domingo, 27 de abril de 2014

MARTHA MEDEIROS - Eu nos outros

Zero Hora - 27/04/2014

Estava caminhando pela rua quando passei por uma mulher muito charmosa, e seu charme era consequência de diversas escolhas acertadas, a começar pelo cabelo. Um corte chanel repicado, rebelde, volumoso, e uma franja comprida e displicente que dava ao look um ar de acordei assim e saí pra rua, e deve ter acontecido mesmo, ela acordou e saiu pra rua sem nem se olhar no espelho antes, tinha um cabelo que não dava trabalho e a deixava com uma aparência moderna e jovial, mesmo com seus 40 e tantos. Pensei: adoro cabelo curto. Nas outras.

Como ela usava uma camiseta regata, vi que tinha uma grande tatuagem no braço. Era um desenho estilizado, parecia uma padronagem de tecido, não era uma frase, um bicho ou qualquer coisa distinguível – apenas um desenho abstrato que para ela, e só para ela, fazia todo o sentido e a personalizava num grau único. É provável que ela tivesse também tatoos mais delicadas atrás da nuca, no pulso ou no tornozelo, mas a do braço, imensa, era um ato de bravura. Era uma mulher tão colocada, tão escandalosamente ela mesma, que também me senti tudo isso pelo simples fato de apreciar nela o que não tenho a audácia de fazer em mim. Adoro tatuagens. Nos outros.

E ela carregava nas mãos uma jaqueta de couro vermelha. Eu nem precisava ver como ela ficaria vestida com a jaqueta, simplesmente todas as blogueiras de street style a perseguiriam com suas lentes se a vissem caminhando com aquela displicência de quem nasceu para desfilar com uma jaqueta de couro vermelha no meio da tarde de uma segunda-feira a caminho de um encontro com algum amante libanês (não parecia uma mulher que estava indo à missa). E lá se foi ela portando nas mãos aquela peça vermelha que eu achei incrível, eu que não tenho uma única peça vermelha no guarda-roupa, e indo ao encontro de um fantasioso amante libanês que tampouco faz parte do meu currículo.

O que me impede de tosar o cabelo, fazer uma tatuagem no braço e comprar uma jaqueta vermelha? Nada. Simplesmente acontece de a gente gostar muito de certas coisas, mesmo não tendo impulso suficiente para adotá-las como nossas. É um exercício elevado de apreciação: saúdo quem acorda às 5h da manhã para correr e também quem atravessa a noite dançando – não faço uma coisa nem outra.

Admiro quem tira um ano sabático para meditar num ashram e também quem vai a Nova York de três em três meses. Quem decide não ter filhos e quem tem e ainda adota alguns. Quem coleciona amantes e quem mantém um único e eterno casamento. Quisera eu poder contar com sete vidas para abraçar todos os jeitos de ser e de estar no mundo, mas tendo uma vidinha só, faço as escolhas que melhor me identificam, sem deixar de aplaudir as minhas renúncias. A todas as outras mulheres que não sou – ou que não sou ainda – meu sorriso e uma piscadinha cúmplice.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Um evento interessante‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Um evento interessante
Regina Teixeira da Costa

reginacosta@uai.com.br
Estado de Minas: 27/04/2014



Freud menciona em sua correspondência, em carta de 1992 a Breuer, seu professor e amigo desde os primórdios da invenção da psicanálise, que se atormentava com o problema de como seria possível representar de maneira plana, bidimensional, algo tão corporal como a sua teoria da histeria.

Freud, nas palavras de Marco Antônio Coutinho Jorge, sabia que existiam dois mundos paralelos reais e desconhecidos, um externo e outro interno ou psíquico, e que, entre eles, apenas o real interior seria cognoscível. Na experiência analítica, no entanto, esses dois mundos se entrelaçam, são contínuos.

No fim de sua vida, Freud pensava diferente sobre o interno e o externo e admitia que o aparelho psíquico tivesse uma extensão no espaço. Seria o psiquismo um interno envolvido por uma superfície, a pele, voltada para o mundo externo.
Essas ideias de Freud foram sucedidas pelas de Jacques Lacan, que encontrou na topologia uma forma de colocar em jogo as relações entre os espaços, entendendo-os como únicos, sem divisões e impossíveis de serem representados linearmente, já que tratam de um sujeito do inconsciente, habitado pela linguagem.

De acordo com a psicanalista Maria Augusta Friche, Lacan, sobretudo a partir de 1962, trabalha com a lógica e a topologia. Esta última o leva a fazer importantes formalizações sobre o sujeito e sua estrutura. Se a princípio pode parecer estranho esse enlace da matemática com a psicanálise, à medida que se lê Lacan, e Freud com Lacan, conclui-se que esses estudos são imprescindíveis para a práxis da psicanálise. Nada como um matemático, escritor e poeta, leitor de Lacan,  para nos relançar nesse enlace.

Para entender um pouco mais sobre esse jogo de relações do espaço psíquico, receberemos o matemático argentino Pablo Amster, doutor em matemáticas pela Universidade de Buenos Aires, na qual é atualmente professor associado e diretor do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais.

Pablo é autor de Apuntes matemáticos para leer a Lacan – 1 Topolgía, 2 Lógica, dois volumes que nos têm trazido muitas informações importantes.

Nos últimos anos, publicou os livros La matemática como una de las bellas artes (Siglo XXI, 2004), Mucho, poquito, nada. Un pequeño paseo matemático (Ed. Norma, 2007), Fragmentos de un discurso matemático (Fondo de Cultura Económica, 2007) e ¡Matemática, maestro! Un concierto para números y orquesta (Siglo XXI, 2010).

Músico e apaixonado pela literatura, é um grande leitor de Lacan e trabalha constantemente com psicanalistas argentinos e de outros países.

