domingo, 23 de fevereiro de 2014

A democracia brasileira - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/02/2014

Quem utiliza a violência para corrigir injustiças sociais ou fazer valer direitos bebe na fonte do totalitarismo e deve arcar com as consequências de seus atos

Passado o primeiro impacto causado pelo absurdo assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, em pleno exercício da profissão, começam a surgir aqueles que consideram compreensível, senão justificável, o uso de violência em manifestações. Trata-se de um raciocínio que constrange todos os democratas. E que deve ser repudiado.
Muitos deles afirmam, com variações, em jornais, blogs e redes sociais, que o assassinato era uma tragédia anunciada, um enunciado do qual não se pode discordar. Mas não, como era de se esperar, porque manifestações violentas põem a vida das pessoas em risco. E sim, afirmam, porque a violência e suas consequências seriam inevitáveis numa nação em que os problemas de seus cidadãos não são resolvidos.

Criticam acidamente os que põem nos black blocs a culpa da eclosão da violência nas manifestações, apelando para a origem internacional do fenômeno, que se traduziria, não pela formação de grupos organizados, mas por uma atitude: para acabar com o capitalismo, destroem bens públicos e de corporações, com o objetivo de chamar a atenção, mas sem a intenção de ferir ou matar alguém (os assassinos do cinegrafista não se definem como black blocs). Só se esquecem de mencionar que em todas as democracias, quando eles agem assim, atingindo ou não pessoas, são presos, responsabilizados, julgados e punidos.

Aqui, dizem, seria diferente, e haveríamos de ter um maior grau de tolerância com a violência, porque viveríamos uma democracia capenga. Parecem querer dizer que, para aqueles que acreditam que alguns de seus direitos lhes foram negados, não basta o grito, o protesto: a violência se faz necessária. E, na visão deles, é bom que seja assim, porque isso acelerará as transformações necessárias para se chegar a um país melhor. Esse raciocínio, porém, é de um extremo equívoco.

Presidente, parlamentares, governadores e prefeitos foram todos legitimamente eleitos pela escolha livre popular. Temos Três Poderes harmônicos e independentes, num sistema de pesos e contrapesos, em que um controla os potenciais excessos dos outros. Temos uma imprensa absolutamente livre, que, com apoio do nosso sistema jurídico, calcado na Constituição, rechaça ambições autoritárias vindas de minorias. Desde 1994, os investimentos sociais cresceram de forma exponencial, principalmente na última década, como é notório. E, numa prova cabal de que no Brasil ninguém está acima de ninguém, hoje estão na cadeia altos próceres do partido que está no governo desde 2003, pagando por seus crimes de corrupção, sem que este mesmo governo tenha feito outra coisa senão cumprir a lei.

É evidente que há desafios enormes. A corrupção é uma calamidade, a desigualdade social ainda é lamentável, direitos básicos como educação, saúde, transporte e habitação deixam muito a desejar, e quem sofre mais é o pobre. Talvez seja por isso que digam que a democracia brasileira é capenga, mas até nisso estão equivocados. A democracia não é sinônimo de sociedade mais justa socialmente. A democracia é o único meio para se alcançar uma sociedade mais justa. E num país ainda pobre como o nosso não se chega a uma sociedade menos desigual do dia para a noite.

É saudável e legítimo que o povo, organizado ou não, saia às ruas para cobrar os seus direitos. É assim em toda democracia do mundo. Mas ninguém, numa democracia, pode querer alcançar esses direitos pela violência. Quem utiliza a violência como método para corrigir injustiças sociais ou fazer valer direitos se põe fora da democracia, bebe na fonte do totalitarismo e deve arcar com as consequências de seus atos.

A democracia não é um projeto suicida. Não pode ser. Ela não pode aceitar que façam parte do jogo democrático aqueles que querem acabar com ela. Por essa razão, todos aqueles que são de algum modo complacentes com a violência como método político, e se dizem democratas, mesmo sem intenção, enfraquecem a democracia em vez de robustecê-la. Numa democracia estabelecida como a nossa, não há espaço para um pensamento assim.

O povo brasileiro tem lutado por seus direitos com as únicas armas legítimas de que dispõe: a voz, as manifestações e, a mais poderosa delas, o voto. Sair desse terreno é se atirar no abismo: revoluções pela força, mesmo aquelas feitas em nome e para o bem do povo, costumam resultar em tirania. O povo brasileiro não precisa de vanguardas anacrônicas (um paradoxo a que estamos assistindo), que acreditam que só elas sabem onde o bem está e são as únicas capazes de conduzir o país até ele.

Os nossos problemas sociais são muitos. Mas não foram eles que levaram Santiago de Andrade à morte. Isso é um desrespeito a ele, à sua família e aos seus colegas de profissão. Ele foi morto pela ação de Fábio Raposo e Caio de Souza, réus confessos. E por aqueles que os aliciaram, os financiaram e os armaram. A democracia brasileira exige que essa cadeia de comando seja esclarecida e seus responsáveis, punidos. Sejam eles quem for, tenham o colorido político que tiverem, sejam criminosos comuns ou idealistas irracionais ou inconsequentes ou ignorantes.

De urubu a pombo-correio - Fabricio Carpinejar

Zero Hora 23/02/2014

Fofoqueiro não tem cura.

Fofoqueiro não tem conversão.

Fofoqueiro não tem saída.

Se um amigo cria uma fofoca, é perda de tempo tentar convencê-lo de que é errado, que prejudica a confiança, que estraga a convivência, que ele não desfruta do direito de sair revelando indiscriminadamente aquilo que é absolutamente confidencial.

Não desperdice sua lábia. Não gaste seu sotaque.

Ao dar um sermão ao fofoqueiro, é bem capaz dele inventar fofoca do sermão. E ainda propagar aos colegas e familiares que você cometeu uma grande injustiça e quebrou a lealdade.

Todo fofoqueiro se faz de vítima, não assume seu problema e joga a culpa no colo dos outros.

Seu tipinho é facilmente reconhecível. Usa expressões como “nunca”, “jamais”, “imagina”. Jura por Deus e pela sua mãe sem nenhum pudor, sem nenhum receio das consequências. Responde uma pergunta com nova pergunta. Costuma se mostrar surpreso e fingir desconcerto quando questionado: “Eu?”.

Aviso aos persistentes e esperançosos: o fofoqueiro não tem conserto.

É pedir segredo que o fofoqueiro abre o bico. Parece gostar de viver perigosamente. Confia apenas em sua impunidade, desprezas as evidências e pistas.

Mesmo calado, espalhará confidências de algum jeito: por indiretas, código morse, telepatia. Arrumará um jeito de contar. Sua incontinência verbal é criativa. Sofre de incompetência para manter a palavra quieta, debaixo das pedras. Pois acredita no tráfico de informações. Atua como um lobista amador, um falso conselheiro. Cria sua importância por aquilo que ficou sabendo.

Eu desisti da salvação de fofoqueiros. É uma igreja infernal.

O que faço é me aproveitar deles. Eu direciono o fofoqueiro para meus objetivos. Profissionalizo o fofoqueiro. Treino o fofoqueiro. Faço do urubu um pombo-correio.

Como não posso dissuadi-lo a abandonar sua natureza, repasso o que desejo que seja conhecido. Ofereço um alvo. Exponho algo com minha clara intenção que vire fofoca, suplicando por reserva e para que não fale para ninguém. Ele não resiste a um cochicho, a uma conversa no pé do ouvido, e logo dissemina a história.

Em vez de trabalhar de graça para a fama do fofoqueiro, o fofoqueiro passa a trabalhar para mim.

