quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mais do que selfies com banana, por favor - Luiz Antônio Araujo

As mais recentes pesquisas de intenção de voto nas eleições para o Parlamento Europeu, a serem realizadas de 22 a 25 de maio, captam um fenômeno novo e, até certo ponto, histórico. Da Finlândia à Grécia, organizações de origens e perfis variados, mas que compartilham uma forte rejeição à imigração e um discurso abertamente racista parecem prontas a deixar a marginalidade política onde vegetaram nos últimos 25 anos e se tornar uma força decisiva em Estrasburgo.

O caso mais surpreendente é o da Grã-Bretanha, onde o Partido Independente (Ukip, em inglês) ostenta mais de 30% de intenção de voto na faixa mais convicta do eleitorado. Ontem, um candidato do Ukip foi obrigado a renunciar depois de sugerir que o comediante Lenny Henry voltasse para “um país de negros”.

Na França, a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que conquistou importantes prefeituras em cidades pequenas e médias no último pleito municipal, conquistaria, segundo as estimativas, 20 dos 74 assentos europeus a que o país tem direito. Na Dinamarca, um partido anti-imigrantes lidera as pesquisas com 27%. Na Áustria, o Partido da Liberdade, que foi um dia comandado pelo racista ex-governador da Caríntia Jörg Haider e hoje faz campanha contra a “islamização”, alcança 20%.

Embora a discriminação tenha uma longa história na Europa e nunca tenha deixado de ser popular, a bandeira mais vistosa desses partidos, todos situados à direita do arco político, é a campanha contra a participação na União Europeia. Enquanto o megainvestidor húngaro-americano George Soros diz em entrevista à mais recente edição da revista The New York Review of Books que “o euro veio para ficar”, a maioria dos cidadãos europeus vê o bloco como incapaz de oferecer mais do que soluções tecnocráticas para a crise econômica. Até o momento, a extrema direita não esboçou uma política verdadeiramente europeia – a maioria desses partidos mira antes de tudo o poder doméstico. Mas, se acordarem em 26 de maio como segunda ou terceira força no Parlamento Europeu, terão de arcar com as novas responsabilidades. Diante disso, será preciso pensar em algo mais do que selfies com bananas nas redes sociais.

MARTHA MEDEIROS - O coletivo em chamas

Zero Hora - 30/04/2014

Quando bem criança, eu ia de ônibus com minha mãe para o centro da cidade. Era uma aventura.

No colégio, voltava para casa de ônibus todas as manhãs. Aliás, na primeira excursão do colégio, fui com as colegas conhecer o Rio de Janeiro e lá nossa pequena “máfia” (Ana, Alice, Suzana, Anelise...) ia de Botafogo para Copacabana também de ônibus, escondidas das freiras – o máximo de rebeldia da nossa adolescência.

Meu primeiro namorado não tinha carro, ainda que tivesse habilitação: quando a saída não era a pé, era de ônibus. Íamos a um boteco, a um show, a um parque – de ônibus.

E muito viajei de ônibus para Torres, Florianópolis, Canela, Santana do Livramento, Montevidéu. Já fui até Salvador de ônibus, ida e volta. Eu não era pobre: era jovem.

Depois, surgiu o lotação, e com ele a promessa de maior conforto e agilidade: aderi. E hoje não uso mais uma coisa nem outra, me desloco de automóvel e táxi, mas nunca perdi o respeito pelo principal transporte público não só do Brasil, mas de todos os países, inclusive daqueles que possuem metrô há mais de cem anos, caso da Inglaterra e da Argentina.

Se a roda é o símbolo-mor da evolução da humanidade, o ônibus é sua representação mais significativa. Ele leva trabalhadores aos seus empregos, estudantes às suas escolas, torcedores aos estádios, possibilita que as pessoas se visitem em bairros e cidades distantes, faz a economia girar, põe a vida em movimento.

Todo mundo, absolutamente todo mundo precisa de um, ou precisa de alguém que utiliza um.

O mesmo “todo mundo” que come pão e toma leite diariamente, só que ninguém faz passeata contra o aumento do pão e do leite. No entanto, quando há aumento da tarifa de ônibus, para-se uma cidade. Revoltados, os manifestantes enfrentam policiais, quebram agências bancárias e incendeiam... ônibus? Logo os ônibus?

Qualquer vandalismo é um tiro no pé, já que a cidade é de todos, mas queimar ônibus desafia meu racionalismo, me deixa perplexa, principalmente pela frequência com que tem acontecido. Virou uma banalidade, já nem é mais um ato político. Dos motivos mais bobos, como no caso de o seu time ter perdido um jogo, até algo mais trágico e emocional, como um tio atropelado na estrada, parece que a única forma de protestar é riscar um fósforo e pronto, temos uma fogueira e um revide. Só que não se está falando de um artefato de papel.

Um ônibus é um bem enorme, pesado, robusto – e extremamente necessário na manhã seguinte. Um ônibus. Dois. Sete. Agora imagine 34 ônibus queimados de uma só vez, como aconteceu recentemente em Osasco, na grande São Paulo. Calcule o prejuízo não só para a empresa proprietária dos veículos, mas para a sociedade.

Não chegamos até aqui para voltar à pré-história.

Frei Betto - Amarildo e Douglas‏

Amarildo e Douglas -  Frei Betto    

Nas favelas do Rio, na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social


Estado de Minas: 30/04/2014


Primeiro, mataram Amarildo de Souza. Ajudante de pedreiro, pai de família, reputação ilibada, caiu em mãos de policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela da Rocinha, no Rio, e desapareceu.

Sabe-se, hoje, que sofreu espancamentos até a morte atrás da cabina da Policia Militar, na Rocinha. Seu corpo continua desaparecido. Paira a suspeita de que teria sido triturado em uma caçamba de caminhão de lixo.

