quarta-feira, 23 de julho de 2014

MARTHA MEDEIROS - Uma vida melhor que a encomenda

Zero Hora 23/07/2014

Que dias! Quantas baixas na nossa literatura. Lamentei a morte de João Ubaldo, pois sempre dói a partida de quem ainda tinha muito a contribuir (a morte de um grande escritor é sua obra inacabada), e estou compadecida com a fragilidade da situação do espetacular Ariano Suassuna (em coma até o momento em que escrevo), porém usarei esta coluna para falar de uma ausência que me tocou mais profundamente: a do mineiro Rubem Alves, por quem eu tinha enorme afeição não só pelo que escrevia, mas pelo seu jeito terno, sua desafetação, sua raridade como ser humano. Quanto mais se grita e esperneia por aí, mais atenção eu dou aos singulares que brilham em voz baixa.

Domingo passado, comentei sobre o documentário Eu Maior, em que Rubem Alves também participou com seu testemunho. Entre outras coisas, ele contou que certa vez um garoto se aproximou dele para perguntar como havia planejado sua vida para chegar onde chegou, qual foi a fórmula do sucesso. Rubem Alves respondeu que chegou onde chegou porque tudo que havia planejado deu errado.

Planejar serve para colocar a pessoa em movimento. Se não houver um objetivo, um desejo qualquer, ela acabará esperando sentada que alguma grande oportunidade caia do céu, possivelmente por merecimento cósmico.

É preciso querer alguma coisa – já alcançar é facultativo, explico por quê.

Uma vez determinado o rumo a seguir, entra a melhor parte: abrir-se para os acidentes de percurso. Você que sonha em ser um Rubem Alves, é possível que já tenha começado a escrever num blog (parabéns, pôs-se em ação). No entanto, esses escritos podem conduzi-lo a um caminho que não estava nos planos. Dependendo do conteúdo, seus posts podem levá-lo a um convite para lecionar no Interior, a ser sócio de um bar, a estagiar com um tio engenheiro, a fazer doce pra fora, a pegar a estrada com um amigo e acabar na Costa Rica, onde conhecerá a mulher da sua vida e com ela abrirá uma pousada, transformando-se num empresário do ramo da hotelaria.

Não é assim que as coisas acontecem, emendando uma circunstância na outra?

A vida está repleta de exemplos de arquiteta que virou estilista, enfermeiro que virou pastor evangélico, estudante de Letras que virou maquiadora, publicitário que virou chef de cozinha, professor que virou dono de pet shop, economista que virou fotógrafo. Tem até gente que almejava ser economista, virou economista, fez uma bela carreira como economista e morreu economista. A vida é surpreendente.

Ariano Suassuna largou a advocacia aos 27 anos, João Ubaldo também se formou em Direito, mas nem chegou a exercer o ofício, e Rubem Alves teve até restaurante. Tudo que dá errado pode dar muito certo. A vida joga os dados, dá as cartas, gira a roleta: a nós, cabe apenas continuar apostando.

TeVe

Estado de Minas 23/07/2014

TV PAGA »

  Papo sério


 (Canal Brasil/Divulgação )


O ator argentino Ricardo Darín é o primeiro entrevistado do jornalista Eric Nepomuceno na nova temporada de Sangue latino, que estreia hoje, às 21h30, no Canal Brasil. Também roteirista e diretor de cinema, Darín fala sobre destino, morte, amor e utopias no mundo moderno, sobretudo no universo dos jovens.

Warner estreia a série de humor Os impegáveis

Estreia às 20h, na Warner, a série Os impegáveis, comédia que tem como personagem central um inseguro dono de bar que sobrevive por conta da assiduidade de seus amigos ao estabelecimento. Em comum, todos acumulam insucessos e pouquíssima experiência em relacionamentos. Até que um cara mulherengo surge e decide mudar a sorte dos novos colegas com conselhos, ações e dicas das mais inusitadas.

Fox Life realiza mais um concurso de top models

Na Fox Life, a novidade é The face, concurso que vai premiar uma entre 12 candidatas a top model treinadas pelas veteranas supermodelos Naomi Campbell, Erin O’Connor e Caroline Winberg em sessões de fotos, desfiles e comerciais. O programa estreia às 22h30, e à meia-noite vai ao ar o último episódio da temporada de Design de acessórios.

Entrelinhas entrevista a mineira Adélia Prado

O Futura lança hoje, às 12h, uma série de 10 novos episódios de Livros animados, projeto educativo que envolve crianças em brincadeiras e efeitos de animação em torno da mitologia africana, da manifestação da cultura afro-brasileira e do cotidiano do negro no Brasil. Ainda falando de literatura, a poeta mineira Adélia Prado é a entrevistada de hoje de Entrelinhas, às 23h30, na Cultura. Outra produção brasileira, Meu corpo, meu desafio estreia às 19h50, no Discovery, mostrando exemplos de superação de pessoas com deformidades severas. E Melhores resorts de inverno tem uma segunda temporada no canal Off, às 22h.

