segunda-feira, 28 de abril de 2014

O dilema sobre Dilma - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 28/04/2014

Dilma era elogiada por ser ética, em 2011, e hoje é atacada por ser intransigente. Mas não é a mesma coisa?



Seu primeiro ano foi uma lua de mel. Ouvia as denúncias contra seus ministros e os demitia, se fosse o caso. Depois de vários mandatos presidenciais em que a opinião pública sentira uma certa leniência em casos tais, Dilma Rousseff adquiriu a fama de gestora rigorosa e honesta. Nos anos seguintes, porém, essa imagem cedeu lugar à de intransigente, mal humorada e até ríspida.

Mas essas imagens opostas se referem à mesma personalidade, ou postura. Dizem respeito ao mesmo referente: uma presidenta séria, pouco disposta a brincadeiras, exigente com o Tesouro, isto é, com "o seu dinheiro, o meu, o nosso", avessa a concessões em matéria de princípios - como o Código Florestal -, acreditando na coisa pública e inimiga dos malfeitos, nome que dá à corrupção. Nem a mídia mais hostil a seu governo e partido questiona sua honestidade. Num país em que a discussão política é pobre a ponto de se concentrar numa nota só, que é acusar o adversário de desonesto, ela é criticada por suas políticas e por sua eficiência, não por sua moral.

O problema é que os elogios e críticas incidem sobre o mesmo traço de personalidade - ou postura. Distingo. Traço de caráter pertence à pessoa. Incorporou-se à sua psique, por educação ou decisão. Postura é consciente, é mais racional. No seu caso, parece que psicologia e ética correm na mesma direção. No começo do mandato, esse rigor, que também se exprime num apreço à liturgia do cargo sem precedentes faz bastante tempo, dado que inclui uma seriedade quase puritana, era louvado. Tínhamos uma dirigente que não fazia negócios. Com o tempo, tornou-se tema de preocupação e mesmo de crítica. Ela não cede. Para votar uma lei, faz o mínimo de acordos. Isso estressa as relações com os parlamentares e os partidos. Mas aparentemente tem dado certo, isto é, as derrotas em alguns projetos de lei não trouxeram resultado pior do que teria sido aceitar desfigurá-los.

Queremos ou não uma política com ética?

Isso tem um custo político, que ela paga. Não é pragmática, queixam-se os empresários. Não gosta de política, reclamam políticos e colunistas. Nos dois casos, isso significaria que não escuta o outro, não quer ter notícias más, não faz concessões. Mas é tênue a linha separando essa descrição, que delineia um governante no limite do autoritário, e a do político sem princípios. Fazer uma negociação, que é coisa boa, está a apenas duas ou três letras de fazer uma negociata. Onde ficam as fronteiras da negociação, legítima, necessária na política, e da negociata, sua caricatura, sua negação?

Muitas críticas a Dilma, penso eu, exprimem um problema nosso, de nossa sociedade, não exatamente dela. Queremos ética na política, mas sabemos que na prática não é bem assim. Desconfiamos que a ética, na política, não entrega os bens desejados. Por isso, prestamos homenagem, da boca para fora, à moral, mas - pragmaticamente - aceitamos infrações a ela. Isso não é raro. Já vi pessoas que se indignavam com a desonestidade vigente mas sobrefaturavam a conta que emitiam. Essa divisão na personalidade, essa contradição ética entre a fala honesta e a prática desonesta, percorre a sociedade brasileira de cima em baixo. Ninguém esquece o senador goiano que era um dos críticos mais veementes da corrupção petista, estando, ele próprio, envolvido em negócios que lhe custaram o mandato.

Mas, na política, a contradição entre ética e prática apenas se torna mais evidente às críticas. Nem sei se é maior, ou mais visível, do que os malfeitos de nosso cotidiano. Muitos dos que criticam políticos agem, na vida pessoal, da mesma forma que os criticados. Com frequência maior do que seria aceitável, o político se torna bode expiatório dos microcorruptos do cotidiano.

Não seria bom aproveitarmos esta ambivalência em relação ao caso Dilma para refletir sobre a ambivalência da própria sociedade brasileira quanto à ética na sociedade e na política? O movimento com esse nome tomou as ruas do Brasil há bons vinte e dois anos, por ocasião do impeachment de Fernando Collor. Pareceu produzir bons resultados, como a queda do presidente e a cassação de deputados. Mas parou aí. Continuamos acreditando que seria bom alcançarmos a ética, mas que é mais seguro termos uma prática que tolera infrações, pequenas e enormes, em nome do resultado. A ética é o ideal, mas a prática desonesta é a realidade. Pregamos a ética para os outros. Queremos que eles se demonstrem éticos, mas nos reservamos o privilégio de ser pragmáticos em benefício próprio. Não que nossa sociedade seja sistematicamente desonesta. A desonestidade é exceção. Mas é uma exceção que se manifesta em momentos estratégicos da vida política - e social. Não aparece em questões poucas, porque menores - aparece em questões poucas, porque cruciais.

