quinta-feira, 20 de março de 2014

Fusão editorial une Objetiva e Cia das Letras

O Globo 20/03/2014

Penguin Random House, líder mundial no setor, compra selos do grupo espanhol Santillana por € 72 milhões

ANDRÉ MIRANDA
andre.miranda@oglobo.com.br
MAURÍCIO MEIRELES
mauricio.meireles@oglobo.com.br

A onda de fusões de grandes editoras
do mundo tem mais um capítulo, e
mais uma vez com reflexos no Brasil. O
conglomerado editorial Penguin Random
House, o maior do mundo, anunciou
ontem a compra de selos e editoras
do grupo espanhol Santillana, em
uma transação fechada por € 72 milhões.
É um negócio que repercute em
todo o mercado livreiro de língua espanhola
e que, no Brasil, promoverá a
união de duas das maiores casas editoriais
do país: a Companhia das Letras,
que já fazia parte da Penguin desde
2011, e a Objetiva, cujo sócio majoritário
era a Santillana desde 2005. Juntas,
elas serão a terceira maior editora brasileira
em vendas para livrarias, com
6% do mercado, atrás do Grupo Editorial
Record e da Sextante.

A aquisição dos selos da Santillana pela
Penguin Random House se restringe
ao segmento de obras gerais — do qual a
Objetiva faz parte, assim como Alfaguara
e Suma de Letras. O segmento de livros
didáticos, que representou 87% das vendas
do grupo espanhol em 2013 e cujo
braço no Brasil é a editora Moderna,
continua sob controle da Santillana.

O fundador da Objetiva, Roberto Feith,
vendeu a participação de 24% que ainda
detinha na empresa para a Penguin Random
House, mas vai manter seu cargo de
diretor editorial. A Companhia das Letras,
por sua vez, não terá sua composição
acionária afetada pelo negócio: o
fundador e diretor-geral, Luiz Schwarcz,
permanece com seus 55% da editora.
Schwarcz também será o representante
da Penguin Random House Brasil, empresa
que acaba de ser formada com o anúncio
da aquisição.

Mas a intenção das editoras brasileiras,
de acordo com Schwarcz e Feith, é
que elas sigam como empresas diferentes,
com catálogos próprios.

— Foi uma história cheia de idas e
vindas. Em dado momento da negociação
com a Santillana, a Penguin Random
House cogitou até não incluir a
operação brasileira — afirma Luiz
Schwarcz. — Mas os catálogos seguem
independentes. A Objetiva continua
com sede no Rio, e a Companhia das
Letras, em São Paulo.

A história se complicou quando a Penguin,
que já era sócia da Companhia das
Letras desde dezembro de 2011, se fundiu
com a Random House, numa negociação
encerrada no meio do ano passado.

— A Random House já negociava
comprar a Santillana desde 2012, antes
mesmo de se fundir com a Penguin.
Naquela ocasião, surgiu a tese de comprarem
a minha parte da Objetiva, e me
perguntaram se eu venderia. Eu disse
que sim, porque achava uma oportunidade
boa para a editora — diz Feith.

Com a união de Companhia das Letras
e Objetiva, a empresa carioca deve
passar a agenciar autores brasileiros no
mercado internacional — trabalho que
a paulista já faz há alguns anos. Além
disso, as duas terão acesso privilegiado
aos originais de autores agenciados pela
Penguin Random House.

— Sempre gostei de vender nossos
autores para fora. Fiz isso com Rubem
Fonseca, Moacyr Scliar e outros. Não
via como um negócio, mas agora encaramos
assim. O departamento de direitos
da Penguin é muito importante para
o faturamento da editora. E um dia
também será para Objetiva e Companhia
das Letras — diz Schwarcz.

A transação também pode levar a
uma aproximação das áreas comercial
e de distribuição de Objetiva e Companhia
das Letras, que passariam a ter
mais força para negociação com pontos
de venda e uma dinâmica maior para a
distribuição de seus livros. Outra mudança
que deve ser percebida nos próximos
anos é o fortalecimento de um
movimento que já vinha se desenhando
nas duas editoras, de maiores apostas
em obras de caráter mais comercial.

