segunda-feira, 12 de maio de 2014

A agenda da vida - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 12/05/2014


Provavelmente teremos uma campanha eleitoral sem uma discussão séria sobre os impasses do desenvolvimento predatório

Não teremos, nesta campanha eleitoral, um debate sério sobre o tipo de desenvolvimento de que precisamos. É provável que reeditemos o confronto de 2010 entre candidatos que, apesar de todas as suas diferenças políticas, compartilhavam a ideia de desenvolvimento econômico, mesmo às custas da natureza e da qualidade de vida.

Bom exemplo disso é a convergência generalizada deles na questão do transporte individual. Ele continua sendo uma chave importante do nosso crescimento econômico. A cada crise na economia, incentivos são dados para a aquisição desse veículo, cuja proliferação em escala norte-americana - ou brasileira - é irracional e gera novos problemas. Aumenta a poluição, congestiona um trânsito cada vez pior, causa uma perda de tempo gigantesca. Mas não conheço nenhum governador de Estado brasileiro, a não ser Jaime Lerner, do Paraná, que tenha proposto parar com essa aposta insana. Mesmo a sua invenção de maior impacto para melhorar o transporte coletivo acabou sendo usada em larga medida mais no exterior, em Bogotá, do que no Brasil: o "ligeirinho" de Curitiba inspirou o Transmilênio da capital colombiana.

O que seria um debate sobre o desenvolvimento? A questão já foi levantada em anos passados por Marina Silva e Fernando Gabeira, mas não parece que vá pautar o debate deste ano. Basicamente são dois os pontos que requerem uma mudança de paradigma. O primeiro é a preservação da natureza. Nossa sociedade é a primeira na história a poder medir, cientificamente, os riscos de uma séria deterioração, ou até destruição, das condições de vida neste planeta. Por isso, é preciso cuidado com os recursos naturais: queimar no tanque do carro fósseis que demoraram milhões de anos a se formar é um absurdo sob todos os pontos de vista, inclusive econômico. Ou seja, não é coisa de maluco querer substituir os combustíveis fósseis: loucura é usá-los na velocidade atual, com efeitos predatórios. O que será do mundo em um século?

O debate que não teremos este ano

O segundo é a qualidade da vida, sobretudo, mas não só, urbana. Nossas cidades se degradam a olhos vistos. Em poucos anos, as cidades brasileiras poderão estar paralisadas. A medida mais forte tomada em duas décadas para melhorá-lo, em S. Paulo, foi um tiro no pé: o rodízio de automóveis particulares. Ele deu a ilusão de que seria viável conviver com a constante ampliação da frota. Hoje, com rodízio, a situação está pior do que na Pauliceia antes de sua implantação, na década de 1990.

Ora, nada disso está no cabeçalho dos programas de governo, nem deverá aparecer na televisão durante a campanha. Discute-se por exemplo o pré-sal, mas sempre se parte da premissa, insustentável, de que usar petróleo de alta qualidade para uma pessoa ficar parada no carro horas a fio, sozinha, não é uma enorme insensatez. Os partidos discutem como explorá-lo, se pelo Estado ou pela empresa privada, onde gastar o dinheiro que ele há de gerar, mas mal questionam se devemos torrar mais este recurso caríssimo e que será queimado uma vez por todas. Namoramos nossa própria destruição. Mas desse suicídio anunciado não se fala.

Vejamos as inundações de tantos rios que atravessam nossas cidades. As marginais do Tietê, como as de tantos outros rios, na verdade pertencem a eles. São as terras para as quais, normalmente, em caso de temporais, transbordariam. Contudo, foram ocupadas pelos automóveis e, em menor proporção, por prédios. O preço de devolvê-las ao rio é seguramente alto. Mas Seul bancou a revitalização do rio Han, que tem 40 km - mais ou menos as marginais do Tietê e Pinheiros somadas. Porque o custo de sufocar o rio com avenidas marginais é cobrado de nós todo ano, para não dizer o ano todo.

