quarta-feira, 26 de março de 2014

BRUXAS, VEDETES E AREIA MOVEDIÇA - Artur Xexéo

O Globo 26/03/2014

‘Além do horizonte’ recuperou
para a ficção um dos maiores
perigos da Humanidade:
a areia movediça

Você já deve saber disso. O
assunto rendeu até a capa
da última “Revista da TV”.
Hermes, um dos vilões de
“Além do horizonte”, vai
morrer nesta semana. Foi o
jeito que os autores Carlos
Gregório e Marcos Bernstein
encontraram para liberar o ator Alexandre
Nero a tempo de ele se preparar para protagonizar
a próxima novela de Aguinaldo Silva. A
morte propriamente dita acontece no capítulo
de sexta-feira, mas começa de forma apoteótica
já no episódio de amanhã: Hermes é tragado
pela areia movediça.

“Além do horizonte” é uma obra controvertida.
Seus autores ousaram mexer em cânones
da novela das sete. Apostaram em aventura,
ação, violência e ficção científica num horário
tradicionalmente ocupado por comédias
românticas. Por mim, eles já estão consagrados
só por recuperar para a ficção um dos maiores
perigos da Humanidade: a areia movediça.
A areia movediça recebeu uma rápida homenagem
em 2008 quando Indiana Jones viveu
sua quarta aventura nas telas de cinema,
“Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”.
Mas não foi o bastante para reviver o medo
que ela provocava na minha geração. Ela parecia
abandonada de vez nos filmes de Tarzan,
Jim das Selvas ou qualquer outro dos anos
1950 ambientado em matas virgens. Agora,
sim. Como obstáculo para o mal na novela das
sete, a areia movediça tem tudo para voltar a
assustar crianças no século XXI.

Era um elemento tão presente na ficção cinematográfica
de meio século atrás que a gente
aprendeu até a se livrar dela. Não sei como
Hermes vai afundar na novela, mas se ele tivesse
visto os filmes que eu vi certamente saberia
escapar. Ao cair na areia movediça, a vítima
não deve se debater. Isso só fará com que ela
afunde mais. Ela precisa boiar e esperar ajuda.
Sei que há outras pessoas assombradas pela
areia movediça e que sempre se perguntam por
que ela foi abandonada pela ficção. João Bosco, o
cantor e compositor, é uma delas. No entanto,
nunca se dignou a compor em sua homenagem.
A areia movediça, enfim, voltou a existir pelas
mãos de Carlos Gregório e Marcos Bernstein. Só
por isso “Além do horizonte” já disse a que veio.
______

Tentando me lembrar da primeira vez em que
assisti a um espetáculo teatral, já disse aqui que este
teria sido “Maroquinhas Fru Fru”, no Teatro Tablado.
Mais recentemente, na época da morte de
Virginia Lane, cravei em “Coelhinho Teco-Teco”,
que a vedete do Brasil estrelava em matinês do Teatro
Follies. Agora, ao ler a notícia da nova estreia
do Tablado, tenho absoluta certeza: foi “A bruxinha
que era boa”. A peça de Maria Clara Machado
estava guardada nas tênues lembranças da minha
infância em Piquete. Não, Piquete não tinha atividade
teatral. De vez em quando, muito de vez em
quando, uma companhia mambembe passava
por ali e se apresentava no palco apertado do cinema
do cassino dos oficiais. Era tão mambembe
que dava para reconhecer no cenário parte da mobília
de casa. Não, “A bruxinha que era boa” não
esteve em cartaz em Piquete, mas na cidade próxima
mais desenvolvida, Lorena. Foi produção de
um grupo amador do qual fazia parte a Neusa,
uma prima que morava com a gente. Leio agora
que “A bruxinha que era boa” foi escrita por Maria
Clara Machado em 1958, mais ou menos a
mesma época dessa montagem amadora em
Lorena. Como é que chegou lá tão rapidamente?
Lembro-me também de, enfim, ter revisto a
peça numa montagem da TV Tupi, talvez no
“Teatrinho Trol”, também mais ou menos na
época, e fico de novo intrigado. Como é que
chegou tão rapidamente à televisão? Passado
tanto tempo, o que me intriga agora é perceber
como a peça foi pouco montada (depois da estreia
em 1958, o Tablado a remontou em 1999 e
só) e por que uma adaptação ainda não chegou
aos cinemas? Para entrar no gênero da moda,
por que ainda não virou um musical?


