segunda-feira, 10 de março de 2014

Não temos alternância no Planalto - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 10/03/2014

Por que nossos partidos, quando deixam a Presidência do país, têm tanta dificuldade em reconquistá-la?


Uma tese fundamental da democracia é a da alternância no poder. Isso significa que duas forças políticas, ou às vezes mais que duas, disputam a hegemonia política, e a vitoriosa numa eleição pode muito bem perder a seguinte, ou uma seguinte. Pode, não. Deve. Os partidos assim se alternam, de modo que mais se "está no poder" do que se "tem" (ou "conquista") "o poder". Ninguém é dono, na democracia, do poder.

Mas temos tido alternância no poder federal, nosso poder mais forte, porque define a economia? Não exatamente. Temos tido sucessão, não alternância. Explico. Três principais partidos presidiram a República desde o fim da ditadura. O PMDB, após José Sarney, deixou de ser competitivo em termos presidenciais. O PSDB perdeu três eleições sucessivas, deixando o Planalto, e a maior parte dos analistas não prevê sucesso para ele este ano. Pior até, ele corre o risco de perder para Eduardo Campos a posição de líder da leal oposição ao PT, o que sangraria a agremiação tucana, com quadros e votos migrando para uma nova estrela da política - que, por sua vez, se posicionaria bem para a copa eleitoral de 2018.

Mas mesmo o PT que, depois do susto de meados do ano passado, quando a candidatura Dilma perdeu quase metade das intenções de voto em questão de semanas, se recuperou e agora até tem a chance de ganhar as eleições já no primeiro turno - mesmo ele corre o risco de se esvaziar até 2018 e de não ter um nome competitivo para o que seria um quinto mandato petista. Não discuto aqui se isso é melhor ou não para o país. O que quero dizer é que temos, hoje, uma situação circunstancial: um esvaziamento de nomes que sejam bons candidatos, nos dois partidos de clara vocação presidencial; e uma condição estrutural: nossos partidos, quando deixam a presidência, param de ser competitivos. Uma derrota na eleição presidencial pode significar, se não o beijo da morte, pelo menos uma anemia séria, que preserva parte dos seus ganhos políticos, mas não permite que volte aos momentos de glória.

Temos sucessão, não alternância, na Presidência

Tudo isso são hipóteses, mas que convém explorar. Começando pelos candidatos prováveis, os dois partidos que há vinte anos dividem a cena política exibem certo desgaste. A alternância de dois governadores paulistas como candidatos do PSDB se esgotou. Alckmin até teve, em 2006, menos votos no segundo turno do que no primeiro. Serra expôs sua incapacidade de crescer. Ficou como candidato Aécio Neves que, porém, segundo os analistas, não decola. Já do lado petista, o próprio nome de Dilma Rousseff surgiu depois de liquidadas as candidaturas da primeira geração partidária, Dirceu, Genoino e Palocci por escândalos, Tarso por não ter apoio no partido. Na geração deles, talvez reste Jaques Wagner, mas que não tem tido exposição nacional. O nome cada vez mais citado para 2018 é o de Fernando Haddad, mas é delicado um partido apostar num nome único (o mesmo problema do PSDB, quando conta apenas com Aécio), ainda mais porque a cidade de São Paulo é uma caixa preta, que pode muito bem levar um prefeito seu ao fracasso.

Curiosamente, é a terceira força que tem o maior estoque de nomes. A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva pode tanto reforçá-los quanto se estressar. Mas a soma de PSB e Rede tem um traço promissor, na medida em que propõe tirar-nos de uma cansativa polarização entre PT e PSDB. Ambos foram ministros de governos petistas, ambos hoje garimpam votos entre os tucanos. O PT adotou como estratégia desconstruí-los, apresentando-os como traidores; o PSDB prefere lisonjeá-los, vendo neles possíveis aliados para o segundo turno. Mas também o partido de Aécio tem, neles, uma ameaça. Se levarmos em conta o desgaste tucano e o apelo da aliança Eduardo-Marina, é possível que o amálgama, por enquanto mal feito, entre socialistas que não defendem o fim do capitalismo e sustentáveis que foram da ecologia para a economia, acabe dando certo.

O que temos, então? Se o PSDB ganhar, começa uma história nova. Se perder mas ficar em segundo lugar, terá que se reconstruir, para deixar de ser o perdedor constante da nossa política federal. Mas, se cair a terceiro, pode baixar para dimensões equivalentes às do atual DEM, pálido fantasma do que já foi. Para o PT, a vitória é o melhor cenário, como por sinal para os tucanos, mas coloca a questão do candidato em 2018, tema que não é trivial. Já a derrota pode ser calamitosa. O PT aprendeu a ser governo e esqueceu como é ser oposição. Não terá candidato nato para 2018, nem poderia ungi-lo a partir de uma posição de poder. Pelo menos, é improvável que o PT fique em terceiro lugar. Finalmente, o PSB+Rede é o contendor que ganha em qualquer cenário. Vencendo a eleição, isso é óbvio. Mas, se tiver o segundo lugar, desbanca o PSDB e sangra esse partido. Eduardo e Marina assim se posicionam bem para 2018. Para eles, mesmo o terceiro lugar, se for conquistado com uma votação honrosa, é positivo, porque os mantém no páreo.

