domingo, 27 de julho de 2014

MARTHA MEDEIROS - Uma blusa e uma amizade

Zero Hora 27/07/2014

Eu estava na cidade dela, não na minha, e sendo visita acatava as sugestões de tudo: onde almoçar, o que ver, o que fazer. Não que eu fosse uma estrangeira naquele lugar, pelo contrário, era uma das capitais em que mais estava quando não estava em Porto Alegre, seguia meus próprios rituais quando andava sozinha por suas alamedas, já tinha preferências sedimentadas, mas desta vez caminhava ao lado de uma amiga nova e nativa, e que, com um entusiasmo de anfitriã, apontava o que eu deveria enxergar com os olhos dela, não com os meus.

Foi então que passamos por uma loja de calçada, uma butique com uma atmosfera oriental, que ela apresentou como seu local preferido para comprar túnicas, pantalonas, roupas exóticas e coloridas. “É a tua cara, Martha, vamos entrar.” Entramos feito duas arqueólogas em busca de alguma raridade, até que ela garimpou uma blusa entre tantas, linda de fato. “Experimenta!” Obediente, fui para o provador e vesti a blusa que era três vezes o meu tamanho e custava três vezes mais do que meu orçamento permitia. “Vou levar”, anunciei.

Minha nova amiga ficou alegre e segura com a comprovação do quanto já me conhecia. “Tinha certeza de que você iria amar essa loja.” Aquela loja que ela julgava a minha cara, e que até era, ainda que “cara” fosse palavra incompatível com meus sonhos de consumo.

Isso foi quando? Uns seis anos atrás, talvez sete, talvez oito.

Depois disso, ficamos mais e mais amigas, mas nunca usei a blusa. Inúmeras vezes a coloquei, tirei, coloquei de novo, tentei combinar com calça, com saia, experimentei por cima do biquíni, até pensei em usar para dormir, aí lembrei do preço, não, para dormir não. Recolocava no armário e a deixava pendurada no cabide, aguardando a oportunidade que toda mulher acredita que virá, mas que para aquela blusa não veio.

Esta semana, arrumando gavetas, separando peças para doação, peguei a blusa e pensei: “Chegou tua hora”. Não era a primeira vez que me preparava para dar adeus a ela, mas relutava feito um amor que a gente sabe que não serve, mas que se ilude que um dia, por milagre, se transformará no nosso número. Só que as coisas não mudam apenas porque queremos que mudem. A linda blusa morou em minha casa por um tempo demasiado devido a minha fé e romantismo, mas havia chegado o momento de seguir o seu destino.

Dobrei-a com carinho e a coloquei numa sacola junto a camisetas gastas e a jaquetas puídas. Misturei a blusa virgem junto a peças veteranas, ela que também já não aparentava ser muito nova, ainda que sem uso. E lá se foi ela, intocada, sem meu cheiro. A blusa que comprei apenas para vestir uma amizade ainda nua.

TEVÊ

TV paga 
 
Estado de Minas: 27/07/2014


 (Gabriel Boieras/Divulgação )

Música O violonista, compositor e arranjador paulista Ricardo Herz é o artista da vez nos programas Passagem de som e Instrumental Sesc Brasil, exibidos em sequência hoje, às 21h, no SescTV. Ele vem com seu trio, que fica completo com Pedro Ito (bateria e percussão) e Michi Ruzitschka (violão de sete cordas). No canal Arte 1, mais duas boas pedidas: Kaya N’GanDaya, com Gilberto Gil, às 18h30; e a biografia de Maria Callas, às 22h.

Maratona A série de animação Os Simpsons já vai superar os 500 episódios e o canal Fox celebra o aniversário da produção mais longa da televisão com uma maratona especial, com cinco episódios consecutivos, hoje, a partir das 20h. Numa história Bart faz com que o diretor Skinner seja despedido, em outra Homer concorre a uma eleição, mais adiante Marge é assaltada, Homer vira notícia ao comprar um sorvete e a família finalmente é despejada de Springfield. Um turbilhão só!

Adrenalina Outra série que merece a atenção especial do assinante é The americans – Rede de espionagem, mas pena que está encerrando o primeiro ano, hoje, às 23h, no FX. Em “The Colonel”, último episódio da temporada, Philip e Elizabeth recebem ordens de seguir adiante com um encontro que poderia ser uma armadilha e acabam enfrentando inesperadas verdades sobre seu relacionamento. Enquanto isso, a investigação de Stan coloca ele e o FBI mais perto de Philip e Elizabeth. Ah, a boa noticia é que a segunda temporada estreia já no domingo que vem.

 (GNT/Divulgação)

CHEF Na Fox Life, mais uma maratona com quatro episódios de Kitchen nightmares, a partir das 17h30. O chef Gordon Ramsay vai tentar salvar os restaurantes La Frite, de Sherman Oaks, e o Capri, de Eagle Rock, ambos na na Califórnia; o Zeke's e o Oceana, de Nova Orleans.

Questão de fé De acordo com o evangelho de São Mateus, uma estrela teria guiado os reis magos ao menino Jesus. O episódio “Estrela de Belém”, que vai ao ar hoje, às 21h, na série O universo: mistérios revelados, do canal Bio, examina quase 20 séculos de teorias sobre que tipo de fenômeno ela teria sido. As especulações relacionam o avistamento a meteoros, novas, supernovas e cometas que teriam aparecido sobre a Terra naquela noite.



De olho na telinha
Simone Castro
Estado de Minas: 27/07/2014


Como Zelão, Irandhir Santos rouba a cena, diverte e emociona (Renato Rocha Miranda/TV Globo-3/6/14)
Como Zelão, Irandhir Santos rouba a cena, diverte e emociona
Ele é o cara

Meu pedacinho de chão (Globo) entra em sua última semana de exibição e vai deixar saudades por vários motivos, entre eles um para lá de especial que é a participação de Irandhir Santos, o ator que dá vida ao encantador Zelão. O personagem, rústico, diverte, faz pensar e também emociona. O ator rouba a cena e brinda o telespectador com uma interpretação cativante como poucas.

Na grande magia, com concepção do diretor Luís Fernando Carvalho para a trama de Benedito Ruy Barbosa, o capataz Zelão, no início um homem bruto, analfabeto, que só sabe se fazer ouvir quando intimida com o seu revólver na cintura, sofre uma transformação intensa quando conhece a professorinha Juliana, de Bruna Linzmeyer – também em um ótimo trabalho –, por quem se apaixona à primeira vista.

Moldado em pedra bruta, é como se Zelão fosse sendo lapidado aos poucos. Primeiro, o cabra sofre, sofre, porque não consegue se comunicar com a amada. Aquele amor o sufoca, aperta o peito, ao mesmo tempo em que o liberta, abre seus olhos para um novo mundo. Um dos grandes momentos da novela – e Zelão protagonizou vários – é quando aquele homem, macho até dizer que chega, dá o primeiro passo para o seu grande voo.

