quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Marina Colasanti - Como uma carta de despedida‏

Como uma carta de despedida
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com

Estado de Minas: 27/02/2014


Arduino Colasanti em cena de Como era gostoso o meu francês (Condor Filmes/divulgação)
Arduino Colasanti em cena de Como era gostoso o meu francês

Morreu Arduino Colasanti, meu irmão. Para os outros, era o galã de cinema, ator fetiche de Nelson Pereira dos Santos, o jovem lindo de O justiceiro, ou o prisioneiro dos índios tupinambás de Como era gostoso o meu francês, que em plena nudez espera ser devorado. Ou, para quem tem boa memória, a personagem em Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., duelando com nosso pai – o também ator Manfredo Colasanti –, armado um com um gigantesco garfo, e o outro com uma imensa faca de mesa. Era o ator que, invejado por tantos, namorava Leila Diniz em Fome de amor.

Para mim, foi o cúmplice de tantas aventuras de infância, metidos juntos em trigais mais altos que nossas cabeças, ou indo buscar cogumelos no bosque para dar à nossa mãe de aniversário. Era o poderoso guerreiro Olhos de Águia, chefe e fundador da tribo de índios pele- vermelha da qual eu era a única menina, autonomeada Sole Ridente. E também Tarzan, nas explorações iniciais da selva tropical que compõe o Parque Lage, cuja mansão foi nossa primeira casa no Brasil. Andamos muito de cipó, soltando o chamado característico do homem-macaco, sem nenhum reconhecimento por parte dos micos. E construímos cabanas estupendas, tão benfeitas que uma delas foi aproveitada no filme Jangada, rodado no parque, e destruído num incêndio antes de qualquer exibição.

Para os outros, Arduino era o homem do mar que fabricou – e usou – a primeira prancha de surfe no Brasil, o mergulhador da equipe brasileira no campeonato de caça submarina em Malta, o professor de mergulho que formou tantos profissionais, o homem que virou acidente geográfico, para sempre preservado na Laje Arduino, entre duas ilhas no canal da Barra. Homem tão do mar que pediu fossem suas cinzas jogadas junto às Ilhas Cagarras, ao largo de Ipanema.

Para mim, foi o instrutor particular que me ensinou a mergulhar e me levava para pescar, naquele tempo em que praticamente não havia mulheres no esporte. Eu morria de medo porque não tinha o mesmo traquejo dele, nem o mesmo talento aquático. E morria de frio porque era adolescente magrinha e ainda não existiam roupas de neoprene, meu maxilar doía de tanto apertar o bocal do respirador para evitar o tremor dos dentes. Mas era muito bom! Mergulhamos juntos na Gruta da Imprensa, entre espumas de onde temia ver surgir um cação a qualquer momento. Mergulhamos no navio afundado da Barra, eu sabendo que se o mar virasse ia ser dificílimo voltar porque não sabia pegar jacaré. E mergulhamos na Laje Santo Antônio, em mar aberto. Hoje, olho a laje do alto do meu terraço, lá longe, marcada por ondas, e ouço a voz dele me dizendo com orgulho de irmão e professor: “Você foi a primeira mulher a mergulhar na Laje Santo Antônio!”.

Para todo mundo, Arduino era sobretudo o belo por excelência, o louro de perfeito perfil e olhos azuis, um grego florentino em plena Ipanema. E era o conquistador ou o conquistado de tantas mulheres, as mais bonitas e desejadas.

Para mim, era meu desdobramento, oposto e complementar indispensável, único no mundo a partilhar as lembranças de nossa infância na África e na Itália, nossa chegada ao Brasil.

Perguntei-lhe recentemente como se sentia, se italiano, brasileiro ou dividido. Respondeu enfático: “Eu sou um mulato brasileiro!”. 

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 27/02/2014



 (Marcos Vieira/EM/D.A. Press-18/11/2003)

O dono da voz


Um dos maiores nomes da história do samba e, com certeza, o mais popular representante da Estação Primeira de Mangueira na avenida, o cantor Jamelão (foto) é o personagem de um dos documentários que encerram hoje o especial de carnaval do Canal Brasil. A programação começa às 19h, com Mangueira documental, e fecha com a homenagem a Jamelão (1913–2008), realizada quando ele completou 90 anos. As duas produções foram dirigidas por Marco Altberg.

Cultura traça o perfil
de Compay Segundo


E tem mais música na telinha. Às 14h35, no Canal Futura, o Sala de notícias apresenta a reportagem “A arte de ser músico”, de Rosí Fer, que acompanha dois instrumentistas da Orquestra Sinfônica de São Paulo. No Bis, às 19h30, tem show de Emicida e Criolo. Na Cultura, às 22h, será exibido o documentário Compay Segundo – Uma lenda cubana, em que o diretor Claude Santiago retrata a trajetória de uma das mais representativas figuras da música de Cuba. E às 23h30, ainda na Cultura, Fernando Faro recebe a cantora Fabiana Cozza no programa Ensaio.

Curta! exibe biografia
de Jorge Luis Borges


No canal Curta!, mais uma atração que merece a atenção do assinante: a série Grandes escritores, às 23h. Hoje, o programa vai focalizar vida e obra do escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899–1986).

SescTV destaca hoje
a Cidade Maravilhosa

Outro documentário recomendado está na tela do SescTV. Às 21h30, no programa Coleções, será exibido um especial sobre o Rio de Janeiro, na série “Cidades históricas”. O episódio ressalta os aspectos históricos da cidade do Rio de Janeiro, suas belezas naturais e suas principais manifestações culturais, contados por personagens que são apaixonados por ela.

Natureza promove um
show de luzes nos céus


O canal +Globosat exibe hoje, às 17h, o documentário Aurora boreal, que revela imagens inéditas e de qualidade excepcional deste fenômeno ao redor do mundo. A experiência de assistir às luzes naturais no céu deu origem a várias lendas criadas por povos primitivos, como comprova esta produção, gravada na Finlândia, Alasca, Canadá e Nova Zelândia.

