segunda-feira, 26 de maio de 2014

LITERATURA » Vidas que se contam

Ana Miranda lança hoje em BH os livros Semíramis e O peso da luz - Einstein no Ceará. Romances da escritora mesclam ficção, realidade histórica e personalidades literárias


Walter Sebastião
Estado de Minas: 26/05/2014



Ana Miranda destaca a riqueza literária, política e humana de José de Alencar, personagem de Semíramis     (Drawlio Joca/Divulgação)
Ana Miranda destaca a riqueza literária, política e humana de José de Alencar, personagem de Semíramis


A escritora cearense Ana Miranda ficou conhecida por sua obra singular: romances que têm como personagens nomes da cultura brasileira, como os poetas Gregório de Matos (1636-1696) e Augusto dos Anjos (1884-1914). Ela lança hoje, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, dois novos livros, Semíramis, que traz como personagem José de Alencar (1829-1877), o mais conhecido dos autores do romantismo brasileiro, e O peso da luz – Einstein no Ceará.

Semíramis, pontuando as angústias de José de Alencar, traz o cenário literário brasileiro do século 19, marcado por autores ilustres (Gonçalves Dias, Castro Alves e Machado de Assis, entre outros), a partir da história de duas irmãs, Iriana e Semíramis. Já O peso da luz conta a aventura de um amante das ciências, estudioso das mas avançadas teorias, que escreve suas memórias.

Ana Miranda acredita que a mistura de ficção e história está presente de certa forma em todos os romances. “Alguns mesclam a história pessoal do autor com a trajetória de sua família ou de um amigo. No meu caso, além das histórias pessoais, uso a tradição literária brasileira e de seus autores, que são minha fonte linguística e meus personagens.”

A romancista conta que nos primeiros livros sofria com o dilema da recriação de gente que existiu de fato. “Perguntava-me se tinha esse direito, se eles estariam aprovando.” Para Ana, tudo é ficção num romance, “tudo é verdade poética”, propõe. Mas faz questão de frisar que respeita a realidade histórica e se preocupa com a pesquisa e a exatidão das datas e fatos históricos. “Resolvi grande parte da questão dando voz a um personagem narrador, narrando na primeira pessoa: não sou mais eu quem está dizendo, é o personagem.” Ela reconhece que o equilíbrio é delicado, “mas estou aprendendo aos poucos a lidar com tudo isso”, garante.

ANA MIRANDA
Lançamento dos livros Semíramis e O peso da luz – Einstein no Ceará. Hoje, às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Entrada franca.

três perguntas para...

Ana Miranda
escritora

Por que fazer de José de Alencar um personagem de Semíramis?

Sinto afinidades atávicas com José de Alencar. Ele sempre expressou, e muito nitidamente, suas inquietações, escreveu sobre elas. Não deixava passar nada, mergulhava nos conflitos, gostava mesmo de criar polêmicas, tanto na área da política quanto na literária. Era atento a tudo. Ele nasceu numa família de políticos e se envolveu em todas as querelas do poder. Sofria o conflito de não ser liberal como o pai, mas conservador, e de ser um inimigo do rei e trabalhar no governo imperial. Seus discursos como deputado eram ardentes, e ele enfrentava os abolicionistas, até mesmo seus pares. Batia-se contra os lusitanos, pregando uma libertação também da nossa língua brasileira. Enfim, sua vida foi uma guerra. Admiro-o muito por isso. Além de tudo, no romance brasileiro foi ele quem levou as primeiras balas no peito. Foi ele quem fundou e inventou a crônica como gênero jornalístico. Mas o que me interessou no meu romance não foi nada disso; foi compreender quem ele era na sua parte mais profundamente humana. Aquele menino, o Cazuzinha.

Quanto há de ficção e de realidade em Semíramis?

Em Semíramis, a família Alencar é real, como a avó, Bárbara do Crato, que foi uma heroína republicana, a primeira presa política na história do Brasil; tudo o que compõe a vida de Alencar se baseia em sua biografia real. O Crato é construído a partir de documentos da época. O Alagadiço fica aqui perto de minha casa, assim como Aquiraz. O núcleo ficcional é o universo de Iriana e Semíramis, e tudo o que elas apresentam é fictício. Assim, toda a vida de Alencar se torna ficção, apresentada por uma narradora inventada. Mas a ordem dos fatos, as datas, os acontecimentos, correspondem à biografia de Alencar.

E como chegou a O peso da luz – Einstein no Ceará?

