terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Maria Ester Maciel - Devaneios sobre o h‏

Devaneios sobre o h 
 
Maria Ester Maciel - memaciel.em@gmail.com


Estado de Minas: 18/02/2014


Alguns leitores, intrigados com a supressão da letra h do meu nome nesta coluna, escreveram-me perguntando o porquê da mudança. Houve quem achasse que fosse erro do jornal, ou que a alteração se devesse a um possível motivo de ordem mística – coisa de numerologia. Afinal, há quem aposte nos bons fluidos ou presságios proporcionados pela soma de letras de um nome próprio, o que leva muita gente a alterar a grafia de seus nomes de batismo. Mas não foi nada disso. O jornal apenas acatou meu pedido de alteração. Ademais, nunca fui dada a superstições de números e letras, apesar de achar a numerologia muito interessante.

Vou explicar a história aos meus estimados leitores – que têm toda a razão de terem estranhado essa mudança repentina da assinatura. O h do Esther com que assinava meus textos era um mero acréscimo ao nome com que fui registrada. E tem uma história, como tudo o que se refere aos nomes próprios.

Herdei os nomes de minhas duas avós: a Maria (paterna) e a Esther (materna). Mas meu pai, encabulado com o nascimento da primeira filha, esqueceu-se do h na hora do registro. Ficou só Ester. Minha avó, a homenageada do lado materno, ficou meio triste com o erro. Assim como ficou também minha mãe. Por conta disso – para compensar o lapso do meu pai e contentar minha avó Esther, que, virava e mexia, falava sobre o fato – resolvi incluir o h no nome, mesmo que informalmente. Achava, aliás, que ficava mais bonito. Isso foi há muito tempo, quando eu era ainda uma adolescente. Logo, todos se acostumaram. Menos o meu pai, que continuou escrevendo o nome do registro. Ainda assim, não se importou muito com a mudança e nunca reclamou.

A duplicidade da grafia tornou-se, obviamente, um problema. Escrevia o Esther com h nas assinaturas informais ou como autora de textos, mas tinha que usar o Ester sem h nos documentos e em todas as situações burocráticas. Muitas vezes, fiquei confusa. Tanto que, um dia, cheguei a escrever num poema: “É sina do meu nome/ deslizar conforme/ o tempo e o não-lugar:/ sem ponto certo/ oscilar, errante/ entre o final e o reticente/ confundir vogal/ e consoante/ beber na fonte/ a palavra/ que não há”.

No começo deste ano, porém, veio-me uma decisão súbita. Senti que era hora de assumir, pra valer, o meu nome de registro. O nome que, de fato, me pertence e me define. Foi quando o h sumiu de vez da assinatura desta coluna. O que, no final das contas, não muda muito as coisas, pois o h é uma letra muda, sem som. Se ela dá início a algumas palavras interessantes como hálito, húmus, hélice, horizonte, hífen e hortelã, é também a letra inicial de horror, histeria, hospício e hospital. Está ainda em histamina – substância responsável pelas alergias. Por outro lado, traz algo viril, de homem. E tem também humor. Pode ser, às vezes, hilária, hipócrita, híbrida e herética.

Como se vê, não há o que não haja em matéria de palavras começadas com h. Para não mencionar ainda os belos nomes próprios, como Helena, Hilda, Heloísa, Helânia, Heitor, Hugo e Henrique. Ou os que têm a letra depois do t, como Thereza, Thaís, Theo, Thales e Thiago.

De fato, o h não me pertence. É só uma letra do nome que seria meu, mas não foi. 

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 18/02/2014



 (Patagonik Film/Divulgação)

Aposta segura


O Telecine Cult sempre monta sua programação com filmes de qualidade e, muitas vezes, fora do padrão de Holywood. Para hoje, a atração é Elefante branco, drama dirigido pelo argentino Pablo Trapero, com Ricardo Darín e Jeremie Renier (foto) nos papéis de dois padres que lutam para solucionar os problemas de uma favela de Buenos Aires e acabam entrando em conflito com a Igreja, governo, narcotráfico e até mesmo com a polícia corrupta. No ar às 22h.