Muitas alternativas
no pacote de cinema


Na programação de filmes, o Telecine Cult continua com sua seleção de indicados e premiados com o Oscar, emendando hoje Priscilla, a Rainha do Deserto (20h) e Ed Wood (22h). Outro destaque está no TCM, também às 22h: o clássico Laranja mecânica, de Stanley Kubrick. Ainda na faixa das 22h, mais cinco boas opções: Os desafinados, no Canal Brasil; 12 rounds 2, no Telecine Pipoca; A última casa, no Telecine Action; Educação, no Studio Universal; e Mississipi em chamas, na MGM. E mais: O último grande herói, às 21h, no Comedy Central; Crash – No limite, às 21h30, no Viva; e Planeta dos macacos: a origem, às 22h30, na Fox.



CARAS & BOCAS » Divisor de águas
Simone Castro

Regina Duarte interpreta Malu, no seriado da década de 1970 (Globo/Divulgação)
Regina Duarte interpreta Malu, no seriado da década de 1970

O canal Viva (TV paga) quer presentear as mulheres no mês em que são homenageadas. E para tanto, elegeu a atriz Regina Duarte, que mais coleciona papéis nos quatro anos do canal. Em dose tripla, ela tomará conta da telinha na seleção feita para agradar a todo tipo de público. A partir de 1º de março, às 14h30, começam a ser exibidos oito capítulos do seriado Malu mulher, em que a atriz interpreta uma das personagens que, sem dúvida, é das mais marcantes em seus 50 anos de carreira, e um divisor de águas. Com ele, Regina saltou das mocinhas que lhe valeram o título de “namoradinha do Brasil” para viver uma mulher emancipada, que deixou um casamento que não mais a satisfazia, foi à luta e se tornou dona do seu nariz, em pleno final da década de 1970. Em cena, a luta diária de uma mãe divorciada para criar a filha adolescente em uma época em que a separação ainda era malvista pela sociedade. Dirigido e criado por Daniel Filho em 1979, o seriado, que irá ao ar sempre aos sábados, no canal, traz discussões sobre trabalho, família, criação dos filhos e o relacionamento entre homens e mulheres. Ainda na pauta, temas polêmicos na época, como aborto, virgindade e orgasmo. Com estreia no dia 10, às 15h30, e sempre de segunda a sábado, a novela História de amor traz Regina no papel de sua primeira Helena, escrita por Manoel Carlos. Ela faz par romântico com José Mayer. A trama, exibida em 1995 pela Globo, marcou a comemoração dos 30 anos de carreira da atriz. Já no dia 17, às 23h10, e de segunda a sexta, entra no ar Retrato de mulher, que teve origem com o especial de fim de ano da Globo Era uma vez... Leila, em 1992. Em cada episódio, Regina aparece interpretando uma mulher diferente. A estreia é com Era uma vez... Luciana, de Leilah Assumpção, em que a atriz é uma professora universitária que enfrenta problemas no casamento depois do nascimento do primeiro filho.

SERTÃO BRASILEIRO E SEUS
CORONÉIS EM JORNALÍSTICO


No Conexão repórter desta quinta-feira, no SBT/Alterosa, confira o documentário exclusivo Os filhos dos coronéis. É um dramático retrato de abandono, da hipocrisia, dos desmandos e do sofrimento nas escolas no sertão brasileiro, que são dominadas pelos coronéis. O programa mostra, ainda, que a indústria da seca e da perpetuação do poder traz uma sentença social: a condenação ao não futuro. As botas do poder oprimem enquanto crianças são obrigadas a estudar amontoadas em casebres de lona. Barracos de barro sem luz, água ou banheiro, onde as aulas são interrompidas até pela entrada de animais.

JENNIFER LOPEZ FAZ SUA
ESTREIA EM SERIADOS


A atriz e cantora Jennifer Lopez vai protagonizar Shades of blue, nova série de drama do canal NBC em que ela faz sua estreia no gênero. O papel é de Harlee McCord, uma mãe solteira e detetive recrutada para trabalhar disfarçada para o FBI em uma força-tarefa anticorrupção. A atração, que tem estreia prevista para setembro do ano que vem e contará com 13 episódios na primeira temporada, seguirá a personagem de Jennifer em sua jornada de tornar-se “comprometida com seus colegas – que também a auxiliarão na tarefa de criar a filha – e de encarar o dilema moral de trabalhar contra seus colegas de corporação, a fim de redimir a si mesma”, conforma descrição do canal.

FILME PARA O PAPA

O ator Russell Crowe quer levar o papa Francisco ao cinema. Crowe lançou uma campanha no Twitter para conseguir que o sumo pontífice assista ao seu próximo filme, Noé, uma adaptação do relato bíblico da arca de Noé. Para o ganhador do Oscar, o papa ficará fascinado com o longa-metragem. Anteontem, Crowe teria enviado quatro mensagens para o Twitter do papa – @pontifex – com o objetivo de mostrar o filme, que tem estreia marcada para 28 de março nos Estados Unidos e duas semanas depois na Itália. “É poderoso, fascinante e ressonante”, disse o ator em seu primeiro tweet. O segundo pedia aos seus 1,3 milhão de seguidores para o ajudarem a repercutir o convite ao papa. “Ajudam? Retuítem o anterior”, disse o ator, que, de acordo com a agência EFE, conseguiu que a conta do papa no Twitter recebesse sua mensagem mais de 500 vezes. O ator pediu desculpas ao papa pelo “caos” que causou e reiterou seu convite: “A sério, o filme Noé te fascinará”, declarou. E afirmou que seria seu “prazer mais profundo” levar o filme do diretor Darren Aronofsky à sua tela. A conta @pontifex não respondeu a Crowe, mas o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, teria comentado, no ano passado, que o papa não
assistia a filmes.

