quinta-feira, 6 de março de 2014

Por trás das listas - Por Joselia Aguiar

Por Joselia Aguiar | Para o Valor, de São Paulo | 28/02/2014



Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos na lista de mais vendidos. De que época se está falando? Da atual.

Clássicos de gerações anteriores, os três possuem títulos que figuram em altas posições no ranking de literatura brasileira em 2013 - trata-se de uma das nuances do gosto do leitor brasileiro reveladas em levantamentos feitos, a pedido do Valor, por duas empresas globais de monitoramento de consumo que passaram a se dedicar ao mercado de livros daqui.

A Nielsen, mais presente no mercado americano, trouxe para cá em junho sua ferramenta BookScan. De maior tradição na Europa, a GfK acompanha vendas de livros no país há dois anos, tempo que lhe permite esboçar as primeiras tendências. Ambas são empresas de longa experiência no estudo de outros setores da economia brasileira.







Listas só com autores nacionais não costumam ser preparadas pelas livrarias e veículos da imprensa que se dedicam à tarefa, o que torna esses dados invisíveis. Pois a disputa de nacionais com estrangeiros é quase sempre inglória para os primeiros. A literatura daqui representou 4,8% do faturamento do mercado em 2013, informa a GfK. A estrangeira, com 21,3%, manteve-se como o maior dos segmentos. Para chegar a um posto entre os dez mais vendidos, incluindo todos os gêneros de qualquer origem, o título precisa alcançar num mês a marca de 15 mil exemplares vendidos. Numa soma concentrada apenas em ficção, 9 mil. A meta a atingir numa lista exclusivamente de nacionais é bem mais razoável: 2 mil.

Num ranking de 50 de literatura brasileira elaborado pela GfK, o primeiro lugar tem Paulo Leminski, com a antologia "Toda Poesia". Não é surpresa que o poeta curitibano, morto há quase 15 anos, se encontre aí. A nova antologia o fez alcançar um posto difícil, sobretudo para a poesia, até nas listas que incluem estrangeiros. Mas o que vem a seguir? Esticando a vista, o que se nota é a constância de clássicos.

Clarice, com "A Hora da Estrela", está na 13ª posição. Drummond alcança com "Sentimento do Mundo" o lugar de número 16. O velho Graça vem logo depois, no 17, com "Vidas Secas". Uma depuração ainda maior evidencia o peso dos grandes nomes do passado. Os três medalhões passam para o "Top Ten" (ver tabela na página 29, à direita) quando se produz um levantamento excluindo os autores hits, aqueles que atingem incomparáveis picos de vendas com títulos de autoajuda, fantasia e ficção científica.

Entre contemporâneos que fazem sucesso, há dois cronistas que emplacam mais de uma obra nesse mesmo "Top Ten". Martha Medeiros surge em segundo e quinto com, respectivamente, "A Graça da Coisa" e "Feliz por Nada". E Luis Fernando Verissimo, em quarto e décimo, com "Diálogos Impossíveis" e "Os Últimos Quartetos de Beethoven". Nomes conhecidos da TV, a atriz Fernanda Torres está em terceiro com seu romance de estreia, "Fim", e o autor de novelas Walcyr Carrasco, em sexto, com "Juntos para Sempre", lançado na mesma época em que ocupou o horário nobre com a telenovela "Amor à Vida".

Não são muitos os nomes da nova geração ou lançados na última década - esses que vencem prêmios de prestígio e participam de festas literárias. Sem descontar os best-sellers, aparecem na lista Daniel Galera (29º lugar), com "Barba Ensopada de Sangue", e Francisco Azevedo (45º), com "Arroz de Palma". Os clássicos é que continuam presentes. Jorge Amado surge duas vezes (24ª e 38ª posições), Machado (39ª) e Aluísio Azevedo (50ª) em uma. Nem todos os dados pedidos - como o de valores absolutos - puderam ser informados, por questões de confidencialidade.
A permanência de nomes consagrados de outras épocas é aferida em outra conta, também da GfK, que soma todos os títulos à venda de um mesmo autor. Machado de Assis está entre os dez nacionais mais vendidos no ano passado (ver tabela acima).

Em domínio público - ocorre 70 anos após a morte -, o autor de "Dom Casmurro" pode ser publicado livremente, por qualquer editora, e até mesmo baixado de graça do site do Ministério da Cultura. O resultado: hoje são 200 ISBNs (código que identifica título) relacionados a ele, indica estudo da Nielsen/BookScan. Ao preço médio de R$ 23,43, esses exemplares foram lançados por mais de 30 editoras. Num acumulado de 28 semanas, com 26.270 mil vendidos, faturou-se cerca de meio milhão de reais.
Entre os clássicos, os nomes que mais vendem chegam a corresponder, sozinhos, a percentuais entre 2% e 3% no faturamento de literatura brasileira. Na conta, considera-se apenas o varejo. Não estão incluídas as aquisições do governo, que não são poucas - representam mais de um terço da indústria do livro do país.

Único na lista de dez principais best-sellers nacionais que se dedicou à ficção, o Bruxo do Cosme Velho, quem sabe pela alcunha, está em insuspeitada companhia. Nos três primeiros lugares, glorificam-se Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, o padre católico Marcelo Rossi e o psicoterapeuta-guru Augusto Cury. Nacionais que nada devem a um best-seller estrangeiro.

Atingir um milhão de exemplares vendidos pode ser milagre para um autor brasileiro - não para Edir Macedo. Seu sucesso em 2013 se deu de tal modo que alterou os números de uma categoria inteira. O gênero que registrou o maior crescimento no ano passado foi o de biografias: as vendas aumentaram 30,7% em comparação a 2012. Computados como biografias, os livros do bispo, sozinhos, representaram 76% dos exemplares adquiridos em 2013. Num cálculo que o exclua, o nicho de biografias, que correspondeu a 5,3% do faturamento de todo o mercado de livros do ano passado, recua para 1,5%.

Com a médium Zibia Gasparetto e outro padre, Fábio de Mello, nos dez mais vendidos entre autores nacionais, confirma-se o predomínio do religioso/esotérico, que representou 8% do mercado ano passado, segundo a GfK. Numa lista de 50 mais vendidos, cada um desses autores comparece com mais de um título. Até com uma dezena: Augusto Cury tem sete na de não ficção e três na lista de ficção.

