sábado, 19 de abril de 2014

O amor é a nossa praia [Carola Saavedra] - André di Bernardi Batista Mendes

O amor é a nossa praia Carola Saavedra, uma das mais interessantes vozes da literatura brasileira contemporânea, fala sobre os percalços dos encontros e desencontros afetivos em O inventário das coisas ausentes


André di Bernardi Batista Mendes
Estado de Minas: 19/04/2014



Chilena de nascimento e vivendo no Brasil desde os 3 anos, Carola Saavedra faz parte do grupo dos 20 autores brasileiros jovens destacados pela revista Granta (Andréa Marques/Divulgação)
Chilena de nascimento e vivendo no Brasil desde os 3 anos, Carola Saavedra faz parte do grupo dos 20 autores brasileiros jovens destacados pela revista Granta

Dizer das coisas falecidas. Descrição detalhada de patrimônios. Levantamento minucioso, lista, rol, relação. Relativo à partilha dos bens: os significados da palavra inventário sugerem ritmos e vários rumos. Carola Saavedra, no livro O inventário das coisas ausentes, conta os périplos de vidas marcadas pela ausência e pelo abandono. E quando o amor acaba? Como inventariar este desastre? O que fica depois dessa máxima luz? A escritora fala sobre Nina, uma garota de 23 anos, a partir do momento em que ela e o narrador se conhecem na faculdade. Os dois têm um envolvimento amoroso, mas certo dia ela desaparece sem deixar notícias. Ela deixa, contudo, 17 preciosos diários. O livro dá voz também a esse narrador, o livro é também sobre ele, um aspirante a escritor, que faz diversas anotações no seu caderno.

Carola Saavedra monta com competência uma estrutura narrativa que prende o leitor, que seduz, que provoca e ao mesmo tempo faz pensar. A escritora inventa tramas paralelas que se entrelaçam e que, por vezes, seguem independentes. Carola investiga também o próprio fazer literário, respeita a força das memórias e escancara, sem anestesia, as feridas, as dores e as alegrias deixadas pela passagem da vida, do tempo instantâneo, do tempo sem freios, do tempo que ao mesmo tempo beija e escarnece.

O amor é algo que realmente começa; ou ele já aí está, dentro de nós, como coisa latente, pronto para dar o bote? O narrador, a partir da reconstrução ficcional dos textos deixados por Nina, conta a história de seus antepassados e assim vai descobrindo coisas, numa tentativa de recriar a mulher amada. Ele fala do outro, mas ele também fala de si mesmo. Um antigo ensinamento oriental diz que discípulo pronto, o mestre aparece. Amar é aceitar os desmandos de si mesmo. O outro é apenas fonte e estrada. Mas, como é difícil lidar com tal descoberta quando a reboque chegam misérias, quando disso tudo surgem palavras como, por exemplo, abandono. O amor pode ser asa, pode ser céu, pode ser azul de anjos lilases.

O amor pode ser fardo, cadeia e caos. Carola tem, carrega algo precioso para o bom escritor, uma inquietude, um desassossego que açula, que provoca e exaspera. Isso não impede uma certa racionalidade positiva. Ela, dentro deste processo intuitivo de criação, faz experimentos, brinca com a linguagem e produz, com alegria, literatura, que é arte. Não à toa, o narrador do livro tem desejos de se tornar escritor.

Carola não faz firulas neste seu jogo de palavras, que é a literatura. Ela vai direto ao ponto, ela arma suas jogadas com sabedoria e o refinamento dos grandes craques, ela avança, respeita o adversário, conta com sua equipe, no caso, o leitor, para, quem sabe, no final, vencer a melhor das partidas. A página em branco é um abismo. Palavras são correntes, são pontes, são gangorras, são veredas que se abrem.

O amor é, para Carola, um tema incontornável. Se em Flores azuis a escritora vale-se de cartas de amor escritas por uma mulher que repassa as últimas horas de um relacionamento amoroso para contar sua história, em O inventário das coisas ausentes o tema amor se repete, mas com outras nuances, com outras tonalidades, não menos bruscas, não menos fulminantes.

É simplesmente o melhor que temos. Porque o amor não é o lugar mais comum que existe. Pelo contrário, o amor é um alvo inapropriado, é o sítio mais remoto, mais distante em termos de posse e alcance. O amor é um lugar raro, de raríssimos segredos. Ninguém nunca estará verdadeiramente preparado para, a dura penas, conquistar e, por algo corriqueiro, perder o objeto, a pessoa amada. Ferida de morte, a alma desacredita.

Carola tem a exata noção deste anoitecer brutalíssimo. Fazer um inventário é barafustar em coisas perdidas, em coisas mortas; e as coisas morrem. Se pensarmos, o passado é algo vazio, assim como o futuro. Nem é bom falar. Só é bom o presente daqueles que amam.

Quem toca, com mãos humanas, o corpo do amor? Quase poucos. A tal máquina do bem e do mal, o amor é a cor e é o lírio. De onde estivermos, o danado não escuta. O amor é a imagem que se movimenta. No inverso, a melhor ideia é justamente nadar, nadar até, exaustos, morrermos ali. O amor é a nossa praia. Não sei qual é o ideograma do amor. Como sei tudo isso? Não está nos livros. Carola Saavedra também não sabe como. Na África, no Japão (para onde foi a jovem Nina? Como e por quê?). Ninguém sabe, ninguém nunca saberá.

Carola nasceu no Chile, em 1973, mas mudou-se com a família para o Brasil aos 3 anos. É autora dos romances Do lado de fora (2005), Toda terça (2007), Flores azuis (2008, eleito melhor romance pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, finalista dos prêmos São Paulo de Literatura e Jabuti) e Paisagem com dromedário (2010, prêmio Rachel de Queiroz na categoria jovem autor, também finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Jabuti). Participou também de várias antologias e seus livros estão sendo traduzidos para o inglês, francês, espanhol e alemão. Carola está entre os 20 melhores jovens escritores brasileiros escolhidos pela revista Granta. Atualmente, a escritora vive no Rio de Janeiro.

O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES
• Carola Saavedra
• Editora Companhia das Letras
• 126 páginas, R$ 34,50


Trechos

“Dentro da caixa vários cadernos, logo descobri que eram diários, os diários de Nina. Dezessete no total. Pelas datas, cobriam os últimos cinco anos. Porém, fora os cadernos não havia nada, nem uma carta, um cartão-postal, nem ao menos um bilhete. Liguei imediatamente para Nina, o que significa isto?, ninguém atendeu. Continuei ligando, mesmo sem resposta. Depois de alguns dias fui até a sua casa. Quase esmurrei a porta de entrada. Só depois de cinco semanas é que recebi uma mensagem no celular, desculpa, dizia, mas tive que fazer uma viagem, não sei quando volto. Espero que você tenha gostado do presente.”

“Fecho o arquivo, vou até a cozinha fazer um café. Há uma história, mas ao tentar contá-la sempre acabo contando outra, outro enredo, outro personagem. Tento me lembrar das coisas como realmente foram. O céu, a paisagem, era inverno e a neve cobria a copa das árvores formando estranhas esculturas, ou, a gente conversava animadamente na entrada do restaurante, ou, ela não se lembrava da última vez que estivera naquela parte da cidade. Há sempre algo que me escapa. Talvez esteja nessa vivência original o grande mal-entendido.”

“Nina morou catorze anos fora. No início, numa cidadezinha. Após separar-se do marido, mudou-se para Londres, entrou para a universidade, onde alguns anos depois se formou em história. Formada, conseguiu um emprego de professora no ensino médio e ali ficou, até voltar ao Brasil. Quando voltou, decidiu me procurar. Por quê?, eu perguntei, logo na nossa primeira conversa, por que esse interesse agora, depois de todos esses anos. É que havia algo sobre mim que você sabia, algo que eu precisava recuperar. Você se refere aos diários, eu perguntei, ela sorriu. Se você se refere aos diários, esqueça.”

O Banco Imobiliário faliu - João Paulo

O Banco Imobiliário faliu


João Paulo
Estado de Minas: 19/04/2014

Pelotão de choque em frente a um galão de agrotóxico, durante manifestação do MST em Brasília: quem defende a sociedade? (Beto Barata/AFP)
Pelotão de choque em frente a um galão de agrotóxico, durante manifestação do MST em Brasília: quem defende a sociedade?

Estamos sempre em transição. A crise deixou de ser um problema para ser uma condição de existência. A mudança é nossa única certeza.

Parece haver um consenso acerca da dinâmica social, com sua capacidade de puxar sempre o tapete e nos voltar o rosto para a realidade. No entanto, embora sejamos alimentados pela sensação de que tudo muda, são mantidos certos valores estáticos no campo da política que, de certa maneira, respondem pelo lugar desprestigiado que ela hoje ocupa na preocupação das pessoas. A política anda em baixa porque teima em falar do que não existe mais.