— No âmbito internacional, as grandes
editoras vão perceber que precisam
de uma estratégia de participação global.
Já no Brasil, Ediouro, Record, Rocco
e outras tendem a perder terreno se também
não se consolidarem ou encontrarem
um parceiro internacional — afirma
o economista Carlo Carrenho, criador
do Publishnews, boletim de notícias do
mercado editorial brasileiro.


PRESENÇA FORTE NA AMÉRICA LATINA

Hoje o mercado editorial mundial é
concentrado em cinco grandes grupos.
Além da Penguin Random House, o
maior deles, há Hachette, Simon and
Schuster, Harper Collins e Macmillan.
Para Carrenho, na esteira do que aconteceu
com Santillana e Penguin, outros
grupos internacionais podem chegar
ao mercado brasileiro. Casos recentes
foram o da editora portuguesa Leya,
que chegou ao Brasil em 2009 e, este
mês, adquiriu o controle completo da
carioca Casa da Palavra; e da espanhola
Planeta, que chegou ao Brasil em 2003.

O negócio anunciado ontem consolida
a Penguin Random House como líder no
mercado de língua espanhola. A empresa
já havia adquirido, no ano passado, o
controle total da Random House Mondadori,
joint venture formada em 2001 entre
a editora americana e a italiana Arnoldo
Mondadori, que tem forte presença nos
países latinos e que tinha como uma de
suas maiores concorrentes justamente a
Alfaguara.

— A Alfaguara tem um prestígio muito
grande, e essa aquisição vai fortalecer
muito a presença da Penguin Random
House na América Latina — afirma
Felipe Lindoso, consultor de políticas
de livro e leitura.

Marina Colasanti - Dentro das leis de mercado‏

Dentro das leis de mercado 
 
Marina Colasanti
Estado de Minas: 20/03/2014




Mais de 400 PMs, além das tropas do Bope e do Choque, partiram para retomar o Alemão depois dos ataques às UPPs.

Toda vez que chego do Galeão ou da montanha, olho à minha direita aquela massa de moradias que se estende a perder de vista por cima de morros e vales, compacta, sem uma pausa de verde, sem um ponto de respiro, parede contra parede, tudo no osso, tijolo e carne à mostra, e me pergunto como se deixou isso acontecer, e como se administra.
Falo de coisas que pouco sei, mas vejo homens armados avançando, e enterros, e carcaças de ônibus incendiados. E sei que isso me diz respeito. Tateio, pois, com cuidado.

O consumo de cocaína aumentou brutalmente no Brasil. Consumimos hoje quatro vezes mais do que a média mundial. É uma tremenda demanda. E pelas leis de mercado, toda vez que existe uma demanda muitos se apresentam para atendê-la, disputando as fatias da torta.

Nenhum grande mercado, hoje, é apenas nacional. No caso da cocaína, importamos a matéria-prima, ou pasta, processamos uma parte para consumo interno, a outra exportamos. Está aí armada – a palavra vem a calhar – uma multinacional. O dinheiro resultante disso tudo é, para mim, inimaginável.

Pensando do ponto de vista empresarial, se há produto e se há demanda tem que haver pontos de venda. Quanto mais, melhor. O jogo do bicho, por exemplo, sabe disso muito bem: por qualquer lado que eu saia da minha casa em Ipanema, sou levada a passar por um ponto, espécie de escritório móvel, em que um funcionário sentado em cadeira ou banquinho atua de forma visível na calçada.

Os pontos de venda de tóxicos sempre funcionaram nas comunidades. Lembro-me de que quando amamentava minha filha mais jovem, acordando de três em três horas, via pela janela o movimento com que, a noite inteira, usuários eram atendidos no sopé do Pavão/Pavãozinho. O comércio do ilícito atua com eficiência, porém não com a maciez de um shopping center. E, correndo por fora da lei, essa eficiência só se mantém graças ao estabelecimento de outro código.

É onde mora o desastre.

Agora os policiais invadem o Alemão para, proteger os habitantes. Fecham-se os pontos de venda. Os funcionários e responsáveis pelos pontos tentam resistir, depois emigram. Um clima civilizatório pousa sobre o Alemão.