Zelão pede ao garotinho Lepe (Tomás Sampaio) que o ensine a ler e a escrever. Antes, envergonhado, recusou-se a frequentar a turma de adultos na escola de Juliana. Não queria que ela descobrisse seus “segredos”: além da ignorância quanto às letras, também o seu enorme sentimento. Zelão chegou até a confiar no amigo Rodapé (Flávio Bauraqui), que o enganou dizendo saber escrever, para criar uma cartinha de amor para a sua professorinha, porém sem se identificar. Mas, bonito mesmo foi quando ele, de próprio punho, compôs a tão desejada missiva.

Juliana acabou fisgada por Zelão. E são antológicas as cenas em que ele corta o cabelo, troca o figurino e assume atitudes de civilidade para encantar sua amada. Outro ponto alto do personagem foi quando Juliana revela que também o ama. A emoção tomou conta do capataz e também do público.

O pernambucano Irandhir Santos estreou na TV na microssérie A pedra do reino (Globo), em 2007, dirigida por Luís Fernando Carvalho, na qual interpretou Dom Pedro Diniz Quaderna. Com relação mais próxima do cinema – já fez mais de 20 filmes entre longas e curtas-metragem –, Irandhir voltou à TV no início deste ano, na minissérie Amores roubados (Globo), em que encarnou João da Silva, pau-mandado de Jaime (Murilo Benício). E deu um tremendo show! Agora, em grande estilo, nos presenteia com o arrebatador Zelão. Tomara que o grande Irandhir Santos tenha tomado gosto pela TV.

PLATEIA

VIVA


Tony Ramos, como Carlos Braga, em O rebu (Globo), mais uma vez toma conta da telinha com seu enorme talento. Não é por acaso a empatia com o público em todos esses anos de carreira.

VAIA

Ao final do Jornal nacional (Globo), William Bonner anuncia a “história de superação de um homem”. Parecia notícia, mas era apenas a chamada para a estreia da novela Império. Pegou mal.

Caras & Bocas
Simone Castro - simone.castro@uai.com.br





Garota do bem
Deborah Secco (foto) retorna à TV em Boogie oogie (Globo), trama que vai substituir Meu pedacinho de chão (Globo) a partir de 4 de agosto. Ela vai interpretar Inês, uma comissária de bordo que consegue aumentar a renda vendendo no Brasil toda sorte de bugigangas que traz dos Estados Unidos. Além de preciosidades, como as últimas novidades musicais internacionais. No núcleo de Inês estão os personagens dos atores Francisco Cuoco, Flávio Boliveira, Alessandra Negrini, Betty Faria, entre outros. “Ela é muito bacana, amiga, preocupada com o pai (Vicente, vivido por Cuoco) e com a família. É superprotetora, boazinha demais. Estou superfeliz com mais um personagem. O bom do ator é poder brincar de ser várias pessoas numa vida só. Sempre quis ser várias em uma. Viver em outras décadas, ter várias personalidades”, comentou, durante lançamento da novela, há alguns dias, no Rio de Janeiro. A trama de Boogie oogie se passa nos anos finais da década de 1970. Inês é independente, de espírito livre e se mostrará mais moderna do que outras mulheres da história. Casar e formar uma família, como é o desejo da maioria de suas amigas, não é sua prioridade. A jovem divide o apartamento com Tadeu (Boliveira), um grande cúmplice. Já com Cuoco, a atriz deverá viver momentos de humor. O aposentado não é das pessoas mais fáceis. Rabugento e de saúde frágil, costuma implicar até com a cor dos comprimidos e, cuidadosa, Inês pega mesmo no pé do pai. Os conflitos serão uma constante, mas deverão render cenas divertidas.

VRUM MOSTRA ENCONTRO  DE MOTOS EM TIRADENTES

O Vrum deste domingo, às 8h30, no SBT/Alterosa, desmonta alguns hábitos do passado que devem mesmo ser esquecidos na hora de dar um trato nos automóveis. É que com os avanços tecnológicos, muita coisa mudou. A atração mostra também que a cidade histórica de Tiradentes virou palco de um grande encontro de motos antigas e modernas. Confira, ainda, o lançamento do renovado Renault Sandero, que está de visual e motor novos, e o teste do Peugeot 3008 2015, um crossover muito interessante.

MAIS VOCÊ ANUNCIA MAIS UMA EDIÇÃO DE ‘SUPERCHEF’

Está marcada para setembro a próxima edição do “Superchef”, reality de culinária do Mais você (Globo), que reúne famosos. Em 2013, o vencedor foi o ator Sidney Sampaio. No ano anterior, foi a vez do também ator Max Fercondini. Para a nova temporada, o único nome confirmado é o da atriz Monique Alfradique, que participou da edição do ano passado. Ainda não saiu a lista dos demais participantes.

SBT LANÇA NOVA ATRAÇÃO  SOBRE O MUNDO ANIMAL

O SBT/Alterosa vai exibir um novo programa dedicado ao mundo animal. Ainda sem data marcada, a atração deverá ter formato internacional. Um piloto já foi produzido e entre apresentadoras testadas para estar no comando estão Maísa Silva e Luísa Mell. Vale lembrar que a atriz é cria da casa e já esteve à frente de, entre outros, o Bom dia & cia. Já Luísa, apresentou por muito tempo o Late show, na RedeTV!, com a temática animal.

CANAL VIVA TRAZ DE VOLTA  A FAMÍLIA DINOSSAUROS

A divertida série Família dinossauros, que bombou nos anos 1990 no Brasil, será reprisada, a partir de agosto, no canal Viva (TV paga). Exibida pela Globo, SBT e Band, por aqui, o clã da produção da Disney, numa parceria com a Jim Henson Productions, se transformou na família Silva Sauro, mas mantinha a sátira dos costumes da sociedade norte-americana da época. E os humanos eram os animais selvagens e irracionais. A família era da pesada: pai Dino, mãe Fran e os filhos Bobby, Charlene e Baby, além da vovó Zilda. Baby era o xodó de todos e também do público, com seus ótimos bordões “Não é a mamãe” e “De novo, de novo”.

GLOBO PRODUZ REMAKE DE QUEM AMA NÃO MATA

A microssérie Felizes para sempre, escrita por Euclydes Marinho, vai estrear em janeiro na Globo. Dirigida por Fernando Meirelles, é um remake da minissérie Quem ama não mata, também de Marinho, exibida na emissora em 1982. A trama foi baseada em crimes passionais reais e famosos ocorridos entre os anos de 1970 e 1980. Na época, grupos feministas tinham como slogan “Quem ama não mata”, protestando contra mulheres que eram mortas por seus próprios companheiros. Na minissérie, a dona de casa Alice (Marília Pêra) acabava assassinada pelo marido, o dentista Jorge, vivido por Cláudio Marzo. O fio condutor da microssérie Felizes para sempre será mantido com as devidas atualizações. O elenco ainda não foi definido.