Agora assassinaram o bailarino Douglas Rafael Pereira, encontrado morto, com um tiro nas costas, na creche da favela Pavão-Pavãozinho, na divisa de Copacabana com Ipanema. Testemunhas viram-no em mãos de policiais militares da UPP local.

Favela não é reduto de bandidos, nem a Polícia Militar uma corporação de assassinos. Moram em favelas famílias trabalhadoras sem recursos para adquirir um imóvel melhor ou pagar aluguel em áreas urbanizadas, dotadas de saneamento e vias asfaltadas.

Há, sim, entre os moradores da comunidade, bandidos e traficantes de drogas, assim como eles também são encontrados em bairros como o Morumbi, de São Paulo, e a Barra da Tijuca, no Rio, onde residem famílias de alto poder aquisitivo.

Nas décadas de 1970-80, a expansão de movimentos populares no Brasil se estendeu para o interior das favelas. Por razões pastorais, morei na de Santa Maria, em Vitória, entre 1974 e 1979. Naqueles cinco anos, participei de uma comunidade relativamente bem organizada em torno do centro comunitário. No Rio e em São Paulo, multiplicavam-se associações de moradores.

Em fins dos anos 1980 e início da década seguinte, lideranças comunitárias da periferia começaram a ser cooptadas por prefeitos e governadores. Como ocorre hoje com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e as centrais sindicais, as entidades comunitárias perderam credibilidade, na medida em que se transformaram em agentes do poder público junto à população, quando deveriam atuar na direção inversa.

A acefalia abriu espaço ao narcotráfico, que passou a monitorar favelas e bairros da periferia. Na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social, assegurando tratamento de saúde, bolsas de estudos, transporte e crédito aos desfavorecidos.

Por sua vez, a PM, um resquício da ditadura, tornou-se, no Rio e em São Paulo, o avatar na guerra contra o narcotráfico. A ação preventiva deu lugar à mera ação repressiva. Sem preparo pedagógico e psicológico, policiais militares encaram moradores de favelas como o governo dos EUA trata jovens muçulmanos: todos são suspeitos até prova em contrário.

Como declarou um amigo e vizinho de Douglas, os PMs tratam os moradores da favela com arrogância. Muitos não admitem que a pessoa abordada mire em seus olhos. Sentem prazer sádico em ver o cidadão humilhado, de cabeça baixa, suplicando por clemência. Achacam o comerciante local, bebem e comem de graça em bares e lanchonetes da comunidade, recebem propinas do narcotráfico para fazer vista grossa frente ao crime organizado.

O governo do PMDB no Rio, com apoio do PT, acreditou ter inventado a roda ao instalar UPPs em áreas de conflitos. Cometeu duplo erro: por não fazer os serviços públicos acompanharem a entrada de policiais nas comunidades e por não capacitar os integrantes das UPPs.

A ação repressiva não veio casada com a ação educativa. Crianças e jovens continuaram sem escolas de qualidade, oficinas de arte, áreas de lazer e esportes. E por vestirem uma farda e portarem armas, PMs se arvoram em senhores acima do bem e do mal. Revistam um trabalhador como um senhor de engenho tratava um escravo em tempos coloniais.

O estranho é que muitos policiais, moradores em favelas, não se reconhecem em seus amigos de infância e vizinhos e agem como se não fossem um deles. Amarildo e Douglas, como tantos outros anônimos, foram sacrificados pela prepotência. Quem será a próxima vítima?

Amarildo e Douglas são mortos insepultos. Seus sacrifícios clamam por um Estado que efetivamente reduza a desigualdade social, construa mais escolas que prisões, incuta nos policiais o sagrado respeito aos direitos humanos, e puna com rigor bandidos de colarinho branco e assassinos fardados.

Se até hoje o Estado brasileiro não obrigou as Forças Armadas a abrirem os arquivos da ditadura nem puniu os torturadores, não é de se estranhar que policiais se sintam no direito de ignorar a lei e a cidadania, para agir como se fossem apenas UPPs – Unidades de Policiais Pervertidos.

TeVê

TV PAGA » Elas batem um bolão
Estado de Minas: 30/04/2014


 (GNT/Divulgação)


Alguns canais já entraram de vez no clima de Copa do Mundo. Até o GNT, que estreia hoje, às 20h, a série As titulares (foto). O programa vai mostrar que futebol não é assunto exclusivamente masculino e entrevista mulheres apaixonadas e envolvidas com o esporte, de torcedoras fanáticas a jogadoras profissionais ou mesmos as musas dos times. Também hoje vai ao ar a nova temporada de Paixão bandida, às 21h, relatando casos reais de homens que se relacionam com mulheres que estão presas.
Documentário investiga o
fenômeno do êxodo rural

O programa Sala de notícias, do canal Futura, continua exibindo curtas produzidos por universitários de todo o país, reservando para hoje, às 14h35, o documentário Tudo que movimenta, de Thamara Silva Pereira, da Universidade de Brasília. No interior de Minas Gerais, pequenas comunidades rurais guardam histórias de pessoas que se desprenderam de suas raízes em busca de uma vida melhor nos centros urbanos. A população desses distritos, esvaziada e envelhecida pela migração
de seus jovens, vive uma cultura de ‘ausência’, alimentando saudades dos filhos, netos e irmãos que abandonaram o campo.

Criminalidade é tema dos
canais Curta! e Discovery

Outras duas produções nacionais merecem a atenção do assinante. No canal Curta!, às 21h, a atração é Ônibus 174, de José Padilha, montado a partir de uma investigação baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais sobre o sequestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro e que acabou com a morte de uma refém e do sequestrador, em 12 de junho de 2000. Às 23h10, no Discovery, estreia a nova temporada de Águias da cidade, que acompanha as ações do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar de São Paulo.