Mas cabe a questão que iniciava o artigo. Parece que no Brasil os partidos são razoavelmente bons para disputar o poder mas, depois de passar por ele, perdem a garra competitiva que os fez chegar lá. O PT vive um desgaste, até natural, de ser governo por doze anos. Mas o PSDB vive o desgaste, esquisito, de ter sido governo no passado, doze anos atrás. Dá vontade de brincar, dizendo que nossos partidos, depois de passarem pela Presidência, não conseguem se desestatizar, voltar à livre concorrência... Parece que nossa política federal opera por uma série de sucessões, não pela ida e vinda característica da alternância. Por quê, é uma boa pergunta.


Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br



Uma chance às tartarugas‏ - Ana Clara Brant

Uma chance às tartarugas 

 
Estudo sobre o que as espécies comem pode facilitar a elaboração de um plano de preservação dos animais, uma vez que a dieta reflete a demanda dos micro-hábitats 

 
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 10/03/2014


Espécie, mais comum no Sul do Brasil, é encontrada morta todos os dias nas estradas da região     (Clarissa Alves da Rosa/Divulgação)
Espécie, mais comum no Sul do Brasil, é encontrada morta todos os dias nas estradas da região


Para se preservar uma espécie, seja ela qual for, é fundamental conhecer sua fonte de alimentação. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizaram um estudo sobre a composição da dieta da tartaruga-tigre-d'água (Trachemys dorbigni).

O artigo Dietary variation and overlap in D'Orbigny's slider turtles Trachemys dorbigni (Dumeril and Bibron 1835) (Testudines: Emydidae), traduzido para o português como Variação e sobreposição da dieta na tartaruga-tigre-d'água, acaba de ser publicado pela Journal of Natural History, revista científica que tem como foco a entomologia e a zoologia, considerada uma das 100 publicações mais influentes em biologia e medicina ao longo dos últimos 100 anos, de acordo com pesquisa feita pela Special Libraries Association (SLA).

Durante quase um ano, o grupo, formado por Anelise Torres Hahn, Clarissa Alves da Rosa, Alex Bager e Ligia Krause coletou 73 tartarugas atropeladas na BR-392, próximo a Pelotas (RS), região que tem um alto índice de atropelamentos de animais. "Eu mesma coletava as tartarugas mortas na rodovia. Elas eram levadas ao laboratório para identificação do sexo, biometria e retirada do estômago. Este era preservado em formol para posterior análise no laboratório", conta a bióloga, doutora em zoologia pela PUC-RS e mestre em biologia animal pela UFRGS Anelise Torres Hahn.

Dos 73 indivíduos recolhidos, 39 tiveram o conteúdo estomacal removido, que foi uma das principais contribuições dessa pesquisa, como lembra a ecóloga e doutoranda no programa de pós-graduação em ecologia aplicada da Ufla Clarissa Alves da Rosa. Ela explica que, geralmente, os estudos são feitos por meio das fezes, o que limita os resultados, já que o processo de digestão pelo qual passam os alimentos dificulta sua identificação.

Analisar os conteúdos estomacais é mais eficiente, mas exige, muitas vezes, técnicas invasivas (abate do animal ou regurgito). "Nas fezes, muita informação se perde e fica mais difícil identificar elementos, devido ao processo de digestão acelerado. Já quando analisamos o estômago, os itens estão melhor preservados. Para você ter uma ideia, outro dia ajudei a dissecar um lagarto que foi atropelado e, quando abrimos a barriga dele, tinha um figo intacto dentro dela. Isso facilita o nosso trabalho. Por isso, acredito que uma das principais contribuições desse artigo é o método de estudo, que se utilizou de estômagos de animais atropelados, já que tais carcaças costumam ser descartadas sem aproveitamento para estudos científicos", frisa.

A tartaruga-tigre-d'água é a espécie de tartaruga continental mais comum no Sul do Brasil. No entanto, há poucos estudos sobre sua biologia. Anelise revela que o fato de ela ser a espécie mais recorrente facilita a coleta e fornece um número significativo de indivíduos que serão amostrados. Além disso, há um número grande de publicações sobre a alimentação em diferentes espécies da família (Emydidae), possibilitando a comparação da composição de dieta com outras espécies. "O conhecimento sobre a ecologia alimentar é muito importante, porque a dieta reflete a demanda dos micro-hábitats e as interações com outras espécies, principalmente no contexto atual de degradação dos ecossistemas, onde o conhecimento sobre suas características biológicas e ecológicas é fundamental para planos de conservação efetivos", frisa.

DESCOBERTAS

Entre outros resultados, os pesquisadores descobriram que a dieta desses animais envolvia 26 itens alimentares, sendo que entre as fêmeas a variedade é maior. A bióloga Anelise comenta que, no Sul do país, as tartarugas são animais onívoros, ou seja, se alimentam tanto de animais quanto de vegetais. Entre os itens de origem animal, a pesquisadora diz que foi registrado desde moluscos e insetos até peixes.