O evento organizado pela Aleph – Escola de Psicanálise traz Pablo pela segunda vez para ministrar o curso “O zero, o buraco, o nada, o vazio. A ex-sistência no nó borromeano”. Na ocasião, também será laçada a revista Transfinitos 12, publicação da Aleph.

Aos interessados, o evento será dias 9 e 10 de maio. Informações: (31) 3281 9605.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 27/04/2014



 (MTV/Divulgação )


Amor e ódio Estreia hoje, às 19h30, na MTV, a série De férias com o ex, em que oito solteiros vão a uma praia paradisíaca no Mediterrâneo e passam a viver em uma luxuosa mansão na esperança de encontrar um amor de verão. No entanto, seus ex-namorados e ex-namoradas reaparecem e trazem o passado à tona. Uma das participantes é Farah Sattaur (foto), coelhinha da Playboy e que já foi Miss Filipinas.

É tudo real No segmento dos documentários, um de paz e outro nem tanto. Às 21h, na Cultura, a atração é Nelson Mandela – Uma vida pela liberdade, que narra a trajetória do grande líder da África do Sul. No NatGeo, a partir das 21h15, serão exibidos cinco programas reunidos sob o tema “Trabalhos mais difíceis que o seu”: Helicópteros de guerra – Operação Talibã, Serviço secreto – Dólares falsos, Serviço secreto – A segurança da ONU, Tabu – Trabalho sujo e Férias na prisão – Refém no Iraque.


Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br

A guerra da banda larga continua. De um lado a Netflix, do outro a HBO. A Netflix agora ataca o universo latino-americano. Depois de anunciar a produção de Narcos, dirigida por José Padilha e estrelada por Wagner Moura, contando a história de Pablo Escobar – com filmagens, obviamente, na Colômbia –, o site de streaming confirmou sua primeira produção original em espanhol. Será a comédia Nosotros los nobles, do mexicano Gaz Alazraki, sobre a rixa dos herdeiros de um clube de futebol após a morte de seu fundador. Já a HBO, que era reticente quanto a disponibilizar seu conteúdo on-line para além do serviço voltado para assinantes, HBO Go, fechou acordo com a Amazon. Os assinantes do site de streaming Prime Instant Video, ainda não disponível no Brasil, poderão acessar episódios das antigas séries do canal.

Renovação – E mais duas produções da HBO foram renovadas: as comédias Veep e Silicon Valley, que estão no ar com novos episódios, tiveram confirmados a quarta e a segunda temporadas, respectivamente. A primeira mostra os bastidores da política em Washington na figura de uma vice-presidente abilolada e sem nenhum poder (a ótima Julia Louis-Dreyfus). A segunda, as tentativas de um grupo de jovens de emplacar um projeto no Vale do Silício.

Substituição – Quando James Gandolfini morreu, em junho passado, havia gravado somente participação no piloto de Criminal justice. Pois John Turturro foi escolhido para substitui-lo no papel do protagonista, Jack Stone. Adaptação de uma produção britânica, a versão norte-americana terá sete episódios. Stone é um advogado de porta de cadeia que defenderá um jovem americano de origem paquistanesa de uma acusação de homicídio.

Mundo cão – No +Globosat, amanhã, às 21h, entra no ar a primeira temporada de Cidade em alerta. O título em português mais parece de programa “mundo cão”, e a intenção é justamente essa, pois relata casos de policiais belgas empenhados em solucionar crimes na região de Antuérpia. Serão duas temporadas. 


Caras & Bocas
Simone Castro
simone.castro@uai.com.br




Patricinha da vez
 (João Cota/TV Globo)

Alguma semelhança com Lindsay Lohan não será mera coincidência. Megan, nova personagem de Isabelle Drummond na novela Geração Brasil, que vai substituir Além do horizonte (Globo) a partir do dia 5, é inspirada na atriz norte-americana que costuma ser sinônimo de problemas. Na trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, os mesmos de Cheias de charme, a garota é filha da atriz Pamela Parker (Cláudia Abreu), criada com todo o amor pelo padrasto, o empresário brasileiro Jonas Marra (Murilo Benício). Mimada ao extremo, Megan gosta de curtir a vida, só que da forma mais errada. Viciada em redes sociais, ela bebe muito e se mete em confusão na mesma proporção. Inclusive, é detida dirigindo em alta velocidade. Na vida real, Lindsay Lohan já foi presa, acusada de roubo e não foi uma nem duas vezes que foi parar em clínicas de reabilitação. “Ela é revoltadinha”, definiu a atriz. No visual, Megan também carrega as madeixas loiras, como Lindsay. Uma mudança e tanto para Isabelle, cujo último personagem foi a Giane em Sangue bom (Globo), que tinha os cabelos bem curtinhos.

CONFIRA OS ATRATIVOS DA CIDADE DE TIMÓTEO

O Viação Cipó, hoje, às 9h, na Alterosa, vai comemorar os 50 anos de Timóteo, no Vale do Aço. O telespectador confere como esta história começou e os principais pontos turísticos da cidade, como o Pico do Ana Moura, o Mirante do Cruzeiro, o projeto ambiental Oikos e o Parque Estadual do Rio Doce.

MENINO DE OURO TEM  CONFRONTOS DECISIVOS
Hoje, às 10h, no SBT/Alterosa, vai ao ar o sétimo e decisivo episódio de Menino de ouro. Começa uma nova fase com
a convocação dos 11 titulares para a formação da seleção do programa. A partir deste episódio, os meninos vão disputar amistosos com os times do Palmeiras, Portuguesa, Corinthians, Juventus, Ponte Preta e Santos. E para convencer o júri – formado por Karina Bacchi, Marcão, Zetti e Edmílson –, os meninos terão que caprichar. Será a primeira chance de eles de mostrarem o trabalho em campo para um técnico de fora do CT e de um grande time. Mas a prova da repescagem não será nada fácil: os indicados à “zona da degola” terão que reproduzir jogadas históricas, como a de Diego Maradona na Copa de 1986 e outra do Rei Pelé, em 1970.