Um presentão para os  fãs de Amy Winehouse
O canal BIS transmite ao vivo, hoje, às 21h, a participação da banda Blitz no Projeto inusitado , diretamente da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Outra atração musical de hoje é o especial que o Multishow exibe às 18h, para lembrar os três anos da morte da cantora britânica Amy Winehouse, gravado em 2006, na Capela St James’ Church Dingle, na Irlanda.

Só tem reprise hoje na  programação de filmes


Sem nenhuma estreia agendada para hoje, o pacote de filmes se sustenta em reprises, algumas delas oportunas, como as de Sexo sem compromisso, no Telecine Touch; Sociedade dos poetas mortos, no Telecine Cult; Dezesseis luas, no HBO; e Babel, no MGM, todos na faixa das 22h. Outros destaques da programação: Cidade de Deus, às 19h15, no Megapx; Iracema – Uma transa amazônica, às 21h, no Curta!; X-men origens – Wolverine, às 22h30, na Fox; Flashes de uma psicose, também às 22h30, no FX; e Os agentes do destino, às 22h40, no Universal Channel.


CARAS & BOCAS » Novelão voltou



Marjorie Estiano roubou a cena no primeiro capítulo como a ardilosa Cora, que se intromete no romance da irmã     (Paulo Belote/TV Globo  )
Marjorie Estiano roubou a cena no primeiro capítulo como a ardilosa Cora, que se intromete no romance da irmã


Mexer com o passado não é coisa fácil. E em Império (Globo), que estreou anteontem, duas providências nesse sentido foram tomadas. A primeira é que o autor Aguinaldo Silva tratou de não repetir um dos erros do colega Manoel Carlos e cravou uma rápida passagem pelo presente antes de seu protagonista cheio da grana, José Alfredo (Alexandre Nero), rever os caminhos que percorreu até chegar aonde chegou. Outra aposta do autor foi movimentar as cenas do passado. Nada de perder tempo com detalhes como as duas primeiras e extremamente arrastadas fases de Em família, que em sua trajetória se revelou um marasmo total. A única fase que trata do passado em Império termina amanhã, em parte do capítulo. Ou seja, o flashback durou menos de quatro capítulos, disse o que interessava, e a narrativa ganhou em agilidade, o que prende o telespectador.

Além disso, o mergulho no passado do personagem principal resultou em boa história, com interpretações corretas, em que se destacou a ardilosa Cora, de uma Marjorie Estiano bastante afiada. Mocinhas frágeis como a Eliane, de Vanessa Giácomo – bem em cena, ainda mais depois da vilã Aline em Amor à vida –, empolgam cada vez menos, mas não se pode dispensá-las. E Chay Suede, o José Alfredo jovem, além de bonito não decepcionou e segurou bem as cenas mais dramáticas, especialmente ao lado de Reginaldo Faria, em rápida e significativa participação. Aguinaldo Silva alardeou bem antes da estreia que seu novo trabalho resgataria o estilo novelão. E deu para perceber que pode cumprir a promessa, pois já imprimiu aos primeiros capítulos alguns dos quesitos básicos, como paixões avassaladoras, vilania a toda prova, mistério no ar e uma tensão latente de uma cena para outra.

A direção ágil, comandada por Rogério Gomes, foi o ponto alto, em que se destacou ainda a ótima trilha sonora e a bela abertura levada por Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles, na voz de Dan Torres, ex-participante do reality musical Fama (Globo), em 2004. Aliás, menção especial à sequência de clássicos de antigas novelas que embalaram o breve romance de José Alfredo e Eliane. Só faltaram mandar um Rock in roll lullaby. Aumenta o som! Ainda a destacar o elenco, que reúne nomes de peso como Lília Cabral, José Mayer, Paulo Betti, Leandra Leal, Drica Moraes, Marjorie Estiano, entre outros, além de Alexandre Nero, que conquista seu primeiro protagonista depois de ótimos papéis como o feirante Vanderlei, sua estreia na TV, em A favorita (Globo, 2008), e o vilão Gilmar em Escrito nas estrelas (Globo, 2010). Participação luxuosa ficou por conta de Regina Duarte, como Maria Joaquina. Mais um ponto alto?

As belas locações em Carrancas, em Minas Gerais, que serviram de cenário para o garimpo e o cultuado “Monte Roraima” do protagonista.

Vale lembrar que essa história de quem vem de baixo e enriquece sempre atrai a audiência. Levantar um império não é para qualquer um. No caso, José Alfredo conseguiu com contrabando de diamantes. Acrescente a disputa pelo poder, herdeiros dispostos a tudo, outra candidata à fortuna que surge aparentemente do nada, vilões da pesada, amores que dão certo e outros nem tanto. Novidade? Nada. É a velha e boa fórmula batida, testada e aprovada desde que a novela surgiu no mundo.

A questão é quem sabe manejá-la e como fazer para rendê-la – e bem! – em meses a fio. Aguinaldo Silva tem a manha, não se pode negar. Mas, só isso não basta. Atualmente, com outros atrativos em novas mídias, já não é tão fácil transformar o telespectador em presa cativa à frente da TV e, principalmente, das novelas. Daí o enorme desafio. O primeiro capítulo de Império disse a que veio. Os próximos ainda são uma incógnita.