Mas nas festas, nos escritórios, nos banheiros, nas casas, fileiras de pó branco continuam sendo estendidas sobre superfícies polidas e cheiradas através de canudinhos de papel. Como se os usuários não tomassem conhecimento ou não tivessem nada a ver com o que acontece do outro lado, a demanda continua inalterada. Ou, certamente, aumentando.

Nisso tudo, o tráfico acaba sendo bom de marketing. O espaço que ocupa na mídia é grandioso. Contam a favor da sua imagem de poder as notícias e fotos de comércio fechado por sua ordem nas comunidades, cenas de protesto contra mortes por bala perdida, divulgação de enterro de policiais assassinados, e até mesmo o noticiário da força militar necessária para enfrentá-lo.

Não vejo espaço equivalente sendo ocupado por campanhas ou ações contra o consumo. Pelo contrário, tudo nos diz que as drogas continuam na crista da moda.

Com a demanda a mil, é impossível acabar com o fornecimento. Conseguiremos, se tanto, obrigar mudança de pouso para pontos de venda.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 20/03/2014



 (TV Bandeirantes/Divulgação)

NOVA TEMPORADA


Estreia às 22h30 a nona temporada de Bones (foto). A equipe do Jeffersonian investiga o assassinato de Jason Siedel, um contador do Departamento de Estado cujos restos mortais foram encontrados no ar-condicionado de um hotel. Quando Booth encontra seu ex-colega de Exército e agente da CIA Danny Beck limpando as evidências no apartamento da vítima, ele começa a perceber que o assassinato de Siedel pode ter mais suspeitos do que ele imaginava. Booth também procura Aldo Clemens, seu amigo e ex-padre da época em que eram militares, em busca de conselhos sobre seu relacionamento com Brennan.

FILME SOBRE CORUJAS
GUERREIRAS NO ÁRTICO


Estreia às 17h no +Globosat o documentário Corujas – Rainha do Norte. A luta pela sobrevivência de um casal de corujas brancas para criar seus filhotes no Círculo Polar Ártico é a trama do programa inédito. Elas enfrentam ursos-polares, milhões de mosquitos e até atravessam a nado o Rio Tundra. O diretor Matt Hamilton e o cinegrafista Michael Male passam por diversos desafios para encontrar um casal dessa espécie, como viajar sobre o mar por geleiras derretendo no curto verão do Ártico.

CANTORA TIÊ ESTARÁ
NO ZOOMBIDO DE HOJE


A cantora Tiê é a convidada de Paulinho Moska no programa Zoombido, que está em sua oitava temporada. Na entrevista, ela fala sobre suas referências musicais, do medo da composição no início de carreira e ainda canta Passarinho, Pra alegrar meu dia e Sweet jardim. Às 21h30, no Canal Brasil.

INFLUÊNCIAS DE MARCEL
CAMUS MUNDO AFORA


O documentário Living with Camus será apresentado às 23h, no canal Curta!. Albert Camus é hoje o escritor francês do século 20 mais lido ao redor do mundo e esse programa vai em busca de seus leitores apaixonados. Os admiradores de Camus formam uma grande comunidade, que ultrapassa fronteiras. Um grupo animado e improvável, como cantores de rock, um padre bretão, um abolicionista americano, um procurador de Chicago, um calígrafo japonês e uma dançarina de Yaoundé.

O TEMPERO DE
RODRIGO HILBERT


No Tempero de família, às 22h30, no GNT, Rodrigo Hilbert mostra que é um cozinheiro de mão cheia e compartilha as receitas que aprendeu com a mãe e a avó no interior de Santa Catarina, onde nasceu. Nesta semana, recebe amigos para uma partida de futebol, em mais um típico domingo em sua fazenda. No cardápio, uma churrascada completa feita no fogo de chão, tradição típica do Sul. De sobremesa, banana na brasa com sorvete de creme.

KEVIN COSTNER NUM
MUNDO CHEIO DE ÁGUA


Waterworld – O segredo das águas, filme dirigido e estrelado por Kevin Costner, vai ao ar às 16h40 no canal Universal. Em um futuro em que o gelo polar derreteu e a maior parte da Terra está abaixo d’água, um marinheiro mutante combate a fome e os fumantes fora da lei e, contra sua vontade, ajuda uma mulher e uma garota a encontrarem terra seca.



