domingo, 15 de junho de 2014

MARTHA MEDEIROS A casa do vizinho

Zero Hora - 15/06/2014

Muitas situações provocam estranhamento, e uma das mais inquietantes é entrar no apartamento de um vizinho de prédio. Está ali a mesma sala, do mesmo tamanho que a sua, com a mesma orientação solar, a mesma disposição das paredes, a mesma cozinha, os mesmos quartos e banheiros mas nada, nada é o mesmo.

A parede que na sua casa é cor de marfim, na do vizinho está pintada de vermelho, o que muda a atmosfera do ambiente, faz com que pareça menor. Você, que adora plantas e coleciona bugigangas trazidas de viagens, entra cautelosa naquele apartamento gêmeo ao seu, porém totalmente despojado de humanidade, mais parece um show room.

Onde você tem um aparador lotado de porta-retratos, o vizinho colocou um espelho do teto ao chão. Você deixa um sofá branco e confortável virado em direção à sacada, enquanto seu vizinho têm duas chaise longue de aço cromado e couro preto que ficam paralelas uma a outra, voltadas para uma parede onde ele possui uma televisão do tamanho de um aquário do Sea World.

Ao entrar na cozinha dele, imagina que está dentro de uma nave espacial, tudo é cinza chumbo e imaculadamente limpo, enquanto sua cozinha tem uma fruteira de papel machê trazida da Bahia e armários de madeira.

O lavabo dele é revestido com um papel de parede austero e elegante, o seu se manteve como a construtora entregou, com azulejos sem graça, e você nem trocou a torneira original, simplesinha – a dele deve ter sido transplantada de algum castelo francês, é um colosso. Se você tivesse um lavabo igual, é lá que receberia as visitas. Aí você lembra que tem um igual, só que o seu parece um banheiro de rodoviária.

Apartamento de vizinho causa desconforto porque inevitavelmente será mais bem cuidado ou mais desleixado que o seu, mais escuro ou mais claro, mais atraente ou mais insosso. A disposição dos móveis parece incorreta, tudo sugere uma grande transgressão, e você não se sente acolhido, tem vontade de sair correndo daquele lugar que foi concebido de um jeito estranho a fim de confrontar você. É isso. O apartamento do vizinho lembra que há outras formas de viver, enquanto você julgava que só havia uma: a sua.

Cada um de nós concebe a vida de uma determinada forma, decora a seu modo os dias e noites, colore suas paixões com suavidade ou desespero, dá um revestimento aos seus traumas ou os deixa a nu, expõe suas esquisitices ou as joga para baixo do tapete.

Cada um de nós recebe o mesmo espaço para existir e o arranja, inventa, traduz, transforma e recria de acordo com uma identidade que será sempre única, particular. Quando você tiver um ataque de petulância e achar que só o seu jeito de viver é que é certo, dê um pulo no apartamento do vizinho. E assombre-se com a quantidade de novos mundos que existem nas portas ao lado.

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 15/06/2014


 (Marcelo Oliveira/Divulgação)
Música O cantor, compositor e violeiro mineiro Wilson Dias (foto) é o artista da vez no SescTV, nos programas Passagem de som e Instrumental Sesc Brasil, em sequência esta noite, a partir das 21h. O show foi gravado no Teatro Anchieta em julho de 2013. No repertório, serestas, cantigas de sua autoria do álbum Mucuta e memórias do Vale do Jequitinhonha. Na Cultura, às 23h, Ivo Meirelles é o convidado do Ensaio.
Na real No segmento dos documentários, o futebol continua na pauta do dia, com destaque hoje para o curta-metragem Geral, de Anna Azevedo, às 14h30, no SescTV. No Discovery Home & Health, às 21h30, vai ao ar o especial Tons de erotismo, em que a jornalista Lisa Ling investiga a realidade dos fetiches e práticas retratados no romance best-seller Cinquenta tons de cinza, de E. L. James.


Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Publicação: 15/06/2014 04:00
Fim e começo
Uma pausa da Copa, porque hoje é o último dia de Game of thrones. Assim como na temporada passada, depois de um oitavo episódio catártico, o nono, exibido domingo passado, foi bem morno. Hoje finalmente deveremos conhecer o destino de Tyrion, uma das melhores razões para assistir à série.. Mas antes tem estreia na TV. A Fox lança, às 11h30, a quinta temporada da divertida Modern family. No primeiro episódio, Manny se prepara para passar um mês na Colômbia, a contragosto de Gloria. E Cam e Mitchell comemoram a legalização do casamento gay na Califórnia.

Preparativos –Também hoje o Syfy promove uma maratona completa da primeira temporada de Defiance, com 12 episódios, das 11h à meia-noite. O lançamento do segundo ano será na sexta0feira, às 21h, um dia após a exibição nos Estados Unidos. A história de Defiance se passa em um futuro próximo, em que a Terra está transformada depois da guerra entre os humanos e alienígenas. Entre as novidades no elenco estão James Murray, como o novo prefeito da cidade, além de William Atherton e Anna Hopkins, um oficial e uma soldado da República da Terra, respectivamente. Linda Hamilton fará participação especial.

Acesso total –Já na quarta-feira, às 22h, estreia no AXN a série Intelligence. Josh Holloway, o Sawyer de Lost, é Gabriel Vaughn, agente de inteligência que carrega no cérebro um supercomputador na forma de microchip. Por causa desse implante tem acesso total aos dados da internet, telefone e satélite. Diante disso, torna-se uma arma para proteção da segurança nacional. Serão 13 episódios e depois já era. A série, lançada em janeiro, já foi cancelada.

Doutor no Brasil –A BBC lança em agosto a oitava temporada de Doctor Who. Para badalar a estreia, cuja data ainda não foi anunciada, a nova estrela da produção britânica, Peter Capaldi, vai dar um rasante em seis cidades do mundo, o Rio de Janeiro entre elas.


De olho na telinha
Simone Castro

Cauã Reymond interpreta André, na série O caçador (Alex Carvalho/Globo)
Cauã Reymond interpreta André, na série O caçador
Mais do que galã

O personagem Harley, de A favorita (Globo, 2008), foi um divisor de águas na carreira de Cauã Reymond. Ele interpretava o filho de Donatella (Cláudia Raia), mocinha da história, perseguida pela vilã Flora (Patrícia Pillar). O papel do ator cresceu ao longo da trama e o Harley ajudou a mãe a desmascarar sua perigosa antagonista. Ponto para a atuação de Cauã. De lá para cá, ele foi içado ao posto de galã. Mais do que isso: vem marcando seu lugar com personagens que vão muito além do tipo romântico.
Atualmente na série O caçador (Globo), Cauã interpreta André, um ex-policial durão, sedutor, que se lança, mediante o pagamento de recompensa, a caçadas de vítimas e criminosos. É um personagem tenso, que está sempre no fio da navalha, pronto para atacar ou ser atacado. O ator arregaçou as mangas e se dedicou à composição, mostrando que, às vezes, talento não nasce pronto.

