domingo, 2 de fevereiro de 2014

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Barba rala‏

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Barba rala 
 
Estado de Minas: 02/02/2014




Esta é uma crônica contra a barba rala.

Eu mesmo me pergunto: por que fazer uma crônica contra a barba rala? Não há outros assuntos mais barbudos? (Ia dizer hirsutos, mas fiquei com medo dessa palavra. Hirsuto: cheio de pelos duros e ásperos.) Hirsuto é uma palavra antiga, e a barba rala é pós-moderna.

Há muito tempo fiz uma crônica sobre a barba (quando era hirsuta). Eu mesmo tive uma dessas barbas. Por duas vezes. Então, dizia: o homem só se conhece quando deixa a barba crescer. Não me lembro mais do que escrevi, não sei se invoquei as figuras iconográficas de Cristo e de Tiradentes, ou se falei dos barbudos messiânicos da Sierra Maestra. Mas devo ter falado da barba dos hippies que vi florescendo na Califórnia.

Como é que você pode ser profeta (em qualquer terra) sem barba? Vejam o Marx.

Mas meu assunto agora é a barba rala.

Ligo a televisão, e lá estão os atores de barba rala. Vejo a publicidade, e dá-lhe, barba rala. Abro qualquer revista, e lá estão eles. Até nas ruas onde ando abundam barbas ralas.

O que tenho contra a barba rala?

Primeiro, parece que a pessoa acordou, não teve tempo de se arrumar. E isso piora com os penteados masculinos que dão a ideia de improviso ou de que a pessoa saiu do hospício. Houve um tempo em que se fazia anúncio de Glostora: “Com Glostora, o seu cabelo melhora!”.

Não melhorava, ficava pastoso e brilhava.

Estou tentando entender.

Me acompanhem.

Esqueçam o tempo da pedra lascada, quando todo mundo era hirsuto (possivelmente até as mulheres). Pois bem. Depois disso a barba foi sinal também de nobreza, sabedoria. E barba, convenhamos, tem história. Se procurarmos, vamos achar na petite histoire francesa um volume sobre o tema.

Mas e a barba rala?

Essa não tem história. Surgiu como a arte contemporânea, da exaustão de ideias e formas, da busca da novidade pela novidade. É o tipo do “quero, mas não posso”, fica a meio caminho.

 Não se deve fazer nada pela metade, seja amor ou uma casa. Jacques Prévert tem aquele poema em que o único gato da aldeia come a metade do único pássaro da comunidade. O resultado foi esquisito: o pobre pássaro ficou vivendo pela metade. Por isso, o poeta conclui: “Não devemos fazer nada pela metade”. Ou, como diz a Bíblia, “antes fosses frio ou quente, como sois morno, vos vomitarei da minha boca!”.

Algumas invenções fazem sentido, outras invenções são apenas a vontade (inócua) de inventar. É o caso da barba rala. O que pensam as mulheres que têm que raspar sua cútis naquela áspera superfície? Será que se acostumaram? Se convenceram de que os machos ficaram mais viris?

Desconfio que isso começou com aquele filme Nove semanas e meia de amor (1986), estrelado por Mickey Rourke. Isso foi há quase 30 anos. E, como moda, veio dos EUA. Mickey Rourke tinha barba rala. Era um personagem esquisito, tinha uma coleção de ternos pretos. Era maníaco. Hoje, diríamos que ele tinha TOC, o transtorno obsessivo-compulsivo – nome pós-moderno para quem tem manias.

Houve um tempo em que os senhores penhoravam sua palavra com um fio de barba.

Nem para isso a barba rala serve.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Um novo amor‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Um novo amor 

 
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 02/02/2014


 Arthur Rimbaud escreveu um poema chamado “A uma razão”:

Um toque do teu dedo no tambor desencadeia todos os sons e dá início a uma nova harmonia.

Um passo teu recruta todos os homens e os põe em marcha.

Tua cabeça avança: o novo amor! Tua cabeça recua, - o novo amor!

“Muda nossos destinos, passa o crivo as calamidades, a começar pelo tempo”, cantam estas crianças, diante de ti. “Semeia não importa onde a substância de nossas fortunas e desejos”, pedem-te.