CARAS & BOCAS » Atração fatal
Simone Castro

Helena (Júlia Lemmertz) não resistirá à paixão e vai transar com Laerte (Gabriel Braga Nunes) (Paulo Belote/TV Globo)
Helena (Júlia Lemmertz) não resistirá à paixão e vai transar com Laerte (Gabriel Braga Nunes)

Nos próximos capítulos de Em família (Globo), Helena (Júlia Lemmertz) não conseguirá mais esconder o amor que sente por Laerte (Gabriel Braga Nunes). E ele, já envolvido em um romance com Luiza (Bruna Marquezine), filha da protagonista, não conseguirá tirar a antiga noiva do pensamento. Resultado: eles terão uma recaída e transarão na sala da casa em que ela vive com o marido, Virgílio (Humberto Martins), desafeto do músico. Tudo começa quando os primos se encontram na casa dela. Laerte vai atrás de Luiza. Revoltada, Helena o ataca e o acusa de tentar destruir a vida dela. De repente, eles estão se beijando e, sem conter a atração, entregam-se ao sentimento que os persegue há mais de 20 anos. A partir daí, Helena começará a disputa com a filha pelo amor do homem que nunca esqueceu.

IRMÃ DE MÉDICO VOLTA
EM EPISÓDIOS DE SÉRIE


A atriz Caterina Scorsone voltará a encarnar a neurocirurgiã Amelia Shepherd, irmã de Derek (Patrick Dempsey), nos episódios da 10ª temporada da série Grey's anatomy, segundo o site TV guide. A personagem deixou a série em temporadas passadas e migrou para o elenco de Private practice, que já terminou. No Brasil, a série é exibida no canal Sony (TV paga).

MULHER TOMA DECISÃO
EXTREMA EM NOVELA


Ainda na trama de Em família (Globo), as cenas envolvendo a personagem Juliana (Vanessa Gerbelli) prometem. Abalada emocionalmente – ela até raptou uma criança – e sem medir esforços para ter a pequena de Bia (Bruna Faria), a tia de Helena (Júlia Lemmertz) tomará uma decisão extrema: vai se casar com Jairo (Marcello Melo Jr.), pai da criança. Para tanto, realizará um jogo de sedução com o malandro e eles acabarão "ficando". Ela proporá que ele e a filha se mudem para a sua casa. Esperto, ele quer mais. E dirá que só casando. E Juliana, claro, topará na hora.

CARNAVAL VAI EMBALAR
ATRAÇÃO DE HORROR


A nova temporada de American horror story vai voltar à cena em ritmo de folia. Segundo a Variety, o escritor Douglas Petrie revelou, sem querer, pois os episódios estão cercados de sigilo, que a trama poderá se passar durante o carnaval. "Ainda não temos um título, mas a ideia é mais ou menos essa", ele teria dito sem entrar em mais detalhes. No Brasil, a série é transmitida pela Fox (TV paga).

HUMOR GARANTIDO

Uma ausência foi sentida no lançamento, anteontem, no Rio, da terceira temporada da série Pé na cova (Globo): Marília Pêra não vai participar, pois terá que fazer um tratamento de saúde. Uma decepção, sem dúvida, para os fãs da maravilhosa personagem Darlene, que ela interpreta no programa de Miguel Falabella. Ele deixou claro que se a atriz se recuperar a tempo, tem retorno garantido. Miguel falou sobre as novidades da temporada e apresentou os jovens atores que entram no elenco para interpretar os personagens na juventude e que aparecerão logo no primeiro episódio, em cenas de flashback. "O Ruço (vivido por Falabella) viverá a histeria da juventude eterna. Tudo começa quando um amigo, que regula em idade com ele, morre. Aí, ele percebe que também está ficando velho", adianta. Também estará presente na temporada o ator Diogo Vilela, um médico especialista em tudo. A estreia será em 8 de abril.

VIVA
CQC (Band) voltou com tudo na estreia da temporada 2014. E na bancada, Dani Calabresa já mostrou a que veio.

VAIA
Volpina (Paula Burlamaqui) e Arlindo (Marcos Caruso) em Joia rara (Globo): namorico só para encher linguiça. 