Ou o transporte público. Sem o aumento do IPTU, só restou ao prefeito paulistano Fernando Haddad, para melhorar a circulação dos ônibus, o recurso a faixas exclusivas. Elas melhoraram o transporte coletivo, enquanto deixavam clara a lei da física segundo a qual dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. Ou o coletivo, ou o particular. Essa oposição deveria ficar clara para todos nós. Mas iniciativas emergenciais não bastam. O que tem de ser feito sairá caro, mas custará mais dinheiro - e qualidade de vida - continuar investindo na produção de carros. Só que o carro gera empregos e impostos em larga escala: por isso, de novo, o curto prazo sacrifica o longo prazo.

O que acontece hoje é que a agenda de temas a debater - e a resolver - no plano político só faz crescer. Temos ainda, como legado de meio milênio de desigualdades gritantes, uma exclusão social significativa, que é necessário vencer: essa é a pauta da pobreza e da miséria. Também contamos com uma qualidade notavelmente ruim dos serviços públicos básicos, como saúde, educação, segurança e transporte, que foram os alvos mais visíveis dos protestos de 2013: essa é a pauta das ruas, que veio para ficar. Há ainda a pauta - sobretudo empresarial - da baixa produtividade do trabalhador brasileiro, que requer esforços intensos de educação, só para iniciar.

E temos a agenda da vida, que expus nesta coluna. Cada uma destas pautas exige muito. É compreensível que vencer a pobreza e aumentar a competitividade sejam priorizados, enquanto a melhoria dos serviços públicos e uma ampla reversão do modelo de desenvolvimento demandam tanto empenho, tanto dinheiro e tanta conversão dos valores dominantes que parece mais fácil manter as coisas como estão. Mas esse estado de coisas é insustentável, nem digo a longo, já a médio prazo. É preciso mudar, em especial a que talvez seja mais importante, a agenda da vida.

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 12/05/2014 04:00


ESTREIA SOLITÁRIA
Única novidade da programação de filmes de hoje é a comédia Uma boa e velha orgia, com Jason Sudeikis, Leslie Bibb e Lake Bell nos papéis principais. A trama: Eric (Sudeikis) tem 30 anos e, desde jovem, é conhecido por dar ostensivas festas na casa de praia do seu pai, nos Hamptons, vizinhança rica perto de Nova York. Quando os amigos começam a sossegar e a casa é colocada à venda, ele decide oferecer a última festança, que promete ser inesquecível. O longa estreia às 22h, no Telecine Premium.



Muitas alternativas no pacote de cinema
Duas produções que estrearam recentemente na telinha serão reprisadas hoje, às 22h: Jack, o caçador de gigantes, na HBO 2; e Oz – Mágico e poderoso, no Telecine Pipoca. No mesmo horário, o assinante tem pelo menos outras cinco boas opções: Cheri, no Glitz; Miami Vice, na MGM; Voo noturno, no Studio Universal; O poder do amor, no TCM; e De pernas pro ar 2, no Telecine Fun. E ainda: Assalto à 13ª DP, às 20h, Universal; Anjos e demônios, às 21h, no Cinemax; Para Roma, com amor, às 21h50, no Max; Looper – Assassinos do futuro, também às 21h50, no Max Prime; e X- Men – Primeira classe, às 22h30, na Fox.


Ronaldinho Gaúcho em desenho animado
O canal infantil Gloob estreia hoje, às 15h, a animação A turma do Ronaldinho Gaúcho. Baseado nas histórias em quadrinhos de Mauricio de Sousa, o desenho tem como protagonista o menino que encantou a todos por seu futebol e sonhava ser um super-herói. Quando não está no campo ou estudando, o garoto joga videogame ou canta com os amigos.


Tente descobrir o que querem as mulheres
As comemorações do aniversário do canal Viva continuam. Para hoje, a emissora reservou o seriado Afinal, o que querem as mulheres?, às 23h10. Protagonizada por Michel Melamed, a produção, em seis episódios, mostra um escritor obcecado com sua tese de doutorado em psicologia. No elenco, Paolla Oliveira, Tarcísio Meira, Osmar Prado e Vera Fischer.