Mudar isso é possível. Campanhas, como a do Ministério da Justiça contra as mini corrupções de cada dia, educam. Mostram o nexo entre o ilícito meu ou seu, e o ilícito de nossos representantes. Porque quem nos representa, porque foi eleito por nós, nos representa também como somos. O limiar da honestidade precisa ser levantado, na vida de todos. E além disso é viável, ainda que difícil, um pacto entre políticos. Seria possível políticos honestos, de vários partidos, acordarem que não aceitam o apoio da banda podre. Isso poderá gerar um ou dois anos de turbulência, mas dará efeito. E então saberemos distinguir se um governante merece ser criticado porque se fecha a negociações - ou elogiado porque se recusa a negociatas, que são coisas diferentes, sendo uma a essência da política, a outra a essência da corrupção.

TeVê

TV PAGA » Cuidado com ela!



Estado de Minas: 28/04/2014
 (Multishow/Divulgação)


Humor e ironia são os principais ingredientes de Por isso eu sou vingativa, nova série do Multishow que estreia hoje, às 22h30. Baseada no livro homônimo de Claudia Tajes, a atração é estrelada por Camila Morgado (na foto com Marcelo Serrado), como a amargurada Sara Xerxes, que depois de enfrentar mais uma frustração amorosa está determinada a fazer os ex-amantes sofrerem. Além de convidados que fazem os papéis dos ex-namorados – entre eles Marcio Garcia, Leo Jaime, Bruno Garcia, Sergio Marone, Augusto Madeira, Hamilton Vaz Pereira e Leonardo Miggiorin –, o elenco conta com Pedro Paulo Rangel, Márcia Cabrita e André Gonçalves.

Canal +Globosat prefere apostar em série policial


Novidade no canal +Globosat, com a estreia da série policial Cidade em alerta, às 21h. A produção conta a história de Paul e Fien, policiais envolvidos na investigação de roubos, sequestros e até assassinatos. Com duas temporadas, a atração é ambientada em Antuérpia, segunda maior cidade da Bélgica. A cada episódio, uma investigação diferente. Em tempo: no Arte 1, às 20h, estreia a minissérie Os miseráveis, baseada na obra de Victor Hugo, com Gérard Depardieu, John Malkovich, Christian Clavier e Jeanne Moreau.

No Futura, mostra de curtas universitários
Dirigido por Maria Julia Andrade Carvalho, da Universidade Federal de São Carlos, o curta Izabel é a atração de hoje de Sala de notícias, às 14h35, no canal Futura. Em São Carlos, cidade conhecida como a última a abolir a escravidão no Brasil, o documentário faz um passeio pela comunidade de Vila Izabel para conhecer antigos moradores e compreender como suas histórias de vida se relacionam com a trajetória do bairro, fundado por ex-escravos.

Programação valoriza os  documentários nacionais

No canal Curta!, às 23h, será exibido o documentário Um certo Dorival Caymmi, homenagem ao mestre baiano que completaria 100 anos na quarta-feira. Dirigido por Aluisio Didier, o filme narra a trajetória de Dorival com ricas informações sobre sua vida e obra, especialmente a mudança para o Rio de Janeiro e seu envolvimento com outras formas de expressão artística, como o cinema e a pintura. Em tempo: às 21h, o Cine Brasil reprisa o documentário O Velho – A história de Luiz Carlos Prestes, de Toni Venturi; às 22h, a atração é Deixa que eu falo, sobre o cinema de Leon Hirszman, com direção de Eduardo Escorel.

Tem filme novo estreando hoje no Telecine Premium


Estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, a comédia Quase um anjo, de Richard Linklater, com Jack Black no papel de um agente funerário suspeito de matar uma viúva rica (Shirley MacLaine) com quem se envolveu. Ele passa a ser investigado pelo advogado Danny Buck (Matthew McConaughey). Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Heleno, no Max; Faroeste caboclo, no Telecine Pipoca; O homem que fazia chover, no Telecine Cult; Caça aos gângsteres, na HBO 2; Identidade, na MGM; e Tá rindo de quê?, no Studio Universal. E ainda: 2 coelhos, às 20h40, na TNT; e Vidas roubadas, às 21h55, no Glitz.