Foi escrito para homenagear meu tio-avô, que era inventor. Esse tio, que se chamava Inácio Nóbrega e morava em Cajazeiras da Paraíba, inventou, nos anos 1930, um controle remoto. O livro é uma homenagem aos inventores em todas as áreas, às utopias e quimeras. Mas também é uma homenagem ao Ceará, pois aborda um tema cearense, que é a comprovação da teoria da relatividade geral, de Einstein, ocorrida durante um eclipse em Sobral, em 1919. Sobre Einstein, é entusiasmante sua personalidade ao mesmo tempo meiga e insolente, seu senso de humor, sua simplicidade e despojamento de bens materiais. E a inteligência brilhante dele, que se expressava em ideias científicas, mas também nas frases que ele despejava com espontaneidade.

TeVê

TV PAGA » Lê, lê, lê, lê

Estado de Minas: 26/05/2014



 (Fox/Divulgação)


Estreia hoje, às 20h30, na Fox Life, a novela A escrava Isaura. Não é a versão original, de 1976, com Lucélia Santos e Rubens de Falco, mas a de 2004, com Bianca Rinaldi e Leopoldo Pacheco (foto) nos papéis principais. Baseada no romance de Bernardo Guimarães, a novela narra o drama da escrava de pele branca que sofre horrores nas mãos de seu senhor Leôncio, até encontrar a felicidade.

Ação, drama e humor
no pacotão de cinema


Para os cinéfilos, a grande pedida é o suspense O sistema, com Alexander Skarsgård, Ellen Page e Brit Marling, que estreia às 22h, no Telecine Premium. No mesmo horário, a HBO exibe Amigos inseparáveis – Eles não fazem como antigamente, com Al Pacino. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito boas opções: Elysium, na HBO 2; Febre do rato, no Telecine Cult; Gonzaga – De pai para filho, no Telecine Touch; O garoto de bicicleta, no Max; O dia em que a Terra parou, na Fox; Grande menina, pequena mulher, no Sony Spin; E se fosse verdade, na MGM; e Divinos segredos, no Glitz. Outras atrações: Filha do mal, às 20h30, no Universal Channel; Snatch – Porcos e diamantes, às 21h, no Cinemax; e Planeta dos Macacos – A origem, às 21h25, no FX.

Muita música hoje na  programação do Curta!


Segunda-feira é dia de música no canal Curta!. Tudo começa às 19h45, com o documentário Meu nome é Gal, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, que registra a performance de Gal Costa em três canções que marcaram o início de sua carreira. Às 21h30 é a vez de Tempo rei, de Breno Silveira, que comemora os 30 anos de carreira de Gilberto Gil. E às 23h, Rogério Duprat – Vida de músico retrata a vida e a obra de Rogério Duprat, compositor brasileiro, autor do Manifesto da Música Nova e responsável pela sonoridade da Tropicália.

GloboNews serve uma reportagem deliciosa


A produção de Mundo S/A viajou de Nova York ao Maranhão para finalizar duas reportagens de dar água na boca. Joana Calmon apresenta primeiro o mercado de confeitarias em Nova York e a origem do cupcake , o bolo de forminha que serve uma pessoa e virou febre em festas infantis, chás de bebê e casamentos. Em seguida, a repórter vai ao Maranhão e fala sobre o Guaraná Jesus, um refrigerante de cor rosa criado por um farmacêutico no início do século passado e que virou hit na região norte do país. Confira às 23h, na GloboNews.

Canal A&E vai trazer  de volta a série Caos

Produção nacional sobre os achados de lojas de penhores e peças de colecionadores, a série Caos está de volta à telinha, desta vez no canal A&E, toda segunda-feira, às 22h. Apresentado originalmente pelo canal History, o programa mostra o cotidiano de Tibira e Carrô, sócios em uma loja na famosa Rua Augusta, em São Paulo. Durante o dia funciona a loja, nada tradicional, que compra, vende e troca os mais variados objetos vintage. Durante a noite, Caos se transforma em bar. E por falar em History, chega ao fim hoje a série Destemidos e radicais, às 19h.