Chegada de sempre que irás por toda parte.

Este lindo poema surgiu na minha memória quando li Trem noturno para Lisboa, de Pascal Mercier, agora nos cinemas sob a direção de Billie August. O romance narra a possibilidade de mudar o curso de nossa vida a partir de algumas palavras bem-ditas e benditas. Assim como diz o poema.

Com um toque do dedo, um passo, uma virada de cabeça, encontramos algo novo no qual apostar e podemos, diante de um leque de possibilidades, escutar o desejo. É que frequentemente não damos atenção àqueles pensamentos que riscam o pensamento, passam pela cabeça como estrela cadente e caso não os agarremos caem no esquecimento.

Já ouvi em algum lugar que a vida é um livro em branco a ser escrito. Para pensar assim, é preciso coragem. A ideia de um destino traçado de antemão a ser percorrido, cumprido, traz desalento. Nada que façamos poderia mudar os acontecimentos? Detestaria acreditar nessa hipótese.

Para viver é preciso mesmo coragem para escrever as páginas desse livro como mandar o desejo, não todos, mas aquele que insiste incomodamente. Ele pode parecer inacreditável, inalcançável, além das nossas condições, e pode também nos oferecer uma vida muito mais interessante. Quantas vezes um pequeno ato pode mudar completamente o rumo da história? Quantas vezes uma decisão leva o sujeito ao sucesso ou ao fracasso?

Nem somos totalmente livres para realizar tudo o que idealizamos ou temos vontade, entretanto, há um desejo em cada um de nós que, escutado, pode determinar novo curso, nos fazer entrar em contato com algo muito íntimo e particular que é nosso centro gravitacional.

Um centro de coesão e concordância com o que queremos viver ou não. Nos ensina a decidir ao virar a cabeça qual será o novo amor. Seja o que ou quem estaria ao alcance de nossa mão, muitas vezes débil para tocá-lo. A força motriz para realização desse amor seria o desejo.

A condição para alcançar o novo precisa ser descolar do velho. Precisa ser perder as colas que nos mantém ligados a pessoas, histórias e ao passado. Perder a cola, não o afeto. Nossas colas. Somos colados a muitas coisas e nem nos damos conta disso. Somos colados na demanda de amor, na presença de outras pessoas, dependemos delas para não cairmos na solidão.

E nem mesmo estando sempre em presença de alguém estamos menos sós. E sós não estaremos apenas e no caso da nossa própria companhia nos agradar. Caso possamos nos acolher a nós mesmos e a quem somos, inclusos no pacote nossos sintomas.

E sabendo que é somente a partir das faltas e do espaço vazio que cabe encontrar o novo amor do qual fala Rimbaud neste poema, quando diz: muda nossos destinos, semeia a substância de nossas fortunas e desejos. Amém.

>>  reginacosta@uai.com.br

CELEBRAÇÃO » Violas cruzadas(Pedro Mestre e Chico Lobo)‏

CELEBRAÇÃO » Violas cruzadas 

 
Violeiro português Pedro Mestre se une ao mineiro Chico Lobo, em encontro que mescla as violas campaniça e caipira e desperta para a história do Brasil e de Portugal

http://vimeo.com/71991839


Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 02/02/2014


Pedro Mestre e Chico Lobo lançam o DVD De Minas ao Alentejo, que em Portugal terá nome invertido (Cineviola Filmes/Divulgação    )
Pedro Mestre e Chico Lobo lançam o DVD De Minas ao Alentejo, que em Portugal terá nome invertido

Quando se conheceram, em 2006, o mineiro Chico Lobo e o português Pedro Mestre promoveram encontro então inédito de suas violas tradicionais, a caipira e a campaniça, respectivamente. De lá para cá, os dois fizeram disco, shows, oficinas e palestras sobre o tema. O interesse no instrumento luso, que andava esquecido, aumentou significativamente e novas possibilidades foram abertas para o brasileiro, que despertou curiosidade no país europeu. Celebrando isso, lançam o DVD De Minas ao Alentejo.