VIVA
Boa cena de Herson Capri (Ricardo) com Natália do Vale (Chica) na novela Em família (Globo).

VAIA
No entanto, a mesma cena poderia ter sido reduzida à metade por conta de diálogos dispensáveis. 

Tereza Cruvinel - Blefe ou crise‏

Blefe ou crise 
 
A rejeição do crime de quadrilha pela maioria do STF pode dar a Joaquim Barbosa um motivo para deixar a Corte em protesto 

 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 27/02/2014


Há quem veja na fervura da base governista apenas uma TPE, tensão pré-eleitoral, como a resume o senador petista Jorge Viana (AC). E há quem ouça nos movimentos recentes uma marchinha insolente, antecipando uma ruptura de consequências eleitorais na maior aliança partidária já construída na democracia contemporânea, marcada pelo nefasto e inescapável presidencialismo de coalizão. Até junho saberemos se o movimento é irrelevante ou se tem força para alterar de algum modo o fluxo das águas. Certo é que ontem, para dizer que não estão brincando, os rebeldes do chamado “blocão” fizeram farinha da vasta maioria governista: o PT ficou literalmente sozinho, garantindo apenas 80 votos na tentativa de retirar de pauta a proposta de criação de comissão especial para investigar denúncias contra a Petrobras.

É razoável supor que a oposição hoje tenha 100 votos, nela incluído o Solidariedade, que surgiu no ano passado como lasca da base. Restariam assim ao governo, teoricamente, 413 votos numa casa de 513. Tal maioria formou-se a partir da coligação de 10 partidos reunidos em 2010 pelo ex-presidente Lula para apoiar a candidatura Dilma. Coligação tão grande, nem ele teve. Mas há muito tempo o governo não desfruta, na Câmara, do conforto que tal maioria deveria propiciar. Raramente a Casa funciona com todos os deputados presentes, mas estas são as contas que permitem enxergar melhor a floresta do plenário. Na votação mencionada, por exemplo, o outro lado reuniu 261 votos, misturando oposição e “blocão”, um ajuntamento de governistas dispostos a votar contra o Planalto.

Quando inclui o blocão entre os eventos da TPÈ, Jorge Viana refere-se à angústia de partidos e parlamentares nesta época, forjada pela necessidade que têm de renovar seus mandatos para sobreviver politicamente. Para isso, precisam mostrar às bases que conseguiram levar obras e benefícios aos municípios. Dilma, entretanto, não os chama para a entrega de patrolas e retroescavadeiras. Querem ter seus nomes na lista dos que votaram a favor de projetos de apelo popular, mas aí o Planalto tranca a pauta porque tais propostas lhe trariam problema. A demora da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial e os impasses para a formação das alianças nos estados também contribuíram, diz Viana, para esquentar o caldo de insatisfações. Logo que tudo isso for equacionado, diz ele, as coisas vão serenar: “O maior engenheiro que eu conheço é o sucesso. Nenhum aliado vai querer romper com um governo bem avaliado e uma presidente que tem elevadas chances de se reeleger, até mesmo no primeiro turno”.

Pode ser mesmo que tudo se dissipe mesmo quando o vento da campanha começar a soprar. Mas se no meio do caminho acontecer um grave fato imponderável, encontrará o governo com sua base de sustentação literalmente esfarelada. E o imponderável pode ser, inclusive, o surgimento de uma candidatura que empolgue o eleitorado. Embora hoje, segundo as pesquisas, os que estão colocados não venham conseguindo fazer isso, e boa parte dos que desejam mudanças prefiram que elas ocorram com o próprio PT no poder.

Agora já foram todos para a carnaval. Os rebeldes contentes com a malcriação cometida e os petistas reclamando de aliados tão ingratos. A sério, nas cercanias petistas muita gente já se pergunta se vale a pena manter a aliança com o PMDB, líder da rebelião.


Sem quadrilha
“Para mim tanto faz”, disse o ministro Joaquim Barbosa na semana passada. Mas ontem, não foi isso que ele demonstrou, quando ficou claro que o crime de quadrilha deve ser rejeitado pela maioria do STF no julgamento dos embargos infringentes dos réus da Ação Penal 470. Se tal resultado se confirmar, há quem pense que Barbosa pode valer-se do desfecho para antecipar sua saída, declarando-se decepcionado. Para ser ou não candidato a cargo eletivo.

O ministro José Roberto Barroso pode não ter ouvido ou talvez tenha preferido ignorar, para reduzir a celeuma, a mais grave acusação que lhe fez Barbosa ontem. Depois de classificar seu voto como político e não jurídico, acusou-o de já ter chegado ao Supremo com ele pronto. Que talvez já o tivesse preparado antes de lá chegar. Ou seja, que tenha sido indicado para dar um voto que reduzirá as penas e dará discurso ao PT e aos críticos do julgamento. Barroso, na réplica, passou ao largo.


Deveria ter futuro
O que há de nefasto no sistema brasileiro de reeleição – e foi o ponto mais criticado da emenda apresentada e aprovada pelos aliados do ex-presidente Fernando Henrique em 1997 – é a permissão para que os governantes, em todos os níveis da Federação, disputem o segundo mandato no cargo. Ou seja, desfrutando de todas as vantagens proporcionadas, que vão da maior exposição pública à execução do orçamento, sem falar no uso do aparato do poder, ampliando a desvantagem dos candidatos de oposição. Fora isso, a possibilidade de recondução de um governante bem avaliado tem aspectos positivos. Evita a descontinuidade, assegurando a conclusão ou aprofundamento das políticas públicas implantadas, que, muitas vezes, dependem de maior tempo de maturação e desenvolvimento para dar frutos.