A boa notícia é que “A bruxinha que era boa”
está de novo em cartaz no Tablado. A direção é
de Cacá Mourthé, e o elenco é formado por Diana
Herzog, Clarice Sauma, Manuela Llerena,
Lilia Wodraschka, Carol Repetto, Joana Castro,
João Sant’anna, Ricardo Monteiro e Tom Karabachian.
É uma tarefa e tanto para um grupo
de novatos interpretar papéis que já foram de
Barbara Heliodora, Yan Michalski (na primeira
montagem), Guida Vianna, Débora Lamm e
Luís Carlos Tourinho (na segunda). “A bruxinha”
está em cena aos sábados e domingos às
17h. Eu vou ver de novo. Numa época em que
se discute todo tipo de inclusão, é mais do que
adequado prestar atenção em bruxas boas.
______
Os personagens já morreram. Talvez, por isso
mesmo, a lenda permaneça viva. Dizem
que, quando estourou como cantora de bossa
nova, Norma Bengell, até então apenas uma
vedete dos shows na boate Fred’s produzidos
por Carlos Machado, deu um ultimato ao chefe:
“A partir de agora, só canto vestida.” Machado
teria respondido de forma curta e grossa:
“Vestida, prefiro a Maysa.” Norma Bengell continuou
cantando no Fred’s.

MARTHA MEDEIROS - Um palco para todos

Zero Hora 26/03/2014

Viajar para o Exterior deixou de ser um acontecimento incomum. Na época em que ainda era, lembro que nós, turistas tupiniquins, ficávamos encantados com a quantidade de músicos tocando dentro das estações de metrô, de mímicos atuando em praças públicas, de pintores expondo seu trabalho a céu aberto. Era uma amostra viva do que chamávamos Primeiro Mundo.

A tendência se alastrou, globalizou – hoje acontece em toda parte, inclusive aqui. Mas ainda havia entraves para essas manifestações artísticas se darem de forma plena, por isso é de se comemorar a lei sancionada pela prefeitura que, a partir de agora, dispensa qualquer burocracia para que os sem gravadora, sem editora, sem marchand, sem patrocínio, enfim, os sem contrato possam expor seu talento nas ruas, parques e largos da cidade, afinando a relação da população com sua “casa”.

Infelizmente, quase já não saímos a pé. Os deslocamentos são feitos de carro, ônibus ou táxi, numa ligeireza que limita nossa comunhão com as alamedas, esquinas e recantos do nosso bairro. Focamos no endereço a se direcionar (o restaurante combinado com as amigas, a clínica médica onde temos consulta, o local de uma reunião de trabalho), porém mal observamos o que existe no percurso entre cá e lá. Pressa, medo de assalto, sedentarismo, costume – fatores não faltam para justificar a razão de cruzarmos avenidas sem olhar para os lados, sem considerarmos a cidade como uma área pulsante e que é atrativa por si só, por sua atmosfera, por seu espírito.

Porto Alegre tem poucas atrações turísticas se comparada com outras metrópoles. Não temos cartões-postais significativos, de reconhecimento nacional. É uma cidade básica, com uma festividade acanhada – onde a celebramos? No Brique da Redenção, certamente, que não deixa de ser uma manifestação de rua à sua maneira, assim como as feiras livres. Afora isso, ainda somos muito parcimoniosos.

Por isso, a convocação: poetas, equilibristas, sapateadores, guitarristas, fandangueiros, estátuas vivas, retratistas, declamadores, gaiteiros, violinistas, mágicos, cantores, malabaristas, tradicionalistas, humoristas, percursionistas, invadam esse palco chamado cidade (assim como fizeram os estudantes de artes cênicas que sexta passada realizaram uma performance numa das pontes da Avenida Ipiranga, aliando arte e conscientização ecológica).

A cidade também é uma rede social e interativa. Quanto a nós, que estejamos preparados para retribuir. Como? Parando para assistir, aplaudindo, incentivando, mantendo os vidros dos carros abertos – e a mão aberta também. Sejamos uma plateia atenciosa. Façamos essa troca em prol de uma cidade mais moderna e mais alegre não só no nome, mas de fato.

TeVê

TV PAGA » Quero ter a sua vida


Estado de Minas: 26/03/2014

 (Bob Mahoney/divulgação)


O Canal Universal exibe hoje, às 22h05, a comédia Eu queria ter a sua vida (foto), com Jason Bateman, Ryan Reynolds e Olivia Wilde. Dave é casado com Jamie e tem três filhos. Cuidar das crianças faz parte de suas atividades rotineiras, que incluem ainda dedicação intensa para a conclusão de uma fusão na empresa onde trabalha, o que pode torná-lo sócio. Mitch, ao contrário, é solteiro e trabalha como ator. Os dois se conhecem há muito tempo e, depois de sair juntos, começam a elogiar a vida do outro. E os dois acabam dizendo que gostariam de ter a vida do outro. O desejo se realiza, e a mente de Dave está no corpo de Mitch e vice-versa. A situação permite que eles conheçam novas realidades, ao mesmo tempo em que precisam encontrar uma forma para que as vidas de ambos não se transformem em uma completa loucura.