Além de 13 faixas gravadas ao vivo no Rio de Janeiro (músicas de Chico e de domínio público português), o DVD conta com documentário de 52 minutos. Rodado em Minas Gerais e no Alentejo, o filme compara as duas culturas violeiras a partir dos pontos de vista dos dois artistas, com a participação de representantes locais de cada tradição, professores, luthiers e especialistas. Um registro importante para a compreensão da origem da viola caipira.

“Pedro era um jovem de 22 anos quando o conheci em Portugal, mas que já trazia bagagem imensa no gosto das tradições portuguesas. Nosso ponto de convergência foi a paixão dele pela campaniça, uma viola do campo, quase extinta e que ele aprendeu a tocar e a construir com os últimos mestres, e a minha paixão pela caipira e o interesse de reconhecer nossa história. Conversamos por mais de três horas naquele dia”, lembra Lobo, que tinha show marcado para o dia seguinte em Serpa, no Alentejo.

Mestre apareceu por lá para assistir à apresentação com sua viola. “Convidei-o para subir ao palco e improvisamos juntos. Foi uma emoção e um impacto para os presentes no Espaço Nora, nas muralhas de um castelo, que estava lotado”, relembra o mineiro. Três meses depois, o português veio ao Brasil para fazer alguns shows com Lobo. Ficou hospedado 15 dias na casa dele, o que fortaleceu a amizade entre os dois. A partir daí, iniciaram parceria em atividade até hoje, registrada no disco Encontro de violas (2007).

AGENDA Empenhados, os dois preparam-se para o lançamento do DVD em Portugal (1 mil cópias), onde terá o nome invertido, Do Alentejo a Minas, e apoio da Câmara Municipal de Castro Verde (onde nasceu Mestre). Os shows por lá ainda não têm data definida, mas serão realizados em março ou abril. Em 11 de junho, será a vez de o português retornar a Belo Horizonte para show de lançamento do DVD, no Crea Cultural. Aliás, a dupla já tem músicas novas para gravar outro disco.

 “Temos também o desejo de trazer ao Brasil o Encontro de Violas de Arame, extensão de nosso encontro. Já aconteceu por quatro vezes em Portugal, juntando outras violas portuguesas, como a braguesa, a beiroa, a da terra, que é dos Açores, e a madeirense, da Ilha da Madeira, às nossas violas caipira e campaniça”, conta Lobo. No momento, ele prepara show de lançamento de seu disco mais recente, 3 Brasis, com o violoncelista Márcio Malard e o clarinetista Paulo Sérgio Santos. Mestre também está em estúdio.


Três perguntas para...

Chico Lobo
violeiro e compositor

É possível falar em algum tipo de impacto da viola caipira na cena de viola campaniça em Portugal? E no caso oposto?
Sim, com certeza. Pedro Mestre define bem no DVD: ‘Se a viola caipira ganhou com esse encontro, a viola campaniça ganhou muito mais’. A campaniça ganhou em popularidade, a imprensa despertou para esse importante instrumento na cultura do Alentejo; os jovens passaram a se interessar em aprender a tocá-la. Pedro, inclusive, abriu uma produtora para se profissionalizar. Para a caipira, um mercado de trabalho se abre em Portugal, onde começa a surgir interesse em conhecer esse instrumento que se originou das violas de lá. As vindas de Pedro ao Brasil incentivaram violeiros a se aprofundar no reconhecimento da origem histórica da viola. A presença dele em alguns projetos sociais que desenvolvo ajudou a incentivar senso crítico e desejo de aprender viola caipira em jovens.

Os músicos portugueses costumam conhecer a viola caipira? Qual é reação deles ao vê-la e ouvi-la?
Muitos portugueses têm viola caipira e procuram aprender a tocá-la. Desde meu primeiro concerto lá, a emoção e a admiração pelo som dela e pela forma de tocar foi uma coisa maravilhosa. Nossa música é muito admirada lá, e eles reconhecerem a viola caipira com toda a sua riqueza despertou muito interesse. Depois de várias idas (incluindo as ilhas da Madeira e dos Açores) com concertos e a presença da viola caipira em jornais e na TV portuguesa, hoje ela é instrumento admirado. Da mesma forma, alguns violeiros aqui no Brasil quiseram aprender a tocar a campaniça. Aliás, um luthier do interior de São Paulo, Luciano Queiroz, construiu duas campaniças. Uma está comigo, outra com Pedro.