MTV encerra o terceiro ano da série Awkword
Se uma série volta, outra se despede da telinha. A MTV exibe hoje, às 16h45, o último episódio da terceira temporada de Awkward. Depois de sofrer um acidente no banheiro de sua casa, Jenna (Ashley Rickards) acaba fazendo com que todos em sua escola pensem que ela tem tendências suicidas. No entanto, graças ao incidente, Jenna se torna menos invisível e se apaixona pelo garoto mais popular da turma, Matty (Beau Mirchoff). No capítulo final, ela é desafiada a se questionar sobre quem realmente quer ser.

CARAS & BOCAS » Tapa na cara

Simone Castro
simone.castro@uai.com.br


Helena (Júlia Lemmertz) vai perder a cabeça e agredir a filha, Luiza (Bruna Marquezine) (João Miguel Júnior/TV Globo )
Helena (Júlia Lemmertz) vai perder a cabeça e agredir a filha, Luiza (Bruna Marquezine)
 O clima vai pesar nos próximos capítulos de Em família (Globo). Irredutível quanto à opção da filha de ficar com Laerte (Gabriel Braga Nunes), Helena (Júlia Lemmertz) agredirá Luiza (Bruna Marquezine) durante uma discussão. Tudo começa quando a estudante procura a mãe para conversar, depois de ser ignorada pela leiloeira na praia. A garota pede uma chance, e Helena é ríspida: “Sua presença me incomoda. Foi você quem escolheu esse caminho, apesar de todos os alertas”. A jovem dispara: “Apenas segui o meu coração”. Enfurecida, a leiloeira avisa: “Você está mantendo uma relação com aquele maldito que me desgraçou e que vai te desgraçar também”. Luiza a irrita ainda mais ao aconselhá-la a superar o passado. “Cale a boca. Não vou tolerar sermão de uma menina que devia estar estudando, e não se enfiando na cama de um homem de mais de 40 anos, louco para arrastar alguém com ele para o inferno”, rebate Helena, avisando que Laerte a vê na filha. “Quando ele te beija, é a mim que está beijando. Quando te ama, é a mim que está amando”, adverte. Luiza reage, argumentando que a mãe queria estar em seu lugar. “Você está com ciúmes de mim. E com inveja também, porque perdeu a parada”, responde a moça, que leva um tapa na cara e chora.


MEU CUNHADO DE VOLTA NO HORÁRIO DA TARDE
A partir do dia 19, às 18h30, no SBT/Alterosa, será exibida novamente a série Meu cunhado, com Moacyr Franco e Ronald Golias. A atração foi sucesso em 2004, um ano antes da morte do humorista. Na série, o publicitário Washington Cantapedra (Franco) se vê às voltas com as armações do cunhado Bronco (Golias). O elenco reúne Guilhermina Guinle, Luísa Thiré e Cláudia Melo, entre outros.

HANNIBAL E REVENGE TÊM RENOVAÇÃO GARANTIDA
Para a alegria dos fãs, várias séries emplacam novas temporadas no país. Hannibal ganhará a terceira rodada pela NBC. No Brasil, a atração é exibida pelo canal AXN. Também estão garantidas por mais um ano Revenge, Once upon a time, Scandal, Grey’s anatomy, Castle e Agents of S.H.I.E.L.D (Sony), Ressurection (AXN) e Modern family (Fox).

COMÉDIA ROMÂNTICA NO GNT LOGO DEPOIS DA COPA
Os atores Maria Casadevall e Anderson Di Rizzi vão protagonizar uma comédia romântica no canal GNT (TV paga). A estreia está prevista para depois da Copa do Mundo. O roteiro de Lili, a ex é baseado nos quadrinhos de Caco Galhardo. O último trabalho da dupla foi como Patrícia e Carlito, personagens da novela Amor à vida (Globo).

O CANTO DA SEREIA VAI ESTREAR NA AUSTRÁLIA
A microssérie O canto da sereia (Globo), estrelada por Ísis Valverde, será exibida na Austrália pela emissora SBS. De autoria de George Moura e sucesso no Brasil em janeiro de 2013, a atração conta a história trágica da cantora Sereia (Ísis), e tem em seu elenco Marcos Palmeira, Camila Morgado, Gabriel Braga Nunes, João Miguel e Fabíula Nascimento.