Quando descontados esses títulos entre a espiritualidade e a autoajuda, sobressai a história do Brasil na lista de não ficção. Seja com a série de reportagem histórica de Laurentino Gomes, seja com a abordagem politicamente incorreta de Leandro Narloch. Incluem-se ainda, entre destaques, cinco com personagens e temas brasileiros: três livros biográficos, um de reportagem, outro de política (ver tabela acima).

Afora o nicho de biografia, alavancado pelo fator Edir Macedo, outra categoria apresentou incremento importante no ano passado. O setor infantojuvenil cresceu 14% e já é o segundo maior do mercado de livros, com 18,6%, atrás apenas de literatura estrangeira, informa a GfK. Ainda entre os que mais se destacam, embora com pouca participação no conjunto, encontram-se os segmentos de HQ/jogos e de concurso público. No primeiro caso, as vendas aumentaram 20,6%, passando a representar 2,3%. No de concurso público, 12,7%, alcançando 1,1% do mercado. Não se deve estranhar a presença de um catatau jurídico como "Vade Mecum" no "Top Ten" - a depender da semana, acontece.



Editoras e livrarias precisam desenvolver melhor as estratégias para aumentar as vendas da "midlist", diz especialista no mercado editorial

A decisão de investir no mercado de livros deveu-se à expectativa de sua expansão no Brasil. "Acreditamos que pode crescer com o país, há em curso uma expansão das redes de livrarias e vamos começar a ter os efeitos do Vale Cultura", avalia Claudia Bindo, que comanda essa área na GfK. Nicho não explorado, de grande potencial, "historicamente sempre teve autores mundialmente reconhecidos, mas nunca uma área de inteligência de mercado desenvolvida", pondera o analista de mercado da Nielsen BookScan Alexei Rakowitsch.

Editores que passaram a usar os serviços de ambas relatam que, antes, havia a dificuldade de estimar tiragens e reimpressões sem saber o giro semanal. A dependência de dados isolados fornecidos pelas distribuidoras e livrarias, atribuladas com as próprias atividades, deixava a operação mais lenta e imprecisa. Nas pesquisas, que são automatizadas, contabilizam-se livrarias tanto físicas quanto virtuais. Do mesmo modo, os títulos são computados independentemente do formato, se físico ou digital. A GfK cobre já 69%, a Nielsen/Bookscan, entre 50%-60% das vendas de livros trade.

A concentração - poucos títulos com grandes resultados - acompanha outros grandes mercados mundiais, mas, aqui, a proporção é menor. Na interpretação do analista da Nielsen/BookScan, o mercado brasileiro se apresenta, assim, com enorme potencial e perspectiva de mudança. Com uma comparação é possível compreender com mais clareza. O Top 500 brasileiro reúne 1% dos ISBNs, em torno de 30-40% do faturamento total de vendas. Em apenas uma semana, a última de janeiro, o primeiro lugar tinha vendido dez mil exemplares. O de número 500, algumas centenas. Na posição mil, em torno de cem. Na Inglaterra, cujo sistema de medição é o mesmo, há um Top 5 mil, com 2% do total de ISBNs correspondendo a 40% do faturamento. Enquanto no Brasil são vendidos entre 50 mil e 60 mil títulos por semana, lá são 200 mil. No mercado inglês, são 3 milhões de ISBNs na base de dados; no brasileiro, menos de um terço disso.

A diferença, na comparação com outros mercados, é que aqui os best-sellers ficam mais tempo nas listas, ou seja, sua influência é maior. "O Brasil é um país afeito a modismos", ressalta Rakowitsch.
Ângulos do comportamento dos leitores podem já ser deduzidos a partir do mapeamento de sete meses da Nielsen/BookScan - há planos de, ainda em 2014, ampliar essa investigação, para que seja mais bem definido o perfil de quem compra livros no Brasil. Das primeiras constatações, uma se refere a preço. "O que se pensava é que não era fator decisivo, mas vemos que sim. Faz diferença e altera muito a trajetória de um livro", diz o analista. "No Top 500, a principal tendência é o patamar de desconto e o impacto em vendas, independentemente do gênero." A segunda é quanto ao marketing. "É tão importante para o mercado editorial quanto para qualquer outro de consumo de massa."

Um dos comportamentos identificados é a do "light user", o sujeito que vai duas ou três vezes por ano às livrarias, em geral em época de grandes datas. Segue diretamente para a seção dos best-sellers. Não é difícil supor que há, na outra ponta, um "heavy user". Como sugere outro dado da Nielsen/BookScan: cerca de 40% dos ISBNs comprados aqui são originados de países estrangeiros - em faturamento, corresponde a 4%.

Indicativos de concentração, os números levantados até aqui também apontam para uma grande dispersão. Para uma medida dessa bibliodiversidade, tem-se que 80% do total de ISBNs do país vendem até cinco exemplares por semana, 10% do faturamento. "Constituem o fundo de catálogo, que atende leitores que leem muito ou que têm interesses específicos", explica Haroldo Ceravolo, à frente da Libre, a liga das editoras independentes, para quem esses números estão, "no geral, dentro do que estimam", refletindo a "variedade muito ampla do mercado brasileiro, com muito mais fornecedores nessa faixa do que nos outros países." Ceravolo acredita que até dez exemplares por semana fazem parte dessa categoria; que, pelos seus cálculos, pode chegar a 15% ou 20% do faturamento. No entanto, as vendas podiam ser melhores. "Os livros estão muito escondidos nas livrarias."

De fato, com relata o analista da Nielsen/BookScan, há "homogeneização do portfólio de títulos nas principais redes de livraria, focadas nos títulos de distribuição e ações de preço consistentes".
Mais do que bibliodiversidade, Felipe Lindoso, especialista em mercado editorial e políticas para o livro, vê nesses números a importância da internet. "O catálogo on-line é muito, muito maior que o estoque disponível nas lojas. O leitor procura, acha e pede, e as lojas encomendam. Aí aparece no dado do varejo. A internet aponta para o possível potencial de vendas dos fundos de catálogo."

