domingo, 3 de agosto de 2014

MARTHA MEDEIROS - Eme

Zero Hora 03/08/2014

Meu fascínio pelo M começou muito cedo, praticamente no dia em que registraram meu nascimento. Meu nome completo é Martha Mattos de Medeiros, o que tornou inevitável o protagonismo que a 13ª letra do alfabeto (incluindo o K) passou a exercer sobre mim. E não parou por aí. Passei a desenvolver simpatia também pelas portadoras de duplo M, como Marilyn Monroe, Malu Mader, Marisa Monte, Monica Martelli, Mallu Magalhães. E Madonna, lógico, com seu M único, mas que potência.

Não demorou até eu expandir a atenção que dava aos nomes próprios: um dia percebi que o mundo feminino era quase todo regido pela mesma letra. Me acompanhe: mulher, moça, menina, mãe, maternidade, menstruação, menopausa, miss, modelo, manequim, musa, madrasta, madame, madre, mama, mana, matriarca, meretriz, mina. Sem falar em Maria, nossa Senhora. Ou a Maria que trabalha em nossa casa, santa também.

Foi quando, na virada dos anos 2000, resolvi escrever um livro salientando todos os emes (e por que não, as emes) que norteavam minha vida, porém comecei o trabalho de um jeito e terminei de outro: virou um romance chamado Divã, que escapou da minha intenção inicial e acabou virando uma história de ficção, ainda que com forte interferência da maneira como vejo o mundo. Agora você sabe: o fato de a protagonista se chamar Mercedes e a melhor amiga dela, Monica, não veio do nada.

Foi só um descaminho, não uma desistência. Continuei com a ideia fixa de colocar meus emes para trabalhar, e hoje não tenho dúvida de que a internet é o canal mais adequado. O mundo se virtualizou de uma forma que não tem volta, e mesmo pouco familiarizada com todos os recursos tecnológicos disponíveis, está mais do que na hora de me aventurar. Então, é essa a novidade que trago: estou lançando meu primeiro site oficial.

Ele não apresentará nada de extravagante: apenas minha agenda de compromissos profissionais, meu currículo até aqui, algumas opiniões que não merecem mais do que três linhas, compartilhamentos de músicas, livros e demais preferências particulares. E os emes que me fizeram ser quem sou. M de Mochila, M de Movimento, M de Monareta, M de Marrocos, M de Maverick, M de Medo, M de Máquina de Escrever e tantos outros. Uma biografia em cápsulas. Não vai faltar assunto, espero.

Tudo curto e rápido, mas certamente M de Meu.

Como já disse, não sou a melhor representante desse mundo dinâmico, então não haverá atualizações num piscar de olhos e o conteúdo será M de Modesto, mas se ainda assim você achar que vale a pena dar uma olhada, gratíssima. Anote aí: martha-medeiros.com

A partir de amanhã. Misericórdia.

EM DIA COM A PSICANáLISE » Viagem vertical‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Viagem vertical
Estado de Minas: 03/08/201


“A descida seduz/ como seduziu a subida./ Nunca a derrota é só derrota, pois/ o mundo que ela abre é sempre uma parada/ antes/ insuspeitada”
Carlos William Carlos, A descida

Mais uma vez, insisto. Existe a possibilidade de passarmos a vida sem saber nossos porquês. É possível sobreviver com referências externas, em função do desejo e da demanda do outro, numa servidão voluntária, ignorando essa alienação radical.

Num relato romanceado dessa experiência humana nada incomum, Enrique Vila-Matas, catalão de Barcelona (1948), jornalista com livros de contos e romances publicados em vários países, nos apresenta Mayol. Personagem do livro A viagem vertical (2001, Cosacnaify), ganhador do prêmio Rómulo Gallegos (2001) de melhor romance de língua espanhola.

Alguns livros nos levam a pensar como pudemos viver sem conhecê-los mais cedo. Dá vontade de decorá-los, de nunca deixá-los cair no esquecimento. Um romance comovente sobre Frederico Mayol, que, um dia, depois de suas bodas de ouro, é mandado embora da vida da esposa.

Júlia alega que não se conhece. Passou toda a vida servindo ao esposo; precisava agora, na reta final, saber pelo menos do que gostava ou não. Precisava descobrir quem é realmente essa pessoa, ela própria, que se desconhece.

Abalado, Frederico achou que talvez ela estivesse ficando louca ou brincando, depois viu a seriedade das palavras e um sorriso de nenhuma graça. Levou dias para processar a informação. Como foi difícil deixar sua cadeira de toda a vida vazia.

Dos três filhos do casal, nenhum pôde ajudá-lo. O caçula, artista medíocre e arrogante, apontava a falta de cultura e inferioridade do pai, atingindo Frederico em sua ferida mais doída. Tinha interrompido seus estudos aos 13 anos e jamais pudera retomá-los, já que, no pós-guerra, tornou-se arrimo de família. Ofendido, Frederico Mayol elege o filho alvo de todo o seu ódio.

Ele parte para uma viagem vertical e concorda em se afundar nela até o fim, o desaparecimento. Viaja para a cidade do Porto, Lisboa, e dali para a Ilha da Madeira, onde encontrou seu biógrafo.

Octogenário, é surpreendido pela falta de sentido de tudo aquilo que acreditava, e decide sumir desta vida o mais cedo possível. Buscava seu centro de gravidade, seu eixo. Um homem que resolve renascer diante da proximidade da morte, reinventar uma vida quando nada mais parece valer a pena. Buscar seu porto metafísico.

Na experiência analítica é assim. Buscamos nosso porto metafísico, como um ancoramento, uma referência situada no interior, que nos permite a estabilidade de saber mais um pouco sobre o desejo, sobre um ignorado nunca desvelado absolutamente, porque o inconsciente não se traduz todo. Permanece insabido. Parte do desejo pode-se saber, porém, nem mesmo é possível dizer se em grande ou pequena proporção.

E cada psicanálise é isto: uma viagem vertical em busca de um continente interior insuspeitado, que se revela a cada passo da escuta daquilo que dizemos muitas vezes sem suspeitar do que de fato falamos. Uma verdade oculta buscando se revelar por meio de ansiedade, angústia e sintomas insuportáveis, que foram se instalando no encontro com a dureza de um real imutável.

Sim, a cada vontade, a cada desejo o mundo nos contraria desmentindo nossa pretensa importância. A cada dia, hora, minuto somos obrigados a nos reconhecer um minúsculo grão de areia no universo. Essa desimportância fere mortalmente o narcisismo e, no entanto, admiti-la nos faz maiores e melhores.

Somos pó frente ao universo magnífico. No entanto, somos mais diante da consciência parcial da subjetividade, que nos permite fazer a viagem vertical e encontrar acordo com um desejo vital que abre a janela de algum sentido a ser construído durante nossa passagem pela vida.

TeVê

Estado de Minas: 03/08/2014

TV paga


 (Fox/Divugação)

Na cozinha Domingo é dia de reunir a família para aquele almoço que é quase uma festa, não é mesmo? Então tem tudo a ver com Palmirinha Onofre (foto), a culinarista mais simpática da TV. Hoje, o canal Fox Life realiza uma maratona com quatro episódios de seu programa, a partir das 17h30. Os convidados são Luiz Thunderbird, Paloma Tocci, Evandro Santo e Negra Li.

Dança O Film&Arts estreia hoje, às 19h, o reality show Breaking Pointe, que revela os bastidores da companhia Ballet West, de Salt Lake City (EUA), mostrando a competitividade, a dedicação extrema, as intrigas e muitos outros acontecimentos comuns aos ensaios e aos grupos de dança. No primeiro dia é apresentado o diretor artístico Adam Sklute e os dois principais bailarinos, Christiana Benne e Christopher Rudd.

É lei Novidade também no Bio, que estreia, às 21h, a série Regras ocultas da Bíblia. A produção investiga não só a origem dos 10 mandamentos, mas também mais de 2 mil regras encontradas no livro sagrado. Essas normas abrangem praticamente todas as esferas da humanidade, do amor e da guerra à comida e à bebida, de como rezar ao que vestir.

Sério? Outro documentário em destaque na programação deste domingo é Apaixonada por Hitler, às 22h45, no NatGeo. O programa apresenta uma visão inédita da vida particular de Adolf Hitler e seus associados, vista pela lente da câmera de 16mm de sua amante, Eva Braun. Ou seja, tudo registrado na intimidade de sua casa na Baviera e nos bunkers.