CANTORA ANITTA GARANTE QUE NÃO TEM EGO INFLADO

Dona do hit Show das poderosas, com a qual iniciou sua carreira, a cantora Anitta é a convidada de Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, ela ainda não tem uma mansão, sequer casa própria. Ela explica o motivo. “Não comprei uma casa ainda porque o mercado não está no melhor momento”, afirmou. Ela também revelou: “Cuido da vida financeira da minha família inteira. Conheço-os o suficiente para saber que eles não se aproveitariam de nada”. Com novo trabalho, o DVD Meu lugar, a cantora avalia que “hoje as pessoas já me recebem com outros olhos”. E acrescenta: “Hoje consigo fazer vários tipos de show para diferentes tipos de público”, contabilizando ainda os fãs-clubes que diz ter entre as senhoras da terceira idade. Sobre beleza, Anitta, que foi bombardeada negativamente por conta de uma cirurgia plástica no nariz, comenta: “Vaidade e ego são coisas que não andam comigo. Fiz a cirurgia porque tive um problema hormonal e meus seios tinham crescido muito. A cirurgia do nariz foi uma desobstrução”. Se o sucesso que tem feito hoje como cantora pode ser efêmero, só o tempo dirá. Mas se depender de Anitta, existem outras cartas na manga, já que admite a vontade de atuar. “Ser atriz é um desafio que estou começando a viver”, entrega.

Nas ruas da memória - Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 27/07/2014 


O romance Hilda Furacão, de Roberto Drummond, pode ser lido como uma espécie de guia para se conhecer a BH dos anos de 1950 até 1964, quando termina a história do livro, com a chegada dos militares ao poder e o fim da democracia no país.

Dos tantos lugares e entidades citados pelo escritor, que nasceu na cidade de Ferros, no Vale do Rio Doce, mas veio ainda bastante jovem para a capital mineira, um deles é o mítico Mocó da Iaiá, misto de bar e restaurante que ficava na Rua Carijós esquina com Curitiba e era ponto de encontro de jornalistas e intelectuais. Segundo Arnaldo Viana, colega do jornal, que chegou a frequentar o pedaço quando dava os primeiros passos na profissão, o dono do estabelecimento se chamava Silveira.

Drummond conduz o leitor ao mítico Montanhês Dancing, cabaré que ficava na Rua dos Guaicurus, dirigido com “toda moral” pela espanhola Olympia Vásquez García. Frequentado por políticos conhecidos, coronéis do interior e tantos mais, até o cineasta Orson Welles esteve por lá quando da sua passagem por BH. Corre a lenda que lá pelas tantas, depois de ter tomado umas e outras, dirigindo-se meio trôpego para o hotel, o diretor de Cidadão Kane teve vontade de urinar. Como não achou um banheiro, aliviou-se no tronco de uma árvore, entre a Avenida Santos Dumont e Rua Rio de Janeiro. Para fãs do cineasta, a árvore deveria ser tombada.

Daquela região boêmia, que ainda pulsa na cidade, com a prostituição a correr solta, o romancista não deixou de citar hotéis conhecidos de encontros íntimos, como o Brilhante e o Maravilhoso. Foi por aqueles lados que Hilda Furacão, a Garota do maiô dourado, que frequentava o Minas Tênis Clube, onde causava frenesi, se tornou ainda mais desejada, depois de chutar o balde e virar prostituta. No mesmo clube, outras vezes lembrados no livro, existiam as famosas “missas dançantes”, que nos domingos pela manhã eram a sensação de rapazes e moças. A última coisa na qual pensavam era rezar.

Os jornais da época, pelos quais os belo-horizontinos ficavam sabendo das últimas, são citados em Hilda Furacão. Do Estado de Minas, já naquele tempo o mais importante do estado, são lembrados os famosos editoriais do montes-clarense Hermenegildo Chaves, mais conhecido por Monzeca. Também estão lá o Diário de Minas, do governador Magalhães Pinto, e o Última Hora. Sem se esquecer do combativo Binômio, que era dirigido por José Maria Rabelo e Euro Arantes e que foi fechado pela ditadura. Na Revista Alterosa, outra publicação da época que faz parte da história, Drummond conheceu o cartunista Henrique Filho, então um iniciante no jornalismo. O nome Henfil – Hen, de Henrique, e Fil, de filho – foi dado pelo autor de Hilda Furacão.

Hotéis conhecidos então, como o Grande Hotel, que ficava onde hoje é o Edifício Maletta, na Avenida Augusto de Lima, e o Financial, que ainda está na Avenida Afonso Pena (o dono era o empresário Antônio Luciano, também personagem do livro), foram imortalizados no romance. Era neste hotel, que tantas vezes hospedou o presidente JK e outras personalidades da época, que também morava Aramel, o Belo, personagem do livro.

O Convento dos Dominicanos, na Rua dos Dominicanos, no Bairro da Serra, Zona Sul da capital, abrigava as angústias de Frei Malthus, personagem inspirado em Frei Betto, amigo e companheiro de geração de Roberto Drummond.

Ah!, devaneios dos devaneios… Roberto  não se esqueceu de imortalizar em seu livro a Serra do Curral. Em seus contrafortes, um grupo de românticos sonhadores, do qual fazia parte o próprio romancista, chegou a pensar em criar um foco de guerrilha, para lutar contra a ditadura. “Ela será a nossa Sierra Maestra”, bradavam entre um copo e outro de cerveja.

EM DIA COM A PSICANáLISE » Quem somos nós?‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Quem somos nós?
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 27/07/2014


“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,/ que já têm a forma do nosso corpo,/ e esquecer os nossos caminhos,/ que nos levam sempre aos mesmos lugares./ É o tempo da travessia:/ e, se não ousarmos fazê-la,/ teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” (Fernando Pessoa)

E será que não vivemos à margem de nós mesmos sempre? Como saber se nossas escolhas e decisões são mesmo feitas de acordo com nosso desejo mais íntimo, se não somos apenas joguetes impulsionados por um cérebro cujas reações físico-químicas comandam mais do que jamais suspeitamos?

Essa é a certeza dos fisicalistas que acreditam que o cérebro comanda totalmente o comportamento. E muitos médicos e tantas pessoas acreditam nisso. Para estes, o livre-arbítrio é pura balela. O livro de Eduardo Giannetti, A ilusão da alma. Biografia de uma ideia fixa (Companhia das Letras, 2010), expõe a discussão da relação mente-cérebro. Ele sobreviveu a um tumor cerebral e relata como se tornou um fisicalista numa narrativa cativante.

O livro traz exemplos de alterações de comportamento e do surgimento de certas taras e bizarrices em paciente com tumores cerebrais que, extirpados, devolvem o doente a seu estado de equilíbrio. Mas será que isso prova que somos apenas resultado de processos cerebrais?

Na psicanálise também não acreditamos em livre-arbítrio. Não por sermos fisicalistas, mas porque acreditamos ser dirigidos por uma ficção inconsciente da qual nada sabemos. Vivemos alienados sobre nós mesmos.

Somos dotados de um inconsciente e pouco sabemos sobre o que nos move. Nossas escolhas são feitas fora da consciência. Podemos viver ignorando o próprio desejo e nossa verdade mais íntima. As análises nos surpreendem e reposicionam.