Hoje é dia de Adélia - Carlos Herculano Lopes

Hoje é dia de Adélia 
 
Quem for ao lançamento do livro de poemas Miserere, no Teatro Sesiminas, terá a chance de ouvir Adélia Prado lendo versos que falam das miudezas, mistérios e encantos da vida 
 
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 27/02/2014


 (Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Já em contagem regressiva para comemorar seus 80 anos, que serão completados em 2015, Adélia Prado está entre os grandes poetas vivos deste país, ao lado de Manoel de Barros, Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant’Anna. Miserere, seu último livro, só vem confirmar uma certeza: sua poesia, que continua a dialogar com o religioso e a passagem do tempo, está mais madura – e um pouco mais triste. Com maior desprendimento, a autora discorre sobre lembranças familiares e a inevitável presença da morte.

“Nasci melancólica, antes do baile já vejo os dançarinos chegando em casa cansados com os sapatos nas mãos. Poeta já nasce velho. Sou chegada a lágrimas no meio da maior alegria”, diz a escritora mineira em depoimento que é pura poesia – assim como será ouvi-la hoje à noite, no Teatro Sesiminas, onde lançará Miserere a convite do projeto Sempre um papo.

Esses sentimentos, provavelmente, acompanham Adélia desde a infância em Divinópolis, onde nasceu em 13 de dezembro de 1935. A escritora só sai de lá de vez em quando – mesmo assim, muito rapidamente – para falar de sua obra pelo Brasil. “Sou espantada com a vida, com suas miudezas, com seus altiplanos, seu mistério, seu infinito encanto”, confessa ela.

O livro de estreia, Bagagem, considerado um clássico da literatura brasileira, foi lançado em 1976, depois de a autora ter sido descoberta por Affonso Romano de Sant’Anna. Ele a apresentou a Carlos Drummond de Andrade, que apadrinhou a novata no mundo literário. Dois anos depois de Bagagem, Coração disparado foi agraciado com o Prêmio Jabuti. Em 1987, a atriz Fernanda Montenegro encantou o Brasil com a encenação do espetáculo Dona Doida, baseado em textos da mineira.

Adélia escreveu romances como Solte os cachorros, Cacos para um vitral e Terra de Santa Cruz, entre outros. Destacou-se na literatura infantojuvenil com Quero minha mãe e Carmela vai à escola.

Letícia Malard, professora emérita de literatura brasileira na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que Adélia Prado está entre os maiores poetas brasileiros da atualidade. De acordo com a especialista, a autora consegue, de uma forma que encanta os mais diferentes leitores, “articular o modernismo com o pós-modernismo em seus versos”.

Antes do alvorecer


O morto não morre,
não há colo nem cruz
onde repouse o que palpita cego
e lancinante pervaga.
Sei que me olha de uma fenda quântica,
mas eu o queria aqui junto comigo,
delirante, fraco, mas comigo,
junto comigo, o meu querido irmão.
Numa carta longínqua me escreveu
“Somos de Deus, irmã”.
Uma bela antífona ao choro desta noite
até que chegue a manhã.


. Poema de Miserere, livro de Adélia Prado

SEMPRE UM PAPO

Teatro Sesiminas. Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia. Hoje, às 19h30. Lançamento do livro de poemas Miserere (Editora Record), de Adélia Prado. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

Três perguntas para...
Adélia Prado - Poeta


Como você vê a evolução da sua poesia desde Bagagem? Ficou mais triste, mais amadurecida? Como situar Miserere no conjunto de sua obra?
Mais triste, no sentido de que mais próxima de realidades que em Bagagem eu ainda não sentia na própria carne. Contudo, Miserere é uma poesia possível por causa da esperança que, graças a Deus, ainda me acompanha.

Como é fazer poesia nestes tempos tão complicados para o Brasil? Ela é uma espécie de alento?
Nos tempos cinzentos e complicados que vivemos atualmente, se não tivermos um canal de transcendência e significado como a poesia, a fé, o buraco da cratera pode aumentar a níveis insuportáveis e tragar todo mundo. Precisamos de uma ação política. Vamos procurar o que podemos agir e fazer.

Você continua acreditando no país, no nosso povo?
Acreditar significa esperança de uma saída. As nuvens estão pesadas e escuras. Espero o sinal que nos ponha em marcha para o caminho novo. Copa do Mundo, eleições? Deve haver algo além de queimarmos ônibus, matar pessoas e mentir a respeito de rigorosas providências: 12 anos de cadeia para mascarados. Então é assim? Somos obrigados a votar? Votemos. Somos obrigados a escolher? Vamos rezar, rezar muito e aguardar acordados a ordem para a batalha. 

Eduardo Almeida Reis - Biscoito belga‏

Biscoito belga
 
No Hemisfério Sul, biscoito belga é o produto mais parecido com a mulher do próximo, desde que palatável


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/02/2014

Bolacha em São Paulo, biscoito no Rio, sendo belga difere de tudo que se faz e se vende por aí. Biscoito belga é o primeiro beijo, é a mulher do próximo, é a terceira num final de tarde com gosto de quero mais.

België, Belgique, Belgien, Koninkrij België, Royaume de Belgique, Königreich Belgien é um país situado na Europa ocidental, membro fundador da União Europeia, 30.528 km2, cerca de 10,7 milhões de habitantes, línguas oficiais flamengo, francês e alemão.

IDH 0,898 (muito elevado), tem aptidão incomparável para fazer biscoitos, alguns à venda no Brasil nos raros supermercados decentes, além de meias e lenços de cambraia. Com o dólar a R$ 1,45 importei da Bélgica, através de um amigo que tem filha, genro e neto morando em Bruxelas, alguns pares de meias de cano longo para trabalhar na TV e uns tantos lenços de cambraia, tão finos que não tenho coragem de usar. Diz o fabricante que o seu estoque de cambraia de linho tem 130 anos. Acreditei, porque acredito em tudo que me dizem, com exceção da Copa das Copas.

Mas o biscoito belga – senhoras e senhores do Egrégio Conselho Leitoral – é diferente de tudo que o brasileiro entende por biscoito. Novidade para o respeitado e anoso philosopho foi a fabricação na capital de todos os mineiros de um biscoito belgo-belzontino excelentíssimo, mil vezes mais belga do que mineiro, produzido pelo casal Bertrand e Ernestina na Rua Orenoco, Bairro Cruzeiro.