Chamou a atenção ainda o fato de que, mesmo tendo sido feito em época de desova, a pesquisa identificou conteúdos nos estômagos de todas as fêmeas, contrariando resultados de estudos anteriores, que indicavam que as fêmeas dessa espécie não se alimentavam no período. A ecóloga Clarissa Alves da Rosa diz que todas as tartarugas fêmeas recolhidas estavam grávidas e que a variedade de itens encontrados no estômago delas era bem maior do que a encontrada no estômago dos machos. Clarissa salienta que a principal importância do estudo é justamente a questão da conservação dos animais. Ela explica que no Brasil há pouco conhecimento sobre a ecologia das nossas espécies e que, se queremos preservá-las, é necessário nos concentrarmos nessa questão. "Para preservar, tem que se saber que tipo de ambiente o animal precisa para viver, o que ele consome. No caso das tartarugas-tigre-d'água, que se alimentam basicamente de plantas aquáticas, já que vivem em zona de pântanos e banhados, essa região vem sendo afetada não só pela BR-392, como pelo cultivo de arroz que está drenando e, consequentemente, prejudicando a área. Se nosso foco é a conservação, há que se focar também nos recursos e no ambiente", enfatiza. 

Maconha terapêutica - Luciane Evans

Maconha terapêutica 

Pesquisadores brasileiros se dedicam a estudos da Cannabis sativa, planta que pode auxiliar no tratamento de doenças como ansiedade e depressão
 
 
Luciane Evans
Estado de Minas: 10/03/2014 


Planta ganhou espaço em vários lugares do planeta como aliada dos   tratamentos médicos (Istockphoto)
Planta ganhou espaço em vários lugares do planeta como aliada dos tratamentos médicos

Os acidentes de trânsito não aumentaram. As pessoas não saíram enlouquecidas pelas ruas. A criminalidade e a violência não cresceram nem diminuíram. Pouca coisa mudou nos países que passaram a usar maconha para uso medicinal. O Canadá foi o primeiro país a permiti-la para uso terapêutico e, mais de 10 anos depois, a planta, conhecida como Cannabis sativa, ganhou espaço em outros lugares do mundo como aliada dos tratamentos médicos. Mas no Brasil, onde 1,5 milhão de pessoas usam a erva diariamente, ela ainda é vista como "fora da lei". Porém, por trás de toda a fumaça, a medicina brasileira já levanta a principal questão encarada mundo afora: quais seriam os benefícios e malefícios da maconha para a saúde?

Não se trata de defender o consumo nem de sacudir a bandeira contra a erva. Segundo os pesquisadores, a intenção é estudar e comprovar os usos e efeitos terapêuticos de algumas substâncias que a compõem. Para isso, há um esforço conjunto de grandes centros acadêmicos e da indústria farmacêutica no mundo inteiro. Mas, por aqui, as pesquisas na área estão mais lentas. "Ao colocar a Cannabis e seus derivados no mesmo nível de proibição, a legislação brasileira dificulta a obtenção desses produtos para a pesquisa. O uso medicinal de derivados da planta poderia ser liberado no Brasil, sendo esse uso regulado por uma agência brasileira da Cannabis medicinal", palpita o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade Federal de São Paulo (USP), Antônio Zuardi.

 Sem entrar na discussão que ronda o Senado brasileiro sobre a descriminalização da droga, o Estado de Minas entrevistou médicos e pesquisadores do Brasil sobre os efeitos que a Cannabis pode causar. Muitos estudos já comprovaram que ela pode não ser um bicho de sete cabeças. Tanto é que, do ponto de vista científico, ainda não está claro que a maconha pode provocar dependência química e não existe consenso popular da existência dessa dependência.

Por outro lado, em pacientes com glaucoma – mal que pode levar à perda da visão –, a erva ajuda a reduzir a pressão ocular. Auxilia também no alívio da dor crônica, combate náuseas e vômitos em pacientes que enfrentam quimioterapia contra o câncer e ajuda a estimular o apetite em pessoas que têm o vírus HIV. Há também quem diga que substâncias da planta podem controlar o Alzheimer e auxiliam no tratamento da depressão (veja quadro com pesquisas mundiais). Será que os benefícios sobrepõem os malefícios?

O principal pulo da ciência para o assunto veio com as descobertas das substâncias que compõem a Cannabis, entre elas o THC (tetrahidrocanabinol), princípio ativo da planta, descoberto na década de 1960. Em 1990, um grupo de farmacologistas dos Estados Unidos clonou, pela primeira vez, um receptor canabinoide do cérebro. A esse feito seguiu-se a descoberta dos endocanabinoides, compostos gordurosos produzidos por neurônios e capazes de ser reconhecidos pelos mesmos receptores da maconha, posicionados na membrana de outros neurônios.

COMPOSTOS
Segundo destaca Zuardi, foi na década de 1970, pouco tempo depois que os principais componentes da Cannabis foram identificados, que um grupo brasileiro liderado pelo professor Elisaldo Carlini passou a estudar esses compostos na Escola Paulista de Medicina (Unifesp). "Uma das primeiras descobertas foi que um dos componentes da planta, o canabidiol (CBD), que não produzia os efeitos típicos da erva, tinha efeito antiepiléptico em animais, o que foi posteriormente verificado pelo mesmo grupo em humanos", diz. Nessa época, como parte do doutorado de Zuardi, começou-se a estudar a interação entre esse componente e o THC, que é o responsável pelos efeitos mais conhecidos da Cannabis. "Verificamos que doses elevadas de THC produziam muita ansiedade e alguns sintomas psicóticos. Porém, quando os voluntários tomavam o THC junto com o CBD, esses sintomas eram atenuados, sugerindo que o CBD poderia ter efeitos ansiolíticos e/ou antipsicóticos."