Pacote de musicais vai de
Cartola a Zeca Pagodinho

O Brasil é destaque absoluto também na programação musical, começando com o documentário Cartola, música para os olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, narrando a trajetória do autor de clássicos da MPB como O mundo é um moinho
e As rosas não falam, às 20h30, no canal Arte 1. Já às 22h, no SescTV, vai ao ar o show que Angela Ro Ro e Lirinha fizeram juntos no Sesc Pompeia, em São Paulo. E às 23h, o Multishow transmite ao vivo o show Sambabook, de Zeca Pagodinho.

Ação, drama e humor na
programação de cinema

Sem grandes novidades no pacotão de cinema, o melhor do dia é a reprise de Lemon tree, do israelense Eran Riklis, às 22h, no Arte 1. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Simone, no Canal Brasil; Vai que dá certo, no Telecine Premium; Homem de Ferro 3, no Telecine Pipoca; As coisas impossíveis do amor, no Telecine Touch; Amostras grátis, na HBO HD; Trilha fria, no Max Prime; Tempos de violência, na MGM; e Coração selvagem, no TCM. Outras atrações da programação: Maridos e esposas, às 21h, no Comedy Central; Blitz, às 21h45, no Megapix; Abraços partidos, às 21h55, no Glitz; e Eu queria ter a sua vida, às 22h15, no Universal.

CARAS E BOCAS » Vitória do bem



Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) terão final feliz em Além do horizonte   (Paulo Belote/TV Globo)
Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) terão final feliz em Além do horizonte


Depois de combater LC (Antônio Calloni), o grande vilão da trama, e sua comunidade do mal, o casal Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) alcançará a tão sonhada felicidade. Mas até lá ainda passará por poucas e boas nos capítulos finais de Além do horizonte (Globo), que termina na sexta-feira. Denunciada por Paulinha (Christiana Ubach), que conta ao Grande Mentor que é traído pela própria filha, Lili sofrerá nas mãos do pai, que mostra que nem o amor por ela é capaz de conter seu desejo de vingança. De acordo com o site oficial da novela, para flagrá-la no ato, LC faz uma jogada e comunica a todos que a segurança da comunidade ganhará reforços. Rapidamente, Lili corre para avisar Marlon. Mas o pai a segue: “Quer dizer que você está mesmo me traindo, minha filha querida?!”, pergunta ao vê-la usando seu comunicador para falar com a tropa do bem. Lili, então, explode: “Traí e trairia mil vezes se fosse preciso. Você é um crápula que se acha superior aos outros... Um monstro que não se importa em colocar pessoas indefesas naquela máquina maluca... Pessoas inocentes que vieram atrás de um sonho de felicidade e que para algumas se transformou num pesadelo, num circo de horrores...”, diz Lili, furiosa. LC não aguenta ouvir o discurso da filha e demonstra sua decepção: “Você é pior, você é só uma boboca que repete essa bobagem sentimentaloide de que somos todos iguais... Vou te contar um segredo... Nós não somos iguais... Algumas pessoas nascem especiais, nascem talhadas para dominar as outras... Eu sou especial! E meu erro foi pensar que você também era”. LC deixa claro que não vai perdoar a filha. E decide mandá-la para a máquina. Lili foge e se encontra com Paulinha. As duas se engalfinham e Lili é capturada pelo pai. Muitas cenas de ação ainda vão rolar até o capítulo final, quando Lili e Marlon sairão vitoriosos e transformarão a comunidade em um reduto de amor e paz.

DEPRESSÃO E BOM HUMOR
NA PAUTA DA REDE MINAS

O Opinião Minas de hoje, às 8h15, na Rede Minas, vai falar sobre depressão. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão acomete mais de 350 milhões de pessoas pelo mundo, principalmente as mulheres. Mas o que
pouca gente sabe é que a depressão pode estar ligada à má alimentação. Já o Brasil das Gerais, às 20h, na emissora, vai reprisar um programa de julho de 2007 que teve como tema o
bom humor.

SÉRIE FECHA TEMPORADA
COM CENA DE DESPEDIDA

O episódio final da 10ª temporada da série Grey’s anatomy, que irá ao ar em 15 de maio, nos Estados Unidos, traz os médicos do Hospital Grey Sloan Memorial na despedida da doutora Cristina Yang (Sandra Oh), uma das principais da série, que irá deixar o local. Enquanto isso, Meredith (Ellen Pompeo), a protagonista, precisa tomar uma
decisão que irá mudar totalmente sua vida. Já um ato de terrorismo em Seattle causa o caos no hospital. No Brasil, a série
é exibida pelo canal Sony (TV paga).

ENTRELINHAS DESTACA OS
AUTORES INTERNACIONAIS

O Entrelinhas, hoje, às 23h30, na Cultura, exibe entrevistas feitas durante a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty com a escritora e jornalista Xinran e com o romancista Ma Jian. A Flip foi uma oportunidade para saber quais são os temas que preocupam os autores chineses. O programa destaca também uma das personagens mais polêmicas da Flip: a artista plástica francesa Sophie Calle, que usa experiências pessoais para fazer obras de arte que flertam com a literatura, como no livro Histórias reais. 


GÊNIO DA CIÊNCIA

Chiquititas recebe um novo personagem no capítulo de amanhã, às 20h30, no SBT/Alterosa. É Samuca, interpretado por Donato Veríssimo. Considerado um gênio que tem na ciência sua grande diversão, ele vai morar no Orfanato Raio de Luz. Dotado de uma incrível inteligência desde os 2 anos de idade, quando criou uma mamadeira que liberava a exata quantidade de leite para uma criança da idade e peso dele, o garoto cresceu e aprendeu com o avô, que também era um inventor, a desenvolver com exatidão essas habilidades científicas. Na primeira cena, Samuca, cujo nome é Samuel, é recebido por Carol (Manuela do Monte) e as chiquititas. Os meninos apresentam o quarto deles e estranham o jeito de o novo morador falar. Samuca, vale destacar, é um apelido carinhoso que ganhou de Mosca (Gabriel Santana). Nos próximos capítulos, os órfãos irão descobrir que Samuca é sonâmbulo e alguns conseguirão pegar um de seus inventos secretos, um multiplicador de objetos, que resultará numa grande confusão envolvendo Ana (Giulia Garcia). 