GALÃ DÁ TRABALHO
Caio Castro pode perder o posto de um dos galãs da Globo e – pior – ser demitido da emissora, segundo a coluna Canal 1. Ele estaria se recusando a fazer trabalhos como a novela Boogie woogie, substituta de Meu pedacinho de chão. O último papel do ator foi como Michel, que em Amor à vida vivia uma relação chatíssima com Patrícia (Maria Casadevall). Em seguida, Caio participou do quadro “Saltibum”, no Caldeirão do Huck. Ele não está totalmente errado ao tentar preservar sua imagem e evitar a armadilha da superexposição. Dono de bela estampa e talento, Cauã Reymond, atualmente na série O caçador, voltou à cena três meses depois de Amores roubados, exibida em janeiro. O telespectador pode se cansar de ver o mesmo artista tantas vezes. E Caio, que não está com essa bola toda, corre esse risco. Vale lembrar: ele renovou contrato há pouco tempo com a emissora. Será que vão bancar uma rescisão?


VIVA
Dorothy Benson, interpretada por Luís Miranda, já é destaque em Geração Brasil (Globo).


VAIA
Exagero total: Ivete Sangalo no Domingão do Faustão e no SuperStar, atrações da Globo.

LITERATURA » Imprima-se a lenda‏

LITERATURA » Imprima-se a lenda

 Domingos Pellegrini comemora decisão da Câmara dos Deputados e manda a biografia Minhas memórias de Leminski para as livrarias 
 
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 12/05/2014



A polêmica envolvendo a biografia não autorizada de Paulo Leminski, 

O bandido que sabia latim (Record), escrita por Toninho Vaz, cuja quarta edição foi interditada judicialmente pela família do poeta curitibano, não intimidou o escritor Domingos Pellegrini. Ele acaba de lançar a versão ampliada de Minhas lembranças de Leminski (Geração Editorial), apesar de a viúva, Alice Ruiz, não autorizar o livro.

 “Sei que você é um dos que ele considerava amigo, embora, entre esses, três já mostraram que ele estava enganado. Lendo seu livro percebo que, nas entrelinhas, você está à beira de se unir a eles”, escreveu Alice Ruiz em e-mail a Pellegrini, publicado em Minhas lembranças...

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto que permite a publicação de biografias de personalidades públicas sem necessidade de autorização do biografado ou de seus descendentes. Confiante, Pellegrini mandou a biografia para as prateleiras. “Como as novas regras só faltam passar pelo Senado, que juiz concederia um embargo? Ele ficaria conhecido como o último censor da República junto das herdeiras”, afirma.

Lançado inicialmente na internet, o livro ganha nova edição que coincide com os 25 anos da morte de Leminski (1944-1989) por complicações causadas pelo consumo de álcool. Identificado no texto como Pé Vermelho, o autor conta que o convite do editor Samuel Ramos para escrever sobre o amigo veio em 2013. Alice Ruiz e as filhas supervisionariam o trabalho, aprovado por elas.

À medida que os capítulos ficavam prontos, eles eram enviados às herdeiras, mas a resposta delas nunca chegava, conta o autor. “Comecei convidado para escrever um livro e me saiu outro. Não escreveria uma biografia chapa branca. Fui juntando cacos para formar uma história fora do óbvio, como Leminski gostaria, uma polca de retalhos costurados por um conivente”, explica Pellegrini.

Pé Vermelho surge na terceira pessoa, enquanto o poeta se manifesta na primeira. Os últimos dias dele são narrados com intensidade: “E, finalmente, o último golpe líquido que me liquidou foi a hemorragia esofágica (...) Vi, sim, o jorro vermelho ir bater lá na parede, tanto sangue que deixava claro não ter importância saber se era venal ou arterial (...) E, entre tantos líquidos, o coração é quem decidiu a parada, parando de bater. Liquidou-se-me”.

A réplica de Alice Ruiz veio por e-mail. “A ênfase ao álcool, sua leitura de uma ‘precariedade’ de bens em nossa casa (você nunca ouvir falar em contracultura?), as observações exageradas sobre ‘falta de banho’, que corresponde a um período de maiores excessos (...) Enfim, tudo isso serve para criar uma imagem bem negativa do Paulo em contraponto à sua, que aparece como o interlocutor por excelência e cheio de qualidades que supostamente ‘faltavam’ a ele”, desaprovou a viúva.