Acredite também no  bom cinema brasileiro

Outro bom filme agendado para hoje, também às 22h, no Canal Brasil, é Quanto dura o amor?, de Roberto Moreira, com Sílvia Lourenço e Maria Clara Spinelli, que dividiram o prêmio de melhor atriz no Festival de Paulínia, em 2009. Outras atrações da programação: Fora de controle, às 20h15, no Universal; Lindas e malvadas, às 21h, no Comedy Central; O hobbit – Uma jornada inesperada, às 22h, no Telecine Pipoca; O efeito ilha, às 22h20, no Cine Brasil; Anjos da vida – Mais bravos que o mar, às 22h30, no Megapix; e Mãe e filha, também às 22h30, no Arte 1.

Espanhóis criaram um estilo de filme de terror

Dirigido pelo cineasta Yves Montmayeur em 2009, o documentário Viva la muerte! mostra como a nova geração de cineastas espanhóis adeptos do gênero terror tornou seu país uma referência no estilo. A produção reúne depoimentos de diretores consagrados como Alejandro Amenábar, de Os outros e O orfanato; Guillermo del Toro, de O labirinto do fauno; e a dupla Paco Plaza e Jaume Balagueró, do filme REC, mostrando que produtoras estão unindo a experiência desses profissionais com a qualidade de Hollywood. Às 21h30, no Arte 1.

Arte e arquitetura na  pauta do canal Curta!


O canal Curta! investe nas artes plásticas e na arquitetura nas noites de terça-feira. O primeiro destaque, às 22h30, é o especial A história de Bauhaus de Dessau, sobre a mais importante criação do alemão Walter Gropius, construída em 1926 para abrigar uma escola e que é um dos exemplos mais famosos da arquitetura do século 20. Às 23h é a vez de Tudo é folclore, sobre o pernambucano Manoel Galdino (1929-1996), mestre do barro e do cordel. No SescTV, às 21h30, a série Artes visuais analisa as obras de diferentes fases da escultora mineira Maria Martins (1894-1973), que fez carreira na Europa, comumente associada à arte moderna e ao surrealismo.

History e A&E relatam só ocorrências policiais


A tragédia do navio Costa Concordia, que encalhou na costa da ilha italiana de Giglio Porto em 13 de janeiro de 2012, matando 30 pessoas, será revista em documentário do canal History, às 22h. Às 22h30, no A&E, Investigação criminal reconstitui o assassinato dos irmãos João Victor, de 13 anos, e Igor Giovani dos Santos Rodrigues, de 12, em 3 de setembro de 2008, em Ribeirão Pires (SP) – os meninos foram mortos pelo pai e esquartejados com a ajuda da madrasta e tiveram seus corpos jogados no lixo. Em tempo: ainda no History, às 23h, estreia O verão da lata, que recorda o caso dos milhares de latas contendo um quilo e meio de maconha de altíssima qualidade que vieram dar nas praias de São Paulo e do Rio de Janeiro no fim de 1987.

Dom Salvador e banda fazem show no SescTV


Por fim, música. Às 22h, no SescTV, tem show do paulistano Dom Salvador e grupo Abolição, gravado no Sesc Pompeia, em São Paulo, durante o Nublu Jazz Festival em fevereiro de 2012, com participação de Tony Tornado. No VH1, às 23h, a série Videografia passa a limpo a carreira da cantora norte-americana Kelly Clarkson.


CARAS & BOCAS » Heroína da floresta
Simone Castro



Fátima (Yanna Lavigne) vira modelo por um dia no Rio de Janeiro, mas volta a Tapiré para salvar um amigo (Globo/Divulgação)
Fátima (Yanna Lavigne) vira modelo por um dia no Rio de Janeiro, mas volta a Tapiré para salvar um amigo