Não conheço o casal, nem sei o nome de sua loja. Ganhei de Danielle e Lauro Diniz um pacote de biscoitos variados quando andei hospitalizado em BH. Posso garantir ao guloso e preclaro leitor que o produto é de primeiríssima qualidade e vale uma ida à Rua Orenoco, que também não conheço.

No Hemisfério Sul, biscoito belga é o produto mais parecido com a mulher do próximo, desde que palatável. Sim, porque tem cada bagulho por aí que mais parece bolacha paulista ou ministra catarinense, aliás nascida em São Paulo.


Implicâncias
Não gosto de certa imprensa que vive implicando com os nossos homens públicos. Esquecida dos inúmeros serviços prestados ao país pelo ministro Lobão, certa mídia vive dizendo que ele nada entende de Minas e Energia, quando é sabido que o ilustre maranhense é craque no premer os interruptores de sua residência brasiliense, dispositivos pelos quais se interrompe, de forma reversível, a passagem de um sinal em um circuito elétrico ou eletrônico. É aquele treco que fica na parede permitindo ligar ou desligar as luzes do quarto, da sala, do banheiro.

Apesar de ter construído com recursos próprios mini-hidrelétrica nas serras fluminenses, nada entendo de eletricidade. De gado manjo à beça e à bessa e sei que uma dose de sêmen do touro nelore Karvad chegou a ser vendida por R$ 14.140 – quatorze mil, cento e quarenta reais. Por quê? Ora, porque o finado Karvad tem sido considerado o fundador ou um dos fundadores do moderno nelore brasileiro.

Julga-se o valor da dose de sêmen de um touro pelos filhos que produziu e talvez seja capaz de produzir. Pais de porcarias machos e fêmeas não valem absolutamente nada, a não ser no açougue. Se há filhos bons e ótimos produzidos com o seu sêmen, o valor da dose aumenta proporcionalmente.

Fosse touro, o ministro teria valorizadíssimas as doses do seu sêmen, não por seus conhecimentos de minas e energia, que se limitam ao premer dos interruptores, mas pelo fato de ter produzido o senador Lobão Júnior, glória da política brasileira. O resto é implicância midiática.


O mundo é uma bola
27 de fevereiro: faltam 307 dias para acabar o ano, que parece ter começado ontem e depois de amanhã, sábado, já estaremos no dia 1º de março. Vocês devem estar lembrados daquele cavalheiro que entrou numa igreja católica em Guarulhos (SP) no momento do batizado de seu filho de 6 anos, para matar a mãe do menino, sua ex-mulher, e o atual companheiro dela. Jornais e tevês estamparam fotos do autor dos disparos presenciados pelos fiéis que estavam na igreja. Foi o bastante para a repórter da GloboNews informar ao telespectador que a polícia estava procurando o “suspeito”. E ninguém diz nada, ninguém fala nada, ninguém puxa a orelha da repórter.

Em 1510, Afonso de Albuquerque conquista Goa. Oliveira Martins, historiador português, disse que o império de Portugal no Oriente foi um feio monumento de ignomínia. Cabe a pergunta: que império não foi um feio monumento de ignomínia? Todo império é ignominioso.

Em 1594, Henrique IV é coroado rei da França. Quando andei estudando aquele período, li que um dos reis franceses não tomava banhos e fedia a carne estragada, sob o forte argumento de que homem deve catingar. Em 1700, os europeus descobrem a Ilha de Nova Bretanha, que tem 35.144 km2 e fica na Papua-Nova Guiné.

Em 1844, a República Dominicana consegue livrar-se do Haiti, que continua sendo o Haiti.

Hoje é o Dia do Livro Didático e do Agente Fiscal da Receita Federal.


Ruminanças
Não é triste mudar de idéias; triste é não ter idéias para mudar” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, 1895-1971).

Cidadania e a nova classe média‏

Cidadania e a nova classe média 
 
Estado de Minas: 27/02/2014


Em magistral artigo recentemente publicado, o economista Eduardo Giannetti, doutor pela Universidade de Cambridge, depois de lembrar os avanços da sociedade brasileira nos últimos 20 anos, graças à estabilidade econômica e às políticas de inclusão social, cunhou uma frase que ecoa como verdadeiro anátema sobre a realidade atual do país: “Nossa 'nova classe média' ascendeu ao consumo, mas não ascendeu à cidadania.” Na sequência, para explicar sua conclusão, ele desfia alguns dados sobre os serviços públicos disponíveis à população, entre os quais se destacam a falta de coleta de esgoto em metade dos domicílios e o fato de que um terço dos egressos do ensino superior são analfabetos funcionais.

Efetivamente, os indicadores sociais brasileiros de agora, ainda que significativamente melhores que os de duas décadas atrás, não justificam a exagerada euforia que tomou conta de determinados setores, acostumados a creditar aos três últimos mandatos presidenciais a glória de ter elevado o Brasil à condição de potência mundial.

Ascender à quinta ou sexta colocação no ranking das maiores economias do mundo não combina, por exemplo, com a condição de segunda nação mais desigual entre os países do chamado G20; da mesma forma, o prestígio por assumir a presidência de um importante organismo econômico mundial não anula e nem pode mascarar a caótica situação do transporte nas grandes cidades e o deplorável estado da saúde pública em todos os quadrantes do país.

As duas décadas de estabilidade econômica, alcançada com o Plano Real, já seriam um lapso de tempo razoável para que as soluções estruturais de nossos principais problemas sociais já tivessem sido, pelo menos, encaminhadas. Mas o que se viu, entretanto, após a consolidação dos fundamentos econômicos do país, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a opção pelo caminho das providências de alcance imediatista, em geral de alto poder midiático, mas sem profundidade ou permanência.