CARAS & BOCAS » Transplante é a solução

Simone Castro


A doença cardíaca de Cadu (Reynaldo Gianecchini) vai se complicar  (João Miguel Jr./divulgação)
A doença cardíaca de Cadu (Reynaldo Gianecchini) vai se complicar


O chef Cadu (Reynaldo Gianecchini) passará por maus bocados por conta da doença no coração. Nos próximos capítulos de Em família (Globo), a doutora Sílvia (Bianca Rinaldi) será portadora de más notícias: só um transplante de coração salvará o marido de Clara (Giovanna Antonelli). O enredo já foi escrito por Manoel Carlos. Um operário, que sofrerá acidente numa obra, será o doador. As duas situações – Cadu em estado grave e a morte do trabalhador – serão exibidas simultaneamente. A intenção é mostrar o passo a passo de um transplante. Depois da cirurgia, vem a pergunta mais aflitiva: “Deu certo?”.

VEM AÍ A NOVA SÉRIE DA  “MÃE” DE HARRY POTTER

Depois do grande sucesso da saga literária e cinematográfica de Harry Potter, o bruxinho mais festejado dos últimos tempos, a escritora J. K. Rowling liberou a adaptação de Morte súbita para a TV. A minissérie The casual vacancy será produzida em parceria pela HBO e a BBC, informa o site da revista americana Variety. Na trama, a pequena cidade fictícia de Pagford, no interior da Inglaterra, é palco de muitas disputas: ricos contra pobres, adolescentes contra os pais, esposas contra maridos e, claro, alunos em guerra com professores. O elenco e a data do início das gravações ainda não foram definidos. A atração deve estrear em 2015. Cada um dos três episódios terá 60 minutos.

HOMENAGEM A CAYMMI  É ATRAÇÃO DO AGENDA

Um dos grandes mestres da música brasileira, Dorival Caymmi completaria 100 anos na quarta-feira. Para homenageá-lo, o Agenda convidou os músicos Fernando Brant e Geraldo Viana para falar sobre as canções do baiano e sua imensa importância para a cultura de nosso país. O bate-papo segue com o jornalista Geo Cardoso, que apresenta seu trabalho a respeito do autor de Marina, um dos precursores da bossa nova. Hoje, às 19h30, na Rede Minas.

TEMPOS DE ESCOLA É QUASE “CENTENÁRIO”

Apresentado por Serginho Groisman, Tempos de escola está prestes a chegar ao 100º programa. Para celebrar o marco, o canal Futura (TV paga) vai divulgar em seu site 10 entrevistas de temporadas passadas para que internautas elejam as cinco que serão reapresentadas na TV. A votação on-line (www.futura.org.br) vai de 1º a 15 de maio. Entre os convidados estão Sandy e Júnior, Lázaro Ramos, Ivete Sangalo, MV Bill e Regina Casé. Os eleitos irão ao ar de 26 a 30 de maio, às 16h. Em junho, o programa de Serginho vai ganhar edição em clima de Copa do Mundo. O técnico de futebol Mano Menezes e o cantor “peladeiro” Raimundo Fagner são alguns dos convidados.

CONFIRA O QUE ROLA  NA MODA DO VIDIGAL

O GNT fashion, hoje, às 21h30, vem direto da Favela do Vidigal, de onde se vê uma das mais belas paisagens cariocas, emoldurada pelas praias do Leblon e de Ipanema. Lilian Pacce confere o processo de renovação urbana e social do morro por meio da Casa Geração Vidigal – escola de moda gratuita para alunos das comunidades do Rio de Janeiro. A apresentadora conheceu o trio de rap Pearls Negras, formado por jovens de 16 e 17 anos que chamam a atenção na internet. O visual das meninas reúne top cropped, animal print, body de manga comprida e muitos acessórios.

Volta ao mundo às terças-feiras

Atração da Band, o ótimo O mundo segundo os brasileiros vai mudar de dia e de horário. O programa, que percorre os melhores roteiros turísticos do planeta, passa a ser exibido às terças-feiras, às 22h, logo depois da série Como eu conheci sua mãe. No programa de amanhã, o destino é a chinesa Xangai. Veja o que vai rolar: no Mercado de Grilos, insetos são vendidos como animais de estimação; a massagem a vácuo é feita com ventosa, prática tradicional da medicina chinesa; no bar temático More Than Toilet, privadas se transformam em cadeiras. Conheça também o Falem Market, famoso por vender cópias de artigos de luxo, e o Pudong, a parte mais moderna da cidade, com seus famosos arranha-céus.