Talvez o grande esforço, hoje, para recuperar a importância do debate e da ação política seja exatamente a capacidade de habitar o mundo real. Em outras palavras, encarar o campo das incertezas e da crítica aos valores convencionais, que foram sendo construídos ao longo dos séculos. O maior dos desafios, quem sabe, está na transição em curso de uma concepção política baseada em grandes ideologias e projetos concentrados em partidos e projetos de poder em direção a um jogo mais ágil de movimentação social inspirado na transformação cultural e seus resultados plásticos e fluidos.

Sempre pareceu mais seguro interpretar o mundo a partir de grandes chaves compreensivas vindas da história, da sociologia e das ciências políticas. Luta de classes, liberalismo e democracia eram plataformas por meio das quais era possível fazer não apenas a descrição da situação vivida como apontar os caminhos mais consistentes de transformação e aprimoramento social. Era como se o tabuleiro do grande jogo da política estivesse dado e a ação fosse definida pelo movimento das peças e distribuição de bônus e cartas marcadas.

O primeiro alerta que virou o War ou o Banco Imobiliário de cabeça para baixo foi uma simples constatação espalhada aos quatro ventos do mundo: “Isso não nos representa”. As pessoas passaram a se sentir isoladas do campo das decisões, mas nem por isso queriam abrir mão de definir seus destinos. Ao reagir a um contexto do qual eram apenas objetos ou peças, passaram a desconfiar de todas as regras e a propor novos modelos de ação. A revivescência da desobediência civil é um dos belos sintomas desse processo de denúncia da inutilidade das antigas fórmulas e anúncio de novos padrões de comportamento. Por muito tempo a democracia vinha perdendo o viço pelo excessivo acento no polo do consenso. O retorno do conflito é boa notícia do nosso tempo.

É preciso prestar atenção nesse movimento. Em primeiro lugar, porque ele está redefinindo o campo da política. As pessoas que atuam de forma direta na arena pública com seu protesto, indignação e atitude não estão em busca de eco no núcleo do poder, para com isso concretizar suas demandas. O sistema tradicional parecia inatacável em sua lógica de mobilizar a periferia para manter o centro. Toda ação precisava ser incorporada a um projeto mais amplo de tomada de poder (pela força ou pelas urnas), que espalharia seus méritos de acordo com a representatividade dos grupos envolvidos na mudança.

Os movimentos sociais que emergiram com a sociedade organizada em rede – afora os momentos excepcionais de contestação das ditaduras, onde a unidade é um valor – têm como característica básica a diferenciação do aparelho do Estado pela afirmação de valores culturais particulares. Com isso, dificilmente vão se aliar a projetos de orientação eleitoral de forma mecânica. Recusam-se a ser manipulados, não vão passar cheque em branco a qualquer partido, não se dispõem mais a acreditar em projetos que adiem a realização de seus desejos além do tempo necessário. Nada de esperar o bolo crescer.

Impopular é palavrão
Quem acompanha o atual debate eleitoral pode perceber uma tradução límpida desse divórcio na proposta de candidatos que têm vindo a público defender medidas impopulares. De tal forma nossa concepção tradicional de política é armada sobre projetos ideológicos que, para muitos, mais velhos ou mais experientes, de acordo com o grau de autoestima, isso parece fazer sentido. Embora apresentado como defesa das medidas populistas, que poderiam se mostrar danosas a longo prazo, na verdade o que se chama de impopular são propostas que reforçam a estrutura que permite que a sociedade se mantenha injusta, retirando de todos para capitalizar o setor financeiro de interesse localizado. Foi o mesmo argumento que tornou as políticas privatistas um valor incontestável nos anos 1980 para depois destruir todo o arcabouço da social democracia.

Numa democracia, que tem como origem e fim a ligação com o povo, as medidas impopulares deveriam ser um anátema, mas passam por ações responsáveis de pessoas ajuizadas. Em tal contexto, a primeira baixa vai ser exatamente a ideia de representação política: quem age assim não nos representa. A saída, pelo que se tem visto em todo o mundo, é o abandono (ou, no mínimo, a desconfiança) dessa via tradicional em favor do fortalecimento da ação direta. Protestos, manifestações, ações coletivas, ocupações e marchas têm se tornado um ativo cultural de grande significação democrática. A democracia não agoniza com orientação cultural da política, mas é elevada a novo patamar.

Exemplo eficaz de ação cultural que ganha forte substância política têm sido as manifestações de setores ligados ao movimento ecológico. No primeiro momento, tiveram sua vertente ambiental vampirizada pelo chamado desenvolvimento sustentável, em que o desenvolvimento é o substantivo qualificado pelo adjetivo sustentável. A gramática, como se vê, também é política. O que as novas intervenções vêm demonstrando é uma alteração da teoria democrática em favor do direito da minoria em enfrentar a maioria (ou a legalidade) em nome de danos maiores, previstos com ações que hoje  conflitam com o campo da institucionalidade.

Em alguns momentos, e no Brasil temos experiências de grande êxito social como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Via Campesina e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é preciso forçar os limites da propriedade privada para instaurar um campo mais consistente de justiça social. Quando se vive, como hoje, um regime de incerteza hídrica, por exemplo, ganha forte valor moral, político e técnico as ações que o MAB vem propondo há muitos anos, seja na defesa dos mananciais e/ou na mudança das matrizes energéticas. Assim como o MST, no que diz respeito ao uso de venenos na agricultura e de sementes geneticamente modificadas patenteadas por empresas estrangeiras.

O mesmo pode ser percebido em atitudes como o caso dos Seis de Kingsnorth (ação do Greenpeace que, em 2008, fechou uma termelétrica no Sudeste da Inglaterra), entre outras, que foram consideradas criminosas a princípio e depois levaram a mudanças expressivas – no caso, o fechamento da usina por danos ao bem-estar humano. Atitudes como essas parecem ser exemplos de uma transformação que muitas vezes vai além dos próprios movimentos que as geraram. Tanto as organizações de esquerda como o movimento ecológico aprenderam na prática a forma de criar novos modelos de representação. Além disso, da participação convencional ao novo militante, altamente informado, há um patamar de conquista pedagógica impressionante.

Mobilidade e envelhecimento Hoje, a inteligência não migra necessariamente para o capital. Há um movimento de ético que tem recrutado jovens cabeças e desenvolve projetos sofisticados e ousados em vários campos da vida social. De onde certamente deverão surgir as soluções para os grandes problemas da humanidade, todos eles a serem vividos no limite da sociedade de mercado: o envelhecimento da população, a mobilidade, a questão da água, o clima, a preservação do meio ambiente, a felicidade individual, a democratização real da comunicação – tarefas que apontam a margem não operacional do sistema capitalista ou comunista. As saídas para esses problemas, cada vez mais expressivos na vida das pessoas, certamente não serão bancadas com recursos de instituições públicas e privadas que, na maioria das vezes, se alimentam exatamente deles.

Na semana passada, para ficar em apenas mais um exemplo do divórcio entre as instituições clássicas e o novo paradigma de mobilização social, a entrevista concedida pelo ex-presidente Lula a blogueiros gerou uma onda de protestos entre os veículos tradicionais. Acostumados à lógica da primazia como canais de elocução de discursos sempre de mão única, o que fez com que se confundisse por décadas opinião pública de opinião publicada, os chamados “grandes meios” questionaram todo o processo. Segundo análises estampadas até mesmo em editoriais, a entrevista privilegiou veículos suspeitos de sintonia com o poder e financiados por ele na forma de propaganda.

A entrevista foi transmitida ao vivo e sem cortes. Todos os temas foram tratados. Os blogs tiveram o mesmo espaço para perguntas. Não houve seleção prévia de temas. Nenhum veículo foi destacado (até o papa Francisco cedeu ao lobby da exclusiva em sua visita ao Brasil…). São essas as questões que deveriam ter sido debatidas. No entanto, a queixa maior foi por se sentirem excluídos de uma festa da qual se acostumaram a expulsar os não convidados. Nesse aspecto, há que se destacar a capacidade de leitura da circulação de mensagens por parte dos responsáveis pela entrevista. Há uma inversão notável: a mensagem passa a valer mais que o meio, já que esse não carrega o custo da inversão intensiva de recursos ou vantagens legais de concessões. Na internet, o patrão é o usuário.

Quanto ao financiamento de blogs, que atire a primeira pedra os defensores da chamada “mídia técnica”. Afinal, em comunicação, a quantidade é um valor iluminista: todo mundo pode e deve saber tudo. Quem acha que os grandes jornais dominam audiência e consciências, precisa rever seus conceitos.

Daqui pra frente, tudo vai ser diferente. O que será que será, exatamente, ninguém sabe. É o lado bom de viver sempre em crise.