Como anda a popularidade da viola campaniça em Portugal hoje, já que ela estava meio esquecida?
Quando assistimos ao documentário pela primeira vez, minha esposa e produtora, Ângela Lopes, encheu os olhos d’água e disse que, quando fomos a primeira vez a Portugal, eram dois os últimos mestres, além de Pedro tocando. Passado esse tempo, são muitos jovens estudando a viola e, inclusive, aprendendo a construí-la. Isso enche a gente de alegria, emoção e esperança, traz a certeza de que o caminho escolhido foi o certo. Hoje, a campaniça é uma realidade, ganhou em popularidade e está mais viva do que nunca. Isso não é só graças ao nosso encontro, mas também às ações de Castro Verde, município preocupado em preservar e divulgar a viola campaniça.

Gente que faz - Ana Clara Brant

Gente que faz

Pontos de cultura, iniciativa criada durante a gestão de Gilberto Gil no MinC, já são mais de 170 em Minas. Trabalho mostra bons resultados, mas burocracia ainda é problema


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 02/02/2014


A estudante Fernanda Carvalho começou a frequentar o ponto de cultura como participante de oficinas e hoje é atriz e monitora (Fotos: Ramon Lisboa/EM/D. A Press  )
A estudante Fernanda Carvalho começou a frequentar o ponto de cultura como participante de oficinas e hoje é atriz e monitora


Na entrada do projeto Casa do Beco, no Morro do Papagaio/Aglomerado Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, está afixada uma placa que é uma espécie de prêmio: “Ponto de cultura – Um espaço cultural a serviço da comunidade”. A associação promove desde 2003 o desenvolvimento humano e a transformação social, utilizando como ferramentas atividades artísticas, especialmente o teatro. Há três anos, foi uma das selecionadas para fazer parte desse projeto do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura (MinC).

“A partir do momento que você vira ponto de cultura, é uma prova de que tem um trabalho diferenciado. Não deixa de ser um título, uma chancela. Querendo ou não, abre portas, porque você passa a ter mais credibilidade. Antes de ponto de cultura, a Casa do Beco era um grupo de teatro. Depois, os benefícios que ele trouxe nos permitiram ser um espaço de verdade para que a comunidade usufruísse”, salienta o criador e coordenador da instituição, Nil César.

O ponto de cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva, que surgiu em 2004, na gestão do então ministro Gilberto Gil. Na época, ele apelidou a iniciativa de “do-in antropológico, que massageia pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo cultural do país”. O projeto é referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas culturais. Como um parceiro na relação entre Estado e sociedade, o ponto agrega agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades.

Não modelo único, seja de instalações físicas, programação ou atividades. Um aspecto comum a todos os espaços é a ampliação do conceito de cultura, abrangendo várias áreas, e a gestão compartilhada entre poder público e a sociedade civil. O ponto de cultura agrega todas as formas de expressão, como música, poesia, literatura, artes plásticas, visuais e dança. São cerca de 3,6 mil em todo o país, desde aldeias indígenas e quilombos até sedes de grupos de experimentação em linguagens artísticas contemporâneas.

Nas gestões de Gilberto Gil e de seu sucessor Juca Ferreira, os pontos funcionaram a todo o vapor. A iniciativa deu uma esfriada na época em que Ana de Hollanda e Martha Suplicy assumiram a pasta, de acordo com participantes dos pontos de cultura. Com isso, houve algumas modificações no projeto, entre elas a descentralização da gestão, que passou a ser compartilhada entre o governo federal, estados e municípios.

Todos os pontos são escolhidos a partir de editais e o último deles foi publicado em 2009. Na época, só em Minas Gerais, foram selecionados 100. Há a expectativa de que nova convocação pública seja feita em abril, como lembra Cesária Macedo, representante do MinC em Minas. “De forma alguma esse programa está parado. Ele ficou dois anos sendo avaliado, redesenhado, e há a possibilidade de ele ser até ampliado. O novo edital vai abrir oportunidades para quem quiser renovar ou mesmo se tornar um novo ponto de cultura”, assegura.