VIVA
Cauã Reymond vive sua melhor fase. O ator arrasa na série policial O caçador (Globo).

VAIA
O galã Thiago Rodrigues (William) está “apagado” no fim de Além do horizonte (Globo).

Lya Luft e Vicente Pereira » Celebração da vida

Estado de Minas: 28/04/2014 



Os 28 anos do Projeto Sempre um papo serão comemorados com a presença de dois convidados especiais: os escritores Lya Luft e Vicente de Britto Pereira. Hoje à noite, no Palácio das Artes, o casal vai autografar os livros O tempo é um rio que corre e Ensaios sobre a embriaguez (ambos da Editora Record), além de bater papo com o público.

Em O tempo é um rio que corre, Lya Luft fala de memória e da passagem do tempo. A escritora volta à infância, no interior do Rio Grande do Sul, e também aborda embates e questionamentos da vida adulta. Tudo escrito com a naturalidade e a leveza que lhe são peculiares. “Esse livro é como que um irmão mais moço de O rio do meio e de Perdas & ganhos”, explica ela.

De coração aberto e com conhecimento de causa, pois superou sérios problemas com a bebida, o engenheiro e professor universitário Vicente de Britto Pereira aborda questões relativas ao vício. Casado com Lya há 11 anos, ele é autor de um livro admirável. Em 10 ensaios, faz um exame lúcido e envolvente do alcoolismo enveredando literatura e a psicanálise. Ensaios sobre a embriaguez exigiu-lhe muito estudo sobre o tema, além da humildade de revelar a própria experiência. (CHL)

SEMPRE UM PAPO

Com Lya Luft e Vicente de Britto Pereira. Hoje, às 20h. Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501. 

FESTIVAL » Jornalismo em xeque

No documentário O mercado de notícias, o cineasta gaúcho Jorge Furtado discute o futuro da imprensa e o papel de seus profissionais. O filme se inspira em peça escrita no século 17


Carolina Braga
Estado de Minas: 28/04/2014

O mercado de notícias inspirou-se na peça do inglês Ben Jonson (Fábio Rebelo/divulgação)
O mercado de notícias inspirou-se na peça do inglês Ben Jonson


Recife – “Ser original é retornar às origens”. Com base nessa premissa, o diretor Jorge Furtado, de fato, voltou no tempo para falar de algo extremamente atual: a transformação do jornalismo. Esse é o tema do filme O mercado de notícias, um dos destaques da mostra competitiva do Cine PE, realizado na capital pernambucana. Pela primeira vez, o criador do curta Ilha das Flores (1989) e da comédia O homem que copiava (2003) se arrisca no formato documentário longa-metragem.

“Fico tentando fazer uma coisa que nunca fiz. Se desafia, tem um certo frescor”, explica Furtado. O projeto surgiu em 2006, fruto do faro de repórter do cineasta gaúcho, formado em comunicação social. “Percebi que se acentuava a ideia de um jornalismo pouco investigativo e muito voltado para a escandalização da política, que virou caso de polícia. Decidi estudar aquilo”, explica. Citando um dos entrevistados do longa, o diretor lembra que é difícil entender uma revolução enquanto ela acontece – é justamente isso o que está ocorrendo nas redações contemporâneas.

Furtado se inspirou no texto O mercado de notícias, escrito pelo dramaturgo inglês Ben Jonson (1572-1637) há 389 anos. Os primeiros registros do jornalismo são de 1622 – ou seja, o contemporâneo de Shakespeare escrevera sua peça no calor daquela novidade. O documentário é o resultado da fusão do texto do século 17 com depoimentos de 13 jornalistas, entre eles Mino Carta, Jânio de Freitas e Luis Nassif.

“Na verdade, o filme é uma defesa do jornalismo. Com a internet, as pessoas acham que qualquer um pode ser jornalista, mas é o contrário disso. Precisamos ainda mais do profissional especializado”, defende Jorge Furtado.

Mais que um filme, o documentário é um projeto transmídia. O próprio Jorge Furtado cuida do conteúdo do site www.omercadodenoticias.com.br, que traz entrevistas dos profissionais focalizados, lista de artigos acadêmicos e sites recomendados. O diretor pretende publicar em livro o texto de Ben Jonson.

Abertura


Foi uma longa jornada noite adentro. A abertura da 18ª edição do Cine PE teve mais de quatro horas de projeção, com exibição de 10 curtas-metragens e a sessão hors concours de O Grande Hotel Budapeste, do diretor norte-americano Wes Anderson.