Nosso romance familiar é o cenário em que estamos mergulhados e o interpretamos conforme nossa visão infantil. Deduzimos nossa posição subjetiva do que vivemos em relação a nossos pais. Como disse Giannetti, o intelecto odeia vácuos, precisamos de explicações e as criamos.

Nem sempre como sujeitos. Crianças estão assujeitadas ao outro e alienadas do desejo desse outro. E nessa alienação permanecemos sem nem sequer suspeitar. Mais tarde, os sintomas apontarão o descentramento radical entre nosso eu e o sujeito do inconsciente que nos habita.

A crença no que somos vem da nossa criação frente à angústia do real. Um real que é ido. É real porque ocorreu e nunca antes ou futuramente. Fazemos a ficção de nossa vida e ela é muito mais uma “fixão”, com x, porque nos obtura num sentido cego, tudo estará contaminado por ela. Então, podemos dizer que temos livre-arbítrio?

Não! Passamos a vida acreditando nas nossas fantasias infantis, das quais nem sempre nos damos conta conscientemente, até que façamos uma análise a partir do mal-estar que advém dessa posição alienada.

Porque o mal-estar vem do sintoma, que nos leva à pergunta sobre quem somos e o que queremos. Por que me sinto mal? O que ocorre comigo? A divisão subjetiva é inegável: consciente e inconsciente. Eu e o que ignoro de mim.

O filme Cria cuervos, de 1976, dirigido por Carlos Saura, mostra as reflexões de uma mulher triste, depressiva. Quando criança, deseja livrar-se do padrasto para ter a atenção exclusiva da mãe. Um dia, numa limpeza na casa, a mãe lhe dá um envelope com um pó branco e diz: “Cuidado, joga fora que isso é veneno”.

Claro, a criança guardou e, ao levar um copo de água para o padrasto, dissolveu a substância na água. Era bicarbonato. Mas ela acreditava ser veneno. O padrasto morreu naquela noite de um infarto, deixando a criança para sempre culpada e melancólica por um crime inconfessável.

Como conclusão do processo analítico, encontramos novas posições possíveis se deixamos cair as “fixões” para, como sujeito, conhecer um pouco mais sobre o desejo, e isso nos faz crer que não começamos e terminamos apenas em reações bioquímicas. Eu recomendo. O filme, o livro e análise.

Revolução terapêutica

Revolução terapêutica 
 
Pacientes com hepatite C aguardam a chegada de medicamentos que vão deixar o tratamento mais eficaz, rápido e com menos efeitos colaterais. Diagnóstico tardio é um grande problema
Carolina Cotta
Estado de Minas: 27/07/2014


Este ano, o Dia Mundial de Alerta para as Hepatites, celebrado amanhã, tem um significado especial. Uma revolução no tratamento é esperada com a entrada de novos medicamentos no mercado. Já adotados nos Estados Unidos e aguardando aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), eles vão encurtar o tratamento de 48 para 12 semanas (ou 24 em casos mais graves); aumentar a eficácia de 70% para mais de 90%; acabar com a necessidade de injeções semanais e diminuir, consideravelmente, os efeitos colaterais.

Atualmente, o tratamento adotado no Sistema Único de Saúde (SUS) é caro, longo, de eficácia limitada e desencadeador de muitas reações adversas no paciente. Segundo o gastroenterologista e hepatologista João Galizzi Filho, outra mudança importante do novo modelo terapêutico é que esse não precisará, necessariamente, ser acompanhado por um especialista. Com a simplificação, os clínicos gerais que atuam nos postos de saúde poderão prescrever o tratamento, hoje feito por hepatologistas, gastroenterologistas e infectologistas.

O HCV, vírus causador da hepatite C, tem diferentes genótipos. Os principais no Brasil são o 1 (mais resistente ao tratamento e responsável por 70% dos casos), o 2 e o 3 (de menor prevalência e mais fáceis de ser tratados). O tratamento realizado no Brasil para o tipo 1 combina três medicamentos: interferon peguilado (um imunomodulador aplicado por injeção subcutânea, uma vez por semana), ribavirina (comprimidos diários que, em função do peso do paciente, podem chegar a quatro ou cinco) e inibidores de protease (pode ser o telaprevir ou o boceprevir).

Esses inibidores, que atuam sobre enzimas essenciais para a replicação do vírus no organismo, são usados há pouco mais de quatro anos e já foram responsáveis por elevar as chances de cura. O telaprevir é usado por apenas 12 semanas; o interferon e a rivabirina, por 48. Segundo Galizzi, os efeitos colaterais mais comuns são perda de peso, falta de apetite, anemia, baixa de leucócitos e/ou plaquetas e, por vezes, uma reação cutânea que pode ser intensa e grave, levando alguns pacientes a interromper o tratamento. “Além de sofrido, é necessário acompanhamento médico cuidadoso, às vezes com consultas médicas quinzenais”, explica.

Importação cara As novas opções também atuam inibindo as enzimas. Segundo Enrico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, enquanto o simeprevir é um inibidor de protease de segunda geração, com menos efeito colateral e mais potência em relação aos de primeira geração, o sofosbusvir é de outra classe de medicamentos: um inibidor da enzima polimerase. A combinação dos dois prescinde do uso de interferon, que é o principal causador dos efeitos colaterais.

Esses dois já são adotados nos Estados Unidos e por medida judicial podem ser importados por pacientes brasileiros, mas o valor, segundo Edison Parise, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, pode chegar a R$ 450 mil. Outros medicamentos na mesma linha estão em fase final de aprovação das agências reguladoras americana e europeia e podem, por causa da concorrência, pressionar uma baixa nos preços. Como todo tratamento é via SUS, espera-se uma negociação com o Ministério da Saúde, possível único comprador.

Segundo o hepatologista Raymundo Paraná, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a maioria dos pacientes brasileiros, mesmo os privados, fazem o tratamento no SUS, que fica sobrecarregado. Com status de tratamento inovador, classificação que agiliza a aprovação, outra promessa é um tratamento que combina três compostos, de diferentes mecanismos de ação. “Os estudos mostraram eficácia entre 92% a 100%, com taxa de abandono muito baixa, entre 0,6% a 2%”, adianta José Eduardo das Neves, diretor médico da Abbvie, laboratório que desenvolveu o modelo.

Sinais demoram a aparecer

Ao entrar no organismo, o vírus HCV gera uma hepatite C aguda, que pode ou não ter sintomas. Esses podem, inclusive, ser bem parecidos com os de uma virose qualquer. “Nem todos ficam com o olho amarelo, como imagina a população. Essa ausência de alerta é outro motivo que reforça a importância de se fazer o exame.” Cerca de 20% dos infectados consegue eliminar o vírus, pela ação do sistema imunológico. Os outros 80% vão desenvolver a hepatite C crônica, doença arrastada que pode levar de 25 a 30 anos para dar o primeiro sinal.