Palco da vida


Nil César, coordenador da Casa do Beco
Nil César, coordenador da Casa do Beco


A Casa do Beco, de Nil César, colhe os frutos de ter se tornado um ponto de cultura. Com os recursos, ele conseguiu comprar equipamento de som, luz, mobiliário e, principalmente, ampliar a programação das oficinas e investir em projetos internos e na produção de espetáculos. Sem falar na criação de uma rede de comunicação entre pontos do Brasil inteiro. “Essa troca de informações e experiências é fantástica. Você está com um problema ou quer tirar uma dúvida, manda para o nosso mailing e na mesma hora alguém te retorna. Facilita muito quando fazemos turnês com o grupo, já que você chega a uma cidade e um ponto de cultura de lá ajuda com equipamento, estrutura. Isso até otimiza recursos. Contato é tudo”, defende Nil.

Uma das beneficiárias da iniciativa é a estudante e atriz Fernanda Carvalho, de 19 anos. Moradora do Conjunto Santa Maria, próximo ao Hospital Luxemburgo, na Região Centro-Sul, ela se tornou uma multiplicadora do processo iniciado por Nil César. Fernanda sempre se interessou por teatro e, quando se deparou com uma das oficinas oferecidas pelo projeto em sua escola, descobriu ali sua verdadeira vocação.

Ela se destacou tanto que passou a participar de outras oficinas da Casa do Beco, encenou peças e hoje o papel se inverteu: foi convidada para ser uma das monitoras da iniciativa. “Tento conciliar minha vida de estudante de ciências contábeis com as aulas e o teatro. Mas a arte é a grande paixão, apesar de eu saber da instabilidade do setor. Fiquei muito surpresa quando fui inserida no projeto e isso é o bacana. Eles investem bastante em quem tem potencial”, afirma.

A atriz revela que o ingresso na turma dos 100 atuais pontos de cultura de Minas Gerais fez com que a Casa do Beco se consolidasse de verdade. É visível, garante Fernanda, a evolução no número de oficinas e espetáculos. “Quando iniciei, era mais difícil. Depois que virou ponto, as coisas começaram a mudar. Tudo o que vivi e vivo aqui foi fundamental para me direcionar na conquista do meu grande sonho. Fiz cursos, ganhei bolsa da Casa do Beco e não poderia estar mais feliz”, comemora.

PONTO E PONTO

3.663
pontos de cultura no Brasil

178
pontos conveniados em Minas

96
municípios mineiros envolvidos

22
pontos em Belo Horizonte

2009
ano de publicação do último edital


Informações: www2.cultura.gov.br/culturaviva/ponto-de-cultura/
Fonte: Ministério da Cultura



Cidadania é uma arte 

Projetos que se integraram aos pontos de cultura vão da estética experimental ao apoio a pessoas com limitações. Participantes relatam experiências que mudaram suas vidas

Ana Clara Brant

O cineasta Helder Quiroga e o músico Vítor Santana, da ONG Contato, durante oficina de cerâmica. Entidade foi pioneira em Belo Horizonte (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press  )
O cineasta Helder Quiroga e o músico Vítor Santana, da ONG Contato, durante oficina de cerâmica. Entidade foi pioneira em Belo Horizonte

A geração inaugural dos pontos de cultura conseguiu algo inovador, que foi receber diretamente, sem intermediários, recursos do governo federal. A ONG Contato, que funciona no Bairro da Serra, em BH, foi uma das primeiras a serem contempladas. Os coordenadores da entidade, o músico Vítor Santana e o cineasta e produtor Helder Quiroga, enumeram as vantagens deste ingresso, como “entrar no mailing do Ministério da Cultura” e, a partir daí, passar a receber informações relevantes, como editais, encontros, reuniões. Por meio do dinheiro repassado, é possível também concretizar projetos e melhorar a infraestrutura da organização.