Tereza Cruvinel - Lorotas da planície‏

Tereza Cruvinel - Lorotas da planície
 
Esta semana, o governo recuou de três posições que antes adotou como dogmas. Um sinal de que a presidente começa a compreender melhor a natureza da relação com o Congresso

 

Estado de Minas: 20/03/2014


O que há de verdade nas informações difusas sobre a possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser vice de Dilma e Fernando Henrique vice de Aécio Neves? Se tal cenário se realizasse, a polarização PT-PSDB, que há 20 anos marca a política brasileira, teria chegado a seu estado mais cru, com os dois ex-presidentes duelando em favor de seus projetos políticos, relegando aos candidatos o papel de coadjuvantes, o que para eles, seria péssimo. E por que razão figuras que já ocuparam o mais alto posto da República, e hoje desfrutam de confortáveis cadeiras no barco da história, iriam agora se jogar ao mar, entrando numa luta renhida para ocupar um lugar menor, quase decorativo? E por que tanto Dilma quanto Aécio aceitariam tal situação que os diminuiria, como se precisassem de fiadores, muletas ou tutores? Não ficaria bem para ninguém.

No entorno de Lula, a ideia é considerada esdrúxula. Mas sabe-se como ela surgiu. Na semana passada, no auge da crise com o PMDB, alguns petistas deram uma resposta desaforada: se vocês quiserem mesmo romper, vamos lançar uma bomba atômica, a imbatível chapa Dilma-Lula. O desaforo começou a ser repetido e virou notícia. Os mais próximos de Lula recomendam que não se aposte um centavo nessa hipótese. O papel que ele vai cumprir, novamente, é o de grande cabo eleitoral e fiador da reeleição de Dilma. Fará todo o esforço para que ela ganhe no primeiro turno, ciente de que vencer no segundo dará mais trabalho. A recomposição com Eduardo Campos no segundo turno foi descartada pelos eventos recentes: ele marchou rapidamente demais para a oposição e o PT passou a tratá-lo como adversário. Se não chegar ao segundo turno, apoiará Aécio. Se chegar, terá o apoio tucano. Mas, diziam ontem auxiliares de Lula, ele não disse o nome de Eduardo, que foi seu ministro e que pensou em apoiar como candidato a presidente em 2018, quando falou dos perigos de uma candidatura que surja do nada, correndo por fora como Collor em 1989. Mas, neste momento, não há nenhum outsider na disputa.

No círculo mais próximo de Aécio, não se ouve nada diferente. Apenas o adjetivo para a ideia passa de esdrúxula para estapafúrdia. Lembra o dirigente tucano, reservadamente, que o recurso a FHC como vice seria algo desastroso para Aécio. Não pela imagem de Fernando Henrique, que teria de fato passado por importante reabilitação, mas pela de Aécio, que seria visto como um candidato tutelado. Ademais, Fernando Henrique estaria descendo do olimpo em que convive com importantes estadistas mundiais para uma refrega na planície que só o diminuiria. Mas, criada a lenda, Aécio teve que dizer que se sentiria honrado, e o próprio FHC também não pôde desqualificar a ideia que, além de tudo, expressa uma descortesia para com o DEM e o Solidariedade, aliados com os quais Aécio vem tratando de consolidar a aliança.

Recuar é fazer política

Esta semana, em três pontos que antes considerava inegociáveis com o Congresso, o governo deu meia-volta, volver. Aceitou recompor, por meio de algum projeto complementar, a lei sobre a criação de municípios, vetada pela presidente Dilma. Depois de ter proclamado a tática de isolar o líder rebelde Eduardo Cunha, do PMDB, ministros o chamaram para negociar o Marco Civil da Internet, quebrando o gelo para a reaproximação com a bancada. E, por fim, o governo cedeu num ponto do Marco Civil que também era tido como intocável: a armazenagem dos dados de comunicações de brasileiros em datacenters instalados no próprio país. Para a questão da neutralidade de rede, chegaram a uma fórmula ainda pouco clara de regulamentação, assegurando a votação na semana que vem. Cada um deve ter cedido um pouco: governo, PMDB e teles.