TRÊS PERGUNTAS PARA..
. Domingos Pellegrini
. Escritor
Como foi escrever a biografia de Leminski, mesmo sabendo que poderia melindrar a família do poeta?
Fui convidado pelas herdeiras e fiquei honrado. Li O bandido que sabia latim, de Toninho Vaz, e vi que ele já tem ali uma boa biografia, aliás, sugerida pela viúva, que agora a rejeita, o que é mais uma evidência de que biografias não podem ficar à mercê de biografados e herdeiros. Então, escrevi um livro que mistura um pouco de biografia com minhas lembranças dele. É um livro amoroso e criativo, como ele gostaria, e me sinto orgulhoso. Se a família não gostar, pode pedir correções, que agora, com a nova legislação, serão julgadas rapidamente por um juiz. Nossa democracia avançou em liberdade e responsabilidade.

Qual é a visão que você tem do poeta?
Ele cultivou sua lenda pessoal conscientemente, basta olhar suas expressões nas fotos, plantando-se como ídolo pop, embalado por uma aura cult com tempero erudito – mistura única na cultura brasileira. Aliás, invento o termo “unicabilidade” para defini-lo, pois tinha linguagem e visão de mundo únicas, independentemente de ideologias, tendências e rótulos. Este é seu maior legado intelectual numa cultura como a nossa, ainda tão marcada por ideologias, grupos e patrulhas.

O que ficará da obra de Paulo Leminski?
A obra dele é pequena e incisiva. Sua poesia já evidenciou que permanecerá. Com altos e baixos, sim, como também em Machado ou qualquer outro. O Polaco deve ser o poeta mais lido – e memorizado – hoje no Brasil. A glória máxima de um poeta é incorporar versos ou expressões à língua, como pedra no caminho ou passar em brancas nuvens. Muitos poemas dele ecoam na fala cotidiana dos brasileiros. Seus ensaios e biografias permanecerão como expressões dessa “unicalidade”, assim como Catatau continuará a encantar enquanto existir gente apaixonada por arte experimental. 

PROJETO SEMPRE UM PAPO » Pacto com a palavra Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 12/05/2014 



Eliane Brum autografa seu novo livro em BH (Lilo Clareto/divulgação)
Eliane Brum autografa seu novo livro em BH

Um profundo mergulho na infância, com todos os seus encantos e incômodos, que acabam marcando a vida para sempre, mas dão força para seguir adiante. Essa é a tônica de Meus desacontecimentos, livro que a premiada jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum lança hoje em Belo Horizonte.

A autora gaúcha conta que a “trajetória acidentada” de seu livro tem dois momentos. Ela começou escrevendo sobre pessoas anônimas, que, com suas delicadezas ou brutalidades, fizeram-na ser o que é, além de traçar uma espécie de geografia amorosa de seus irmãos.

No decorrer do trabalho, há três anos, ela enfrentou a crise com a palavra escrita, enquanto fazia uma reportagem sobre a doença de Chagas, na Bolívia, que depois virou um capítulo do livro Dignidade. Ao se despedir de Sônia, que tinha 11 anos e sofria da doença, a garota a pegou pelos braços e pediu que não a deixasse morrer.

“Ao voltar para São Paulo, caí num buraco fundo e paralisei”, revela Eliane. “Dos desdobramentos dessa crise com as palavras, que nos salva por uns momentos, para em seguida nos lançar novamente no vazio, surgiu Desacontecimentos, percurso no qual me movimento duvidando do que sou, perdendo-me de mim para me encontrar encarnada em outras letras”, afirma ela.

Eliane Brum escreveu um livro corajoso e lúcido, só possível a quem não tem medo de se revelar, mesmo que isso possa provocar dor, sofrimento ou, quem sabe, redenção.