Depois de ganhar o primeiro concurso de Miss Tapiré, Fátima (Yanna Lavigne) vai curtir o prêmio de uma viagem ao Rio de Janeiro ao lado das irmãs. Lá, um rapaz logo se impressiona com a beleza da morena e convida Fátima para fazer um teste. Relutante no início, a jovem acaba topando. E é aprovada para fazer um comercial. Fátima até aceita, mas impõe uma condição: que as irmãs, Selma (Luciana Paes) e Rita (Mariana Xavier), também participem. Depois disso, ela decide voltar a Tapiré, mas as irmãs resolvem ficar no Rio. Na chegada à cidade, Fátima se depara com um problemão quando o pequeno Nilson (JP Rufino) vai atrás de Kléber (Marcello Novaes) no galpão. Ela segue o vilão pela mata. Nilson procura algo para ajudá-lo a salvar seus amigos. Kleber captura Nilson e Fátima se coloca entre os dois para salvar o menino. Kleber fica paralisado por causa de Fátima e acaba deixando que seus prisioneiros escapem. Celina (Mariana Rios) sugere que Fátima questione vó Tita (Analu Prestes) sobre a atitude de Kleber em relação a ela.

CANAL BRASIL CONTINUA  NO CLIMA DE CARNAVAL

Uma programação especial dedicada ao carnaval já está no ar no Canal Brasil (TV paga). Estão sendo exibidas produções que têm a folia como personagem principal, além da continuação da série 100 anos de samba. Entre curtas e longas-metragens serão 10 obras distribuídas ao longo de 14 dias. Os filmes, que entram no ar sempre às 19h, acompanham desde a beleza das mulatas, passando pelas clássicas marchinhas e pelo esplendor dos desfiles, e chegando à história de grandes ícones da MPB. A atração de hoje é Quando o carnaval chegar, que Cacá Diegues rodou em 1972. Amanhã será a vez de Mulatas! Um tufão nos quadris, documentário de Walmor Pamplona. Nos dias seguintes serão exibidos Paulinho da Viola – Meu tempo é hoje (quinta-feira), Orfeu (dia 24), Ó, linda (25), As batidas do samba (26) e Mangueira documental  e Jamelão – 90 anos (ambos no dia 27).

ERNEST VOLTA À MANSÃO  PARA AMARGAR A SOLIDÃO

Nos próximos capítulos de Joia rara (Globo), uma reviravolta vai fazer com que Ernest (José de Abreu), depois de vender sucata, volte a morar em sua mansão. Assim que chega, ele expulsa Manfred (Carmo Dalla Vecchia) e Gertrude (Ana Lúcia Torre). Manfred é internado em um hospital psiquiátrico. Quando recebe alta, vai morar em seu antigo apartamento, onde antes morava seu pai biológico, Venceslau (Reginaldo Faria). Manfred jura vingança contra ele. Com medo, Venceslau busca abrigo com a filha, Iolanda (Carolina Dieckmann), mas nem ela nem o marido, Mundo (Domingos Montagner), permitem que ele fique com eles.

MANOEL CARLOS TAMBÉM  VAI EXPLORAR O RACISMO

Já deu para ver que Dulce (Lica Oliveira) sofrerá racismo por parte do filho adotivo, André (Bruno Gissoni), na novela Em família. Ele namora Luiza (Bruna Marquezine) e não gosta que a mãe o trate como filho na frente dos outros. Manoel Carlos já abordou o racismo em Páginas da vida (2006), em que Selma, personagem de Elisa Lucinda, era o alvo. Casada com Lucas (Paulo César Grande), ela não era aceita pela filha dele, fruto de outro relacionamento.

TAPETE VERMELHO

As apresentadoras Robin Roberts e Lara Spencer, do programa Good morning America, da rede ABC, e o editor da revista People, Jess Cagle, retornam como mestres de cerimônias do tapete vermelho do Oscar, segundo a própria Academia de Cinema dos Estados Unidos. O trio se junta ao ator e modelo Tyson Beckford, em 2 de março, em Los Angeles, para a recepção das estrelas de Hollywood. A apresentadora Ellen DeGeneres comanda o espetáculo no palco. Na parte musical, também foram definidas as apresentações do músico e produtor Pharell Williams, da banda irlandesa U2 – que tocará a canção indicada ao Oscar Ordinary love, de Mandela: Long Walk to Freedom – e Karen O., vocalista do Yeah Yeah Yeahs, cuja canção em parceria com Spike Jonze é do filme Ela e também disputa um prêmio. A atriz Jennifer Lawrence, que venceu o Oscar de melhor atriz no ano passado, pela atuação no filme O lado bom da vida, e que concorre novamente este ano, mas como atriz coadjuvante, já foi anunciada como uma das apresentadoras convidadas.