Esses movimentos indicam não exatamente uma capitulação, mas a maior compreensão da presidente sobre a natureza das relações com o Congresso, que não é um ministério, mas um outro Poder. Em tal relação, governos que adotam postura impositiva acabam sempre pagando um preço alto. Não importa se seus integrantes são santos ou demônios. Foram postos lá pelo povo, e nessa condição são negociadores legítimos, goste-se ou não. Menos mal para Dilma, que na semana passada teve uma mostra dos efeitos nefastos da queda de braço.

Memória do golpe: a vingança

Seguindo com nossa minissérie de notas sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964, o ato formal da ruptura institucional representou uma das mais calculadas, ferinas, sofisticadas, porém malignas vinganças da história política brasileira. Os golpistas já haviam dominado a situação militar quando o presidente João Goulart, na noite de 1º de abril, voou para Porto Alegre onde Brizola e o general Ladário Telles, comandante do II Exército, o chamavam para resistir. Ele ainda voava quando o senador Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso, embora informado do deslocamento por Darcy Ribeiro, chefe do Gabinete Civil, declarou vaga a Presidência da República e empossou o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli.

Auro se vingava com requinte. Em 1961, ainda sob o parlamentarismo, Jango o convidara para ser primeiro ministro, mas exigira uma carta de renúncia não datada. Se eles tivessem divergências graves, o presidente poderia demiti-lo divulgando a carta de renúncia. Logo depois de nomeado, Auro divergiu de Jango sobre a formação do ministério. Foi surpreendido pela notícia de que pediu demissão. Jango o demitiu divulgando a carta. No golpe, ele o demitiu, e com isso abriu as portas para a ditadura.

Canseiras virtuais - Anna Marina

Canseiras virtuais
Anna Marina
Estado de Minas: 20/03/2014


 (Son Salvador)

Outro dia, li uma entrevista antiga do ex-banqueiro Aloysio Faria, um dos homens mais ricos do Brasil e discreto benemérito em questões de saúde (está bancando a construção de novo Hospital Sírio Libanês no interior de São Paulo). Ele dizia que não se liga muito a essa mania de internet, nem pensar em redes sociais. É claro que é impensável que ele tenha Facebook, que até nossa "presidenta" tem. Feliz é ele, porque à medida que um computador é auxiliar e tanto em nossas tarefas diárias no jornalismo, é também verdadeiro suplício a montoeira de spam que chega diariamente. Gente sem o que fazer, que acredita que de tanto mandar uma mensagem ela acaba colando.

Recebo há semanas, diariamente, uma que fala em ejaculação precoce. Nem que eu fosse homem mereceria essa constância. Como nunca abri o e-mail para ler o que conta, não posso saber, nem de longe, o que é mesmo que oferece. Deve ser um verdadeiro milagre, alguém duvida? Outra mensagem constante é de uma pessoa que oferece uma mágica para ganhar dinheiro sem fazer nada, nessas lotecas da vida. Mas tem também quem ensina a ganhar uma grana bem boa com receitas de venda disso e daquilo. E as pessoas que querem porque querem que participemos de seus Facebooks ou não sei o quê mais? Ninguém desiste, acho que esperam vencer pelo cansaço.

Venda de imóvel a preço de banana aparece a toda hora. Fico pensando se alguém se interessa. As mensagens mais razoáveis são as que vendem férias mundo afora, com a devida antecedência, para aproveitar os preços arrasadores. Presentes para o dia disso e daquilo pipocam. Ainda estamos em pleno março e já tem gente oferecendo ideias e pechinchas para o Dia das Mães. A semana santa ainda não chegou, mas já se fala em festa junina.

 Uma das mensagens de que gosto mais – e até leio de vez em quando – é a do MinhoBox, que há 20 anos oferece cursos de minhocultura em São Paulo. O próximo começa sábado e já tem quase todas as vagas preenchidas. Tinha até vontade de saber como é essa alta tecnologia em minhocultura. Realmente, falta-me a compreensão de como é que essa gente, numa época em que tempo está cada vez mais raro, consegue ficar divulgando tanta baboseira.