CARNEIRO JÁ TRABALHA  EM SUA PRÓXIMA NOVELA

O autor João Emanuel Carneiro só volta com nova trama em 2015. Mas, obviamente, já trabalha na sinopse. A diretora do folhetim será Amora Mautner, que também dirigiu o megassucesso de Carneiro Avenida Brasil. No elenco, foram anunciadas algumas estrelas, como Cauã Reymond e José de Abreu, que também estiveram em Avenida Brasil, além de Giovanna Antonelli, atualmente no papel de Clara  na novela Em família, e que viveu a vilã Bárbara em Da cor do pecado, outra trama de João Emanuel Carneiro.

CANTOR THIAGUINHO  SE ARRISCA COMO ATOR
Estreia na terça-feira, no Multishow (TV paga) Música boa ao vivo, comandada pelo cantor Thiaguinho. Cheio de projetos,
há quem diga que ele quer mais, talvez uma carreira de ator. Tudo porque foi convidado para fazer uma participação especial em Geração Brasil.

VEM AÍ MAIS UMA EDIÇÃO DE COZINHEIROs EM AÇÃO

Já estão a todo vapor as gravações da segunda temporada de Cozinheiros em ação, reality show que volta no segundo semestre à grade do GNT (TV paga). São 18 candidatos na cozinha sob o comando do apresentador Olivier Anquier. Entre eles, um aposentado de 67 anos que se livrou do alcoolismo pelo prazer de cozinhar.

CLÁUDIA LEITTE FALA EM CARREIRA INTERNACIONAL

 (Carol Soares/SBT)

A cantora Cláudia Leitte é a convidada de Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi hoje, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Entre outros assuntos, ela falou sobre vida pessoal, participação na Copa do Mundo e carreira internacional. “Se houver oportunidades para trabalhar fora, estou pronta”, garante. Cláudia se define como uma serva do público: “Se o povo não estiver dançando, mudo tudo em cima do palco”. E revelou: “Estou gravando músicas em inglês e espanhol. Outro dia, encontrei o Timbaland (produtor musical norte-americano) e ele comentou que queria trabalhar comigo”. Ela ainda comentou a parceria com o cantor Pitbull: “A gente se misturou bem. O que nos aproximou foi a nossa latinidade”. Em família, Cláudia se derramou sobre os dois filhos. “Ainda rola um ciuminho de vez em quando, mas é coisa de irmão”, referindo-se ao mais velho, Davi, em relação ao caçula, Rafael. E avisou: “Desejo ter mais filho, quero uns quatro. É bom um quadrado”. Cláudia falou também sobre Ivete Sangalo, que sempre apontam como sua rival. “Quando a gente se encontra, esperam um duelo de titãs, mas a gente se beija e se abraça e isso só fortalece a nossa música”, garante.

PERFIL/ANA LUIZA KOEHLER/QUADRINISTA E ILUSTRADORA‏

PERFIL/ANA LUIZA KOEHLER/QUADRINISTA E ILUSTRADORA » A pioneira Curadora do 9º FIQ, Ana Luiza Koehler representa o talento feminino na cena machista da HQ


Walter Sebastião
Estado de Minas: 27/04/2014


Ana Luiza Koehler afirma que o FIQ/BH representa a abertura de horizontes para os quadrinistas (Lady%u2019s Comics/divulgação)
Ana Luiza Koehler afirma que o FIQ/BH representa a abertura de horizontes para os quadrinistas


Criado há 18 anos, o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ/BH) terá, pela primeira vez, uma curadora: a gaúcha Ana Luiza Koehler. Em parceria com Daniel Werneck e Afonso Andrade (coordenador-geral do evento), ela vai definir o perfil da próxima edição, marcada para novembro de 2015.

“O FIQ é excelente espaço para congregar pessoas”, observa Ana Luiza. “A presença de muitos independentes, atuando fora do mercado e construindo uma obra, estimula a criar livremente”, acrescenta ela, lembrando que Belo Horizonte está no coração do Brasil. ‘‘Essa localização facilita o deslocamento de pessoas de qualquer parte do país até a capital mineira’’.

Formada em arquitetura, Ana Luiza nunca exerceu a profissão. Nos tempos de faculdade, ela já atuava como ilustradora: tem dois álbuns publicados na Europa, mas nada no Brasil. “Às vezes é mais fácil entrar no mercado estrangeiro”, ironiza. Ana está preparando a série Beco do Rosário para o circuito nacional.

A gaúcha participou do festival mineiro em 2011 e 2013. Adorou. “Foi a abertura de horizontes. Há um público ávido por coisas diferentes, por bom material. De repente, me vi comprando álbuns dos independentes para dar aos amigos”, relembra ela, contando que, na hora de presentear, as publicações de estrelas internacionais vêm primeiro à cabeça.

Ana Luiza revela que tem pensado “o básico” para o 9º FIQ: diversificar expressões e ampliar a presença de autoras no evento. De um lado, defende atenção para artistas que atuam fora do contexto europeu e norte-americano; de outro, ela deseja romper com a visão das mulheres “como minoria”, sinalizando a crescente presença feminina no universo dos quadrinhos.

Um e outro aspecto permitem conhecer outras e novas experiências de fazer HQ, além de revelar novas visões de mundo, observa a curadora. Com isso, enriquece-se o repertório de práticas, usos, funções e estéticas.

De acordo com Ana Luiza, o atual momento tem reafirmado a diversidade de práticas, embora crises econômicas mundiais venham desestimulando a produção cultural e reduzindo a remuneração de artistas. “Há a necessidade de procurar alternativas. A criatividade tem de estar a toda”, adverte a curadora do 9º FIQ. “Precisamos fazer as coisas acontecerem de modo independente, isso pode ser maravilhoso”, reforça.