TRECHO
“Aos poucos percebi que só poderia me colocar diante do outro, de todos os outros, como eu era. Quebrada. Com toda a integridade das minhas fraturas, das quais finalmente fiz um vitral”

  Meus desacontecimentos


MEUS DESACONTECIMENTOS
A história da minha vida com as palavras

. De Eliane Brum
. Leya Editora, 143 páginas, R$ 29,90
. Bate-papo com a autora hoje, às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Informações: (31) 3261-1501.

Cientistas descobrem que exercícios físicos evitam a cegueira

Exercícios físicos evitam a cegueira 
 
Em experimento com ratos, cientistas descobrem que mexer o corpo regularmente reduz a degeneração da área central da retina, principal causa da perda da visão em humanos 
 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 12/05/2014



A principal arma a favor do emagrecimento também pode render benefícios aos olhos. Cientistas da Universidade de Emory, no Estados Unidos, confirmaram uma suspeita comum entre os oftalmologistas: a prática de atividades físicas previne contra a degeneração macular, principal causa de perda de visão entre os adultos mais velhos.

“Esse é o primeiro relatório que mostra como o exercício simples tem um efeito direto sobre a visão. Existem alguns trabalhos relacionando os exercícios e a melhora da saúde da retina, e estudos que comprovam os efeitos positivos para a memória. Diante disso, nós nos perguntamos: se o hipocampo tem esse benefício, a retina também teria? ”, conta Machelle Pardue, pesquisadora da Faculdade de Oftalmologia da Universidade de Emory e autora do estudo publicado no Journal of Neuroscience.

Para responder a essa pergunta, Machelle e a equipe liderada por ela fizeram um experimento com ratos. Os animais praticaram exercícios físicos e, depois, foram induzidos a ter degeneração macular por meio da reflexão de luz tóxica nas retinas deles. Após semanas de observação, os cientistas notaram que os ratos que realizaram exercícios mostraram uma menor degeneração de fotorreceptores da retina, responsáveis pela visão, em comparação aos animais que não haviam se exercitado.

Também foram observados os níveis de NPDF – fator neurotrófico do cérebro responsável pela neuroproteção. As taxas foram maiores nos ratos que se exercitaram. Para confirmar se o fator era o responsável pela melhora da visão das cobaias, os pesquisadores anularam a função do NPDF nos ratos beneficiados e notaram que, após a interferência, os efeitos de proteção na retina não permaneceram. “Percebemos que os exercícios físicos parecem diminuir a ‘taxa de morte’ dos fotorreceptores. Nossos experimentos sugerem que isso ocorre devido a um aumento do NPDF no cérebro”, destaca a pesquisadora.

Rodrigo Brant, oftalmologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conta que trabalhos na instituição brasileira já haviam detectado os efeitos positivos das atividades físicas na vascularização dos olhos. “Uma das primeiras coisas que percebemos foi que a prática física também beneficia a pressão ocular, que precisa ser controlada em quem sofre de glaucoma, por exemplo. Ou seja, essa é uma suspeita que tínhamos. Agora, com esse experimento, há mais dados apontando para essa melhora”, destaca.

Outros cuidados Ana Paula Tupynambá, oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), ressalta que os exercícios físicos fazem parte de um conjunto de medidas que devem ser tomadas para beneficiar a saúde completa do corpo, não apenas a visual. “Mas outras medidas são tão importantes quanto, principalmente para a saúde ocular, como evitar o fumo e ter bons hábitos alimentares”, pondera.

Ana Paula também ressalta que mais estudos têm surgido relacionando a saúde ocular e a alimentação. “Há uma pesquisa recente que aponta muitos benefícios à visão para quem ingere ômega 3. Isso devido ao efeito dos antioxidantes”, exemplifica. “Acredito que novos trabalhos possam surgir e que as informações cheguem mais rápido às pessoas. Quando falamos de saúde visual, só nos lembramos da catarata, porém existem outros problemas e também tratamentos oferecidos, mas poucos conhecidos.”

Os cientistas da Universidade de Emory buscam agora identificar quais tipos de atividades físicas seriam mais benéficas à retina. “Pretendemos explorar os parâmetros de exercício que são mais importantes para esse efeito e examinar os mecanismos mais de perto”, adianta Machelle Pardue. Ela acredita que os resultados dos experimentos atuais e dos futuros testes poderão potencializar os tratamentos de visão. “As pessoas que estão em risco de degeneração macular ou que demonstram primeiros sinais da doença poderão ser capazes de retardar a progressão da deficiência visual. O exercício desempenharia um papel importante na prevenção de problemas na retina e, assim, salvaria a visão”, aposta.