CAPITAL MINEIRA OCUPA  POSIÇÃO QUE ASSUSTA


O Jornal da Alterosa – 1ª edição desta quarta-feira, às 12h40, vai mostrar que Belo Horizonte é a segunda capital brasileira em número de mortes por envolvimento com drogas e álcool. Reportagem traz as consequências do uso dessas drogas para a saúde, histórias que terminaram mal e outras de superação.

NANDO REIS FALA SOBRE SAUDADE NO TRIP TV
O cantor e compositor Nando Reis é o convidado do Trip TV que vai ao ar amanhã na Band, logo depois do Jornal da noite. O ex-Titãs fala de saudade e comenta: “Impossível retornar aos Titãs, mas eu queria muito retornar à amizade, à convivência com eles”. A atração também visita o ateliê de Rafael Coutinho, que conta como foi acompanhar a transformação de seu pai, o cartunista transgênero Laerte Coutinho: “Ele trata isso de um jeito muito natural, não é uma coisa afetada, maluca.” Outra convidada é a ex-casseta Maria Paula.


viva

Figurinos dos personagens de Meu pedacinho de chão (Globo) em tempos de inverno na trama.


vaia

Gritaria e choradeira de Catarina, interpretada por Juliana Paes, em Meu pedacinho de chão. 

TÁXI CULTURAL » Biblioteca sobre rodas‏

TÁXI CULTURAL » Biblioteca sobre rodas
 
Em Belo Horizonte, livros são oferecidos gratuitamente por taxistas a passageiros. Fruto da parceria de editoras com aplicativo, projeto é desenvolvido em 25 cidades brasileiras

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 23/07/2014


O taxista Flávio Gonzaga conta que passageiros gostam de ler durante as viagens     (Beto Magalhães/EM/D.A Press)
O taxista Flávio Gonzaga conta que passageiros gostam de ler durante as viagens


“Meu táxi nunca fica sem livro”, assegura o motorista Flávio Simões Gonzaga, um dos participantes do projeto Bibliotáxi em Belo Horizonte. Apoiada pelo Grupo Saraiva e pelo aplicativo Easy Táxi, a iniciativa tem o objetivo de estimular bibliotecas colaborativas.

A ideia foi sugerida pelo jornalista e escritor Gilberto Dimenstein, do site Catraca Livre. Em 2012, havia um táxi rodando no bairro paulistano da Vila Madalena com vários títulos. Dimenstein procurou o mineiro Tallis Gomes, fundador da Easy Táxi, para que apadrinhasse a iniciativa. “A nossa frota de cerca de 10 mil carros começou a circular por 25 cidades com livros a bordo. O passageiro escolhe um exemplar, leva-o consigo e, depois de lê-lo, devolve-o nos bolsões instalados no encosto do banco dianteiro”, explica Tallis.

O motorista Flávio Gonzaga destaca o sucesso da Bibliotáxi. De acordo com ele, há casos em que os próprios taxistas e a clientela se encarregam de fazer a doação. “Antes do projeto, sempre deixava um jornalzinho ou uma revista no banco. Acho que é um incentivo à leitura. Muitas vezes, o cliente fica preso no trânsito e sem nada para fazer. Livro é sempre um ótimo programa, todos os meus passageiros adoram”, conta Gonzaga.

Jabuti

Cerca de 80 mil exemplares foram doados ao projeto pelo Grupo Saraiva. Entre os títulos estão clássicos literários, lançamentos e best-sellers, além de obras da Editora Saraiva e do selo Benvirá. É o caso de Nihonjin, de Oscar Nakasato, vencedor do prêmio Jabuti de 2012 na categoria romance.

Entre as parceiras da ação estão as editoras Casa da Palavra, Companhia das Letras, Globo, Intrínseca, Leya, Melhoramentos, Nova Fronteira, Novo Conceito, Objetiva e Sextante.

“Educação, cultura e lazer devem estar disponíveis para todos, porque são essenciais para a construção de uma sociedade competitiva e sustentável. Essa ação, no ano de nosso centenário, reforça o compromisso do Grupo Saraiva em tornar o conteúdo e o entretenimento mais acessíveis e estimular a circulação do conhecimento em todo país”, ressalta o presidente do grupo editorial, Jorge Saraiva Neto.

Tallis Gomes ressalta o retorno positivo do projeto. A intenção é expandir a primeira “rede social física” de livros. “A gente conseguiu algo inédito: unir cultura e mobilidade. Ajudar a formar leitores é uma grande contribuição à cultura do país”, conclui.

Números


60%
da frota de táxis de BH usa o aplicativo Easy Táxi

40%
dos taxistas usuários do aplicativo aderiram ao projeto Bibliotáxi

25
cidades do país têm táxis com livros a bordo

10 mil
táxis aderiram ao projeto em todo o país

80 mil
exemplares foram doados para o projeto

EDITORA GLOBAL » Aposta na prata da casa‏

EDITORA GLOBAL » Aposta na prata da casa

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 23/07/2014


Luiz Alves Júnior, editor     (André Argolo/divulgação)
Luiz Alves Júnior, editor


Uma das mais tradicionais editoras do país, a Global completa 40 anos. Voltada para autores brasileiros, seu invejável catálogo abriga centenas de títulos, muitos deles de nomes consagrados. São exclusivos da casa Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Orígenes Lessa, Ignácio de Loyola Brandão, Cora Coralina, Darcy Ribeiro e o folclorista Luís da Câmara Cascudo, por exemplo. No entanto, 70% do faturamento da empresa, que engloba as editoras Gaudí e Gaia, não vem da literatura adulta, mas da venda de títulos infantojuvenis.