É a segunda vez neste ano – com a diferença de três meses – que ele estrela uma atração especial. Em janeiro, foi o sedutor Leandro da minissérie Amores roubados (Globo). No papel de um sommelier, Cauã se envolve com mãe e filha, vividas por Patrícia Pillar e Isis Valverde, e acaba caçado e morto pelo marido traído, nada menos do que seu chefe, personagem de Murilo Benício. Outra boa interpretação de Cauã.
O começo de Cauã Reymond na TV foi onde muitos outros jovens atores também iniciam: numa temporada de Malhação (Globo), no caso a de 2002. No papel de Maumau, ganhou o público e ficou até a temporada seguinte. Depois, foi exercitar mais uma vez o poder de fazer humor como o Thor Sardinha, de Da cor do pecado (Globo, 2004), de João Emanuel Carneiro.

Papel de sedutor sempre cai como uma luva para Cauã Reymond. Daí que ninguém estranhou quando até Bia Falcão, de Fernanda Montenegro, foi arrebatada pelo Mateus, de Belíssima (Globo, 2005). Eles terminaram a novela juntos, curtindo a vida em Paris, na França. Já o primeiro protagonista do ator veio em 2011, com o Jesuíno de Cordel encantado (Globo). Depois o Jorginho, de Avenida Brasil (Globo, 2012), outro protagonista, em mais uma novela de João Emanuel Carneiro.

O personagem, com um lado por vezes mais depressivo, às voltas com todas as dificuldades de conviver com a mãe, nada menos do que a vilã Carminha (Adriana Esteves), e apaixonado pela mocinha, Nina (Débora Falabella), que urdia uma vingança cega contra ela, começou a apontar o talento do ator para encarar papéis mais densos. O resultado, como em O caçador, prova que Cauã Reymond está no caminho certo.

PLATEIA

VIVA
- Bruno Fagundes, o doutor Renato de Meu pedacinho de chão (Globo). Estreia na TV em grande estilo!

VAIA  - Na mesma novela, o violeiro Viramundo, vivido por Gabriel Sater, já passou da hora de voltar à cena.

Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br


 (Estevam Avellar/Globo  )
Bela da festa

Sophie Charlotte conquista mais um personagem especial em sua carreira. A atriz será Duda (foto), no remake de O rebu, que estreia em 14 de julho, na Globo. Depois da Amora, uma das protagonistas de Sangue bom que deu o que falar, Sophie, agora, será a "filha do coração" de Ângela Mahler, a milionária empreiteira vivida por Patrícia Pillar. Na trama, baseada no original de Bráulio Pedroso, exibido em 1974, a história se passa em apenas 24 horas. Tudo começa com uma grande festa na mansão de Ângela, quando um corpo é encontrado na piscina. E ficam as perguntas: quem morreu? Foi acidente? Suicídio? Ou assassinato? Algum convidado ou funcionário da casa está ligado à morte? A trama será narrada em três diferentes tempos: festa, onde se dão encontros e desencontros amorosos e jogos de interesses em torno de um grande negócio; o dia seguinte, quando tem início a investigação policial; e em flashbacks com os principais personagens que poderiam ter motivações para eliminar a vítima. Duda, uma beldade das mais badaladas da festa, se apaixona perdidamente por um convidado especial, Bruno, vivido por Daniel de Oliveira. Só para destacar, Sophie e Daniel formam novo casal também na vida real. O remake leva a assinatura de George Moura e Sérgio Goldenberg. No elenco, entre outros, Tony Ramos, Dira Paes, Marcos Palmeira, Cássia Kiss, Camila Morgado, José de Abreu e Júlio Andrade. A direção geral e de núcleo é de José Luiz Villamarim.

CAPIVARI É O DESTINO
DO VIAÇÃO CIPÓ HOJE


O distrito de Capivari, no Serro, é o roteiro do Viação Cipó deste domingo, às 9h, na Alterosa. Conheça uma iniciativa de turismo diferente de tudo que já foi visto, além de lindas cachoeiras, um vilarejo cheio de histórias e muito mais.

SAIBA COMO USAR O AR
DO CARRO NO INVERNO


O Vrum, hoje, às 8h30, no SBT/Alterosa, dá dicas de como usar e cuidar do ar condicionado no inverno. É preciso saber como manter a temperatura agradável sem criar riscos à saúde. Confira, ainda, o Concorso d'Eleganza Villa d'Este, na Itália, um lugar só para os carros mais bonitos do mundo.

SAULO LARANJEIRA TRAZ
DE VOLTA O ARRUMAÇÃO


Em nova temporada, o programa Arrumação vai retornar à Rede Minas. Com estreia marcada para o segundo semestre deste ano, a atração, comandada por Saulo Laranjeira, tem sua primeira gravação em 18 de junho, às 19h, no Sesc Palladium, quando o apresentador receberá convidados especiais. Na lista, Vander Lee, Camarão de Rama, Cobra Coral, Titane e Túlio Mourão. A canção-tema do programa, Arrumação, de autoria de Elomar Figueira Mello, será interpretada por Saulo Laranjeira, acompanhado pelo Coral do Colégio Santa Dorotéia, e seu filho, Tuca Graça.

AUTOR INDICA AS ATRIZES
QUE QUER EM SUA NOVELA

Nos bastidores, comenta-se que João Emanuel Carneiro quer Susana Vieira em sua próxima novela, prevista para 2015, no horário nobre da Globo. Já Cacau Protásio, que viveu a impagável Zezé na última novela do autor, Avenida Brasil, megasucesso do novelista exibida em 2012, estaria confirmadíssima no novo folhetim. A direção, mais uma vez, será de Amora Mautner.

GNT FAZ CHAMADAS DE
SUA SESSÃO DE TERAPIA


A nova temporada de Sessão de Terapia, que estreia em 4 de agosto, às 22h30, no GNT (TV paga), promete cenas marcantes e novo elenco. Nomes como Camila Pitanga e Letícia Sabatella estarão na série. Serão 35 episódios, dirigidos mais uma vez por Selton Mello, e as chamadas promocionais já estão no ar. Os vídeos mostram o perfil de cada personagem, o que está por trás das câmeras e ainda conta com depoimentos da equipe.