Um limite a ser rompido: “A visão de que história em quadrinhos é nicho, super-herói e produção infantil. Esse imaginário mundial só desvaloriza a nossa arte”, avisa ela.

Beco do Rosário, novo projeto de Ana Luiza Koehler        Reprodução Facebook (Reprodução/Facebook)
Beco do Rosário, novo projeto de Ana Luiza Koehler Reprodução Facebook


Família


A porto-alegrense Ana Luiza Koehler tem 37 anos. “Comecei a desenhar quando consegui segurar o lápis. Todos diziam que era lindo, acreditei e continuei”, brinca. Desde cedo, a leitora de quadrinhos sonhava em criar as próprias histórias. Filha de bibliotecária e de médico, ela teve o apoio dos pais quando decidiu se dedicar à HQ. “Isso foi importante, pois tive tranquilidade para a incerta empreitada de fazer quadrinhos no Brasil”, conta. Aos 21 anos, fez curso de quadrinhos – útil até hoje para ela.

Ana Luiza criou algumas histórias curtas com personagens da Roma Antiga, “publicadas em fanzine e devidamente engavetadas”. Depois, mandou seu portifólio para a editora francesa Gargot. No site da empresa, acessou o espaço para usuários e de procura de desenhistas. A resposta foi um convite para publicar a série Awrah, conto oriental no estilo das Mil e uma noites passado na Arábia medieval. Dois álbuns já foram lançados.

Agora, está na prancheta da desenhista gaúcha o projeto Beco do Rosário, história da modernização de Porto Alegre ambientada nos anos 1920. “Aqui no Brasil, o problema é apostar apenas no que vende muito, embora isso esteja mudando. O sistema de financiamento coletivo vem criando outras possibilidades para os independentes, obrigando o mercado a repensar o que é comercial”, conclui.



Ana por Ana

. HQ
“Para ter uma boa história, não é necessário um Godzilla que vai arrasar Tóquio. Você pode contar a história do seu bairro, do seu vizinho, de pessoas ou de coisas que conhece e o resultado ser maravilhoso. A graça está no que cada autor pode trazer de novo, apresentado de forma autêntica e com expressividade, inclusive gráfica. HQ é arte que permite grande liberdade de expressão.”

. Diversidade
“A força de uma HQ está na história, no traço bem reconhecível, na despreocupação em imitar produtos bem-sucedidos do mercado editorial comercial. Há muita variedade – da Marvel a trabalhos autorais. Não existe apenas o contexto europeu e norte-americano, temos autores e autoras no Oriente Médio, no Norte da África, às vezes trabalhando sem suporte profissional, mas com novas visões e vivências e revelando outros modos de fazer quadrinhos. É importante a troca de culturas.”

. Autoras
“O tradicional mercado ‘jovem adulto’ é focado no diálogo com o homem. No momento, não encontramos abertura ali, até porque as propostas de edição são submetidas a avaliações comerciais, que limitam os enfoques diferentes. Nos debates de que tenho participado, percebo que as mulheres preferem o mercado independente e a internet. A produção delas deve ser procurada nesses contextos. Sempre descubro novas autoras, nem tanto no Brasil, mas nos EUA e na Europa. Seguindo uma, você chega a várias outras.”

. Uma quadrinista
“Isabelle Dethan é artista completa: desenha, escreve e pinta. Ela cria histórias fortes sem recorrer à sexualização da mulher, algo presente habitualmente nos quadrinhos.”

Moças na rede

O blog mineiro Lady’s Comics (www.ladyscomics.com.br) divulga o trabalho das autoras de HQ, disponibilizando entrevistas, notícias e links. “Fiquei satisfeita com o convite a Ana Luiza. Ela tem credibilidade, entende do mercado nacional e internacional. Ana Luiza é um nome feminino, o que faz falta na área”, afirma a jornalista Samara Horta, integrante do blog, criado por leitoras que sentiam dificuldade de conhecer trabalhos de autoras.


Palavra de especialista

Afonso Andrade
Coordenador-geral do FIQ

Experiência e talento

 (Reprodução Facebook)


Ana Luiza Koehler tem bagagem que pode nos ajudar muito. É quadrinista experiente, com produção autoral e obras editadas no mercado europeu, o franco-belga pesquisa muito. A escolha dela para a comissão curadora do 9º FIQ reflete o atual momento, o crescimento da produção de histórias em quadrinhos, seja em relação aos leitores ou a novos autores e autoras. As mulheres têm ganhado prêmios. Cris Peter, do Rio Grande do Sul, foi indicada na categoria colorista ao Prêmio Eisner, o maior dos Estados Unidos. A mineira Lu Cafaggi tem feito trabalhos para Mauricio de Sousa. Elas sempre criaram quadrinhos, mas ficavam em segundo plano neste mundo machista.

Tereza Cruvinel - Sob dois fogos‏

Tereza Cruvinel 
 
Em 2006 e 2010, o PT enfrentou escândalos políticos, mas o desgaste foi compensado pelos resultados econômicos. Agora, enfrentará adversidades nas duas frentes 
 
Estado de Minas: 27/04/2014




A CPI da Petrobras e as conexões entre a estatal e o esquema chefiado pela dupla Youssef-Paulo Roberto Costa prometem um braseiro de denúncias que não vai restabelecer a moralidade, mas dará munição pesada às oposições na campanha. Nas eleições de 2006 e 2010, apesar dos escândalos de corrupção explorados exaustivamente, o PT conseguiu reeleger Lula e eleger Dilma. O desgaste na agenda ética foi daquela feita compensado pelos bons resultados econômicos e suas repercussões sociais, noves fora o carisma de Lula. O crescimento do PIB foi de 3,8% em 2006 e chegou a 7,5% em 2010. Dilma, pelo contrário, disputará a reeleição enfrentando adversidades nas duas frentes. A estridência dos escândalos políticos tem ao fundo a batida grave e soturna das notícias sobre a piora nos indicadores econômicos, especialmente os da inflação e do emprego, que afetam diretamente o eleitorado petista.