Nesse segmento literário, um dos que mais crescem no país, a Global conta com Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Mary França, Eliardo França e o mineiro Bartolomeu Campos Queirós. “Bartolomeu era um de nossos mais importantes autores. Temos o maior orgulho de ter lançado alguns livros dele”, conta Luiz Alves Júnior, de 71 anos, fundador da Global.

Filho de portugueses analfabetos que chegaram ao Brasil na década de 1940, Luiz Alves Júnior trabalhou com a família em uma padaria, em Santos (SP), até os 22 anos. A exemplo dos pais, sonhava ganhar dinheiro e conquistar sua independência. Mudou-se para São Paulo, onde foi vendedor de livros para a Editora Globo, de Porto Alegre, representada pela Catavento.

Alves Júnior adquiriu experiência na Catavento e fez dois amigos fundamentais para a sua carreira empresarial: Raimundo Rios e Waldir Martins Fontes. Em 1971, com a saída de Fontes da empresa para fundar a Editora Martins Fontes, Luiz Alves assumiu a área comercial. Tempos depois, em sociedade com Raimundo Rios, montou a distribuidora Farmalivros com o objetivo de vender em farmácias. “Deu certo. Comercializamos nossos produtos também em salões de beleza, hotéis, postos de gasolina, táxis e supermercados do país. Foi uma aposta inovadora”, lembra Luiz Alves Júnior.

Ditadura

Em 1973, no embalo do sucesso da Farmalivros, ele resolveu criar sua própria editora, a Global, em parceria com José Carlos Venâncio. Por sugestão do sócio, passou a editar títulos de resistência à ditadura militar. Entre as obras lançadas estavam Lamarca, o capitão da guerrilha, de Emiliano José e Oldack Miranda; Os carbonários – Memórias da guerrilha perdida, de Alfredo Sirkis; e Dossiê Herzog, de Fernando Pacheco Jordão.

Nos anos de chumbo, Alves foi alvo de um inquérito policial-militar (IPM) por causa da opção editorial de sua empresa e teve de se explicar à Polícia Federal. “Felizmente, não cheguei a ser preso, foram apenas sustos”, lembra.

Nos anos 1980, com a abertura política, depois de desfeita a sociedade com José Carlos Venâncio, Alves Júnior promoveu uma guinada na linha editorial da empresa. Foi assim que a Global se voltou para autores brasileiros, apostando na valorização da prata da casa. Uma das primeiras iniciativas foi a parceria com a escritora Edla van Steen, que organizou as bem-sucedidas séries Melhores contos, Melhores poemas e Melhores crônicas, com textos de dezenas de autores do país. “Essa coleção foi e é fundamental para nós, uma espécie de cartão de visitas da Global”, revela Alves Júnior.

Este ano, a expansão dos negócios – com atuação também na área digital, com dezenas de e-books – incluiu a aquisição da Editora Aguillar, dirigida pelo experiente Jiro Takahashi. Ela se junta à Global Editora, à Gaudí e à Gaia, as duas últimas dirigidas por Jefferson Luiz e Richard Ângelo, filhos de Luiz Alves Júnior. “Nelas não dou palpites. Eles é que mandam. Meus pitacos vão só para a Global”, conclui o patriarca.

No inverno, elas montam

Nesta época de frio, a probabilidade de as pessoas serem afetadas por doenças respiratórias aumenta. Crianças e idosos são os mais susceptíveis, por causa da baixa imunidade


Lilian Monteiro
Estado de Minas: 23/07/2014 0

A estação mais fria do ano exige cuidado redobrado com a saúde. O ar mais seco facilita o aumento da poluição e a proliferação de vírus, o que, consequentemente, contribui para elevar a frequência das infecções das vias respiratórias. Breno Figueiredo Gomes, diretor da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, diretor-administrativo adjunto da Associação Médica e clínico-geral do Hospital Mater Dei, alerta que há várias razões para adoecermos no inverno, e não é só por causa das baixas temperaturas. “O mais importante é o fato de as pessoas ficarem em locais mais fechados. Dessa forma, a contaminação, principalmente por vírus, é mais frequente.”

As infecções respiratórias são as vilãs dessa estação e muitos sofrem com as mais comuns, como sinusite, otite, pneumonia, gripe, resfriado, rinite, asma, amigdalite, bronquite... “Coriza, dores no corpo, tosse, febre e mal-estar geral. Os sintomas são muito semelhantes e uma avaliação médica é fundamental para a definição adequada do diagnóstico”, alerta o clínico, enfatizando que as atitudes mais corretas nesse período, que asseguram uma prevenção adequada, são “evitar ambientes fechados com pessoas doentes, lavar as mãos e proteger a boca ao tossir”.