O lado positivo é sem dúvida o que chega revelando todos os lances mais escondidos ou pouco divulgados do nosso mundo político. Tenho lido coisas do arco da velha, que não aparecem em canto nenhum. Não sei onde é que essa gente consegue arrumar tanto segredo para passar adiante. Pode ser até que muita coisa não passe de invenção, mas que é engraçado, é. Outro dia, recebi e-mail explicando o número grande de gente que aparece nesses programas de governo. Denuncia uma reunião lotada de produtores rurais – praticamente todos usando chapéu de palha, porque as imagens foram duplicadas para lotar o ambiente. Uma de minhas informadoras mais constantes é Astrid Rezende Guimarães, que manda sempre pesquisas bem interessantes sobre nossos políticos. Como dizem nossos irmãos portugueses, esses lances políticos têm piada. Mas o restante... credo.

Isso sem falar das constantes ofertas de heranças milionárias de viúvas da África do Sul e de outros países do lado de lá. E os boletos bancários que não foram pagos? E as ofertas disso e daquilo para pagar pela internet? Deve ser por isso que tanta gente entra pelo cano, fiando-se nessas lorotas de gente que não tem o que fazer.

O ombro e o corpo humano

O ombro e o corpo humano
A dor é aviso de que algo está indo mal e deve ser tratado

Marco Antônio de Castro Veado
Coordenador do serviço de ombro do Hospital Mater Dei, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

Estado de Minas: 20/03/2014


Em um passado nem tão remoto, era comum se dizer, tanto pelo médico quanto pelo paciente, que todo e qualquer tipo de dor localizada na região do ombro tratava-se de uma bursite. Conhecida pela dor cruciante que produzia na sua fase aguda, o quadro crônico se arrastava por anos, não se conhecendo na época nenhum outro tratamento além da fisioterapia e muitas vezes de uma infiltração, que, na maioria das vezes, não resolvia o problema. Com o progresso da ortopedia, passamos a ter a capacidade de identificar outras causas – que não uma simples bursite –, inúmeras e bastante comuns na prática ortopédica. Hoje, é importante salientar que a dor no ombro é a segunda principal queixa nos consultórios ortopédicos, o que reflete o incômodo dos pacientes e a busca deles por um alívio mais rápido.

Exames de ultrassonografia e principalmente de ressonância magnética possibilitaram ao especialista em cirurgia do ombro confirmar diagnósticos até então pouco conhecidos, porém frequentes, como as rupturas tendinosas, conhecidas como rupturas do manguito rotador, a causa maior de incapacidade. Essas lesões hoje perceptíveis por meio de um bom exame clínico produzem um quadro de dor no ombro frequentemente irradiada para o braço, prejudicando as mais simples atividades do dia a dia, como pentear-se, abotoar o sutiã, banhar-se, chegando até mesmo a interferir no sono noturno. Outros diagnósticos, como as simples tendinites, calcificações e a temida capsulite adesiva, conhecida também como ombro congelado, também são causas frequentes de incapacidade. Os avanços que temos hoje em nossas mãos nos deixam felizes, pois sabemos que podemos aliviar desagradáveis dores em nossos pacientes. Outro aspecto é que, com o envelhecimento da população, temos tido cada vez mais oportunidade de tratar não só as lesões tendinosas, mas também as artroses, que nada mais são do que um desgaste ou um envelhecimento da articulação, que acontece com o passar dos anos. Essas articulações antes lisas, brilhantes e bem lubrificadas, tornam-se rugosas, barulhentas e doloridas com a deterioração. Para tratamento das artroses, houve enormes avanços no setor das artroplastias, com a substituição das articulações, as conhecidas próteses. Com elas, quando bem indicadas e adequadamente realizadas, conseguimos devolver aos nossos idosos a alegria de viver, aliviando a dor e restituindo os movimentos tão importantes nas simples atividades de casa.

Outra realidade é que nunca se fizeram tantos exercícios como nos dias atuais, como a musculação, natação, tênis, judô, etc. Os jovens são os que mais praticam esses esportes, mas é preciso cuidado com as lesões, embora tenhamos avanços na área. Exercícios são importantes se bem orientados, mas atenção, nunca negligencie a dor após algum exercício, pois ela representa um alerta: precisa ser entendida como algo que está indo mal em seu corpo. Não pense que a dor vai melhorar na sequência dos exercícios. Importante: nunca tome anti-inflamatórios indiscriminadamente, sem ter conhecimento do problema. A medicina avança em todo o mundo e com as patologias do ombro não pode ser diferente. Lembramos que o ombro é fundamental para um bom sincronismo e equilíbrio do sistema musculoesquelético.