VIVA

Esquenta! (Globo), que fez homenagem ao dançarino DG, integrante do elenco da atração, assassinado no Rio de Janeiro.
Foi emocionante. 


VAIA

É sem propósito um personagem como Nando (Leonardo Medeiros), advogado, ficar naquela situação na trama de
Em família (Globo).  

18 passos e três chutes [Miguel Nicolelis]

O neurocientista Miguel Nicolelis anuncia que um dos pacientes paraplégicos do projeto Andar de Novo caminhou e deu pontapés usando um exoesqueleto controlado pela mente. Seu objetivo é mostrar a tecnologia inédita na abertura da Copa do Mundo
 

Estado de Minas: 30/04/2014





"É uma sensação única (ver os pacientes andando). Nenhum deles, antes do projeto, imaginou que teria essa oportunidade de novo na vida. Todos os pacientes já entraram no exoesqueleto, testaram e se sentiram fascinados" Miguel Nicolelis, neurocientista e coordenador do projeto Andar de Novo
A pouco mais de um mês da Copa do Mundo, um paciente paraplégico fez um gol de placa: andou 18 passos e deu três chutes. Ele participa do Projeto Andar de Novo, liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que pretende demonstrar, na abertura do Mundial da Fifa, uma tecnologia inédita, que devolverá o movimento a pessoas há muito tempo impedidas de mexer os membros inferiores. Outros dois pacientes também fizeram uma pequena caminhada na segunda-feira, informou Nicolelis.

Em seu Twitter, o cientista comemorou o feito: “Em 28/4/2014, os primeiros três pacientes do Projeto Andar de Novo realizaram suas caminhadas inaugurais usando o BRA-Santos Dumont 1”, informou. No Facebook, ele postou outra mensagem: “Três pioneiros brasileiros emocionaram a todos nós com sua coragem e determinação”, disse. O inventor e aviador brasileiro dá nome a uma veste, um exoesqueleto de 1,8m e 70 quilos. Usando essa roupa futurista, os participantes conseguem movimentá-la a partir da atividade cerebral. Os sensores instalados no Santos Dumont “leem a mente” do paciente e obedecem a ordens como levantar e abaixar as pernas ou chutar uma bola.

Em entrevista ao site Portal da Copa, do governo federal, o cientista explicou que o peso da veste não é relevante porque ele não será sentido pelos usuários. “A máquina vai ser responsável pelo equilíbrio do paciente e por controlar o peso do exoesqueleto, enquanto o paciente determina o início dos movimentos, o término e, obviamente, o chute. Os sensores vão ficar na planta do pé e vão entregar esses sinais no braço da pessoa, que vai imaginar as pernas andando, se locomovendo e pisando no chão por meio desse feedback que recebe nos braços”, contou.

Desenvolvido em uma parceira entre a universidade americana de Duke, onde Nicolelis é pesquisador, e o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (ILNN-ELS), o Andar de Novo também conta com a colaboração de cientistas da Alemanha, da Suíça e da França. No Brasil, a Agência Brasileira da Inovação (Finep) investiu R$ 33 milhões. Ao todo, oito paraplégicos foram selecionados na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), de São Paulo, onde foi montado um laboratório de neurorobótica exclusivamente para a iniciativa. Todos os pacientes já experimentaram a sensação de ficar em pé com o exoesqueleto. Na abertura da Copa, um deles deverá se levantar da cadeira de rodas e caminhar 25m na Arena Corinthians até uma bola para dar início ao evento.

Extensão do corpo O pontapé inicial no Mundial, contudo, não vai encerrar o projeto. Na realidade, é apenas o começo. Segundo Nicolelis, o trabalho será mantido após a Copa, até que se chegue a uma veste que permita qualquer pessoa com lesão da medula espinal, inclusive tetraplégicos, se movimentar dentro dela. “Um certo dia, quando o paciente entrar no laboratório, vai falar: ‘Parece que é o meu corpo’. Vai ser como um estalo, porque o cérebro vai ter feito essa transição”, planeja o cientista. Ele explica que é preciso tempo para que ferramentas complexas como o exoesqueleto sejam incorporada pelo cérebro como uma extensão do corpo. Por isso, os pacientes precisam se familiarizar aos poucos com a roupa futurista.

Embora muito feliz com os resultados obtidos até agora, Miguel Nicolelis lembra que há uma série de obstáculos que precisam ser vencidos na demonstração da abertura da Copa. O paciente estará ao ar livre, observado por 70 mil pessoas, filmado por redes do mundo todo e fotografado por milhares de celulares. O participante usará um modelo de exoesqueleto que inclui sensores acoplados de forma não invasiva ao couro cabeludo. Eles capturam ondas cerebrais globais e os sinais são transmitidos para o exoesqueleto, para controlar os diferentes movimentos gerados por ele. No futuro, microchips poderão ser implantados no cérebro para fazer essa leitura.

Ao Portal da Copa, Nicolelis demostrou satisfação com o andamento do projeto. “Os resultados estão muito acima do esperado. Não tínhamos a perspectiva de estar tão adiantados do ponto de vista clínico e ter resultados tão interessantes do ponto de vista neurocientífico da maneira que a gente teve nos últimos meses”, disse. O coordenador do projeto contou que ficou muito comovido com os passos dos paraplégicos. “É uma sensação única. Nenhum deles, antes do projeto, imaginou que teria essa oportunidade de novo na vida. Todos os pacientes já entraram no exoesqueleto, testaram e se sentiram fascinados. É uma máquina que não é só inovadora, como é bonita, elegante. Eles disseram, inclusive, que querem a máquina assim mesmo, sem a cobertura que a gente imaginou inicialmente, porque eles acham mais emocionante ver toda a tecnologia envolvida”, revelou.