Durante a evolução da doença, mais lenta em mulheres e jovens, o vírus lesiona o fígado progressivamente. Oitenta por cento dos pacientes com hepatite C crônica não desenvolvem uma inflamação importante, mas 20% terão cirrose, que, já em 2005, era a oitava causa de morte entre homens no Brasil. A hepatite C é a segunda causa de doença crônica do fígado no Brasil, perdendo apenas para o álcool. Cinquenta por cento dos transplantes de fígado e 70% dos casos de câncer de fígado são consequências da hepatite C.

 O desafio é o diagnóstico: mais de 90% não sabem que têm a doença, que tem cura. “Pacientes na fase leve, quando tratados, têm sobrevida igual à da população geral e mesmo nos pacientes cirróticos ou pré-cirróticos é possível eliminar o vírus e praticamente estabilizar a doença”, explica Parise. Como se pega é outro estigma. Só 6% da transmissão é sexual. Mais de 50% dos casos vêm de transfusão de sangue e compartilhamento de material perfurocortante. Hoje há mais cuidados, em função do avanço da Aids. O problema é que muita gente foi infectada há mais de duas décadas.

LESÕES A discussão de métodos não invasivos para estadiamento de fibrose hepática em diversas doenças do fígado, substituindo a tradicional biópsia, foi um dos destaques do Congresso Hepatologia do Milênio, encerrado sexta-feira, em Salvador. O diagnóstico da hepatite C é feito por exame de sangue específico, o anti-HCV. Se positivo, a confirmação ocorre por um teste mais direto, o PCR, que dosa a proteína do vírus no sangue. Já a lesão que a doença provoca no fígado pode ser medida por exames de sangue que dosam as enzimas transaminases (TGO e TGP), ultrassonografia de abdome e a biópsia, por meio de punção por agulha.

Segundo Galizzi, nos últimos anos estão sendo desenvolvidos métodos não invasivos, como exames de sangue com marcadores biológicos e outros baseados em métodos de imagem, caso do Fibroscan, ARFI e outros. “Eles tentam detectar e estagiar a fibrose e o grau de evolução da doença, permitindo que se prescinda da biópsia em até 70% dos casos. Já estão disponíveis no Brasil, porém com limitações. O mais eficaz deles tem seu aparelho, o Fibroscan, com preço, no Brasil, até 10 vezes maior que na Europa. O acesso ainda é muito pequeno.”

Pesquisa aponta que animais de estimação sentem ciúmes dos donos

Assim como os bebês, o melhor amigo do homem não se importa se os donos estão entretidos com objetos, mas ficam enciumados na presença de um semelhante ou de um boneco parecido com ele


Paloma Oliveto
Estado de Minas: 28/07/2014

Eric Brochado Monteiro entre Laika (E) e Nescau: os cães são bons companheiros, mas se tornam rivais quando disputam a atenção do dono  (Ed Alves/CB/D.A Press)
Eric Brochado Monteiro entre Laika (E) e Nescau: os cães são bons companheiros, mas se tornam rivais quando disputam a atenção do dono

Pode começar com um rosnado, seguido por fortes latidos. Se a estratégia não funcionar, provavelmente ele vai arranhar o dono e balançar o rabinho. E, se ainda assim não receber a atenção que deseja, é hora de apelar: orelhas caídas, olhar pidão e aquele chorinho que mata qualquer um de pena. Quem convive com cachorros sabe que eles são possessivos e detestam dividir “seus humanos” com outros. Agora, um artigo publicado na revista Plos One comprova: o melhor amigo do homem também é capaz de sentir ciúme.



Essa é uma característica que muitos atribuem apenas ao Homo sapiens. Contudo, nos últimos tempos, os cientistas estão descobrindo em outras espécies — não apenas nas domesticadas — uma complexidade emocional muito maior do que se imaginava. “Eles podem sofrer de muitas emoções que pensávamos serem experimentadas apenas por primatas”, afirma Paul Morris, psicólogo da Universidade de Portsmouth, especialista no estudo de sentimentos animais. De acordo com ele, de forma geral, bichos domésticos sentem ciúmes dos donos. Mas, nos cachorros, isso parece mais exacerbado. “Eles também têm raiva, ansiedade, orgulho e vergonha”, revela Morris. Em dois estudos feitos com 907 pessoas, o psicólogo disse que 81% consideram seus cãezinhos ciumentos.

Agora, a psicóloga Christine Harris, professora da Universidade da Califórnia em San Diego, fez experimentos diretamente com cachorros. Até onde ela sabe, esta é a primeira vez que os animais protagonizam pesquisas sobre ciúmes. Usando um método que geralmente é aplicado em crianças pequenas, Harris confirmou que os cães se sentem frustrados quando os humanos dão atenção a outros animais. Assim como os bebês, o melhor amigo do homem não se importa se os donos estão entretidos com objetos, mas ficam enciumados na presença de um semelhante ou de um boneco parecido com ele.

O experimento foi realizado com 36 cães de raças pequenas, como dachshund, maltês, shih-tzu e pug. Eles foram filmados enquanto seus donos interagiam com três diferentes objetos: um cão de pelúcia, uma lanterna em forma de abóbora e um livro. No primeiro caso, os humanos foram instruídos a se relacionar com o boneco, que latia, choramingava e balançava o rabinho quando um botão no topo da cabeça era acionado. Os participantes deviam apertar o dispositivo uma vez e brincar com o cachorro, como se ele fosse real. Ao mesmo tempo, tinham de ignorar completamente o peludo de verdade. Com a lanterna de abóbora, a tarefa era igual. Já com o livro, eles deveriam ler em voz alta, como se estivessem contando a história para uma criança.

Reação Ao assistir, posteriormente, aos vídeos, os pesquisadores analisaram o comportamento do cachorro, levando em consideração a agressividade, a busca por atenção e o interesse no que o humano fazia. O resultado não deixou dúvida: em 78% dos casos, os cachorros tocaram ou empurraram o dono quando esse interagia com o animal de brinquedo. Quando eram usados a lanterna e o livro, o percentual foi bem menor: 42% e 22%, respectivamente. Cerca de 30% dos cães tentaram se colocar entre os humanos e o bicho de mentira, sendo que isso ocorreu apenas com 1% dos peludos no caso dos outros objetos.

“É de se supor que os cachorros acreditaram que o cão de brinquedo era real. Acreditamos que sim. Até porque 86% deles cheiraram a região anal do brinquedo, e isso nós sabemos que é uma forma de cumprimento entre os animais. Então, podemos dizer que os cachorros exibiram um comportamento de ciúmes em relação ao falso rival, da mesma forma que vemos acontecer com crianças em testes do tipo”, afirma Christine Harris. Em nota, a coautora do estudo, a psicóloga Caroline Prouvost, observa que os animais não apenas demonstraram os ciúmes como tentaram quebrar a conexão entre o dono e o “concorrente”. “Obviamente, são experiências subjetivas e não podemos falar pelos cachorros, mas realmente parece que eles estavam motivados a proteger uma importante relação social”, disse.