“A gente se aproximou de outras entidades, do próprio ministério, e conseguimos trazer gente de fora e do Brasil inteiro para Belo Horizonte. Promovemos uma série de oficinas de audiovisual, música e cerâmica. A gente chegou a ganhar o Prêmio Cultura Viva como um dos pontos de cultura de maior destaque. E mesmo que institucionalmente não sejamos mais um ponto, ficamos como referência nesse sentido. Ainda participamos de encontros, coordenamos eventos e, apesar de não receber mais recursos, nos consideramos um eterno ponto de cultura. Esse título está muito intricado na nossa identidade”, comenta Vítor.

Na opinião de Helder, o grande mérito do Cultura Viva, e um dos seus eixos principais, os pontos de cultura, foi ter reconhecido iniciativas que já existiam no setor cultural. Ele salienta que o modelo foi tão vitorioso que acabou sendo adotado por outros países. “Construir tijolos é importante, no entanto, mais importante ainda é apoiar o que já está construído, pronto, e incentivar o trabalho de quem já desenvolvia uma produção artística. Além  de ter criado um rede no Brasil inteiro, articulando movimentos sociais. Ao longo dos anos, o ponto de cultura se tornou uma das maiores chancelas dessa política cultural do governo e reinventou a maneira de se fazer cultura no Brasil. Tanto é que o modelo foi exportado para Argentina, Peru e outros países”, diz.


Para ampliar horizontes


Na Associação Crepúsculo são oferecidas atividades de música, teatro e dança, além de acompanhamento clínico e pedagógico (Cláudio Márcio/Divulgação  )
Na Associação Crepúsculo são oferecidas atividades de música, teatro e dança, além de acompanhamento clínico e pedagógico

Outra instituição que ganhou bastante ao se transformar em ponto de cultura foi a Associação Crepúsculo, cujo projeto Diversidade em Ponto proporcionou a continuidade e a ampliação das atividades artísticas e culturais desenvolvidas, como oficinas inclusivas de artes plásticas, contação de histórias, musicalização, dança e teatro. Diretora artística da entidade, a bailarina e terapeuta ocupacional Luciane Kattaoui conta que o projeto foi criado com o intuito de atender a todo tipo de deficiência ou limitação, seja física, cognitiva ou mental. Ela percebeu que os diversos tipos de linguagem poderiam auxiliar seu público. “Às vezes a pessoa chega aqui para fazer um curso de teatro ou dança, mas precisa de fonoaudiologia, alfabetização, acompanhamento mais clínico e pedagógico. E isso tudo é ofertado aqui”, diz.

Desde que se transformaram em ponto de cultura, mais pessoas passaram a ser atendidas nos vários programas, já que os recursos bancam os professores e o material utilizado nas oficinas do período vespertino. “Ser ponto de cultura nos proporcionou oferecer cinco oficinas gratuitas, com 20 vagas cada. Os recursos ajudaram a nos equipar, porque conseguimos adquirir livros, máquinas fotográficas, colchonetes e instrumentos musicais. Para uma instituição como a nossa, é difícil bancar tudo isso. Nesse período de três anos que somos auxiliados pelo programa, a gente vem conseguindo se manter, para depois poder andar com as próprias pernas”, ressalta.

Luciane garante que nunca teve problemas com atraso no repasse da verba e que, frequentemente, fiscais do programa fazem monitoramento e diagnóstico para conferir se tudo está seguindo bem. “Valorizo demais essa ação. Não tenho do que me queixar”, reitera.

Lucas Henrique de Oliveira, de 26 anos, é outra pessoa depois que ingressou nas oficinas do Crepúsculo. Sua evolução e alegria são evidentes, como destaca a mãe, Jacqueline de Oliveira. O rapaz tem dificuldades de cognição e de aprendizado, mas os médicos nunca conseguiram dar um diagnóstico real. Lucas se adaptou tão bem às atividades que hoje participa dos cursos de culinária, artes, dança e descobriu um novo talento, a massoterapia.

“Quando ele entrou na associação, eu não tinha condições de pagar o período todo, e,  como as oficinas da tarde são de graça, ele fica lá das 13h até as 17h e adora. Você não imagina como ele evoluiu e está satisfeito. O Crepúsculo ajudou muito meu filho e o mais interessante é que ele saiu da situação de ajudado para a de ajudante. Ele auxilia os cadeirantes, aprendeu a linguagem dos sinais e se comunica com os surdos e mudos. Hoje, Lucas pode fazer pelo outro o que fizeram com ele e pode até ser que, com o passar do tempo, ele se torne um dos monitores também”, celebra Jacqueline.