Embora a internacionalização seja o ponto principal do festival, a estreia foi um tanto quanto desprestigiada. Ninguém da equipe do longa veio ao Recife. De acordo com a distribuidora Fox Filmes, foi impossível trazer os artistas ao país. O longa é inspirado nos diários do escritor vienense Stefan Zweig (1881-1942), que decidiu se exilar no Brasil durante a 2ª Guerra Mundial e se suicidou em Petrópolis (RJ).

Rodrigo Fonseca, curador do Cine PE, afirma que O Grande Hotel Budapeste inaugura uma série de filmes que têm a memória como fio condutor. Diretor de Moonrise Kingdom e Viagem a Darjeeling, Wes Anderson é fiel à linguagem que abraçou: o tempo todo há um clima de fantasia no ar. No ponto certo, a dobradinha Ralph Fiennes/Tony Revolori garante graça à trama.
A repórter viajou a convite da organização  do Cine PE.


TESTE DE RESISTÊNCIA


 (Cine PE/divulgação)


Esta noite, o Cine PE enfrentará um desafio: saber se o público vai resistir aos 164 minutos do documentário E agora? Lembra-me (foto), do português Joaquim Pinto, que narra a experiência do cineasta ao testar um medicamento para hepatite C. Há quase 20 anos ele é portador desse vírus e do HIV. O Teatro Guararapes, local da exibição, tem nada menos de 2,5 mil cadeiras.

Probióticos para tratar doenças crônicas‏

Pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG avalia a eficácia da aplicação de bactérias, fungos e leveduras geneticamente modificados contra esclerose múltipla, colite ulcerativa e outros males inflamatórios


Valquiria Lopes
Estado de Minas: 28/04/2014


A professora Ana Maria Caetano de Faria (E), coordenadora do projeto, acompanha Natália Pinheiro Rosa, graduanda em biologia, no teste com os animais  (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
A professora Ana Maria Caetano de Faria (E), coordenadora do projeto, acompanha Natália Pinheiro Rosa, graduanda em biologia, no teste com os animais

Doenças inflamatórias crônicas, a exemplo de esclerose múltipla, colite ulcerativa, diabetes, artrite e obesidade, podem ganhar novas terapias de tratamento. Pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estuda a eficácia da aplicação de probióticos geneticamente modificados – como bactérias, fungos e leveduras – para combater sintomas dessas e de outras enfermidades degenerativas. Resultados positivos já foram alçados para casos de esclerose, doença inflamatória autoimune que destrói a bainha de mielina – estrutura que recobre as fibras nervosas – e paralisa as funções do corpo. Do mesmo modo, o estudo já comprovou eficiência no tratamento da colite ulcerativa, doença inflamatória que afeta o intestino e provoca perda de peso, cólicas abdominais e dificuldade na absorção de nutrientes.

Os testes com probióticos no Laboratório de Imunobiologia do ICB são feitos com camundongos e deve demorar alguns anos para que experimentos sejam feitos com humanos. Ainda não se sabe de que forma ele será administrado em pessoas, se na forma de um medicamento ou um simples iogurte, já que a bactéria usada nos experimentos é da espécie Lactococcus lactis, amplamente usadas em laticínios.

O processo de patenteamento já foi iniciado. Mas para qualquer produção em escala industrial é preciso ainda que laboratórios se interessem pelo estudo, desenvolvam um produto para uso humano e acompanhem a evolução dos testes. Se hoje houvesse patrocínio, os testes demorariam cerca de três anos. “O processo é longo e caro. A UFMG tem a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) que ajuda pesquisadores a fazer patentes e entrar em contato com laboratórios. Existem consórcios internacionais (conveniados no Brasil com a Finep, empresa pública ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) com orçamento para levar a pesquisa para a etapa de teste clínicos em humanos”, ressalta a professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, Ana Maria Caetano Faria, coordenadora da pesquisa.

Apesar disso, a pesquisa aparece como uma esperança para quem sofre com os sintomas das doenças inflamatórias crônicas. Hoje, elas são tratadas com imunossupressores e outras medicações que têm alto custo ou apresentam efeitos colaterais graves. “Quando tivermos uma formulação para humanos, queremos testá-la em pacientes com doenças intestinais crônicas do Hospital das Clínicas, parceiro da UFMG”, explica a pesquisadora. Ela destaca ainda a importância do estudo diante do aumento das enfermidades inflamatórias de modo geral. “Essas doenças cresceram muito nos países emergentes e o Brasil está nesse grupo. A elevação de casos de diabetes, obesidade ou doenças inflamatórias intestinais tem relação direta com as mudanças de hábitos alimentares e de vida”, destaca. A Lactococcus lactis foi escolhida por sua segurança de uso e pela produção natural de fatores anti-inflamatórios no organismo. Existem vários micro-organismos não patogênicos presentes na microbiota do intestino humano, onde há cerca de trilhões de bactérias de 500 a 1.000 espécies diferentes.