“Brigas” Para o estudante de publicidade Eric Brochado Monteiro, 25 anos, a constatação científica não chega a ser uma novidade. Dono de dois cachorros, uma mestiça de cane corso com labrador e um labrador, ele sabe o que é ser alvo de ciúmes do melhor amigo. Laika, 3 anos, era a rainha do lar até a chegada de Nescau, 1 ano. Embora tenham virado bons companheiros, os dois peludos disputam os carinhos da família do rapaz, que se diverte com a ciumeira dos bichos. “Se a gente faz carinho nela, ele fica chamando. Quando damos atenção para ele, a Laika esquenta e vai com a pata na cabeça dele, dando um caldo mesmo, para abaixar o Nescau”, comenta. Nem os amigos de Eric escapam da disputa entre os dois. “O pessoal não sabe em quem fazer carinho”, conta. De acordo com o estudante, para Laika, Nescau não é o único rival em relação aos sentimentos do dono: “Quando tem mulher aqui em casa, ela fica louca”.

A psicóloga Christine Harris diz que se costuma pensar que o ciúme é um sentimento 100% humano porque as pessoas o associam a relacionamentos sexuais ou românticos. “Mas nosso resultado desafia essa ideia, mostrando que animais também se estressam quando um rival ganha a atenção de quem eles amam”, diz. Para ela, essa pode ser uma característica que emergiu para assegurar os laços sociais criados entre humanos e cachorros há pelo menos 15 mil anos, quando a domesticação de lobos deu início a essa grande história de amizade.

Eduardo Almeida Reis - Tiro e queda‏

Tiro e queda
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/07/2014

Empregos

Já fui bom na arte de arranjar empregos para terceiros sem ganhar qualquer coisa com a iniciativa, salvo a alegria de ouvir das mocinhas, anos depois: “Foi o senhor quem me indicou para a Globo”. Até hoje, não raras vezes me mandam um CV, abreviatura do latim curriculum vitae (trajetória de vida), documento que pretende relatar a experiência profissional e/ou acadêmica de uma pessoa que deseja um emprego, como também das que desejam trocar de empregador.
A internet está cheia de modelos de CVs, cuja entrega é a primeira etapa da admissão, que ainda passa pelas entrevistas e provas de conhecimento. Fosse entrevistador, um philosopho amigo nosso não empregaria homens e mulheres tatuados, homens de brincos e cuidaria de analisar a voz do entrevistado. Se entrevistados pelo philosopho, dois senadores da República não serviriam nem para assessorar auxiliares de limpeza.

Motiva este belo suelto um CV que me mandaram outro dia e deve bater o recorde mundial de falta de informações. Tem nome, endereço, identidade, telefone e foto da candidata, idade, estado civil, número de filhos, escolaridade primária incompleta, experiência de seis meses como auxiliar de cozinha e é só. A julgar pelo CV, em 46 anos de vida a candidata nunca fez nada além de quatro filhos. A foto mostra que está gordinha.

Climatologia

 Jogadores, técnicos, narradores e comentaristas de futebol não têm obrigação de estudar climatologia zootécnica. Se estudassem, saberiam que o período mais quente do dia vai das duas às quatro da tarde. No jogo da Holanda contra o México, que começou às 13h e 30oC, no início do segundo tempo, às 14h, já foi jogado com os termômetros marcando 32oC, para espanto dos narradores e comentaristas.

Na mesma partida foi possível constatar que os novos estádios, quase todos, têm um problema com as transmissões de tevê: boa parte do campo fica no escuro. As câmeras têm mecanismos de compensação; ainda assim, com o sol forte os jogadores na parte sombreada ficam praticamente invisíveis.

As arquibancadas nos mostraram muitas moças, de várias nacionalidades, na faixa dos 20 aos 30. As bonitas só fizeram confirmar uma coisa que os homens sérios sabem há séculos: nada melhor, nada mais desejável do que moça bonita. Em contrapartida, a onda de tatuagens entre os jogadores, que se espraia pelo resto da sociedade, é um pavor. Se o tatuado e a tatuada são feios, só pioram as feiúras; se bonitos e bonitas ficam feios. Que tristeza, hein?

Modernidades 

Em matéria de tecnologia, o avião já foi um exagero. Os inventores deveriam ter parado no telefone simples e no Ford modelo-T. De que vale comprar um carro que vai de zero a 100 km/h em poucos segundos, se as ruas e estradas estão cheias de radares, quebra-molas, buracos e barbeiros? Qual é a vantagem de ir de BH ao Maranhão em três horas num jato? 

Do Maranhão, da bela São Luiz com suas fachadas de azulejos, os maranhenses poderiam governar o Brasil pelo telefone fixo. E as tintas para pintar seus cabelos seriam levadas em navios. Um mês ou dois que o político viva sem pintar seus cabelos não mata ninguém.
Se entendi alguma coisa, a Amazon vem de lançar um smartphone que custa 200 dólares nos EUA, naquele sistema de vincular o aparelho a uma operadora durante dois anos. Sem vínculo, o telefoninho custa em torno de R$ 1.700. Até aí, tudo bem: é mais um modelo de celular.

Acontece que o cell phone da Amazon, entre outras maluquices, tem um dispositivo que, apontado para uma bolsa, uma bicicleta, um relógio, um automóvel que você veja na rua, informa o nome do fabricante, onde pode ser encontrado e quanto custa. E já se noticia (a sério) um chip que, implantado sob a pele, deixa o sujeito plugado ao celular 24 horas por dia.

O Google já fala inglês, japonês, português do Brasil e outras línguas. Tem cabimento? Conversar é divertido quando o interlocutor é um causeur, pronúncia Ko’zoeR, informa Houaiss: que ou aquele que desenvolve conversa brilhante, sedutora. Em BH, causeur incomparável é o jornalista Lauro Diniz. Não se trata de elogio pelos biscoitos que me manda, mas de uma constatação.
Aqui ou ali, eventualmente acolá, o leitor do EM pode encontrar um causeur, uma causeuse da melhor supimpitude, mas corre o risco enormíssimo de encarar chatos loquazes, donos da verdade, que abundam na capital de todos os mineiros como abunda a pita, grande erva rosulada da família das agaváceas.

O mundo é uma bola
Baruch de Espinoza (Amsterdã, 1632 – Haia, 1677) filósofo judeu de família portuguesa fugida da Inquisição, é expulso de Amsterdã pela sinagoga portuguesa daquela cidade. Foi um dos grandes racionalistas do século 17, junto com Leibniz e Descartes, e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Bento, Benedito, Benedictus de Espinoza, Baruch Spinoza, estudioso da Bíblia, do Talmude, dos filósofos gregos, ganhou fama por suas posições e foi punido com o chérem, equivalente hebraico da excomunhão católica, por seus postulados a respeito de Deus. Meu espaço, felizmente, zé fini.

Ruminanças
“Toda a vida dos filósofos é preparação para a morte” (Catão de Útica, 95-45 a.C.).