 Breno Gomes diz que há muitos equívocos em relação à crença popular, que aponta como desencadeadores das doenças de inverno andar descalço, dormir com o cabelo molhado, tomar sorvete, beber água gelada, abrir geladeira, pegar chuva e ficar no sereno, entre outras. Essas seriam atitudes que levariam a infecções respiratórias. “Mais mito que verdade. Tudo que irrita as mucosas predispõe a infecções: alergias e mudanças climáticas, por exemplo.”

O médico chama a atenção também para um erro comum nesse período, que é a automedicação. As pessoas invadem as farmácias atrás de medicamentos para gripes e resfriados (muitos não diferenciam um do outro) e se entopem, seja de anti-inflamatórios, seja de cápsulas de vitamina C. Enfim, atitude condenáveis. “A regra é uma só: sempre passe por uma avaliação do seu médico. Segurança é fundamental.”

O médico alergista Cláudio Oliveira Ianni, presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia Regional de Minas Gerais, lembra que as alergias aumentam no inverno porque há maior circulação de vírus. Até por isso que a vacinação para gripe, por exemplo, começa em abril. Ele explica que a alergia ocorre porque “o ar frio facilita as reações alérgicas diante das mucosas vulneráveis”.

Cláudio Ianni reforça que o ar seco provoca inversão térmica e a poluição fica mais próxima do solo, o que dificulta a sua dispersão. Ou seja, todos passam a respirar a poluição, que desencadeia irritação das mucosas. Daí surgirem as rinites, sinusites, asmas, bronquites. O médico alerta que as reações alérgicas estão por todo lado, como na poeira da casa e nas roupas de frio guardadas por muito tempo, com presença de ácaro e pó. Aliás, é preciso atenção com os agasalhos de inverno. “Recomendo lavá-los antes de usar, passá-los a ferro e dar um banho de sol. E, com o fim do frio, lavá-los antes de guardar, de preferência em sacos plásticos.”


CORIZA Coceira, espirro, coriza e obstrução nasal são, segundo Cláudio Ianni, os principais sintomas da maioria dos quadros alérgicos. No caso da asma, é a tosse. No da bronquite, é o cansaço e o peito chiando. Já a sinusite ocorre muito em decorrência de uma complicação da gripe.

Saídas simples podem ser seguidas por todos para deixar o ar mais respirável. Cláudio Ianni recomenda pano úmido no quarto (toalha molhada na cabeceira da cama) ou uma vasilha de água, caso não tenha umidificadores. “Soluções práticas e com resultado.”

Cláudio Ianni reforça que as crianças de até 5 anos sofrem mais nesse período, por causa do sistema imunológico imaturo, e o idoso também, porque é mais frágil e tem alimentação pior. E a maioria deles não toma água o suficiente. Para se proteger, e a regra vale para todo mundo, é fundamental cuidado com a alimentação (sucos, frutas, legumes e verduras), vitamina C, lavar as narinas com soro para evitar vírus e bactérias, e fugir, dentro do possível, de locais fechados. O alergista recomenda ainda hidratar bastante a pele, para que ela fique mais protegida. “Caso seja picado por pernilongo, a reação alérgica seria pior com a pele ressecada.”

Dicas para tentar afastar as doenças de inverno:

1  Mantenha a roupa de cama sempre limpa, principalmente os cobertores.

2 Tente retirar todo o pó da mobília.

3  Aproveite os dias de sol e abra as janelas. O ar deve circular em ambientes fechados.

4  Evite permanecer muito tempo em locais fechados e com grande quantidade de pessoas.

5  Lave as mãos constantemente.

6  A alimentação deve ser a mais saudável possível. Consuma verduras e frutas, que são fontes de vitamina C: limão, laranja, abacaxi e acerola.

7  Beba bastante líquido, principalmente água (mas evite bebidas alcoólicas)

8  Evite ter em casa tapetes e bichos de pelúcia espalhados pelo local.

9  Não deixe de fazer exercícios físicos (nadar, correr e caminhar são especialmente importantes, porque aumentam a capacidade respiratória).

10 Evite fumar e conviver com fumantes.

11 Seque roupas no sol.

12  Para bebês, a amamentação é indispensável, pois garante a proteção da criança.

13  A vacinação anual é importante, não causa gripe e evita complicações mais sérias


*Fontes: Sarah Lazaretti, enfermeira e sócia-diretora da Alergoshop (empresa especializada em produtos para diversos tipos de bebidas) e Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma)

Vírus ataca bebês

Em todo o país, já está disponível a imunização gratuita para bebês contra o vírus sincicial respiratório (VSR) – a principal causa de doenças respiratórias e hospitalização de prematuros e crianças com cardiopatia congênita ou displasia broncopulmonar. Em crianças com condições normais de saúde, a infecção por VSR pode se apresentar apenas como sintomas de um resfriado forte. Entre os bebês prematuros, pesquisadores estimam que a taxa de mortalidade, em decorrência do VSR, seja de cerca de 5%. Hoje, cerca de 10,5% dos nascimentos no Brasil ocorrem antes do período considerado normal (a partir de 37 semanas). Os bebês prematuros têm três vezes mais risco de serem hospitalizados em decorrência do VSR do que um bebê nascido a termo, pesando mais de 2,5 quilos. A Sociedade Brasileira de Imunização recomenda a imunização, que reduz em 70% a necessidade de internação e mortalidade de prematuros. Para esses bebês, ou com cardiopatia congênita, ou broncodisplasia pulmonar, ela está disponível pelo SUS em todo o Brasil e é recomendada nos meses de maior circulação do vírus, entre março e setembro.