Rodrigo Brant também avalia que o experimento americano precisa ser aprofundado, mas o especialista destaca que a recomendação médica de se exercitar é recorrente nos consultórios oftalmológicos. “Trata-se de um trabalho que precisa de comprovação em humanos, mas já sabemos que a prática de exercícios físicos pode contribuir para a neuroproteção e auxiliar no não desenvolvimento de uma doença neurodegenerativa, o que já serve como base para a recomendação”, diz.


Terapias disponíveis

A degeneração macular seca não tem tratamento disponível, segundo o Manual Merck de Informação Médica. Medidas paliativas são, inclusive, evitadas quando a doença está em estágio grave. Em um quadro moderado, o paciente pode ser beneficiado por elevadas doses de antioxidante (como vitaminas C e E), de zinco e cobre. No caso da exsudativa, os vasos que crescem ao redor da mácula podem
ser destruídos por laser antes de causarem lesões. Outro tratamento promissor é a terapia fotodinâmica, quando se administra uma substância por via intravenosa que sensibiliza os vasos sanguíneos ao raio laser. Lupas, lentes para leitura e telescópios podem ajudar os pacientes que já apresentam dificuldades visuais.


Palavra de especialista


Keila Monteiro de Carvalho,
oftalmologista e professora da
Universidade de Campinas (Unicamp)

Prevenção conjunta

“O estudo é interessante, mas trata-se de um trabalho experimental em animais. Ainda está longe de se provar o mesmo em humanos. Estudos comprovam que a atividade física regular traz benefícios à saúde em geral, reduzindo a gordura abdominal, o peso, a inflamação sistêmica e melhorando os perfis de lipídios séricos (altamente calóricos). É conhecida a hipótese de que esses fatores tenham um papel na patogênese da degeneração macular relacionada à idade. Um estudo recente da Unicamp mostrou que a doença cardiovascular e a degeneração macular na forma avançada aparentemente apresentam vários fatores de risco em comum e poderiam ser prevenidas conjuntamente por meio de programas de promoção da saúde do idoso, envolvendo combate a fatores como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo, etilismo e maus hábitos alimentares. Também há indicações de que o exercício físico regular melhora o glaucoma e até mesmo diminui o risco de desenvolvimento da catarata”.

Eduardo Almeida Reis - Tirotecnia‏

Tirotecnia 
 
Queijo é assunto seriíssimo. Em textos sumérios datados de 3.000 anos antes de Cristo há notícias de queijos moles

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/05/2014




Se a tiromancia foi prática divinatória usada na Grécia antiga, que se utilizava de queijos ou adivinhação por meio do queijo, tirotecnia é a técnica de fabricação de queijos. Não tenho culpa se o antepositivo tir(o)-, elemento de composição, vem do grego turós,oû, ocorre já em vocábulos originalmente gregos, como tiromante, já em cultismos das biociências e significa “queijo”.

Esse “já em /.../ já em” é chiquérrimo e foi pescado no Houaiss, que sabia das coisas, porque meu objetivo neste belo suelto é falar da indústria de queijos de um país grande e bobo. Em diversas regiões francesas fabricam-se queijos Brie – Brie de Meaux, Brie Fermier, Brie Noir, Brie de Melun, Brie de Coulommiers, Brie de Montereau, Brie de Nangis e Brie Le Provins – sempre com leite de vaca, queijos que têm características próprias, rígidas, conhecidas e respeitadas há muitas dezenas de anos.