CRACK » Cura polêmica - Sandra Kiefer

CRACK » Cura polêmica
Mineiros dependentes da droga aderem ao chá de iboga e dizem ter se livrado do vício após tratamentos em clínicas de SP. Médicos alertam para falta de pesquisas sobre a raiz e dizem que há efeitos colaterais perigosos


Sandra Kiefer
Estado de Minas: 27/07/2014


Desesperados para se livrar do crack, dependentes químicos e familiares de Minas Gerais estão buscando o tratamento alternativo do chá de iboga em clínicas de recuperação no interior de São Paulo e em Curitiba. A dose, única, custa entre R$ 4 mil a R$ 10 mil e não requer a internação do paciente. Apesar da falta de comprovação científica e dos riscos existentes de ministrar substância sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os viciados em drogas pesadas, como cocaína e crack, recorrem ao uso desse fitoterápico, que seria capaz de eliminar a vontade de usar drogas e a síndrome de abstinência (fissura). 

Relatos obtidos pela equipe de reportagem do Estado de Minas chegam a atribuir à iboga o poder de ‘cura’, de ‘renascimento’, de ‘apagar o passado’. “É uma sensação deliciosa acordar sem a menor vontade de usar droga, sem medo da recaída. A vontade simplesmente apagou-se da minha mente”, comemora o dono de bancas de jornais Wagner do Patrocínio, de 43 anos. Em função do envolvimento com o crack, Wagner caiu na sarjeta – usava até 20 pedras por dia. Ele passou um ano internado, em duas clínicas mas continuou com recaídas. 

Há três meses, Wagner aceitou experimentar a iboga por influência da mulher, Angela Chaves, que descobriu a novidade em SP. “Bebi um pó parecido com canela, misturado na água. Na hora, é preciso deitar porque a gente perde o jogo das pernas. Depois, começa a ‘ver’ um monte de cenas ruins. Pessoas sendo esfaqueadas, coisas com chifres, bichos. A sensação dura umas cinco horas. Depois, você toma a segunda dose. Os pensamentos ruins somem e vêm coisas boas, como anjos”, revela ele, que recomendou o tratamento ao colega João Paulo Barbosa Neto, de 34 anos (leia Depoimento). “Voltei a ter vida social com minha mulher e minha filhinha”, diz Wagner. 

O psiquiatra Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes de Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aplicou a dose de iboga a 75 voluntários. Do total, 51% dos pacientes conseguiram largar a dependência química. “A taxa de sucesso é alta. Chega a ser 10 vezes maior em relação à média de 5% de recuperação registrada nas internações em comunidades terapêuticas”, compara o psiquiatra. 

 Este semestre, o psiquiatra dará entrada no Comitê de Ética da Unifesp com protocolo de estudo científico, inédito no país, na tentativa de comprovar a eficácia do uso da iboga no controle da dependência química em álcool e drogas. Caso seja aprovado, o ensaio clínico deverá comparar a reação dos viciados em crack, divididos no grupo que vai ingerir placebo e no outro, que receberá a fórmula original. “Mas os resultados serão a médio prazo”, alerta o pesquisador. Não há previsão de que, quando finalizados os trabalhos, a iboga possa ter autorização para ser usada como medicação controlada no Brasil.

Uso perigoso
Com formação em homeopatia, o psiquiatra Aloízio Andrade alerta que já é velha conhecida da medicina a técnica de propor aos pacientes a substituição de uma droga por outra. “É mais fácil e rápido abrir mão de uma substância nova do que da outra que já está usando há muitos anos. O que se faz é quebrar o ciclo vicioso do paciente, com a mudança do paradigma”, explica o médico. Segundo Andrade, que desconhece o uso da iboga em Minas Gerais, este papel costuma ser atribuído a alucinógenos ligados a rituais, sendo os mais populares a ayuaska e a mescalina. 

Para Andrade, toda substância que age no sistema nervoso central pode desencadear quadros psiquiátricos e também neurológicos nos pacientes, como por exemplo convulsões. “Sem estudos científicos, não há clareza sobre a dose correta a ser oferecida por quilo de peso”, diz. 

Assim como Andrade, o psiquiatra gaúcho Félix Kessler admite nunca ter testado a iboga em seus pacientes. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o psiquiatra Félix Kessler desconfia, por princípio, de promessas rápidas de cura para a dependência química. “Quem dera eu tivesse um remédio que pudesse dar aos meus pacientes na clínica. Descobriram que o tratamento alternativo dá bastante dinheiro e a onda de que a ibogaína cura o crack está pegando”, avalia o médico, para quem a melhor receita continua sendo o tratamento a longo prazo, com abordagem multidisciplinar e grupos de autoajuda. “O maior desafio é estimular o craqueiro a dar continuidade ao tratamento. É uma doença crônica como o diabetes – quem a tem enfrenta dificuldades para evitar doces”, completa. 

Segundo a Anvisa, não há nenhum medicamento registrado no Brasil com o princípio ativo ibogaína. Dessa forma, a atribuição de alegações terapêuticas a este produto é ilegal, já que não há essa comprovação no Brasil. Entretanto, é legítima a importação de medicamentos sem registro no País, desde que para uso apenas pessoal e amparada pela prescrição de um médico que se torna o responsável pelo uso do produto.

Spa explora brechas na legislação


 “Por uma brecha na lei brasileira, consigo trabalhar com a iboga na forma de chá”, afirma o psicanalista clínico Gadyro Nakaya, dono do Spa Reabilit, em Arujá, no interior paulista. O spa é uma das entidades que trabalham com a substância. Amparado por cinco advogados, Nakaya já está importando mudas do arbusto no continente africano. Ele acredita no potencial de cura da planta que, criada em condições especiais na estufa em SP, ainda deve levar em torno de 10 anos para começar a produzir. 

Ex-dependente químico de heroína, Nakaya diz ter se submetido a 40 internações no passado e que só conseguiu se livrar do vício após conhecer a substância. Ele garante que, em quatro anos, já “ibogou” centenas de pessoas em SP, inclusive artistas de tevê e músicos. “Acolhi um casal que passou a morar aqui comigo há um ano. Eles trabalham como caseiros do sítio. Os dois continuam limpos”, afirma ele. A clínica, registrada inicialmente como um spa, conta com clínico-geral e psiquiatra. 

Antes de tomar a iboga, os pacientes são submetidos a uma bateria de exames, que comprovem abstinência de substâncias tóxicas de, no mínimo, sete dias. Depois, assinam um termo de responsabilidade. Só então são internados para ingerir a dose, que varia de acordo com o caso. O transe varia de 24 a 36 horas. A compulsão por drogas cessa ao final da “viagem”. 
  
No Instituto Brasileiro de Terapias Alternativas (IBTA), em Paulínea (SP), a atendente informa que é oferecida a iboga junto a terapias e medicina ortomolecular, segundo ela como forma de potencializar o efeito da substância. O tratamento dura cinco dias, com índice de 70% a 80% de recuperação. “A iboga corta a vontade de usar a droga, mas a pessoa precisa querer deixar a vida de viciado”, alerta. Há mais de 10 anos no mercado, a Clínica Cleuza Canan, de Curitiba (PR) solicitou o envio de perguntas por e-mail. Até o fechamento desta edição, porém, as perguntas não haviam sido respondidas.