O sucesso de clássicos como Clarice, Graciliano e Drummond, segundo Lindoso, deve estar vinculado a campanhas de marketing recentes. Alguns desses autores mudaram de editora; outros se beneficiaram de maior preocupação de antigos editores. Efemérides ou homenagens - caso de Graciliano na Flip de 2013 - também contribuíram para sua divulgação. "Como as editoras de fato não trabalham os autores nacionais mais novos, estes não aparecem. Se examinar as listas da Inglaterra e dos Estados Unidos, autores contemporâneos de alta literatura ou pelo menos de boa literatura em geral aparecem com mais frequência porque são trabalhados pelas editoras. Aqui se lança, literalmente, à sorte, o autor nacional."

Lindoso argumenta que há ainda poucas campanhas de marketing usando metadados de forma inteligente. "Para considerar com otimismo o mercado, seria necessário que editoras e livrarias desenvolvessem melhor suas estratégias para aumentar as vendas daquilo que os americanos e ingleses chamam de 'midlist'. Editoras e livrarias dependem quase exclusivamente do que 'cai no gosto' da imprensa e do público ou é o resultado de trabalho de autores que cultivam as redes sociais."

A presença de clássicos na lista é, na visão de Ceravolo, da Libre, mais resultado do Estado que do mercado. "É herança do sistema escolar, que faz o leitor conhecer o cânone, mas não o estimula a se interessar pelos contemporâneos. Esses livros vendem muito porque é isso que as pessoas estudam, o livro está muito ligado à ideia de escola." Como lembra, existem bons programas de formação de leitores voltados para crianças e jovens, mas falta fazer que continuem a ler depois que saem da escola. "Os leitores são formados de modo a conhecer o cânone, mas não a manter a curiosidade pelo livro. A questão é como formar leitores para sempre."

O modismo dos best-sellers relaciona-se, como avalia Ceravolo, à dificuldade para o leitor obter informação sobre os livros. "Estão pouco presentes na TV, jornais ou revistas, não fazem parte de outras esferas da vida nacional. E o leitor não é treinado para ir além dos best-sellers." Quanto aos ISBNs importados, crê que se trata "do reflexo do crescimento da pós-graduação nos últimos anos".





TeVê

TV PAGA » Fim de temporada


Estado de Minas: 06/03/2014


 (JONATHAN ERNST/REUTERS)


Termina hoje no canal Universal a quarta temporada da série The good wife. A partir das 22h, serão exibidos os dois últimos episódios. Que contam com a participação especial das atrizes Mamie Gummer (Aconteceu em Woodstock) e Martha Plimpton (Atração irresistível), além do apresentador Charlie Rose e do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg (foto).

CASAL SE DEDICA A
RESOLVER CRIMES

Estreia às 21h, no +Globosat, a série Mr. and Mrs. Murder, sobre um casal que se dedica a limpar cenas de crimes. São 13 episódios e, a cada um, novas cenas de crimes vêm à tona. Com mistura de suspense e comédia, o casal Murder ajuda a resolver os mistérios que a polícia tem dificuldade para concluir. O primeiro episódio da série se passa no quarto 2012 do elegante Hotel Materson. Esperando encontrar um antigo cliente, a garota de programa Fredrika é surpreendida pelo cadáver do herói nacional Marty O’Connor e do atendente de serviço de quarto Dan, que, coberto de sangue, segura uma faca. Aparentemente, um caso óbvio, mas com final inesperado.

ROMANCE E DÓLARES NA
CIDADE DE LAS VEGAS


Cameron Diaz e Ashton Kutcher estrelam Jogo de amor em Las Vegas, que será exibido às 22h, no Telecine Fun. Joy foi dispensada pelo noivo e resolve curar as mágoas em Las Vegas. Lá, a loura acaba conhecendo Jack, um jovem que acabou de perder o emprego. Depois de muita diversão e bebedeira, eles descobrem que se casaram e, antes de pedir o divórcio, ganham US$ 3 milhões. Agora, terão que provar que são um casal estável para manter o dinheiro.

GEÓGRAFO MILTON SANTOS
DISCUTE A GLOBALIZAÇÃO

O documentário Encontro com Milton Santos ou: O mundo global visto do lado de cá será exibido às 23h, no canal Curta!. O filme, que traz a última entrevista do conceituado geógrafo Milton Santos, discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias, procurando explicar, ou até mesmo elucidar, os seus efeitos, as crises que promove e o papel da mídia nesse contexto.

COMO GANHAR DINHEIRO
NO ESTADO DO TEXAS


Quem dá mais? Texas, spin-off da série californiana de sucesso do A&E nos Estados Unidos, está de volta para mostrar como, em tempos de crise financeira, leilões de unidades de armazenamento estão entre as mais novas fontes de renda ainda por explorar, pois estão cheios de tesouros ocultos. Assim, pessoas com grande tino comercial dão seus lances por lotes armazenados, confiscados ou abandonados, na esperança de encontrar ouro. Na busca por esses tesouros, suas ofertas vão da diversão à aventura, e elas estão dispostas a dizer ou fazer qualquer coisa para vencer, tentando ganhar dinheiro rápido. Às 22h30, no A&E.

EMPRESAS ARGENTINAS
QUE SAÍRAM DA CRISE


“Ocupar, resistir, produzir: Empresas recuperadas argentinas” é o tema do Sala de notícias, no ar às 14h35, no Futura. Uma das respostas à constante precarização do trabalho, intrínseca à economia capitalista, são as empresas geridas pelos próprios trabalhadores. Na Argentina, a experiência é conhecida como empresas recuperadas. São fábricas, hotéis, restaurantes e outras instituições que estiveram sob ameaça de ser fechados, foram ocupados e continuam a produzir sob gestão operária, sem patrões.


CARAS & BOCAS » Uma tristeza só

Simone Castro
Publicação: 06/03/2014 04:00

Pérola (Mel Maia) sofrerá as consequências de mais uma armação de vilão de Joia rara       (Cynthia Salles/TV Globo )
Pérola (Mel Maia) sofrerá as consequências de mais uma armação de vilão de Joia rara

Depois que Manfred (Carmo Dalla Vecchia) espalha para meio mundo a calúnia de que Pérola (Mel Maia) não é filha de Franz (Bruno Gagliasso) e sim dele, a casa vem abaixo. Nos capítulos de Joia rara (Globo), com todas as armações horrorosas do vilão, até Ernest (José de Abreu) acredita nele e confronta Amélia (Bianca Bin). Resultado: numa conversa, ele diz à sua nora que não sabe se amará Pérola se ela for filha de Manfred. A menina, apaixonada pelo avô, ouve e chora muito, e Ernest, que também não consegue conter as lágrimas, não consola a netinha. Enquanto isso, Viktor (Rafael Cardoso) aconselha Franz a fazer as pazes com Amélia. Pérola fica doente de tristeza e cai de cama. Na mansão, Ernest também tem febre. Os monges se preocupam com a saúde da criança. Lindinha (Cacau Protássio) convence Pérola a brincar no bloco de carnaval. Então, ela envia uma fantasia de espadachim para o pai e pede que ele e a mãe brinquem juntos com ela. Eles ficam reticentes. Pérola sofre com medo de que Manfred, finalmente, tenha destruído o casamento de seus pais. Na mansão, Ernest sonha com Ananda (Nelson Xavier) e Pérola.