MARTHA MEDEIROS - Somos todos escritores

Zero Hora - 23/02/2014

Através do artigo de Antônio Goulart, Literatura Enganosa?, publicado na Zero Hora de 08/02, fiquei sabendo de uma opinião que o escritor norte-americano Ben Greenman tem alardeado: a de que a literatura de ficção não deveria se basear em fatos reais, sob pena de estar enganando o leitor. Segundo ele, ficção é uma prosa que trata sobre eventos e pessoas imaginárias, e fim de papo. Greenman resolveu processar escritores e editoras que não cumprem essa definição básica.

Só pode ser brincadeira. Em tudo – e em todos – há uma porcentagem de invenção. Inventamos não só o nosso amor, mas inclusive a nossa dor. Somos seres perplexos tentando encontrar nosso lugar no universo e procurando viver de um jeito civilizado e sensato, o que exige alguma elaboração intelectual. Usar apenas o instinto nos conduziria à selvageria. Temos que nos narrar – para os outros e para nós mesmos – a fim de sermos compreendidos. Quando eu conto algo que aconteceu comigo para uma amiga, estou criando uma história, é a minha versão daquele fato, é a maneira que encontrei de expressar o que vivi. Tivesse acontecido a mesmíssima coisa com outra pessoa, seria contada de forma e intensidade diferentes.

Somos todos escritores, só que uns escrevem e outros não, já dizia José Saramago.

Assim como pessoas reais podem experimentar emoções fantasiosas, o inverso se dá na literatura: tudo o que parece inventado flerta com a verdade. É ingenuidade acreditar que um personagem de romance possa ser totalmente fictício, sem considerar a bagagem psicológica de quem o criou, sem levar em conta a pulsão interna que estimulou o escritor a dedicar-se dias, meses ou até anos àquele projeto. Ele não está escrevendo sobre ele mesmo em sentido literal, seus personagens não são autobiográficos por definição, mas é claro que quem escreve se revela de alguma forma, velada ou nem tanto.

“Madame Bovary sou eu”, dizia Flaubert. Então não era ficção? Ora.

Em defesa de Ben Greenman, reconheço que os livros andam bastante umbilicais, reflexo de um mundo voltado para o próprio ego. Nenhum crime nisso. Dramas intimistas possuem o mesmo valor artístico das aventuras de suspense, das sagas épicas, das ficções científicas, independentemente de serem inspirados por algo que aconteceu. O leitor não deve se preocupar com essa ligação, e sim entregar-se ao livro sem dar a mínima para o escritor.

O que interessa é se o livro é bom ou ruim. O conteúdo fala por si. O escritor é apenas um ser obscuro que dá entrevistas para divulgar seu ofício, mas sua vida privada não importa nada. O que importa é o resultado de suas fantasias, sejam elas totalmente inventadas ou inventadas mais ou menos ou descaradamente inspiradas no que ele pensa que foi real.

Affonso Romano de Sant'Anna - Joan Baez entre nós‏

Joan Baez entre nós
Affonso Romano de Sant'Anna
affonsors@uol.com.br
Estado de Minas: 23/02/2014


Musa dos agitados e utópicos anos 1960, Joan Baez canta no Brasil em março (Abdelhak Senna/AFP)
Musa dos agitados e utópicos anos 1960, Joan Baez canta no Brasil em março

Estou vendo este retrato da Joan Baez. Ela está vindo ao Brasil. E aparece com cabelos brancos, uma respeitável senhora. Tenho ímpetos de fazer uma confissão. Teve um tempo em que fui apaixonado por Joan Baez. Ela não sabia. E acho que, se soubesse, nem ligaria.

Eu morava na Califórnia. Ela também. Não é que ficasse rondando a casa dela, fazendo serenatas, mandando cartas de amor. Nada disso. Apenas escutava seus discos. E admirava aquele sorriso, que, aliás, achava erótico. Vejo que andaram elegendo-a uma das mulheres mais sexies do mundo. Muita concorrência. O que faz o amor! Tinha qualquer coisa de garota do Sion, de jovem bem-comportada. E rebelde.

Mas era paixão musical. Musicalmente, ia também atrás de outros ícones da época. Algumas canções constroem a nossa personalidade. E ponho-me a lembrar dos anos 60. Já fui um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones. Mais os Beatles do que os Stones. Bob Dylan era um jovenzinho contestador que eu ouvia naquele apartamento perto do câmpus da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde lecionava. Ouvia também Marianne Faithfull, era tão bonitinha e se meteu em drogas com Mick Jagger. Lembro-me do dia em que fui ao Village comprar aquele disco dos Beatles, Sgt. Pepper’s: puro encantamento. Sobre ter visto os Beatles, já contei em outra crônica.

Não vou continuar essas rememoracões. Antes, faço uma revelação: entre 1965 e 1967, publiquei aqui no Estado de Minas minhas impressões americanas – crônicas desse período. Eram anotações ingênuas, sem pretensão literária, o espanto do jovem inconfidente e provinciano ao sair do século 18 em Minas e cair noutra realidade. Aqui era a ditatura e o fim da utopia, lá era a utopia dos hippies, a luta contra a guerra do Vietnã, marchas, maconha, Heighs e Ashbury St, em San Francisco. Eu ensinando colocação de pronomes em português, enquanto bombas caíam no Vietnã.

– Where have all the flowers gone?

– Were you there when they crucified My Lord?

Vejo os cabelos brancos da senhora Joan Baez. Esta menina (esta senhora) faz parte do século 20 e ainda testemunha os espantos no século 21. A biografia dela é uma agitação só. Se tivesse se casado comigo, como teria sido sua vida no Brasil? Daria-se bem em Belo Horizonte ou no Rio? Frequentaria o Maletta, iria à praia, ao píer de Ipanema cheio de bichos-grilos?

Certamente, ela teria feito melhor negócio se casando comigo em vez de ser espoliada por aquele marido complicado ou de ter aquele entrevero com Bob Dylan. Mas como é que ia segurar esta mulher pássara volante e cantante que queria defender causas várias na União Soviética, Tchecoslováquia, Vietnã do Norte, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Espanha, Portugal, França, Itália, Polônia, Nicarágua, Chile, Argentina, Brasil, Camboja, Austrália, Canadá, Islândia, Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Bósnia etc.

Nosso casamento não ia dar certo. Penso nisso olhando esta outra mulher ao meu lado que sobe a serra de Nova Friburgo, enquanto no carro ouvimos um CD de Joan Baez. Agora Joan está cantando aquela história sobre a dura vida de espécie feminina, sempre controlada e confinada, seja pelo pai, seja pelo marido. Também canta a utópica We shall overcome, que os pretos entoavam por toda parte. E vai musicalmente se expressando em meia dúzia de línguas, como naquela balada da moça mais velha que se casa com um menino e morre antes de ele virar homem. Bem que gostaria de tocar ao violão o dramalhão mexicano do Prisioneiro número 9. Ali, o assassino da esposa e do amante diz que vai continuar a persegui-los até o inferno!

Sim, tem também o Happy days. Não preciso nem me levantar para ouvir Joan Baez. Ela está na internet. Ao alcance dos meus ouvidos.

TEREZA CRUVINEL-Marina de vice e outros movimentos‏

Marina de vice e outros movimentos 
 
TEREZA CRUVINEL
Estado de Minas: 23/02/2014


Os blocos já estão na rua, a vida institucional abre alas para o carnaval passar. Logo depois, devem ocorrer alguns movimentos político-eleitorais que precisam acontecer antes que tudo comece a ser dominado pelo clima de Copa. Um deles será a oficialização da ex-senadora Marina Silva como candidata a vice na chapa de Campos. Na semana passada, ela confidenciou a alguns companheiros da Rede já ter "batido o martelo mental" nesse sentido. Como é sabido, essa possibilidade foi aberta por Eduardo lá atrás, em outubro, quando Marina e seu grupo ingressaram no PSB, no limiar do prazo legal para a filiação partidária de candidatos. O que estava pendente era apenas a decisão pessoal dela, agora já tomada, a não ser que surja algum imponderável, ela ressalvou.