DUDA BÜNDCHEN SE
DIVERTE EM CHIQUITITAS

 (SBT/Divulgação)

Sobrinha da top model Gisele Bünchen, a pequena Duda Bündchen, de 7 anos, iniciando na carreira de modelo, também se arrisca como atriz. A garota gravou participação na novela Chiquititas, do SBT/Alterosa, interpretando ela mesma. Nas cenas, Duda acompanha a personagem Vivi (Lívia Inhudes) (foto), que sonha em seguir a carreira de modelo. Vivi irá fazer suas primeiras sessões de fotos e será acompanhada por Duda, que também lhe apresentará vários pontos turísticos da cidade de Porto Alegre (RS). As cenas estão previstas para ir ao ar no final de agosto.

EM DIA COM A PSICANáLISE » A história de Maura‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » A história de Maura

Estado de Minas: 15/06/2014

A escritora mineira Maura Lopes Cançado   (Arquivo EM)
A escritora  Maura Lopes Cançado


Depois do artigo de domingo passado sobre o livro Orates (Unifor), do psiquiatra Musso Greco, recebi de um leitor interessado na loucura, e a quem agradeço a descoberta, o interessante material publicado por Maurício Meireles no jornal O Globo em 14 de abril.

O artigo fala da redescoberta da obra da mineira Maura Lopes Cançado, considerada promessa de literatura nos anos 1960 antes de se autointernar em um manicômio e cair no ostracismo.

Naquela época, não havia leis que regulamentassem o tratamento de doentes mentais. Maura questionava os maus-tratos a que eles eram submetidos. Escreveu dois livros – Hospício é Deus (1965) e O sofredor do ver (1968) – e circulava nas altas rodas literárias do Rio de Janeiro. Uma promessa que não se cumpriu. Recebeu elogios de Carlos Heitor Cony e Ferreira Gullar, quando apareceu no Jornal do Brasil, em 1956, levando seu primeiro livro. Gullar comentou que ela deveria ser mais conhecida por seu talento. Logo depois, a mineira passou a trabalhar no suplemento dominical do JB.

Ninguém previu o alcance de seus problemas mentais: ela jogou a máquina de escrever pela janela e derrubou uma estante em cima de um colega de trabalho. Esquizofrênica, internou-se aos 18 anos por vontade própria. Tinha mania de grandeza, explosões de agressividade e tendência suicida. Passou por várias clínicas psiquiátricas. Numa delas, matou outra interna, degolada, e foi para o manicômio judiciário.

Redescoberta, Maura é estudada em teses de mestrado e doutorado, informa a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que, desde 1987, pesquisa a obra da escritora, ignorada até 2006.

Em 2012, a Confraria dos Bibliófilos lançou uma edição da coletânea de O sofredor do ver para seus associados. Ano passado, no livro Profissionais da solidão (Editora Senac), Cecília Prado lançou um perfil da escritora, que em breve ressurgirá em biografia escrita pela jornalista Daniela Lima.

Presa na penitenciária Lemos de Brito nos anos 1970, Maura foi assunto de O Globo em 1977. A reportagem mostrava o cubículo “imundo e infestado de percevejos” em que ela dormia, cega e entre presos comuns. Em sua coluna, Otto Lara Resende considerou aquilo “uma vergonha imperdoável”. Esquecida, ela morreu em 1993.

“Nós, mulheres despojadas, sem ontem nem amanhã, tão livres que nos despimos quando queremos. Ou rasgamos os vestidos (o que dá ainda um certo prazer). Ou mordemos. Ou cantamos, alto e reto, quando tudo parece tragado, perdido. (...) Nós, mulheres soltas, que rimos doidas por trás das grades – em excesso de liberdade. (...)”, afirma Maura no livro Hospício é Deus.

Luta contra a segunda fratura‏

Luta contra a segunda fratura
Departamento de Ortopedia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ganha centro de referência da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF). Objetivo é diminuir a incidência de quebra óssea

Lilian Monteiro
Estado de Minas: 15/06/2014


Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e do Departamento de Ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovam que em poucos anos metade da população da Terra terá mais de 50 anos. Consequentemente, a osteoporose, doença que enfraquece os ossos e pode provocar fraturas, passa a ser cada vez mais presente. O grande problema é que ela é silenciosa, pode progredir durante anos sem sintomas e, quando se apresenta, já é com a quebra de algum osso. A doença, que tem maior incidência na mulher branca, magra e pós-menopausa, é motivo de preocupação, ainda mais com o envelhecimento da população brasileira. O ortopedista, cirurgião de quadril e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Jurandir Antunes Filho diz que o mundo ainda está aprendendo a lidar com a osteoporose, já que agora ocorrem mais estudos de caso.

Dentro desse cenário, o Departamento de Ortopedia da UFJF ganhou recentemente um centro de referência da versão brasileira da campanha global “Capture a fratura”, da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF). O objetivo do programa é diminuir a incidência das fraturas causadas pela doença. A abordagem sistemática criada pela IOF é conhecida como Fracture Liaison Service (FLS) e deve ser implantada em diversos centros no mundo. Jurandir Antunes Filho é o coordenador de uma equipe multidisciplinar com a missão de ajudar o paciente a evitar a segunda fratura. “O paciente que teve a quebra pela fragilidade óssea, com certeza vai ter outra e, muito provavelmente, será no fêmur, a mais grave delas. O percentual é macabro. Em torno de 30% dos idosos com fratura morrem até o primeiro ano, não da fratura, mas das complicações que ela geralmente oferece, como embolia, pneumonia etc.”.

Para piorar, Jurandir Antunes Filho revela outro dado contundente. “Em termos de percentual, 85% das pessoas com fratura de punho ou vértebra vão ter a de fêmur. E dentro da população de osteoporose, 16% dos pacientes já tiveram a primeira fratura. Ou seja, o percentual de refratura é muito alto. E ela ocorre em 65% dos casos nos dois anos seguintes à primeira.” A gravidade é que quem tem osteoporose e sofre a primeira lesão certamente vai passar por uma segunda ou terceira, o que é chamado de “cascata fraturária”. De acordo com a IOF, uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens acima de 50 anos sofre fratura osteoporótica durante a vida. Mundialmente, estima-se que a cada três segundos ocorra uma fratura por fragilidade. “Por isso, nosso compromisso e do FLS é investir neste paciente, que é uma população relativamente pequena (16%), mas com número grande de fratura. E metade da fratura é do fêmur.”
Jurandir explica que dados de um estudo do Canadá mostram que 80% dos pacientes quando têm um ataque cardíaco saem do hospital medicados, com algum remédio para o coração. “Já os pacientes que dão entrada com fratura por fragilidade óssea, menos de 15% recebem medicação para osteoporose após a alta.”