Baú de lembranças
Simone Castro



Carreira da atriz Fernanda Montenegro é revisitada no Arquivo N  (Globo/Divulgação)
Carreira da atriz Fernanda Montenegro é revisitada no Arquivo N


Imagens que estavam esquecidas há mais de 30 anos e um depoimento emocionado da atriz Fernanda Montenegro falando sobre teatro e colegas de profissão, gravado em 1974, são algumas das lembranças remexidas pelo Arquivo N, que vai ao ar na quarta-feira, às 23h, na GloboNews (TV paga). A carreira da grande dama é revisitada e vem à tona ainda a famosa entrevista concedida à Sandra Moreyra para a TV Cultura, na ocasião em que Fernanda foi convidada para ser ministra da Cultura, em 1985. A atriz não aceitou o convite e afirmou: “Meu espaço é no teatro, não na política”. O que não significa que ela não se posicione a respeito, com opiniões claras sobre a Constituição e outros temas relevantes para a realidade do país. Única brasileira já indicada ao Oscar, Fernanda também foi a primeira a ganhar o Emmy Internacional por sua atuação na série Doce de mãe. Primeira atriz contratada pela TV Tupi, Fernando Montenegro atuou ainda como redatora, locutora e radioatriz da Rádio MEC. “O rádio foi a universidade que eu não tive”, afirma.

VIVA EXIBE HOJE ÚLTIMO  PROGRAMA DE CHACRINHA

Abelardo Barbosa no comando do último Cassino do Chacrinha poderá ser visto no canal Viva (TV paga), hoje, às 20h30. Inédito na emissora, o programa foi gravado duas semanas antes do falecimento do Velho Guerreiro e foi ao ar em 2 de julho de 1988, pela TV Globo. Direto do Teatro Fênix, o apresentador divide o comando da atração com João Kléber. Entre os convidados estão Jair Rodrigues, que morreu recentemente, Susana Vieira, Rômulo Arantes, RPM, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial.

ANA PAULA PADRÃO PODE  COMANDAR REALITY SHOW

A jornalista Ana Paula Padrão está prestes a voltar à TV. Ela e a Band podem fechar contrato nos próximos dias. Ana Paula é cotada para comandar o reality show MasterChef, competição de culinária que deve ocupar o horário nobre da emissora no segundo semestre deste ano. Nos bastidores, especula-se que o SBT também estaria interessado no passe da futura apresentadora.

HUMORISTA GRAVA E AGITA  COM TATÁ E FÁBIO PORCHAT

Convidado de Tatá Werneck e Fábio Porchat na gravação de Tudo pela audiência, novo programa sob a batuta da dupla, que estreia dia 15 de julho, no Multishow, o humorista Marco Luque agitou os trabalhos. Ele gravou diferentes quadros para a atração, entre eles o “Kama surta”, no qual respondeu perguntas sobre sexo feitas pelos anfitriões. Luque ainda tentou se virar como vendedor de coco e usou um bastão para socar um boneco que representava diversas pessoas que já falaram mal dele.

SOCIALITE É COTADA PARA  ABANDONO DE PERSONAGEM

André (Bruno Gissoni) faz uma busca incansável pela mãe biológica, na trama de Em família (Globo). Nem os alertas da que o adotou, a amorosa Dulce (Lica Oliveira), conseguem dissuadi-lo da empreitada. Pode ser que ele acabe ficando frente a frente com a mulher que o abandonou ainda bebê em um orfanato e nunca mais quis saber dele. Nos bastidores da novela, a socialite Shirley (Viviane Pasmanter) aparece como forte candidata ao posto da mulher desalmada. Será? Caso seja, o que vai na cabeça do autor Manoel Carlos, novo problema à vista: André seria irmã de Bárbara (Poliana Aleixo), filha de Shirley, jovem que arrasta um bonde pelo bonitão.

ESPECIALISTAS NA COPA

O SBT planeja desde o fim do ano passado a cobertura da Copa do Mundo. Para não perder um só lance dos jogos durante a competição nas 12 cidades-sede, equipes de São Paulo, regionais e afiliadas se mobilizam e garantem que levarão o melhor para o telespectador. Já foram escalados especialistas para os comentários nos telejornais SBT manhã, SBT Brasil e Jornal do SBT noite: o ex-jogador e técnico Joel Santana; o ex-jogador da Seleção Brasileira e comentarista do Arena BT, Edmilson; o ex-jogador e apresentador do programa Menino de ouro, Paulo Sérgio; e o jornalista Bruno Vicari, que apresenta os boletins SBT na Copa. Vicari integra ainda a equipe de 20 profissionais, como Sid Marcus e Celito Esteves, que vai acompanhar a Seleção Brasileira em todo o trajeto durante a Copa do Mundo.