MUITA AVENTURA COM
WILL SMITH NA HBO

Em exibição às 22h, na HBO, Depois da Terra, filme de M. Night Shyamalan com Will e Jaden Smith. Na aventura com doses de ficção científica, os humanos abandonaram a Terra há 1 mil anos. O jovem Kitai e seu pai, o general Cypher Raige, caem em um planeta inóspito e Cypher acaba sendo ferido. Neste momento, Kitai mostra seu valor e enfrenta perigos inimagináveis.

FOX REPRISA RIO, DE
CARLOS SALDANHA

Rio 2, nova animação de Carlos Saldanha sobre as aventuras da ararinha-azul Blu, chega amanhã aos cinemas de todo o Brasil. De olho no lançamento, a Fox reprisa hoje, às 22h30, o primeiro filme, Rio (2011), sobre a saga de uma arara rara que foge de sua gaiola em uma pequena cidade de Minnesota e vai até o Rio.

TUDO PELA MOTO DOS
SONHOS, NO HISTORY

No episódio inédito da quarta temporada de Caçadores de relíquias, às 21h, no canal History, Mike e Frank vão para o Sul da Flórida e têm acesso ao enorme depósito de Bill. Mike se apaixona por uma moto Royal Pioneer centenária, mas se assusta com o preço. Mais tarde, os rapazes montam uma moto Chopper personalizada em cinco minutos. Só que o caso de amor de Mike com a moto Pioneer não lhe dá sossego até que ele resolve desembolsar a maior grana que já gastou.

COM LICENÇA,
ELAS VÃO À LUTA

Mulheres em luta conta a história de mulheres que lutaram contra a ditadura. Algumas delas passaram pelo Dops ou pelo Doi-Codi. Mas todas têm em comum o duro passado de torturas e violência na prisão. No episódio de estreia, às 21h, no GNT, a história de Rita Sipahi, de 79 anos. Advogada e conselheira da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Rita foi presa em 1971, no Rio de Janeiro, sob acusação de participação na criação de organização subversiva e levada para o Dops, onde passou por diversas sessões de tortura.

GRANDES PERSONAGENS
DE PEQUENA ESTATURA

O Nat Geo exibe às 21h30 novo episódio da série Tamanho não é documento, que mostra a vida de vários personagens. Entre eles está Charlie "Too Tall" West, o menor animador de rodeio do mundo. Por mais de 30 anos ele entretém multidões, sendo a última linha de defesa entre um caubói e um furioso touro de meia tonelada. Mas Charlie acaba de completar 50 anos e a aposentadoria é iminente. Outro personagem é Cale Kunick, que está perseguindo o sonho americano. Apesar de sua baixa estatura, ele trabalha todas as horas do dia como vendedor de seguros e agricultor.

CARAS E BOCAS » REFORÇO EM A LIGA
Estado de Minas: 26/03/2014



Mel Fronckowiak entra em atração da TV Bandeirantes   a partir da próxima temporada (Reprodução da internet: Sou Fã-17/9/13)
Mel Fronckowiak entra em atração da TV Bandeirantes a partir da próxima temporada


Com estreia da nova temporada marcada para abril, A liga, atração da TV Bandeirantes, contará com nova integrante. A atriz Mel Fronckowiak se juntará a Mariana Weickert, Thaíde e Cazé Peçanha. O programa de reportagens é um dos mais interessantes da emissora paulista e já teve em seu casting nomes como Tainá Müller, atriz que hoje vive Marina na novela Em família (Globo). Mel, inclusive, teria feito testes para o papel da fotógrafa homossexual e também chegou a ser cotada para atuar em Amor à vida como a personagem Natasha, que acabou ficando com Sophia Abrahão. Além de atriz, Mel, a namorada do ator Rodrigo Santoro, é escritora e lançou, no ano passado, o livro Inclassificável – Memórias da estrada, em que fala sobre momentos na turnê da banda que formava na novela Rebelde.
EXPOSIÇÃO DE SÉRIE
FAMOSA SÓ NO RIO

Games of Thrones – The exhibition, exposição internacional sobre a badalada série, que estreia quarta temporada simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil, em 6 de abril, na HBO (TV paga), chega ao Brasil e poderá ser vista no Rio de Janeiro, de 5 a 9 de abril, em um shopping na Barra da Tijuca. A mostra levará o público ao mundo medieval da série por meio de uma coleção que reúne aproximadamente 100 peças originais utilizadas em cenas emblemáticas das três primeiras temporadas, além de alguns itens da quarta, segundo anúncio da HBO Latin America. Os fãs também poderão ver o figurino de Oberyn Martell, um dos novos e mais esperados personagens da nova temporada, e desfrutar da experiência virtual Ascend, onde os visitantes poderão “andar” no elevador de Castle Black e subir até o topo da Muralha para observar toda a vista de Westeros. A experiência é inspirada na primeira jornada de Jon Snow (Kit Harington) ao alto da Muralha, exibida
no terceiro episódio da primeira temporada, denominado Lord Snow. Para informações sobre a exposição, acesse www.facebook.com/GameofThronesBR.