Tão perto, tão longe

Tão perto, tão longe Livro sobre história da América Latina é guia seguro para quem quer se aventurar no conhecimento de uma região marcada por conflitos


Ângela Faria
Estado de Minas: 19/04/2014



Cantora Mercedes Sosa: voz que traduziu a alma da América Latina em canções engajadas (Pavel Wolberg/Reuters)
Cantora Mercedes Sosa: voz que traduziu a alma da América Latina em canções engajadas

Obcecado pelo que se convencionou chamar de Primeiro Mundo – Europa e Estados Unidos são nossas eternas “fontes de imitação” –, o brasileiro mal disfarça certo desdém pela África e pela América Latina. Se mais recentemente figuras como o político Hugo Chávez, a blogueira Yoáni Sánchez, o maestro Gustavo Dudamel, o ditador Hosni Mubarak e os músicos Fela Kuti e Salif Keita entraram em nossa casa pela TV ou iPod, pouco – ou quase nada – se sabe por aqui de latino-americanos e africanos além de figurinhas carimbadas como Che Guevara, Fidel Castro, Evita ou Nelson Mandela.

A coleção História na universidade (Editora Contexto) lançou dois livros para quem está disposto a trocar clichês e preconceito pela tentativa de começar a compreender, realmente, a complexidade da América Latina e da África. Ambos oferecem abordagens panorâmicas e articuladas inteligentemente, convidando a leituras posteriores mais aprofundadas. A Contexto honra – com louvor – o espírito da coleção Primeiros passos, saudosa publicação da Editora Brasiliense que abriu o mundo a gerações de jovens.

Professoras da Universidade de São Paulo (USP), Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino dedicam 206 páginas a países das Américas. Você sabia que o Haiti foi a primeira colônia latino-americana a se tornar independente da metrópole, a França, e o primeiro Estado da região a abolir a escravidão? Você sabia que a Revolução Mexicana, ao final de 10 anos, deixou o saldo de quase 1 milhão de pessoas mortas em combates e por doenças como o tifo e a gripe espanhola? Você sabia que educação e cultura foram as estratégias de paz para manter coesa a nação mexicana? E que o Equador foi o primeiro país da região a conceder o voto às mulheres?

História da América Latina não é almanaque cheio de ilustrações. Facilita a vida do leitor, mas está longe de ser um fast book. Chega a impressionar o volume de informações que o pequeno volume traz, aproximando-nos de Tupac Amaru, Simón Bolívar, Pancho Villa, Emiliano Zapata, José Carlos Mariátegui, Lázaro Cárdenas e José Martí, entre tantos outros hermanos de quem ouvimos vagamente falar. As autoras não se prendem à ordem cronológica dos fatos. Propõem-se a entrelaçá-los, jogando luz sobre as raízes político-econômicas de momentos cruciais da trajetória latino-americana. Mostram também que eles reverberaram por toda a região – afetando o Brasil.

Foi assim com a revolta dos escravos no Haiti, no século 18, tão temida na colônia portuguesa; com a Revolução Cubana, no fim da década de 1950, que deflagrou a paranoia anticomunista; com a Revolução Mexicana, em 1910, inspiradora da luta nacionalista; e com a saga do libertador Simon Bolívar (1783-1830), guru do para lá de polêmico Hugo Chávez.

Conflitos marcaram a região, palco da Guerra do Paraguai, do embate entre México e Estados Unidos (que deu o Texas ao Tio Sam), da Guerra do Pacífico, opondo Chile, Peru e Bolívia (obrigada a abrir mão de seu litoral), e da contínua ofensiva dos EUA. Os Estados Unidos são onipresentes nesta história. Financiaram articulações nacionalistas para separar o Panamá da Colômbia, visando à construção do canal entre os oceanos Pacífico e Atlântico, além de bancar revoluções para garantir seus interesses econômicos e geopolíticos.

A profunda desigualdade social, a concentração de renda e a discriminação de indígenas, negros e mestiços atravessaram os séculos, fermentadas por forças colonialistas, imperialistas e globalizantes. Revoltas e repressão marcam a multifacetada história latino-americana. As autoras conduzem o leitor por esse complexo palco buscando driblar a armadilha da generalização. Praticamente cada país tem o seu quinhão neste livro.

O leitor se depara com momentos emblemáticos da saga hermana no século 20: da consolidação das repúblicas a ditaduras militares, passando por regimes populistas, movimentos de esquerda, grupos guerrilheiros e redemocratizações.

Maria Ligia e Gabriela dedicam espaço à cultura, mostrando como homens e mulheres traduziram o imaginário de momentos históricos e utopias: da Nueva Canción de Mercedes Sosa e do realismo fantástico de Gabriel García Márquez à Orquestra Sinfônica Simón Bolívar, que o polêmico Hugo Chávez transformou em símbolo de seu governo.

As autoras encerram sua História da América Latina sem abordar temas importantes, como a conexão narcotráfico-política, ou se aprofundar um pouco mais sobre o fenômeno Hugo Chávez. Mais páginas seriam bem-vindas, pois a dupla comprovou ter fôlego para a missão. Mas elas não deixam de destacar desafios postos ao Estado contemporâneo. Um deles é a superação dos limites da democracia representativa. Votar não basta: tornou-se crucial ampliar a cidadania e a qualidade de vida da população, alcançar metas de desenvolvimento econômico, coibir a violência e a corrupção, além de promover ações com vista à justiça e à reparação em relação a crimes contra a humanidade cometidos por regimes autoritários.


 (Editora Contexto)

HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
• De Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino
• Editora Contexto
• 206 páginas, R$ 35

Corrupção e ditadura - Rubens Goyatá Campante

Corrupção e ditadura Roubo da riqueza social tem como fundamento o desprezo com o cidadão e com a democracia. Nos governos militares, sem liberdade, o descaso com coisa pública era endêmico na máquina estatal


Rubens Goyatá Campante
Estado de Minas: 19/04/2014



Com sua vassourinha moralista, Jânio Quadros usou o combate à corrupção como mote da campanha que o levou à presidência em 1960
 (Henri Ballot/O Cruzeiro/EM - 20/4/55)
Com sua vassourinha moralista, Jânio Quadros usou o combate à corrupção como mote da campanha que o levou à presidência em 1960



A corrupção é o tema do momento. Partidos e forças políticas acusam os malfeitos de adversários e disputam, junto à opinião pública e ao eleitorado, quem é considerado mais ou menos corrupto. A imprensa, alçada ao papel de justiceira no vácuo da ineficiência dos sistemas político e jurídico em proteger o interesse público, traz casos e mais casos de corrupção, publicando-os e enfatizando-os de acordo com suas próprias conveniências e preferências ideológicas. E 64% dos brasileiros, segundo pesquisa de dois anos atrás feita pela ONG Transparência Internacional, pensam que a corrupção tem aumentado. É por isso, certamente, que tem se ouvido, cada vez mais, a opinião de que “na época da ditadura, pelo menos, não tinha corrupção”. Ideia absolutamente equivocada, fruto da desinformação histórica ou, pior ainda, de tendências antidemocráticas.

O combate à corrupção tem sido uma das mais recorrentes justificativas para a implantação de ditaduras, as quais, no poder, transformam-se rapidamente, quase instantaneamente, em regimes onde a ladroagem campeia. Isso não quer dizer, de maneira alguma, que não se deva lutar contra a corrupção, já que a consequência seria uma ditadura. Significa que essa luta só é eficiente por meio da transparência democrática. Os países menos corruptos do mundo são democracias, não só no sentido formal, por possuírem partidos, eleições regulares etc., mas no sentido substantivo, de que suas populações são respeitadas como cidadãos – se não plenamente, ao menos em nível razoável e maior que nos países de democracia inexistente ou meramente formal.

Nossa história é um exemplo perfeito dessa convergência entre o desrespeito ao cidadão, típico das ditaduras, e o desrespeito com a coisa pública. Sabe-se que, além do anticomunismo da época da Guerra Fria, um dos motes do golpe de 1964 foi o combate à corrupção, vista de forma basicamente individual, referente somente à moralidade pessoal de um grupo específico de pessoas que eventualmente furtavam dinheiro público: os políticos e funcionários públicos. Além disso, para os militares que tomaram o poder em 1964, escudados pelo apoio de parte da sociedade, da política externa norte-americana e, principalmente, do grande capital nacional e internacional, a corrupção e a “baderna” (expressão que os autoritários e conservadores brasileiros adoram até hoje) dos sindicalistas e comunistas estariam ligadas entre si, e seriam insufladas por governos “populistas” e “demagogos”, como os de Vargas, Juscelino e João Goulart. “As denúncias contra a corrupção conferiam destaque à máquina sindical corporativista criada por Vargas”, lembra o professor de história da UFMG Rodrigo Patto Sá Mota, “essa avaliação do impacto eleitoral da ‘máquina’ varguista, algo exagerada, servia de justificativa e consolo para as derrotas da UDN e explicava as grandes votações colhidas pelos candidatos de orientação trabalhista”.