País enzoneiro, inzoneiro, onzeneiro (ver sinonímia de enganador), o Brasil resolveu batizar como Brie uma porção de queijos produzidos numa infinidade de laticínios. Ontem, numa rápida passagem pelo supermercado menos ruim aqui da aldeia, torrei 60 pratas em três queijinhos sul-mineiros batizados com o nome francês, cujo affinage, em algumas regiões da França, demora um ano. Affinage é maturação ou cura; queijo é assunto seriíssimo. Em textos sumérios datados de 3.000 anos antes de Cristo há notícias de queijos moles. Vestígios de equipamentos usados na produção de queijos, mais ou menos daquela época, foram encontrados na Europa e no Egito. Acredita-se que a fabricação de queijos remonte à domesticação das cabras e ovelhas, quando os pastores notaram que o leite azedado naturalmente se separa em coalho e soro. Escorrido, moldado e seco, o coalho se transformava em alimento simples e nutritivo.

E o leitor, perplexo, deve estar perguntando por que resolvi falar de queijos, quando a ordem do dia pede corrupção e Copa das Copas. Ora, bolas, resolvi porque sou animal movido a queijos e virgem de corrupção. Quanto à Copa 2014, só vendo o que vai acontecer, não digo nos estádios, mas fora deles. Pela tiromancia e pela evidência dos fatos, os presságios são ruins.

Vacunación


Acction y efecto de vacunar, em espanhol é mais chique, sobretudo agora que recebi um e-mail com as belas paisagens e construções da Espanha dividida numa porção de regiões, tem até Euskadi e Catalunya, que não se consideram espanholas – o certo é que a vacinação contra a gripe melhorou muito minha vida. Em BH, onde a descobri, ora tomava a vacina paga no Mater Dei, ora gratuita num posto de saúde próximo do apê. Dependia de uma ida ao posto da querida Ariane, que trabalhou para mim cinco anos e continua muito amiga, para ver se não havia filas. As funcionárias do posto eram simpáticas e educadas, mas ninguém aguenta fila de idosos ou quase idosos, meu caso.

Não me canso de elogiar Ariane, que aos 21 anos, quando foi trabalhar para mim, já tinha passado por... 46 patrões! Amor de moça, casada, um filhinho, bonita, cheirosa, educada, inteligente, trabalhadeira, eficiente, amiga. Seria perfeita se não fosse evangélica, mas de uma brasileira com tantas qualidades seria demais pedir que fosse ateia. Tem agora uma filhinha chamada Maria Fernanda. Era para ser Maria Eduarda, mas não foi porque já tem um tio chamado Eduardo. Toda família supimpa deve ter pelo menos um Eduardo.

Em 2014, no dia de tomar a vacina paga, aconteceu-me fenômeno extraordinário. Ao sair do banho, tive um estalo e me lembrei de uma estante onde guardei o cartão de vacina do ano anterior. Não acredito que um cidadão normal, maior de 50, se lembre do lugar onde guardou o cartão do ano anterior. De vacina contra a gripe, bem entendido, porque as vacinas das crianças pequenas devem ser guardadas como tesouros que são.

Não acho normal que um quase idoso guarde cartões desse tipo e guardei, o que é péssimo sinal. Paciência.

O mundo é uma bola


12 de maio: faltam 233 dias para terminar o ano e 32 para começar a Copa das Copas. Em 1191, Ricardo I da Inglaterra, o Coração de Leão, se casa com Berengária de Navarra, filha do rei Sancho VI, de Navarra, e da infanta Sancha de Castela. Ricardo esteve comprometido com Alice de França, irmã de Felipe II. Durante o noivado, Alice preferiu a condição de amante de Henrique II, o que inviabilizou a união “por motivos religiosos” (sic). Berê casou-se com Ricardo I quando ele já era rei, mas a união não teve sucesso nem filhos. Obrou muito bem Alice de França, quando se tornou namorada de Henrique II.

Em 1551 é fundada em Lima, Peru, a primeira universidade da América: Universidade Maior de São Marcos. Não era uma Harvard, uma Berkeley, mas foi muito anterior às nossas e ficava em Lima, no Peru. Em 1888, com nove votos contrários, a Câmara Geral do Brasil aprova a Lei Áurea.

Em 2008, com epicentro na província de Sichuan, um terremoto mata 70 mil pessoas na China. Hoje é o Dia do Enfermeiro e do Engenheiro Militar.

Ruminanças


“Mudam de céu, não de espírito, os que transpõem o mar” (Horácio, 65-8 a.C.).