TRATAMENTO Prevenção e tratamento exigem reposição de cálcio e vitamina D. E depende de cada paciente para definir o tipo de suplementação, medicamento ou se a necessidade diária de cálcio (1.200mg/dia) será apenas via alimentação. E, no caso da vitamina D, doses diárias de sol (30 a 40 minutos por dia sem protetor solar/depois passe o protetor). “Quem tem intolerância à lactose, a recomendação é de dois comprimidos de cálcio ou até três dependendo do perfil”, indica Jurandir Antunes Filho.

A fratura é tão grave que o ortopedista, especializado em quadril, enfatiza mais um dado seriíssimo: “Em cada quatro pacientes com fratura de quadril, um morre; um necessita de ajuda em alguma tarefa diária e rotineira que fazia antes; um para de fazer pelo menos uma atividade que praticava antes da fratura; e só um volta ao nível de atividade anterior”. Para complicar, Jurandir Antunes Filho lamenta a pouca evolução. “Trabalhos bem antigos, do século 20, mostravam a taxa de mortalidade em torno de 40%. Em 2009, uma nova metanálise confirmou que ela caiu para 30%. Muito pouco. Prova de que não conseguimos prevenir a morte depois da fratura.”

Quanto ao tempo de uso do medicamento para osteoporose, Jurandir diz que pela literatura médica mundial “a autorização de prescrição por mais de 10 anos é do Protos® (ranelato de estrôncio). Para os demais, como alendronato, é recomendável de dois a três anos de uso, não ultrapassando cinco. Já o hormônio teriparatida só pode ser ministrado por dois anos. Ele é um hormônio que leva a um ganho de massa óssea fenomenal, mas tem riscos. Por isso, cada paciente tem de ter orientação de seu médico”.

Quanto ao centro de referência dentro da UFJF, Jurandir Antunes Filho explica que o atendimento só ocorre no ambulatório de prevenção de fratura da universidade, atendimento público e agendado. Ele disse que, apesar da procura dos convênios, nada ainda foi acertado. “No centro, vamos também desenvolver pesquisas e começamos por catalogar e acompanhar todos os pacientes, que são rastreados a cada três ou seis meses, dependendo do caso.” Nessa luta para evitar a segunda fratura, tem ainda a “Capture a fratura”, campanha da IOF que estimula investigação e tratamento da doença em pacientes fraturados e a UFJF também ganhou um centro de referência da versão brasileira dessa campanha global. “No Brasil, há seis centros e o mais antigo deles está no Rio de Janeiro, no Hospital Ipanema, e agora na Federal de Juiz de Fora, implementado desde abril”.

Aleijadinho desvendado

Livro sugere, entre outras coisas, nova data de nascimento do mestre do Barroco. Obra também dá detalhes sobre a morte do artista e revela uma exumação feita de forma clandestina


Gustavo Werneck
Estado de Minas: 15/06/2014

Santuário Bom Jesus do Matosinhos: uma das grandes obras do mestre do Barroco são as esculturas dos profetas em pedra sabão   (Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 24/10/13)
Santuário Bom Jesus do Matosinhos: uma das grandes obras do mestre do Barroco são as esculturas dos profetas em pedra sabão
Um dos maiores nomes da arte colonial brasileira – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – não nasceu em 1730, muito menos em 1738, como até então acreditavam especialistas envolvidos em pesquisas sobre o mestre do Barroco. E mais: uma das quatro exumações do corpo, sepultado na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, no Centro Histórico da cidade, ocorreu de forma clandestina e resultou na retirada de pedaços de ossos que foram levados para a Inglaterra. Essas e outras revelações estão num livro de autoria do promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, com lançamento dia 25, em Belo Horizonte, dentro da programação do bicentenário de morte do artista, nascido em Ouro Preto. “É um livro simples como esse homem, e não grandioso como a sua obra”, disse Marcos Paulo.
Aleijadinho revelado – Estudo histórico sobre Antonio Francisco Lisboa demandou 20 anos de investigação em Ouro Preto, Congonhas e Mariana, Rio de Janeiro e em Lisboa, com destaque para os arquivos Nacional da Torre dos Tombos, Histórico Ultramarino e da Câmara Municipal da capital portuguesa. Mas foi na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em Ouro Preto, que Marcos Paulo fez uma das descobertas mais importantes: encontrou o registro de nascimento de Antonio Francisco Lisboa, que era filho da negra forra Isabel.

“Certamente, os pesquisadores procuravam o registro apenas pelo nome do pai, o artífice português Manoel Antonio Lisboa. A questão é que, naquela época, pelo direito canônico, era proibido que constassem do registro os nomes dos pais quando eles não fossem formalmente casados. Daí só haver o nome da mãe no documento. Além disso, o costume era levar a criança à pia batismal logo após o nascimento”, explicou Marcos Paulo, acrescentando que, no livro da paróquia há o nome dos padrinhos Manoel Luiz e de Antonia Correa, também alforriada. “Pela primeira vez, no dia 26, poderemos lembrar o nascimento e batizado de Aleijadinho. A única data que se conhecia era a da morte, 18 de novembro, conforme está no atestado de óbito”, disse Marcos Paulo, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte.

Para o promotor de Justiça, toda a obra sobre o “arquiteto, entalhador, escultor, perito e marceneiro”, patrono das artes no Brasil, está focada na produção. “O meu objetivo foi conhecer o homem.” O autor do livro conta que a primeira biografia foi escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, ex-promotor de Justiça de Ouro Preto. “O trabalho foi publicado no jornal Correio de Minas 44 anos depois da morte de Aleijadinho. Bretas conversou com dona Joana Lopes, parteira, que foi casada com o filho do artista, Manoel Francisco Lisboa, batizado com o mesmo nome do avô.”

OFICINA O pai de Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa, nasceu em São José de Odivelas, antes pertencente a Lisboa e hoje município. “O nome de família não é propriamente ‘de Lisboa’, apenas indica a procedência. O pioneiro João Francisco e seus três filhos vieram da capital portuguesa atraídos, no auge da mineração do ouro nas Gerais, pela alta efervescência de construção de igrejas. Era uma família de artífices. Os tios de Aleijadinho, Antonio Francisco Pombal e Francisco Antonio Lisboa, foram exímios entalhadores e atuaram, respectivamente, nas matrizes do Pilar e de Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias”, diz o promotor de Justiça.