O anúncio não tem data marcada, mas é para breve. A partir dele e das pesquisas, será possível conferir a capacidade de Marina de transferir para Campos as intenções de voto que faziam dela a segunda candidata mais votada. Em setembro, na pesquisa CNT-MDA, por exemplo, Dilma Rousseff era preferida por 36,4% e ela, por 22,4%. Em alguns momentos e cenários, Marina chegou ao empate técnico com a presidente no segundo turno. Com a decisão, diz um articulador da Rede, Marina e seu grupo buscam equilibrar as forças dentro da coalizão informal com o PSB para evitar alianças com setores que consideram nefastos à pregação da "nova política" e conter a aproximação entre Eduardo e o tucano Aécio Neves, que voltaram a se encontrar na sexta-feira, no Recife, quando esboçaram promessas de apoio recíproco no segundo turno. Os socialistas, por sua vez, não escondem o esforço para evitar atritos na montagem dos acordos regionais. Afora o veto à aliança com Geraldo Alckmin em São Paulo, a Rede vem se opondo ao apoio do PSB à candidatura da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao governo do Rio Grande do Sul, por conta das ligações dela com o agronegócio. A Rede insiste na candidatura do deputado socialista Beto Albuquerque, que Campos escalou para concorrer à Câmara como puxador de votos para a bancada. Desdobramentos, depois do carnaval.

Dilma e os aliados

Outro que se encontrou com Eduardo Campos na semana passada foi o presidente do PDT, Carlos Lupi. Segundo disse aos pedetistas, apenas para discutir alianças regionais, pois sua disposição, condicionada à aprovação do partido, é de apoiar Dilma. Entretanto, o PDT se ressente do pouco valor que ela e o PT deram ao apoio pedetista em 2010, e alguns grupos inclinam-se pelo apoio a Campos. Em uma coligação todos são importantes, mas, para Dilma, o PMDB é fundamental: é o partido do vice, é hegemônico no Congresso, tem capilaridade nacional e caciques que ainda controlam verdadeiros colégios eleitorais. O bloco "anti-Dilma" de nove partidos governistas que está sendo criado sob a liderança do PMDB é uma contradição nos próprios termos. Como são todos aliados, só podem estar tentando arrancar da presidente concessões fisiológicas a que ela resiste, numa expressão de suas melhores virtudes. Falta-lhe, entretanto, a habilidade de Lula para dizer "não" falando "sim". Ainda que o objetivo de tal bloco seja arrancar nacos de poder, ele pode ter desdobramentos eleitorais, com os quais Dilma não deveria brincar. As pesquisas estão mostrando oscilação negativa, ainda que ligeira, na avaliação de seu governo, há trepidações na economia e esse clima de revolta odiosa e difusa, com focos variados, que vão da Copa ao ônibus atrasado.

O topo e a base

Muitas das viagens internas que Dilma tem feito são para participar de formaturas do Pronatec, o programa de capacitação e ensino técnico executado para o governo pelas escolas do Sistema S (Sesi, Senac, Senat) e escolas federais. Pouco se fala, e a oposição presta pouca atenção, ao público alcançado por ele. O alvo principal são jovens que cursam o segundo grau e adultos que já trabalham, mas Dilma reservou 1 milhão de vagas para os beneficiários do Brasil sem Miséria, incluídos aí os do Bolsa Família. A meta devia ser cumprida até o fim deste ano, mas, neste mês de fevereiro, inscritos e formados já somam 950 mil. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, que anteontem estava em Eunápolis (BA) para novas formaturas na cidade, vai requisitar mais vagas para os cursos, que vão de costura, eletricista ou auxiliar de cozinha a inglês básico e informática. As mulheres representam 76% de inscritos ou formados.

O programa responde à cobrança por uma porta de saída para os beneficiários do Bolsa Família, mas a ministra destaca outro aspectos. "A alta demanda pelos cursos é uma indiscutível resposta ao preconceito contra os pobres, especialmente os do Bolsa Família. Desmonta mitologias, como a de que são preguiçosos e não querem trabalhar. Todos esses que buscam se capacitar estão nos dizendo que querem ser incluídos num país cada vez mais produtivo, porém mais justo", diz ela.

As políticas sociais, que incluem ações menos visíveis como essa, é que estão garantindo a Dilma a condição de favorita na disputa, como demonstrou a pesquisa Ibope/Estadão: ela perde no topo da pirâmide, mas ganha, de longe, entre os de menor renda e escolaridade.

A desconfiança sobre favorecimento aos estados e municípios governados pelo PT é óbvia, mas a ministra rebate com dados: o estado com maior número de inscritos é o Rio Grande do Sul, de Tarso Genro, seguido por Minas, governada pelo PSDB. O município campeão é Salvador, do demista ACM Neto, seguido por Maceió, governado pelo PSDB. Mas, seja qual for a cor da terra, a semeadura dá voto. Dilma continuará indo a formaturas.

Steve McQueen pode se tornar o primeiro diretor negro a ganhar o Oscar‏

Em nome da história 
 
Com filme sobre escravidão, Steve McQueen pode se tornar o primeiro diretor negro a ganhar o Oscar. O prêmio coroaria uma trajetória artística que extrapola o cinema 

 
Júlio Cavani
Estado de Minas: 23/02/2014


O britânico Steve McQueen é o terceiro negro indicado ao Oscar de melhor diretor nos 86 anos da premiação (Luke MacGregor/Reuters    )
O britânico Steve McQueen é o terceiro negro indicado ao Oscar de melhor diretor nos 86 anos da premiação

Antes de fazer o primeiro longa-metragem, o britânico Steve McQueen (não confundir com o famoso ator norte-americano, que morreu em 1980) já era um artista consagrado nas maiores bienais e museus de arte contemporânea do mundo. Com 12 anos de escravidão, favorito ao Oscar de melhor filme, com nove indicações, ele agora alcança o reconhecimento massivo da indústria de Hollywood. Torna-se também o terceiro cineasta negro a ser indicado como melhor diretor em 86 anos de premiação (os anteriores foram John Singleton, por Os donos da rua, em 1992, e Lee Daniels, por Preciosa, em 2010).

No cinema, McQueen já começou bem. O primeiro longa, Hunger (Fome em tradução literal, nunca lançado no Brasil), venceu o troféu Câmera de Ouro, um dos principais prêmios do Festival de Cannes em 2008. O segundo, Shame, ganhou quatro prêmios no Festival de Veneza em 2011. Os longas ainda revelaram Michael Fassbender (o Magneto de X-Men: Primeira classe), indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por 12 anos de escravidão.

Como artista plástico, Steve McQueen (nascido em Londres, em 1969) apresentou trabalhos no Brasil, três deles sob curadoria do pernambucano Moacir dos Anjos, nas bienais de São Paulo (2010) e do Mercosul (2007). A relação entre o corpo e a liberdade é um dos temas mais recorrentes em sua obra, na qual carne, pele e osso muitas vezes simbolizam libertação, prisão ou proteção. Em 2 de março, esses questionamentos ressurgirão com toda a força em plena Hollywoody, quando ele poderá subir ao palco para se tornar o primeiro cineasta negro a ganhar um Oscar de melhor filme.

12 anos de escravidão, que concorre a nove Oscars, está sendo apontado como o favorito à estatueta de melhor filme (Disney/Buena Vista/Divulgaçãoa    )
12 anos de escravidão, que concorre a nove Oscars, está sendo apontado como o favorito à estatueta de melhor filme


Obra polêmica

» Shame (2011) – Os valores morais são a prisão que oprime o personagem interpretado por Michael Fassbender, um homem viciado em sexo no filme (Vergonha em tradução literal). É justamente por causa dessa carga pesada de culpa que o longa, disponível no Brasil em DVD, divide opiniões.