 (Adi Leite/Divulgação)

Música A banda Lavoura (foto) é a atração de hoje do SescTV, a partir das 21h. Com sua mistura de jazz, MPB e música eletrônica, o grupo começa em Passagem de som e depois faz show na série Instrumental Sesc Brasil. Na Cultura, às 12h, estreia a nova temporada de Prelúdio, o show de calouros da música erudita – a cantora mineira (de Sete Lagoas) Luana Dourado está na primeira eliminatória.


De olho na telinha

Simone Castro



Drica Moraes e Marjorie Estiano: duas faces da vilã Cora (Paulo Belote/TV Globo)
Drica Moraes e Marjorie Estiano: duas faces da vilã Cora
 (Ellen Soares/TV Globo)
Perfeita sintonia
Quando uma novela começa levando o telespectador ao passado, uma das consequências pode ser o estranhamento em relação aos personagens de uma época e outra. Foi assim com Em família (Globo), em que na passagem da segunda para a terceira fase a troca de atores não correspondeu às expectativas. Por exemplo, Natália do Vale (Chica) não convenceu como mãe de Helena (Júlia Lemmertz). Não era para menos, já que as atrizes têm apenas dez anos de diferença de idade.

Há casos, porém, em que a transição entre um ator e outro, donos de um mesmo personagem, ocorre de forma perfeita. A vilã Cora, de Império, substituta de Em família, é o melhor exemplo. Na primeira fase da trama de Aguinaldo Silva foi interpretada por Marjorie Estiano. Depois, o bastão foi passado para Drica Moraes. Resultado: cada performance melhor do que a outra. Sem desviar um milímetro das características da personagem, as atrizes imprimiram seu estilo próprio.

Cora é ardilosa, manipuladora, má. Quando jovem, vivida por Marjorie Estiano, tanto fez que destruiu a chance de felicidade da irmã, Eliane, papel de Vanessa Giácomo. Invejosa e egoísta, não permitiu que ela vivesse o amor por José Alfredo (Chay Suede). Tudo para manter a segurança que pensava ter na casa do cunhado. Cora, de Marjorie, talvez fosse mais cínica e mais dissimulada.

Na mudança de fase – com um salto de mais de 20 anos –, para os dias atuais, Drica Moraes assumiu o papel. Com a maturidade, Cora ficou ainda mais dissimulada, sombria, obsessiva, desequilibrada. A cena em que gargalha diante da irmã em agonia no leito de morte foi de arrepiar. E depois da morte de Eliane, agora atormenta a sobrinha, Cristina (Leandra Leal), forçando-a a correr atrás da fortuna do pai, José Alfredo (Alexandre Nero), o homem que escorraçou da vida da família no passado.

O barato das duas grandes arizes é a sintonia que se percebe na composição da vilã. A maneira de se expressar, gestos, trejeitos, olhar, tudo que se via na Cora de Marjorie, repete-se com a de Drica. Elas não são exatamente parecidas fisicamente, mas lembram uma à outra. E encontraram uma marca para imprimir à personagem: feito cobra, sibilam. Como o réptil, mostram e escondem a língua, ávidas pela presa da vez. Haja veneno!

PLATEIA

VIVA
- Depois do Lama Sonan, de Joia rara (Globo), Caio Blat, agora no lado escuro da força, arrasa como o ambicioso José Pedro, de Império.

VAIA - Para ajustar ao horário do Vale a pena ver de novo, Cobras & lagartos (Globo) tem sofrido cortes grosseiros. Melhor que não fosse reprisada.

Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br


 (Ellen Soares/TV Globo)
Roqueiro em cena
O cantor Dinho Ouro Preto vai dividir o palco com Sol, cantora interpretada por Jeniffer Nascimento (foto), em Malhação sonhos (Globo). A presença do roqueiro agitou as gravações na terça-feira e até quem não estava em cena ficou para curtir o som. Um dos mais empolgados era Léo Jaime, intérprete do músico Nando Rocha, que da coxia do palco fingia ter uma guitarra nas mãos. Totalmente envolvido, Dinho entrou nas brincadeiras enquanto não estava gravando e tirou selfies com a equipe de produção e elenco. “Confesso que estava com frio na barriga. Sou músico e não ator. Mas o fato de não precisar interpretar um personagem facilitou muito. E tudo fluiu com muita naturalidade”, revelou. “Tive o privilégio de participar de um episódio que aborda a banda de rock e eu dediquei minha vida a essa causa: integrar o estilo à cultura brasileira e promover o rock nacional”, completou Dinho. Na trama, o momento era o show de talentos da Ribalta. A escola de artes anuncia o evento e seu convidado para lá de especial: Dinho Ouro Preto. O frontman do Capital Inicial é uma grande inspiração para os alunos de Nando e, principalmente, para a banda formada por Sol, Pedro (Rafael Vitti), Rominho (Gabriel Rieff), Luiz Cláudio (Caio Lucas Leão) e Paula (Daniela Dillan). A apresentação da banda com o roqueiro é um sucesso. Mas, até subir ao palco, a vocalista Sol terá que enfrentar muitos contratempos. Até convencer a mãe, Bete (Edvana Carvalho), de deixá-la participar do show. As cenas estão previstas para ir ao ar no dia 15.

EMBARQUE NOS TRENS DE
MINAS E CURTA A PAISAGEM


O Viação Cipó deste domingo, às 10h, na Alterosa, levará o telespectador a embarcar nos trens de Minas! Conheça algumas das linhas férreas ainda em funcionamento no estado, os casos e histórias de quem viveu a época de ouro dos trens, as locomotivas e as novas gerações. Curta as lindas paisagens. Confira, ainda, uma saborosa receita.

CELEBRIDADES TERÃO QUE
PROVAR QUEM É O ARTISTA


Os preparativos para a estreia do programa Esse artista sou eu, no SBT/Alterosa, estão a todo vapor. Sob o comando de Márcio Ballas, a atração mostrará celebridades disputando o prêmio de melhor imitação de um artista famoso. Cyz Zamorano, Miranda e Thomas Roth, ex-jurados do Astros, também da emissora, são esperados para avaliar a turma. No páreo estarão: Christian Chávez (cantor mexicano famoso pelo grupo RBD e pela novela Rebeldes), Léo Maia, Rosemary, Vanessa Jackson, Syang, Li Martins e Marcelo Augusto. O vencedor levará para casa o prêmio de R$ 50 mil. A atração deve ser lançada dia 25 para substituir o Máquina da fama, durante a licença-maternidade da apresentadora Patrícia Abravanel.

LUANA PIOVANI E MARCELLO
NOVAES EM SÉRIE POLICIAL


Os atores Luana Piovani e Marcello Novaes já estão gravando as primeiras cenas da série Dupla identidade, trama de investigação e ação de Glória Perez, que tem lançamento marcado para a segunda quinzena de setembro. No roteiro, a personagem da atriz será uma psiquiatra forense, enquanto Marcelo vai interpretar um delegado.

PEÇA DE MÔNICA MARTELLI
VAI VIRAR PROGRAMA DE TV

Primeiro foi o teatro, depois o cinema. Agora, o badalado texto Os homens são de Marte ... e é pra lá que eu vou também será atração da TV. O programa, que ainda está em fase de planejamento, tem estreia prevista para setembro, no GNT (TV paga). Ao lado da protagonista e autora do texto, Mônica Martelli, que vive Fernanda, estará Júlia Rabello, sua fiel escudeira. Júlia é conhecida pelo canal de humor do YouTube Porta dos Fundos.

ANIVERSÁRIO DE HUMORISTA
MARCARÁ ÚLTIMO EPISÓDIO


O derradeiro episódio do humorístico Tudo pela audiência será em tempo real. A atração do Multishow (TV paga) chegará ao fim com uma transmissão ao vivo. E o “capítulo final” terá exibição em data especial: dia 11, dia do aniversário de Tatá Werneck, que divide a cena com Fábio Porchat. A ideia da produção é que o convidado no palco seja o grupo Roupa Nova, do qual Tatá é fã.

JOELMA DIZ NÃO SE IMPORTAR
COM A OPINIÃO DOS OUTROS

 (Roberto Nemanis/SBT)

“Não dou a mínima para o que as pessoas falam ou deixam de falar de mim.” Essa foi uma das declarações da cantora Joelma, que participou, ao lado do marido, Chimbinha, com quem forma a Banda Calypso, do Programa Eliana (foto), que vai ao ar hoje, às 15h, no SBT/Alterosa. Joelma e Chimbinha marcaram presença no quadro “Rede da fama”. A cantora completou em relação às notícias que saem na mídia: “As pessoas colocam palavras na nossa boca”. E ainda destacou: “Todos os anos separam a gente. E até já mataram o Chimbinha”. O guitarrista, que afirmou sobre a mulher que “ela é mandona”, apontou o que poderia ser um motivo para mal-entendidos envolvendo a cantora: “Às vezes, ela não explica bem o que fala”. Joelma ficou mal na fita ao expor, há algum tempo, sua opinião sobre homossexuais. Já Chimbinha, que garante não malhar, não fazer plástica – “eu sou medroso. Tô gordinho, mas tô feliz” –, não deixa margem para dupla interpretação. “Adoro ser chamado de brega”, avisa.  