ATRIZ VAI DAR SALTOS EM
NOVO QUADRO DE ATRAÇÃO

O Caldeirão do Huck (Globo) vai estrear, em breve, quadro em que artistas aprendem saltos ornamentais com um treinador profissional. Entre os participantes está a atriz Camila Camargo, filha do sertanejo Zezé di Camargo, que interpretou, recentemente, a personagem Ana na segunda fase de Em família. Ao site Vírgula, ela falou dos preparativos: "É preciso um preparo físico específico, mas estamos sendo muito bem orientados". A atriz também falou sobre aparecer na TV apenas de maiô: "É muito nervosismo, saltar e fazer acrobacias e movimentos ao mesmo tempo. Não dá pra lembrar que estou só de roupa de banho."

CLEO PIRES RETORNA À TV
NA MINISSÉRIE O CAÇADOR

A atriz Cleo Pires já tem data para voltar à telinha. Ela integra o elenco da série O caçador (Globo), provavelmente no ar em abril. Na trama estrelada por Cauã Reymond, que vive um ex-policial, Cleo será Kátia, uma jovem bipolar que mistura remédios e bebida. E tem ainda outro drama: é dividida entre os irmãos Alexandre (Alejandro Claveaux), seu marido, e André, o personagem de Cauã. "Kátia é perturbada", define a atriz.

ENSAIOS DE ANIMAL TÊM
INÍCIO ESTE MÊS NA GNT


Estão marcadas para dia 17 próximo, em um vilarejo a poucos quilômetros de Porto Alegre, as gravações da série Animal, cartaz do canal pago GNT. A atração, que será protagonizada por Edson Celulari e Cristiana Oliveira, contará com Marcos Breda, entre outros, no elenco.

FURTO DE JOIA ESQUENTA
CAPÍTULOS DE EM FAMÍLIA


Juliana (Vanessa Gerbelli) ficará em maus lençóis, nos capítulos de Em família. Tudo porque, disposta a comprar Bia, a menina de uma ex-empregada que julga ser sua filha, ela roubará uma joia na casa de leilões da família. Ela se sentirá pressionada por Jairo (Marcello Melo Jr.), trancará o rapaz no banheiro de sua suíte e sairá atrás da grana. Na casa de leilões, Juliana aproveitará de uma distração de Helena (Júlia Lemmertz) e furtará joia muito valiosa. Depois, pensará em empenhar o bracelete para levantar a quantia que Jairo quer para dar à sogra em troca da filha. Helena desconfiará da tia e irá procurá-la. Confrontada, Juliana negará tudo, mas Helena é firme: "Qualquer joia colocada no leilão está no seguro e é identificada por um sinal que não pode ser visto sem lente especial. Vamos dar como roubada a que sumiu e a companhia de seguros dará o alerta. Em poucos minutos a polícia chegará até você". Desmascarada, Juliana entregará a peça.

Retiro forçado
O ator Alec Baldwin afirmou, em artigo à revista New York magazine, que "viveu 30 anos com isso e está cansado", referindo-se à vida pública. Baldwin comentou sobre ser rotulado como "homofóbico" depois de episódio em que teria xingado e agredido um paparazzo, em 2013; e afirmou: "Detesto e desprezo a imprensa de uma forma que não acho ser possível".

O ator completou: "Esta é a última vez que vou falar sobre a minha vida pessoal em uma revista americana". Ele também aproveitou para negar o confronto com o fotógrafo. "Vocês realmente acham que eu daria para o TMZ, de todas as pessoas no mundo, algum motivo para formar um clube contra mim?", escreveu. E avisou que se mudará de Nova York, cidade em que vive desde 1979, por conta do assédio. Curioso é que o ator pretende se tornar político. "Tenho plano de concorrer a um cargo dentro dos próximos cinco anos", revelou.

viva

A atriz Nicette Bruno, que faz uma Santinha deliciosa, uma sogra daquelas de lascar, em Joia rara (Globo). Show da veterana.

vaia


"Momentos em família" que finalizam o capítulo de Em família. Parecem comercial de margarina e nem sempre as cenas funcionam.

simone.castro@uai.com.br

MARINA COLASANTI » Carnaval do mundo flutuante‏

MARINA COLASANTI » Carnaval do mundo flutuante 
 
Estado de Minas: 06/03/2014


 (Tuttle/reprodução)

e dizem que houve um carnaval. Na casa de montanha, rodeada de verde, banhada por doces chuvas de fim de tarde, não chegou. Trouxe, para me proteger, um livro de delicadeza, Notas de cabeceira, de Sei Shonagon, poeta japonesa e dama a serviço da imperatriz Sadako, que entre os anos 990 e 1000 descreveu os hábitos refinados e os cerimoniais da corte.

Nela me refugio depois de ler o jornal. Se para mim é detestável ver bandos de homens de touca ninja e uniforme militar, fortemente armados, para Sei são “detestáveis”: “as pessoas, sem dotes particulares, que sorriem ambiguamente, fazendo mexericos. (...) Pássaros que voam em bandos emitindo gritos agudos. (...) O amante, para quem a custo conseguimos um esconderijo, que começa a roncar ruidosamente.(...) O homem que, para visitar clandestinamente uma dama, pôs um grande chapéu na esperança de não ser reconhecido, mas que, entrando rapidamente, esbarra contra a porta e deixa cair o chapéu com um baque surdo”.

O jornal me informa que a Rússia está descaradamente invadindo a Crimeia, enquanto Sei me diz como é desapontador “compor um poema que consideramos muito bonito e enviá-lo a alguém, sem receber outro em resposta”. Ou quando “à espera de alguém, tendo há pouco começado a noite, ouves bater furtivamente à porta e com o coração agitado esperas que o servo te anuncie a sua chegada, mas não é ele, é outro, por quem não tens nenhum interesse”.