Favorecida pela decisão do Supremo, determinando que a CPI da Petrobras investigue apenas denúncias sobre a estatal, a oposição apressa sua instalação. Os governistas tentarão responder com investigações sobre o cartel que teria atuado nos governos tucanos de São Paulo, na venda de trens e metrôs superfaturados. Uns e outros sabem que esses palanques parlamentares terão vida curta.
Por isso, os governistas tentarão todas as manobras protelatórias, inclusive o recurso ao colegiado do Supremo, que será apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, não por nutrir ilusões quanto à posição da Corte, mas para ganhar tempo. Quando junho começar, todos estarão focados em convenções, montagem de chapas e registro de candidaturas. Depois vem a Copa, e a campanha para valer começará em agosto, com o horário eleitoral. Mas a oposição já terá abastecido o arsenal com que tentará abater Dilma e o PT na eleição de outubro. Na disputa presidencial, o segundo turno vai se tornando líquido e certo. Candidaturas estaduais importantes, como a do ex-ministro Alexandre Padilha em São Paulo, começam a ser alvejadas.

A luta política no campo da moralidade, herança da UDN, não é inócua. No caso presente, não é uma criação da oposição. Não tirou o PT do poder, mas já destruiu sua aura. Acontece porque uma fração do partido não aprendeu nada com o mensalão, permitindo que o fisiologismo nutrisse uma figura como Paulo Roberto Costa. Suas conexões envolvem muito mais outros partidos da base aliada que o próprio PT, embora até agora só tenham sido divulgadas as relações com o ex-petista André Vargas. Com a abertura do inquérito, terá fim o vazamento seletivo e será possível conhecer a extensão da teia.
Nos pleitos anteriores, os programas sociais, o pleno emprego, o crescimento da renda e a ascensão social fidelizaram a Lula e ao PT os eleitores mais pobres, que são a maioria. Na hora da urna, o escândalo terá produzido seus efeitos, mas quem vai decidir mesmo é o sentimento desse eleitorado maior. Logo, será a economia da vida real e cotidiana. O peso de variáveis como custo de vida, emprego, tarifas e serviços públicos será muito maior que o das grandes obras de infraestrutura tocadas pelo governo Dilma. A oposição vai explorar também esse filão, mas terá de dizer o que faria de diferente na economia e na administração do país. Mas isso, só lá adiante. Agora, rufam os tambores de guerra.

A morte do torturador
Precisa ser mesmo federalizada a investigação sobre o assassinato do coronel Paulo Malhães, como pede a Comissão Nacional da Verdade. Ele foi morto exatamente um mês depois do depoimento em que confessou a participação em torturas e mortes de militantes da resistência à ditadura. Deixou claro que sabe muito mais do que falou. Suas declarações, pela frieza e cinismo (“matei quantos foi preciso”) revoltaram parentes de mortos e desaparecidos, mas seu assassinato sugere uma queima de arquivo, e não um “justiçamento” por vingadores das vítimas do passado. Se a esquerda remanescente tivesse que acertar contas com seus algozes desse modo, o primeiro a morrer seria o cabo Anselmo, que entregou dezenas de “companheiros”, inclusive a própria mulher, Soledad, grávida de quatro meses, para serem trucidados. Ele vive em paz por aí. A morte do coronel torturador diz que o Brasil demorou demais para instalar sua comissão da verdade, mas que ainda é tempo. Se não existissem muitos criminosos do regime vivos, não o teriam calado.
Nova o quê?

É palpável a irritação das pessoas com a política e os políticos. Intangível ainda é o efeito que isso terá nas urnas. A oposição, e com mais ênfase a dupla Eduardo Campos-Marina Silva, prega uma nova forma de fazer política, livre dos vícios seculares que o PT acabou assimilando. Mas, fazendo as contas, qualquer tolo conclui que isso é impossível com o sistema de 34 partidos que temos. O PSDB elegeu Fernando Henrique duas vezes sem alcançar mais que 18% das cadeiras da Câmara. O PT ganhou três eleições presidenciais e não passou dos 17%. Juntos, o PSB e seus aliados PPS e PPL não elegerão mais que 60 deputados. Em caso de vitória, mesmo com apoio do PSDB, o bloco mal passaria dos 100 deputados. Ou seja, para governar precisaria do PMDB, do PP e de outras siglas que apoiam hoje o PT. As ruas começam a entender isso. Um sinal foi a manifestação de segunda-feira passada em São Paulo pela consulta popular para a reforma política.

Coluna tratada como prioridade

Projeto pretende transformar BH em centro de referência para cuidar de doenças crônicas vertebrais. Para se ter ideia, 85% da população mundial teve ou terá algum episódio de dor lombar ou cervical


Paula Takahashi
Estado de Minas: 27/04/2014


Minas Gerais pode se tornar referência nacional no tratamento de dores na coluna. Projeto da Associação Brasileira de Reabilitação de Coluna (ABRColuna), em parceria com o Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral de Belo Horizonte (ITC Vertebral), pretende iniciar os trabalhos com ações preventivas em unidades de saúde e dentro das nove administrações regionais da capital, evoluindo, em alguns anos, para a abertura de um centro formado por equipes multidisciplinares dedicadas ao tratamento de doenças crônicas.

“Nossa intenção é reproduzir alguns modelos presentes em outros países, onde foram implementados centros com foco em prevenção e atenção primária, mas que também oferecem tratamento para a população em geral”, antecipam os fisioterapeutas e idealizadores do projeto Rodrigo Moura e Felipe Moraes, sócios-proprietários da clínica FortaleSer e representantes do ITC Vertebral em BH.