Em 1960, Jânio Quadros, apoiado pela UDN, elegeu-se tendo como símbolo a vassoura que iria “varrer a bandalheira”, mas, com sua renúncia precoce e a posse de seu vice, João Goulart, voltava, na ótica dos militares e dos udenistas, a velha dobradinha corrupção-subversão, que a “revolução” de 1964 prometeu eliminar de pronto – bastaria determinação e exemplo pessoal dos governantes. Foi logo criada a CGI (Comissão Geral de Investigações), com a missão de investigar e punir casos de corrupção e subversão em processos de rito sumário. Com amplos poderes, a CGI promoveu milhares de inquéritos, expurgos, prisões. Mas, alguns meses após sua instalação, Castelo Branco afirmava que o problema mais grave do Brasil não era a subversão, mas a corrupção, “muito mais difícil de caracterizar, punir e combater”.

O que Castelo começou a perceber foi que a abordagem individualista da corrupção é reducionista, e, portanto, insuficiente para atacá-la. É claro que a corrupção nunca deixa de ter um componente de decisão individual, mas tem também, ao mesmo tempo e de forma inarredável, um componente estrutural e sistêmico. As dificuldades que os militares encontraram ao operar sob a perspectiva individualista e reducionista do problema foram bem ilustradas no caso de JK: perseguido pelo regime, o ex-presidente teve a vida esquadrinhada pela CGI na tentativa de se mostrar seu envolvimento pessoal em ligações com o Partido Comunista e com o desvio de dinheiro público – a dobradinha subversão-corrupção. Nada foi provado, apesar dos inúmeros interrogatórios a que foi submetido. O objetivo não eram os focos estruturais de corrupção porventura existentes no governo JK, mas a tentativa, malograda, de demonstrar sua desonestidade particular.

Mas a corrupção sistêmica eventualmente presente nos âmbitos da administração JK foi desconsiderada não só por isso não estar no horizonte dos militares, mas também porque traria o inconveniente de implicar vários políticos, funcionários públicos e empresários que eram, agora, aliados da ditadura. E esse foi outro limite da cruzada moralizadora castrense: acercar-se do poder para usufruir suas benesses, de preferência o mais discretamente possível, é tendência congênita de alguns políticos, funcionários públicos e empresários, aqui e alhures. E o regime militar logo passou a conviver com aqueles “apoiadores” totalmente dispostos a fazer parte de qualquer governo, não importando sua tendência política – aliás, se a tendência for a de reprimir a oposição e amordaçar a imprensa, tanto melhor para se dedicarem tranquilos a seus ricos negocinhos.

E os negócios cresceram, e junto deles a administração pública, e junto dela o número de oficiais das Forças Armadas em postos-chave nos ministérios e empresas estatais. Sob o regime militar, a economia brasileira expandiu-se de forma expressiva, especialmente até o final de década de 1970. Um capitalismo regulado autocraticamente pelo Estado, cujo modelo incluía concentração de renda, protecionismo econômico, investimento estatal direto e indireto e, especialmente, favorecimento ao grande capital nacional e internacional, particularmente ao setor financeiro. “Na ditadura, quem peou a vaca foram os militares, mas quem a ordenhou mesmo foram os grandes interesses econômicos nacionais e internacionais” – o chiste de Brizola resume bem a situação.

Mordaça

Assim, com os grandes projetos de crescimento econômico, exaltados como a construção do “Brasil grande”, com as grandes obras, com o incremento das operações do sistema financeiro, foram surgindo as enormes oportunidades de negócios – e, por vezes, de negociatas. Contestar tais projetos, obras e negócios era contestar a pátria, era subversão. Poucos escândalos de corrupção conseguiam driblar a censura e o amordaçamento da oposição e das vozes dissidentes.

Mesmo assim, alguns vieram a lume, quando não em todos os seus detalhes e implicações, devido às dificuldades da livre expressão, pelo menos em alusões e referências. Casos como as denúncias de superfaturamentos na construção da ponte Rio-Niterói e da Transamazônica, ou as quebras suspeitas de corretoras de valores, como a Coroa-Brastel, ou de entidades de poupança privada, como o grupo Delfin, ou de fundos de previdência privada, como a Capemi. Em todos, o prejuízo direto ficava com os respectivos investidores, depositantes e contribuintes, e o indireto, com a sociedade, já que os rombos eram absorvidos pelo erário público – a famigerada socialização de prejuízos do grande capital, especialmente do financeiro, que ocorreu também nos episódios das falências do Grupo Halles e do Banco União Comercial, entre outros. E os escândalos chegavam, inclusive, à imprensa internacional: a revista alemã Der Spiegel denunciou, em amplas reportagens, na década de 1970, os subornos pagos a altos integrantes do governo brasileiro que negociaram o Tratado de Cooperação Nuclear com o governo alemão.

Por conta destes acontecimentos, e provavelmente de tantos outros não ventilados, o presidente Geisel, segundo livro do historiador mineiro Ronaldo Costa Couto, confidenciou a um interlocutor: “A corrupção nas Forças Armadas está tão grande que a única solução para o Brasil é fazer a abertura”. Geisel, como outros generais presidentes da República, aferrava-se à visão individualista e reducionista de que a corrupção esgotava-se na questão da decência estritamente particular do governante, de que bastava o “exemplo” deste para que a sociedade, a economia e a política fossem, num passe de mágica, expurgadas daquele mal. Mantiveram, assim, os presidentes militares, uma postura de lisura pessoal – fossem julgados especificamente quanto a isso, como JK, também seriam inocentados.

Mas eles comandavam governos em que as relações entre os altos escalões do poder político e do poder econômico se davam sem a mínima transparência e o mínimo controle por parte da sociedade, em que não havia que se dar satisfações a essa, pois era vista como incapaz e merecedora de tutela – portas abertas para o aviltamento do interesse público. Sua noção de interesse público, porém, era a da modernização econômica, material, da sociedade a ferro e fogo, a do patriotismo ufanista, eivado de discursos de exaltação ao consenso, à ordem, à hierarquia social e de ódio aos que, em seu entender, ameaçavam esses valores, ódio que embasou a tortura como política de Estado. Ao mesmo tempo, sob a bênção de seus governos, o capitalismo selvagem, do “salve-se quem puder”, contaminava a sociedade e a cultura e produzia, como lembra Luiz Werneck Vianna, “verdadeira lesão no tecido social, aprofundando a atitude de indiferença política e dificultando, pela perversão individualista, a passagem do indivíduo ao cidadão”.

O poder político, econômico e ideológico respeita cidadãos, e não indivíduos perdidos em sua fragmentação e ignorância. Respeito ao cidadão pressupõe democracia, faltando este respeito, a corrupção fatalmente se instala, pois sua causa fundamental é a disparidade aguda de recursos entre as pessoas. Não é da natureza humana, salvo raras exceções, refrear espontaneamente o poder de que se desfruta, o poder de um ser humano só é realmente limitado pelo poder de outro ser humano. Se alguns poucos donos do poder fazem o que bem entendem e estabelecem regras favoráveis a si, ou, caso essas regras sejam universalistas, driblam-nas tranquilamente, aí está a corrupção. Como no Brasil da ditadura militar, como no Brasil de hoje.

. Rubens Goyatá Campante é doutor em sociologia política e pesquisador do Núcleo de Pesquisas da Escola Judicial do TRT da 3ª Região.

Orelha

Orelha


Estado de Minas: 19/04/2014




O presidente de Gana, John Dramani Mahama, lançou livro no Brasil

 (Thierry Gouegnon/Reuters)
O presidente de Gana, John Dramani Mahama, lançou livro no Brasil


Décadas perdidas

No Brasil para participar da 2ª Bienal do Livro de Brasília, o presidente de Gana, John Dramani Mahama, tem seu primeiro livro, Meu primeiro Golpe de Estado, lançado no país pela Geração Editorial. Mahama resgata suas memórias desde os tempos de menino no internato de Acra, capital de Gana, até seu despertar para a política. John Dramani Mahana assistiu seu primeiro Golpe de Estado aos 7 anos, em período de extrema instabilidade na África. Filho de ministro do governo de seu país, viu a família perder tudo com a prisão do pai e a tomada de poder pelos militares. Entre 1966 e a retomada do governo constitucional, em 1982, seu país viveu um período nebuloso, marcado por guerras internas pelo poder, crises econômicas e êxodo de profissionais e intelectuais para fora do continente africano. Mais que autobiografia política, Meu primeiro Golpe de Estado é um relato que une o destino de um homem ao de sua nação.