O resultado é que, ultrapassada a fase ufanista com a “criação de uma nova classe média” e outras tiradas mercadológicas do mesmo gênero, a sociedade percebeu que seus grandes problemas não estavam resolvidos e nem sequer bem encaminhados. Está aí, certamente, a gênese da insatisfação popular que desencadeou as grandes mobilizações de rua, iniciadas em junho passado, e que se espalharam, se ampliaram e ameaçam fugir de todo controle pela falta de respostas e atitudes convincentes, mais uma vez substituídas por iniciativas meramente propagandísticas.

Esse é o cenário, preocupante, que está a exigir de todos, mais do que reflexões profundas, a efetivação de propostas consequentes, que ataquem na raiz nossos sérios problemas sociais e sejam capazes de fazer com que não apenas nossa nova classe média, mas toda a população brasileira ascenda à cidadania plena.

O câncer e a terceira idade

O câncer e a terceira idade
Aumento da população idosa exige investimento na rede de assistência 
 
Sandro Lana
Oncologista
Estado de Minas: 27/02/2014


Por ocasião do Dia Nacional do Idoso, comemorado hoje, torna-se relevante fazer algumas reflexões acerca do crescimento no Brasil dessa parcela da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que o total de pessoas com mais de 65 anos de idade deverá quadruplicar nos próximos 47 anos. Esse montante passará de 14,9 milhões em 2013, para 58,4 milhões em 2060, o que deverá representar à época cerca de 26% da população total. O lado ruim da alta longevidade é que, vivendo mais, as pessoas têm mais probabilidades de desenvolver doenças como o câncer. O fato de o organismo estar permanentemente dividindo suas próprias células já é um fator de risco para o idoso. Isso porque, durante esse processo, é comum que ocorram alterações no material genético que, em condições normais, são corrigidas e eliminadas pelo sistema imunológico. No entanto, nos idosos, isso nem sempre ocorre de forma ideal, o que contribui para o crescimento excessivo e desordenado das células, quadro que leva ao aparecimento do câncer.

Esse cenário representa um desafio para os serviços públicos e privados de saúde no que diz respeito ao controle do câncer, que tem uma incidência 11 vezes maior dentro dessa faixa etária, em comparação aos mais jovens, segundo levantamento da ONU. A situação se complica devido ao fato de que grande parte da população idosa apresenta doenças concomitantes, que dificultam o tratamento oncológico. Some-se a isso a escassez de estudos clínicos que mensurem a tolerância dos idosos a essas intervenções médicas. Nessa fase da vida, os cânceres mais predominantes são os tumores de pele, ginecológicos e de mama. Nos homens, o acometimento da próstata e vias urinárias também são bastante comuns. Embora tenham causas multifatoriais, os cânceres nos idosos são majoritariamente causados por hábitos e estilos de vida, o que reforça a importância de uma medicina preventiva que ampare essa população. Sendo assim, nunca é demais reforçar que existem exames para detecção precoce e, como mamografia para o câncer de mama; colonoscopia e sangue oculto nas fezes para o intestino; exame ginecológico para o colo uterino; avaliação do dermatologista para a pele; além da consulta com o urologista para o câncer de próstata. Com o crescimento da população idosa, os serviços de saúde dedicados ao tratamento do câncer deverão também investir de forma mais consistente em equipes multidisciplinares que envolvam oncologistas, geriatras, cardiologistas, nutricionistas e psicólogos. Além disso, a participação da família e amigos é vital para dar o suporte emocional necessário durante o tratamento, que tende a ser longo e desgastante.

Felizmente, os idosos cada vez mais têm adotado um estilo de vida mais saudável, o que inclui a prática de exercícios físicos, alimentação balanceada e abandono do tabagismo. Ainda assim, fatores acumulados ao longo da vida, como a obesidade, o sedentarismo, abuso do álcool e até poluição, podem favorecer o aparecimento e desenvolvimento da doença. A alta ocorrência do câncer na terceira idade alerta toda a sociedade e a classe médica sobre a importância do diagnóstico precoce e início célere do tratamento. Atualmente, a medicina dispõe de um arsenal de recursos para curar a doença ou, ao menos, garantir ao paciente a máxima qualidade de vida. Só assim teremos chances de controlar uma doença que cresce assustadoramente em todo o mundo. 

PENSÃO ALIMENTÍCIA » Prisões em alta, polêmica também

PENSÃO ALIMENTÍCIA » Prisões em alta, polêmica também
 
Média de detidos em Minas por débito com ex-companheiras tem salto de quase 30% no começo de 2014. No Congresso Nacional, debate sobre o relaxamento da punição a devedores é intenso

Tiago de Holanda

Estado de Minas: 27/02/2014





A média de prisões por não pagamento de pensão alimentícia teve um salto de quase 30% em Minas neste ano. Nos primeiros 56 dias de 2014 houve 923 detenções, média de 16,5 por dia, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Em cinco anos, a maior média diária tinha sido de 13,3 em 2011, quantidade que vinha caindo, para 13 em 2012 e 12,8 no ano passado. O aumento ocorre em meio ao debate sobre o relaxamento nas normas para a detenção dos devedores, que hoje é cumprida em regime fechado, mas pode ser alterada para o semiaberto. A votação das novas regras, que estava prevista para esta semana na Câmara dos Deputados, ficou para depois do Carnaval, mas os números mineiros dão a dimensão do potencial de polêmica da proposta.

Se a média diária de prisões em 2014 se mantiver até dezembro, o número de detidos superará os 6 mil, bem mais que o registrado em 2013 (4.691), 2012 (4.767), 2011 (4.865), 2010 (4.519) e 2009 (3.331). Na tarde de ontem, havia no estado 182 presos por débito com a pensão alimentícia, segundo a Seds. Diante do aumento, a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) mantém em pauta o projeto de construir o Centro de Referência para Devedores de Alimentos, com cerca de 100 vagas só para esse tipo de infrator. A proposta vem sendo cogitada pelo menos desde 2012, mas ainda não há prazo nem local definido para a construção da nova unidade.