Na primeira etapa, os esforços serão direcionados na execução de programas preventivos dentro das unidades de saúde com a parceria de uma instituição de ensino. “O objetivo é reduzir o número de consultas desnecessárias, cirurgias e outras intervenções e, consequentemente, onerar menos o sistema público de saúde”, explica Rodrigo. Para Felipe, as pessoas desconhecem as causas das dores e, por isso, a necessidade de atuar preventivamente com ações de conscientização. Na fase seguinte, a ideia é montar um centro de tratamento com equipes multidisciplinares. “O local onde ele funcionaria já está sendo estudado”, antecipa Rodrigo.

Para que o projeto comece a caminhar e se perpetue, a dupla de idealizadores afirma que as parcerias tanto com o poder público quanto com o privado estão em fase de prospecção e consolidação. Eles reconhecem que já têm o apoio político e que as conversas estão adiantadas. A intenção é que o atendimento seja público e os profissionais que atuarão no local sejam direcionados pela instituição de ensino parceira, também em fase de escolha. Questões como viabilidade econômica, impactos sociais e relevância já foram apresentadas e a expectativa é que o projeto, pioneiro na capital mineira, seja reproduzido para os demais ITCs do Brasil.

Todo esse esforço para prevenir e tratar as dores de coluna tem motivo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 85% da população mundial tem, teve ou terá algum episódio de dor lombar ou cervical em algum momento da vida. Para se ter uma ideia da amplitude do problema, dados mais recentes do Ministério da Previdência Social revelam que as dores na coluna foram a principal causa de afastamento do trabalho em 2012, motivando quase 160 mil licenças. É também a terceira causa de aposentadoria precoce e segundo motivo de visita aos médicos, perdendo apenas para problemas cardíacos.

ESTILO DE VIDA O surgimento das dores pode ter inúmeras explicações. “Não há uma causa específica, mas as principais seriam as alterações posturais, sedentarismo e há também forte influência genética. Outros fatores estariam relacionados a sobrepeso, distúrbios emocionais, tabagismo, alcoolismo, entre outros”, enumera Felipe Moraes. Segundo Helder Montenegro, presidente da ABRColuna, a questão genética continua tendo o maior peso. “É responsável por 53% dos casos e ainda predomina como a principal causa. Mas a questão postural motivada pelo atual estilo de vida da população sem dúvida vem ganhando importância”, reconhece.

É fundamental diferenciar dores localizadas e esporádicas com complicações passíveis de cuidado médico, como uma hérnia de disco, lombalgia ou escoliose. “Muitos experimentam um desconforto que acaba passando despercebido. Para ter certeza de que se trata apenas de algo pontual, o ideal é interromper a atividade que pode ter motivado aquela dor, alongar, colocar um pouco de calor no local e ficar em repouso”, orienta Djalma Pereira Mota, ortopedista do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Se mesmo em repouso as dores permanecerem e se tornarem contínuas, deve-se acender o sinal de alerta, já que pode ser indicação de um processo inflamatório.

Cromossomo Y desempenha funções essenciais para o funcionamento dos órgãos

Muito além do sexo 
 
Ao desvendar a evolução do cromossomo Y, cientistas descobrem que, mais do que determinar as características masculinas, ele desempenha funções essenciais ao bom funcionamento de órgãos como o coração, os rins e o fígado 
 
Roberta Machado
Estado de Minas: 27/04/2014




Brasília – A receita é simples: junte dois cromossomos X, e você terá uma fêmea. Troque um deles por um cromossomo Y, e o embrião desenvolve características do sexo oposto. Assim tem sido há 300 milhões de anos, desde que o DNA dos mamíferos deu origem aos genes determinantes masculinos. A natureza feminina tem sido constante desde então, mantendo 98% do código ancestral. O ingrediente masculino, por outro lado, passou por um violento processo de depreciação, e apenas 3% dos 184 genes originais que formavam o Y resistiram até os dias de hoje. Para entender melhor essa seleção, cientistas traduziram o cromossomo. Além de descobrir interessantes pistas sobre seu passado, eles identificaram outras importantes funções que ele cumpre no organismo. O resultado foi publicado quinta-feira, em dois artigos na revista Nature.

O cromossomo Y era praticamente um mistério até agora porque os milhões de anos de mudanças deixaram a sequência genética bastante fora de ordem. “Y é encontrado apenas em machos, enquanto o X está nos dois sexos. O Y está sempre sozinho, ele não tem um parceiro como os autossomos (cromossomos não relacionados à determinação do sexo) ou X nas fêmeas. Isso significa que, se há uma mutação que danifique um gene, ele não pode conferir com uma outra cópia ou parceiro para reparar o dano”, esclarece Daniel Bellot, pesquisador do Instituto Médico e Departamento de Biologia Howard Hughes, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

As várias repetições e informações aparentemente sem utilidade faziam com que localizar as funções do cromossomo masculino fosse como encontrar uma agulha no palheiro. Como todos os genes do Y são herdados em grupo, não é possível separar as mutações benéficas de um gene das mutações ruins em outro. Os pesquisadores recorreram, então, a um atalho para vasculhar a sequência de genes. Em vez de olhar para o DNA, eles procuraram pistas diretamente no RNA, a cadeia de nucleotídeos que resulta do processo de transcrição do código original. É como se eles ignorassem uma mensagem criptografada por ter acesso direto à mensagem traduzida e resumida.

Esse processo foi feito em 15 mamíferos em um dos trabalhos científicos, enquanto a outra pesquisa estudou o código genético de oito animais que serviram como representantes da evolução do Y. “Comparar o humano com o chimpanzé nos permite ver os últimos 6 milhões de anos, comparar com o (macaco) rhesus, nos deixa ver 25 milhões de anos no passado”, exemplifica Daniel Bellot.