DOMINICAL GANHARÁ
NOVOS CONTORNOS

O Fantástico (Globo), ao que parece, passará por reformulação geral. Garantidos, por enquanto, só os apresentadores, Renata Vasconcellos e Tadeu Schmidt. O programa ganhará novos cenários e uma aproximação maior com o público por meio da revelação dos bastidores das reportagens, em que passará a ser explorado o passo a passo das matérias, desde a pauta até o momento em que são levadas ao ar. O humorista Paulo Gustavo deve ter quadro fixo na atração.

EM FAMÍLIA, SHIRLEY VAI
ATACAR MÚSICO DE NOVO

Verônica (Helena Ranaldi) que se prepare. Nos próximos capítulos de Em família (Globo), Shirley (Viviane Pasmanter) vai partir para cima de Laerte (Gabriel Braga Nunes) novamente e os dois por pouco não irão para a cama. Tudo começa quando ela descobre que o músico está sozinho, pois Verônica viajou para Goiânia. Ela, então, conseguirá que Laerte marque um jantar para os dois. Ela serve muita bebida para o flautista, que acaba embriagado. Shirley dá um jeito de afastar os filhos de casa e vai ao ataque. Ela questiona Laerte sobre a felicidade e quer saber como está a relação com Verônica. Ele diz que a pianista não tem a sua leveza e Shirley se encanta. Ela pede um beijo e ele atende seu pedido. O clima esquenta e ela quer mais. Laerte quase se rende. 


MAIS UMA CHANCE

Marcelo Adnet, que ainda não disse a que veio na Globo, vai comandar novo humorístico a partir de 10 de abril. O Tá no ar entrará em cena às quintas-feiras, depois de A grande família. Especula-se que seja inspirado no badalado TV pirata, dos anos 1980. O mundo das celebridades é o ponto de partida e Adnet dividirá o espaço com Marcius Melhem, Danton Mello, Georgiana Góes, Luana Martau, entre outros. Ao lado de Melhem, Adnet também assina o roteiro do programa, que será dirigido por Maurício Farias, o mesmo de Tapas & beijos. Marcelo Adnet estreou na Globo no seriado O dentista mascarado, um verdadeiro fiasco. Depois, passou a fazer um quadro no Fantástico durante a Copa das Confederações, em que comentava os jogos. Ainda na revista dos domingos, fez paródia de cantores em clipes. Mas, nada se comparou, ainda, ao que Marcelo Adnet fazia em seus tempos da extinta MTV. O humorista está devendo. 

VIVA

Cristiane Amorim, que interpreta Zefinha, uma das boas personagens de Joia rara (Globo). Ela é responsável por algumas das melhores cenas de humor da trama de Duca Rachid e Thelma Guedes.

VAIA

A demora para o novo envolvimento entre Helena (Júlia Lemmertz) e Laerte (Gabriel Braga Nunes) na trama de Em família (Globo). O primo, até agora, não mostrou estar interessado em sua antiga paixão.  

Frei Betto - O golpe‏

O golpe
Uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado

Frei Betto

Estado de Minas: 26/03/2014

São vivas minhas lembranças da quartelada de 1964. Desde 1962 eu trocara Belo Horizonte pelo Rio. Jânio Quadros, em agosto de 1961, havia renunciado à presidência da República. Jango, seu vice, tomou posse. O Brasil clamava por reformas de base: agrária, política, tributária etc. No Rio Grande do Sul, o deputado federal e ex-governador daquele estado, Leonel Brizola, cunhado de Jango, advertia sobre o perigo de um golpe de Estado.

Em Pernambuco, Miguel Arraes contrariava usineiros e latifundiários e imprimia a seu governo um caráter popular. Em Angicos (RN), Paulo Freire gestava sua pedagogia do oprimido. O Movimento de Educação de Base (MEB) dava os primeiros passos apoiado pela ala progressista da Igreja Católica. A União Nacional dos Estudantes (UNE) multiplicava, por todo o pais, os Centros Populares de Cultura (CPC).

Novo era o adjetivo que consubstanciava o Brasil: cinema novo; bossa nova; nova poesia; nova capital. A luta heroica dos vietnamitas, o êxito da Revolução Cubana (1959) e o fracasso dos EUA ao tentar invadir Cuba pela Baía dos Porcos (1961) inquietavam a Casa Branca. “A América para os americanos”, rezava a Doutrina Monroe. A maioria dos ianques não entende que está incluído no termo “América” todo o nosso Continente, mas só eles são considerados “americanos”.

Era preciso dar um basta à influência comunista, inclusive no Brasil. E tudo que não coincidia com os interesses dos EUA era tachado de “comunista”, até mesmo bispos como dom Hélder Câmara, que clamava por um mundo sem fome. Foi apelidado de “o bispo vermelho”.