Sem fronteiras

Sem fronteiras
Inhotim apresenta a partir de setembro obras de quatro criadores contemporâneos pouco conhecidos no Brasil. Mostra sinaliza tendência de ampliar o circuito de arte
Walter Sebastião
Estado de Minas: 03/08/2014


Geta Bratescu, artista romena em em exposição no Inhotim 2014 (Inhotim/Divulgação)
Geta Bratescu, artista romena em em exposição no Inhotim 2014

O isolamento político da Romênia deu à obra de Geta Bratescu, de 88 anos, uma saudável independência e experimentalismo (Stefan Sava/Divulgação)
O isolamento político da Romênia deu à obra de Geta Bratescu, de 88 anos, uma saudável independência e experimentalismo


Inhotim nunca se distraiu da singularidade das obras que apresenta. Mas pela extensão do acervo, o conjunto de peças acabava chamando a atenção. Sem perder essa dimensão, a partir de 4 setembro, com obras da romena Geta Bratescu, do tcheco Dominik Lang, do norte-americano Caroll Dunham e do filipino David Medalla, o museu convida o público à consideração concentrada na obra e na história que os criadores instauram. O que se torna ainda mais interessante por destacar artistas ainda pouco conhecidos, evidenciando os desafios postos ao sistema mundial de arte nas primeiras décadas do século 21.

“Vivemos momento da descoberta de que o mundo é grande, não acaba em Nova York, Londres ou na Avenida do Contorno”, brinca Rodrigo Moura, o diretor artístico da instituição, referindo-se à diversidade de origens, residência e vivência dos artistas. “É nosso papel apresentar ao público artistas ainda pouco conhecidos, com a consciência de que precisamos ampliar o circuito de arte brasileiro”, acrescenta. Internacionalização, no entanto, não pode ser entendida como a apropriação da arte brasileira ou de outro país pelos centros hegemônicos. “Para não se tornar perversidade, tem de ser diálogo, inclusive com instituições que atuam localmente, a partir de pesquisa e valorização dos artistas jovens”, defende Rodrigo.

São questões que estão postas hoje a todas as instituições, mesmo que algumas delas não possam enfrentar tal tarefa por falta de recursos ou por responder a outros compromissos. O redesenho da sistema artístico mundial tem motivo: revela busca de descentralização das narrativas sobre a vida e a sociedade feitas pela arte. E curadores e pesquisadores, dos mais importantes museus do mundo, antes envolvidos basicamente com produção europeia e norte-americana, se voltam para o que é feito na Ásia, Leste Europeu e América Latina. Movimento que Rodrigo Moura acha positivo e até credita em parte à ação de curadores brasileiros que estão trabalhando no exterior.

Ateliê
Quem ganha exposição individual na Galeria Lado, em Inhotim, com direito à reunião de obras dos anos 1963 a 2013, é a romena Geta Bratescu, de 88 anos. Ela vive e trabalha em Bucareste, é formada em letras, estudou no Instituto de Artes Nicolae Grigorirescu entre 1969 e 1971, depois de duas décadas de formação interrompida na Academia de Artes de Bucareste, em razão da censura do governo comunista. A artista faz de tudo: desenho, gravura, colagem, tapeçaria, objeto, filmes e performances. Esteve na Bienal de Veneza (1960) e duas vezes na de São Paulo (1983 e 1987). É referência de arte experimental em seu país. Desde 1990, tem visto sua obra ser objeto de interesse dos grandes museus de arte.

“Geta Bratescu é um tesouro escondido no Leste Europeu”, garante Rodrigo Moura, contando que a artista continua trabalhando em ateliê, simples, em Bucareste. Por trabalhar em condições muito específicas, vindas do isolamento político e econômico da Romênia, sua criação mantém alto grau de independência e experimentalismo. “É fascinante como Geta conseguiu desenvolver independência dentro de meios oficiais”, observa o curador. “Ela usa o ateliê para fazer o trabalho acontecer, transformando o local num espaço de fruição semipúblico”, acrescenta.

“Num sistema de arte acelerado como o que vivemos, não deixa de ser subversivo. É uma prática que ocorre à margem da economia de mercado e que foi diretamente para o museu”, explica Moura. “É como se tomássemos a história da arte brasileira, que é periférica, como lente para ver o mundo da arte”, compara. “A Romênia é aqui”, brinca.

Rodrigo observa que apesar de a situação ter mudado, trabalhar à margem dos sistemas foi, durante décadas, quase condição dos artistas brasileiros. São obras que tematizando a autorrepresentação entrelaçam história pessoal e coletiva, permitindo leituras diversas, da escassez até o papel do ateliê, passando por questões de gênero. Inhotim tem hoje cerca de 60 obras da artista romena em seu acervo.



O tcheco Dominik Lang cria instalações a partir de esculturas feitas pelo pai (Ondrej Polak/Divulgação)
O tcheco Dominik Lang cria instalações a partir de esculturas feitas pelo pai


Intervenção
Leva o nome de Sleeping city (2011) a instalação de Dominik Lang, um jovem artista tcheco, de 34 anos, que tem história. Trata-se de intervenções em conjunto de 20 esculturas do pai, Jiri Lang (1927-1966), escultor modernista ativo na década de 1950, considerado promissor, mas que foi preso por razões políticas. O nome da obra, que foi apresentada na 54ª Bienal de Veneza, alude à visão de estúdio repleto de “esculturas dormindo”. É obra que propõe diálogo intergeracional e ecoa desde os tempos da Guerra Fria até os dias atuais. O artista é formado em belas-artes, vive e trabalha em Praga, atuando na fronteira entre arte e arquitetura, para interpelar contextos históricos, sociais e espaciais.

Carroll Dunham: artista ligado ao retorno da pintura nos anos 1980       (Clint Spaulding/Reprodução)
Carroll Dunham: artista ligado ao retorno da pintura nos anos 1980


Jardim
Um imóvel rural, remanescente das construções que existiam em Inhotim antes de o local se tornar museu, foi reformado e ganha ciclo de pinturas do norte-americano Carroll Dunham. “É pintura sofisticada, feita a partir de gesto urgente”, observa Rodrigo Moura. Ele conta que se trata de artista associado à chamada volta da pintura dos anos 1980. O pintor têm 65 anos, vive e trabalha em Nova York, já ganhou retrospectiva no New Museum de Nova York e tem obras em diversas coleções públicas. Sobre o artista, já se disse que trabalha livremente diversas visualidades (abstração, figuração, pop) sem se limitar a nenhuma delas. Os trabalhos mais recentes são imagens de forte conteúdo sexual, detalhados de forma grotesca e irônica.

Bolhas
Cloud gates bubble machine (1965-2013) é o nome de escultura em grande escala construída com tubos de acrílico preenchidos com bolhas de sabão. Obra que, pelo inusitado, fez fama e foi refeita diversas vezes. O autor é David Medalla, de 72 anos, nascido em Manila (Filipinas), que vive e trabalha em Londres. Ele é nome histórico da arte experimental dos anos 1960. Participou de mostra que hoje é considerada um tratado sobre arte experimental: Quando as atitudes tomam forma (1969). É homem ligado à arte brasileira. Nos anos 1960, articulou exposições de Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel e Sérgio Camargo na galeria londrina Signals. Tem performance inspirada em textos de Clarice Lispector. Além das atividades artísticas, Medalla tem atuado como professor, feito curadorias e direção artística de eventos.

Mito brasileiro

Documentário divulga a obra do carioca Hélio Oiticica, pioneiro da arte contemporânea. Mundialmente reconhecido, o artista plástico quebrou paradigmas e barreiras sociais

Walter Sebastião
Estado de Minas: 03/08/2014


Na década de 1960, Hélio Oiticica propôs ousadas experimentações ao mundo (O Cruzeiro/EM/D.A Press %u2013 11/7/67  )
Na década de 1960, Hélio Oiticica propôs ousadas experimentações ao mundo


Chega aos cinemas brasileiros o documentário Hélio Oiticica – O filme, dirigido por César Oiticica Filho. O trabalho tem uma causa: apresentar aos brasileiros o mais celebrado dos artistas plásticos do país, explica o diretor. O longa, que levou mais de uma década para ficar pronto, está em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. Até o fim do mês, ele segue por outras capitais, sempre acompanhado de ações voltadas para a difusão do legado de Hélio. A exibição em Belo Horizonte está prevista para setembro, no Sesc Palladium, acompanhada de exposição de fotos.