VIVA
Economia doméstica e bons exemplos rendem sempre um ótimo programa no Globo repórter.

VAIA
Sabrina Sato, dona de programa solo na Record, é o típico caso do passo maior do que a perna.


simone.castro@uai.com.br

Inovação com restos de comida‏

Engenharia da UFMG e Methanum, empresa especializada em desenvolver tecnologias energéticas, criam plataforma que transforma resíduos de restaurante em biogás



Flávia Ayer
Estado de Minas: 26/05/2014





Em vez de irem para o lixo, restos de alimentos se transformam em biogás – biocombustível usado na produção de energia –, água e fertilizante na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A instituição de ensino abriga a primeira Plataforma de Metanização de Resíduos Orgânicos (pMethar) do Brasil. Desde dezembro, as sobras de comida do maior restaurante do câmpus Pampulha, o Setorial II, mais conhecido como Bandejão, seguem para a planta de tratamento. Diariamente, a unidade recebe cerca de 500 quilos de cascas de frutas, verduras, arroz, feijão, carne, entre outros alimentos. Em pouco tempo, a iniciativa inovadora conseguiu mostrar na prática que é possível reduzir a quantidade de resíduos enviada a locais como aterros sanitários e ainda gerar frutos. E já virou exemplo para municípios e empresas.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), mais da metade (51,4%) de todo o lixo gerado no país é composto por matéria orgânica, sendo que apenas 1,6% recebe tratamento adequado. Uma das determinações do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é diminuir os resíduos orgânicos dispostos em aterros sanitários, e, dentro desse contexto, a plataforma é uma aliada. “Reduzimos a quantidade de orgânicos aterrada, diminuímos o impacto sobre o meio ambiente e ainda produzimos energia e outros subprodutos”, reforça o coordenador da pMethar, Carlos Chernicharo, professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.

Ao chegar à plataforma, os restos de comida vão para uma unidade de triagem, para a retirada de plásticos, metais, vidros e papéis que eventualmente estejam juntos. Depois de as sobras serem trituradas, há a adição de água. Essa mistura, que se assemelha a uma sopa, vai direto para o reator de metanização, também chamado de biodigestor. Nele, uma série de micro-organismos anaeróbios – entre eles os situados no estômago do boi – liberam enzimas e se alimentam desse substrato. O resultado é a produção de biogás, formado por gás carbônico, sulfeto de hidrogênio e, principalmente, metano. A propósito, o metano é o principal componente do gás natural usado como combustível em veículos. No lugar de carros, o biogás produzido na pMethar é usado num motor para a geração de energia elétrica e térmica. A metanização dos 500 quilos de resíduos orgânicos gera até 160 mil litros de biogás por dia e, agora, a equipe está levantando o potencial energético da plataforma.

“A intenção é usar a energia para a operação da plataforma e injetar o excedente na rede elétrica da Cemig, para diminuir a conta de luz da universidade”, diz Chernicharo, ressaltando que a pMethar não se encarrega de dar destino correto apenas ao subproduto biogás. Isso porque do biodigestor sai também um líquido com concentração de matéria orgânica aproveitado integralmente pela equipe da plataforma. A mistura segue para a unidade de separação de sólidos e líquidos, uma espécie de coador de café que separa a água do lodo biológico. O material sólido vai para um secador térmico, aquecido pela energia térmica produzida na própria unidade.

Nesse processo, o lodo é convertido em um biossólido que pode ser usado como fertilizante de solo. Já a destinação da água está ainda sendo definida pela equipe da pMethar. “Como essa água de reuso é rica em nitrogênio, pode ser usada para fertirrigação de áreas verdes no entorno da planta. Também podemos usar no abastecimento da unidade”, ressalta o professor.

TECNOLOGIA NACIONAL Orçada em  R$ 500 mil, a pMethar é uma iniciativa conjunta da Escola de Engenharia da UFMG e da Methanum, empresa especializada no desenvolvimento de tecnologias de valorização energética. “O tratamento de resíduos orgânicos em pequena escala com tecnologia nacional é muito inovador. Visitamos muitos países para desenvolver algo aplicável à realidade brasileira”, afirma a diretora de planejamento e gestão da Methanum, Tathiana Almeida Seraval. O estudo de viabilidade técnica da plataforma está em elaboração, mas a experiência já mostrou que esse é o caminho. “É claro que o custo não se compara ao de um aterro, mas a plataforma trata o resíduo de maneira adequada, atendendo ao PNRS, e ainda gera produtos de valor agregado”, reforça. A intenção é que a unidade sirva como exemplo para o tratamento descentralizado de resíduos sólidos orgânicos para municípios, outras universidades, empresas, entre outros.

