
Estado de Minas: 22/08/2014 



O tabagismo é, hoje, amplamente reconhecido como doença crônica gerada pela dependência da nicotina. O usuário de produtos de tabaco é exposto continuamente a mais de 4 mil substâncias tóxicas, muitas delas, cancerígenas. Essa exposição faz do tabagismo o mais importante fator de risco isolado de doenças graves e fatais. Na próxima sexta-feira, 29 de agosto, data em que se comemora o Dia Nacional de Combate ao Fumo, é importante ressaltar os perigos do tabaco para a saúde do corpo humano e também alguns avanços conquistados na última década. Estudo realizado pelo Ministério da Saúde, em maio de 2013, apontou redução no número de fumantes nos últimos oito anos. Os dados da pesquisa mostram que a parcela de brasileiros com mais de 18 anos que fuma caiu de 15,7% em 2006 para 11,3%. A frequência maior de fumantes permanece entre os homens – 14,4% contra 8,6% entre as mulheres. Outro dado considerável é a queda na frequência das pessoas que fumam 20 ou mais cigarros, passando de 4,6% em 2006 para 3,4% no ano passado.

A pesquisa também revela redução na frequência de fumantes passivos em domicílio. O índice passou de 12,7% em 2009 para 10,2% em 2013. Já no local de trabalho, a proporção de fumantes passivos variou de 12,1% a 9,8% no mesmo período. Apesar dos resultados serem positivos, ainda há muito a ser feito.

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo. Os dados são alarmantes. O cigarro provoca uma média anual de  10 mil mortes por dia no mundo. Caso as atuais tendências de consumo sejam mantidas, esses números chegarão em 2030 a 10 milhões de mortes anuais, sendo metade delas de indivíduos em idade produtiva (entre 35 a 69 anos). O consumo de tabaco é responsável por cerca de 50 doenças, destacando a Doença Broncopulmonar Obstrutiva Crônica (DBPOC). Além disso, está associado a 30% das mortes por câncer, – sendo que mais de 90% delas são por câncer de pulmão –, 25% dos casos de infarto agudo do miocárdio e quase metade dos derrames cerebrais. 

De acordo com pesquisa publicada neste ano pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), sete brasileiros morrem diariamente por causa de doenças ocasionadas pela exposição à fumaça do cigarro. As mulheres são as mais atingidas: 60% delas morrem em decorrência do tabagismo, uma vez que sofrem mais para largar o cigarro, – elas apresentam o dobro de ansiedade e depressão se comparadas aos homens. A nicotina é considerada uma das drogas mais poderosas por demorar apenas sete segundos para atuar no sistema nervoso central, causando a dependência. Esse vício pode causar uma série de transtornos mentais e comportamentais, gerando sofrimento físico e psíquico para o fumante e para as pessoas que com ele convivem. 

Estudos do Ministério da Saúde demonstram que 80% dos tabagistas querem parar de fumar, mas, infelizmente, somente 3% conseguem. O controle do tabagismo no Brasil é uma situação de constantes desafios. Campanhas de conscientização devem ter mais força em nosso país. É preciso que a sociedade, governos e entidades se voltem para o problema e realizem ainda mais serviços de assistência a esse público. Ações educativas também devem partir do círculo familiar e escolar para que esse hábito nada saudável seja erradicado, promovendo saúde e bem-estar social. 

Bomba do Jaeci - Jaeci Carvalho

No time atual do Cruzeiro, ficar fora de um jogo pode significar perder a vaga de titular. Moreno prefere não arriscar. Só ficou fora do jogo de ontem por força de contrato


Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 22/08/2014



 (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Sem brecha para a concorrência
Ao contrário de seus colegas Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, o atacante Marcelo Moreno , agora capitão e jogador mais experiente da Seleção Boliviana, preferiu abrir mão dos amistosos que a Bolívia fará nos Estados Unidos para continuar como titular do ataque celeste, onde a concorrência é grande. Ele ligou para o treinador da Bolívia, Luís Vizcarra, e explicou que neste momento é mais importante ficar por aqui, mas disse que se sente honrado em ser o homem de confiança de uma equipe que poderá chegar ao Mundial, já que tem jogadores jovens e talentosos. O técnico boliviano entendeu, e o seu colega, do Cruzeiro, Marcelo Oliveira, agradeceu. Uma decisão sensata de um dos artilheiros da equipe, que nem de longe quer abrir brecha para a concorrência.