Policiais

O selo Vestígio, especializado em romances policiais, está com dois novos títulos nas livrarias. Um outono em River Falls, de Alexis Aubenque, é o segundo volume da trilogia do autor francês, que dá sequência a Sete dias em River Falls, já lançado no Brasil. O outro romance é Assassinato na Torre Eiffel, de Claude Izner, ambientado na Paris do século 19.

Perfil

Dando continuidade à série Intelectuais do Brasil, a Editora UFMG lança o volume Leituras críticas sobre Wanderley Guilherme dos Santos, organizado por Otavio Soares Dulci. Além de analisar a obra de um dos mais destacados cientistas políticos do país, o volume permite a introdução ao pensamento de Wanderley Guilherme, em sua vertente teórica e analítica da história política brasileira contemporânea. O livro reúne quatro ensaios e uma entrevista. Pela mesma coleção já foram lançados livros sobre Maria da Conceição Tavares, Leonardo Boff e Silviano Santiago, entre outros.

 (Renato Weil/EM/D.A Press)


Resistência

A Belotur está distribuindo um livreto que reúne fotos e informações sobre os lugares de repressão e de luta contra a ditadura civil-militar no período de 1964-1985 em Belo Horizonte. Memórias da resistência é um roteiro que celebra a luta contra o arbítrio em BH. Entre os locais que integram a publicação estão a Fafich da rua Carangola (foto), o Sindicato dos Jornalistas, o DCE e o Colégio Estadual Central.


 (Gerard Julien/AFP
)


Rock

Os integrantes da banda AC/DC nunca ligaram para o que escrevem sobre eles. Por isso a biografia de Mick Wall, que está sendo lançada no Brasil pela Globo Livros, é um trabalho útil e necessário. Jornalista britânico especializado em rock, autor da biografia de outra banda icônica, o Metallica, ele passa em revista a trajetória do AC/DC, deixando os mitos de lado para apurar bem sua história. Entre as curiosidades, ele conta como foi feita a escolha do nome da banda (gíria para homessexuais, o que levou muita gente a pensar que se tratava de um conjunto gay), as brigas e mudanças de formação do grupo e os altos e baixos do relacionamento dos irmãos Malcolm e Angus Wilson (foto).

Redes

Quem pensa que só hoje vivemos numa era da comunicação, se engana. E muito. Trocar informações e pautar os comportamentos pessoais e sociais pela comunicação é uma característica humana há muitos séculos. O livro Poesia e política – Redes de comunicação na Paris do século 18 (Companhia das Letras), do historiador Robert Darnton, mostra como a circulação de informações, sobretudo da poesia, foi decisiva na movimentação política de um dos mais revolucionários períodos da história da Europa. Diretor da Biblioteca de Harvard, Darnton mostra que o poder viral das redes já era significativo séculos antes da internet.

Quadrinhos

O processo, de Franz Kafka (1883-1924), ganha versão para quadrinhos, em adaptação da artista Chantal Montellier e do escritor e dramaturgo David Zane Mairowitz (autor de uma versão do romance para o teatro). Os embates entre K, personagem central da narrativa, e os burocratas que o prendem e levam a julgamento ganham tradução visual de grande impacto expressionista, em atmosfera de pesadelo. A edição é da Veneta.

Ideias e canções

Será lançado dia 24, às 20h, no Café 104, na Praça da Estação, o livro A música e o vazio no trabalho: reflexões jurídicas a partir de Hannah Arendt, de Matheus Brant. O volume, que é resultado de dissertação de mestrado, vem com um disco encartado com canções compostas pelo autor, que buscam captar o que vai além dos conceitos. Matheus é advogado, músico, fundador do grupo Chapéu Panamá e do bloco Me beija que eu sou pagodeiro, sucesso no carnaval de BH. 

Militante do real

Pesquisadora Mariana Tavares lança estudo sobre a obra da cineasta Helena Solberg. Livro será lançado em julho, durante realização, em BH, do festival É tudo verdade


Mariana Peixoto
Estado de Minas: 19/04/2014



Para Mariana Tavares, a obra de Helena Solberg foi ganhando em abrangência ao tratar de temas como a relação da mulher com a sociedade (Leandro Couri /EM/D.A Press
)
Para Mariana Tavares, a obra de Helena Solberg foi ganhando em abrangência ao tratar de temas como a relação da mulher com a sociedade

Na edição de 1994 do Festival de Brasília, no início da chamada retomada do cinema nacional, um longa-metragem dominava as discussões da competição: Louco por cinema, de André Luis de Oliveira, ficção que propunha uma metáfora sobre a dificuldade de se produzir no país. Só se falava deste filme, até que houve a sessão do documentário Carmen Miranda: bananas is my business, de Helena Solberg. O foco de atenção mudou – os dois longas acabaram recebendo vários prêmios, cabendo ao de Solberg quatro deles, como o de melhor filme pelo júri popular, especial do júri e da crítica.

Na plateia do festival, estava a jornalista, documentarista e pesquisadora mineira Mariana Tavares, que comungou do furor causado pelo documentário. Impressionou-se tanto pela qualidade do filme de Solberg como também por nunca ter ouvido falar dela. Não era a única. Solberg, então, era uma cineasta brasileira pouco conhecida em seu próprio país, já que estava radicada nos Estados Unidos há décadas. Para muitos, aquele foi seu cartão de apresentação. Só que Solberg vinha de uma história muito mais produtiva do que se imaginava.

A partir desse primeiro contato, Mariana começou a se envolver com o trabalho da cineasta. Durante seu mestrado, defendido na Escola de Belas Artes da UFMG, conheceu melhor a obra – sua dissertação girou em torno dos processos para criação de vários documentaristas. Quando foi pensar no doutorado, defendido na mesma escola, foi o marido, o também jornalista Marcos Barreto, quem lhe sugeriu: por que não Helena, já que uma tese demanda ineditismo? “Havia uma inexistência de qualquer coisa escrita sobre o trabalho dela”, comenta Mariana. Defendida em 2012, a tese acabou resultando no livro Helena Solberg: do Cinema Novo ao documentário contemporâneo.

A edição da obra foi realizada pelo É tudo verdade – Festival Internacional de Documentários, que realizou no Rio e em São Paulo, este mês, retrospectiva com oito dos 15 filmes de Solberg. Foi a primeira vez que a cinematografia dela ganhou mostra do gênero. O festival, que tem versão itinerante, ganha edição em Belo Horizonte de 24 a 27 de julho, no Oi Futuro, quando Mariana vai fazer noite de lançamento do livro – como a versão mineira é bem menor do que a original, deverão ser exibidos apenas dois filmes de Solberg. A jornalista ainda pretende fazer, este ano, um seminário e uma mostra mais extensa dos filmes da cineasta.


Ludmila Dayer em Vida de menina, estreia de Helena Solberg em longa-metragem de ficção (Pedro Farkas/Divulgação
)
Ludmila Dayer em Vida de menina, estreia de Helena Solberg em longa-metragem de ficção

Com apresentação de Arnaldo Jabor e prefácio de Hernani Heffner, a obra de Mariana abrange toda a obra de Solberg, chegando até mesmo a um projeto ainda em andamento, a ficção A visita. “A Helena vai fazer 76 anos em junho. É a única mulher brasileira de sua geração que continua em atividade”, comenta Mariana, que dividiu seu livro de acordo com as fases da obra da cineasta.

Nova mulher O momento inicial foi o do Cinema Novo (foi a única mulher a fazer parte do movimento), de que fizeram parte dois filmes: A entrevista (1966) e Meio-dia (1970). O primeiro representa sua estreia em documentários, e o segundo, seu único curta de ficção. Filha de norueguês com brasileira, em 1971 ela se muda para Washington. É quando produz a chamada Trilogia da mulher: A nova mulher (1974), A dupla jornada (1975) e Simplesmente Jenny (1977), todos frutos do movimento feminista.

Já na década de 1980, tem início sua fase militante, com seis documentários que investigam a relação dos EUA com as ditaduras latinas. São seis filmes, todos realizados pelo sistema público de televisão norte-americana, que só vieram a público no Brasil com a retrospectiva do É tudo verdade. Para os filmes militantes, a jornalista chama a atenção de Nicarágua hoje (1982), ganhador de um Emmy (o Oscar da TV americana) – “que mostra a reconstrução da Nicarágua pós-sandinismo do ponto de vista de uma família” – e A conexão brasileira (1982/1983), sobre a dívida externa.

Depois destes, realiza Bananas is my business e, de volta ao Brasil, lança em 2004 Vida de menina, sua estreia em longas de ficção. Adaptação de Minha vida de menina, diário de Helena Morley, pseudônimo com que Alice Dayrell Caldeira Brant escreve suas memórias de garota na Diamantina do final do século 19. Mais recentemente, Solberg lançou os documentários Palavra (en)cantada (2009) e A alma da gente (2013), este último ainda participando do circuito de festivais.