No fim da década de 1950, Hélio Oiticica (1937-1980) começou sua carreira participando de movimentos dedicados à abstração geométrica. Mais tarde, ele projetou suas pinturas no espaço e aprofundou experimentações, criando ambientes onde as pessoas podiam entrar. O carioca foi pioneiro na arte da instalação, tão disseminada atualmente.

Em 1967, ele criou Tropicália, “manifestação ambiental” (conceito definido pelo próprio Hélio) que deu origem ao tropicalismo. O movimento se estendeu para outras linguagens, sobretudo a música de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Torquato Neto, entre outros. Seguiram-se experiências inovadoras que colocaram o carioca como destaque da arte contemporânea.

No filme, o próprio Hélio comenta suas criações. O diretor César Oiticica não considera a obra do tio difícil. “Como todo bom artista, Hélio é universal. Às vezes, intelectualiza-se demais o que ele fez, e isso é bom. Mas quando vemos as crianças interagindo com as obras dele, em Inhotim, percebemos que todos se emocionam e são capazes de entender o que ele fez”, conta.

Hélio Oiticica e passistas da Mangueira vestidos com seus parangolés     (Primeiro Plano/divulgação)
Hélio Oiticica e passistas da Mangueira vestidos com seus parangolés


Guerra
César Oiticica espera que seu filme seja porta de entrada para divulgar a obra do tio. “Estamos começando nova batalha: lançar filme autoral no Brasil”, avisa, lembrando que não é fácil viabilizar a circulação de produções assim em países gigantescos como o Brasil.

“Fiz um filme que leva cultura aos brasileiros e que forma olhar sobre a nossa arte, mas não consegui um centavo dos governos. Aqui só tem dinheiro para quem tem dinheiro”, protesta o diretor. Ano passado, o documentário ganhou dois prêmios no 63º Festival de Berlim, na Alemanha: melhor filme da seção Fórum (para a crítica) e Caligari, dedicado a obras inovadoras.

O cineasta concorda que o tio virou mito. “E não só das artes plásticas: ele foi o primeiro branco a entrar numa ala de passistas da Mangueira, transitou na alta esfera mundial das artes. Tudo isso com um despojamento cuja falta de preconceito reverbera até hoje”, analisa.

Nova exposição de Hélio Oiticica, dedicada às chamadas proposições, está viajando pelo mundo. Nesses trabalhos, há apenas a proposta ou parcerias com outros artistas. Um exemplo é a trilha de açúcar sobre a terra, criada por Hélio e Lee Jaffe para a mostra Do corpo à terra. Com curadoria do crítico Frederico Morais, ela foi apresentada em BH em abril de 1970.

“É a última fronteira da arte de Hélio Oiticica”, conclui o cineasta, informando que o tio extrapolou o limite do objeto. Atualmente, a mostra de proposições está em cartaz no Museu de Arte de Dublin, na Irlanda.

Viva a folia! O som de raiz do violeiro

O som de raiz do violeiro Chico Lobo se junta ao jazz do maestro Gilson Peranzzetta para homenagear a cultura popular. O novo projeto mescla tradição e contemporaneidade

Ailton Magioli
Estado de Minas: 03/08/2014





"Pena que não se faz mais folia no subúrbio carioca" - Gilson Peranzzetta, instrumentista e maestro

"O Natal é muito rico na nossa cultura popular" - Chico Lobo, violeiro

O encontro do violeiro mineiro Chico Lobo com o pianista, maestro e acordeonista carioca Gilson Peranzzetta vai resultar na gravação de um CD integralmente dedicado à folia de reis. “Trata-se de um projeto de disco de Natal. Vamos gravar oito folias tradicionais e duas de minha autoria, que abordam o anúncio do nascimento de Cristo”, anuncia Chico, enquanto Gilson vislumbra o que classifica de “um novo plano que vai se abrir na música”.

A ideia de reunir instrumentistas dedicados a gêneros diferenciados – Chico Lobo vem da música de raiz, enquanto Gilson Peranzzetta é jazzista por excelência – partiu do produtor Sergio Lima Neto, responsável pelo CD 3 Brasis, que reuniu Chico (viola), Márcio Mallard (violoncelo) e Paulo Sérgio Santos (sopros).

A amizade de Peranzzetta e Lobo nasceu no estúdio que Lima Neto mantém em Araras, na Região Serrana fluminense. De acordo com Chico, a ideia é promover a junção da viola com a musicalidade jazzística do maestro, seja no piano ou no acordeom. “Vamos mergulhar nas raízes da folia mineira como uma linguagem universal”, explica o violeiro, que considera o novo trabalho uma espécie de aprofundamento de 3 Brasis.

Diálogo “Mostrei ao Peranzzetta folias de Natal que promovem o diálogo da viola de tradição com a a nossa contemporaneidade, e ele se entusiasmou”, revela Chico Lobo, que está preparando repertório para apresentar ao maestro. “Quero que parta dele a concepção dos arranjos”, salienta.

Chico está recolhendo folias junto com o parceiro Carlinhos Ferreira, que é percussionista. Entre os autores escolhidos por ele está mestre Nelson Jacó, já falecido, que morava em Jequitibá, perto de Sete Lagoas, na Região Central do estado. “Mestre Nelson me influenciou muito”, conta Chico, que chegou a levá-lo para fazer show em Portugal. Outro mestre veio de Lapa da Trindade, na mesma região: Zé Limão, também especializado em folias.

Da própria autoria, Chico selecionou Salve o Menino Deus (parceria com João Evangelista) e Brilho de estrela, que ele compôs pensando no novo trabalho. “Há muito, sinto falta das tradições que mergulham no Natal brasileiro”, conta o violeiro, lamentando a europeização da mais importante festa cristã brasileira. “O Natal é muito rico na nossa cultura popular”, ressalta, lembrando que, além de Minas Gerais, o interior de São Paulo e o Centro-Oeste cultivam a folia de reis, batizada como reisado no Nordeste.

Se em Minas Gerais o gênero é cultuado por meio da viola caipira, no Nordeste a folia é mais percussiva, comandada por pifes e caixas. “Ela resiste em todo o país”, comemora Chico Lobo, lembrando que Portugal assiste a algo parecido.

Rio Nascido e criado no subúrbio carioca de Brás de Pina, Peranzzetta teve os primeiros contatos com o gênero naquela região do Rio de Janeiro. “É muito linda, pena que não se faz mais folia no subúrbio”, lamenta o maestro.

Segundo Gilson, a melodia simples da folia pode gerar harmonia totalmente moderna. “Abre-se um campo muito especial para a música quando a ouvimos sem harmonia, só com voz”, explica. Ele entrou em contato com o gênero ouvindo manifestações vindas de Pernambuco e da região de Tiradentes, em Minas Gerais.

EM BH

Depois de participar de três edições portuguesas do Encontro de violas de arame, Chico Lobo anuncia que o evento será realizado em BH no ano que vem. “Vamos promover palestras, oficinas e concertos”, informa. A viola brasileira é descendente do instrumento português, mais precisamente das violas braguesa (da região do Minho), da terra (Ilha dos Açores), campaniça (Alentejo) e de arame (Ilha da Madeira).


Festa do interior
 (Arquivo EM/D.A Press)

As folias de reis começam em 24 de dezembro e vão até 6 de janeiro. Algumas podem se estender até 20 de janeiro, Dia de São Sebastião. Instrumentistas e cantores comemoram o Natal visitando as casas e tocando músicas alegres em homenagem aos santos reis e a Jesus Cristo. Originária da Espanha, a manifestação é muito comum nas pequenas cidades do país.

Com ritmo e humor

Grupo que ficou famoso pela participação inesquecível de Mussum, o Originais do Samba se mantém ativo com nova formação. Bigode é o único remanescente da primeira turma

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 03/08/2014



Na atual formação como quarteto, o Originais do Samba emplaca 49 anos de estrada com a mesma pegada (Sérgio Massa/Divulgação)
Na atual formação como quarteto, o Originais do Samba emplaca 49 anos de estrada com a mesma pegada


Um veio da Mangueira, o outro da Imperatriz, o terceiro era do Salgueiro, já o quarto da Portela… Em meados dos anos 1960, uma turma de amigos de diferentes escolas de samba do Rio de Janeiro resolveu se reunir para formar um grupo de bambas com um nome pra lá de original: Originais do Samba. O saudoso ex-trapalhão Mussum (Antônio Carlos Bernardes) no reco-reco; Rubão (Rubens Fernandes) no surdo; Bidi (Murilo da Penha Aparecida e Silva) na cuíca; Chiquinho (Francisco de Souza Serra) no agogô; Lelei (Wanderlei Duarte) no tamborim; e Bigode (Arlindo Vaz Gemino) no pandeiro. Este último, aliás, o único integrante que está até hoje no grupo.