Trouxeram dos EUA o padre Peyton, pároco de Hollywood. De rosário em mãos e bancado pela CIA, ele arrastava multidões nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Manipulava-se o sentimento religioso do povo brasileiro como caldo de cultura favorável à quartelada.

Em 13 de março de 1964, Jango promoveu um megacomício na Central do Brasil, no Rio, defronte o prédio do Ministério do Exército. Ali, ovacionado pela multidão, assinou os decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação, para fins de reforma agrária, de terras subutilizadas. As elites brasileiras entraram em pânico.

Em 31 de março, terça-feira, as tropas do general Olímpio Mourão Filho, oriundas de Minas, ocuparam os pontos estratégicos do Rio. Jango, após passar por Brasília e Porto Alegre, deposto da presidência, refugiou-se no Uruguai. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o comando do país e, pressionado pelos militares, convocou eleições indiretas. A 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu o marechal Castelo Branco presidente da República. Estava consolidado o golpe.

A máquina repressiva começou a funcionar a todo vapor: Inquéritos Policiais Militares (IPM) foram instalados em todo o país; a cassação de direitos políticos atingiu sindicalistas, deputados, senadores e governadores; uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado.

Os estudantes e alguns segmentos da esquerda histórica resistiram nas ruas do Brasil. Foram recebidos a bala. A reação da ditadura acuou seus opositores na única alternativa viável naquela conjuntura: a luta armada. Em dezembro de 1968, o governo militar assina o Ato Institucional nº 5, suprimindo o pouco de espaço democrático que ainda restava e legitimando a prisão, a tortura, o banimento, o sequestro e o assassinato de quem lhe fizesse oposição ou fosse simplesmente suspeito.

Muitos são os sinais de que se vivia sob uma ditadura. Esse foi insólito: há no centro do Rio uma região conhecida como Castelo. E, na Zona Norte, um bairro chamado Muda (porque, outrora, ali se trocavam as parelhas de cavalos que puxavam os bondes que ligavam a Tijuca ao Alto da Boa Vista). Em 1964, no letreiro de uma linha de ônibus carioca, a indicação: Muda-Castelo. Os milicos não gostaram: o marechal viera para ficar. Pressionada, a empresa inverteu o letreiro: Castelo-Muda. Ficou pior. Cancelaram a linha.

O corpo grita - Augusto Pio

O corpo grita 
 
Mal funcionamento de um órgão, uma agressão ou a somatização de fatos, tristezas e estresse podem desencadear dores diversas. Estudo indica a percepção dos brasileiros sobre o tema 
 
Augusto Pio
Estado de Minas: 26/03/2014


A dor pode ser entendida como um sintoma de que algo não está bem em nosso corpo ou e que está havendo alguma agressão potencialmente prejudicial. "É muito importante como fator de proteção, por exemplo, quando pisamos em uma pedra e retiramos o pé para não aumentar o ferimento. Também nos alerta no caso de uma doença, como quando temos uma dor torácica durante o infarto do miocárdio. Podemos classificar as dores por tempo de dor: agudas e crônicas; por intensidade: leve, moderada ou forte; e por fisiopatologia: somática e visceral (dores nociceptivas), neuropática, mista", explica a coordenadora da oncologia clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Maria del Pilar.

Segundo a International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para Estudos da Dor, na tradução da sigla em inglês), a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com danos reais ou potenciais em tecidos, ou percepcionada como dano. É importante ressaltar que a dor tem um grande impacto social, pois é debilitante e leva a diversos prejuízos sociais e econômicos. Uma pesquisa encomendada pela farmacêutica Mundipharma e aplicada pela empresa Cristina Panella Planejamento Pesquisa, de São Paulo, traçou um extenso mapa da dor nos brasileiros e revelou que as principais dores são as de cabeça, as abdominais e as dores musculares.

O levantamento mostrou também que a população que vive na Região Sudeste é a mais consciente sobre o tratamento da dor. Os 66% da população residente nessa região afirmaram ter uma lembrança recente do problema ou estar sentindo dor, e 74% garantiram que procuram um médico ao sentir o primeiro sintoma. Porém, esses dados contrastam com os de outras regiões, com a Sul e a Centro-Oeste, onde a porcentagem não passa dos 7% (de pessoas que procuraram médico ao sentir dor).

De acordo com Maria del Pilar, os dados da pesquisa demonstram como as pessoas da Região Sudeste estão mais conscientes da importância de buscar um médico logo no início de uma dor. "A dor aguda e não tratada pode levar a outras complicações clínicas, dificultar um diagnóstico de algo mais sério ou mesmo se tornar uma situação crônica, podendo afetar drasticamente a qualidade de vida do indivíduo", alerta. A médica salienta que o nível de detalhamento do estudo demonstra os problemas de percepção da população em algumas regiões.