A banalização da mulher - Maria Amélia Bracks Duarte

A banalização da mulher
Maria Amélia Bracks Duarte
Estado de Minas: 20/03/2014


Muitas mulheres estão participando da contrarrevolução do que se conquistou a duras penas a partir dos anos 1960, quando, imitando o discurso machista e autoritário, mulheres submetidas a ataques de nervos queimavam sutiãs em praças públicas, gritando pela independência feminina. Como em toda revolução, justificavam-se os excessos, as penas capitais e as condenações em cortes marciais, que resultaram, ao longo dos tempos, numa convivência pacífica e amorosa dos dois ou mais sexos hoje. No entanto, afastando a histeria da feiosa Betty Friedan, vemos, hoje, a inteligência ser abandonada em nome de uma falsa libertação subdesenvolvida em rebolados de televisão; a cultura das bibliotecas ser substituída pelas letras chulas das músicas que fazem publicidade de cervejas e carros, como um adereço a mais de consumo da mulher.

Se antes a luta era pela conquista dos direitos civis e pela liberdade sexual conseguida com o advento da pílula anticoncepcional, hoje o sonho globalizante é engravidar de um pagodeiro ou jogador de futebol, ou ser descoberta por um diretor da novela dos oito. Mas nossa guerra será continuar marchando em direção à história, que não nos perdoará o retrocesso da desconstrução do feminino, que, no dizer de Frei Betto, “é a tortura do corpo em academias de ginástica, anorexia para manter-se esbelta, vergonha das gorduras, das rugas e da velhice; entrega ao bisturi que amolda a carne segundo o gosto da clientela do açougue virtual; o silicone a estufar protuberâncias. E engolir antidepressivos para tentar encobrir o buraco no espírito, vazio de sentido, ideais e utopias”.

É certo que os valores mudaram, que não podemos criar nossas filhas para serem ingenuamente as rainhas da pipoca em festas juninas com bandeirinhas coloridas ou obrigá-las a declinar rosa rosae rosarum nas rigorosas aulas de latim do ginásio das freiras, mas devemos defender heroicamente a luta pela dignidade e tentar impedi-las de ser mulheres frutas, que cultivam a solidão admirando-se narcisicamente em espelhos e posando para revistas sensacionalistas cada semana com um ricaço fútil. E, quando a menina perguntar, “ ô mãe, me diga, me explica o que é ser feminina”, a resposta será a da canção: “Não é no cabelo, no dengo, no olhar”. É tentar afastar o preconceito com o trabalho árduo; é defender ideias; é comprometer-se com a humanidade e ser articuladora da paz; é buscar a distância da barbárie da violência que obriga os jovens à marginalidade e à insegurança do desemprego; é não arrefecer na determinação de diminuir as desigualdades sociais. Temos que nos orgulhar da nossa trajetória e não olhar para trás para não nos transformarmos em estátua de sal; mas temos, sobretudo, que manter as mesmas emoções de amar bem devagar e urgentemente, como na música de Chico Buarque, que prega o tempo da delicadeza.

A sabedoria pode ser encontrada quando se acreditar no que fala a cantora e compositora Rita Lee, que prega o respeito ao corpo da mulher, e às suas pernas que têm varizes porque carregam latas de água e trouxas de roupa; os seios perderam a firmeza porque amamentaram os filhos ao longo dos anos; o dorso engrossou porque essa mulher carrega o país nas costas. É valioso honrarmos as lutas das pioneiras, retemperarmos o espírito nos desafios permanentes, com a consciência de que fizemos parte na construção deste Brasil, acreditando na igualdade dos gêneros, projetando os sonhos sem esmorecer, na incansável disposição de partilhamento com o homem (ou outra mulher) do nosso lado. Aí poderemos ser a mulher amalgamada de esperanças, que nutre fantasias nas nuvens da vida e que sabe navegar alegrias e dores. Conseguiremos, então, para orgulho das futuras gerações, o troféu libertário por essa outra revolução.