“Dizem que os cineastas sempre falam dos mesmos temas. No caso da Helena, ele vai se alargando. No começo, em A entrevista, ela fala da mulher de classe média, suas contemporâneas de escola. Depois vem a mulher latino-americana; mais tarde a política. Com Carmen, mostra a questão da mulher e as relações de boa vizinhança. Ou seja, política e economia latino-americanas se mantêm no cinema dela, com um olhar especial para personagens femininas”, finaliza Mariana.

Um outro olhar

Mariana Tavares comenta as fases da obra de Helena Solberg




"Helena sempre foi muito conectada com o que está acontecendo, seu cinema é dinâmico", revela Tavares

A dupla jornada


“Helena sempre foi muito conectada com o que está acontecendo, seu cinema é dinâmico. Depois dos dois primeiros filmes, realiza três sobre o movimento feminista. E diferentemente do cinema antropológico, em que o cineasta não interfere, tem a câmera fixa, ela gosta de ter controle” (na foto, a diretora com Cristine Burrill, na Bolívia, durante as filmagens de A dupla jornada, sobre as mulheres trabalhadoras na América Latina) 


Cena de
Cena de "Bananas is my business", de Helena Solberg

Bananas is my business

“Helena usa ficção para fazer um documentário, em 1994, com uma sofisticação de linguagem e técnica que pouco se via no cinema brasileiro da época. Antes dela, só Lúcia Murat havia feito algo parecido com Que bom te ver viva (1989). É um marco do documentário brasileiro. Um artista transformista representa a Carmen adulta; a Letícia Monte (irmã de Marisa) faz a Carmen adolescente. Além disso, o filme traz a voz da Helena em of., reflexiva, falando da relação dela com a cantora.” 


"A alma da gente (2013) foi realizado em duas partes. A 1ª em 2002, e a 2ª, 10 anos mais tarde", conta Tavares

A alma da gente

“A alma da gente (2013) foi realizado em duas partes. A primeira, em 2002, e a segunda, 10 anos mais tarde. Ela abordou adolescentes que fizeram parte do projeto Dança das Marés (coordenado por Ivaldo Bertazzo no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro). Ela volta mais tarde para ver a possibilidade de transformação na vida daqueles adolescentes. É um filme que dialoga com Cabra marcado para morrer (1985, de Eduardo Coutinho), pois traz dois momentos na vida dos personagens.” 

TeVê

tv paga


Estado de Minas: 19/04/2014


 (Paramount Pictures/Divulgação)


A saga continua

Espaço, a fronteira final. Audaciosamente indo onde nenhum assinante jamais esteve, o Telecine Premium promove hoje a estreia de Além da escuridão – Star Trek, mais uma aventura do capitão Kirk, Spock e a tripulação da Enterprise. Nessa nova missão, eles são enviados a um planeta primitivo, que está prestes a ser destruído por um vulcão. Confira às 22h.

Boas alternativas na
HBO e Telecine Cult

Também às 22h, a HBO estreia Um golpe perfeito, com Colin Firth e Cameron Diaz nos papéis principais. Enquanto isso, o Telecine Cult exibe o drama A caça, com Mads Mikkelsen no papel de um professor acusado de abusar sexualmente de uma criança. Já o Megapix emenda três filmes de terror: 30 dias de noite 2 – Dias sombrios (18h05), Possuída (19h55) e O último trem (22h). No Universal Channel continua a maratona de Páscoa, e o destaque de hoje é Meu monstro de
estimação, às 21h30.

São muitas as opções
no pacote de cinema

Na faixa das 22h, são mais 10 boas dicas: As três Marias, no Canal Brasil; Inocência, no Futura; Bossa nova, no Sony Spin; Habemus papam, no Max; Looper – Assassinos do futuro, no Max Prime; Guerra dos mundos, na MGM; Invictus, na Warner; O ilusionista, no A&E; O último grande herói, no Comedy Central; e Paixão obsessiva, na HBO HD. Outras atrações da programação: Era uma vez, às 21h, no AXN; Poder sem limites, às 22h30, no FX; Os agentes do destinos, também às 22h30, no Space; e Uma longa viagem, às 23h, na Cultura.

Canal NatGeo aposta
em histórias da Bíblia

 O NatGeo também preparou uma programação especial de Páscoa, reservando para hoje os documentários Mulheres bíblicas, A história de Jesus e O poder de Jesus, a partir das 21h35. No canal Are 1, outro documentário em destaque: Belezas seculares, sobre restauração de esculturas em locais públicos pelo Brasil afora.

Bis exibe documentário
sobre Kurt e Courtney

Na programação musical, um dos destaques é o documentário Kurt & Courtney, às 21h30, no canal Bis, mostrando o conturbado relacionamento do astro Kurt Cobain com a cantora e atriz Courtney Love e a morte do roqueiro, 20 anos atrás. Na Cultura, mais duas dicas: o grupo Rapa da Godoy em Manos e minas, às 17h; e a banda Apanhador Só em Cultura livre, às 18h.

 filmes



14h40 na Globo

ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE
Brasil, 2012. Direção de Roberto Santucci, com Leandro Hassum, Danielle Winits e Kiko Mascarenhas. Tino e Jane ficam ricos com um prêmio da loteria, mas após 15 anos de ostentação eles conseguem gastar todo o dinheiro e ficam pobres novamente.

15h15 na Record

A ERA DO GELO 2
(Ice age 2: the meltdown) – EUA, 2006. Direção de Carlos Saldanha. Desenho animado. A era glacial chega ao fim e o mamute Manfred, o tigre Diego e o bicho-preguiça Sid logo descobrem que toneladas de gelo estão prestes a derreter e inundar o vale em que vivem.

20h30 na Record

HOP – REBELDE SEM PÁSCOA
(Hop) – EUA, 2011. Direção de Tim Hill. Dezsenho animado. Junior é um coelho que adora tocar bateria e sonha em fazer sucesso com a música, mas seu pai deseja que ele dê continuidade à tradição de tornar-se o Coelho da Páscoa, seguida há 4 mil anos.

22h15 no SBT/Alterosa

SCOOBY-DOO
(Scooby-Doo) – EUA, 2002. Direlção de Raja Gosnell, com Fredie Prinze Jr., Sarah Michelle Gellar, MatthewLillar e Linda Cardellini. O grupo Mistério S/A investiga uma maldição que ataca os jovens frequentadores do Parque Ilha do Espanto.

22h20 na Bandeirantes

A ESPADA DO DRAGÃO BRANCO
(Flying dragon, leaping tiger) – Hong Kong, 2003. Direção de Allen, com Sammo Hung Kam-Bo e Pei-pei Cheng. Em um deserto na China feudal, um antigo mestre de artes marciais parte em busca de sua filha, ao lado de um ladrão de cavalos que luta como ninguém.

23h na Rede Minas

CORUMBIARA
Brasil, 2009. Direção de Vicent Carelli. Documentário que reúne depoimentos de testemunhas do massacre ocorrido em 1985, em Rondônia, quando uma comunidade indígena foi praticamente extinta e o indigenista Marcelo Santos denunciou o crime.

0h45 no SBT/Alterosa

UM ATO DE CORAGEM
(John Q) – EUA, 2001. Direção de Nick Cassavetes, com Denzel Washington, Robert Duvall e James Woods. Desesperado quando o filho precisa de um transplante do coração e o seguro não cobre, John Quincy faz reféns em um hospital e exige o tratamento.

1h10 na Bandeirantes

UMA GAROTA MISTERIOSA
(B. monkey) – Inglaterra/Irlanda do Norte, 1998. Direção de Michael Radford, com Asia Argento, Jared Harris e Rupert Everett. O professor Alan Furnace leva uma vida normal até que conhece a bela Beatrice, que o conduz numa perigosa e sexy jornada por Londres.

1h15 na Rede Minas

Romance da Empregada
Brasil, 1987. Direção de Bruno Barreto, com Betty Faria, Brandão Filho e Daniel Filho. A odisseia de Fausta,
que vive no subúrbio e ganha
a vida como doméstica. Enquanto se espreme em trens lotados, ela
sonha em ser Tina Turner e
comprar um barraco.

1h25 na Globo

SOB O DOMÍNIO DO MAL
(The manchurian candidate) – EUA, 2004. Direção de Jonathan
Demme, com Denzel Washington,
Meryl Streep e Liev Schreiber. Recuperado de processo de
lavagem cerebral, ex-soldado tenta evitar que um colega militar chegue a altos postos na política americana.

3h na Rede Minas

Hanami – Cerejeiras em Flor
(Kirschblüten – Hanami) – Alemanha, 2008. Direção de Doris Dörrie, com Elmar Wepper e Hannelore Elsner. Trudi esconde do marido Rudi que ele tem pouco tempo de vida e o leva a uma viagem ao Japão, aproveitando os últimos momentos juntos.