» Static (2010) – Apresentado na Bienal de São Paulo em 2010, o vídeo mostra a Estátua da Liberdade filmada em detalhes com o uso de uma câmera presa a um helicóptero. Os enquadramentos fechados e os contrastes com a paisagem ao redor da escultura gigante levam a questionamentos sobre significados originais no contexto político dos EUA e de Nova York (sobretudo depois do 11 de Setembro).


» Giardini (2009) – Exibido no Pavilhão da Grã-Bretanha na Bienal de Veneza, o filme, projetado em duas telas simultâneas, apresenta cães caçadores, lixo e insetos nos jardins desertos do local da megaexposição internacional. Ele cria uma subversão de tempo-espaço ao usar uma combinação entre ficção e realidade para simular clima de tensão e fantasia no exterior de onde o público assiste à obra.


» Hunger (2008) – Longa-metragem de ficção, com Michael Fassbender raquiticamente magro, que reconstitui a greve de fome de trabalhadores irlandeses presos depois de protestos contra a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.


» Charlotte (2004) – O olho da atriz Charlotte Rampling (Melancolia) é mostrado em um plano-detalhe, sob iluminação vermelha, enquanto um dedo ameaça tocar seu olho, em uma metáfora sobre agressões sexuais.


» Western deep e Carib’s leap (2002) – São duas projeções (uma com duas telas, em uma videoinstalação) exibidas em salas diferentes, mas na mesma exposição. A primeira mostra a trajetória de um elevador que
desce às profundezas da terra enquanto transporta mineradores em um escuro ambiente claustrofóbico. Na interpretação do curador Moacir dos Anjos (em texto no catálogo da Bienal do Mercosul), é “um espaço regido por condições de trabalho que miram e replicam, de modo violento, as institucionalizadas relações políticas, econômicas e raciais vigentes fora da mina”. A segunda apresenta o clarão do ambiente aberto de uma praia onde homens e mulheres surgem e desaparecem diante de um bote em chamas na areia, um  velório, crianças brincando e atividades de pesca artesanal. Para Moacir, “as situações insinuam latente incômodo social, como se houvesse, naquele espaço de vida comum, o risco de ruptura iminente de um modo partilhado de existência”.


» Bear (1993) – No curta-metragem que revelou o artista, Steve McQueen e outro ator são filmados, nus, em uma espécie de luta livre, com elementos de atração sexual, em uma relação corporal de sedução e ódio. “Agressão e ternura são temas do vídeo”, disse ele, quando fez sua primeira exposição no Brasil, em 2001, no MAM-SP.


Saiba mais

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO

Teve nove indicações ao Oscar: melhor filme, diretor (Steve McQueen), ator (Chiwetel Ejiofor), ator coadjuvante (Michael Fassbender), atriz coadjuvante (Lupita Nyong’o), roteiro adaptado, direção de arte, figurino e montagem.

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 23/02/2014
 (Animal Planet/Divulgação  )

Poderosas As vidas de SaraJane Bartholomae e suas quatro filhas em Orange County, no sul da Califórnia, não se resumem a mansões, cuidados com o corpo e eventos sociais. Elas partiram para o Alasca, para honrar a herança da família e recuperar minas de ouro abandonada em Mulheres na mina (foto), que estreia hoje, às 22h, no Animal Planet.

A força da natureza No NatGeo, o especial de domingo vai ao ar às 21h15, com seis documentários sobre desastres naturais exibidos em sequência. Começa com o terremoto de 2010 no Chile, passa pelos tornados de 2011 nos Estados Unidos, a tempestade Sandy em 2012, o furacão que atingiu Santa Catarina em 2004, o terremoto no Japão em 2011 e a inundação no Reno Unido em 2004.

Enlatados

Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br

Em família – Em uma semana fraca de novidades, a única estreia é da sitcom The Millers, quarta-feira, às 21h, no TBS. Will Arnett é Nathan Miller, repórter que acabou de se separar e está aproveitando a vida de solteiro. Só que seus pais (vividos por Margo Martindale e Beau Bridges) se separam, e sua mãe vai viver com ele, enquanto o pai decide morar com sua irmã.

Outros conflitos – Enquanto nos Estados Unidos já se prepara o quarto ano de Homeland para setembro, a original israelense Hatufim só teve duas temporadas. Mas vem ganhando “filhotes” ao redor do mundo. Já vendeu os direitos de adaptação para canais da Rússia, Turquia, América Latina e, mais recentemente, Coreia. Logicamente, em cada adaptação os conflitos dos personagens têm uma cor local. Na versão coreana, o pano de fundo será a briga entre as nações do Sul e do Norte. No Brasil, Hatufim deverá ser vista no canal +Globosat, mas ainda não tem data.

Dose dupla –Em sua reta final, The good wife ganha na quinta-feira exibição de dois episódios da quarta temporada, com participação de Jason Biggs e Morena Baccarin. A partir das 22h.

  – Sábado, a partir das 16h30, o Universal exibe, em sequência, os quatro últimos episódios inéditos (10º ao 13º) da 15ª temporada de Law & Order: Special Victims Unit


Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br


Fé na vida
 (Carol Soares/SBT)

“Nunca pedi a Deus para ficar vivo, porque nunca pensei em morrer, por mais próximo que eu estivesse da morte.” É assim que o cantor Netinho define o seu estado de espírito durante os sete meses em que ficou internado, em dois hospitais, enfrentando graves problemas de saúde no ano passado. Netinho, em entrevista a Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi, hoje, à meia-noite, no SBT/Alterosa, falou sobre o período de agonia. “Foi um choque para mim. Meu cérebro apagou tudo, inclusive o que eu passei no primeiro hospital”, afirma. Segundo o cantor, só semanas depois foi saber o que tinha ocorrido, “quando todas as minhas memórias voltaram.” E acrescenta: “Fiquei dois meses sem poder beber água. Não conseguia.” O baiano revela que já havia sido desenganado no hospital de Salvador e também no Sírio Libanês, em São Paulo. “Antes de tudo eu era um darwinista, vivi buscando ‘algo’. Após um exame, voltei para o quarto e ouvi uma voz clara na minha cabeça: ‘você está pensando que essse sofrimento vai ser para a vida toda, mas não vai’ e foi isso que me levou até o final”, disse. Netinho também confessou: “Cometi um erro por ter tomado anabolizantes e assumo a culpa. Parei em 2008 e até hoje tenho resquícios dele no meu corpo.” Com mais de 20 anos de carreira, a maior parte dedicada ao axé music, o cantor relembrou o início quando, aos 14 anos, ganhou da mãe um violão de presente no aniversário. Na época de Mila, um de seus maiores sucessos, Netinho fazia cerca de 24 shows por mês. Hoje, aos 47 anos, relembra: “Só soube o que era poder fazer um churrasco com meus amigos aos 32 anos. Eu tinha tudo e não aproveitava.”

ITABIRITO É O DESTINO
DE HOJE DA VIAÇÃO CIPÓ


Neste domingo, às 10h, a Viação Cipó desembarca em Itabirito para mostrar um spa cercado de natureza e tranquilidade. O telespectador também conhece um camping para quem gosta de um pouco de aventura na hora de relaxar, e um caçador de relíquias. Mais: cachoeiras, paisagens e uma saborosa receita.