Código genético Ao ver os genes atuais e os antigos, os cientistas conseguiram observar as sequências mantidas no Y ao longo do tempo. “É como comparar a lista de passageiros do Titanic com os nomes das pessoas resgatadas dos barcos salva-vidas”, ilustra o pesquisador do MIT. Os pesquisadores olharam, inclusive, o código genético da galinha, um animal que, na verdade, tem o gênero definido pelos cromossomos Z e W. Na ave, justificam, foi possível identificar os genes mais antigos do cromossomo, mantidos desde que ele era um autossomo comum, sem diferenciação sexual.

Depois de comparar o cromossomo humano com o dos animais, os estudiosos notaram que o processo de mudança cessou há 25 milhões de anos. Isso porque a sequência encontrada nos primatas não é muito diferente da humana. Buscou-se, então, uma explicação para essa estabilidade relativamente recente. Afinal, por que o Y não continuou passando por mudanças até hoje? O foco voltou-se para a função das sequências genéticas que sobreviveram à ação do tempo.

No cromossomo masculino, os especialistas esperavam encontrar ao menos dois tipos de informações: a que determina o sexo do indivíduo durante a gestação e as instruções para a espermatogênese, isto é, a formação de testículos e gametas sexuais. Em meio aos outros genes, no entanto, os cientistas identificaram códigos essenciais para o bom funcionamento de diversos outros tecidos. Essas sequências desconhecidas são expressas em vários tipos de órgãos e células do corpo, em diferentes estágios de desenvolvimento, além de aparentemente regularem outros genes.

De acordo com a teoria dos autores, os genes que sobraram no cromossomo seriam essenciais para a formação e a sobrevivência do indivíduo e por isso resistiram à pressão que causou a deturpação do código original. Não somente o cromossomo X, mas o Y também seria necessário para a manutenção de outras importantes funções do organismo, além da determinação do sexo e da formação dos testículos e dos gametas.

Os cientistas acreditam que o cromossomo Y manteve esse material para obedecer a uma relação de dosagem de genes. “Esses genes mantidos estão intactos porque são necessárias cópias extras”, ensina Henrik Kaessmann, pesquisador da Universidade de Lausanne, na Suíça, e autor de um dos artigos.

“Nas fêmeas, as duas cópias dos cromossomos X têm o mesmo papel que as cópias X e Y têm no macho. Então, para manter a função do tecido do coração e dos rins, o homem tem uma cópia desses genes no X e uma no Y, enquanto as fêmeas têm duas cópias X”, explica Kaessmann. Entre os genes decodificados pelos cientistas, estão sequências relacionadas com o bom funcionamento do coração, dos rins e do fígado.

Ambos os grupos de pesquisa afirmam que vão continuar estudando a evolução e a função do cromossomo, o que pode explicar a origem das diferenças que existem em diversas funções do corpo masculino e feminino. 

Eduardo Almeida Reis - Mais que inzoneiro‏

Mais que inzoneiro
Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 27/04/2014




Mais que manhoso, enredador e sonso, este vosso país é inacreditável. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é uma fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, não do Butão, que é um reino, mas da República Federativa do Brasil.

Suas atividades de pesquisa “fornecem suporte técnico e institucional às ações do governo para a formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento”. Pois muito bem: a fundação federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República divulgou como vimos, no dia 27 de março, pesquisa segundo a qual 65% dos brasileiros entrevistados afirmavam que “mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas (estupradas)”.

Pesquisa que deu um auê dos diabos, deixando as senhoras jornalistas justamente indignadas, como Elisabete Pacheco e Eliane Cantanhêde no programa GloboNews em pauta. Aproveitando a embalagem, criticaram também os elogios feitos pelos homens às mulheres, que confundiram com o sexual harassment do machismo. Em favor das duas, seja dito que ressalvaram os elogios sinceros e educados.

Muitos anos atrás, numa fazenda mineira, fui apresentado a uma colega delas duas, morena que hoje também se destaca no GloboNews. Conversamos um pouquinho. Antes que a jornalista começasse a circular pelo salão rural, ouviu do philosopho: “Parabéns!”. Perguntou: “Parabéns por quê?”. E o philosopho, a cavaleiro de imenso charuto puro de Havana, explicou: “Parabéns por você”. A então jovem (e bela) morena se derreteu com o elogio educado.

Todos os jornais impressos e televisionados comentaram os números da pesquisa do Ipea, até que no dia 4 de abril, uma semana depois da divulgação, o mesmíssimo Ipea informou que houve um erro na pesquisa e que somente 26% dos brasileiros concordavam em que as mulheres com roupas curtas merecem ser estupradas, enquanto 70% discordavam total ou parcialmente da pergunta.

A nota informou: “Relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente pelo seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação na sociedade ao longo dos últimos dias. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Depois do erro, o diretor responsável pela área de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Guerreiro Osório, pediu exoneração do cargo, mas continua funcionário. Rafael é graduado em ciências sociais pela Universidade de Brasília (1999), mestre (2003) e doutor em sociologia (2009) pela mesma universidade. E a gente paga. E a gente escuta. Os 26% já são um escândalo: não há nada que justifique um estupro. Como também não há nada que justifique a incompetência do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Araminhos

Sabe aqueles araminhos revestidos de plástico que vêm fechando os pacotes de pães de fôrma? Antipatizo com eles. Nunca me fizeram grande mal nem me espetaram os dedos, mas não gosto deles. Não sossego enquanto não os jogo fora, assim que os pacotes permitem a torcedura do papel para fechá-los. Quanto custa um araminho? Presumo que seja vendido aos quilos e que o custo unitário seja próximo de zero. Pois muito bem: mineiramente, há uma padaria aqui perto que corta cada araminho em dois. Em matéria de miserabilidade comercial deve ser o recorde mundial.