Da China, chega a notícia de que, numa estação, homens vestidos de preto mataram a facadas 28 pessoas. Para Sei, chegava o requinte de “um espelho chinês de prata levemente escurecida”.

Eram “coisas agradáveis” na corte de Kyoto: “Conseguir escrever uma carta sobre papel chinês fino e imaculado, com caracteres delgados, apesar do pincel grosso. Trançar fios de seda brilhantes e coloridos. (...) A água que bebemos, quando à noite nos levantamos sedentos”.

Dessa poeta brilhante pouco se sabe. Na edição que tenho em mãos, diz o posfácio de Lydia Origlia: “Da vida de um gênio a quem, se tivesse sido abrigado em corpo masculino, teriam sido tributados fama, altos postos na corte e a honra de comparecer nas crônicas históricas da época, restam somente dados raros e nebulosos”.

Não era bonita, isso sim sabemos, mas tendo a poesia no DNA – filha do importante homem de letras Kiyohara no Motosuke – cultivou o espírito crítico, o amor pela cultura e pela beleza. O espírito crítico lhe rendeu não poucos inimigos. O amor pela beleza e pela cultura fez dela a artista que admiramos até hoje. E os dois dons juntos levaram numerosos amantes ao seu leito. Não à toa o título original do seu livro é Notas do travesseiro, e não de cabeceira.

“Delicioso é encontrar de manhã, junto ao travesseiro, uma graciosa flauta. Aquele que a esqueceu manda um servo buscá-la, e a envolvemos com cuidado em papel, quase se tratasse de uma carta dobrada, e a entregamos”.

Não tenho prazer especial em ser informada da volta de Gates ao topo da lista de bilionários. Prefiro ler que, indo ao Templo da Iluminação, e tendo recebido um bilhete do amante para que voltasse logo para matar sua saudade, Sei escreveu no lado avesso de uma folha de lótus: “O orvalho sobre as flores de lótus, que vou buscando/poderei abandoná-lo para voltar ao mundo flutuante?”.

Tereza Cruvinel - A TV vale uma missa‏

Tereza Cruvinel - A TV vale uma missa
 
Quem pode ser deslocada para a pasta de Direitos Humanos é a ministra Ideli Salvatti, permitindo que Dilma tente arrumar a conturbada relação com o Congresso 
 
Estado de Minas: 06/03/2014



O pós-carnaval começou quente na arena política, com labaredas agora mais altas na crise entre o PT e o PMDB, viga importante da coalizão governista. Em uma rede social, o líder peemedebista Eduardo Cunha começou sugerindo o rompimento da aliança, embora depois tenha reinterpretado as próprias palavras. Com repensar, não quis dizer desistir, mas refletir. Compreendido, dirão os petistas, que também andam se perguntando se vale a pena manter a aliança. Nós, que assistimos a esse jogo interminável, mais uma vez nos perguntamos por que o PMDB sairia de uma aliança que lhe garante cargos e poder – ainda que não tanto quanto deseje – e que tem grandes chances de ser vitoriosa na eleição presidencial?
Isso vale para o PMDB e para os outros partidos aliados, que estão tratando de arrancar o que podem do governo, enquanto é tempo. Vale dizer, antes de empenharem a palavra e oficializarem o apoio a Dilma nas convenções de junho. É também por isso que ela vem cozinhando em fogo lento a reforma ministerial, na qual só resolveu até agora a substituição de alguns petistas. Não pode ela entregar as pastas ao PMDB e aos demais sem fechar alguns acordos eleitorais nos estados. Com o PMDB, a coisa vai de mal a pior. Hoje, aliança regional certa mesmo só existe em Brasília e em Minas, e, mesmo assim, no estado do senador e presidenciável tucano Aécio Neves são quase certas algumas dissidências, como a que deve ser liderada pelo senador e presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade. Fora disso, é olhar o mapa e constatar: PT para um lado, PMDB para outro, seja com candidato próprio ou com outras alianças. Como no Rio Grande do Sul, onde deve apoiar a senadora Ana Amélia, do PP.
Bem, dirão alguns, ainda que haja mais concorrência do que convergência eleitoral nos estados, o apoio do PMDB é importante para a governabilidade. Já foi. Desde que Eduardo Cunha tornou-se líder na Câmara, cada votação é um parto naquela Casa. E isso quando nem havia blocão. Com o PMDB liderando uma infantaria própria, composta pelas divisões de outros seis partidos, o governo é praticamente refém do maior aliado. Tanto que, na primeira votação que testou a força do blocão, para tirar de pauta um pedido de investigação sobre a Petrobras, o PT ficou sozinho e reuniu apenas 80 votos. Diante dos rumos da relação, os petistas cochicham entre si: se não há convergência eleitoral nos estados nem cumplicidade na ação parlamentar, está valendo a pena a aliança?
Na reunião de ontem com a presidente Dilma , é provável que, relativamente ao PMDB, o ex-presidente Lula tenha repetido o que tem dito a outros interlocutores: apesar de tudo, a aliança continua sendo importante. Dilma não precisa entregar os dedos, destinando a Secretaria de Portos a um indicado de Eduardo Cunha, mas precisa negociar os anéis. Não pode contemplar apenas o grupo do Senado nem deve concluir a reforma sem acertar os ponteiros em alguns estados, ainda que a demora faça aumentar a irritação dos peemedebistas. Apesar de todos os pesares na relação, e ainda que alguns grupos do PMDB façam com Dilma o que fizeram com o ex-governador José Serra em 2002 – deram-lhe apoio oficial mas descarregaram votos em Lula —, a aliança continua sendo importante, porque garantirá a Dilma o maior tempo de televisão. A coligação com o PMDB faz dobrar o tempo que seria destinado apenas ao PT. Esse seria o raciocínio de Lula, que, neste momento, está com todo o foco de sua ação na preparação da campanha.
Tanto é que ele se adiantou na montagem da estrutura, objeto da reunião de ontem, da qual participaram também o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o ex-ministro Franklin Martins, o publicitário João Santana e o chefe de gabinete Giles Azevedo, que vai para o comitê eleitoral. Segundo um petista de sua intimidade, Lula tem dito que fará tudo que estiver a seu alcance para que Dilma vença a eleição no primeiro turno, evitando o risco do segundo round: os adversários hoje não a ameaçam, mas em tempos trepidantes como os atuais, tudo pode acontecer. De resto, ele acha que é fundamental ganhar em pelo menos um dos dois estados do Sudeste, São Paulo ou Minas, enfrentando poderosas máquinas e forças tucanas.
A agenda dele ontem era, então, fundamentalmente eleitoral. Com tanta gente na reunião, dificilmente ele trataria do tão discutido estilo dílmico de governar e atuar politicamente, objeto de tantas queixas que lhe chegam, de políticos e empresários. A não ser que, pelo menos em uma parte do encontro, tenham ficado a sós. Nesta altura, não há mais separação entre ações de governo e de campanha, e por isso a temperatura anda tão alta. E vai subir mais, inclusive nas divisões da oposição, porque o tempo agora ficou mais curto para cada qual montar seu jogo.