“Inicialmente, éramos um conjunto mais focado na coreografia, no samba no pé. A coisa de cantar veio depois e nos tornamos o primeiro grupo de samba do Brasil a gravar um disco. Isso lá pelos idos de 1968”, destaca Bigode, de 72 anos. “Sou o único remanescente daquela época. E olha que fui o último a entrar. É como diz o ditado: os últimos serão os primeiros”, brinca.

Embora muita gente pense que o grupo não se mantenha na ativa, o músico assegura que a agenda continua abarrotada de compromissos. O atual quarteto – completado por Scooby (cavaco), Rogério (violonista) e Júnior (vocalista) – nunca parou de fazer shows. Além de percorrer várias cidades do interior, todas as quintas eles sobem aos palcos da casa de espetáculos Bar Brahma, em São Paulo. “Quando você some um pouco da mídia, o pessoal acha que o grupo acabou ou não existe mais. Mas estamos aí na estrada, a todo vapor. Lançamos um CD recente, Originais do Samba – Não deixa o samba morrer, com participações especiais de Zeca Pagodinho, Benito di Paula e Reinaldo, o príncipe do pagode. O disco foi superbem recebido pelos nossos fãs”, comemora.

Em 2015, o grupo Originais do Samba vai completar meio século de trajetória e já está de olho nas comemorações. Para marcar a data, pretende gravar o primeiro DVD da carreira. “E tem que ser ao vivo, porque é outra história. E é bom lembrar que além dos quatro que fazem parte do conjunto, temos mais seis músicos que tocam na banda de apoio. E eles fazem toda a diferença”, ressalta Bigode.

O músico lembra com carinho dos tempos em que estouraram no Brasil e no exterior. No começo da carreira foram contratados por Carlos Machado (produtor e diretor musical) e acompanharam grandes nomes da música popular brasileira, como Elis Regina, Jair Rodrigues e Vinicius de Moraes. “A gente viajou por toda a Europa e América Latina. Argentina, Peru, Bolívia, Paraguai, Suécia, Suíça, França e Holanda foram alguns dos países onde nos apresentamos. Fizemos muito sucesso mesmo”, recorda o artista.

O sexteto original se tornou conhecido quando gravou Cadê Teresa, de Jorge Benjor. Era o início do chamado suingue ou balanço. “Hoje é o que chamam de samba-rock. É uma música que nunca falta nos nossos shows, assim como O lado direito da rua direita, Tá chegando fevereiro, Saudade e flores e A subida do morro, entre outras”, lembra Bigode.

Estilo

O atual vocalista do conjunto, Júnior, de 36 anos, está há 22 no Originais do Samba e tem muito orgulho de fazer parte desta “família. Para o cantor, o segredo de o grupo estar há tantos anos na estrada é, sobretudo, a persistência, fazer o que gosta e procurar gravar o que o público quer ouvir. “A gente se mantém fiel ao samba tradicional, ao samba-raiz, e não gravamos modinha. O samba atualmente é mais comercial e foge muito das suas raízes”, opina.

Já Bigode diz que a essência foi preservada ao longo desses 50 anos e o fato de os atuais integrantes terem crescido ouvindo as músicas do Originais do Samba contribuiu também para a preservação do estilo. “Nunca fizemos nada de errado, nunca saímos da linha. A gente se manteve fiel à nossa tradição, não só no jeito de tocar, mas até no modo de vestir. Essa coisa do paletó, da camisa de seda e da gravata. Isso foi muito importante para estarmos aqui até hoje”, acredita.


O grupo original, em 1972, com Mussum ao reco-reco: samba e alegria acima de tudo     (Eurico Dantas/AG)
O grupo original, em 1972, com Mussum ao reco-reco: samba e alegria acima de tudo



três perguntas para...

Bigode
sambista

Até que ponto a saída do Mussum atrapalhou a carreira do Originais do Samba?

Quando ele saiu, em 1979, sem dúvida, a gente sentiu muito, porque o Mussum era o nosso líder. Aquilo pesou demais. Mas ele optou por ser um Trapalhão, então não tinha muito o que fazer. Mas conseguimos superar e hoje as pessoas associam o Mussum muito mais com os Trapalhões do que com o Originais do Samba. Já são 35 anos. Acho que conseguimos, sim, caminhar com nossas próprias pernas.

Como você analisa o atual momento do samba?

Não vejo o samba em seu melhor momento. A gente vê o pessoal do pagode e alguns grupos como o Revelação e o Sorriso Maroto sempre bombando, mas ninguém com grandes sucessos como antes. São fases. Mas a maioria vive mesmo do passado, até mesmo os principais bambas, como o próprio Zeca Pagodinho e o Jorge Aragão. E acho que essa coisa de ter tantos ritmos em voga, como o sertanejo, o funk etc., acaba atrapalhando um pouco. Mas o samba é assim: agoniza, mas não morre.

Você consegue imaginar a sua vida sem os Originais do Samba?

De jeito nenhum. Comecei nessa vida ainda adolescente e tudo que eu tive foi por meio do Originais do Samba e da música. Conheci não só o Brasil inteiro, mas vários países, e se tudo der certo vou continuar no grupo por muitos anos. Estou me sentindo muito bem de saúde e tenho muito tempo de música pela frente. Estou com 72 anos, mas o corpinho é de 50 (risos).

Eduardo Almeida Reis - Opsigamia‏

Opsigamia

O mundo está cheio de opsígamos ricos, homens e mulheres

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 03/08/2014



A internet, que me serve mal e porcamente, deve divertir-se com o seu entra-e-sai irritante. Quando sai, a tela do computador avisa: “Ops! parece que houve um problema”. Do tanto que vejo “ops!” aqui e alhures resolvi consultar o Dicionário de Gíria, de J. B. Serra e Gurgel, onde encontrei: Ops! interj. espanto. “Ops! Vacilei.”

Curioso, fui ao Houaiss eletrônico que não tem ops!, mas tem opsigamia: casamento contraído por pessoa de idade avançada. Homessa! Quer dizer que fui opsígamo e não sabia? Adjetivo e substantivo masculino, opsígamo é “que ou aquele que se casa em idade avançada”.

O mundo está cheio de opsígamos ricos, homens e mulheres. Quase escrevi “de ambos os sexos”, mas os sexos deixaram de ser dois e andam próximos dos 70 (setenta), como vimos numa listagem do Facebook. Foi do Facebook? Sei lá, mas me lembro de que eram quase 70.

Na opsigamia, um dos cônjuges, marido ou mulher, pretende mostrar que ainda vale alguma coisa, enquanto o cônjuge mais novo, marido ou mulher, faz o seu pé-de-meia, no que obra muitíssimo bem. Opsígamos são o Blatter, da Fifa, o Ecclestone, da Fórmula 1, e Maria del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó, a duquesa de Alba, nascida dia 28 de março de 1926, uma das mulheres mais ricas da Espanha, que se casou em 2011 com Alfonso Díez Carabante, funcionário público de 60 aninhos.

Em defesa do philosopho opsígamo seja dito que não tinha fortuna e vivia exclusivamente do salário. Mas que é bom apaixonar-se depois de certa idade, lá isto é.


Tragédias

Ao vivo e em cores, uma tragédia como aquela das mortes sob o viaduto despencado em Belo Horizonte sempre se transforma em duas: a tragédia propriamente dita e o improviso do apresentador da tevê. Pensei anotar num bloquinho o monte de asneiras do rapaz, cujo nome não vem a pelo, coitado, porque fez o que todos fazem: perguntas e comentários de uma idiotice espantosa. É inacreditável que o canal de tevê não tenha um editor para segurar o besteirol do apresentador por meio do ponto eletrônico de ouvido.

Há coisas que não deveriam acontecer, como a queda de imenso viaduto, mas acontecem, tanto assim que o Guararapes caiu. O solo de Belo Horizonte é complicadíssimo. No badalado Bairro Belvedere, por exemplo, o construtor de uma porção de prédios me disse que nunca encontrou dois solos iguais. Lotes vizinhos têm solos diferentes. No Alto Santa Lúcia, lá perto do Belvedere, o maldito filito exige estacas tão compridas que um dia alcançam o Japão.