CARRO MAIS BARATO DO
BRASIL PASSA POR TESTE


Dinheiro curto e combustível caro pedem uma solução: um carro mais em conta. Pois, o mais barato do Brasil, atualmente, é o novo Palio Fire, devidamente testado pelo Vrum. O resultado pode ser conferido hoje, às 8h30, no SBT/Alterosa. Fique por dentro de tudo o que rolou no Salão de Chicago e, numa viagem, o que um carro e um avião podem ter em comum. Na atração, ainda, o teste de uma moto e o tira-dúvidas sobre o funcionamento dos freios ABS.

NOVA SÉRIE DE HUMOR
TEM ELENCO FORMADO


Em Alucinadas, nova série de humor do Multishow (TV paga), com previsão de estreia no segundo semestre deste ano, já estão confirmados os nomes de Paulo Miklos e Maria Clara Gueiros no elenco. E para mostrar mulheres fora do padrão e fora de controle foram escaladas as protagonistas vividas por Renata Castro Barbosa e Luciana Fregolente. A produção é uma parceria do canal e a Migdal Filmes.

INTEGRANTE DO PORTA
DOS FUNDOS NA CULTURA

O ator, comediante e poeta Gregório Duvivier é um dos convidados do Metrópolis, que irá ao ar hoje, às 20h, na TV Cultura. Um dos mais promissores humoristas do país, é um dos criadores do canal de humor na internet, Porta dos Fundos, e também ator e foi roteirista da série Louco por elas (Globo). Aos 29 anos, Gregório fala sobre o humor no Brasil, o sucesso do Porta dos Fundos, explica seu processo de trabalho e comenta seu atual espetáculo, Uma noite na lua.

LUCAS LUCCO PÕE TODO
MUNDO PARA DANÇAR


Atração do Domingo legal, hoje, às 11h, no SBT/Alterosa, o sertanejo Lucas Lucco traz o sucesso Mozão, que já tem mais de dez mil acessos na internet. No bate-papo, fala sobre sua carreira e a fama depois de sua música estourar na web.

TROCA DE COMANDO EM
PROGRAMA DE BELEZA

 (Gil Rodrigues/Esp. Aqui BH/D.A Press-19/2/13)

Grazi Massafera substitui Luana Piovani no comando do Superbonita, do GNT (TV paga). A estreia está marcada para 7 de abril. “Sou fã e admiradora do programa há anos, por isso estou muito feliz em fazer parte da equipe. Vai ser extremamente prazeroso debater assuntos do universo feminino, tão comuns ao meu dia a dia, e descobrir histórias e dicas de beleza preciosas”, diz a atriz e ex-BBB que sempre cuidou da sua beleza. Há 14 anos na grade do canal, a atração já foi comandada por Daniela Escobar, Taís Araújo, Alice Braga, entre outras. Grazi, em 2009, foi uma das apresentadoras temporárias convidadas e apresentou um episódio do programa. 

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Sobre a agressividade‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Sobre a agressividade

Regina Teixeira da Costa
reginacosta@uai.com.br
Estado de Minas: 23/02/2014


O Brasil deixou de parecer um país pacífico. De um povo pacato, alegre e até ingênuo, e fácil de manejar, passamos para outra fase. A fase em que o povo sai para protestar, as pessoas se encontram nas redes sociais para articular encontros, opiniões, movimentos e manifestações. Enfim, um povo que descobre que democracia se faz com participação.

Por um lado, é bom ver as pessoas participarem. Por outro, é custoso constatar o real com seus furos e impossibilidades. Ideais como a harmonia, paridade e alguma perfeição são inalcançáveis porque esse real é como uma rede de pescador. Cheia de laços e nós que a sustentam e, claro, furos. Tantos furos quanto nós, talvez mais.

Nossa realidade é assim, embora com o imaginário tentemos preencher os furos, mas não podemos ficar livres deles nunca, tampamos um furo, abre-se outro, e a coisa sempre foge do controle absoluto.

As diferenças aparecem e não nos poupam da intolerância. Como se elas fossem uma ameaça de fato intolerável. Até mesmo entre duas pessoas, um casal por exemplo, sempre há a reivindicação por justiça e igualdade. Eu faço isto e você não, ou o que custava você ceder um pouco, etc. Agora, projetamos isto para um número muito maior de pessoas, uma comunidade.

Ceder sempre não é possível, porque anula o particular que nos faz ser quem somos. Não se pode simplesmente anular as diferenças. O medo da discordância existe porque ela nos separa do outro. Cria discórdia.

Não somos iguais, não dá para colar e ser igual. Há diferenças que separam e às vezes, para mantermos nossa fidelidade e dignidade próprias, perdas são necessárias e saudáveis. Isso não impede um amor que aceita o outro como alteridade absoluta. Podemos nos amar se cada um é um. Embora muitos prefiram se anular na alienação ao gosto do outro.

Assim é. A mesma lógica vale para o social. Uns mostram a cara, outros a escondem. E, destes, alguns desejam a destruição, o quebra-quebra. Seriam oportunistas isolados? Seriam articulados a algum partido ou grupo político? Marginais e aproveitadores que liberam a testosterona e agressividade? Por que o medo de ser identificado se a manifestação é um movimento que se bem praticado deveria ser honroso?

Diz-se haver infiltrados politizados e políticos insuflando atos de violência para desestabilizar o governo, implantar o caos, a fim de tomar o poder. Há os que temem um golpe direitista e veem todo movimento de rua como grande ameaça. Não se pode descartar que intenções escusas se aproveitem da situação. Como disse o poeta, viver é perigoso.

Lamentavelmente, o rojão atingiu o cinegrafista Santiago Andrade. A violência não construiu nada novo e com ela perde a democracia. Não é difícil entender que um movimento sério precisa de posições éticas e responsáveis, não se combate o que se considera ruim com algo ainda pior...

O real é todo furado, impossível de controlar, e daí tudo é possível, pois não há limites para o que passa na cabeça de cada um e com que intenção cada um sai de casa. De tudo isso, a psicanálise nos vem em auxílio com a certeza de que a agressividade é força constitutiva na estruturação do ser falante. E que ela sai sempre misturada com outros conteúdos, mas presente sempre.

A agressividade inclusive é pioneira. Antes do amor, quando nos reconhecemos como alguém, rivalizamos com o que é externo. Desde a origem do eu, a tendência agressiva se revela fundamental. Como se tudo que se referisse ao corpo e ao ser próprio fosse bom e o outro, o que está no campo externo, o diferente, fosse ruim, ameaçador.

E assim é com os seres humanos, como vimos também na manifestação retrógrada de racismo no Peru contra Tinga. Isso demonstra que estamos diante de um real duro e sempre com uma pedra no caminho. Diante disso, não podemos desistir; mesmo sabendo que a Copa do Mundo trará maiores enfrentamentos, é bom lembrar de não perder a ternura jamais. 

Beleza roubada - Mariana Peixoto

Beleza roubada 
 
Assim como no filme de George Clooney, caçadores de obras-primas brasileiros e estrangeiros fazem de tudo para recuperar o patrimônio histórico e artístico 
 
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 23/02/2014




Hollywood gosta (e precisa) de heróis. Muitas de suas histórias, ainda que partam de fatos reais, ganham nas telas um quê de fantasia. Exemplo em cartaz nos cinemas é Caçadores de obras-primas, narrativa escrita, produzida, dirigida e protagonizada por George Clooney a partir do livro homônimo, de Robert M. Edsel, que refaz a trajetória dos Monument Men. Hoje com o status de fundação e em plena atividade nos Estados Unidos, têm seu início em 1943, quando o então presidente Roosevelt aprova a criação de um comitê para salvar monumentos e obras de arte em áreas de guerra.

Na história, 345 homens e mulheres de 30 países passaram seis anos na Europa recuperando peças que haviam sido saqueadas pelos nazistas. No cinema, pequeno grupo de especialistas é reunido para tentar alcançar o mesmo fim, sob o comando do oficial George Stout (Clooney). Misto de drama e aventura de resultado irregular, o filme tem como grande mérito apresentar, em larga escala, um trabalho que tem diferentes versões ao redor do mundo.