Nas pesquisas, Marcos Paulo verificou que o escultor dos 12 profetas de Congonhas, obra em pedra-sabão feita entre 1800 e 1805, e de dezenas de outros tesouros admirados por visitantes de todo o mundo, foi aprendiz, oficial e se tornou mestre, aprendendo a trabalhar com a própria família, pois todos eram do ramo. Em 1760, quando tinha 23 anos, começou com a sua oficina, embora não fosse um espaço físico, mas um serviço itinerante. “Ele se deslocava para o lugar onde houvesse serviço, tanto que morou em Rio Espera e Sabará. A equipe dormia geralmente nas casas paroquiais. Outra atividade importante, a exemplo da desempenhada pelo pai, foi a de perito ou “louvado”. Um dos irmãos de Aleijadinho, o padre Félix, seguiu a mesma trilha e se tornou talentoso escultor de peças sacras.

Ano do Barroco Minas celebra em 2014 o Ano do Barroco e reverencia a memória de Aleijadinho pelos 200 anos de sua morte. Até o fim do ano, haverá uma programação extensa na capital e no interior, com exposições, lançamento de livros, atividades de educação patrimonial e uma cartilha dirigida aos estudantes, preparada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). No Museu Mineiro, na Av. João Pinheiro, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, está em cartaz a mostra Patrimônio recuperado, com 150 peças sacras resgatadas desde 2003 pelo Ministério Público de Minas Gerais e Polícia Federal. O objetivo da exposição, além de mostrar a beleza das peças, é que, ao visitá-la, moradores da capital e interior ajudem na identificação e tornem possível o retorno das peças aos seus locais de origem.

Serviço
Aleijadinho Revelado – Estudo histórico sobre
Antonio Francisco Lisboa
Lançamento dia 25, às 18h30, na Procuradoria Geral de Justiça (Avenida Álvares Cabral, 17, Centro,
Belo Horizonte).


Um mistério permanece


Em tantos anos de estudo, muitos deles conduzidos nos períodos de folga e férias no Ministério Público de Minas Gerais, Marcos Paulo constatou que Antonio Francisco Lisboa é o “maior caso clínico não desvendado no Brasil”. E, nas páginas de Aleijadinho revelado, editado pela Fino Traço, ele não encontrou a resposta para a pergunta: que doença acometeu o gênio do Barroco?. “Ele desempenhou seu ofício com ferramentas presas às mãos e essa deficiência pode ter sido causada por fratura ou lepra”, acredita.

Outra questão se refere aos restos mortais exumados quatro vezes, em 1930, 1947, 1970 e 2003, e que podem ter sido de outra pessoa, “e não de Aleijadinho”, ressalta Marcos Paulo, que dá a sua versão para os fatos baseados até em fórmulas matemáticas. Outra surpresa se refere à segunda exumação, realizada de forma clandestina: “Felizmente, os pedaços de osso levados para a Inglaterra retornaram ao Brasil”.

 Marcos Paulo se emociona ao falar de Aleijadinho, para ele um dos maiores exemplos de simplicidade, humildade e sofrimento. “Morreu pobre, aos 77 anos, morando de favor na casa da nora. Não tinha bens, não deixou testamento nem inventário.

ENTREVISTA/SAMUEL FLAM » Fichas na mesa‏

ENTREVISTA/SAMUEL FLAM » Fichas na mesa "Não vejo esse mercado como explosivo porque o gráfico não pode ser projetado para o futuro com as variáveis que temos hoje"


Marinella Castro
Estado de Minas: 15/06/2014




"Não poderia dizer qual o percentual da população tem potencial para ser atendido pelos planos, mas ainda há espaço para ampliar essa cobertura, que hoje é de 25% entre os brasileiros e mais de 50% em Belo Horizonte"



Nos últimos oitos anos, os convênios médicos privados ganharam peso robusto no sistema de saúde brasileiro. Já atendem mais de 50 milhões de usuários, ou 25% da população, contra 19% em 2005, movimentando perto de R$ 100 bilhões ao ano. O crescimento foi alavancado pelos chamados planos corporativos, que ganharam espaço nas empresas, crescendo com o mercado de trabalho aquecido. Com 1,4 milhão de usuários, desde 2005 a Unimed-BH triplicou seu tamanho. No ano passado, registrou receita de R$ 2,7 bilhões, alta de 18% frente ao ano anterior, figurando entre as 10 maiores operadoras do país. Na capital, onde 55% da população é usuária dos convênios, a cooperativa se beneficiou do crescimento do setor, mas carrega o desafio  de conseguir atender as centenas de novos clientes. Em todo o país, a rede de atendimento da saúde suplementar não avançou no mesmo ritmo que ganhou usuários. O novo presidente da cooperativa, Samuel Flam, assumiu o comando no último mês e confirma que ainda há o desequilíbrio entre oferta e demanda. Cardiologista do Hospital João XXIII e médico também no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ele diz que sua gestão vai continuar a trajetória de investimentos na ampliação da rede própria assistencial. A operadora também pretende investir em modelos de planos de menor custo operacional.


Mais de 50% da população de Belo Horizonte é usuária de planos privados de saúde. A despeito do crescimento do setor, o déficit da rede hospitalar é expressivo, estimado em 1,5 mil leitos na Grande BH. Qual a estratégia do plano para conseguir atender seus beneficiários?
Aposto todas as minhas fichas na melhoria da qualidade da rede assistencial. Nesse sentido, vamos dar continuidade ao plano de investimentos que a cooperativa tem em curso para ampliar sua rede de atendimento a partir da construção de novas unidades. Também prosseguir com os programas de prevenção, que incentivam o usuário a cuidar da saúde e já reduziram as idas ao pronto-socorro em 19%. Hoje, temos 150 mil clientes inscritos em programas de prevenção. A cooperativa também está testando um novo modelo de atendimento, que chamamos de Pleno. Já temos em andamento um projeto-piloto. Nesse modelo, em vez de o usuário receber um catálogo com o guia de médicos, ele opta por se ligar a uma unidade de atendimento, que vai ser sua referência. Sempre que precisar de um médico, é para lá que ele vai se dirigir. Nessa unidade, ele terá acesso a várias especialidades médicas e terá seu prontuário eletrônico, com todas as suas referências. Esse é um modelo que é benéfico para a operadora, na otimização de custos, e para o usuário, que terá o seu médico de referência.

Em abril, a Unimed-BH inaugurou duas novas unidades de atendimento, com investimentos de R$ 105 milhões, sendo 70% recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Alguns especialistas em saúde condenam esse modelo, porque os recursos poderiam beneficiar o sistema público. O que diz disso?
Não entendo dessa forma. A utilização dos recursos do BNDES é um caminho. A instituição é um banco de fomento para negócios que fundamentalmente trazem melhoria à qualidade de vida da população. Fazem parte desse sistema empresas que vão do segmento de petróleo à siderurgia.