“Já recebemos a visita de representantes de algumas prefeituras e de empresas”, afirma o professor Carlos Chernicharo, que reforça que o potencial da pMethar vai muito além de restaurantes e pode receber resíduos de centros de abastecimentos, sacolões, supermercados, entre outros. A implantação da plataforma contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapemig), da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e do Ministério das Cidades. A pMethar foi a primeira unidade a se instalar no Quarteirão 10 do câmpus Pampulha da UFMG, destinado ao desenvolvimento de projetos voltados para as áreas de energias renováveis, tecnologias e construções sustentáveis. 

Pilares da saúde e da reforma urbana - Fábio Ribeiro Baião‏

Pilares da saúde e da reforma urbana
Fábio Ribeiro Baião

Coordenador da ortopedia do Hospital da Baleia, mestre em gestão social, educação e desenvolvimento local
Estado de Minas: 26/05/2014


Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são sete os pilares para se manter a qualidade de vida com saúde e alcançar a longevidade: evitar o tabagismo, o etilismo, não ser obeso nem sedentário, manter sob controle a pressão arterial, o colesterol e a glicose. Porém, até estudos mais recentes pouco se sabia da exata ordem de importância dessas características em cada faixa etária, uma vez que o número possível de combinações é grande. Um interessante trabalho do Jornal Britânico de Medicina Esportiva publicado em maio, de autoria de Brown et Cols, deu à luz uma série de respostas para entendermos bem essas relações. Isso é muito importante, pois para cada faixa etária devemos eleger as prioridades.

O estudo envolveu 32.154 mulheres australianas, avaliando-se quatro das sete variáveis da OMS: sedentarismo, pressão alta, tabagismo e obesidade. O fato relevante encontrado foi destacar a inatividade física como o mais importante causador de doença cardíaca.

Isso pode causar uma mudança no foco das políticas de promoção de saúde, que devem dar a atenção que esse item de fato merece. Até então, o sedentarismo vinha na quarta ordem de prioridade, sendo a seguinte a sequência clássica de relevância: obesidade, tabagismo, pressão arterial alta e inatividade física. Agora, o sedentarismo vem como fator de risco número um, seguindo-se as demais como já ranqueadas.

Estudou-se a prevalência de cada fator de risco em cada uma das faixas etárias. Por exemplo, a incidência de fumantes entre os 22 a 27 anos foi de 28%, enquanto que na população de 73 a 78 anos foi de 5%. Por outro lado, a prevalência aumentou gradativamente de 48% para 81% para sedentarismo dos 22 aos 90 anos, e de menos de 5% para 47% para pressão alta. Já o sobrepeso incidiu em 46% nas mulheres de 20 a 27 anos, 79,2% entre 59 e 64 anos, e 62,4% de 85 a 90 anos.

Analisando os dados encontrou-se que o tabagismo é o fator mais importante para a doença cardíaca para a idade até 30 anos, com um fator de risco atribuível de 59% entre os fatores listados. Mas o seu percentual de contribuição na faixa de 73 a 78 anos passa a ser de apenas 5,3%, quando as outras variáveis se tornam mais relevantes. O risco atribuível à obesidade foi de 32,7% dos 31 aos 36 anos; e de 10,7% para pressão alta dos 56 aos 64 anos.

Constatou-se ainda que 47,2% das mulheres entre 22 e 27 anos declararam baixa ou nenhuma atividade física, elevando-se para 50,9% entre 31 e 36 anos até chegar a 23,5% entre 85 e 90 anos. Estima-se que se essa população realizasse atividades físicas de esforço moderado, regulares, de pelo menos 150 minutos por semana, pelos menos 2 mil vidas poderiam ter sido poupadas em tenra idade.

Em nosso meio, precisamos disseminar essa informação. Enquanto sociedade, precisamos assimilar que mudanças serão necessárias num futuro bem próximo na forma como vivemos nos hipercentros. Num esforço para construir cidades saudáveis, grandes metrópoles como Nova York e Londres já têm alterado suas vias urbanas em determinadas regiões, alargando passeios à custa das pistas de rolamento, priorizando as vias para os pedestres e ciclistas. Em muitas cidades, inclusive Belo Horizonte, aguarda-se matéria a ser votada pelo Legislativo municipal sobre o assunto nos próximos dias. As leis impedirão de se construir novos imóveis com mais de uma vaga de garagem para tentar conter no longo prazo o caos no trânsito e sedimentar novos valores de mobilidade urbana.