Fuja da gripe
A gripe é a maior vilã do inverno. Causada pelo vírus Influenza, apresenta quadro clínico mais complexo que o resfriado, com febre alta, dores pelo corpo, dor de cabeça, mal-estar, dor de garganta e tosse. Na gripe, os sintomas aparecem subitamente, ao contrário do resfriado, no qual eles surgem gradualmente. O modo de transmissão é igual ao do resfriado e o tempo de doença costuma ser de até duas semanas.

É a gripe que apresenta a maior taxa de complicações, como pneumonia pelo próprio vírus ou outras bactérias oportunistas. A transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada, ao falar, tossir, espirrar, ou pelas mãos, que, depois do contato com superfícies recém-contaminadas por secreções respiratórias, podem levar o agente infeccioso direto à boca, olhos e nariz. As recomendações para reduzir o contágio são evitar locais fechados, lavar sempre as mãos com água e sabão, manter a janela do transporte coletivo aberta mesmo em dias mais frios, para a circulação de ar, e descartar corretamente no lixo os lenços de papel.

Este ano, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Minas alcançou a meta de vacinação contra a gripe e imunizou mais de 4,2 milhões de pessoas dos grupos prioritários. Foram 2,6 milhões de idosos com mais de 60 anos vacinados; mais de 153 mil gestantes; 34 mil puérperas (período pós-parto); 9 mil indígenas; 992 mil crianças menores de 2 anos e 365 mil profissionais de saúde.

IMPACTO A SES divulgou último estudo de carga de doenças de Minas Gerais. De 2011, ele evidenciou que as doenças respiratórias são responsáveis pelo terceiro maior impacto na saúde dos mineiros, computando 12% das internações. Isso significa que, do total de 1,1 milhão de internações daquele ano, 135 mil foram por doenças respiratórias. Dessas, mais de 50% foram causadas por pneumonia. E um terço da demanda espontânea de atendimento da atenção primária à saúde é motivada por queixas respiratórias. Em 2013, foram notificados em Minas 5.739 casos de síndrome respiratória aguda grave e, desses, 11% foram causados por vírus Influenza sazonais. Cento e quarenta e sete pessoas morreram em decorrência de gripe, o que representa 18,7% dos casos.

Gravidez tardia e suas implicações‏

Gravidez tardia e suas implicações 
 
Marcos Taveira
Obstetra e membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Estado de Minas: 23/07/2014


Nos últimos anos, pesquisas e estudos apontam que a idade média da primeira gravidez vem aumentando em todo mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre os anos de 1970 e 2011, a idade média da primeira gravidez aumentou de 21,4 anos para 25,6 anos. Esse evento também tem sido observado em países como Suécia (28,3 anos), Holanda (28,7 anos) e Canadá (29,6 anos). Em 2011, 14% dos partos americanos foram em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos. Esse cenário também está se tornando comum no Brasil.

Os motivos são os mais variados possíveis, com predomínio dos aspectos profissionais e econômicos. A mulher hoje é economicamente ativa, busca consolidar a carreira profissional e conquistar a estabilidade financeira para só então realizar o desejo de ser mãe. Existem ainda os fatores emocionais. Tanto a mulher quanto o homem adiam a maternidade ou a paternidade por não se julgarem prontos para assumirem tamanha responsabilidade.

Entretanto, é fundamental ressaltar os riscos ao optar pela gravidez tardia. Um deles é o aumento do abortamento espontâneo. Abaixo dos 30 anos, o risco representa 12%; entre 30 e 34 anos é de 15%; de 35 a 39 anos, é de 25%; e de 51% acima dos 40 anos. Nas gestantes acima de 35 anos, existe maior prevalência de doenças como diabetes, hipertensão arterial, doenças renais e autoimunes (por exemplo, o lúpus eritematoso), obesidade e câncer. Todas essas enfermidades podem exercer papel deletério na evolução da gestação, assim como a gravidez pode agravar uma doença pré-existente. Por exemplo, quanto mais grave uma hipertensão, pior será o resultado daquela gestação.

Observa-se um risco aumentado de mortalidade materna. Estima-se que ele seja duas vezes maior para grávidas acima dos 35 anos, quando comparado com o grupo etário de 25 a 29 anos (21 para cada 9 por 1 mil nascidos vivos), e cerca de cinco vezes maior para grávidas acima de 40 anos (aproximadamente 46 para cada 1 mil nascidos vivos). Aumentam as chances de anomalias cromossômicas, como as trissomias do cromossomo 13 e 18, a síndrome de Turner (Monossomia do cromossomo X) e a síndrome de Down.