A chefe de Serviço de Clínica Médica da Santa Casa de Belo Horizonte e professora de medicina da Unifenas, Télcia Vasconcelos Barros Magalhães, doutora em clínica médica, esclarece que a dor é um sinal de alerta que ajuda a proteger o corpo de danos maiores e é essencial à sobrevivência. "A sensação de dor origina-se na ativação de pequenos terminais nervosos localizados em vários tecidos corporais por estímulos térmicos, mecânicos ou químicos intensos. Se está ocorrendo algo, precisamos cuidar de nosso corpo", diz Télcia. Ela salienta que a dor é uma sensação subjetiva que só a própria pessoa pode definir e sentir. "Pode ser um problema de saúde e também está muito relacionada a experiências vividas pelo indivíduo, suas emoções, crenças, atitudes e valores. Por isso, o profissional médico é o mais credenciado para avaliar o paciente que vem se queixando de dor e fazer um diagnóstico do problema.”

Apesar de ser considerada bastante subjetiva, a dor pode ser medida seguindo várias escalas, conforme explica a oncologista Maria del Pilar, sendo uma delas a escala numérica, em que é dada uma nota de 0 a 10, na qual zero é sem dor e 10 a pior dor que o paciente pode sentir. "Sempre deve ser perguntado ao paciente que nota ele daria, pois, como o caráter da dor é subjetivo, só ele pode identificar corretamente o tipo de dor que o acomete."

TRATAMENTO PARA CADA CASO Para cada dor, um tratamento. Pelo menos é o que a medicina tenta resolver. "Hoje, com o avanço da ciência médica, temos condição de atender qualquer pessoa com problemas de dor. Mas, isso não é mágica; não é comprar aquele remédio que tal amigo usou e foi ótimo ou aquele novo maravilhoso de que se falou na TV. Para isso, o médico tem que consultar o paciente, fazer a anamnese e o exame clínico completos, pedir os exames necessários e depois analisá-los, refletir, pensar e estudar o caso do paciente, sabendo das suas dificuldades e ansiedades. Somente assim, com o diagnóstico certo, ele vai indicar o tratamento adequado para o paciente", esclarece a médica Télcia Magalhães.

A oncologista Maria del Pilar ressalta que para tratar a dor podem ser usados diversos medicamentos. "Há os analgésicos opioides e os não opioides, os anti-inflamatórios, medicamentos que chamamos de adjuvantes, anticonvulsivantes e antidepressivos, que têm ação em quadros de dor principalmente neuropáticas e, eventualmente, anestésicos. A fisioterapia e acupuntura também são tratamentos que compõem o arsenal para dar fim à dor. Em casos específicos, em que não houve um bom controle com essas estratégias, podem ser utilizados procedimentos cirúrgicos para o controle da dor. A abordagem psicológica também pode ajudar a controlar quadros de dor, particularmente em casos com maior tempo de doença", acrescenta Del Pilar.

DADOS DO ESTUDO

BRASILEIROS
» Mais de 80% dos brasileiros sentem dor de cabeça
» 34% sentem dores psicológicas
» 54% sentem dores abdominais
» 39% sentem dores musculares
» 72% sofrem de dores nas mãos e nos braços
» 64% sofrem de dores nas costas
» 6% lembram-se da dor, e ela é recente
» 70% dos entrevistados são sedentários
» A dor atrapalha a vida social de 46% dos entrevistados.

HOMENS
» 58% dos homens sofrem de dores psicológicas

MULHERES
» 61% das mulheres sofrem de dores musculares

Angústia, uma dor psicológica

O psiquiatra e psicanalista Norton Caldeira, ex-presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, explica que a dor psicológica é a angústia por excelência, que pode ser apresentada ao ser humano por uma falta, um vazio ou um trauma, ou seja, uma incapacidade de preencher ou resolver simbolicamente acontecimentos ou necessidades psicológicas tanto existenciais quanto experienciais. "As frustrações e impossibilidades também produzem dor psicológica, que podem ser remetidas ao corpo físico sob variadas formas: uma dor abdominal sem causa orgânica, uma dor óssea, dores musculares e articulares, dor crônica sem componente orgânico detectável", explica.

Ele salienta que doenças orgânicas, com dor ou não, principalmente de origem autoimune, podem ser deflagradas tendo como fator desencadeante um componente psicológico importante mesclado a outros fatores ambientais e fragilidades genéticas em potencial. "Como exemplo disso temos doenças de órgãos e sistêmicas como o lúpus, a esclerose mútipla, a artrite reumatoide, a colite ulcerativa, a diabetes tipo 1, a tireoidite e o próprio vitiligo.

Alterações no organismo como gastrites, diarreias e vômitos também podem ter seu componente psicológico e, nesses casos, ocorrem com uma frequência considerável. Essas alterações consideradas como psicossomáticas podem ocorrer em qualquer idade, no entanto a dor aguda ou crônica de origem psicológica é mais comum no adulto, sendo que no idoso ela pode ter outros componentes desconhecidos e decorrentes do envelhecimento."