Minas Gerais é o único estado brasileiro a contar com uma Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico. Foi criada em 2005, a partir de uma força-tarefa que dois anos antes reuniu as secretarias estaduais da Cultura e da Defesa Social, os institutos Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) e do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as polícias Federal, Militar e Civil, os ministérios públicos Federal (MPF) e de Minas Gerais (MPMG) e a Igreja e Associação das Cidades Históricas.

De 2003, quando os trabalhos foram iniciados, até hoje,  832 bens foram apreendidos, mas apenas 59 foram devolvidos a seus locais de origem. “A maior dificuldade é descobrir de onde são as peças. A identificação é um problema, pois demanda uma análise técnica pormenorizada. Tenho casos que estou investigando há cinco anos”, afirma o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, que está à frente da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC).

Uma grande exposição, em 2003, apresentou em BH peças que haviam sido apreendidas. Desde o ano passado, o Museu Mineiro tem um projeto de nova mostra com as peças recuperadas que estão depositadas em sua reserva técnica (119, entre imagens, castiçais e retábulos dos séculos 18 e 19). “Os recursos para a exposição já existem. Ela está dependendo de autorização judicial, pois algumas peças estão vinculadas a um processo”, afirma Marcos Paulo.

O interesse em realizar a mostra é grande, pois 2014 é tanto o Ano do Barroco quanto o bicentenário de morte de Aleijadinho. “Estamos aguardando a liberação das peças para agendar a exposição”, afirma Léo Bahia, chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Cultura e ex-superintendente de museus. O projeto museográfico está pronto desde o ano passado, quando a primeira data da exposição foi agendada. “A mostra deverá durar três meses e será na sala de exposições temporárias do museu. Foi criado um projeto para que se possa fazer uma itinerância da exposição (por outras cidades mineiras além de BH), o que tornará mais fácil a identificação das obras”, acrescenta Bahia.

Sem boletim A recuperação de peças é um trabalho quase que de formiguinha, muito diferente daquele romantizado pelo personagem Indiana Jones. A base de dados do MP conta com 702 bens desaparecidos. É uma parcela muito pequena, garante o promotor. “Minas perdeu 60% de seu patrimônio sacro e no banco de dados estão apenas peças acerca das quais houve denúncia. Nos furtos mais antigos, das décadas de 1960 e 1970, as pessoas não se preocupavam em fazer boletim de ocorrência.”

Ainda que a promotoria esteja envolvida na recuperação de outros tipos de bens, como documentos, de acordo com ele 98% das subtrações são de peças sacras. A maior parte das que estão na base de dados é formada por castiçais, seguidos por coroas e resplendores. Uma vez desaparecidas, têm destinos diversos. Na última semana foi devolvido à diocese de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, um crucifixo do século 18. Em 2008, a peça foi descoberta no site de compra e venda Mercado Livre. Estava sendo comercializada por R$ 5 mil. Já há quatro anos, a pia batismal da Matriz de Jequitibá foi apreendida numa residência em Sete Lagoas. Decorava a sala de visitas.

Brasil integra rede internacional

Mariana Peixoto
Publicação: 23/02/2014 04:00


Bouilloire et fruits, de Paul Cézanne, ficou 21 anos desaparecida  (Fotos: reprodução Internet)
Bouilloire et fruits, de Paul Cézanne, ficou 21 anos desaparecida
Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse e A dança, de Pablo Picasso, roubadas em 2006 no Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro
Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse e A dança, de Pablo Picasso, roubadas em 2006 no Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro
Em fevereiro de 2006, homens armados invadiram o Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, durante horário de visitação. Levaram obras como Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse, A dança, de Pablo Picasso e Marine, de Claude Monet. As três telas integram banco de dados da empresa britânica The Art Loss Register, única instituição privada do mundo a realizar o trabalho de recuperação de obras de arte roubadas. Seu banco de dados conta com 300 mil imagens de objetos e obras de arte roubadas em todo mundo.

É muito? Não na opinião de de Julian Radcliffe, diretor do Art Loss Register, que atua desde 1991. “Deveríamos ter 3 milhões de imagens no nosso banco. Os registros nos são enviados por seguradoras, colecionadores e polícia. Muito do material que circula nos é fornecido pela Interpol. Porém, eles só fornecem uma pequena porção dos objetos e, geralmente, muito depois de ocorrido o roubo. Os registros devem ocorrer logo após o roubo, porque assim é mais fácil de encontrar as obras antes de serem vendidas.”
De acordo com ele, em média 150 obras são recuperadas pelo Art Loss por ano. A empresa trabalha com 25 equipes, que vão atrás de objetos roubados com negociadores e em feiras e exposições. Entre as pinturas já recuperadas pelo Art Loss está Bouilloire et fruits, de Paul Cézanne, roubada de uma residência em Boston, em 1978. Foi recuperada 21 anos mais tarde, quando um homem tentou vender a pintura utilizando como fachada um advogado suíço e uma empresa panamenha. Posteriormente, a tela foi vendida por US$ 29,3 milhões. “Hoje, vale US$ 60 milhões”, garante Radcliffe.

A preferência dos ladrões, segundo ele, está em peças mais fáceis de serem transportadas. “Também joias, já que ouro e prata podem ser derretidos. Mas os mais valiosas são as pinturas.” Radcliffe comenta que igrejas são os locais mais fáceis de serem roubados, “pois não oferecem muita segurança.” Afirma que o número de peças de instituições e colecionadores brasileiros em sua base de dados é pequena. “Por favor, encoraje as pessoas a mandarem informações ao nosso banco. E também a checar bastante a procedência de uma obra antes de realizar uma compra.”

ESCUDO A Cruz Vermelha existe, desde a segunda metade do século 19, para resgatar e proteger vítimas de conflitos. O Blue Shield, Escudo Azul, no Brasil, é seu equivalente para o patrimônio cultural. Instituído em 2006 no país, o comitê ganhou seu braço mineiro em 2011, com a coordenação da diretora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG (Cecor), Bethânia Veloso. “Um grupo de voluntários – restauradores, diretores de arquivos, de museus, professores, alunos – faz o diagnóstico de monumentos, um levantamento do risco que ele apresenta. No caso de catástrofes, o grupo aponta os problemas junto à Justiça, Corpo de Bombeiros etc. Isso pode ocorrer também em caso de roubo da obra, incêndio, alagamento, terromoto”, explica.

Isso é o que se faz internacionalmente. No país, os trabalhos do comitê ainda são morosos. De acordo com Bethânia, a atuação mais forte é a do Escudo Azul de São Paulo. Em Minas, os trabalhos começaram há três anos, com fôlego que foi arrefecendo no decorrer do tempo. “No início, fizemos vários encontros para começar o levantamento, primeiro em Belo Horizonte, para depois partir para outros municípios. O Escudo Azul não é uma ONG ou uma associação, mas um comitê voluntário. Criamos um estatuto, mas dependemos de assessoria jurídica para um parecer. Na época (da criação), vários órgãos ficaram de braços abertos para nos abrigar, mas precisamos de subsídio para nos manter, porque nenhuma ação do Escudo Azul pode ser remunerada”, continua ela.

Bethânia Veloso chama a atenção para a importância do trabalho que o comitê pode desenvolver. “Precisamos saber qual o risco que os monumentos estão correndo, para depois fazer uma política nacional de salvaguarda do patrimônio. Nisso inclue-se a situação dos museus, bibliotecas, arquivos e até sacristias de igrejas.”

NA REDE » Caldeirão cultural

NA REDE » Caldeirão cultural 

 
Programa Ensaio aberto: O teatro de grupo no Brasil mostra a trajetória e influências regionais no trabalho de seis companhias.