CINE PE » Estreia do menino Carolina Braga

Estado de Minas: 30/04/2014 

O garoto Lino Facioli vive Fernando, em O menino no espelho (Gustavo Baxter/Divulgação)
O garoto Lino Facioli vive Fernando, em O menino no espelho


Recife %u2013 Foram sete anos de projeto e agora é chegado o momento do frio na barriga. %u201CAquele cinema é gigante. A gente sempre fica assustado quando chega lá na frente%u201D, revela o diretor Guilherme Fiúza. É o que ele fará hoje, na estreia de O menino do espelho, longa baseado no livro de Fernando Sabino. A escolha do Cine PE foi estratégica.

O menino do espelho ficou pronto há 15 dias. Com estreia no circuito comercial marcada para 19 de junho, o festival realizado no Recife seria o único capaz de abrigá-lo antes do lançamento. Há também uma questão de público. A plateia pernambucana é conhecida como volumosa e aberta a esse tipo de proposta. %u201CÉ um filme de caráter família, muito voltado para o público infantojuvenil. No Brasil não tem muitas produções nesse gênero%u201D, comenta o diretor.

Mateus Solano e Regiane Alves são algumas estrelas do elenco, protagonizado pelo pequeno Lino Facioli. É ele %u2013 que também tem no currículo uma ponta na cultuada série Game of thrones %u2013, quem dá vida a Fernando, o garoto que sonhava ter um sósia e um belo dia vê seu desejo realizado. A história se passa na Belo Horizonte dos anos 1930. Guilherme Fiúza conta que evitou fazer um filme nostálgico. O menino do espelho é, sim, emotivo. %u201CO cinema que tento fazer é aquele que emociona, que toca, que comove.%u201D

Documentários Segunda-feira foi noite de cinema vazio no Cine Teatro Guararapes, em Olinda. O documentário E agora? Lembra-me, do português Joaquim Pinto, foi um teste de paciência. Em quase três horas de duração, o diretor compartilha com o público as sensações e visões sobre o próprio cotidiano, durante o teste de novas drogas para tratamento da hepatite C. Não se trata de um filme médico, mas de memórias.

Joaquim não tem a menor pressa em nos apresentar como encara a própria rotina. É como se a repetição dos ciclos também contasse algo ao espectador: o quanto a vida é circular. E agora? Lembra-me tem longos silêncios, planos estáticos e duradouros. Praticamente não há diálogos. É o próprio Joaquim quem narra o diário.

O último filme da noite foi o documentário pernambucano Corbiniano, sobre o artista plástico José Corbiniano Lins. Ao lado de Francisco Brennand e Abelardo da Hora, é considerado um dos ícones da arte em escultura do estado. É nítido o quanto o filme dirigido por Cezar Maia deseja homenagear seu personagem, mas o faz de uma maneira tradicional e bairrista, já que todos os entrevistados são conterrâneos. 

O que é que Pequeri tem?‏ - Ailton Magioli

O que é que Pequeri tem? 
 
Centenário de Dorival Caymmi, celebrado hoje em todo o Brasil, tem a marca mineira da cidade da Zona da Mata, onde o compositor construiu uma casa nos anos 1980 
 
Ailton Magioli
Estado de Minas: 30/04/2014


Dorival Caymmi circulava pelas ruas de Pequeri, cidade natal da mulher, Stella Maris, sempre atencioso com os vizinhos   (Fernando Rabelo/Divulgação  )
Dorival Caymmi circulava pelas ruas de Pequeri, cidade natal da mulher, Stella Maris, sempre atencioso com os vizinhos


ebruçado no parapeito da janela da casa de Pequeri (MG), por mais que o colorido da roupa entregue o baiano Dorival Caymmi (1914-2008) tinha também seu lado mineiro. Já sentado na cadeira de balanço da varanda, como a população da pequena cidade da Zona da Mata se acostumou a vê-lo, ele era o próprio Buda Nagô a que Gilberto Gil se refere em canção, diante da expressão suave e serena.
Nascido em Salvador (BA), o cantor, compositor e instrumentista tem seu centenário comemorado hoje em todo o país, incluindo Minas Gerais, estado natal da mulher, Stella Maris (1922-2008). Depois da ausência sentida na cidade, no fim dos anos 1980 a família Caymmi construiu casa em Pequeri, em frente à qual será inaugurada hoje à noite placa comemorativa aos 100 anos do artista baiano.

“São Pedro do Pequeri/ Stella nasceu aqui/ Em São Salvador, na Bahia/ De todos os santos nasci”, escreveu o compositor, que liderava campanha para a volta do antigo nome da cidade. Impressos na placa alusiva ao centenário do artista, os versos serão eternizados na Rua Carlos Dutra, que, além do Espaço Caymmi, continua abrigando a família, agora na presença da filha Nana Caymmi, que comprou o imóvel dos irmãos.

“Às vezes ele chegava do Rio, sentava na varanda e, como já não enxergava bem, passava de leve na rua, para não incomodá-lo. Quando estava a 10 metros de distância, de repente ele falava: ‘Seu Geraldo!’”, recorda o vizinho de rua, Geraldo Fulco, lembrando que não havia como deixar de ir à varanda para cumprimentar o artista. Ex-vereador e ex-prefeito da cidade, o comerciante Geraldo Fulco diz que na rua Dorival Caymmi cumprimentava todos, aceitando com carinho o pedido de fotos. “Era um vizinho muito bom, assim como os filhos, que ainda frequentam Pequeri.”