O especialista reforça que os afetos, as emoções, os sentimentos, a ansiedade, o estresse psicológico e a imaginação ocorrem dentro do organismo e provocam mudanças no mesmo e, dependendo da intensidade, do tempo e da suscetibilidade, levam a somatizações diversas. "A dor física de origem psicológica pode ser diagnosticada quando no exame e na anamnese se revelam componentes psíquicos de natureza muito marcante e relacionados ao início do processo. Consequentemente, têm cura, e a descrição dos relatos existenciais somados à habilidade em escutá-los por um psicoterapeuta durante uma psicoterapia torna possível sua solução e mesmo sua cura definitiva", avalia. 

Cientistas e comissões dos países-membros da ONU se reúnem no Japão e divulgam prévia de relatório com algumas das consequência‏

Cenário para lá de pessimista 
 
Cientistas e comissões dos países-membros da ONU se reúnem no Japão e divulgam prévia de relatório com algumas das consequências previstas, causadas pelas mudanças climáticas 

Estado de Minas: 26/03/2014

Sul da Ásia é uma das regiões mais vulneráveis em relação às mudanças do clima, com várias populações expostas à fome, tempestades e seca extrema (ASIF HASSAN/AFP %u2013 9/9/10)
Sul da Ásia é uma das regiões mais vulneráveis em relação às mudanças do clima, com várias populações expostas à fome, tempestades e seca extrema

Lago Badovc, que abastece Pristina, capital do Kosovo, totalmente seco (Armend Nimani %u2013 22/1/14)
Lago Badovc, que abastece Pristina, capital do Kosovo, totalmente seco


Yokohama/Paris – Agravamento de fenômenos meteorológicos extremos, queda da sobrevivência de espécies animais e vegetais, modificação dos rendimentos agrícolas, evolução das doenças, deslocamento de populações: essas são algumas das consequências previstas, causadas pelas mudanças climáticas, que desestabilizarão os equilíbrios atuais. A advertência foi dada por especialistas reunidos em Yokohama, no Japão, para a reunião do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), organizado pela ONU. A abertura da reunião do IPCC, ontem, coincidiu com a publicação de um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) que alerta para o risco de poluição do ar, que em 2012 provocou a morte de 7 milhões de pessoas no mundo.

O cenário nada animador é o desenhado por cientistas de todo o mundo que compõem o IPCC, caso não sejam reduzidas as emissões de dióxido de carbono (CO2). Eles vão passar a semana debatendo vários dos estudos desenvolvidos em diversos centros de pesquisas e vão elaborar um relatório do próximo informe global para determinar políticas e orientar negociações nos próximos anos. Em 13 de abril, o IPCC divulgará, em Berlim, seu terceiro volume sobre estratégias para fazer frente às emissões de gases de efeito estufa. “Temos uma imagem mais clara do impacto e das consequências, inclusive as consequências para a segurança”, disse Chris Field, da americana Carnegie Institution, que chefia a pesquisa. Algumas repercussões transfronteiriças das mudanças climáticas – redução das zonas geladas do planeta, as fontes de água compartilhadas ou a migração dos bancos de peixes – “têm o potencial de aumentar a rivalidade entre os países”, diz o informe.

O rascunho desses debates veio a público ontem, seis meses depois do primeiro volume do V Relatório de Avaliação do IPCC, no qual os cientistas deixaram claro sua certeza irrefutável de que o aquecimento global tem a mão do homem. No informe era previsto um aumento das temperaturas entre 0,3 e 4,8 graus centígrados neste século, 0,7 grau Celsius acima da média desde a Revolução Industrial. O nível dos oceanos aumentará entre 26 centímetros e 82cm até 2100, segundo suas estimativas. De acordo com o novo documento, os danos serão disparados a cada grau adicional, embora seja difícil quantificá-los. Um aumento nas temperaturas de 2,5 graus com relação à era pré-industrial – meio grau Celsius a mais que a meta fixada pela ONU – reduzirá os ganhos mundiais anuais entre 0,2% e 2%, o que corresponde a centenas de bilhões de dólares. “É certo que as avaliações que podemos fazer atualmente ainda subestimam o impacto real da mudança climática futura”, disse Jacob Schewe, do Instituto Postdam para a pesquisa das Mudanças Climáticas na Alemanha, que não participou da elaboração do rascunho do IPCC.