Gracie Santos
Estado de Minas: 23/02/2014

O diretor Gabriel Villela dá depoimento sobre parceria com o grupo (Frames do vídeo/Reproduções)
O diretor Gabriel Villela dá depoimento sobre parceria com o grupo


A estética do barroco, a poesia da literatura de cordel, a alegria do carnaval, a força do cangaço e a comédia cearense. Elementos capturados pelas lentes do diretor Fabiano Moreira, idealizador de projeto que registra as experiências teatrais de seis grupos de teatro brasileiros: Teatro Popular União e Olho Vivo, de São Paulo; Grupo Galpão, de Minas Gerais; Tá na Rua, do Rio de Janeiro; Oi Nóis Aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul; Grupo Comédia Cearense, do Ceará; e Imbuaça, de Sergipe, que resultaram em seis documentários de 26 minutos, retratando a diversidade das regiões. O fio condutor são os grupos tradicionais, sua trajetória e importância histórica. Os episódios do programa Ensaio aberto: O teatro de grupo no Brasil estarão disponíveis a partir do dia 28 (até abril, um a cada semana), por meio do site da Cooperativa Paulista de Teatro: www.cooperativadeteatro.com.br.

A equipe de realização, comandada por Fabiano Moreira, acompanhou a companhia mineira na turnê de Os gigantes da montanha em Divinópolis e São João del-Rei. “No caso do Galpão, a questão estética é muito forte. A variedade de elementos e as diversas influências são elementos importantes, e é visível a presença do barroco. Estivemos no Cine Horto, em BH, e mostramos a organização deles, além dos frutos que vieram do trabalho realizado há 30 anos, caso do Quatroloscinco, nova geração que vem sendo formada”, afirma o diretor.

Fabiano cita ainda o fato de o Galpão ter levado a montagem de Romeu e Julieta a Londres, Inglaterra, momento marcante na carreira do grupo e conta que, além das entrevistas com integrantes da companhia mineira e de apresentações que a equipe filmou, há material de arquivo. “Uma das conduções da minha direção foi encontrar aspectos regionais no grupo, dando destaque também a aspectos culturais do estado”, explica Fabiano. “No Rio de Janeiro, é muito forte a questão do carnaval; em Fortaleza, o ponto alto foi a comédia; no Sergipe, a literatura de cordel; e veio também à tona a influência do cangaço. Os vídeos revelam muito desse caldeirão cultural de informações que é o Brasil”, define o diretor.

Estreia No primeiro episódio da série, com o Galpão, chamou a atenção do diretor o nível de relacionamento dos integrantes da companhia, além do fato de eles serem itinerantes e se abrirem muito para o contato com a população. “Com destaque para o caminhar deles, o estar juntos, o se ajudar. Tudo isso é bem bacana. Você pode ver fora de cena como eles se movimentam. No documentário não há bastidores do processo de criação ou produção, apenas casos contados por eles próprios”, avisa Fabiano.

Esta não é a primeira edição do programa Ensaio aberto: O primeiro foi realizado quando Fabiano Moreira começou a trabalhar na Companhia de Teatro Fábrica, em São Paulo, em 2004. Ele acabou se envolvendo com questões da Lei Municipal de Fomento ao Teatro (de 2002) e como era da área de vídeo, decidiu fazer um documentário que falasse sobre a lei, “algo didático mesmo, para que os grupos começassem a compreender nuances do funcionamento.”

Foi durante o trabalho de pesquisa para a realização desse filme que ele se deparou com questões do teatro de grupo. “A maioria era considerada amador, mas eles tinham modo de produção profissional. Fiquei curioso com a maneira como os integrantes se relacionam entre si e como eles lidam com o público e a população. E é essa a essência do segundo programa, que acabou por gerar os seis documentários”. Os grupos foram selecionados, de acordo com Fabiano, a partir do tempo de existência, que levou a variadas reflexões: “Como eles se mantêm há tanto tempo?; como se comunicam com a sociedade?; como a região reflete no trabalho deles?”.
O ator convidado do Galpão, Luiz Rocha, no filme de Fabiano Moreira (Frames do vídeo/Reproduções)
O ator convidado do Galpão, Luiz Rocha, no filme de Fabiano Moreira

ENSAIO ABERTO – O TEATRO DE GRUPO NO BRASIL
Estreia dia 28, documentário com o Grupo Galpão no site da Cooperativa Paulista de Teatro: www.cooperativadeteatro.com.br.

FUTURO

O resultado do programa Ensaio aberto: O teatro de grupo no Brasil foi tão bom que Fabiano Moreira espera que um canal de TV “abrace a ideia de difundir mais essa cultura, que é muito rica. Existe até a perspectiva de sairmos para a América Latina e produzirmos a terceira parte do programa”, anuncia.

Superman e Batman juntos‏

Superman e Batman juntos
Estado de Minas: 23/02/2014


Jesse Eisenberg vai interpretar o vilão Lex Luthor no longa que estreia em 2016     (BEN STANSALL/AFP)
Jesse Eisenberg vai interpretar o vilão Lex Luthor no longa que estreia em 2016


O ator Jesse Eisenberg foi o escolhido para fazer o papel de Lex Luthor e Jeremy Irons atuará como Alfred no próximo filme de Superman e Batman, ainda sem nome, de Zack Snyder. O duplo anúncio foi feito pela A Warner Bros. Pictures.

Lex Luthor é geralmente considerado o mais importante dos rivais de Superman. Sua péssima reputação vem desde 1940. A melhor parte de Lex é que ele existe além dos limites do malvado e estereotipado vilão. O personagem é complexo e sofisticado e sua inteligência, riqueza e proeminência o posicionam como um dos poucos mortais capazes de desafiar o incrível poder do Superman. Com Jesse no papel, os realizadores avisam que essa dinâmica será explorada e ele seguirá novas e inesperadas direções.

Já Alfred, que será interpretado por Jeremy Irons, como todos sabem é o amigo, aliado e mentor mais confiável de Bruce Wayne, além de nobre guardião e uma figura paterna. É elemento absolutamente essencial na infraestrutura complexa que permite que Bruce Wayne se transforme em Batman.

O elenco do filme de Snyder conta com Henry Cavill, repetindo seu papel como Superman/Clark Kent; com Ben Affleck atuando como Batman/Bruce Wayne; e com Gal Gadot como Mulher-Maravilha/Diana Prince. O longa também traz de volta as estrelas de O Homem de Aço: Amy Adams, Laurence Fishburne e Diane Lane.

O novo filme está sendo escrito por Chris Terrio a partir do roteiro de David S. Goyer. A estreia mundial está prevista para 6 de maio de 2016.