Entre 2005 e 2013, o crescimento da operadora foi de 114%. O senhor vê espaço para o setor continuar avançando, mesmo com o motor do emprego mostrando menor fôlego?
Não poderia dizer qual percentual da população tem potencial para ser atendido pelos planos, mas ainda há espaço para ampliar essa cobertura, que hoje é de 25% entre os brasileiros e mais de 50% em Belo Horizonte. Desde 2006, a carteira de planos corportativos da Unimed-BH foi a que mais cresceu, avançou 173%, ultrapassando 960 mil vidas, o que corresponde a 76% do número de usuários. Ainda há grande potencial de crescimento entre as micro e pequenas empresas. No ano passado, mais de 96% de nossos contratos coletivos tinham até 49 vidas. No estado, as micro e pequenas empresas respondem por mais de 95% do mercado. Outra perspectiva são as grandes empresas que têm seu próprio plano de saúde. Esse é um mercado que vejo como promissor. É interessante para essas corporações transferirem sua carteira para operadores do mercado que têm o seu foco exclusivo na saúde e podem lhes oferecer o serviço com expertise.

A Unimed-BH pretende deixar a carteira de planos individuais, apontada por especialista como explosiva, exatamente por ter reajustes regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)?
A carteira de planos individuais da Unimed-BH voltou a crescer a partir de 2009. Algumas operadoras realmente deixaram de atuar no segmento. Como nós continuamos abertos, estamos ganhando mais usuários e pretendemos continuar operando nesse setor.

Como vê a sustentabilidade do setor daqui para o futuro? A preocupação de muitos usuários é que depois da aposentadoria, pagar o plano sem a ajuda da empresa se torne impossível. Esse mercado pode se desequilibrar, uma vez que a medicina e suas inovações têm alto custo?
Primeiro, é preciso ver se foi o plano que se tornou caro ou a aposentadoria que provocou uma queda na renda. Não vejo esse mercado como explosivo porque o gráfico não pode simplesmente ser projetado para o futuro com as variáveis que temos hoje. O mercado traz inovações que contribuem para custos mais eficientes. É preciso observar, por exemplo, quais tecnologias trazem de fato benefícios para os usuários. É um fato que quanto mais velho o usuário, mais caro se torna o plano. Existem alternativas que não fazem parte dos produtos da Unimed, mas que já estão em estudo no país. Produtos que a população poderia adquirir como uma poupança, para que o beneficiário possa se prevenir para o futuro. O sistema de saúde também deve focar na prevenção, que diminui grandes gastos com as internações hospitalares.

Como médico, como vê o pleito de seus colegas que cobram melhor remuneraçãodos planos?
A cooperativa não fabrica dinheiro e as duas pontas, receita e demanda, devem ser compatibilizadas. Acredito no modelo de melhoria assistencial do sistema. A partir daí, os reajustes nos valores das consultas serão uma consequência. Investimos R$ 8,5 milhões em valores adicionais de consultas para médicos que participam de programas de prevenção como, por exemplo, na puericultura, que presta atendimento aos recém-nascidos no primeiro ano de vida. Nesses programas, o valor da consulta sofre acréscimo considerável, passando de R$ 70 para R$ 120. O que posso dizer também é que o modelo remuneratório da cooperativa está sendo estudado.

Hoje, quais são os principais conflitos entre consumidores e operadoras? Qual o percentual de reajuste esperado para 2014? Acima da inflação, como nos últimos anos?
Os conflitos reduziram bastante. Em sua maioria, dizem respeito a procedimentos e ao uso de material, que não estão previstos no rol estabelecido pela agência reguladora. Para 2014, esperamos um reajuste alinhado com o que a agência vem praticando nos últimos anos.

O número de médicos que a Unimed-BH mantém em seu sistema está adequado para atender o crescente número de beneficiários? Está em discussão no Congresso Nacional projeto de lei que obriga os planos a substituírem de forma imediata os médicos que deixam as operadoras.
A Unimed-BH conta com 5,5 mil médicos cooperados e a cada ano cerca de 170 novos médicos entram para a operadora. Temos um processo de seleção, no qual exigimos do médico o título de cooperado, o que acaba se traduzindo em uma experiência de sete a nove anos de formado. Com esse sistema temos poucas baixas. A saída de médicos se dá mais pela aposentadoria.

Eduardo Almeida Reis - Philosophares‏

Estado de Minas: 15/06/2014 


Que diabo significa a expressão latina contradictio in terminis? Foi o que me perguntei depois do banho, quando resolvi escrever sobre o chuveiro elétrico, que é ótimo em cidades como Cuiabá, Corumbá, Teresina e Palmas, capital de Tocantins. A partir do momento em que o chuveiro precisa aquecer a água temos a contradição, falta de nexo, de lógica, a incoerência ou discrepância, porque se propõe a aquecer consumindo pouca energia. Contradictio in terminis, segundo apurei no Google, é termo jurídico e significa “contradição em (seus) termos”, que não tenho competência para deslindar.

É do gênio de Abgar Renault a seguinte constatação: “80% da inquietação humana têm por causa a imprensa e o banho frio de chuveiro”. Considerando que o controle da imprensa, da boa e da ruim, é meio difícil, como provam os esforços petistas no que respeita à boa, pois a ruim vive na gaveta governamental, só procuro acabar com o drama dos banhos frios.
Fosse mais moço cuidaria de montar pequena indústria de chuveiros marca Lobão. Por que Lobão? Ora, porque é o nome de um cavalheiro que não entende absolutamente nada de eletricidade. O produto de minha pequena indústria, em rigor uma oficina com meia dúzia de funcionários, seria chuveiro feito para aquecer a água do banho sem preocupação com o custo da eletricidade. É muito melhor sair feliz de um banho de 10 minutos, gastando um pouco mais, do que sair furioso de um banho ligeiramente mais barato ameaçando escrever sobre uma contradictio in terminis, que não tem nada com o chuveiro nem com a conta de luz.

Cavalos de botas

Vejo no Houaiss que a locução gato de botas, regionalismo brasileiro, significa pessoa que mente muito. Lembrei-me dela diante da matéria no Estadão, dia 7 de maio, sobre as botas anti-derrapantes usadas pelos cavalos do Regimento de Cavalaria da Tropa de Choque de SP, na armadura adotada para a Copa.

A partir de agora, os cavalos daquele regimento têm viseira de acrílico com protetor de focinho, cobertura de couro no peito e uma espécie de bota antiderrapante que cobre os quatro cascos. Os policiais montam usando novo capacete mais resistente com viseira e proteção para o pescoço, exoesqueleto de polipropileno resistente a pancadas, mochila de hidratação, que permite beber água em ação, joelheiras e botas mais resistentes.