Burocracia é a principal queixa


Os pontos de cultura também têm seus entraves. E a grande reclamação das instituições é a burocracia excessiva. A diretora da Superintendência de Interiorização e Ação Cultural da Secretaria de Estado de Cultura de Minas, responsável pela gestão dos pontos de cultura de Minas, Manuella Machado, explica que a primeira leva dos pontos, em 2004, era conveniada diretamente com o Ministério da Cultura. Porém, muitos não conseguiram lidar com toda a documentação e burocracia, principalmente, na hora de prestar contas. “A coisa é muito abrangente, porque os pontos reúnem quilombolas, indígenas, ONGs e gente que não sabe mexer com toda essa documentação, fazer cotação de preços. Muitos acabaram ficando inadimplentes. Não por má-fé, mas por desconhecimento mesmo”, esclarece.

A Lei 8.666 (das licitações) regula todo o processo. E como brinca Nil César, da Casa do Beco, não é à toa que ela leva o número da besta, 666, porque é um verdadeiro inferno. “Ser ponto de cultura também dá dor de cabeça. E a lei vale tanto para uma tribo de índios, que nem nota fiscal consegue para adquirir material, como para uma ONG que tem um CNPJ. O processo burocrático acaba engessando o processo ideológico”, reclama.

Minas acabou se tornando referência e exemplo no assunto, porque aqui, como salienta Manuella Machado, o governo estadual contratou uma empresa especializada para prestar assessoria aos pontos em questões fiscais e burocráticas. “Foram oferecidos cursos, advogados, oficinas de gestão cultural e empreendedorismo, porque muitas entidades não sabiam nem o que comprar. Por isso, nosso resultado foi muito bom e praticamente não tivemos inadimplência”, constata.

Todos os pontos de cultura recebem R$ 180 mil, num período de três anos, sendo esse valor dividido em três parcelas. No caso dos pontos de cultura de Minas, parte da verba é do governo federal e outra do governo do estado. A maioria dos representantes de associações defendem a tese do dinheiro vir em forma de prêmio, e não de convênio, que seria uma maneira de desburocratizar o processo.

A representante do MinC no estado, Cesária Macedo, diz que o governo federal sempre esteve aberto ao diálogo, que sabe da demanda dos pontos e acredita que ela deve ser levada em consideração. “O programa é muito debatido e está sendo discutida uma maneira de facilitar o repasse dos recursos para potencializar suas ações. A intenção é desburocratizar”, assegura.

Eduardo Almeida Reis - Fortunas

Estado de Minas: 02/02/2014 





De farra, e só de farra, fui ver a lista das maiores fortunas do mundo segundo a revista Forbes. Com a 931ª fortuna encontrei o nome de uma senhora que me pediu em casamento quando soube que me separei. Há testemunhas vivas residentes em Brasília, DF, onde a conheci numa festa. Seus cobres são estimados pela revista em US$ 1,6 bilhão.

Escapei de boa. A proposta era residirmos “numa das fazendas do papai”. Até aí, tudo bem: gosto de morar na roça. A bilionária usava óculos: adoro mulher de óculos. A partir daí, presumo que a união fosse trágica, porque gosto mesmo é de escrever para fora. Com a fortuna da moça, numa das fazendas do sogro, não haveria necessidade de cavoucar os cobres com a pena de pato.

O tal sogro, no dia em que teve de cobrir um cheque de outro genro, importância que faturava por minuto – e um mês tem 43.200 minutos, diz aqui a calculadora chinesa de nove reais – discutia negócio de milhões de dólares com o Braguinha e com o meu saudoso amigo Ronaldo Carneiro da Rocha, que me contou a história.

Teve um chilique na hora em que foi interrompido pelo secretário avisando sobre o cheque sem a suficiente provisão de fundos. Criticado pelo Braguinha: “Pô, Fulano, estamos discutindo um negócio de 200 milhões de dólares e você faz um escândalo por dez mil réis. Bota na minha conta”. Resposta do meu ex-quase futuro sogro: “Você tem razão. Eu sou um monstro!”.