Penso que os senhores apresentadores de tevê não precisam comentar a tragédia como se estivessem narrando uma partida de futebol. O telespectador tem o impacto da filmagem ao vivo e deve ser poupado da loquacidade burra e repetitiva.


Endez

Como sabe o leitor, endez vem do latim indicii (sc. ovum) 'ovo de chamariz', genitivo singular de indicìum,ìi 'sinal, indicação, denúncia, acusação'. Em português tem vários significados, mas me limito ao endez que se deixa no ninho como chamariz para outras galinhas virem fazer postura no local (diz-se de ovo). Alfim e ao cabo, fui criador de galinhas.

O certo é que de repente, sem aviso prévio, baixou nos leitores do grande jornal dos mineiros deliciosa onda distribuidora de charutos cubanos, puros de Havana que têm como destinatário um philosopho amigo nosso. Enviados pelo Sedex merecem vivório e foguetório e servem de endez para as próximas remessas, bem como para as encomendas que o referido cavalheiro faz, sempre que possível, aos seus habituais fornecedores.


O mundo é uma bola

3 de agosto de 1492: zarpa de Palos de La Fronteira, Espanha, a frota comandada por Cristóvão Colombo, que descobriria a América no dia 12 de outubro daquele ano. Frota é maneira de dizer: três caravelas minúsculas, casquinhas de nozes, comandadas e tripuladas por aventureiros malucos. Salvador de Madariaga (1886-1978) escreveu livro lindíssimo sobre Colombo, Vida del muy magnífico señor don Cristóbal Colón (1940), das melhores coisas que já li.

Em 1500, assassinato de Afonso de Biscegli, marido de Lucrécia Bórgia. Nunca ouvi falar dele, mas li alguma coisa sobre a familia Bórgia. Se foi ela quem mandou matar Afonso, fez muito bem. São raros os maridos que não merecem morrer. Uxoricídio é o assassínio de mulher por quem era seu marido, crime comum num país grande e bobo. Não sei como é o assassínio de marido por quem era sua mulher, nem tenho tempo de procurar porque deu a louca aqui no Windows 7, que passou a sublinhar em vermelho as palavras escritas em português. Espanholou-se depois que escrevi em espanhol o título do livro de Salvador de Madariaga.


Ruminanças

“Não é louco o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a razão” (Chesterton, 1874-1936).

PAIXÃO VIRTUAL, PERIGO REAL‏

PAIXÃO VIRTUAL, PERIGO REAL
Crescem os casos de mulheres que se tornam vítimas de estupro e golpes ao buscar relacionamento pela internet. Especialistas apontam carência afetiva como maior problema
Valquiria Lopes
Estado de Minas: 03/08/2014

Eles se apresentam como militares condecorados, advogados de prestígio ou engenheiros bem-sucedidos e em viagem pelo exterior. Com boa retórica e palavras românticas, geralmente são viúvos ou divorciados, pais de belas crianças, e encantam mulheres pela internet com a promessa de relacionamento sério e em busca de uma nova família. Alguns chegam a ficar noivos e até mesmo se casam em cerimônias virtuais. Contada dessa forma, é uma história sedutora. Os namoros virtuais se multiplicam na internet com a mesma velocidade das novas ferramentas, sites de relacionamento e aplicativos de smartphones. Mas cuidado! Muitos casos de paquera virtual terminam em ocorrências policiais, como furto e extorsão. Em outras situações, mulheres que marcam encontros com estranhos nos “radares” de namoro ou por redes sociais se tornam vítimas de estupro ou crime contra a honra.

Apesar da falta de estatísticas específicas de ocorrências que resultam dos encontros virtuais, a percepção diária é de que elas aumentam paralelamente ao crescimento em geral dos delitos cometidos na rede. Dados da Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos de Belo Horizonte mostram que os crimes praticados pela internet aumentaram 63,6% entre 2012 e o ano passado, passando de 762 para 1.247.

Neste ano, até o fim de julho, já foram mais de 1 mil, ou seja, 80% de todo o ano passado. “Todos os crimes cibernéticos têm aumentado muito. Entre as denúncias, também crescem as de caráter amoroso”, explica a delegada titular da 1ª Delegacia de Crimes Cibernéticos, Paloma Boson Kairala. Ela diz que, de modo geral, as vítimas têm o mesmo perfil: mulheres maduras, separadas ou viúvas, em busca de um novo amor para suprir a carência afetiva.

Em outras situações, são as mais jovens que caem nas mãos de homens que as estupram depois de encontros marcados pela internet. A conversa nos aplicativos de namoro segue para troca de telefones e o bate-papo. Quem usa as redes sociais para fins afetivos afirma que a ferramenta é útil e divertida. Mas casos reais mostram que é preciso cautela antes de revelar telefone, endereço e dados pessoais. “Mulheres que marcam encontros sem saber a procedência do candidato têm relatado casos de estupro ou exposição de intimidade na internet”, alerta a delegada-adjunta da Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte, Cristiane Ferreira Lopes.

Festas marcadas pela internet que reúnem centenas de pessoas que não se conhecem também são terreno fértil para crimes. “As pessoas confirmam presença sem saber quem são os organizadores, ficam embriagadas, aceitam carona ou convite para dormir na casa de rapazes e acabam estupradas”, alerta a delegada. Segundo ela, são frequentes os casos em que jovens procuram a polícia relatando não se lembrar do que aconteceu, que acordam na casa de pessoas que nunca viram, nuas ou com sêmen em suas partes íntimas. Em um dos casos, uma garota nem sabia se havia sido estuprada, depois de participar de festa marcada pela internet. “Por isso, é muito importante preservar a prova técnica. A mulher não deve tomar banho e sim procurar a polícia imediatamente para prestar queixa e fazer exames”, orienta a delegada.

Príncipe vira monstro Criminosos virtuais adotam artimanhas diversas, como promessa de casamento, para conseguir dinheiro e outros bens de mulheres por meio de relacionamento pela internet

Valquiria Lopes



"Foi um grande susto, porque descobri que aquele homem romântico fazia parte de uma máfia que aplica golpes em mulheres no mundo inteiro" - L., de 51 anos, que chegou a acreditar no criminoso
  O medo de descobrir que as doces palavras do Don Juan virtual podem ser uma farsa também faz com que as mulheres resistam antes de procurar a polícia. “O número de vítimas pode ser maior do que os casos que recebemos, porque elas se sentem envergonhadas. Algumas não contam nem mesmo para a família”, explica a delegada titular da 1ª Delegacia de Crimes Cibernéticos, Paloma Kairala. Vítima de um golpe no ano passado, quando perdeu R$ 56,5 mil, a dona de casa  S., de 52 anos, diz não acreditar que caiu na história contada pelo falso engenheiro civil norte-americano James, com o qual chegou a se casar pela internet em menos de dois meses de relacionamento. A dívida, que hoje chega a R$ 90 mil, perturba o sono e ela se viu obrigada a pôr o apartamento à venda para pagar o débito.

“Ele me enviou um convite pelo Skype, começamos a conversar e a namorar. Ele dizia que queria um novo amor, uma companheira para dividir um lar e que viria morar no Brasil. Eu só queria ser amada, queria ter alguém”, conta, ressentida. Nos momentos íntimos do casal, mantidos sempre pelo meio virtual, James prometia amor e afirmava que o que mais queria era estar ao lado dela. Ele  chegou a apresentar a S. uma filha, Emily, de 20 anos, da qual ela ficou amiga.

Os problemas começaram com os primeiros pedidos de transferência bancária. Segundo a mulher, James disse que participaria de uma concorrência para construir 60 prédios no Peru, para onde viajou. De lá, recorri a S. para pagar a emissão e o envio de um documento muito importante para o processo. Foi o primeiro dos muitos depósitos feitos por ela. Em seguida, o golpista e a falsa filha inventaram dramas envolvendo doença, acidentes de carro, coma, falta de dinheiro para pagar diárias de hotel e alimentação.

“Ele me disse que estava passando fome no Peru e que não tinha como voltar para os EUA. Me pedia para salvar a vida da filha, que tinha ido para um safari na África e se acidentou. Um médico de Gana começou a entrar em contato comigo e pedir dinheiro para o tratamento da garota. Eu a tinha como filha e fiz de tudo para salvá-la”, lembra. Todas as despesas seriam pagas com dinheiro de uma herança de James, como ele lhe informou. “Mas a mala, enviada por um diplomata da Inglaterra, havia ficado presa na alfândega no Brasil. Tive que pagar várias taxas para liberá-la. Era tudo uma farsa”, conta.