 (Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

ORDEM VEIO DE CIMA
O técnico da Seleção Brasileira, Dunga, pensou em convocar o goleiro Júlio César, aquele que levou dez gols em dois jogos, sete da Alemanha, e três da Holanda, para fazer com que ele desse a volta por cima. Dunga se espelha nele próprio quando vê um jogador execrado. Porém, a ordem de não o chamar partiu de cima, da presidência da CBF. Nem mesmo o coordenador, Gilmar Rinaldi, ex-goleiro, teve carta branca para ponderar. Não, não e não, disse o presidente eleito, Marco Polo del Nero. Sobre a volta de dez fracassados do último Mundial, a determinação da direção, segundo uma fonte, foi a seguinte: “Convoque, mas seja duro na primeira reunião com eles. Queremos jogadores compromissados com o bom futebol. Não precisa cantar o hino com ênfase, e sim jogar futebol de primeira linha”. Recado dado a David Luiz, que, se jogasse bola como canta o hino nacional, seria o maior zagueiro do mundo.


 (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 31/1/14)

REFLEXO DOS 7 a 1
O técnico Luiz Felipe Scolari não “morreu”, como ele mesmo disse, depois daqueles 7 a 1 que sofreu para a Alemanha. Porém, deu um prejuízo financeiro inestimável ao nosso futebol, além do prejuízo técnico. É que o número de jogadores negociados com o exterior nunca foi tão baixo neste período. Para que vocês tenham uma ideia, o Cruzeiro, atual campeão brasileiro e líder do Campeonato há 34 rodadas, desde o ano passado, que tem o melhor grupo do Brasil, não vendeu um jogador sequer. Nem proposta houve, segundo o diretor de futebol Alexandre Matos. “Nem a troca de e-mails, mensagens ou telefone aconteceu. O Cruzeiro é comprador, e não vendedor, mas se chegar uma proposta por qualquer atleta, de acordo com o valor que estipularmos, venderemos na hora, pois sabemos repor como poucos. Porém, até agora, não houve nada, e claro que aqueles 7 a 1 nos deixaram por baixo.” Pelo jeito, o estrago deixado por Felipão é bem maior do que o imaginado. Matos diz que o Cruzeiro está com as contas todas em dia, prêmio pela conquista do Brasileirão passado pago, mas que, como a maioria dos clubes do país, vive apertado, na conta do chá.

A BASE TEM VÁRIOS PAIS
O ex-assessor jurídico da base do Cruzeiro, Igor Pires, ligou para este colunista para mostrar que o “pai” das últimas revelações do Cruzeiro é Dimas Fonseca. Segundo ele, os atacantes Alyson, Vinícius Araújo e Élber, o goleiro Gabriel, que hoje está no Milan, o lateral Maike, o zagueiro Wallace, vendido recentemente, o volante Lucas Silva, o armador, Douglas Coutinho, hoje no Atlético-PR, e Daniel, que está no Botafogo, foram todos formados sob a gestão de Dimas. Se é assim, está feito o registro e damos a “Dimas o que é de Dimas”. Uma coisa, porém, é fato. Na gestão Gilvan de Pinho Tavares, quem toca a base são os competentes Raul Plassmann e Bruno Vicentim, que também fazem um trabalho com muitos garotos que estão prontinhos para subir. São nomes como Dimas Fonseca, Raul e Vicentim que fazem do Cruzeiro um dos melhores clubes captadores de talentos atualmente.

DINHEIRO DE ‘CONTRATAÇÕES’
VAI PARA OS JOGADORES
O técnico Vanderlei Luxemburgo, em reunião com os jogadores do Flamengo, disse que não pediria reforços de nível, pois preferia premiá-los com um bom dinheiro a investir em contratações.
“Olhei no olho de cada um e disse: ‘temos um time limitado, mas é com esse time que vamos fugir do rebaixamento. Abri mão de contratar jogadores por confiar em vocês, e, como prêmio, o dinheiro que seria investido em reforços será dividido entre o grupo’. Acordo fechado, os jogadores atuais, que admitiram a limitação, ganharam quatro jogos em cinco disputados, o que dá uma média de campeão. Como recompensa, o Flamengo se afastou da zona de rebaixamento e, segundo Luxemburgo afirmou a este colunista, vai buscar mais três pontos diante do Criciúma, em Santa Catarina. Como? “Jogando fechadinho, como estamos fazendo, admitindo nossa carência e limitação.” Esse é o segredo do Flamengo de hoje.