Depois de algumas semanas de treinamento os cavalos se acostumaram aos equipamentos de proteção. Muitas polícias do mundo têm regimentos de cavalaria, maldade inominável com os cavalos, os mais nobres dos animais. Espécie que não merece envolvimento com humanos arruaceiros.

Arruaceiro da espécie Homo sapiens merece canhão de água, canhão sonoro, cassetete, bala de borracha e bala de verdade; tudo, menos envolver cavalos nas arruaças. Já tive cavalo comprado em leilão da PMMG, animal acostumado a tudo menos aos carros de bois. Ficava apavorado quando encontrávamos nas estradas rurais um carro ou uma carroça de bois. Há diferenças entre os veículos: os carros têm eixos fixos, enquanto as carroças permitem que a roda externa gire numa curva enquanto a outra roda está parada.
Não sei se a explicação ficou clara, mas o fato é que os carros esburacam as estradas, ao passo que as carroças são menos destruidoras. Em contrapartida, os carros cantam que é uma beleza. E as velhas rodas de madeira maciça dão lindas mesas de centro nas salas de gente de bom gosto.

O mundo é uma bola

15 de junho: Dia Mundial da Violência Contra a Pessoa Idosa, invenção da ONU para tentar evitar que o jovem odeie o velho por motivos mais que justificados. Primeiro, porque se vê no idoso e constata como é chato passar dos 50; depois, porque os idosos são mesmo muito chatos.
Em 311, Licínio proclama seu Édito de Tolerância acabando com a perseguição aos cristãos na sua parte do Império Romano. Aí, você clica em Édito de Tolerância e constata que o também chamado Édito de Versalhes foi assinado em 1787 por Luís XVI, da França, concedendo aos protestantes o direito de registro civil e marcando o fim das perseguições aos huguenotes.
Mas Licínio existiu e se chamava Gaius Valerius Licinianus (250-325), era militar de origem humilde e foi co-imperador romano. Seu cunhado Constantino, imperador do Ocidente, venceu-o numa batalha e o condenou à morte, mostrando que os cunhados podem ser muito perigosos enquanto as cunhadinhas costumam ser apetecíveis. Constantino se transformou em comandante supremo de todo o Império Romano.
Em 1215, João I, rei da Inglaterra, é obrigado pela nobreza a assinar a Magna Carta limitando os poderes reais. Em 1502, em sua quarta e última viagem à América, Cristóvão Colombo descobre a Ilha da Martinica, onde nasceria em 1763 Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie, a viuvinha Josefina de Beauharnais, primeira mulher de Napoleão Bonaparte, aquela que ele não gostava que se lavasse antes de namorar. Hoje é o Dia do Paleontólogo.

Ruminanças
“A moral do político é como elevador: sobe e desce. Em geral enguiça por falta de energia ou não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que nele confiam” (Barão de Itararé, 1895-1971).

Zona mista Kelen Cristina

Estado de Minas: 15/06/2014 



Boa sorte. Ou não
Celebridades inglesas não perderam a chance de desejar boa sorte à Inglaterra, na estreia na Copa, ontem, contra a Itália, pelo Grupo D. A modelo Naomi Campbell postou, no Instagram, uma foto abraçada à bandeira do país com os dizeres: “Vamos, Inglaterra! #2014CopadoMundonoBrasil”. O que mais deve ter preocupado os nativos da terra da rainha, no entanto, foi a mensagem postada pelo cantor Mick Jagger. Em sua página do Twitter, ele escreveu: “Primeiro jogo da Inglaterra. Desejo a eles a melhor sorte!”. Na Copa da África do Sul, o vocalista do Rolling Stones se notabilizou justamente pelo contrário, sendo considerado o maior pé-frio da competição. Adivinha? Deu errado de novo: a Inglaterra foi derrotada pela Azzurra por 2 a 1.

Gregos e troianos
O idioma oficial entre os técnicos da Copa do Mundo é o alemão – nada menos do que cinco seleções são dirigidas por germânicos (além da equipe do país, Camarões, Croácia, EUA e Suíça). Em segundo lugar aparece o português, falado pelos técnicos de Brasil, Portugal, Irã e Grécia. Ontem,  no Mineirão, palco de Colômbia 3 x 0 Grécia, pelo Grupo C, o fato acabou causando um momento curioso: todas as respostas de Fernando Santos, comandante da Seleção Grega, na entrevista coletiva, foram em português. Nas perguntas dos repórteres, ele só usou o fone da tradução simultânea quando foi questionado por um… grego!

Sem Fuleco...

Inglaterra x Itália, jogo de estreia da Arena da Amazônia no Mundial, não foi necessariamente um sucesso comercial do lado de dentro do estádio. A meia hora do início da partida, quase todos os bares estavam como este da foto, sem fila alguma. E a Fifa nem sequer abriu as lojas de produtos oficiais: quem queria um Fuleco saiu de mãos abanando.

 (Braitner Moreira/DF/D.A Press)


... e sem troco
A prefeitura de Salvador contabiliza a passagem dos holandeses pela cidade, na histórica goleada por 5 a 1 sobre a Espanha, na primeira rodada do Grupo B. Estima-se que 8 mil torcedores da Laranja Mecânica tenham invadido a cidade, especialmente o Pelourinho, que até ganhou o apelido de Orange Square. Na Fonte Nova, no entanto, o faturamento não foi tão alto quanto poderia: durante o jogo, bares do estádio estavam fechados. Enquanto isso, filas se acumulavam na área externa. Circulou a informação de que o motivo seria a falta de dinheiro para dar o troco aos torcedores.

Craque difícil
A Copa do Mundo é o evento que mais emprega boleiros mundo afora – e não estamos nos referindo às quatro linhas. Em toda partida há vários deles nas tribunas de imprensa, atuando como comentaristas. Ontem, no Mineirão, repórteres de diversos países tentaram, de todo jeito, entrevistar o craque colombiano Valderrama. O   ex-jogador se fez de difícil e evitou, a todo custo, dar declarações (o repórter Renan Damasceno, do EM, foi um dos poucos a arrancar algumas frases dele, na chegada ao estádio). No fim, Valderrama voltou a driblar quem estava atrás de uma palavrinha, já que deixou o estádio 10 minutos antes de  o jogo acabar.

Forcinha extra
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o colombiano Luís Alberto Moreno, acompanhou em BH a estreia da seleção de seu país. Na véspera, ao participar da assinatura de um convênio com o governo do estado, no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), ele aproveitou para pedir a torcida dos mineiros. “Sou do mundo, sou Minas Gerais. Mas conto com a torcida dos mineiros para a Colômbia”, disse. O Mineirão, de fato, estava tomado pelas cores amarelas.