DOR A partir das histórias mirabolantes, S. começou a entrar numa roda viva de prejuízo e dor. “Peguei dinheiro emprestado onde pude para ajudá-lo. No banco, nas lojas de departamento onde eu tinha crédito, com agiotas, vizinhos e parentes. Minha irmã e meu afilhado me alertaram que era golpe, mas eu não acreditava. Estava me sentindo amada. Não fazia aquilo pelo dinheiro, mas pelo sonho de se sentir querida, ter alguém para me perguntar como foi meu dia, para dormir abraçada, e ele se aproveitou disso”.

S. conta que o golpista não roubou apenas o dinheiro. “Ele roubou meus sonhos. Hoje vivo um pesadelo. Envelheci. Minha pele está envelhecida, meus cabelos ficaram brancos. Engordei e não estou me arrumando.” Um dos maiores dramas que S. ainda vive é a rejeição do pai. “Peguei R$ 7 mil com meu pai e depois o ouvi me chamar de pilantra, parou de me atender ao telefone. Todos acreditaram em mim e eu decepcionei todos”, afirma, aos prantos. Para ela., fica a certeza de que antes de se relacionar com alguém na internet é preciso ter cuidado: “Fiquei cega, não fiz nenhuma busca na internet, nada. Hoje sei que não se pode acreditar em alguém assim”. O desespero chegou ao extremo quando S., sem dinheiro e com as todas as contas atrasadas, começou a passar fome. Orientada pela família, ela procurou a polícia.

SEM SOLUÇÃO O caso é investigado pela Polícia Civil. Um morador de BH chegou a ser rastreado, mas nem ele nem os comparsas estrangeiros foram presos. Em todo o estado, são apenas duas delegacias especializadas em crimes cibernéticos, ambas na capital. Os crimes no interior são apurados nas delegacias de área.
Em BH, os processos se acumulam em pilhas nas salas de dois delegados.

Especialista em direito virtual, o advogado Alexandre Atheniense diz que a legislação evoluiu para punir crimes na rede, depois da aprovação do Marco Civil, que prevê, entre outras medidas, que a vítima solicite diretamente ao provedor a retirada de conteúdo difamatório.


Um falso militar sedutor

Foi por pouco que L., de 51, não caiu no conto do vigário virtual. O falso militar norte-americano Jefferey Willian, como se apresentou, surgiu na vida dela há dois meses, tempo suficiente para tentar lesá-la com pedido de depósitos em contas bancárias no exterior. A aproximação surgiu em um site de conversas. “Ele se mostrou um homem carinhoso, honesto e bem formado. Disse que era viúvo e que tinha um filho de 5 anos, que estava indo servir na guerra da Síria, mas que quando voltasse queria vir ao Brasil para ficar comigo”, lembra.

O golpe começou a tomar forma quando Jefferey perguntou sobre o patrimônio de L., divorciada há 17 anos, que mora com os dois filhos no Bairro São Marcos, na Região Nordeste de BH: “Ele passou a perguntar se eu morava em casa ou apartamento, se  era meu ou alugado, quanto valia”. Ela, então, estranhou. O homem chegou a enviar uma foto falsa dele e do filho. Dizia o tempo todo pelas mensagens na internet que precisava de L. para ajudar a criar o menino.

“Há três semanas, resolvi pesquisar o nome dele na internet e tudo foi desvendado. Foi um grande susto, porque descobri que aquele homem romântico fazia parte de uma máfia nigeriana que aplica golpes em mulheres no mundo inteiro”, conta, decepcionada. Contra os scrammers, como são chamados, já haviam denúncias de transferências vultosas e de muito prejuízo. “Para mim, foi um alívio, mas confesso que o processo é muito sedutor. Graças a Deus, descobri tudo antes.”


PALAVRA DE ESPECIALISTA:
Roberto Chateaubriand domingues, Psicólogo e presidente do Conselho  regional de psicologia

Dependência emocional


O que diz se uma mulher será ou não vítima é a fragilidade dela, o quanto ela se entrega e acredita em histórias fantasiosas para se sentir desejada. As questões de gênero no Brasil estabelecem uma hierarquia que coloca a mulher em um papel emocionalmente dependente do homem, algo que precisa ser enfrentado. Outro motivo é a construção subjetiva da mulher que, quando madura, passa a acreditar que está fora do mercado, que não é desejada, que está fora dos padrões de beleza. Essa mulher cria uma fantasia de que a vida se encerrou e fica cada vez mais susceptível a cair em meia dúzia de palavras românticas. É como se esse homem a trouxesse de volta à juventude e ela faz tudo para manter essa situação, inclusive se desfaz de seu patrimônio e se endivida. E se já era uma mulher fragilizada, ao descobrir o golpe ela vai ao ‘subsolo’. Muitas caem em depressão. Apesar dos casos individuais, a solução para esse tipo de comportamento é coletiva e passa pela valorização pessoal.


CUIDADO
Dicas para evitar ser vítima de crimes na internet


Pesquise sobre a pessoa com que está mantendo contato. Uma simples busca no Google pode revelar se ela está envolvida em crimes
Nunca revele dados pessoais a alguém que você não conheça nem confie, como endereço e dados bancários

Não se deixe levar por histórias dramáticas que resultem em pedidos de depósitos bancários

Compartilhe com um familiar ou amigo que está se relacionando com alguém na internet

Se for marcar encontros, prefira sempre locais públicos e, de preferência, leve um acompanhante

Não aceite que a pessoa vá te buscar em casa, nem dê carona na volta
Não envie fotos íntimas a pessoas desconhecidas, porque o material pode ser publicado na rede e causar sérios danos

Se for a festas marcadas por desconhecidos pela internet, leve acompanhantes e não aceite caronas na volta pra casa
Fonte: Polícia Civil de Minas Gerais

É osso - Falta de cálcio pode levar organismo a atacar reservas do esqueleto

Falta de cálcio pode levar organismo a atacar reservas do esqueleto, causando fraturas e deixando as pessoas dependentes de cuidadores. Necessidade diária é de 1.000 mg ao dia
 

Zulmira Furbino
Estado de Minas: 03/08/2014




A preocupação com a saúde, o bem-estar e a aparência já levou milhões de brasileiros a mudarem radicalmente o seu modo de vida, incluindo na rotina uma alimentação mais saudável e exercícios físicos. Estão na mira dessas pessoas as dietas saudáveis, os exercícios aeróbicos, a musculação e as inúmeras variações sobre o mesmo tema. A ideia principal é fortalecer os músculos e o coração e, com isso, viver mais, melhor e de preferência sair cada vez mais mais bonito na foto. O que a maioria das pessoas esquece, porém, é que a saúde dos ossos é fundamental para alcançar esses objetivos.

Com base no crescimento demográfico, a International Osteoporosis Foundation (OIF) estima que, no Brasil, o número de fraturas por osteoporose – doença que se caracteriza pela diminuição progressiva da densidade óssea e pelo aumento da fragilidade dos ossos – seja multiplicado em mais de cinco vezes, saltando de 124 mil no Brasil para 639 mil ao ano até 2050. “Até 25% dos fraturados morrem no primeiro ano em que sofreram a fratura. Além disso, de cada 100 pessoas que tiveram o fêmur fraturado, 25 vão enfrentar problemas como embolia, pneumonia e infecções decorrentes da própria fratura”, informa Bruno Muzzi Camargos, ginecologista e especialista em densitometria óssea e osteometabolismo. De acordo com ele, entre os que sobrevivem, 50% passam a depender de um cuidador de forma permanente e apenas 20% voltam às atividades normais.

Para evitar esse problema, o melhor caminho é a prevenção. O ortopedista Ildeu Almeida, presidente da regional mineira da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, explica que é importante fazer uma “reserva óssea” desde a infância. “A prática de esportes, aliada a uma vida saudável e à boa alimentação vão determinar a formação de um bom estoque ósseo”, explica. Aqueles que acreditam que não possuem essa “poupança”, devem adotar uma dieta mais rica em cálcio e fazer exercícios físicos porque, do contrário, as perdas de massa óssea serão maiores, o que muito cedo pode levar à osteoporose.

Além dessa mudança de hábitos, o sol ocupa um papel fundamental na prevenção da doença. “As pessoas só se lembram da saúde óssea quando começam a perdê-la. Mas a osteoporose é um mal geriátrico que tem prevenção pediátrica”, explica Camargos. Segundo o especialista, a criança que cresce em frente ao videogame, comendo fast-food e tomando refrigerante é uma forte candidata a sofrer de osteoporose depois da idade adulta. “Exercício físico, cálcio e vitamina D são as coisas mais importantes para a manutenção da saúde óssea”, define. Para garantir o estoque de vitamina D no corpo por uma semana, basta tomar sol em cerca de um terço do corpo (as duas pernas ou os dois braços, por exemplo) por 20 minutos, sem protetor solar. No caso de contra-indicações, como risco de câncer de pele, é possível ingerir a vitamina em gotas.