De quebra, se ganha saúde, possibilidade de se construir com acessibilidade – um desafio arquitetônico intransponível no atual modelo –, priorizar o transporte coletivo e contribuir para diminuir a poluição do ar que respiramos, outra importante fonte de adoecimento.

Legado da Copa na mobilidade urbana só beneficiará cidades sede

Legado só para anfitriões 

Capitais sem jogos receberam R$ 751,8 milhões para obras de mobilidade urbana desde 2011, enquanto destinos das partidas tiveram R$ 2,2 bilhões 

 
Paulo de Tarso Lyra
Estado de Minas: 26/05/2014

Aeroporto internacional de Fortaleza, capital que terá seis partidas da Copa: de R$ 5 bi do PAC 2 para 21 terminais, R$ 3,27 bi ficaram nas cidades-sede (Davi Pinheiro/REUTERS %u2013 13/4/14)
Aeroporto internacional de Fortaleza, capital que terá seis partidas da Copa: de R$ 5 bi do PAC 2 para 21 terminais, R$ 3,27 bi ficaram nas cidades-sede

Brasília
– Um dos argumentos para justificar a Copa do Mundo no Brasil, o legado da mobilidade urbana gerou uma divisão entre as 12 capitais que vão sediar os jogos e as 15 demais que assistirão só pela TV. As cidades que recepcionarão jogadores e turistas tiveram verbas específicas para o Mundial, prioridade quando os recursos eram distribuídos também a outros centros, e uma fiscalização mais rigorosa para que as obras pudessem ser entregues a tempo.

Apenas dentro da rubrica Copa do Mundo, o governo disponibilizou R$ 12,85 bilhões, divididos em PAC Copa, PAC Legado da Copa e Entorno das Arenas. Todas são obras apresentadas pelo governo federal à Fifa, responsável por organizar o evento. Nos projetos estão melhorias urbanas e viárias para ajudar o trajeto dos torcedores pelas cidades, do aeroporto até o estádio, além do conforto ao redor das arenas construídas para sediar as partidas.

Além dessa verba com carimbo específico, as capitais escolhidas como sede do Mundial de 2014 também acabaram entrando à frente na fila de prioridades quando foram analisados os recursos gerais do PAC Mobilidade Urbana. Lançado ainda no primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff, o programa reservou R$ 32,49 bilhões para investimentos em cidades com população acima dos 700 mil habitantes.

Para melhor organizar os trabalhos, elas foram divididas em três grupos. No primeiro, estão nada mais nada menos do que nove das 12 cidades-sede: Salvador, Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. No segundo grupo aparece Manaus, ao lado de outras cinco cidades, sendo três capitais (Goiânia, São Luís e Belém). E no terceiro, Natal, no mesmo bloco com outros seis municípios.


Em agosto de 2012, dois meses antes das eleições municipais, o Ministério das Cidades lançou o PAC Mobilidade Urbana para médias cidades. Para atender os 75 municípios com população entre 250 mil e 700 mil habitantes, foram reservados R$ 8,06 bilhões. Nesse grupo surge a única cidade-sede da Copa do Mundo não beneficiada no lote anterior de verbas: Cuiabá.

PRESSÃO Tudo parecia ir bem até que chegaram as manifestações de junho de 2013, às vésperas da Copa das Confederações, evento teste da Fifa. Milhares de brasileiros foram às ruas protestar contra os investimentos na Copa e pedir mais recursos para educação, saúde e saneamento. Em meio ao tumulto e em plena Copa das Confederações, a presidente Dilma convocou governadores e prefeitos de capitais para reunião de emergência no Palácio do Planalto. Além de anúncios gerais, como a defesa de um plebiscito para discutir reforma política, o anúncio da vinda dos cubanos para o Mais Médicos e dos recursos do pré-sal para educação, Dilma reservou R$ 50 bilhões para o Pacto pela Mobilidade, que buscava “melhor qualidade, menor tarifa e mais transparência nos gastos na área de transporte público”.
A tarefa de discutir os projetos foi dividida em grupos. O primeiro deles incluiu oito das 12 sedes e suas respectivas regiões metropolitanas: São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Cuiabá, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza. Natal, Brasília e Manaus ficaram para uma segunda leva de capitais envolvidas no pacto.