Aos 20 anos, o risco inicial para síndrome de Down é estimado em 1/698. Já aos 35 anos, é de aproximadamente 1/175; aos 40 anos, é de 1/51 e, aos 45, é de 1/13. Ocorre também o aumento no risco de pré-eclâmpsia, principalmente acima dos 40 anos, uma vez que a pré-eclâmpsia é uma das principais causas de morte materna e responsável por taxas elevadas de insuficiência placentária, resultando em quadros de sofrimento fetal e, muitas vezes, em partos prematuros com riscos proporcionais ao grau da prematuridade.

Existem outros tantos riscos que podem interferir no andamento da gestação e que poderiam ser evitados. O recomendado é que toda mulher tenha sua prole definida antes dos 35 anos para que esses fatores de risco sejam minimizados. Assim como o ideal seria que toda gestação fosse planejada, para que a mulher pudesse atuar diretamente sobre aqueles fatores que podem ser controlados. Os benefícios de uma gravidez planejada incluem uso do ácido fólico pré-concepcional (fator associado à redução de malformações fetais), vacinação prévia, controle do índice da massa corporal (reduz o risco de pré-eclâmpsia e de diabetes gestacional), controle de doenças pré-existentes (influenciam diretamente no resultado da gestação futura), programação das gestações para as faixas etárias mais adequadas, entre outros.

Ainda dentro do contexto de uma gravidez planejada, o ideal é que toda gestante realize uma consulta de aconselhamento pré-concepcional, justamente para que ela possa ser orientada quanto aos possíveis fatores de risco associados a uma gestação e para que realize as intervenções adequadas, onde possível, de acordo com cada idade. Esse processo permite uma gestação mais tranquila e saudável, tanto para a gestante, quanto para o bebê. 

O melhor para a cidade

Lei de 2001 garante a participação popular na formulação e execução dos programas de desenvolvimento urbano

Estado de Minas: 23/07/2014



Em 11 de julho de 2001, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil ganhou um poderoso instrumento para a regulação do desenvolvimento das cidades que, além de estabelecer e detalhar as diretrizes e ferramentas para o seu desenvolvimento, introduziu na legislação disposições para garantir a gestão democrática da cidade e a participação popular na formulação e implementação de políticas públicas.

A Lei 10.257, também conhecida como Lei de Política Urbana, veio para ordenar o “pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana”, tendo como diretrizes, entre outras, a “gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento dos planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano”.

Por ocasião do surgimento dessa lei, o Brasil encontrava-se ainda emergindo de longo período de supressão da participação direta da sociedade na vida política e, portanto, carente de meios de integração entre a comunidade e os seus gestores, sendo, então, ousada a introdução de disposições sobre a elaboração, implementação, operação e fiscalização de planos, programas, projetos e políticas públicas de desenvolvimento urbano, tais como audiências públicas, debates, órgãos colegiados, consultas públicas etc.

Ainda nos dias de hoje, os representantes do Poder Executivo, federal, estadual e municipal, dificilmente abrem mão de utilizar instrumentos impositivos, tais como medidas provisórias e decretos, entre outros, uma vez que o caminho do diálogo é sempre mais trabalhoso.

Mesmo quando são promovidas audiências públicas, conferências e debates, ainda fica para a população um sentimento de exclusão: em primeiro lugar, pela dificuldade de organizar e participar desses eventos, e, em segundo lugar, porque não há vinculação entre o que foi debatido e o que será posteriormente inserido no texto que vai se transformar em lei, considerando ainda a dificuldade de que a representação indireta sofre o assédio do Executivo, responsável pela distribuição de cargos e recursos públicos.

Por outro lado, como as consultas públicas são onerosas e como a população tem baixa capacidade de discernimento para escolher as melhores soluções para os complexos problemas do desenvolvimento das cidades, as consultas públicas raramente são feitas e, quando o são, a manipulação pelo poder econômico e utilização de ferramentas de marketing e de mídia massiva provocam um verdadeiro massacre sobre as opiniões eventualmente divergentes das do grupo que ocupa o poder.

Pouco, ou quase nada, são valorizadas as iniciativas populares de projetos de lei e de planos, programas de desenvolvimento urbano, não obstante a Lei de Política Urbana assim oriente.

Apesar dessas dificuldades, é salutar que a sociedade brasileira esteja, ainda que a passos lentos, caminhando na direção de desenvolver suas instituições democráticas, sendo o foro municipal de discussão das questões urbanísticas uma excelente oportunidade de começo.

Nesse contexto, é imprescindível os representantes dos setores popular, técnico e empresarial debaterem sobre o que é o melhor para a cidade, com os representantes do governo municipal.

Salários mínimos - Eduardo Almeida Reis‏

Salários mínimos 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/07/2014


Recorto e guardo tabelas publicadas nos jornais e não sei o que fazer com elas. Tenho aqui uma comparação recente dos pisos salariais em diversos países. Está em US$ e vai continuar na moeda norte-americana, porque dá muito trabalho converter para os nossos reais e não impede a comparação com a nossa realidade.