Junto com o cálcio e os exercícios físicos, a vitamina D forma o tripé essencial para que se possa ter ossos saudáveis. “Não adianta cálcio sem vitamina D. É um casamento. O cálcio é o ator principal e a vitamina D possibilita a entrada dele na corrente sanguínea”, explica Bruno Camargos. Com a vitamina D, o intestino aproveita melhor o cálcio ingerido por uma pessoa. Além de fortalecer os ossos, o cálcio também é responsável pelo bom funcionamento dos músculos, inclusive o coração e o diafragma, e até pelos impulsos nervosos do cérebro. Na falta dele, o organismo tira o cálcio das reservas que se encontram no esqueleto. “O esqueleto é a nossa poupança de cálcio e a alimentação é a nossa conta corrente”, compara o médico.

A necessidade de ingestão diária de cálcio é de 1.000 miligramas ao dia, mas conseguir atingir a meta não é nada fácil. Um copo de leite contém 250 miligramas (mg) de cálcio, meio prato de couve 80 mg e uma fatia de queijo Minas do tamanho de uma caixa de fósforos 250 mg. Ou seja: não é simples suprir nas necessidades diárias desse elemento num só dia. Para facilitar a vida de quem precisa ingerir mais cálcio, a indústria de laticínios já lançou produtos fortificados como iogurtes, que concentram 500 mg de cálcio numa só porção. “Nenhum preparador físico ou nutricionista recomenda uma dieta pobre em cálcio porque a falta dele dificulta a queima da gordura. O cálcio é importante para todas as funções bioquímicas do corpo”, resume.

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2008 e 2013 houve um aumento de quase 30% nas fraturas de fragilidade em idosos. Foram 67.664 em 2008 e 85.939 em 2013. Hoje, o Brasil possui cerca de 14,9 milhões de pessoas idosas, o equivalente a 7,4% do total da população. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no país deve atingir a marca de 58,4 milhões em 2060. Neste período, a expectativa de vida também deve aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos.

Dependendo do grau de saúde do osso, é importante a avaliação médica especializada. “De acordo com o grau de perda óssea, existem medicamentos de uso oral, nasal, venoso ou subcutâneo. As medicações avançaram muito. Antes o paciente tinha que tomar um comprimido diário, hoje pode ser um por semana, um por mês ou uma dose venosa anual”, diz. Na questão ortopédica, o avanço do tratamento das fraturas conta com instrumentais específicos para ossos frágeis, como é o caso da placa de ângulo fixo desenvolvida especificamente para ossos osteoporóticos. “Trata-se de uma placa com parafuso, que envolve não só o osso, mas a própria placa”, explica Ildeu Almeida.

ENQUANTO ISSO...
Congresso em tiradentes

Ortopedistas de todo o país reúnem-se de 14 a 16 de agosto, no 19º Congresso Mineiro de Ortopedia e Traumatologia, em Tiradentes, na região Central de Minas. O evento, organizado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia/Regional Minas Gerais, tem o objetivo de debater, entre outros temas, a atualização no tratamento da osteoartrose, inovações na abordagem das infecções osteoarticulares e os avanços recentes no trauma ortopédico. Serão 70 palestras de 12 subespecialidades ortopédicas (trauma, coluna, ombro, mão, quadril, joelho, pé/tornozelo, pediátrica, oncologia, osteometabólica, alongamento/ reconstrução e medicina esportiva) e 21 mesas redondas com discussão de casos reais de maior complexidade e de alta relevância no treinamento dos especialistas.


Cálcio

O que é
Importante mineral que o organismo precisa para realizar grande número de funções
para que serve
n formação e manutenção de ossos e dentes
n coagulação do sangue
n transmissão de impulsos nervosos
n regulação do ritmo cardíaco

Como acontece a absorção  pelo organismo

Cerca de 99% do cálcio presente no corpo humano está armazenado nos ossos e dentes, enquanto apenas 1% circula pelo sangue e em outros tecidos. O organismo realiza suas funções vitais obtendo cálcio de duas maneiras: pela alimentação ou retirando-o dos ossos
Diariamente, ocorre pequena perda de cálcio pela urina. É importante repor essa perda por meio da alimentação
O cálcio presente em diversos alimentos é absorvido pela parede do intestino delgado
Para que ocorra uma adequada absorção, é necessária a presença da vitamina D3, que só se faz presente no organismo com a exposição do indivíduo aos raios solares ou com a adoção de uma alimentação rica em fontes dessa vitamina

Os campeões

Amêndoas: 1/3 de xícara contém 50 miligramas
Melado escuro: 1 colher de sopa contém 137 miligramas
Alga hijiki seca: 1/4 de xícara contém 162 miligramas
Hummus (pasta árabe de grão de bico): 1/2 xícara contém 81 miligramas
Quinua (cereal andino): 1 xícara contém 50 miligramas
Tahine (pasta de gergelim): 2 colheres de sopa contêm 128 miligramas
Tofu: 1/4 de xícara contém 430 miligramas
Alga wakame seca: 1/4 de xícara contém 104 miligramas

Pluralidade da cozinha de MG‏

Descoberta do ouro atraiu gente de todo o país e de Portugal

Ilmar de Jesus

Estado de Minas: 03/08/2014



A culinária mineira é sinônimo de tradição e pluralidade. As receitas passadas de geração em geração contam com rico cenário típico. Além das montanhas do estado, o fogão a lenha e as linguiças ou carnes penduradas sobre o fogão fazem parte da paisagem. Os quitutes e quitandas, presentes nos 853 municípios mineiros, rendem boas histórias, resgatando as lembranças da época remota do Ciclo do Ouro, que estimulou o encontro de diferentes culturas. A diversidade da cozinha mineira é reconhecida nacional e internacionalmente, com a realização de eventos ligados ao setor.

Conforme pesquisa realizada em 2012 pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur), 22% dos entrevistados responderam que, quando pensam em Minas Gerais, logo associam o estado à gastronomia. Em segundo lugar, ficaram as montanhas, 18%, seguidas por paisagens, 9%. A simplicidade e o sabor da culinária deram espaço para que a cozinha se tornasse mais que um ambiente para servir refeições, sendo considerada como um espaço propício para as conversas e a integração das pessoas. Nesse cenário, broas, pão de queijo, tutu, doce de leite e frango com quiabo, entre outros pratos, se tornaram ainda mais apreciados. A riqueza da gastronomia se tornou uma atração estadual para o turista nacional e internacional. Durante todo o ano, são promovidos diversos eventos gastronômicos e festivais com pratos típicos de cada região. A culinária mineira já recebeu convites para representar o Brasil em eventos internacionais, participando de encontros como o 11º Congresso Internacional Gastronômico Madri Fusion, principal evento da gastronomia mundial, e a Feira de Livros de Frankfurt. A tradição da cozinha mineira teve início durante o século 18, quando o Brasil viveu o Ciclo do Ouro. A descoberta de ouro e diamantes em Minas Gerais atraiu pessoas de diferentes regiões brasileiras e do exterior, como portugueses, interessados em ganhar dinheiro com o garimpo. O aumento do fluxo de residentes em Minas, que ainda era habitado por índios e escravos, estimulou a criação de pequenas hortas e pomares com alimentos de fácil cultivo, como mandioca, couve, milho, taioba, feijão, inhame e abóbora. Os animais de pequeno porte e com baixo custo para criação, como o porco e a galinha, também eram criados para alimentação.

A união dessas diferentes culturas deu origem a novas receitas, que, hoje, são reconhecidas internacionalmente. Das tribos indígenas, por exemplo, surgiram receitas de escaldado, pirão, farofas, pratos à base de mandioca e de milho, ingredientes básicos para as canjicas, mingaus e papas. Os portugueses ensinaram a utilizar o ovo de galinha e a servir sobremesas, com a criação de doces com elementos típicos do Brasil, como amendoins e castanhas nativas, bananas, cajus, araçás e ananases. Já dos escravos, foi herdada a rapadura com farinha, entre outros. Por meio dos sabores presentes nos pratos típicos de cada município de Minas é possível conhecer e resgatar a história de cada região. O reconhecimento dessas receitas é primordial para valorizar e perpetuar a cultura do estado.