 Estudos posteriores na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto confirmaram, em animais e humanos, os efeitos ansiolíticos e antipsicóticos do CBD. "Recentemente, publicamos um estudo preliminar, mostrando que pacientes com a doença de Parkinson e que apresentavam sintomas psicóticos tinham esses sintomas atenuados pelo CBD." Ainda de acordo com o psiquiatra, atualmente já é sabido que no sistema nervoso central há uma forma de neurotransmissão que usa canabinoides produzidos pelo próprio organismo.

"Esse sistema está envolvido na regulação de um grande número de funções, o que justifica o uso de canabinoides produzidos pela Cannabis com finalidade terapêutica. Dessa forma, muitos efeitos benéficos para a saúde podem ser obtidos com os canabinoides. A dificuldade é que a planta produz mais de 80 substâncias e algumas delas com efeitos opostos, como é o caso do THC e do CBD. A concentração relativa desses canabinoides vai depender da parte da planta que está sendo usada (flores, folhas ou galhos), do solo onde essa planta foi cultivada, da temperatura, entre outros." Ainda segundo Zuardi, os efeitos da maconha obtida na rua são muito pouco previsíveis e ela não deve ser usada com finalidade terapêutica. "Há evidências de que amostras da planta, muito ricas em THC, podem produzir alucinações, delírios e outras manifestações indesejáveis. O uso pesado de ervas desse tipo, especialmente na adolescência, aumenta o risco para quadros psicóticos mais duradouros", alerta.

Personagem da notícia
Lucas, faz uso medicinal da maconha para o TDAH


Melhor qualidade de vida


Sofrendo de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Lucas, que não divulga o sobrenome, conta que recebeu o diagnóstico da doença quando tinha 17 anos. "Receitaram-me remédios, como a ritalina. Tomava 10 comprimidos por dia, com autorização médica. Tive insônia e ficava muito nervoso." Quando soube pela internet sobre o uso medicinal da maconha para o TDAH, Lucas pesquisou tudo a respeito. "Na proporção certa, balanceando o THC e o CBD, vaporizo a planta até que atinja o ponto de ebulição, para que ela não perca seus princípios ativos. Assim, a uso com a aspiração. Melhorou a minha vida", conta. Sem uso diário, a Cannabis, segundo ele, lhe trouxe qualidade de vida. "Minha hiperatividade diminuiu. Estou menos ansioso", diz. Porém, para a falta de foco, sintoma típico do TDAH, Lucas afirma que a Cannabis não o ajudou e conta com acompanhamento psicológico.


À base de ervas


 (Beto Magalhães/EM/D.A Press)

Atualmente, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisadores estão debruçados sobre seis projetos – com a colaboração de outras universidades federais – que têm como objetivo o desenvolvimento de medicamentos à base da maconha. "Há efeitos do THC que podem ser terapêuticos, como são aqueles para o tratamento de dor, epilepsia e depressão. Porém, o THC tem sequelas negativas, como a perda da memória e de coordenação motora. A ideia é desenvolver medicações que não trazem esses efeitos negativos", comenta o pesquisador e professor do Departamento de Farmacologia da UFMG Fabrício Moreira, ressaltando que há registros que mostram que, desde as civilizações mais antigas, os chineses e outros povos usaram a erva para tratamentos de doenças.

Fabrício diz que o THC faz alterações no funcionamento do cérebro e, se usado por muito tempo e por várias vezes, pode haver alterações nas células, o que pode levar a doenças e transtornos psiquiátricos. No caso da dependência, ele explica que é como se o cérebro fosse se acostumando com essa presença do THC. "Quando a pessoa começa a usar, elA vai se adaptando. Todo medicamento tem dois lados, sempre. Não quer dizer que a maconha vá ser indicada para determinado tratamento. O que vai justificar seu uso é o contexto desse paciente."

POTENCIAL "Por outro lado, há regiões específicas do cérebro em que o THC pode modular o estado de humor e, com isso, auxiliar no tratamento de doenças como ansiedade e depressão." Entre 2005 e 2007, o biólogo Rodrigo Guabiraba fez mestrado, pela UFMG, em canabinoides e inflamação, com o objetivo de pesquisar o potencial de drogas que atuam nos mesmos sítios de ação do THC. "Usamos dois compostos fornecidos por uma indústria farmacêutica que bloqueavam os efeitos da maconha. Eles se 'ligam' aos mesmos receptores a que se 'liga' o THC, porém com mais intensidade", relata.

Ao ativar ou bloquear esses receptores, Rodrigo concluiu que, além do controle da inflamção em camundongos, foi possível diminuir as dores e, em casos de câncer, controlar o crescimento de tumores. "Mas é possível entender quais as etapas das respostas e onde o THC e os canabinoides podem ser ativados porque, ao ativar esses receptores, há riscos de efeitos psicológicos", diz Rodrigo, que hoje mora na França e conta que, por lá, as discussões em torno da erva usada em prol da saúde têm menos preconceito em nível científico do que no Brasil.

Estudos pelo mundo apontam benefícios da erva para doenças como:

» OBESIDADE
Dois componentes da folha da maconha podem aumentar a quantidade de energia queimada pelo corpo humano. A descoberta pode fazer da Cannabis sativa um remédio contra doenças ligadas à obesidade, segundo informações do jornal britânico The Telegraph.