VIVA
Bianca Salgueiro mostra que dá conta do recado, em Malhação (Globo). Ainda mais agora em que sua personagem, Anita, confusa e magoada com o que pensa que foi uma traição do então namorado, oscila entre garota exemplar e rebelde.

VAIA
Quem está na chuva é para se molhar, mas ainda assim pegou mal a turma do Pânico anunciar que uma cadela, chamada Fiel, substituiu Sabrina Sato, que deixou a atração. Prova que os humoristas não superaram a saída da ex-colega. 

Tereza Cruvinel - Testes de força‏

Estado de Minas: 18/02/2014 



A febre das ruas baixou, ainda que transitoriamente, mas a semana será de temperaturas elevadas na superestrutura política, especialmente na relação do governo com o PMDB e a base parlamentar. Três ministros – da Casa Civil, da Fazenda e de Relações Institucionais – tiveram uma pajelança no início da noite com o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que tem nas mãos um rojão poderoso: a relatoria da Medida Provisória 627, que altera todo o regime tributário das empresas, encerrando a transição para o modelo definitivo. Ainda que não contasse com outras armas, como a derrubada de vetos e de outros projetos de interesse do governo, só com essa granada ele poderia arrancar as concessões que Dilma Rousseff vem se recusando a fazer ao partido na reforma ministerial.

Ainda na noite de ontem, o vice-presidente Michel Temer recebeu o candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, e mais uma penca de prefeitos do estado para uma demonstração de que o PMDB pode jogar sozinho nos estados quando for desprezado pelo PT. Dilma foi muito estimulada a enfrentar o apetite ministerial do PMDB, negando-lhe a sexta pasta. Eles berram, mas não rompem, disseram os que aconselharam a presidente a endurecer. Dificilmente romperão mesmo, mas podem fazer com ela, pelo menos em alguns estados, o que fizeram com José Serra em 2002: ignorar a aliança nacional e descarregar votos em outro candidato a presidente.

A MP 627, para a qual o líder Eduardo Cunha indicou-se como relator, envolve grandes interesses das empresas, as mesmas que daqui a uns dias estarão desembolsando recursos para financiar as campanhas. Afeta o Imposto de Renda, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, o PIS/Pasep e outros tributos. E tudo isso, que Eduardo Cunha pode alterar, já deve ter sido acertado com os donos do capital. Tanto é que o próprio ministro Guido Mantega participou da reunião.

Afora isso, hoje, na primeira sessão bilateral do Congresso, serão analisados quatro vetos da presidente, um deles ao projeto que permite a criação de mais de 300 municípios, com tudo que isso representa para as contas públicas, que não andam em boa situação perante os investidores e analistas de mercado. O Marco Civil da Internet, um projeto necessário, que coloca o Brasil na vanguarda da inovação em governança da rede, também pode ser sacrificado pelo PMDB em seu afã de mostrar a Dilma o valor do apoio parlamentar e da aliança eleitoral.

Mesmo sendo a candidata favorita, Dilma concorrerá ao segundo mandato numa conjuntura econômica e política instável, pontuada pela Copa do Mundo e o mau humor das ruas. Mesmo enfrentando adversários que hoje não chegam a ameaçá-la, as condições eleitorais não recomendam a Dilma brigar para valer com o principal aliado. Em alguns estados, a começar por Minas Gerais, parte dos peemedebistas vem se realinhando com o candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves. Se depender do ex-presidente Lula, ela tratará de resolver esta semana as pendências com o PMDB.

Campanha singular
Márcia Cavallari, presidente do Ibope Inteligência, é uma das maiores conhecedoras da alma do eleitorado brasileiro. Em entrevista ao portal El País Brasil, ela resume a sorte de Dilma, ao dizer que “há um desejo de mudança, mas o problema é que, por enquanto, as pessoas não estão vendo na oposição quem possa representar essa mudança. Nas pesquisas que a gente fez, não vemos os candidatos da oposição se apropriando desse sentimento. Dilma ainda tem uma grande vantagem”.