Eduardo Almeida Reis-Gislaine‏

Gislaine
Quinhentos reais por mês para cada um deles é quantia que representa, como desfalque financeiro, o mesmo que 10 centavos de real para mim


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/02/2014





Modesto Araújo, Lúcio Costa, Mauro Tunes, José Eduardo Lanna Valle, Sebastião Bomfim, José Salvador Silva, Ricardo Nunes, Ricardo Guimarães, Rubens Menin e Saulo Wanderley são mineiros que, mercê de muitos anos de trabalho estrênuo, ficaram bem de vida. Há outros, mas esses 10 bastam para financiar o meu plano. Quinhentos reais por mês para cada um deles é quantia que representa, como desfalque financeiro, o mesmo que 10 centavos de real para mim: não por mês, mas por ano. Dez vezes R$ 500 são R$ 5 mil por mês, importância suficiente para bancar o Projeto Gislaine. Explico: Gislaine Rodrigues dos Santos nasceu na zona rural de Pavão, Vale do Mucuri, há 22 anos. É técnica de enfermagem no Hospital Felício Rocho, pesa 48 quilos e sabe ser a mais doce, dedicada, simpática, educada, carinhosa e bonita das mineiras, porque soma a beleza exterior com a interior. Casá-la, entupi-la de filhos e de estrias morando longe para sair de casa às quatro da manhã, não solucionaria os problemas dela, do Brasil ou da humanidade. Daí a ideia de um projeto que não representa, em dinheiro, absolutamente nada para cada um dos 10 mineiros e pode financiar os estudos da moça, permitindo que siga a carreira dos seus sonhos, que não sei qual é. Cada um dos 10 tem nas suas diversas empresas vários especialistas em RH. Para começar o Projeto Gislaine, sugiro que um dos RHs do Lúcio Costa se reúna com um dos RHs do Modesto Araújo, para entrevistar a pavoense ou pavonense e traçar os planos de assistência aos estudos e sobrevivência da mineirinha. De acordo com a Lei de Gerson – aquela do brasileiro que gosta de levar vantagem em tudo, certo? –, informo ao distinto público leitor que minha “vantagem”, no caso, é proporcionar a 10 mineiros a oportunidade de fazer o bem com 10 réis de mel-coado. Gislaine atendeu-me como enfermeira (e ser humano) meia dúzia de vezes em quatro dias de hospital. Foi só.

Justiça


No Rio de Janeiro, diante do grande número de assaltos no Bairro do Flamengo, um grupo de jovens pegou “suposto” ladrão e o amarrou a um poste. Suposto só para o jornal, que publicou foto colorida de primeira página do larápio amarrado ao poste e teve o cuidado de borrar o rosto do gatuno. Na Bahia, cena idêntica, desta vez com o focinho do ladrão à mostra. Escusado é dizer que o bom-mocismo midiático não se esqueceu de criticar as pessoas que amarraram os ladrões: teriam feito “justiça com as próprias mãos”. Homessa! Desde quando amarrar ladrão é crime? A polícia não pode estar em toda parte. A Justiça (inicial maiúscula quando usada em sentido absoluto) tarda e falha, sim, e muito. Se o cidadão tem condições de fazer justiça com as próprias mãos, sozinho, que faça. Quando em grupo, como no Rio e na Bahia, o uso de várias mãos também é perfeitamente justificável. Só não dá para entender que o cidadão e a cidadã comuns, que pagam impostos, trabalham e se comportam nos limites das leis e da ordem pública, corram o risco permanente de assalto na maioria das ruas da maioria das cidades brasileiras, mesmo pequenas. Pululam “supostos” ladrões e homicidas por aí e por aqui. Do jeito que está não dá para continuar: tenho dito. E o leitor fica me devendo a cidadã, que soa mal mas está dicionarizada.

O mundo é uma bola


23 de fevereiro de 1797: todos os detentores de bens da Coroa de Portugal e os herdeiros de morgados ou capelas passam a fazer o serviço militar no Exército ou na Marinha, sob pena de devolução dos bens. Em 1812, Napoleão Bonaparte renega a concordata com o papa. Não faço a mais mínima ideia dos termos da concordata de Napoleão com o papa, nem sei o nome do papa em 23 de fevereiro de 1812. Seria possível apurar sem que isso fosse de utilidade para mim e para o leitor. Portanto, deixemos Napoleão em paz, louvando seu entusiasmo pelos cheirinhos de Josefina, tanto assim que a dispensava dos banhos e de limpamentos outros na hora de ir ao leito. Em 1861, Abraham Lincoln chega secretamente a Washington para assumir a Presidência dos Estados Unidos, depois de sofrer um atentado fracassado em Baltimore. Desde aquele tempo os norte-americanos curtiam a mania de atentar contra os seus presidentes. Em 1905, denunciado em Portugal o contrato do monopólio do tabaco detido desde de 1891 pela companhia de Henri Burnay. A concessão foi renovada fixando-se a renda fixa de 6.250 contos de réis por 25 anos, sem hipótese de alteração. Lá, como cá, para renovar a concessão alguém deve ter levado algum por fora. Em 1911, os bispos portugueses contestam as medidas anticlericais da Primeira República: a expulsão das congregações, a Lei do Divórcio, a criação do Registro Civil e o fim do juramento religioso nos tribunais. Em 1919, Benito Mussolini funda o partido fascista italiano. Transcorridos 95 anos, todos os que discordam de nossas opiniões no Brasil são tachados de fascistas. Hoje é o Dia da Sedução, do Rotary, do Boticário e do Surdo-Mudo.

Impasse da mamografia gratuita‏

Impasse da mamografia gratuita
Clécio Lucena - Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia
Estado de Minas: 23/02/2014


A mamografia é extremamente importante para diagnosticar o câncer de mama na fase inicial. Diferentemente de outros métodos de detecção disponíveis na área, o exame consegue identificar nódulos com até um milímetro. O setor de controle do câncer de mama e colo do útero da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais anunciou, recentemente, que há 250 mamógrafos e duas unidades móveis disponíveis para atendimento estadual.

O número serve de alerta, se considerarmos que a maioria das máquinas está localizada nas regiões Sul, Triângulo e Central, dificultando o acesso nas demais cidades. Mais preocupante que essa quantidade de mamógrafos é a possibilidade do cancelamento do exame gratuito. A Portaria nº 1.253 do Ministério da Saúde entrou em vigor em dezembro, podendo comprometer o fornecimento da mamografia para mulheres na faixa de 40 a 49 anos, conforme o governo estadual.

Com a evolução da mamografia, a ferramenta se tornou primordial no processo de tratamento do câncer. Desde outubro do ano passado, em Minas Gerais, qualquer mulher com idade acima de 40 anos, pode requerer a realização do exame no Sistema Único de Saúde (SUS), sem a solicitação médica, conforme a Lei da Mamografia (Lei nº 11.664). Mas, contrariando essa legislação, a recente portaria do Ministério da Saúde informa que somente haverá disponibilidade para oferecer a mamografia de rastreamento para mulheres assintomáticas na faixa etária de 50 a 69 anos.

O maior motivo para a possibilidade de cancelamento do programa para o público de 40 a 49 anos é financeiro. Os custos para o ministério proporcionar os exames são altos, comprometendo o orçamento. Ainda há o argumento de que a portaria altera os fundos de repasse de verbas e não haverá prejuízo algum para a faixa etária atendida. Ao município que optar por manter o serviço, resta a alternativa de arcar sozinho com o custeio das mamografias.

Se, de fato, a portaria entrar em vigor, poderá gerar grandes danos para a população. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) revela que o câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo e responde por 22% dos novos casos diagnosticados. A estimativa é que 57 mil pessoas desenvolvam a doença neste ano. Somente no ano passado, há a possibilidade de Minas ter registrado 5.680 casos, com taxa de incidência de 54,1 para 100 mil mulheres. Ou seja, a decisão de restringir a mamografia é controversa, porque a população abaixo dos 50 anos também apresenta uma incidência razoável de câncer. Privar a realização do exame significa limitar a possibilidade do diagnóstico precoce nas mulheres, aumentando o número de casos de câncer e inibindo a chances de cura, que podem chegar a 95%, se o nódulo for identificado na fase inicial.

É preciso observar a combinação de fatores genéticos, ambientais e qualidade de vida para o controle da doença. Entretanto, o câncer de mama não tem um agente específico, por isso, é necessário realizar o acompanhamento com o médico da área para a prevenção. O cancelamento do fornecimento gratuito da mamografia poderá ser um agravante na incidência de casos de câncer. É essencial que a portaria seja mais bem discutida e que a decisão final seja favorável para a sociedade, considerando que a realização do exame é a melhor forma de prevenir e evitar os transtornos causados pela doença. A mamografia cumpre o principal papel de manter a saúde da mulher resguardada.