CARAS E BOCAS » Que papelão!

Estado de Minas: 19/04/2014




Cantor Belo não aparece em gravação do show de Raul Gil e vira boneco (Rodrigo Belentani/SBT)
Cantor Belo não aparece em gravação do show de Raul Gil e vira boneco



Depois de tudo pronto para a gravação de uma homenagem que receberia no Programa Raul Gil, o pagodeiro Belo simplesmente não apareceu. Alegou razões particulares. Dizem que não foi a primeira vez... Daí, o apresentador Raul Gil decidiu levar adiante a proposta do quadro. Então, vai ao ar hoje, no SBT/Alterosa, o “Homenagem ao artista” sem o artista. No lugar de Belo, um boneco. Quer saber? É assim que se faz. Afinal, programa pronto não era justo com os demais envolvidos, como vários artistas e amigos de Belo que contaram histórias sobre a carreira e vida pessoal do cantor, como Guilherme Arantes, Eliana, Paula Lima, Chrigor, Marcinho, Salgadinho, Sampa Crew, Regis Danese e Jorge Vercílio. Diga você se o homenageado fez falta. Profissional de primeira, Raul Gil se emocionou durante o quadro e disparou: “Eu te amo como se fosse meu filho. Se você estivesse aqui, você estaria como eu, emocionado”.


DOMINGO LEGAL ESTREIA
NOVO QUADRO AMANHÃ

Amanhã, às 11h, no SBT/Alterosa, o Domingo legal estreia o quadro “Na fazenda do Santos”, com a participação de Milene Pavorô e Babi Rossi. Entre outras atividades, que prometem ser engraçadas, comandadas pelo Santos, do Programa do Ratinho, elas vão apostar corrida em pôneis, dar comida aos avestruzes e pegar rãs.

CASAL SE RECONCILIA NA
CIRANDA DA NOVELA DAS 7

No capítulo de hoje de Além do horizonte (Globo), Kléber (Marcello Novaes) e Keila (Sheron Menezzes) finalmente vão se reconciliar. Antes, mais um estresse: ele decide deixar Tapiré, já que acredita que não tem mais chance com a amada. Na hora da partida, porém, ela aparece e pede que ele fique. Os dois seguem para casa e Keila diz que vai dar uma nova chance ao amor, mas impõe uma condição: quer que o marido se entregue à polícia, confesse todos seus crimes e pague por eles. E promete que o visitará todos os dias na cadeia. Ele concorda.

RATINHO E PAGODE VÃO
AGITAR HOJE O ARENA SBT

Diversão, informação e convidados especiais. É o que anuncia o Arena SBT, hoje, à meia-noite. No palco estarão o
apresentador Ratinho e o ex-jogador de futebol Amaral com suas opiniões sobre os esportes. O musical fica por conta
dos amigos do Pagode 90: Márcio Art, Salgadinho e Chrigor.

A MAGIA DE CHAPLIN EM
CARTAZ NO CINE MAGAZINE

Charles Chaplin nasceu em um bairro pobre de Londres em 16 de abril de 1889. Por causa dos problemas mentais da mãe, ele e seu irmão Sydney foram obrigados a viver em lares adotivos e orfanatos. Com seu talento, Charlie venceu a pobreza e se tornou um dos maiores gênios do cinema. O Cine magazine deste sábado, às 20h30, na Rede Minas, homenageia o gênio
de filmes como O grande ditador e O garoto.


BAFAFÁ NO CQC

A repórter Naty Graciano conferiu o lançamento do novo filme de Tony Ramos, Getúlio, no Rio de Janeiro. Por lá, ouviu dele e de outros famosos respostas para “twittes” mais escabrosos que estarão no quadro “Twitter delivery”. Ainda na capital carioca, o programa acompanha o lançamento do livro sobre os 25 anos do Prêmio da Música Brasileira e conversou com os cantores Ney Matogrosso e Zeca Pagodinho. O “Documento da semana” traz Ronald Rios e a história de um lutador de boxe que recupera ex-drogados com o esporte, transformando vidas e construindo sonhos. O CQC vai ao ar às segundas-feiras, às 22h30, na Band.

VIVA
Série Game of thrones,  na HBO (TV paga). Imperdível!


VAIA
Doce de mãe (Globo) vai ao ar muito tarde. Uma pena.

As riquezas de Guimarães Rosa

NOSSA HISTÓRIA » As riquezas de Guimarães Rosa Museu em Cordisburgo, onde está acervo do expoente da literatura, completa 40 anos e mostra objetos pessoais, diplomas e as primeiras edições de suas obras, como Grande Sertão: Veredas


Gustavo Werneck
Estado de Minas: 19/04/2014




Museu fica em Cordisburgo, na Região Central, e é o melhor destino para quem quer saber sobre vida e obra do autor (Ronaldo Alves/Museu Casa/Divulgação)
Museu fica em Cordisburgo, na Região Central, e é o melhor destino para quem quer saber sobre vida e obra do autor

Quarentão cheio de histórias, dono de rico acervo e sempre de portas abertas para receber visitantes e homenagear a memória de um dos maiores expoentes da literatura nacional. O Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo, na Região Central, a 114 quilômetros de Belo Horizonte, completa quatro décadas como polo irradiador de cultura, difusor de educação patrimonial, enfim, destino certo para quem se interessa pela vida e obra do autor de Grande Sertão: Veredas e gosta de viajar pelas páginas de um bom livro. Para julho, está programada a Semana Roseana comemorativa, com exposição, palestras, mesa-redonda e outros eventos, diz Ronaldo Alves, coordenador do espaço vinculado à Superintendência de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado de Cultura.

Andar pelos cômodos do casarão da Avenida Padre João, onde nasceu João Guimarães Rosa (1908-1967), é descobrir mais sobre o mineiro que ganhou o mundo servindo como diplomata e com a obra traduzida para vários idiomas. À mostra, estão exemplares das primeiras edições de Sagarana, Corpo de baile, Tutaméia; e, claro, Grande Sertão: Veredas; a coleção de gravatas-borboleta, traço inconfundível do figurino do escritor; o terno; a cartola; o diploma que recebeu ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967, “três dias antes do seu falecimento”, destaca Ronaldo; e o mobiliário – guarda-roupa, mesa do escritório, cadeira de balanço. Não poderia faltar jamais a máquina de escreve e ela está lá.

Na casa do fim do século 19 onde Guimarães Rosa nasceu e que pertence, hoje, ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), há muito mais para se ver e curtir durante boas horas. Ficam à disposição dos visitantes cerca de 700 documentos textuais, dentre os quais se destacam registros pessoais (certidões, correspondências, discursos, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia, última obra publicada) e do trabalho como médico e diplomata, além de fragmentos do universo rural presente na literatura roseana.

Segundo Ronaldo, o museu recebeu ano passado aproximadamente 30 mil pessoas, sendo 90% estudantes. Nesse mundo ocupado agora por objetos, papéis e móveis, havia os aposentos da família (quartos da bisavó materna, dos pais e das irmãs, esse último transformado em escritório do museu), sala de jantar e alcova. Inaugurado em 30 de março de 1974, o museu foi concebido como centro de referência da vida e obra do escritor e idealizado no contexto de acontecimentos: a morte repentina dele e a criação do Iepha em setembro de 1971 para preservar o patrimônio cultural.

SEU FULÔ
Em 1984, quando completava 10 anos, o museu ganhou um acréscimo que traz a marca da infância de Guimarães: a reprodução da venda de secos e molhados do Seu Floduardo, conhecido como seu Fulô, incorporada definitivamente à exposição. Quatro anos depois, entrou em cena a Semana Roseana, parceria do museu com a Academia Cordisburguense de Letras João Guimarães Rosa, reunindo pesquisadores e estudiosos de universidades de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. O evento abrange diferentes atividades, como oficinas literárias, música, artes plásticas (desenho e xilogravura), fotografia, palestras, apresentações teatrais, lançamento de livros, feira de artesanato e shows musicais. Ocorre, ainda, a caminhada ecoliterária, no itinerário urbano e rural registrado na literatura: a antiga estação ferroviária, a casa da infância, a Capela de São José, fazendas e cidades vizinhas.

Uma surpresa está reservada para quem chega de perto ou de longe. Trata-se do Grupo de Contadores de Estórias Miguilim, composto por mais de 30 jovens entre 11 e 18 anos que recebem formação permanente em técnicas de narração e sobre a vida e obra de Guimarães Rosa. “Sempre quando as pessoas chegam ao museu, podem ser apenas duas ou um grupo grande, elas são recebidas com a leitura de trechos de livros”, afirma Ronaldo. Criado em 1995, com o objetivo de prestar acompanhamento e enriquecer as visitas ao Museu, o grupo ultrapassou as fronteiras institucionais e adquiriu expressão regional e nacional. Além do espaço do museu, a turma tem se apresentado em diferentes localidades de Minas e do país, em universidades, congressos, seminários, escolas e instituições culturais e filantrópicas.