Ideli em outra pasta
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, anseia por deixar o cargo, voltar à Câmara e cuidar de sua campanha. Há um forte lobby em setores do governo para que ela seja deslocada para a pasta da atual ministra-chefe da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci. Mas o deslocamento que agora Dilma examina é o da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela desgastou-se na relação com os congressistas e tem dificuldades para se eleger em Santa Catarina. Se for para os Direitos Humanos, com a promessa de ser mantida em um eventual segundo mandato, Dilma poderá escolher agora, em sintonia com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, outro mediador da relação com o Congresso, no momento em que a coalizão tem arestas para quase todo lado. 

Cientistas fazem mutação forçada que protege contra HIV

Mutação forçada protege contra HIV 
 
Cientistas dos EUA modificam gene em pacientes soropositivos e conseguem barrar a produção de uma proteína usada pelo vírus da Aids para infectar células humanas 
 
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 06/03/2014


Pablo Tebas, Carl June e Bruce Levine comandam o estudo promissor (Penn Medicine Communications/Divulgação)
Pablo Tebas, Carl June e Bruce Levine comandam o estudo promissor

Um grupo raro de pessoas — de 1% a 2% de toda a população — é considerado “imune” à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Elas têm no corpo mecanismos capazes de barrar a ação do vírus mesmo que expostas a ele em grande quantidade. Uma das grandes descobertas em torno do tratamento contra a Aids está justamente em uma mutação que esses indivíduos possuem no gene CCR5, chamada CCR5-delta-32. Desde então, terapias são testadas e desenvolvidas com foco nessa característica especial. Todas sem total sucesso até o trabalho de pesquisadores da Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos, divulgado na edição de hoje da renomada revista científica New England Journal of Medicine.

Utilizando uma terapia genética personalizada, os cientistas foram capazes de bloquear o HIV e controlar o vírus sem o uso de medicamentos antirretrovirais. Além disso, o estudo mostra que é possível manipular células T do próprio paciente com HIV para imitar uma resistência que se dá naturalmente ao vírus com segurança e eficácia. A equipe liderada por Carl June, do Departamento de Patologia e Medicina Laboratorial da Escola de Medicina Perelman da universidade, modificou geneticamente as células do sistema imunológico de 12 pacientes soropositivos. A tecnologia utilizada para construir com segurança o exército de células T modificadas é chamada “dedos de zinco” (ZFN, em inglês). Algo como uma “tesoura molecular” capaz de imitar a mutação CCR5-delta-32 que, ao ser induzida, reduz a expressão das proteínas membranares CCR5. Sem elas, o HIV não encontra seu receptor e, portanto, não pode entrar e infectar a célula, tornando os pacientes resistentes ao vírus.

Para chegar a esse resultado, as células modificadas foram infundidas de volta ao organismo dos voluntários. Seis pacientes foram retirados do tratamento com antirretrovirais e seis mantiveram a medicação normalmente. As infusões foram toleráveis e seguras para os indivíduos e as células T mutantes mostraram uma persistência no organismo superior ao que é observado nas originais. Durante algumas semanas sob a interrupção do tratamento, as células T iniciais diminuíram no sangue, enquanto a redução das células modificadas foi significativamente menor. Os pesquisadores também observaram células modificadas no tecido linfoide associado ao intestino, que constitui um importante depósito de células imunitárias e reservatório de infecção por HIV — o que sugere que as estruturas modificadas estavam funcionando e trafegando normalmente no corpo.

As cargas virais caíram em quatro pacientes cujo tratamento foi interrompido durante 12 semanas, sendo que, em um deles, esteve abaixo do limite de detecção. “Isso reforça a nossa crença de que as células T modificadas são a chave que poderia eliminar a necessidade de antirretrovirais ao longo da vida e, potencialmente, levar a abordagens funcionalmente curativas para HIV/Aids”, comemora June. Os pacientes de Boston – duas pessoas tratadas nos EUA por meio do transplante de medula óssea – são citados como um exemplo da efetividade da terapia. Eles, inicialmente, foram considerados curados funcionalmente pelo procedimento, mas, na verdade, passaram apenas por um controle viral, pois, sem a mutação homozigótica, o vírus não é totalmente extinto.

Embora decepcionante para a comunidade de pesquisa, os resultados dos pacientes Boston destacaram fatores-chave quanto ao combate ao HIV. “Esses casos enfatizam a necessidade de proteger as células T do vírus”, detalha o coautor Pablo Tebas, diretor da Unidade de Estudos Clínicos da Aids no Centro de Penn para Pesquisa da Aids. “Os casos de Boston nos mostram que, para o paciente Berlim, não foi a quimioterapia ou a infusão de células estaminais de um doador que destruíram o HIV. Era a proteção das células T pela falta de CCR5. O procedimento de Boston não poderia eliminar completamente o reservatório de HIV e, quando o vírus voltou, as células T eram suscetíveis à infecção. A abordagem ZFN protege as células T do HIV e pode ser capaz de esgotar quase completamente o vírus, tal como as células são ainda funcionais.”

COMPROVAÇÃO Um fato em específico confirmou a teoria dos pesquisadores. O paciente que alcançou níveis indetectáveis do vírus no sangue mais tarde foi reconhecido como heterozigoto para a mutação delta-32 no gene CCR5. Em genética, chama-se heterozigoto ou heterozigótico o indivíduo que tem dois alelos diferentes do mesmo gene, sendo que cada gene possui dois alelos. Se eles são idênticos, a pessoa é considerada homozigótica para o gene. A diferença é que, às vezes, um alelo é dominante e outro, recessivo. O primeiro tem maior capacidade de manifestar as suas características. Já o segundo tem menor capacidade. Se os dois são iguais, a probabilidade das características não se manifestarem são praticamente nulas.