» DORES
Pesquisadores da Universidade de Oxford concluíram que a maconha pode reduzir o incômodo da dor. O THC seria o responsável por tornar a dor mais suportável. No entanto, o alívio não foi comprovado em todos os pacientes analisados. Os resultados foram publicados no jornal científico Pain.

» DEPRESSÂO

Um estudo realizado no Centro Médico da Universidade de Utrecht, na Holanda, mostrou que o consumo de maconha pode ajudar no tratamento da depressão. Os resultados da pesquisa mostraram efeito benéfico do THC em regiões de processamento de emoção.

» TRAUMAS

Pesquisa brasileira, feita na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostrou que um componente químico da maconha pode ajudar no tratamento das sequelas emocionais deixadas por traumas.

» ESCLEROSE MÚLTIPLA

Estudos no mundo têm comprovado que o extrato da maconha possibilita atenuar a rigidez muscular em pacientes afetados por esclerose múltipla. No entanto, outra pesquisa elaborada pela Escola de Medicina Peninsular, de Plymouth (Sul da Inglaterra), mostrou que o consumo de Cannabis não reduz a progressão da esclerose múltipla, mas alivia alguns sintomas.

» CÂNCER DE MAMA
Pesquisadores da Universidade Autônoma de Madri (UAM), da Universidade Complutense de Madri e do Centro Nacional de Biotecnologia acreditam que os componentes ativos da maconha e seus derivados poderiam reduzir o crescimento do câncer de mama e a aparição de metástases. Eles constataram que os canabinoides podem deter e acabar com as células derivadas de tumores de mama.

Tevê

TV paga
Estado de Minas: 10/03/2014 
 (E!/Divulgação)

Moda brasileira em 12 capítulos

Com base em 10 anos de arquivos sobre moda brasileira, o E! Entertainment Television desenvolveu a série Conexão da moda, que estreia às 22h. A também modelo Giselle Hermeto (foto),comanda a série, que destaca, em 12 episódios, fases da moda no Brasil desde os anos 1960 até os dias atuais. Além disso, cada episódio contará com entrevistas com personalidades importantes e representantes do mundo fashionista brasileiro, protagonistas dessa história que se destacaram e foram fundamentais ao longo de suas carreiras de sucesso, como o estilista Tufi Duek, o professor de história da moda João Braga, a modelo Mila Moreira e o agente Zeca de Abreu.

Lázaro e Taís juntos
na vida e na arte


Estreia às 21h30 no Canal Brasil a nona temporada do programa Espelho. Lázaro Ramos vai ter um desafio e tanto no primeiro programa: entrevistar a mulher, Taís Araújo. A questão racial permeia a conversa e a atriz fala ainda de sua carreira e planos futuros. Entre os convidados dos novos programas estão  Ney Latorraca, Renato Aragão, Débora Bloch,
Aracy Balabanian, Helio de La Peña e Djavan.

Hannibal retorna

ao canal Universal

O canal Universal apresenta às 23h o primeiro episódio da segunda temporada de Hannibal. Versão televisiva para o serial killer mais famoso do cinema contemporâneo, mostra o embate entre um investigador com uma intuição do outro mundo para caçar criminosos (Will Graham, interpretado por Hugh Dancy) e o psicopata canibal Hannibal Lecter (o ator Mads Mikkelsen).

Quando tatuagens
são obras de arte


Na nova série Bad Ink, às 22h30, no A&E, os tatuadores Dirk Vermin e Ruckus formam dupla que sai pelas ruas de Las Vegas abordando estranhos e prometendo transformar antigas tatuagens em obras de arte.

Comédia dramática
francesa no TV Monde


O TV5Monde exibe à 1h30 a comédia dramática A discreta, vencedor do prêmio de melhor roteiro no César, o Oscar do cinema francês. Já decidido a romper com Solange, Antoine a vê nos braços de outro homem. Humilhado, ele só pensa em se vingar e topa a plano do amigo Jean, que é editor: seduzir uma mulher qualquer, abandoná-la e publicar o diário íntimo dessa relação.

História de amor
de volta no Viva


Elas são fortes, frágeis, batalhadoras, mimadas, jovens e maduras. As mulheres são as grandes protagonistas das tramas de Manoel Carlos. Um dos sucessos do autor, História de amor estreia hoje no Viva às 15h30 – vai ao ar de segunda a sábado. Exibida em 1995, a novela marcou a comemoração de 30 anos de carreira de Regina Duarte. O ator José Mayer também fez sua estreia no elenco das histórias do escritor.

Caras & Bocas

Simone Castro
simone.castro@uai.com.br


 É hoje
O humorista e apresentador Danilo Gentili dá início hoje, à meia-noite, à sua trajetória no SBT/Alterosa. Ele estreia o talk show The noite, uma das atrações mais aguardadas da nova grade de programação da emissora. Em recente enquete realizada pelo site Na telinha, o programa foi apontado como o mais esperado pelo telespectador, com 76% dos votos. O programa de Gentili contará com 150 pessoas na plateia. Um dos convidados já anunciados, que pode dar as caras logo na estreia, é o humorista Fábio Porchat, do Porta dos Fundos. Com Danilo Gentili estarão a banda Ultraje a Rigor, a assistente de palco Juliana e os humoristas Léo Lins e Murilo Couto.