Afora o baixo conhecimento que o eleitorado tem dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, ela aponta a desconcentração eleitoral decorrente da realização da Copa do Mundo aqui. “Vão chegar as delegações, vai estar aquela convivência com outras pessoas e tal, então as pessoas só estarão focadas nas questões eleitorais depois que acabar a Copa, a partir de 13 de julho. A campanha pegará o fim de julho, agosto e setembro. Vai ser uma campanha muito curta, o que dificulta as ações. A partir do horário eleitoral gratuito na televisão, que começa em 19 de agosto, é que todos os candidatos passarão a ser conhecidos de uma forma mais homogênea pela população.”

Hoje, comenta ela, não dá para dizer com certeza que influência terá a Copa: “Vai depender muito do que acontecer. Quero dizer: a gente vai passar vergonha? Tudo vai ser entregue? Vai estar tudo remendado? Não vai? Isso é algo que a gente vê. A população, a opinião pública, não quer passar vergonha com a Copa. E aí há as manifestações, que a gente também não sabe se vão voltar”.

Plenário quente

Em ano eleitoral, mesmo com o quórum baixo, o plenário da Câmara esquenta. Como ontem, quando o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) fez um duro ataque ao PT, seus governos e seus líderes, terminando por acusar o ministro Gilberto Carvalho de ter ajudado a fomentar os protestos e a violência nas manifestações, pois um ex-auxiliar dele estava entre os que queimaram pneus na porta do Estádio Mané Garrincha durante a Copa das Confederações. A defesa do ministro foi feita pelo deputado peemedebista Francisco Escórcio (MA), que batalha para apaziguar os ânimos entre seu partido e o PT. “Não cometa uma calúnia dessa contra o ministro Gilberto, que é do bem e da ordem. Ainda na semana passada, ele desceu do gabinete, de peito aberto, para negociar com os líderes da manifestação do MST, obtendo uma trégua na violência. Enquanto ficarmos repetindo calúnias, uns contra os outros, estaremos servindo aos que trabalham para desqualificar os partidos e a política.”

Se o calor político já está alto agora, imagine-se em setembro, com a ajuda da seca e da disputa eleitoral.

Auxílio contra a esquizofrenia

Auxílio contra a esquizofrenia
Esrado de Minas: 18/02/2014


Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do King’s College London desenvolveram uma terapia por meio de avatares para ajudar pacientes esquizofrênicos a controlar um dos sintomas mais característicos do distúrbio mental: as alucinações auditivas, vozes que eles escutam quase o tempo todo em suas cabeças. O sistema de computador, de acordo com os cientistas, poderá fornecer um tratamento mais rápido e efetivo que os medicamentos farmacológicos disponíveis atualmente no mercado. Além disso, eles acreditam que o método reduzirá a frequência e a severidade dos episódios da esquizofrenia.

Em um teste piloto com 16 pacientes que fizeram sete sessões de 30 minutos cada uma, quase todos disseram ter sentido uma redução na quantidade de vezes em que as vozes se manifestaram. Três participantes relataram que, após a terapia, pararam completamente de ouvir os sons – mesmo as alucinações auditivas os tendo acompanhado ao longo de 16, 13 e três anos e meio, de acordo com cada caso.

Na primeira fase do tratamento, o paciente cria o avatar, escolhendo o rosto e a voz da entidade que ele acredita se manifestar em sua mente. O sistema, então, sincroniza os lábios do personagem com seu discurso, permitindo que o terapeuta converse com o paciente por meio do avatar, em tempo real. A ideia é que o profissional encoraje o paciente a se opor à voz e, gradualmente, controlar as alucinações.


Confiança Julian Leff, professor emérito de saúde mental do King’s College, que desenvolveu a terapia, disse que, embora os pacientes interajam com o avatar, eles sabem que não podem ser feridos, porque foram eles mesmos que criaram os personagens. “As vozes geralmente ordenam que o paciente se fira ou fira a família. Como resultado da terapia, o paciente ganha a confiança e a coragem de confrontar o avatar e, consequentemente, a lutar contra seu perseguidor”, observa. De acordo com ele, um estudo em larga escala será realizado no ano que vem.