“Além de apresentações artísticas no Centro da pequena cidade ainda hoje, durante o ano vamos promover alguns pequenos eventos pela volta do Festival de Música de Pequeri (Fempeq), que tinha Dorival Caymmi como patrono”, anuncia a secretária de Cultura e Turismo do município, Suyan Cozac. “Estamos muito felizes com a homenagem, simples e singela, tão ou mais importante que qualquer outra”, reage a neta e biógrafa Stella Caymmi, que está lançando edição revista e atualizada, com novo posfácio, da biografia do avô, Dorival Caymmi – O mar e o tempo, originalmente publicada por ela em 2001, antes da morte do avô.

Além da relação de afeto da família com a terra natal da avó, Stella Caymmi admite que Minas Gerais foi uma das plateias mais importantes na carreira do avô. Segundo as pesquisas que fez para escrever a biografia de Caymmi, logo que chegou ao Rio de Janeiro, na década de 1930, o artista teve um caso de amor com uma mineira, “que ele dizia ter um quê de Shirley Temple”, recorda a neta. “De volta ao estado, ela recomendou a Dorival outra mineira”, diverte-se Stella, salientando que, a partir de então, o avô passaria a gostar muito de Minas Gerais, conforme relata no livro.

palavra de filho


Dori Caymmi
Filho de Dorival, cantor e compositor

Legado de simplicidade

“Pequeri tem dois fundadores, um dos quais Tostes, que é da família da minha mãe. Fora o carro de boi e o trem, que já não circulam mais por lá, a cidade não mudou nada. Depois da temporada que passávamos por lá, nos anos 1940, entre a casa de familiares e pensões, meu pai acabou comprando um terreno e construindo uma casa nos anos 1980. Ele tinha paixão pela cidade. Já mamãe – que era flor do asfalto, mesmo tendo nascido em Pequeri – às vezes achava tedioso. O silêncio da cidade era a paz de meu pai. Com a proibição da caça pelo Ibama, a fauna da região voltou e ele tinha paixão pelo beija-flor e o canário-da-terra. Era um observador da natureza. Chegou a pintar a igreja da cidade. Lembro-me da procissão da sexta-feira santa parando quando passava em frente à nossa casa, para saudá-lo. No silêncio ele se aproximava mais de Minas Gerais. Meu pai tinha aquela coisa meio secreta do mineiro.

As homenagens que vem recebendo pelo centenário têm sido muito bonitas. Há muito interesse pela vida e simplicidade de Dorival Caymmi, que não tinha ambições. O grande legado que ele nos deixou foi a casa de Pequeri, o apartamento do Rio e a música que nos fez artistas.”

Paixão de uma vida



Filha de Pequeri, aos seis meses Stella Maris foi morar no Rio, onde se tornaria a cantora que Dorival Caymmi viria conhecer (e se apaixonar) no célebre auditório da Rádio Nacional. Da tradicional família Tostes, dona Stella Maris, de acordo com a neta, tem parentesco com Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que teria se destacado por seu envolvimento com a Inconfidência Mineira, em 1789. “É uma linhagem muito tradicional, que remonta a várias personalidades importantes para Minas Gerais e o país”, orgulha-se Stella Caymmi, para quem a força das mulheres Caymmi é explicada a partir de então.

De acordo com a neta do casal Caymmi, Jorge Amado dizia que se Dorival não tivesse Stella Maris ele não teria feito o que fez. “Com ela ele teve uma retaguarda e uma vanguarda”, avalia a neta, salientando a força do casamento de um taurino com uma capricorniana. Ao mesmo tempo, tratava-se de casal extremamente classe média, consciente da necessidade do trabalho. “Um realismo de trabalho, mas não de enriquecimento”, acrescenta Stella.

“Eles dividiram muito bem a tarefa. Minha avó só largou a música como profissão, ela jamais deixou de cantar”, justifica, salientando a importância da presença de Stella Maris na vida de Dorival Caymmi, inclusive na hora de apoiar a escolha dos filhos Nana, Dori e Danilo de seguirem carreira artística. A famosa composição Dora (“Rainha do frevo e do maracatu...”) foi composta para a avó Stella Maris. “Ela foi aquela mulher que ele viu quando passou um cortejo de bloco de frevo, no Recife”, garante Stella Caymmi.

Stela faz questão de salientar ainda que a mãe, Nana Caymmi, adquiriu a parte da casa dos irmãos Danilo e Dori Caymmi para mantê-la como era. “Não com preocupações museológicas, mas para ter os pais Stella Maris e Dorival Caymmi perto de si. Minha mãe fez da casa um lugar para se refugiar e cuidar de meu irmão, João, que tem problemas de saúde”. Solidária, a população de Pequeri acolhe Nana e João com o mesmo carinhos dispensado a Stella Maris e Dorival.

Novas drogas aliviam esclerose‏ -

Novas drogas aliviam esclerose
Remédios aprovados pela Anvisa chegam ao Brasil com a promessa de amenizar efeitos colaterais dos injetáveis usados para controlar a doença autoimune 
 
Celina Aquino
Estado de Minas: 30/04/2014

As injeções podem deixar de fazer parte do dia a dia de pacientes com esclerose múltipla. Dois medicamentos aprovados este ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegam ao Brasil com a promessa de revolucionar o tratamento da doença autoimune que ataca o sistema nervoso central. O alemtuzumabe, por exemplo, é administrado em apenas dois ciclos anuais de aplicações intravenosas. Já o teriflunomida é mais um remédio via oral que se junta ao arsenal terapêutico para melhorar a qualidade de vida de brasileiros, geralmente entre 20 e 40 anos, que recebem o temido diagnóstico.

A esclerose múltipla provoca a destruição da mielina, envoltório dos neurônios que ajuda na condução dos impulsos nervosos responsáveis por estímulos visuais, sensitivos e motores, principalmente. Dependendo da área atingida, surge, temporariamente, perda de visão, dormência e comprometimento da coordenação motora. A neurologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Soniza Vieira Alves Leon, explica que os tratamentos são indicados para impedir o surgimento de novas lesões, diminuir a frequência dos surtos (momentos de maior agressão à mielina) e interferir na progressão da doença, que pode levar a um déficit neurológico sem recuperação. “A medicação oral veio para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Como acomete jovens, quem recebe o diagnóstico não quer ter que injetar todo dia a medicação, pelo resto da vida”, comenta.