Propaganda ilegal na mira do eleitor‏

Propaganda ilegal na mira do eleitor 

Internautas já denunciaram à Justiça Eleitoral 49 casos de publicidade abusiva. Infratores serão notificados 

Juliana Cipriani
Estado de Minas: 27/07/2014


Em menos de um mês do início da campanha eleitoral, as denúncias de propaganda irregular começaram, ainda que em pequeno volume, a pipocar nos registros do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que disponibilizou um link para facilitar a participação dos eleitores. Do dia primeiro até quinta-feira (24), os internautas informaram 49 casos de publicidade que consideraram abusivas, a maioria deles referentes a candidatos a deputado estadual e federal. A expectativa da Justiça Eleitoral é que a fiscalização dos eleitores, que ocorre de forma auxiliar ao controle já feito pelo Ministério Público Eleitoral, aumente nas próximas semanas.

As principais queixas foram sobre propagandas supostamente irregulares feitas em páginas na internet, mas os denunciantes também alertaram para outdoors e cartazes, entre outros casos. Nos mesmos primeiros 24 dias em que o portal esteve no ar em 2012, quando a disputa foi para prefeituras e câmaras municipais, havia 422 queixas de eleitores. Nos três meses de campanha daquele ano foram 11.766 registros sobre irregularidade em cartazes, placas, cavaletes, outdoors, banners e outros tipos de material. Também no primeiro mês, em 2010, eram 93 denúncias, mas até o fim do pleito esse número chegou a 2.692.

Segundo o chefe do setor de propaganda eleitoral do TRE, Diogo Cruvinel, o grande número de denúncias recebidas em 2012, em comparação aos outros anos, se deve ao fato de o pleito ter sido municipal, ou seja, com mais candidaturas. Para esta eleição, o TRE espera receber mais acusações. “A tendência é que o número de denúncias aumente à medida que os próprios candidatos intensifiquem suas campanhas, o que normalmente ocorre em períodos mais próximos à data das eleições”, afirmou Cruvinel.

Tudo que os eleitores informam ao TRE é encaminhado pelo próprio sistema ao juiz eleitoral responsável pela área onde a propaganda possivelmente irregular se encontra e, caso se constate o problema, o magistrado determina a notificação do partido ou candidato denunciado para retirar o material em até 48 horas. Se o responsável pela peça não a recolher no prazo, a Justiça Eleitoral retira e, no fim do processo, encaminha todos os documentos ao procurador regional eleitoral para que analise se cabe oferecer representação pedindo multa. Quem fez a denúncia pode acompanhar pela internet os encaminhamentos que foram feitos.

De acordo com o TRE, não é permitida a denúncia anônima, mas o site resguarda todos os dados do denunciante. “Os dados pessoais não são divulgados de nenhuma maneira”, garante Cruvinel. Além da denúncia on -line, o eleitor pode procurar qualquer um dos 351 cartórios eleitorais do estado ou denunciar as propagandas irregulares ao Ministério Público eleitoral. Junto com a opção de denunciar candidatos, o TRE de Minas disponibilizou uma lista do que pode ou não pode ser feito pelos candidatos em campanha eleitoral.

Onde denunciar:

>> No cartório eleitoral mais próximo ou no site do TRE  www.tre-mg.jus.br , no ícone Sistema Denúncia On-line
>> Procurando o Ministério Público Eleitoral pessoalmente ou pelo site www.prmg.mpf.mp.br/eleitoral

LUTO » Brasil perde seu maior astrônomo

LUTO » Brasil perde seu maior astrônomo

Ronaldo Mourão morreu vítima de pneumonia. Doutor em física, a ele foi creditada a descoberta de vários asteroides
Estado de Minas: 27/07/2014


Mourão foi um dos criadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Rafael Ohana/CB/D.A Press - 20/9/11)
Mourão foi um dos criadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins
Rio de Janeiro – Considerado o maior nome da astronomia brasileira, o astrônomo e físico Ronaldo Mourão, de 79 anos, morreu na madruugada de ontem no Rio de Janeiro, onde seu corpo foi enterrado. Ele havia sofrido um derrame recentemente, e estava internado no Hospital Quinta D’Or com pneumonia. Com dezenas de livros publicados em mais de cinco décadas de profissão, Mourão trabalhou pela democratização de seu campo de conhecimento. Produziu programas de rádio e escreveu para jornais e revistas. Dava entrevistas sobre assuntos de interesse do público leigo, como a existência de vida inteligente em outros planetas e a colonização de Marte, que considerava uma possível forma de contornar a superlotação da Terra no futuro.

 Ronaldo Rogério de Freitas Mourão nasceu no Rio, em 1935. Aos 17 anos, ainda na escola, já publicava artigos científicos. Na Universidade do Estado da Guanabara (hoje Uerj), estudou física. Antes mesmo de se formar tornou-se auxiliar de astrônomo do Observatório Nacional e publicou trabalhos oriundos da observação de Marte em revistas estrangeiras especializadas. Os convites para participar de simpósios internacionais, os quais percorreria a vida toda, começaram ali.

Tornou-se especialista em estrelas duplas visuais, que são aquelas que aparentam estar próximas uma da outra quando vistas da Terra por um telescópio. A ele é creditada a descoberta de uma estrela e de diversos asteroides. Com bolsas, estudou e trabalhou na Bélgica e na França – onde obteve o título de doutor pela Universidade de Paris com distinção em 1977. Mourão era integrante de todas as mais relevantes sociedades de astronomia do mundo. Movido pelo desejo de contribuir para o desenvolvimento da astronomia brasileira, voltou ao país depois do doutorado e reassumiu a função de astrônomo no Observatório Nacional.

Além das estrelas duplas, as maiores contribuições de Mourão para a ciência foram no campo dos asteróides, dos cometas e dos estudos sobre a posição das estrelas e outros corpos celestiais. Rogério Mourão foi o primeiro ganhador do Prêmio José Reis de Divulgação Científica, em 1977, e foi do grupo fundador, em 1984, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio, uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que forma mestres e doutores.

A missão é “ampliar o acesso da sociedade ao conhecimento científico e tecnológico por meio da pesquisa, preservação de acervos, divulgação e história da ciência e da tecnologia no Brasil.” Em 1988, publicou pela editora Nova Fronteira o Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica, com cerca de 20 mil verbetes.

Asteroide Mourão


Descoberto em 22 de maio de 1980, o asteroide 2.590 foi batizado de Mourão, em homenagem ao astrônomo brasileiro. O registro do nome foi feito em 2 de julho de 1985, no Miror Planet Circular. Na publicação, Ronaldo Mourão é apontado como astrônomo integrante do programa de descoberta e obervação de pequenos plantes do European Southern Observatory (ESO).