DESIGUAL Quando se fala apenas de recursos do orçamento-geral da União, levantamento feito pela liderança do DEM no Senado junto ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) mostra que, entre 2011 e 2014, as cidades-sede tiveram dotação orçamentária para obras de mobilidade urbana de R$ 2,2 bilhões, dos quais R$ 353 milhões foram efetivamente pagos. No caso das não sedes, foram destinados R$ 751,8 milhões e pagos apenas R$ 5,8 milhões. Mas todas as obras de mobilidade são, como destacou o secretário nacional de Transportes e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Júlio Eduardo dos Santos, compostas de maneira tripartite: um terço de orçamento do governo federal, um terço de financiamento do BNDES e um terço de contrapartida de estados e municípios.

O disparate nas obras de mobilidade se repete nas reformas e ampliações dos aeroportos. O investimento total do PAC 2 em aeroportos, de responsabilidade da Infraero, foi de R$ 5 bilhões em 21 aeroportos, sendo R$ 3,27 bilhões destinados aos 12 terminais das capitais que terão jogos.

Pressa conforme o prazo de entrega


Brasília – O secretário nacional de Transportes e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Júlio Eduardo dos Santos, afirmou que é um equívoco pensar que as obras de mobilidade urbana que estão sendo feitas ao longo dos últimos três anos são exclusivamente destinadas à Copa. Assim como a presidente Dilma Rousseff afirmou em relação aos aeroportos, Júlio disse que o legado para os brasileiros está garantido. “É como quando reformamos a casa para dar uma festa aos amigos. No dia seguinte, quando todos tiverem ido embora, a casa ainda estará lá para que nós possamos desfrutar”.

Júlio afirmou que a distribuição de recursos seguiu critérios populacionais e estratégicos. E também foram alavancados por juros subsidiados para facilitar o empréstimo. “Cada prefeito e governador teve que apresentar os projetos, sem os quais o dinheiro não seria disponibilizado. E este só é liberado à medida que as obras avançam em seu cronograma de execução”, assegurou.
O secretário admite, contudo, ser inevitável uma atenção maior às obras realizadas nas cidades que sediarão os jogos. “Qual a diferença entre elas e as demais, realizadas em outras cidades brasileiras? Que as primeiras têm uma data-limite para serem entregues (o início dos jogos). As demais têm um cronograma um pouco mais flexível”, completou.

PULVERIZAÇÃO Para o cientista político Leonardo Barreto, a análise de que uma parte das cidades sairá em vantagem por sediar os jogos da Copa, em comparação com as demais, é inevitável. Mas saiu em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quis que a Copa fosse realizada em 12 sede espalhadas pelas cinco regiões. “De certa maneira, isso desconcentrou os investimentos dos eixos normalmente beneficiados com recursos.” Já o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf considera ser impossível falar em legado nacional em um país das dimensões do Brasil. “Minha maior preocupação é se, de fato, as obras nas cidades-sede ficarão prontas após a realização do Mundial”. (PTL)