NOIVA DE ASHTON KUTCHER
TAMBÉM ENTRARÁ EM SÉRIE

A atriz Mila Kunis, noiva do ator Ashton Kutcher, fará participação especial na série protagonizada por ele, Two and a half men, exibida pela Warner (TV paga) e pelo SBT/Alterosa. Eles formarão par romântico. Segundo o site Deadline, tudo começará quando Vivian, personagem de Mila, aparecer na porta da casa de Walden, vivido por Ashton. E tudo bem na hora em que ele estiver prestes a pedir outra garota em casamento. Walden ficará encantado pela desconhecida.

GAIA VAI MORRER E O MARIDO
FICARÁ LIVRE PARA SUA RIVAL

Em Joia rara (Globo), o impasse do triângulo entre Gaia (Ana Cecília Costa), Toni (Thiago Lacerda) e Hilda (Luiza Valdetaro) está prestes a ter uma solução. A lituana, que enfrentou a prisão no Brasil, teve o filho retirado de seus braços ainda recém-nascido, foi deportada e ficou em um campo de concentração e dada como morta por vários anos, agora, realmente, passará desta para melhor. De volta ao Brasil, Gaia encontrou o marido casado com outra, o ex-casal reencontrou o filho perdido e, recentemente, retomaram o casamento. Nos próximos capítulos, Gaia receberá a notícia fatal: ela tem uma doença grave e pouco tempo de vida.

BAFAFÁ ENVOLVE LOBÃO E
TURMA DO PROGRAMA CQC

Não acabou nada bem o encontro entre o cantor Lobão e Ronaldo Rios, do CQC, entre outros integrantes do programa, na porta da Band, há alguns dias. O artista, que foi pego de surpresa, teve que ouvir um coro nada agradável da “torcida”, com cerca de 30 pessoas, que acompanhava Rios e o provocava gritando que ele havia afinado para Mano Brow, numa referência à briga que Lobão e o rapper tiveram. Lobão xingou Rios, tentou arrancar o microfone de suas mãos e ameaçou processar a Band caso a emissora exiba o material no novo quadro do CQC, batizado de “Torcida VIP”, na estreia do programa, dia 17 próximo.

ATRIZ VOLTARÁ À CENA
PARA FALAR SOBRE PODER

Katie Holmes pode protagonizar uma das novas séries do canal norte-americano ABC, segundo os sites TVLine e Deadline. A atriz foi escalada para protagonizar o drama assinado por Richard LaGravenese, que se passará em Nova York. Katie interpretará Ann, uma mulher inteligente, que dirige uma fundação filantrópica com o marido. Mas, seu casamento, aparentemente perfeito, é alvo de aposta de uma dupla que quer destruí-lo. Ann, então, aprende a praticar o jogo do poder e se prepara para o confronto.

VELHO GUERREIRO

O programa Cassino do Chacrinha pode ser revisto, a partir de hoje, às 20h30, no canal Viva (TV paga). Entre as atrações, o ator Ney Latorraca participa para eleger a estudante mais bonita do Brasil. No júri, também estão o comediante João Kléber, o cabeleireiro Silvinho e o empresário Chico Recarey. Eles também escolhem o melhor cover de Michael Jackson. Chacrinha ainda lança a famosa marchinha Bota camisinha. A cantora Sarajane, considerada a primeira rainha do axé, faz participação e mostra o hit A roda. E ainda marcam presença Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, Leo Jaime e Heróis da Resistência.

PLATEIA

VIVA
As maratonas de séries como Hannibal (AXN) e Revenge (Sony), atualizando o telespectador para a estreia de novas temporadas.

VAIA
Cenários idênticos de Em família (Globo), especialmente os quartos. Parece que as cenas não mudam nunca de lugar. Cansativo.

EDUARDO ALMEIDA REIS-Dinheiro‏

Dinheiro
Estado de Minas: 10/03/2014





Diverte-me sobremaneira observar como as pessoas lidam com dinheiro, essa praga inventada no Reino da Lídia pelo rei Giges (?-644 a.C.), o primeiro da Dinastia Mermnada. Seu reinado durou de 680 até o ano de 644 a.C. Filho de Dascylus, Giges assassinou Candaules, o rei anterior, e se casou com a viúva. Seu filho e sucessor foi Ardis II.

Talvez não tenha sido o primeiro a cunhar moedas, mas há quem diga que o dinheiro começou a ser cunhado na Lídia. Não sei, porque não estava lá, mas no site do Banco Cabo Verde li que as pesquisas arqueológicas indicam que as moedas surgiram há quase 4 mil anos, talvez por volta de 2.500 a.C., o que tornaria o dinheiro tão antigo quanto as pirâmides do Egito. Que dinheiro? Não sei. O próprio Banco de Cabo Verde informa que as primeiras moedas surgiram no século 7 a.C. no reino da Lídia, hoje numa região da Turquia.

Em BH andei almoçando com mineiros abastados e descobri que, em sua abastança, não transportam dinheiro vivo. Pagam suas contas no cartão e pedem nota, que é para descontar no imposto de renda empresarial. A gorjeta para o flanelinha ficava por conta do philosopho, que não sai de casa sem uns trocados no bolso.