AR SUJO MATA 7 MILHÕES Enquanto os cientistas divulgam dados do IPCC, a OMS publicou ontem um estudo mostrando que a poluição do ar mata cerca de 7 milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. A organização destacou que a poluição do ar é a causa de uma em cada oito mortes e se tornou agora o maior risco ambiental à saúde dos seres humanos. Um dos principais riscos desse tipo de poluição é de que pequenas partículas se infiltrem nos pulmões, causando irritação, e também prejudiquem o coração, causando problemas crônicos ou ataques cardíacos. A OMS estimou que ocorreram cerca de 4 milhões de mortes em 2012 causadas por poluição do ar em ambientes fechados, a maioria de pessoas que cozinham dentro de casa usando fogões a lenha e carvão na Ásia. O relatório apontou ainda níveis maiores de exposição em mulheres do que homens em países em desenvolvimento. “Mulheres e crianças pobres pagam um preço alto por poluição dentro de ambientes fechados, já que passam mais tempo em casa respirando fumaça e fuligem de fogões a lenha e carvão com vazamentos”, disse Flávia Bustreo, diretora-geral adjunta da OMS para saúde de famílias, mulheres e crianças, em comunicado.

PERIGOS

Dados do rascunho
divulgado ontem do IPCC

» INUNDAÇÕES
As emissões crescentes de gases de efeito estufa aumentarão "significativamente" o risco de inundações, às quais Europa e Ásia estarão particularmente expostas. Se confirmado o aumento extremo de temperaturas, três vezes mais pessoas ficarão expostas a inundações devastadoras.

»SECA
A cada 1º adicional na temperatura, outros 7% da população mundial terão reduzidas em um quinto as fontes de água renováveis.

»AUMENTO DO NÍVEL DOS MARES
Se nada for feito, em 2100 "centenas de milhões" de habitantes das regiões costeiras serão levados a se deslocar. Os pequenos países insulares do leste, sudeste e sul da Ásia verão suas terras reduzidas.

»FOME
Os cultivos de trigo, arroz e milho perderão em média 2% por década, enquanto a demanda de cultivos aumentará 14% em 2050, devido ao aumento da população mundial. Os mais prejudicados serão os países tropicais mais pobres.

»DESAPARECIMENTO
DAS ESPÉCIES
Grande parte das espécies terrestres e de água doce correrá risco de extinção, pois as mudanças climáticas destruirão seu hábitat. 

O abortamento de repetição - Marco Melo

Estado de Minas: 26/03/2014



Os três primeiros meses da gestação, normalmente, são os mais delicados. Uma preocupação constante nesse período é o risco de abortamento. Cerca de 15% a 25% das gestações evoluem para a interrupção espontânea, antes de completar 22 semanas. Uma parte das mulheres ainda convive com outra situação ainda mais angustiante: abortamento por diversas vezes. Recentemente, a Sociedade Americana de Reprodução Assistida divulgou novas condutas médicas para serem adotadas em casos conhecidos como abortamento de repetição, visando orientar especialistas na investigação do problema.

A principal causa de perdas gestacionais são as alterações cromossômicas dos embriões que não são compatíveis com a evolução natural da gestação, ou seja, não geram vida. O abortamento de repetição pode ser definido como a ocorrência de três ou mais perdas gestacionais, antes de 20 semanas consecutivas. A incidência é de 1% a 2%, entre as mulheres na idade fértil. Entretanto, com duas perdas consecutivas, a procura por um especialista já é indicada para iniciar uma investigação para descobrir a causa.

Os dados interessantes são as probabilidades envolvidas no problema. Depois da ocorrência de dois ou três abortamentos, a paciente apresenta 30% de chance de ocorrência de uma nova perda gestacional. Cerca de 85% dos casos ficam sem diagnóstico na investigação das possíveis causas. Se isso é desalentador, pelo menos pode-se dizer que há 70% de chance de uma nova gestação evoluir bem nos casos sem causa definida. Nós, médicos, acompanhamos essa realidade, e sabemos o quão angustiante é esse quadro clínico para o casal. As incertezas são muitas e existe uma grande divergência entre os especialistas sobre quais exames solicitar e como tratar a doença.

A grande novidade, gerada pelos estudos mais recentes sobre o abortamento de repetição, está nas possíveis origens. Baseado em trabalhos científicos, hoje, consideram-se apenas duas doenças, sendo uma delas a de causas genéticas, que são alterações genéticas e cromossômicas dos embriões, e que representam até 68% dos casos. A outra é a síndrome anticorpo antifosfolípide, que aumenta a probabilidade de formação de trombose e coágulos na circulação da placenta, reduzindo a chegada de sangue ao feto, provocando sua morte. O problema representa entre 10% e 15% das causas de abortamento de repetição.

Outros problemas que podem estar relacionados são as alterações do útero, como miomas; trombofilias congênitas, propensão a desenvolver trombose por anomalia no sistema de coagulação; problemas endócrinos, infecciosos e autoimunes, pouco prováveis.

O estudo gerou um impacto grande na rotina do médico especialista que trabalha com essa situação. Antes, solicitavam-se numerosos exames e prescrevia-se medicação, sem a comprovação de efeitos benéficos à paciente, fatos que encareciam os tratamentos e expunham as pacientes a medicações desnecessárias. Por meio dessa nova orientação, será possível direcionar melhor os exames para diagnóstico e avaliação de tratamento.