À espera de uma surpresa - Renato Janine Ribeiro



À espera de uma surpresa

Por Renato Janine Ribeiro
A campanha parece estar chegando a uma certa estabilidade na instabilidade, que dificilmente sofrerá mudanças sensíveis antes de começar - depois da Copa - o período que os pernambucanos chamam de "guia eleitoral", isto é, a propaganda na TV e no rádio. A não ser que haja um imprevisto enorme - e o problema é que estamos vulneráveis a surpresas.
O que sabemos: que Dilma Rousseff está perto de ser reeleita no primeiro turno ou de ficar para o segundo - isto é: tudo é possível, tudo está por um fio. Aécio Neves pode ganhar, se chegar ao segundo turno e conseguir a transferência dos votos de Eduardo Campos. Ou seja, o quadro só se definirá perto das eleições. Mas há um dado difícil de mudar: Eduardo não se diferenciou de Aécio. Ele se portará como um coadjuvante na eleição, salvo uma reação enérgica, que está tentando mas até agora sem êxito. PT e PSDB conseguiram marcá-lo na oposição. Os petistas o atacam, os tucanos o acolhem, mas o efeito é o mesmo: ele aparece como um sócio menor do projeto tucano. Essa situação é letal para a "terceira via". Marina Silva não teria deixado as coisas chegarem a esse ponto. Essa situação da terceira via ficar em terceiro lugar não parece fácil de alterar.
Nosso eleitorado se divide em três grupos, de tamanho próximo: um terço gordo (algo acima de 33%), que é o eleitorado seguro do PT, outro, que prefere os dois candidatos de oposição, e um "terceiro terço", que por ora não se decidiu. Esses números sobem e descem com as pesquisas, mas, descontando o impacto efêmero das circunstâncias, a realidade é essa disputa entre PT e anti-PT, a ser decidida pelos que mudam de opinião. Quem resolve nossas eleições mais disputadas não são os petistas roxos ou tucanos até embaixo d'água: são os menos animados, indecisos, inconfiáveis. Isso é bom, porque servem de termômetro para as políticas, punindo as desastradas e recompensando as felizes. Uma democracia precisa de indecisos.
Nossa política em seu momento mais vulnerável
O melhor cenário para Dilma é a vitória no primeiro turno. Não só pela razão óbvia (quanto mais cedo, melhor), mas porque seu pesadelo é perder no segundo turno, se não conseguir votos a seu favor entre os eleitores dos candidatos descartados. O melhor cenário para Aécio e Eduardo é a soma deles superar a votação dela: um deles a enfrentaria no final de outubro e o outro acumularia méritos para ter participação em seu governo.
O melhor discurso para Dilma é a ênfase nos êxitos petistas em matéria social, para Aécio é a insistência tucana nas falhas que vê na política econômica. Mas aqui a coisa se complica.
Os oposicionistas têm preferido falar a empresários - o que mereceu a crítica desse agudo observador da cena política que é Cesar Maia, lembrando que o capital não dá votos e até gera antipatia no povo; melhor fariam os dois se subissem os morros, se falassem a quem vota. (É só na eleição que todos somos iguais).
Aécio e Eduardo buscam os patrões para arrecadar fundos, mas assim expõem o flanco à crítica de descuidarem do social e de prepararem uma política, usemos o que na América Latina é um palavrão, "neoliberal". Uma eleição tem vários turnos, dos quais só o primeiro e o segundo estão na lei e têm data; durante o mandato, haverá um terceiro turno durando mais de três anos, em que capital e movimentos sociais pressionarão o eleito para atender a suas reivindicações; mas, antes disso tudo, há um "turno zero", quando as forças se reúnem, se montam as coligações, se consegue dinheiro. A chance de Aécio e Eduardo está em fecharem logo o turno zero, obtendo apoios empresariais, e aí partirem para o povão. Frequentar as elites tem "deadline" e seus rastros devem sumir antes da hora decisiva, de disputar o um-homem-um-voto.
Neste quadro, o que esperar? Não deve haver grandes mudanças nos próximos meses, salvo um incidente sério, uma surpresa na Copa ou fora dela. Mas a verdade é que estamos à mercê de surpresas. O clima político e social está tão carregado que uma fagulha pode ter efeitos devastadores - ou não. E o Brasil é um país que muda de repente. Somos mais sujeitos ao aleatório do que sociedades de perfil social e político mais rígido. Faz um ano, a violência de alguns manifestantes do Passe Livre ia voltando a população contra eles, até que a violência - em escala industrial - da polícia paulista provocou um repúdio generalizado e, em reação, o apoio às manifestações. Não fosse a sangrenta ação policial, tudo seria diferente. A truculência policial mudou o país.
Por que chegamos a um equilíbrio social e político tão vulnerável? O Brasil mudou muito em 20 anos. As privatizações de FHC transferiram a propriedade de 30% do PIB, segundo Chico de Oliveira. A inclusão social promovida pelo PT fez um quarto da população sair da grande pobreza, além de beneficiar outras classes. Nem as medidas econômicas de FHC, nem as sociais dos governos petistas, agradaram a todos. Nossa sociedade se rachou em torno não de duas interpretações dos mesmos fatos, mas do próprio relato que direita e esquerda fazem do que julgam ser a realidade factual. Perdemos a ideia de um conjunto de fatos que todos reconhecem como reais. Estamos perdendo a noção de realidade. Vivemos só com interpretações, que se expandiram a ponto de engolir o mundo real. A direita não quer nem escutar os dados sobre a inclusão social, a esquerda não quer nem ouvir a perda do apelo político do PT à sociedade. Nesta situação, ficamos à mercê de qualquer coisa. Daí que vivamos estes momentos de protestos como perigo, como ameaça, que pode queimar até aqueles que os promovem.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras
E-mail: rjanine@usp.br

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