O incômodo de tomar as injeções, sejam intramusculares, subcutâneas ou endovenosas (por meio de soro), não é a única queixa. Soniza acrescenta que os medicamentos injetáveis estão relacionados a efeitos colaterais como dor muscular, febre, pressão no peito e dor de cabeça. Alguns pacientes não conseguem se levantar da cama depois de receber a dose. Por isso, a especialista da UFRJ considera uma revolução o uso de medicações orais. Os comprimidos, ingeridos uma vez ao dia, provocam menos reações adversas.

De uso contínuo, o teriflunomida é mais indicado para iniciar o tratamento da esclerose múltipla. Apesar do conforto indiscutível do medicamento oral, a neurologista informa que nem todos os pacientes podem ser tratados com a substância. É preciso avaliar fatores de risco, com investigação cardiovascular, exame de fundo de olho e chance de infecção pelo vírus da herpes-zóster, para prescrever o remédio. Homens e mulheres medicados com o teriflunomida devem usar métodos contraceptivos eficazes para evitar uma gravidez. Além disso, vacinas de vírus vivos estão proibidas durante o tratamento, porque podem gerar disfunção imunológica. “Os pacientes não podem relaxar porque tomam o comprimido. Eles são orientados a não deixar de se consultar e repetir em três meses os exames”, alerta Soniza.


DESÂNIMO E DOR DE CABEÇA “Tomava injeção três vezes por semana. No dia seguinte não conseguia fazer nada. Caía na cama com dor de cabeça e desânimo”, relembra a aposentada Cibele Itaboray Frade, de 40 anos, casada e mãe de dois filhos, diagnosticada com esclerose múltipla em 2002. Depois de muito sofrer, ela resolveu apostar na reposição de vitamina D (estudos mostram que o nutriente auxilia o sistema imunológico, apesar de não tratar isoladamente a doença) e conta que há cinco anos não passa por surtos, que já resultaram em perda de visão, perda de força nos braços, falta de sensibilidade da cintura para baixo e perda da memória recente. Hoje presidente da Associação Mineira de Apoio a Portadores de Esclerose Múltipla (Amapem), Cibele não ficou com nenhuma sequela. Ela caminha todos os dias com o cachorro. “Não tenham medo de se informar, pois os tratamentos estão cada vez melhores. A vida continua, e muito bem.”

Saiba mais
Prevalência alta no Sul
Enquanto em São Paulo a prevalência da esclerose múltipla é de 15 pacientes para cada 100 mil habitantes, o número sobe para 27 em Santa Maria, o que torna a cidade no interior do Rio Grande do Sul proporcionalmente com a maior quantidade de diagnósticos da doença no Brasil. O neurologista Juarez Lopes, diretor médico da Associação dos Portadores de Esclerose Múltipla de Santa Maria e Região, destaca que a estatística coincide com a hipótese de que a esclerose múltipla tem origem viral. Seguindo essa teoria, os pacientes tiveram contato com o vírus numa época em que o sistema imunológico conseguiu combatê-lo. Anos depois, porém, em uma situação de estresse, o sistema imunológico ativa sua memória e acaba atacando o cérebro, pois o vírus já desapareceu. Como Santa Maria está em uma região mais fria, a transmissão do vírus se processa de maneira mais fácil.

Busca por estabilidade do paciente

Aprovado pela Anvisa em 2011, o primeiro medicamento oral que chegou ao Brasil é usado por 70 mil pessoas em todo o mundo. Em Santa Maria, cidade no interior do Rio Grande do Sul, 64 pacientes são tratados com a medicação desde agosto passado. “Todos os pacientes tiveram bons resultados, alguns voltaram a andar e estão felizes porque não usam mais os injetáveis. O fingolimode gera maior aderência ao tratamento, pois melhora o movimento, a disposição, não provoca dor nem efeito colateral”, conta o neurologista Juarez Lopes, diretor médico da Associação dos Portadores de Esclerose Múltipla de Santa Maria e Região (Apemsmar). A única reação indesejada, não observada nos gaúchos, pode ser a bradicardia (diminuição da frequência cardíaca) nas primeiras seis horas depois da primeira dose.

O fingolimode costuma ser a melhor alternativa quando houver falha terapêutica com os medicamentos injetáveis. A grande vantagem, na visão de Lopes, é que o remédio protege o cérebro, evitando a atrofia (a esclerose múltipla pode levar à perda de memória). “Não adianta nada o paciente não ter surto e ficar esquecido. Tenho pacientes médicos, empresários, bancários e advogados que trabalham normalmente e levam vida normal”, tranquiliza o neurologista. Ainda não se vislumbra a cura, mas o médico comemora o avanço no tratamento. Em breve, será lançada uma medicação útil para casos em que a doença resultou em paralisia. O comprimido melhora a velocidade de condução dos impulsos nervosos pelos neurônios, fazendo com que o paciente volte a caminhar.

Os medicamentos injetáveis, que começaram a ser usados no Brasil há cerca de 20 anos, foram as primeiras opções de tratamento para a esclerose múltipla. Antes deles, os pacientes acumulavam sequelas. Agora o desafio é oferecer drogas mais efetivas e com maior comodidade. “As novas medicações conseguem controlar melhor o processo inflamatório da doença e proteger o sistema nervoso central para que não haja sequelas. Embora não sejam a cura, resultam em maior assertividade e vida melhor para o paciente”, pontua a neurologista do Hospital da Restauração do Recife Maria Lucia Brito, que participou com dois pacientes do estudo iniciado há quatro anos para avaliar a eficácia do alemtuzumabe.