No estado, esses presos ficam em celas separadas dos demais internos, embora isso não seja exigido em lei. Na região metropolitana, os devedores ficam no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira, na Região Oeste de BH. A determinação de que os detidos por dívida de pensão não sejam alojados junto a presos comuns nem fiquem em regime fechado está prevista no projeto do novo Código de Processo Civil, cujo texto-base foi aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2013. A proposta estabelece que os devedores fiquem em regime semiaberto – em que podem trabalhar fora da cadeia durante o dia, mas devem retornar para pernoitar –, pelo período de um a três meses. O regime fechado, com reclusão em tempo integral, só seria cumprido em caso de reincidência, se o infrator voltasse à inadimplência.

O código atual define que, três dias após ser intimado pela Justiça a quitar a dívida, o inadimplente seja preso em regime fechado. Ele se salva da punição se pagar o que deve, se provar que já quitou a dívida ou se justificar a impossibilidade de fazer o pagamento. Em Brasília, a bancada feminina na Câmara tenta manter as regras, com a condição de que o preso seja separado dos internos comuns. As parlamentares defendem que o plenário aprove emenda da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) e têm o apoio do relator do projeto, Paulo Teixeira (PT-SP). “Essa prisão é uma estratégia para que a pensão seja paga. Há muitas pessoas que ficam relutantes, mas, quando vem a decretação de prisão, o dinheiro aparece imediatamente. A mudança para o regime semiaberto provocará perda na força da cobrança”, avalia Teixeira.

QUEDA DE BRAÇO A questão gera polêmica entre os congressistas. O deputado Fábio Trad (PMDB-MS), presidente da comissão especial que apreciou o projeto do novo código, defende o regime fechado apenas para reincidentes. “O semiaberto me parece o remédio mais equilibrado. Ao longo do dia, o preso terá mais condições de buscar recursos para pagar o débito. Como o devedor sofrerá restrição de liberdade, não acho que se sentirá estimulado a não pagar a pensão”, avalia. Apesar da falta de consenso, o advogado Dierle José Coelho Nunes, que participou da comissão como jurista, observa a tendência de o regime fechado ser mantido. “As negociações nas últimas duas semanas estão caminhando para a preservação dessa regra”, diz ele, professor da Faculdade de Direito da UFMG e da PUC Minas.

Nunes é contrário à implantação do regime semiaberto. “Ele é uma forma menos coercitiva de obter o pagamento da obrigação”, aponta. É a mesma opinião de Newton Teixeira Carvalho, que foi juiz da 1ª Vara de Família de BH por 14 anos e hoje é desembargador da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas. “Com o semiaberto, a pessoa pode preferir cumprir a punição do que pagar. O regime fechado funciona. Vi muitos casos em que, com a ameaça de prisão, o dinheiro surgiu imediatamente ou, pelo menos, o devedor sugeriu o parcelamento da dívida”, opina. A avaliação é reforçada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família, Rodrigo da Cunha: “A maioria dos inadimplentes tem condições, mas não paga por má vontade, irresponsabilidade. Com o semiaberto, pode ser que se sintam pouco pressionados”.

A regra atual pode ser rígida, mas nem sempre funciona. Prova disso é o caso de Margaret Luiz Procópio, de 39 anos, que foi abandonada pelo ex-marido aos cinco meses de gravidez. Primeiro, ela entrou na Justiça para que a paternidade fosse reconhecida, o que ocorreu em 2007, após um exame de DNA. O valor da pensão foi fixado pelo juiz em 40% de um salário mínimo. “Ele falou que ajudaria, mas nunca deu um centavo. Foi por má vontade, não por falta de dinheiro”, afirma. A mulher, que sobrevive fazendo faxina e lavando roupas, voltou a acionar a Justiça para exigir o pagamento da pensão, mas a inadimplência prosseguiu. Em novembro de 2012 foi expedido mandado de prisão, mas até hoje a Justiça não localizou o devedor. A filha de Margaret já tem 11 anos.

CENSURA » Duplicação de mais dois filmes em risco‏

CENSURA » Duplicação de mais dois filmes em risco Para distribuidor, recusa de empresa em reproduzir em blu-ray Azul é a cor mais quente ameaça produções com o mesmo tema 
 
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 27/02/2014


 (Fotos: Imovision/Divulgacão)


 (Fotos: Imovision/Divulgacão)


Assim como Azul é a cor mais quente, os longas Tatuagem e Um estranho no lago tratam do tema homossexualismo e contêm cenas de sexo  (Fotos: Imovision/Divulgacão)
Assim como Azul é a cor mais quente, os longas Tatuagem e Um estranho no lago tratam do tema homossexualismo e contêm cenas de sexo

“Depois do que aconteceu, acho que em blu-ray não vai dar. Se disseram não para Azul é a cor mais quente, não sei porque diriam sim para Tatuagem e Um estranho no lago”, afirma Jean Thomas Bernardini, proprietário da distribuidora Imovision. Ele refere-se à produção brasileira de Hilton Lacerda e à francesa de Alain Guiraudie, longas-metragens que tratam de relacionamentos homossexuais, apresentam cenas de sexo e receberam classificação etária de 16 e 18 anos, respectivamente. No início da semana, a Sonopress (o nome pelo qual a Rimo Entertainment é mais conhecida no mercado), empresa brasileira que produz cópias em DVD e blu-ray, comunicou a Bernardini que não duplicaria a produção francesa Azul é a cor mais quente, do franco-tunisiano Abdellatif Kechiche. O argumento era de que o filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes tem conteúdo pornográfico.