Negócios no ramo do petróleo fazem que os envolvidos percam a noção das coisas. É tudo tão caro, envolvendo centenas de milhões de dólares, que um automóvel de um milhão de reais e uma diária de hotel de 30 mil reais são considerados troco.

Se a sua empresa compra na Escócia uma plataforma de perfuração de petróleo, você freta um Boeing e leva 150 amigos para Glasgow, tudo por conta da empresa. Um saudoso amigo-irmão, ele próprio empresário no ramo petrolífero, embarcou num desses voos e me trouxe um garrafão de cinco litros de um pure malt dos mais conceituados por lá, o Glenmorangie. Antes, perguntou ao maître do restaurante chiquíssimo qual era o melhor uísque da Escócia. Empertigado em sua casaca, o maître respondeu: The free one. Algo assim como “O de graça”.

Opinião
Como é do conhecimento geral, o ministro petista Aloizio Mercadante Oliva, um dos homens fortes dos presidentes Lula e Rousseff, é um dos seis filhos do general de exército Oswaldo Muniz Oliva, reformado, que disse do governo militar de 1964: “Sem a Revolução de 1964, o Brasil teria se transformado em um grande Vietnã”.

Transcorridos 50 anos, tem sido muito grande o número de brasileiros valentes, sem exclusão de alguns jornais de circulação nacional, dispostos a denunciar os “crimes” cometidos pelos militares e a fazer mea-culpa da posição que assumiram em 1964 e nos anos subsequentes.

Em rigor, continuamos no embalo dos últimos 60 anos: o mea-culpa é fácil e rentável, sem deixar de ser abjeto, mas a verdadeira história do Brasil será contada quando já não estivermos por aqui. Até lá, o jeito é conviver com a canalhice humana, sem olvidar a opinião do general de exército Oswaldo Muniz Oliva: “Sem a Revolução de 1964, o Brasil teria se transformado em um grande Vietnã”. E todos nós estaríamos falando anamita, anamês ou vietnamita, que, como sabe o leitor, é idioma do subgrupo linguístico do grupo austro-asiático falado no Vietnã do Sul e no Vietnã do Norte, apresentando três dialetos, o do sul, o do Centro e o do Norte.

Em contrapartida, fabricaríamos belas cabeçadas – conjuntos de tiras de couro e peças de metal posto em torno da cabeça e do focinho das cavalgaduras para prender e ajustar a embocadura (parte do freio) – como aquela que ilustre cardiologista mineiro adquiriu em Nanuque para dar de presente a um amigo nosso, professor doutor de medicina, que prefere cavalgar muares em sua pequena fazenda.

Exemplo máximo da globalização que vai por aí, as cabeçadas vendidas em Nanuque são fabricadas no Vietnã. Nanuque, “bugre de cabelos negros”, é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, Região Sudeste do país, pertencente à mesorregião do Vale do Mucuri e à microrregião de Nanuque e sua população, ano passado, era estimada em 41.876 nanuquenses.

O mundo é uma bola

10 de março de 1557: pastores enviados por João Calvino e diversos teólogos leigos franceses celebram o primeiro culto protestante no Brasil, país hoje voltado para os neopentecostais, com ênfase para a admirável Igreja Evangélica Preparatória que, segundo me informaram, não permite que as crentes usem perfumes e se depilem. Prometo apurar para contar ao leitor do Estado de Minas, porque axilas, pernocas e genitálias peludas podem ter hora e vez.

Em 1801, a Grã-Bretanha realiza seu primeiro censo. Num país grande e bobo, década de 70, o recenseador agropecuário chegou apressado à nossa fazenda num final de tarde e terminava todas as perguntas: “Diz qualquer coisinha”.

Em 1831, o rei Luís Filipe cria a Legião Estrangeira Francesa para atuar na Guerra da Argélia.

Hoje é o Dia do Conservador, do Telefone e do Sogro. Palmas aqui para o sogrinho nota mil.

Ruminanças
“O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros” (Confúcio, 551-479 a.C.).

>> eduardo.reis@uai.com.br

Biblioteca e cidadania - Antônio Afonso Pereira Júnior

Biblioteca e cidadania
 
Ambiente de integração social e aprendizagem
Antônio Afonso Pereira Júnior
Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia/6ª Região (CRB-6)
Estado de Minas: 10/03/2014


A internet levou muitas bibliotecas ao ostracismo, sob risco de fecharem as portas ou serem substituídas por acervos digitalizados e meios digitais. Isso é alimentado constantemente pela ilusão que as pessoas têm de que conseguem construir e saciar suas necessidades de informação com poucos cliques, sem esforço e de maneira rápida. Contudo, mesmo com todo o avanço tecnológico, ainda há incomparáveis vantagens da biblioteca física. Um dos melhores locais para a interação social e a aprendizagem é a biblioteca, seja pública, seja escolar,  seja universitária ou especializada. Frequentar esse espaço pode trazer muitos benefícios às pessoas, independentemente da idade: crianças, jovens, adultos e idosos. A biblioteca é um meio de integrar todas essas pessoas e oferecer ensino, leitura, entretenimento e conhecimento de maneira lúdica e gratuita.