Vejamos. Ano passado, o piso salarial nos EUA foi de US$ 15.080, contra US$ 4.287 no Brasil: por ano, bem entendido. A Nova Zelândia teve piso anual de US$ 24.099 e Cuba, de US$ 108, isso mesmo, cento e oito dólares. Fonte: Gradual Investimentos.

A população da Nova Zelândia, cerca de 4,5 milhões de pessoas, rivaliza com a da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e a área territorial daquele país é 268 mil km2, contra 586 mil km2 de todo o estado de Minas Gerais. Diz aqui a calculadora chinesa que 268 x 2 é igual a 536. Portanto, a área neozelandesa beira a metade da mineira.

Fiquemos nos pisos salariais brasileiros e norte-americanos para constatar o seguinte: a vida por aqui está mais cara e o piso norte-americano é 3,5 vezes maior que o nosso. Pelo menos, multipliquei 4.287 por 3,5 e a chinesa anotou 15.004.
O piso cubano tem mil e uma explicações. Jovem industrial belo-horizontino, em lua de mel num hotel chique de Varadero, Cuba, saiu para fazer seu cooper matinal e foi alcançado por um cavalheiro residente no local, que lhe oferecia por 100 dólares os serviços de uma jovem de 15 anos ainda sem tetas. Só aí, alugando a jovem 10 vezes por mês, o piso anual fica maior que o neozelandês. Encucante, mesmo, é o fato de a vida no Rio ser mais cara do que na Flórida. Do cafezinho à compra de uma casa, tudo por lá é mais barato.

Modernidades

Pergunto ao caro, preclaro e assustado leitor: hoje, antes de ler o jornal, você já baixou um aplicativo? Ele mesmo, programa de computador concebido para processar dados eletronicamente, facilitando e reduzindo o tempo de execução de uma tarefa pelo usuário. Todo santo dia me dizem para baixar este ou aquele aplicativo e me envergonho de contar que nunca baixei um deles. Tanto quanto me seja possível entender, existem aplicativos para chamar um táxi e aplicativos para evitar os táxis através das caronas solidárias, não sei se pagas. Dia 11 de junho de 2014, milhares de choferes de táxis, no mundo inteiro, realizaram protestos com seus táxis contra os aplicativos que resultam nas caronas. Inventaram aplicativos para namorar, casar, descasar, namorar sem descasar, opinar sobre futebol durante as partidas transmitidas pelas tevês.

Mal ou bem, o mundo chegou ao último quartel do século 20 sem aplicativos, hoje aparentemente indispensáveis. Tanto assim que já contratei jovem instrutora de informática para me ensinar como se baixa um aplicativo. No dia a dia, acho muito mais importante saber onde comprar os potes de sorvete Häagen-Dazs, que não dispenso nas sobremesas depois de abusar do sal na comida. Ainda ontem, uma doutora mediu-me a pressão: 12 x 7, na verdade a única parte que ainda funciona bem nos 100 quilos distribuídos por 1,88m. Daí a alegria de contar ao leitor, antes de aprender a baixar aplicativos.

Vênus vulgívaga

Vulgívago é puro latim e significa “que ou quem se rebaixa ou desonra, que ou quem se prostitui”; vulgívaga é meretriz. Vênus, mulher formosa, sendo vulgívaga, é puta bonita. Ainda que formosíssimas, desejo que as empresas vulgívagas, que compraram meu endereço eletrônico nas listas vendidas por informatas vulgívagos, vão todas para as vulgívagas que as pariram. São 20, 30, 40 e-mails todos os dias. Não adianta recorrer ao “bloquear remetente”, porque há empresas que usam os nomes dos vendedores antes do @. Fui vizinho de fazenda de uma das donas de empresa imensa, hoje useira e vezeira nesse e-commerce nojento. Informo que a referida empresária, caminhada em anos, gostava de andar inteiramente nua pelos pastos de sua fazenda nas noites de lua cheia. Mais grave do que uma louca nua ao luar é a notícia de que o Google já tem 220 milhões de entradas para e-commerce (comércio eletrônico).

O mundo é uma bola

23 de julho de 1793: a Prússia reconquista a Mogúncia da França. Mogúncia é nome horrível e indigno de ser “reconquistado”; a Prússia lutou por Mainz em alemão, Moguntiacum em latim, ou Mayence em francês, hoje a capital do estado federal de Renânia-Palatinado, na Alemanha, cidade independente (kreisfreie Stadt) ou distrito urbano (Stadtkreis), isto é, tem estatuto de distrito (Kreis).

Em 1840, com o chamado Golpe da Maioridade, aos 14 anos, dom Pedro II se torna imperador do Brasil. Era muito culto, muito honesto, muito democrata no bom sentido: não servia para governar o Piscinão de Ramos. Ainda assim, imperou por várias décadas.

Em 1892, nasce Tafari Makonnen, o Ras Tafari, imperador da Etiópia, rei dos Reis, senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Eleito de Deus, Jah, Rastafari: pelos títulos, um imbecil completo. Em 1973, nasceu Monica Lewinsky, aquela do Clinton, gorducha e simpática. Hoje é o Dia do Guarda Rodoviário.


Ruminanças

“Creio que o nosso Pai Celeste inventou o homem por estar desapontado com o macaco” (Mark Twain, 1835-1910).