A mesma Sonopress que se negou a realizar o trabalho indicou para Bernardini uma outra empresa para realizar a duplicação, mas somente em DVD. “Quando ele foi recusado, a empresa ainda me disse que nenhuma outra iria aceitar. Liguei para a Sony DADC que foi taxativa e disse que não iria trabalhar nisso. Então, a Sonopress me arrumou uma terceira opção. Mas não sei quem é. A firma não quer que apareça seu nome na capa do DVD e geralmente elas nos obrigam a fazer isso”, conta Bernardini. Como essa empresa não trabalha com blu-ray, não haverá como produzi-lo no país. Fora, ele descarta, pois isso oneraria muito o trabalho.

Ainda em cartaz em algumas cidades – em Belo Horizonte, conta com uma sessão, às terças e quintas, no Diamond Mall – Azul é a cor mais quente já levou 121 mil pessoas aos cinemas brasileiros. A expectativa inicial da distribuidora era de 90 mil ingressos. Em abril, chega ao mercado de home video – primeiramente para locação e, a partir de junho, para venda. Ao todo, serão produzidas 4 mil cópias em DVD – não haverá nenhum extra, já que estes estavam reservados para a edição em blu-ray.

Por meio de seu departamento jurídico, a Rimo Entertainment afirmou ao Estado de Minas que a empresa não pode fazer a fabricação por causa de um impedimento legal, devido “às cenas de sexo explícito”. O filme mostra a descoberta da sexualidade de uma jovem de 15 anos, que se apaixona por outra pouco mais velha.

NINFOMANÍACA A Rimo também afirma estar “em análise” a produção de um outro filme com classificação 18 anos, Ninfomaníaca, de Lars von Trier (em BH, pode ser visto nos cines Belas Artes e 104), sobre uma mulher que, de maneira confessional, relata a extensa série de relacionamentos sexuais que teve no decorrer da vida. Diretor da Califórnia Filmes, que distribui Ninfomaníaca, Euzébio Munhoz Júnior afirma que ainda é cedo para saber se o mesmo ocorrerá com o filme. “Não fui comunicado de nada, mas nunca tive esse tipo de problema. Esse não é um filme pornô, não é do segmento adulto. É um filme de arte em que sua temática envolve sexo.” Júnior distribuiu no Brasil os filmes anteriores de Von Trier, cineasta sempre polêmico. Anticristo (2009) também recebeu classificação etária de 18 anos e não houve problema na produção do mercado de home video.

Reeleição fora do poder‏

Reeleição fora do poder 
 
Por ampla maioria, senadores aprovaram na CCJ proposta que obriga presidente, governadores e prefeitos que tentarem o segundo mandato consecutivo a deixarem o cargo quatro meses antes 
 
Juliana Ferreira
Estado de Minas: 27/02/2014

Reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Proposta agora será levada ao plenário da Casa e depois à Câmara dos Deputados (Marcos oliveira/agência senado)


Reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Proposta agora será levada ao plenário da Casa e depois à Câmara dos Deputados

O projeto que obriga prefeitos, governadores e o presidente da República a se afastarem de seus cargos para concorrer à reeleição foi aprovado ontem pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) foi aprovada com folga. Até mesmo parlamentares da base do governo optaram pela proposta, como o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). Houve apenas cinco votos contrários, dos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), José Pimentel (PT-CE), Romero Jucá (PMDB-RR), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Agora, o texto passará pelo plenário da Casa, em dois turnos, e depois será apreciado pela Câmara dos Deputados. Atualmente, a licença é obrigatória somente para quem concorre a um posto diferente do que ocupa.

A PEC 48/2012 altera o artigo 14 da Constituição Federal, determinando a desincompatibilização dos cargos executivos quatro meses antes do pleito. A intenção da autora do projeto, Ana Amélia (PP-RS), é impedir que haja condição privilegiada durante a campanha. Segundo ela, a permanência nos postos tem sido um fator de desequilíbrio nas disputas eleitorais. "Todo um sistema de regras foi criado para tentar coibir o uso da máquina do governo nas campanhas sem sucesso aparente", argumentou. Vices que não compuserem a chapa da reeleição e presidentes do Legislativo ou do Judiciário poderão ocupar os cargos de chefe do Executivo.

A matéria teve o parecer favorável do relator da CCJ, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), que apresentou uma emenda determinando a desincompatiblização para o primeiro dia útil depois da homologação da candidatura, após as convenções partidárias, em junho. “Esta é a medida mais urgente e necessária dentro da reforma política. É ética, moral e da maior relevância para o aprimoramento da democracia no país”, sustentou. Assim, se aprovada a tempo, a PEC pode mudar os planos de quem pretende entrar na corrida eleitoral deste ano, como a presidente Dilma Rousseff. No caso dela, como os três primeiros sucessores – seu vice, Michel Temer, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) – também devem participar do pleito de outubro, caberia ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, ocupar temporariamente a cadeira.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), se posicionou contra a proposta, que “criará uma nova novela” na política brasileira. “Se o nosso interesse é garantir a transparência do pleito, temos que ter coragem de votar o fim da reeleição. Aqui estamos estabelecendo uma renúncia obrigatória e, diante da falta do titular, vamos criar uma insegurança jurídica", afirmou. Suas críticas foram rebatidas pela autora do texto, Ana Amália. "Qual o mal tem se, eventualmente no caso do presidente da Republica, o presidente do STF assumir a Presidência?", questionou.

FIM DA REELEIÇÃO O relator da CCJ, Luiz Henrique, não se contentou com o afastamento dos cargos. Ele defende o fim da reeleição e recomendou ontem a aprovação da PEC 71/2012, de iniciativa de Romero Jucá, que acaba com o instrumento e estende de quatro para seis anos o mandato de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos em 2016. A medida levaria à coincidência geral das eleições. Único senador a defender publicamente a reeleição ontem, Aloysio Nunes Ferreira disse confiar nas formas de controle da Justiça Eleitoral. “Eu penso que o sistema democrático é tanto mais perfeito quanto maiores e mais amplas forem as escolhas apresentadadas ao eleitor. Por que retirar esse item do cardápio de candidatos oferecido aos eleitores?”