PULSO ELETROMAGNÉTICO Para alcançar o efeito desejado na terapia, a bactéria Lactococcus lactis sofre um pulso eletromagnético, recebe uma carga de material genético e começa a produzir uma proteína, chamada proteína de choque térmico, com alto poder anti-inflamatório. O processo é feito por profissionais do Laboratório de Genética Celular e Molecular do Departamento de Biologia, que são colaboradores da pesquisa. “Sozinha, a bactéria não teria o efeito desejado. Por isso ela é manipulada geneticamente, a ponto de começar a produzir essa proteína de choque térmico que atua no combate às doenças inflamatórias”, explica o biólogo, pesquisador e professor de genética do departamento, Anderson Miyoshi.

Ana Maria Faria explica a atuação da proteína no organismo. “Normalmente, ela já está presente em todo o corpo, mas em níveis mais baixos. Mas se apresenta em concentração maior nas situações de inflamação dos tecidos do corpo e, quando administrada por via oral, induz mecanismos anti-inflamatórios para pontos específicos onde ela está presente em altas concentrações”, afirma a cientista, destacando que, dessa forma, a proteína passa a gerar mecanismos para regular a inflamação.

Terapia age no foco do problema


Para entender a atuação prática do probiótico modificado geneticamente, basta analisar os testes feitos com camundongos que receberam o antígeno da esclerose múltipla. Com o passar do tempo eles perderam o movimento do rabo, das patas traseiras e posteriormente das dianteiras, até parar de andar. A paralisia ocorreu devido a uma inflamação na bainha de mielina, estrutura do sistema nervoso que permite a condução rápida de impulsos nervosos e, consequentemente, dos movimentos. Depois de submetidos a doses da bactéria que produz a proteína de choque térmico, os animais retomaram os movimentos, já que a substância atua na desinflamação da bainha. Quando a aplicação do probiótico é feita antes do surgimento da doença, os sintomas nem mesmo aparecem. Ou seja, é possível prevenir a enfermidade. Quando já são notados, eles diminuem consideravelmente”, explica a coordenadora da pesquisa, Ana Maria Caetano Faria.

A terapia com probióticos se diferencia em relação aos tratamentos com imunossupressores por agirem no foco da inflamação. Já os medicamentos melhoram a doença, mas suprimem o sistema imunológico, o que torna a pessoa mais suscetível a infecções. Outro obstáculo no uso das drogas para tratamento da esclerose múltipla é a impossibilidade de se administrar os imunomoduladores e imunossupressores em situações como gestação, lactação, depressão, insuficiência cardíaca e hepática.

“Trabalhamos há mais de 20 anos no ICB/UFMG com o intuito de criar alternativas terapêuticas para doenças inflamatórias crônicas, principalmente as autoimunes, caso da esclerose múltipla. Essa foi a primeira, mas estamos testando em outras doenças, como artrite reumatoide – que afeta as articulações – e as doenças intestinais, como a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Também já comprovamos, em experimentos com infecção por Salmonella, que o nosso probiótico não causa imunossupressão, pois ele não interfere na imunidade anti-infecciosa”, acrescenta a cientista.

Em todos os procedimentos desenvolvidos para esta pesquisa os animais são anestesiados. O artigo do estudo feito no caso da esclerose múltipla foi publicado no ano passado, enquanto o estudo da aplicação de probióticos nos casos de colite deve ir a publicação até o fim deste semestre.

Cientifiquês  - Glossário

Probióticos – micro-organismos vivos (como bactérias, fungos e leveduras) de atuação funcional benéfica no organismo, têm efeito sobre o equilíbrio bacteriano intestinal: controle do colesterol e de diarreias e redução do risco de câncer. Os probióticos podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado, como leites fermentados, iogurte, ou podem ser encontrados na forma de pó ou cápsulas.

Doenças autoimunes – doenças em que as pessoas têm uma reatividade imunológica aos componentes do próprio corpo, gerando inflamações, a exemplo do diabetes, da artrite reumatoide e da esclerose múltipla. Doenças inflamatórias crônicas – grupo de doenças inflamatórias de longa duração que causam lesão dos tecidos e órgãos, podendo ser de origem autoimune ou não, a exemplo da colite ulcerativa, da doença de Crohn, da obesidade, da aterosclerose e da esclerose múltipla.