Nada tenho contra os arames, tanto assim que não dispenso dois, de 19cm cada (medi agora), um na mesa do computador, outro ao lado da poltrona da sala de tevê. Servem para melhorar o desempenho dos charutos quando não queimam bem.

Volto aos araminhos divididos em dois para lhes contar que hoje ouvi no rádio a propaganda de um feirão de automóveis, que deve explicar os problemas de trânsito a que assistimos por aí. No tal feirão vendem-se carros usados por um real de entrada, isso mesmo, R$ 1, e a primeira prestação daqui a três meses, taxa de 0,59%. Dá para imaginar os perfis dos compradores e dos veículos.

O mundo é uma bola

27 de abril de 1500 – Mestre João desembarca da frota de Pedro Álvares Cabral e pisa o solo brasileiro para fazer observações astronômicas. João Faras ou João Emeneslau, conhecido como Mestre João, era médico, astrônomo, astrólogo e físico espanhol. Judeu, assim como Gaspar da Gama, que também viajava na frota cabralina, Mestre João era médico da coroa portuguesa. No dia 28 de abril de 1500 ele enviou uma carta ao rei dom Manuel I em que fazia comentários sobre as terras descobertas.

Num dos trechos da carta escrita naquela que é hoje a Baía Cabrália, onde identificou pela primeira vez a constelação do Cruzeiro do Sul, Mestre João sugere ao rei que peça um mapa em que poderia ver a localização das terras onde eles estavam, o que leva a crer que os portugueses já conheciam parte da costa brasileira.

Descoberta pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, a carta do Mestre João foi publicada pela primeira vez em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Hoje é o Dia do Sacerdote e o Dia da Empregada Doméstica.

Ruminanças
“Gosta-se da bisbilhotice, mas o bisbilhoteiro é odiado” (Shlomo Rubin, 1823-1910).

Ganhar roubado não é mais gostoso - João Dewet Moreira de Carvalho

Ganhar roubado não é mais gostoso
João Dewet Moreira de Carvalho - Engenheiro-agrônomo em Nanuque-MG
Estado de Minas: 27/04/2014


Xenofonte, ao escrever o livro Ciropédia, conta a história do rei Ciro, descrevendo o uso das práticas esportivas da época na formação dos jovens medo-persas. Talvez tal costume até já fosse norma corriqueira de outros povos mais antigos que, infelizmente, não deixaram tais práticas registradas. No tempo dos gregos, cujo milagre existencial ainda hoje inquieta e fascina os historiadores, o esporte teve lugar de relevância na cultura da sociedade como formador do caráter do cidadão grego.

O esporte sempre teve um apelo muito forte no imaginário humano, especialmente no das crianças, adolescentes e jovens, que são seres ainda em processo de construção e afirmação de valores. Tem sido, portanto, usado mundialmente na educação do ser humano como fator agregador de qualidades como fortalecimento físico, disciplina mental, perseverança na luta, respeito pelo adversário e pelas regras que regem a modalidade esportiva, fatores indispensáveis na formação do caráter de quem o pratica. O uso dos esportes pelos educadores tem contribuído, desde então, de forma ímpar na formação do indivíduo do amanhã, ao melhor capacitá-lo, transferindo para a vivência diária tais valores, que resultarão num cidadão apto à vida em sociedade.

Hoje, é indiscutível a influência que exercem sobre a juventude, ainda em formação, os ídolos dos esportes, que são elevados à condição de heróis, na maioria das vezes, nacionalmente, sendo, então, inquestionável sua influência no vestir, no falar e, principalmente, no agir.

Infelizmente, no Brasil, com a base da formação do seu povo respaldada no nefasto critério de apadrinhamento, que não leva em conta a capacidade profissional do indivíduo nem sua ética, a expressão herói chega a receber designações que às vezes beiram o absurdo, trazendo em si efeitos deletérios à sociedade. Isso é mais grave quando se sabe da influência que tais modelos de herói, que deveriam nortear a juventude do país, desempenham. Na verdade, efeito contrário, fato que pode ser recentemente constatado quando o goleiro de certo time de futebol, com torcedores espalhados por todo o Brasil, ao final de uma partida, cujo resultado vergonhosamente duvidoso lhe garantiu o título do campeonato estadual, disse ao ser entrevistado: “Ganhar roubado é mais gostoso”.

Imaginem a repercussão de desastrada declaração e sua influência na mente da juventude que se espelha em tais ídolos. Pior ainda foi o fato de tamanha desfaçatez ter sido defendida em parte por inúmeros comentaristas e analistas de esporte, tanto nos canais de televisão como em várias emissoras de rádio, como algo normal, coisas do futebol. Vale lembrar que os mesmos valores praticados dentro dos campos de futebol são refletidos por todos os cantos do país, inclusive no Congresso Nacional. É difícil acreditar que alimentar o mal e suas práticas poderá resultar em benefícios para a sociedade.

Não deveria se dar maior valor midiático aos ídolos que agregam exemplos mais dignos aos menores em vez dos que defendem o roubo, a mentira e o assassinato como algo a ser praticado? Se a luta dos pais e pedagogos com a presente geração de adultos foi relativamente perdida, não caberia a responsabilidade de pelo menos cuidar melhor da formação das próximas gerações de cidadãos brasileiros, condenando enfaticamente procedimentos que levem ao desvirtuamento dos dignos valores humanos?

Que tipo de sociedade será construída ao se partir de valores que enaltecem o roubo como algo bom e cuja prática o torna mais gostoso? Será que já não basta o lamentável charco de corrupção e descrédito que envolve todas as instituições do país? Não seria a hora de se dar um basta em tudo isso? Afinal, o brasileiro ainda tem o direito de se orgulhar do seu país.