O indivíduo que recebeu a terapia genética provavelmente herdou apenas de um dos pais a mutação que ajuda no combate à infecção. Muitos acreditam que essa condição já é favorável a pelo menos diminuir o impacto do vírus no indivíduo até mesmo retardando os efeitos da doença. Com a terapia, essa ‘condição favorável” foi turbinada. “Uma vez que metade dos genes CCR5 do sujeito eram naturalmente interrompidos, a abordagem de edição gene conseguiu dar um pontapé na proteção natural contra o vírus, fornecido por herdar a mutação de um dos pais”, detalha Bruce Levine, professor da Escola de Medicina Perelman, na Universidade da Pensilvânia. “Esse caso nos dá uma melhor compreensão da mutação e da resposta do organismo à terapia, abrindo uma outra porta para o estudo”, acrescenta.

Segundo o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Edecio Cunha Neto, há tempos que se imaginava que uma alternativa para o HIV seria a terapia genética das células do hospedeiro para diminuir ou eliminar a expressão de CCR5 funcional nas células-alvo. Dessa forma, seria possível prejudicar a invasão e a replicação do vírus, controlando a infecção. “Avanços recentes da terapia genética que a fizeram mais segura permitiram que isso fosse posto em prática agora, mas ainda envolve riscos e a reconstituição com células modificadas é parcial. Elas têm uma meia-vida curta.” Ele ressalta que o estudo foi feito sem um grupo de controle, portanto, não fornece de forma definitiva informações sobre a eficácia do tratamento, somente da segurança dele.

“Uma forma mais definitiva de tratamento genético seria tratar as células-tronco da medula óssea e devolvê-las ao paciente, um procedimento chamado de transplante autólogo de medula, só que com células modificadas geneticamente.” Edecio Cunha acredita que isso permitiria, em tese, que todas as células T CD4+ da pessoa tivessem a mutação CCR5-delta-32. “O efeito seria pronunciado, parecido com o do paciente de Berlim que recebeu um transplante de homozigoto para a mutação.” Os pesquisadores afirmam que novos ensaios clínicos vão avaliar um maior número de células T modificadas em grupos maiores de pacientes, bem como estratégias para aumentar a persistência de mais células no corpo para conseguir um efeito terapêutico.

O perigo do álcool - Vivina do C. Rios Balbino

O perigo do álcool 
 
Com urgência, é preciso que o governo brasileiro encare com seriedade o grave problema social causado pelo abuso dessa droga 
 
Vivina do C. Rios Balbino
Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil
Estado de Minas: 06/03/2014





Estudo de 2010, o Comitê Científico Independente sobre Drogas aponta o álcool como a droga mais perigosa da Grã-Bretanha, à frente até do crack e da cocaína. Nesse estudo, classificaram as drogas pelos danos individuais, que vão desde a morte até danos mentais, perda dos relacionamentos e pelos danos que podem provocar às outras pessoas. No ranking geral, o álcool ficou em primeiro lugar, com 72 pontos – a heroína ficou com 55, o crack com 54, a cocaína ganhou 27 pontos e a maconha ficou com 20. O ecstasy e os anabolizantes com nove e os cogumelos alucinógenos com cinco. Se levados em conta apenas os danos individuais, as drogas mais perigosas são o crack, a heroína e metanfetamina. A mais danosa para os outros foi o álcool e recomenda-se atenção para os perigosos riscos dele – individual e coletivamente.

O Brasil parece ignorar esse perigo e o resultado aparece: milhões de dependentes, grandes tragédias sociais e propagandas livres na mídia. Pesquisa recente da Unifesp mostra que 22 milhões de homens abusam do álcool, 16 milhões são dependentes e 12 milhões são alcoólatras – um aumento de 30% em 10 anos. Enquanto isso, 8 milhões de mulheres abusam do álcool e 5 milhões são alcoólatras – um aumento de 50% em 10 anos. Cerca de 30 milhões de brasileiros são bebedores de risco.

Pesquisa recente da Secretaria Nacional Antidrogas constatou que metade dos alunos do ensino fundamental (menores de 18 anos) havia experimentado, bebida. No carnaval de 2014, houve uma campanha para desestimular o consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes. Orçada em R$ 5 milhões, a campanha teve como alvo central jovens que iam participar dos carnavais do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Ouro Preto, onde o carnaval atrai muita gente. Uma boa iniciativa, mas será que tem resultado se as propagandas apelativas continuarem livres em todo o Brasil na mídia, induzindo fantasiosamente milhões ao vício? Parece inócua.

Para piorar, na Copa as bebidas alcoólicas estarão liberadas nos estádios. Bebidas historicamente já financiam o futebol e o carnaval, as maiores paixões nacionais. Bebida combina com esporte? Ídolos como artistas e jogadores de futebol famosos "vendendo" o produto, induzindo milhões ao vício. Penso que enquanto não houver uma regulamentação competente e uma eficaz campanha preventiva na mídia e escolas, a exemplo do cigarro, o grave problema de saúde pública do álcool só vai piorar no Brasil. Sobre a regulamentação da mídia: “Não tem sentido a lei deixar de fora a cerveja, que é a bebida mais consumida no país. Já está na hora da sociedade se mobilizar para equiparar a cerveja a todas as bebidas que já sofrem restrição nas propagandas. Nossa proposta é uma ampla mobilização no país para sensibilizar o Congresso Nacional a modificar a lei”, explicou Jairo Edward de Luca, promotor de Justiça da Infância e Juventude de São Bernardo do Campo – SP. Dias de carnaval são marcados por bebidas incentivadas pela mídia, tragédias no trânsito e agressões, pronto-socorros cheios de jovens por overdose de bebidas e outras drogas, muitas mortes. Até quando veremos essa tragédias sem prevenção? Quanto se gasta no Brasil com os abusos do álcool e suas consequências?

Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de 2013 apontam que o alcoolismo é o principal motivo de pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais pelo uso de substância psicoativa. O afastamento do trabalho com pedido de auxílio devido ao uso abusivo do álcool teve um aumento de 19% nos últimos quatro anos. Os dados mostram que o auxílio-doença concedido a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas passaram de 143,4 mil. Cocaína é a segunda droga responsável pelos auxílios, seguida do uso de maconha, haxixe e alucinógenos. E nos hospitais públicos, quanto se gasta com o abuso de bebidas?

Os dados são extremamente graves. Com urgência, é preciso que o governo brasileiro encare com seriedade esse grave problema social e implante eficazes e mais rigorosas políticas preventivas para o abuso do álcool. Como apontam as pesquisas e os dados estatísticos apresentados, essa droga é muito perigosa e tem altíssimo consumo. O resultado são muitas tragédias, doenças e mortes pelo Brasil afora. 

Eduardo Almeida Reis - Notas carroceiras‏

Notas carroceiras 
 
Zélia Maria Cardoso de Mello foi um desses fenômenos só anotados em países grandes e bobos 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/03/2014


São mais de 150 profissionais, R$ 50 é o valor médio do carreto e muitos dizem faturar até R$ 2 mil por mês. Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata de Minas, vem cogitando acabar com os seus carroceiros, justo no momento em que o seu trânsito de veículos automotores ultrapassa o limite do número de automóveis, ônibus e caminhões suportado pelas ruas centrais.

Nas horas do rush, que duram o dia inteiro, os automotores andam mais devagar do que as carroças – e o plano é acabar com elas. Nova York e outras cidades maiores que JF têm carruagens tiradas por um ou dois cavalos. Não há brasileiro que não se faça fotografar em NY passeando numa carruagem, como fez a então ministra Zélia Cardoso de Mello, mãe de dois filhos de Chico Anysio num casamento dos mais esquisitos de quantos foram realizados nos últimos 200 anos.

Zélia Maria Cardoso de Mello (São Paulo, setembro de 1953) foi um desses fenômenos só anotados em países grandes e bobos. Estudante de economia, deixou o curso para ser fotógrafa. Depois, formou-se e passou a lecionar economia, dando razão à norma nhambiquara de que os que sabem, fazem, e os que não sabem, ensinam.

Viveu com o ministro Bernardo Cabral um caso de amor dos mais ridículos da história da espécie H. sapiens, envolvendo troca de bilhetinhos de uma infantilidade mais que imbecil. Quis ser cantora e acabou envolvendo Nelsinho Motta na história de um jantar à luz de velas, episódio de matar de rir ou de chorar. E achou tempo de complicar a biografia do grande mineiro Fernando Sabino, pelo “crime” de escrever o livro Zélia, uma paixão, que pouca gente leu e pouquíssima gente entendeu. Antes de ser encomiástico, é livro humilhante ao dar notícia detalhada de quem foi, realmente, a ministra inventada pelo presidente Fernando Affonso Collor de Mello.

E as carroças de Juiz de Fora com isso? Não sei nem me interessa apurar, mas tenho pena dos carroceiros ameaçados de perder seus rendimentos mensais.

Cremosa vigarice
Faz tempo que venho escrevendo sobre o assunto, mas é duro concorrer com a publicidade cavalar das multinacionais. Ainda agora, tivemos páginas e mais páginas coloridas nas revistas semanais de informação. A edição do Globo no último dia 23 de fevereiro trazia sobrecapa colorida com as “virtudes” de uma marca de margarina, quando é sabido que margarinas não podem entrar em cozinhas decentes. Se entram, é porque as operadoras de forno e fogão são influenciadas pela propaganda. Aqui em casa houve advertência verbal seguida, em caso de reincidência, de demissão por justa causa. Istvan Wessel tem dito em suas receitas radiofônicas: “Margarina não é coisa que se use numa cozinha”.

Vamos aos fatos, que esta é uma coluna séria escrita por um sujeito seriíssimo. O recente tsunami publicitário coincidiu com um fato constatado nos Estados Unidos: em 2012, o consumo de manteiga foi o maior dos últimos 44 anos, enquanto as vendas de margarina foram as menores dos últimos 70 anos. Na Alemanha, a manteiga supera a margarina nas vendas e no Brasil, mesmo sendo um país grande e bobo, as vendas de margarinas caíram 2,9% em 2012.

Daí o auê industrial dos margarineiros, que têm agências de publicidade e muito dinheiro para gastar, enquanto os produtores de leite – 100 litros aqui, 400 litros acolá – vivem na tábua da beirada. Liz Vieira, nutricionista do Instituto do Coração da USP, diz que a manteiga passou a ser vista como produto mais natural e de qualidade superior à da margarina, enquanto na tevê Nigella Lawson e Jamie Olivier incentivam o uso da manteiga para dar mais sabor aos alimentos. Foi o que li na revista Época de 24 de fevereiro e assino de cruz, maldizendo o imperador Napoleão III, que, em 1869, pediu à indústria francesa que procurasse encontrar um produto para substituir a manteiga, empulhação que existe até hoje.

 O mundo é uma bola
6 de março de 1353: o cantão de Berna adere à Confederação Helvética. Idiomas alemão e francês. Fica no centro da Suíça e não chegava ao milhão de habitantes no censo de 2006.

Em 1480, na ratificação do Tratado das Alcáçovas-Toledo pelos Reis Católicos, a Espanha recebe as Ilhas Canárias e Portugal assegura a posse de terras na África Ocidental.

Em 1521, Fernão de Magalhães descobre a Ilha de Guam habitada pelos chamorros havia cerca de 3.500 anos. Serviu de cenário para batalhas durante a Segunda Guerra Mundial e hoje deve ter 175 mil habitantes. Idiomas oficiais: inglês e espanhol-austronésio (chamorro). Gentílico: guamês, guamesa. Território norte-americano na Micronésia. Presidente Barack H. Obama.

Em 1853, estreia em Veneza a ópera La Traviata, de Verdi. Gosto muito. Em 1831, também no dia 6 de março, havia estreado em Milão a ópera La Sonnambula, de Belini, que conheço pouco.

Em 1855, Manoel da Mota Coqueiro entrou para a história como último condenado à morte que teve a pena executada no Brasil. De lá para cá mata-se muito por qualquer motivo e até sem motivo algum. Os homicídios orçam hoje pelos 50 mil anuais.

Ruminanças
“Nunca é segura a sociedade com os poderosos” (Fedro 15 a.C.-50 d.C.).