Doenças degenerativas – doenças crônicas que levam a lesões nos tecidos e órgãos e perda de função, podendo ser inflamatórias ou não, a exemplo da doença de Alzheimer, da artrose, do glaucoma, da esclerose múltipla.

Escravidão - Eduardo Almeida Reis‏

Escravidão 
 
Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 28/04/2014

Um dos melhores divertimentos dos senhores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) tem sido descobrir pessoas “em condições de trabalho análogo à escravidão”. Análogo, preclaro amigo: semelhante, parecido, afim.

Nessa missão patriótica têm colaborado o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Defensoria Pública da União e a inacreditável Secretaria Nacional de Direitos Humanos, sem falar da Polícia Federal, coitada, que deveria cuidar de assuntos mais importantes. É tanta gente procurando analogia com o trabalho escravo que causa espécie a existência de gente sobrando para ser escravizada.

Já o nome imbecil do ministério – do Trabalho e Emprego – indica o país em que foi inventado: só no Brasil existem centenas de milhares de empregos sem trabalho, sobretudo e principalmente nos altos escalões. É o neto do senador que fatura R$ 9 mil por mês para não aparecer no trabalho; é o conselheiro da estatal petrolífera que recebe R$ 100 mil mensais para comparecer a uma reunião em que assina documentos sem ler e entender, dando prejuízos de bilhões de dólares a esta choldra, que tem hino, bandeira e Constituição.

O derradeiro feito dos brilhantes fiscais foi resgatar 11 brasileiros do transatlântico de luxo MSC Magnifica, da empresa italiana MSC Crociere. Imagine o caro, preclaro e pacientíssimo leitor que os brasileiros eram “escravos” porque trabalhavam em jornadas diárias de até 11 horas. Resgatados, estão desempregados.

Ora, bolas: jornadas diárias de 11 horas. Nas redações cariocas fartei-me de jornadear 12 horas, de terno e gravata, chegando às 7h para sair às 21h, e nunca fui escravo, gostava do trabalho, ganhava muito bem. Ainda hoje, caminhado em anos, não me desgostam jornadas iguais.

Mundo
Nos primeiros dias de abril, Belo Horizonte recebeu mais que o dobro das chuvas previstas para o mês inteiro. Em pouco mais de uma hora caíram 50mm. Pois muito bem: a média anual no Arquipélago do Bahrein, 35 ilhas e ilhotas no Golfo Pérsico, é de 80mm. Das 35, apenas três são habitadas: Bahrein, Umm Nassam e Al Muharraq. A maior tem 16 por 48 quilômetros, uma titica em termos territoriais. Desde 1986, uma ponte liga Bahrein à Arábia Saudita.

E tem mais uma coisa: os 692km2 são um só areal. Belo Horizonte soma 330km2, pouco menos que a metade da área bareinita, como uma diferença basilar: enquanto BH está plantada sobre um mar de minério de ferro, Bahrein repousa sobre um mar de petróleo.

Há dois anos, Bahrein tinha 1,318 mil moradores, IDH 0,796 (elevado) e PIB per capita de US$ 34.662, o 32º do planeta. Na dependência da fonte consultada, a área total do arquipélago chega aos 750km2, isto é, a área de BH somada aos 346km2 do município de Betim.

Monarquia constitucional, rei Hamad Bin Isa al-Khalifa, príncipe-herdeiro Salman Bin Hamad Bin Isa al-Khalifa, primeiro-ministro Khalifa Bin Salman al-Khalifa, no cargo desde 1971. Mais grave que isso: dia 6 de abril tivemos o GP de Fórmula 1 do Bahrein e o bobo que lhes fala ficou duas horas diante do televisor.

O mundo é uma bola
28 de abril de 1768: provisão régia reiterando a obrigatoriedade do plantio de mandioca nas fazendas do Brasil em função do número dos respectivos trabalhadores.

Em 1902, fundação na Inglaterra do Manchester United, que teve sir Alex Ferguson durante muitos anos como treinador e ganhou um caminhão de títulos em 1.500 partidas. Ainda outro dia, sir Alexander Chapman Ferguson, CBE, nascido na Escócia em 1941, foi convidado para lecionar em Harvard e aceitou. É o maior propagandista mundial da goma de mascar: nunca foi filmado sem estar mascando aquela porcaria.

Em 1927, o hidroavião Jahu, pilotado pelo comandante João Ribeiro de Barros, cidadão nascido em Jaú (SP), realizou travessia pioneira do Atlântico Sul.