Portal Grande Sertão tem figuras humanas em bronze e fica na Praça Miguilim (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 14/3/12)
Portal Grande Sertão tem figuras humanas em bronze e fica na Praça Miguilim



AMIGOS Nessa história, tem importância fundamental a Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, fundada em 1994. A entidade filantrópica reconhecida como de utilidade pública municipal e estadual é mantenedora da Biblioteca Pública Riobaldo e Diadorim e do grupos Contadores de Estórias Miguilim e Melhor Idade Estrelas do Sertão. A associação incentiva a participação da comunidade nas atividades do museu e apoia projetos e eventos que fortaleçam a cultura local.

Serviço
Museu Casa Guimarães Rosa
Aberto de terça-feira a domingo, das 9h às 17h – Entrada: R$ 2
Av. Padre João, 744 – Centro, Cordisburgo
Telefone: (31) 3715-1425


SAIBA MAIS:
CIDADÃO DO MUNDO



Contista, novelista, romancista e diplomata, João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo em 27 de junho de 1908 e era filho de Florduardo Pinto Rosa e Francisca Guimarães Rosa. Aos 10 anos, chegou a Belo Horizonte para estudar e se formou em 1930 na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Tornou-se, então, capitão médico, por concurso, da Força Pública do Estado. A estreia literária ocorreu em 1929, com a publicação, na revista O Cruzeiro, do conto “O mistério de Highmore Hall”. Em 1936, a coletânea de versos Magma recebe o Prêmio Academia Brasileira de Letras. Diplomata por concurso que realizara em 1934, o mineiro ilustre foi cônsul em Hamburgo (de 1938 a 1942), secretário de embaixada em Bogotá (de 1942 a 1944) e ocupou outros cargos de relevância. A publicação de Sagarana, em 1946, deu-lhe destaque nacional, o que foi reiterado pelas obras Grande sertão: Veredas, traduzido para vários idiomas, Corpo de baile e outras. Rosa morreu no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de novembro de 1967.


LINHA DO TEMPO

1974 – Em 30 de março, Museu Casa Guimarães Rosa, vinculado à Superintendência de Museus e Artes Visuais, é inaugurado em Cordisburgo

1984 –Museu Casa Guimarães Rosa é reinaugurado com a reconstituição da venda do seu Floduardo Rosa, pai do escritor

1988 –Academia Cordisburguense de Letras João Guimarães Rosa e Museu Casa Guimarães Rosa criam a Semana Roseana, que passa a ser realizada todos os anos

1994 – Em 3 de dezembro, é criada a Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, entidade mantenedora da Biblioteca Pública Riobaldo e Diadorim

1995 –Criado o Grupo de Contadores de Estórias Miguilim, considerado o maior projeto de sociocultural do museu. Mais 30 jovens entre 11 e 18 anos recebem formação permanente em técnicas de narração

2010 – Em junho, é inaugurado o Portal Grande Sertão. Fica na Praça Miguilim e se compõe de representações de figuras humanas esculpidas em bronze

2012 –Começa o projeto Rosa dos Tempos, Rosa dos Ventos, com nova exposição de longa duração e parceria com a Associação dos Amigos do Museu

Revolução - Eduardo Almeida Reis

Em verdade vos digo: duro é sair do Google e voltar ao texto que você estava escrevendo, porque o mundo high-class é muito divertido


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/04/2014


Pouquíssimas coisas mudaram tanto o mundo quanto o Google, onde você encontra fatos e fotos de divulgação inimaginável há 15 anos. Traições, testes de paternidade, ménage à trois a montões, coisas que a gente sabia muito por alto surgem agora impressas: um espanto! No reino das celebridades, então, o negócio é de horrorizar e “faz parte”. A senhora Narcisa Tamborindeguy, socialite, escritora e advogada nascida no RJ, diz que sem escândalo não é high. E o Collins diz que high é alto.

Entre as pessoas de high-class, de high-level, os escândalos repercutem no Google com detalhes que horrorizam, o que não quer dizer que inexistam nas classes menos favorecidas. Há programas de tevê especializados no assunto.

E o certo é que dei com este velho costado no Google digitando o apelido de conhecida socialite, que foi casada com um presidente deste país grande e bobo. Só agora fiquei sabendo que apanhava tanto de sua excelência que chegou a ficar surda de um ouvido. A dois ambos, depois disso, casaram-se uma porção de vezes e tiveram uma penca de filhos. Passa um pouco das dez da noite e hoje acordei às quatro e vinte da manhã. Vou dormir. Prometo retomar o assunto descansado, com toda a cautela do mundo.

Voltei para explicar que digitei o nome da socialite porque fui vizinho, na roça fluminense, do irmão dela e de um dos seus maridos. Uma vez no Google high-level, o próprio buscador leva o intrometido consulente aos outros casos e o xeretar faz que você leia o resto, mesmo que não conheça os envolvidos. Em verdade vos digo: duro é sair do Google e voltar ao texto que você estava escrevendo, porque o mundo high-class é muito divertido.


Injustiça
Município que faz divisas com Muquem do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos e Paratinga – Ibotirama, que em tupi significa flor promissora, de mbotyra (flor) e rama (promissor, futuro), teria tudo para se transformar em destino turístico internacional, não fosse a implicância da indústria do turismo mundial com os maravilhosos destinos brasileiros. Basta lembrar que a indústria, em sua implicância, considera Paris melhor destino turístico do que Belo Horizonte, e Florença melhor que Contagem.

As virtudes ibotiramenses não impediram, contudo, que a Justiça baiana cometesse tremenda injustiça ao condenar o senhor Paulo Alberto Magalhães a 12 anos de prisão, em regime fechado, pelo fato de enfiar 31 agulhas de costura no corpinho de um enteado de dois anos.

Paulo Alberto não negou o trabalho feito no corpo do enteado em 2009, mas disse que agiu por ordem do senhor Ogum. O senhor Ogum, como sabe o leitor, é orixá masculino estreitamente ligado a Exu, a quem mitos nigerianos atribuem a comunicação da metalurgia do ferro aos homens, com o que estes dominaram a natureza; manifesta-se na forma de um guerreiro.

Releva notar que Paulo Alberto, devoto de Ogum, teve o carinho de dopar o enteado com vinho para que o guri não sentisse dor ou incômodo durante o enfiar de cada agulha. Cumprindo ordens do orixá, o mínimo que se poderia esperar de uma Justiça realmente justa seria a condenação dos dois, de Ogum e do padrasto, aos 12 anos em regime fechado. É por essas e outras que a população brasileira anda fazendo justiça com as próprias mãos nos episódios que a imprensa resolveu chamar de barbárie.

No Oiapoque ao Chuí, pilhados em flagrante, ladrões, estupradores e homicidas vêm sendo amarrados aos postes e espancados neste ano da Copa das Copas, não raras vezes mortos a pontapés, socos ou golpes de lutas marciais.

Barbárie... concordo: qualidade, condição ou estado de bárbaro; barbarismo, selvageria. Mas cabe a pergunta: se o Estado nada faz, ou prende e solta em seguida, como devem proceder os bárbaros cidadãos que trabalham, pagam impostos e não cometem crimes, quando são roubados, estuprados e ameaçados de morte pelos bandidos?


O mundo é uma bola
19 de abril de 1506: massacre de judeus em Lisboa, também conhecido como Pogrom de Lisboa ou Matança da Páscoa. Uma multidão perseguiu, torturou e matou cerca de 3.000 judeus acusados de causarem a seca, a fome e a peste que assolavam o país. O pogrom aconteceu antes do início da Inquisição e nove anos depois da conversão forçada dos judeus em Portugal, em 1497, durante o reinado de Dom Manuel I, o Venturoso.

Expulsos em 1492 pelos reis católicos da Espanha, cerca de 90 mil judeus se refugiaram em Portugal, onde Manuel I se mostrou mais tolerante com eles. Pressionado pela Espanha, contudo, Portugal também exigiu que se convertessem a partir de 1497 para não serem mais humilhados e mortos em público.

Dia 19 de abril de 1506, um domingo, no Convento de São Domingos de Lisboa, quando os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste, alguém julgou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado, fenômeno que só poderia ser interpretado como milagre. Um cristão-novo, que participava da missa, tentou explicar que se tratava do reflexo de uma luz, mas foi calado e espancado pelos fiéis até morrer. O resto dá para imaginar. Hoje é o Dia do Exército Brasileiro e o Dia do Índio (no continente americano).


Ruminanças
 “Quem mata o tempo não é um assassino: é um suicida” (Millôr Fernandes, 1924-2012).