Venenos

Mulheres traídas pelos presidentes da França adoram a capital de todos os mineiros. Nos muitos anos em que morei em BH perdi a conta das vezes que a viúva Danielle Mitterrand veio a Minas e os finais de semana que passava em Itabirito, na casa de campo de respeitado médico. François Maurice Adrien Marie Mitterrand (1906-1996) tinha pelo menos duas famílias, que, aliás, foram ao seu enterro.

Outro François, François Gérard George Nicolas Hollande, atual presidente da França, tirou quatro crias numa senhora chamada Ségolène Royal, trocou-a pela bela Valérie Trierweiler e agora tem sido visto dormindo num apê próximo do palácio presidencial com a atriz Julie Gayet. Melhor que isso: um guarda-costas da presidência leva croissants para os pombinhos ao dealbar da aurora parisiense. Croissant é um pãozinho de massa fina e leve em forma de meia-lua. O presidente se trata, o que pode ser visto por sua barriguinha.

Como consequência imediata das estripulias presidenciais, logo teremos Valérie Trierweiler visitando Belo Horizonte. Fisicamente, dá de mil a zero na viúva Mitterrand, mas dizem que tem um gênio de cobra peçonhenta. Daí o conselho que dou ao dono do sítio em Itabirito: é prudente manter por lá boas doses de soros antiofídicos, sobretudo anticrotálicos e antibotrópicos. O soro antielapídico, intravenoso, contra a coral-venenosa, coral-verdadeira, ibiboboca, ibiboca ou ibioca, cujo veneno é muito mais tóxico do que o da jararaca ilhoa, a segunda serpente mais venenosa do Brasil, é mais difícil de encontrar, mas para suportar as picadas da linda Trierweiler bastam os soros contra jararacas e cascavéis. Em último caso, podem levar a vítima para a UTI do Mater Dei, que é supervisionada por médico excelentíssimo fluente em francês.

Redes sociais
A informática fez ao planeta um desserviço definitivo, espécie de sentença de morte da sociedade atual. No princípio havia imbecilidades individuais. Se duas ou três se encontravam, a idiotice ficava limitada à trinca. Com o advento do telefone, a troca de cretinices passou a ser feita de longe, a distância, que me disseram não ter sinal de crase, salvo quando a lonjura é especificada: à distância de 200 quilômetros. Será verdade? Não sei.

Televisão e rádio veiculam imbecilidades, é certo, mas as fontes são individuais – um locutor que se dirige a milhares ou milhões de pessoas. Se há mesas de debates, do jeito que têm sido organizadas, são três ou quatro imbecis de dois gêneros, não raras vezes incluindo terceiros gêneros, mas o grupo se compõe de poucos idiotas.

Pelas redes sociais os beócios se multiplicam por milhares e combinam rolezinhos nos shoppings, vandalismo nas manifestações de rua e muitas outras expedições de supina cretinice: é a imbecilidade amalgamada.

O mundo é uma bola

2 de fevereiro de 1356: primeiro código ou regulamento dos maçons da Inglaterra. Até hoje os maçons têm uma força danada, acho que no mundo inteiro, e me ocorre a pergunta: existirá maçonaria na China?

Em 1542, uma expedição de 50 homens liderada por Francisco Orellana descobre o Rio Amazonas. Em 1709, Alexander Selkirk é resgatado de uma ilha deserta depois de um naufrágio, fato que teria inspirado Daneil Defoe ao escrever o livro Robinson Crusoe, publicado em 1719.

Em 1848, pelo Tratado de Guadalupe Hidalgo, termina a guerra entre os EUA e o México, que “cede” aos americanos a Califórnia, o Arizona, o Texas e o Novo México. Em 1892, abertura do Porto de Santos, o maior do Brasil.
Hoje é o Dia do Agente Fiscal.

Ruminanças
“Desprezar, melhor, ignorar uma porção de coisas mesquinhas ou vulgares que nos cercam, ainda é uma das formas de sabedoria (Goethe, 1749-1832).