“As alucinações auditivas são uma experiência muito estressante, muito difícil de tratar com sucesso, atrapalhando a vida dos pacientes por muitos anos”, lembra Thomas Craig, professor de psiquiatria que vai liderar a pesquisa futura. “A beleza dessa terapia é sua simplicidade e a brevidade. Se mostrarmos que o tratamento é eficaz, esperamos que se torne disponível em consultórios em poucos anos”, conta. 

Divórcio, culpa e retrocesso - Luiz Fernando Valladão

Divórcio, culpa e retrocesso 
 
Luiz Fernando Valladão
Advogado, professor universitário, coordenador e coautor do livro Divórcio (Del Rey)


Estado de Minas: 18/02/2014


Em 2010, com o advento da Emenda Constitucional 66, eliminou-se do direito brasileiro o instituto da separação. Isso significa que, desde então, o casal não precisa se submeter a duas etapas - separação e divórcio. Basta que obtenha o divórcio, para que se coloque fim ao casamento e à sociedade conjugal, inclusive sob o aspecto patrimonial, estando livres também, sob o aspecto jurídico e formal, para novos relacionamentos.

Essa tendência à desburocratização ganhou força em 2007, com a Lei 11.441, a qual permitiu o divórcio em cartório (sem intervenção judicial), por meio de simples escritura fiscalizada pelo tabelião e advogados dos interessados, desde que não existam filhos menores ou incapazes.

É evidente que essa eliminação de formalidades não objetiva estimular o fim dos relacionamentos de afeto. Pelo contrário, acredita-se que todos, inclusive o legislador, querem que os casamentos resultem em benefício dos cônjuges e na paz espiritual prometida. Porém, a vida é dinâmica e os valores ostentados pelas pessoas são diferentes. E, nesse contexto, as rupturas conjugais são inevitáveis. É óbvio que compete aos advogados, em contato com o casal, buscar a reconciliação, mas, se isso não acontecer, o ideal é que esse período tumultuado da vida dos cônjuges seja rápido e o menos traumático possível.

Por isso, a eliminação da separação e a possibilidade de divórcio desburocratizado, por meio de cartório, significam um avanço para essas pessoas. E o mais importante: o fim da separação significou a eliminação da insuportável e irracional discussão, antes imposta pela lei, sobre a culpa dos cônjuges pelo insucesso do casamento. Sim, até pouco tempo atrás, fazia-se imprescindível que um cônjuge atribuísse ao outro a culpa pela separação, o que gerava uma infeliz e inócua “lavação de roupa suja”, circunstância que inviabilizava qualquer reconciliação ou acordo, além de traumatizar os filhos do casal.

Na contramão do que motivou a referida alteração da Constituição Federal, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 5.432/13, do deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR), que pretende reinstaurar a discussão sobre a culpa pelo fim do relacionamento, no âmbito do processo de divórcio. Além disso, o parlamentar defende que a simples escritura de divórcio (para os casos de ausência de filhos menores ou incapazes) seja homologada pelo promotor de Justiça.

Ora, a experiência revela que a discussão sobre a culpa traz uma eternização insuportável aos processos da área de família, fazendo-os muito mais passionais do que práticos ou jurídicos. Além disso, se a culpa pelo fim do relacionamento envolver um fato muito grave (como a agressão física), nada impede que o cônjuge prejudicado se valha da ação de indenização ou mesmo de medidas próprias do processo penal. O que não se justifica, contudo, é atrelar a culpa ao processo de divórcio, tornando-o longo e fazendo uma constante a infelicidade dos ex-cônjuges.

De outro lado, se não há interesses de menores ou incapazes, nada justifica a interferência do Ministério Público num divórcio, pois a formalização dele, em casos tais, fica restrita às decisões e valores dos cônjuges. Ademais, o tabelião e sobretudo o advogado – indispensável que é à administração da Justiça (art. 133 CF) – saberão orientar o casal da melhor maneira, inclusive no tocante à tentativa de eventual manutenção do vínculo afetivo e conjugal.

É preciso, enfim, que o nosso Poder Legislativo esteja atento à realidade dos fatos e da vida, não produzindo, portanto, normas que a contrariem. Enquanto isso, compete à sociedade ficar atenta.