DOIS CICLOS Diferente de tudo que existe disponível para tratar a esclerose múltipla, o remédio é administrado em dois ciclos anuais de injeções intravenosas. O paciente toma cinco doses em dias consecutivos, no primeiro ano e 12 meses depois as aplicações são oferecidas em três dias seguidos. Um novo ciclo pode ser necessário caso ocorra um surto que justifique o uso da medicação, mas o acompanhamento é para o resto da vida. Sabe-se que os efeitos colaterais a longo prazo estão ligados a alterações na tireoide e infecções virais. “Temos que pensar em pacientes como indivíduos que podem ou não responder ao remédio, por isso precisamos ter mais opções no arsenal terapêutico”, comenta Maria Lucia, que espera a entrada do alemtuzumabe no Sistema Único de Saúde (SUS).

Personagem da notícia
Cleuza de Carvalho Miguel
presidente do Movimento dos Pacientes com Esclerose Múltipla (Mopem)
Ela abraçou a causa

Não seria uma cadeira de rodas que poderia impedi-la de lutar. A artista plástica Cleuza de Carvalho Miguel, de 66 anos, não tem mais força nas pernas para andar. Mesmo assim, viaja todo o Brasil como conselheira do Conselho Nacional de Saúde para facilitar o acesso dos pacientes com esclerose múltipla aos medicamentos que são lançados. Já que não queria depender de braço para se apoiar, ela nunca teve vergonha de assumir a necessidade de usar bengala, andador ou cadeira de rodas. Cleuza descobriu a esclerose múltipla numa época em que não havia nem ressonância magnética, principal exame para o diagnóstico. As primeiras injeções sugiram muitos anos depois. “Enquanto eu vir que o medicamento tem possibilidade de ser bom, vou brigar em nome dos outros. Abraço a causa com muita garra e vontade. Fico contente de ver o paciente tomar o remédio e perceber a diferença no seu dia a dia.” Quando perdeu a força no pé direito, Cleuza começou a pisar no motor da máquina de costura com o esquerdo. Agora que está na cadeira, ela usa um equipamento que fica em cima da mesa e trabalha com as mãos. Ela nunca sofreu com as limitações que a doença lhe impôs. “Prefiro ter rugas de tanto sorrir a chorar.” 

Eduardo Almeida Reis - Copidesquei‏

Copidesquei 
 
Do português tabelionesco aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 30/04/2014


Ainda que de leve, porque sou educadíssimo, copidesquei um editorial do Jornal de Angola intitulado Patrimônio em risco, aliás, património. Angolanos são exuberantes e aprontam editoriais quilométricos, motivo pelo qual fui obrigado a dividir o texto em dois. Os leitores de Tiro&Queda sabem que detesto crônicas em capítulos I, II, III etc., mas as colunas de hoje e amanhã nada têm de crônicas: transcrevem o primoroso editorial sobre a imbecilidade do Acordo Ortográfico inventado por meia dúzia de gramáticos. Vejamos o que dizem os angolanos sobre o Acordo e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.

"Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é patrimônio de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.

Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige.

Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às ‘leis do mercado’. Os afetos não são transacionáveis. E a língua que veicula esses afetos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.

Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros intelectuais angolenses da última metade do século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram, sobretudo os que lançaram o grito ‘Vamos descobrir Angola’, deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas línguas nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiram a via erudita e a via popular. Do ‘português tabelionesco’ aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas.”

Brasil

Grande e bobo, este país que tem hino, bandeira, constituição e corrupção, muita corrupção, ainda não aprendeu a lidar com a eletricidade. Na Sociedade Hípica Brasileira, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, cavalos que chegaram dos haras para competir no domingo, 6 de abril, foram instalados em baias metálicas improvisadas: dois morreram eletrocutados e dois ficaram feridos. A dona dos animais disse que o acidente poderia matar uma pessoa que encostasse no metal das baias.

Enquanto isso, em Brasília, DF, Tiago Pereira, 28 anos, professor de musculação em Caxias do Sul, atleta que competiu no Ironman da tarde do mesmo domingo, encostou-se em uma estrutura metálica na área destinada aos estandes do evento chamado Ironman 70.3 Brasília, tomou um choque e morreu de parada cardiorrespiratória.

A Latin Sports, empresa que organizou a competição, afirma que prestou todo o auxílio médico ao atleta, não se exime de suas responsabilidades e está acompanhando as autoridades na perícia que determinará as causas do incidente.

O mundo é uma bola

 No dia 30 de abril de 1803 os Estados Unidos compraram da França a Louisiana por US$ 15 milhões, que se transformaria no 18º estado norte-americano também no dia 30 de abril, mas em 1812. Entre os fatos marcantes da história daquele estado há que destacar os dois meses que passei por lá tentando aprender inglês e o furacão Katrina, que matou 1.833 pessoas.

Em 1854, inauguração da primeira ferrovia do Brasil ligando o Porto de Mauá, atual Guia de Pacobaíba, a Fragoso, atual Magé. Transcorridos 160 anos, nossa malha ferroviária é ridícula. Em 1900, o Havaí se torna território dos Estados Unidos. Em 1912, fundação em BH do América Futebol Clube, que tem torcedores fanáticos e andou ganhando muitos campeonatos nesses 102 anos.

Em 1945, suicídio de Hitler e Eva Braun. Em 1948, criação da Organização dos Estados Americanos, a OEA. Em 1980, sobe ao trono a rainha Beatriz, dos Países Baixos. Em 2013, a rainha Beatriz abdica em favor de seu filho Guilherme Alexandre. O Reino dos Países Baixos é composto pelos Países Baixos, Curaçao, Aruba e o território de Sint Maarten, na Ilha de São Marinho. É Sint mesmo.

Ruminanças

“O elefante deixa-se acariciar. O piolho, não.” (Lautréamont, 1846-1870).