Falou e disse

‘‘O Michael Schumacher é tão louco por futebol como nós e não está bem. Se for para ganhar o título, sei que está longe ainda, vou fazê-lo para o meu amigo”


Lukas Podolski, atacante alemão

COLUNA DO JAECI » Festa da 'ColômBHia'‏

COLUNA DO JAECI » Festa da 'ColômBHia'

"Tudo funcionou como manda o figurino. Foi bom, porque deveremos ter a Seleção Brasileira jogando no Mineirão no dia 28, pelas oitavas de final, e, quem sabe?, a semifinal de 8 de julho"

Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 15/06/2014

Foi lindo ver o Mineirão lotado, cheio de colombianos à vontade, como se estivessem em Bogotá. A abertura da Copa em BH comprovou que ela foi a mais bem preparada em todos os aspectos. Acompanhando Mundiais há duas décadas, jamais vi estádio nenhum lotado de torcedores de outro país que não o local. O prefeito Marcio Lacerda e o filho Tiago, secretário da Copa, decidiram que BH seria a melhor sede e prometeram que as obras seriam para a população. Com 97% delas concluídas, constatamos que aqui terá legado. No Mineirão – lindo, confortável e inteiramente pronto para um jogo da competição –, os colombianos deliraram, a ponto de sua seleção fazer o melhor jogo de sua história em Mundiais justamente aqui.

Os abutres de plantão esperavam que Confins fosse um fiasco e se deram mal. O aeroporto recebeu os colombianos sem problemas, assim como os poucos gregos que se arriscaram a vir. Também não houve problema no percurso para o estádio. Tudo funcionou como manda o figurino. Foi bom, porque deveremos ter a Seleção Brasileira jogando no Mineirão no dia 28, pelas oitavas de final, e, quem sabe?, a semifinal de 8 de julho. Quando a bola rolou e tudo funcionou, deu gosto de ver. Pelo menos Colômbia 3 x 0 Grécia não teve erros de arbitragem como em Brasil 3 x 1 Croácia, México 1 x 0 Camarões e Espanha 1 x 5 Holanda.

Que festa dos colombianos! Senti saudades do amigo Aristizábal, que fez história no Cruzeiro campeão da tríplice coroa em 2003 e voltou ontem ao Mineirão. Como ele jogava! O time colombiano não é dos melhores e não deverá ir muito longe. É limitado, mas bem treinado pelo argentino José Pékerman. Como o futebol anda nivelado – infelizmente, por baixo –, tudo pode acontecer. Sinceramente, não me arriscarei a dar muitos palpites, pois a goleada improvável da Holanda sobre a Espanha quebrou qualquer possibilidade de previsão.

Claro que quando a Copa se afunilar as grandes seleções começarão a fazer diferença, mas até chegar às fases de mata-mata é preciso buscar uma das duas vagas. Surpresas em Mundiais acontecem. Turquia e Coreia do Sul foram semifinalistas em 2002. Os sul-coreanos, anfitriões ao lado dos japoneses, foram favorecidos pela arbitragem do equatoriano Byron Moreno, que anulou dois gols do italiano Vieri nas quartas de final – posteriormente, o juiz seria preso por tráfico de drogas e banido do esporte.

Foi bom esse primeiro teste no Mineirão. Alguns amigos desistiram de ir, temendo não conseguir chegar ao estádio por causa de manifestações. Mas tudo correu normalmente. Que seja assim também nas oitavas. Já tem gente apostando em Brasil x Espanha, mas a situação dos campeões mundiais se complicou. Se empatarem com o Chile na segunda rodada, praticamente darão adeus. Mas é praticamente certo que pegaremos chilenos ou espanhóis, partindo do pressuposto de que seremos os primeiros do grupo. Para isso, bastará boa vitória sobre os mexicanos na terça-feira, em Fortaleza.

Fiquei feliz. Fomos a primeira capital a se modernizar e se preparar, a melhorar a qualidade de vida da população. Sabemos receber bem. O príncipe Harry pode vir ver sua Inglaterra jogar, que levará ótima impressão da cidade. Vamos recebê-lo com tapete vermelho. Com o jogo de ontem, mostramos ao mundo que BH está na moda e Minas Gerais tem história e tradição. Só espero que os ingleses não “aprontem” novamente, como em 1950, quando perderam dos Estados Unidos por 1 a 0, no Independência, na partida por muitos apontada como a maior zebra da história da Copa.

Como disse o amigo e competente jornalista Régis Souto, quem venceu foi a “ColômBHia”. Para ele, o jogo mostrou nossa cara, organização e a certeza de que acertamos em cheio ao trazer uma das sedes deste Mundial. BH mostrou sua cara, sua gente, e os colombianos deram show à parte. A cidade está na moda e nas páginas internacionais. Tem Copa sim, apesar das aves de mau agouro.

Real e mágico: BH em dia de Macondo‏

Real e mágico: BH em dia de Macondo
Carlos Marcelo
Estado de Minas: 15/06/2014


Que pena: Gabriel García Márquez não viveu para contar a história de um povo que saiu de seu país para tingir de uma só cor o maior estádio de um dos maiores estados do maior país da América do Sul. Foi real. Foi mágico. Não foi em Macondo,  foi em Belo Horizonte. Por um dia, a capital mineira foi também a capital da Colômbia: BHogotá.

Logo após a convincente vitória da seleção de seu país em cima da Grécia, o jornal colombiano El Tiempo cravou, com orgulho, no site: “El himno nacional retumbó en Brasil”. Exato: o brado retumbante colombiano foi entoado no volume máximo e iniciou uma festa que, reforçada pelos brasileiros, balançou o Mineirão como nos grandes momentos da história do estádio.

A reverência aos ídolos do país – camisas com o nome de Falcao García, perucas de Valderrama – foi o primeiro aspecto observado na Savassi, Pampulha e outros locais por onde os colombianos circularam, sorridentes e simpáticos. Mas o ponto alto da “invasão” ocorreu nas arquibancadas, em um espetáculo tão arrebatador quanto o peixinho do holandês Van Persie na Fonte Nova. Como reconheceu o técnico argentino José Pékerman, “são fatos que ficam anotados para a história”. Por enquanto, no placar da animação das camisas amarelas, ficou assim: Mineirão 1 x 0 Itaquerão. Será que o Brasil vai conseguir virar o jogo? Se ficar no chocho e repetitivo “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, fica difícil. Mas há tempo para reverter. Enquanto isso não acontece, vale o registro: no dia 14 de junho de 2014, em Belo Horizonte, a expressão “amarelar”, antes depreciativa, ganhou outro – e poderoso – significado.