Em 1945, também no dia 28 de abril, Adolf Hitler se casou com Eva Braun num bunker em Berlim, enquanto Benito Mussolini e sua namorada Clara Petacci foram mortos numa cidade do Norte da Itália.

Em 1947, uma expedição de seis homens partiu do Porto de Callao, no Peru, rumo à Polinésia numa balsa denominada Kon Tiki, travessia de quase 7 mil quilômetros feita em 101 dias.
Hoje é o Dia da Caatinga, da Educação e da Sogra.

Ruminanças
“Adão era o mais feliz dos homens: não tinha sogra” (Shalom Aleichim, 1859-1916).

Compramos mais do que precisamos - Vinicius Soares da Silveira

Estado de Minas: 28/04/2014 



Sentimos necessidade exagerada de rótulos. De definir o que é velho e o que é novo. De enquadrar o bom e o ruim. E, muitas vezes, na nossa sociedade ocidental, velho é igual a ruim e novo a bom. O cinema não existe mais. O livro e o jornal de papel acabaram. Telefone fixo já era. Pelo menos é isso que se ouviu por aí, em uma busca frenética por matar o velho para vender o novo.

Disseram que o DVD e os filmes pela internet iriam acabar com o cinema. Que livros digitais e sites de notícias iriam aposentar seus equivalentes impressos e que a telefonia celular acabaria com o telefone fixo. Mas todas essas tecnologias continuam entre nós. O cinema se reinventou. A telefonia fixa agregou serviços de internet e TV. Os livros e os jornais de papel continuam por aí. É certo que a tendência à diminuição de escala é evidente, mas essas tecnologias continuam tendo suas aplicações. De fato, chegará a hora em que elas não serão mais reconhecidas, tamanha a transformação que sofrerão, mas esse tipo de transição não costuma ocorrer de forma abrupta no tempo.

O ponto a ser questionado aqui é essa estranha necessidade de matar um conceito para criar outro, em vez de uma abordagem de transição e complementariedade, baseada em necessidades reais da sociedade, não em necessidades de geração de lucro na indústria.

Você se lembra do tocador de MP3, que, quando passou a tocar vídeos MP4, passou a se chamar MP4? Depois disso vieram MP5, MP6, MP 1 milhão, cujos nomes não fazem o menor sentido técnico, mas pelo fato de ser um número maior, sugerem a obsolescência do modelo anterior. Quantas daquelas oito funções que um MP11 teria a mais em relação ao MP3 de fato seriam utilizadas? Aliás, quais eram elas mesmo?

O ritmo de consumo que estamos estabelecendo está exaurindo nosso planeta. Pensemos em quanta matéria-prima é necessária para produzir tantos objetos sem utilidade. As quatro cabeças extras do videocassete, que nunca foram utilizadas. O fone de ouvido que veio com seu celular velho e que você só se lembrou dele no dia em que foi jogar a caixa fora. Quanto metal, quanta água e quanto petróleo não foram direto para o lixo?

A máxima de Lavoisier “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” é clara no sentido de que nada termina e nada começa. Mas isso não vende. Isso não induz as pessoas a jogar o velho fora e gastar dinheiro com um produto novo. E produtos de durabilidade prolongada não permitem novas vendas. Consumidores esclarecidos sobre o que estão comprando não despenderão dinheiro a mais por um recurso inútil ou pela substituição de algo que já lhes atende.

A contramão dessa conversa toda está na ruptura do paradigma da posse. Essa ruptura se dá por meio de duas palavras-chave: compartilhamento e serviços.

Ao substituir a posse pelo uso, os recursos podem ser compartilhados e, assim, utilizados de forma mais dinâmica. Uma bicicleta alugada atende muito mais pessoas com a mesma matéria prima do que se cada indivíduo optasse por comprar sua própria bicicleta. O mesmo princípio vale para a computação em nuvem (cloud computing), onde o uso de servidores compartilhados reduz a quantidade de servidores alocados dentro das empresas individualmente. Transporte coletivo eficiente é muito melhor do que um carro de 1,5 tonelada para transportar um único ser humano de 80 quilos.

Essa conversa poderia ir ainda mais longe se observássemos essa questão sob o viés antagônico do “ter” ou “ser”, onde o ter remete à posse de produtos e o “ser” remete ao usufruto de serviços. Mas, para não filosofar demais, fiquemos com um único ponto de reflexão: será que tudo que a indústria tenta nos convencer a jogar fora e comprar de novo realmente é necessário?. Nosso planeta (e o nosso bolso) certamente vão ficar felizes se começarmos a dizer mais vezes “não”.