Pesquisas revelam que alunos que frequentam a biblioteca têm um maior rendimento nos estudos, isso porque dentro desse ambiente a criança é estimulada a ler e a pesquisar, atalhos fundamentais para a construção e a ampliação do seu conhecimento. Com isso, não queremos dar a entender que não há validade nas pesquisas feitas pela internet. Ao contrário, a inclusão digital é fundamental e deve ser levada às crianças, com acompanhamento de professores e pais. As interlocuções no universo virtual são importantes para a disseminação de um tipo de conhecimento estruturado pela lógica de redes e hiperlinks, mas esse modelo não dá conta da complexidade do processo de ensino e aprendizagem. A internet funciona muito bem como complemento às bibliotecas, mas não as substitui. Nas bibliotecas, o estudante não encontra apenas livros. O acervo compreende jornais, revistas, mapas, objetos museográficos e material multimídia, além de exposições temáticas, exibições de filmes, saraus de poesia e contação de histórias, tudo isso em um ambiente calmo e tranquilo, essencial para o aprendizado, a pesquisa e a leitura.

Nesse contexto, qual seria a perspectiva para a profissão de bibliotecário? A tecnologia vai extinguir a necessidade desse profissional? Acredito que a internet e a tecnologia estão revelando a essência do trabalho do bibliotecário para além do princípio redutor de que ele apenas organiza livros em estantes. O profissional está ganhando outra dimensão no imaginário coletivo, que já dialogava com as suas funções clássicas, como o envolvimento com a pesquisa e a orientação aos usuários, contribuindo para localizar a informação, independentemente se ela estar em livros ou em qualquer outro formato. O bibliotecário se dedica a aprender as técnicas para auxiliar os usuários a acessar a informação de forma plena. As bibliotecas físicas nunca vão desaparecer. Cabe a nós, bibliotecários, batalhar para que a profissão não seja tachada de anacrônica, obsoleta e em vias de extinção. Para isto, há o papel do poder público, que deveria aumentar os recursos para garantir mais e melhores funcionários e tecnologias para as bibliotecas, fonte de preservação da cultura e do avanço da pesquisa científica, base do desenvolvimento de qualquer país.

Obesidade e gravidez - Frederico Peret

Obesidade e gravidez 
 
Frederico Peret

Obstetra, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)

Estado de Minas: 10/03/2014


A gravidez é um dos momentos mais esperados e bonitos na vida da mulher. O corpo passa por diversas alterações nesse período, tanto emocionais quanto físicas, e requer cuidados especiais. A descoberta da gestação marca uma fase de mudanças na vida do casal, pois é quando surgem novos planos para a família. Contudo, ainda há quem encontre dificuldade em realizar o sonho de ser mãe, como no caso das mulheres com sobrepeso e obesidade, que, durante a gestação, está associada à morte prematura e ao nascimento de crianças com defeito no tubo neural, estrutura que dá origem ao cérebro e à medula.

A obesidade e a má alimentação geram uma série de mudanças no próprio DNA do feto, propiciando o aparecimento de doenças na fase adulta e na velhice. De acordo com um estudo publicado na revista científica British Medical Journal, os adultos cujas mães estavam obesas durante a gravidez têm 35% mais riscos de morrer antes dos 55 anos, devido a problemas cardiovasculares. A pesquisa alerta sobre a urgente necessidade de se construírem estratégias para controlar o peso antes da gestação. A recomendação de hábitos saudáveis de alimentação vai muito além do cuidado com o período gestacional, pois influenciará em todo o desenvolvimento da criança ao longo da vida.

O aumento excessivo de peso durante o período da gravidez pode acarretar diversas complicações maternas e perinatais, como o diabetes gestacional (DG), hipertensão arterial (HTA) induzida pela gravidez (pré-eclâmpsia, eclâmpsia), fenômenos tromboembólicos, infecções urinárias, parto pré-termo e distócicos, cesarianas, malformações do feto, macrossomia fetal, morte fetal e hemorragia maciça, sendo que a possibilidade da grávida com excesso de peso adquirir algumas dessas doenças é duas ou até seis vezes maior que as mulheres em forma.

O excesso de peso pode ocasionar infertilidade em algumas mulheres. A alteração no metabolismo da insulina e da glicose, comum em pessoas obesas, associada a alterações hormonais, pode levar a uma condição de infertilidade, conhecida com a síndrome do ovário policístico (SOP). Os sintomas são ciclos menstruais irregulares, anovulação (diminuição ou suspensão da ovulação) e níveis elevados de hormônios masculinos, diminuindo as chances de gestação. De acordo com pesquisa realizada por cientistas norte-americanos ligados ao Brighamand Women's Hospital e à Harvard Medical School, as mulheres com sobrepeso e obesidade apresentaram, a cada ciclo,  uma redução significativa nos níveis de estradiol (hormônio sexual responsável pela manutenção dos tecidos), ovócitos (células germinativas) e embriões. Outro hormônio afetado pelo excesso de peso é o gonadotropina (GnRH), importante regulador da ovulação.

É crucial que a mulher estando acima do peso e desejando engravidar, procure um médico para controlar a alimentação e atingir o peso ideal, facilitando a ovulação. O acompanhamento médico de pacientes com problemas de obesidade e alimentação deve ser iniciado, sempre que possível, antes da gravidez, a cargo de uma equipe multiprofissional, formada por obstetra, nutricionista, endocrinologista e educador físico, o que resultará em uma espera do filho tranquila e saudável. Devido à importância do tema, o assunto será discutido no 7º Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, entre os dias 14 e 17 de maio, no Minascentro.