quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

FERNANDO BRANT » O poeta e sua dor‏

Estado de Minas: 22/01/2014 

FERNANDO BRANT » O poeta e sua dor
Exilado de seu país, trazia na alma a angústia do sequestro e morte de seu filho e de sua nora



Meu aniversário naquele ano eu passei dentro de um avião, indo de Belo Horizonte para a Cidade do México. Ia para um encontro de poetas, Poetas do Mundo Latino. Tenho uma desconfiança boa de que, no convite que recebi de Eduardo Langagne para participar do evento, houve um empurrãozinho de Affonso Romano de Sant’Anna. O fato é que desci na capital mexicana no dia em que Octavio Paz ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Alguns latino-americanos se insurgiram contra a escolha, atacando as ideias políticas do vencedor. Mas, pensei ali nas alturas, a premiação é literária.

Foram alguns dias de muita poesia e cerveja. Todos diziam seus versos em Guadalajara, onde a Seleção de 70 brilhou, e em Guanajuato, cidade colonial de grande beleza. Conheci muita gente sensível e inteligente e meus dias foram de alegria, sem os percalços da vingança de Montezuma. Fui comedido na comida, o que não aconteceu com o português Eduardo Guerra Carneiro, que, de tempos em tempos, tinha que correr aos banheiros. Este se foi em 2004, como agora nos deixou o poeta que mais me marcou naquela viagem, o argentino Juan Gelman.

Figura tranquila, exilado de seu país, trazia na alma a angústia do sequestro e morte de seu filho e de sua nora. Um ano antes, o corpo de Marcelo foi encontrado. Seu corpo foi misturado a cimento e areia, colocado dentro de um tambor metálico e jogado no Rio San Fernando. O corpo de sua nora, mais uma vítima da Operação Condor, ação conjunta dos governos militares do Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, ele não conseguiu reaver. Quando presa, estava no sétimo mês de gravidez.

Quando o conheci, no México, ele ainda não tinha noção do paradeiro da neta. Ele moveu o mundo para ter notícias dela e conseguiu, depois de muita busca e pressões internacionais, descobri-la, adotada por um militar uruguaio.

Pôde, enfim, o poeta, ter 13 anos de conforto e alívio ao lado dela, Macarena. Juan Gelman escreveu poemas sobre o amor e a dor. “As feridas ainda não estão fechadas. Seu único tratamento é a verdade e a Justiça. Somente assim é possível o esquecimento verdadeiro.” Dizia que não escrevia desde o ódio, que nos causa danos, mas sim desde a perda de um filho.
Tinha todos os motivos para ser um revoltado, uma pessoa de mal com a vida. Não caiu nas armadilhas da poesia panfletária. Era superior e dono de uma poesia superior. O mais admirável em sua poesia, disse Julio Cortázar, “é sua quase impensável ternura ali onde mais se justificaria o paroxismo da rejeição e a denúncia, sua invocação de tantas sombras com uma voz que sossega e acalenta, uma permanente carícia de palavras sobre tumbas ignotas”.
O tempo é de ler Juan Gelman, poeta da dor, do amor e da memória.

Sexo e celibato na Igreja - Frei Betto

Estado de Minas: 22/01/2014 

Sexo e celibato na Igreja
Se não é um dogma, o celibato pode ser removido, facultando aos atuais e futuros sacerdotes optar ou não por ele
Frei Betto


O Vaticano admitiu, pela primeira vez, no Comitê da ONU para os Direitos da Criança, em Genebra, em 16 de janeiro, crimes de abuso sexual, como pedofilia, praticados por membros da Igreja Católica. Tais crimes ocorrem em quase todas as instituições que lidam com menores, e sobretudo no interior do núcleo familiar, onde pais estupram filhas. Porém, sua prática deve ser severamente punida, e não acobertada em uma Igreja que se propõe a educar crianças segundo os valores do Evangelho.

O papa Francisco, em missa na manhã de 16 de janeiro, declarou que os escândalos da Igreja “são tantos” que não podem ser citados individualmente e são uma “vergonha”: “Essas pessoas não têm ligação com Deus. Tinham apenas uma posição na Igreja, uma posição de poder”, disse o pontífice.

Francisco surpreende positivamente por suas afirmações a respeito da sexualidade. Além de não demonizar os gays, ao contrário de tantos prelados que consideravam a homossexualidade uma doença (e nisso coincidiram com governos socialistas), e relativizar o tema do aborto neste mundo em que poucos protestam contra as guerras e, menos ainda, apoiam a erradicação da fabricação e comércio de armamentos (incluídas as armas químicas).

Francisco convidou, para ocupar a importante função de secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, que afirmou não ser o celibato um dogma. Há tempos a Teologia da Libertação e as teologias feministas defendem o fim do celibato obrigatório para sacerdotes católicos, o que não se justifica à luz da Bíblia. Pedro, escolhido primeiro papa, era casado (Marcos 1, 30), e na Igreja primitiva homens casados eram ordenados sacerdotes.

O preconceito à sexualidade nasce na Igreja por influência neoplatônica, que culmina na (falsa) justificativa de que a lei natural associa sexo e reprodução. Daí o fato de perdurar, ainda hoje, na doutrina oficial da Igreja Católica, a exigência de os casais só terem relações sexuais se houver intenção de procriar. Até 1903, gestos de carinho entre casados eram considerados pecados.

Tive um professor de teologia moral que afirmava ser a associação entre sexualidade e reprodução um princípio zoológico, e não teológico. Hoje, sei que ele se equivocou. Mesmo animais ignoram o vínculo entre sexo e reprodução. Pesquisas demonstram que muitos deles fazem sexo por ser prazeroso, e não por quererem se reproduzir.

O afeto costuma falar mais alto que inclinações naturais. O pesquisador Frans de Waal (2010) conta que, em cativeiro, porquinhos órfãos foram adotados por uma tigresa de Bengala. “Em lugar de cuidar daqueles porquinhos, seria mais adequado, do ponto de vista biológico, que a tigresa os usasse como uma refeição rara em proteínas” (p. 67). Porém, animais também possuem predisposição psicológica para cuidar de filhotes vulneráveis.

Outro argumento que se utiliza para justificar o celibato é o contábil. Casado, o sacerdote poderia dilapidar os bens da Igreja se valendo do direito de herança. Ora, se assim fosse, sacerdotes das igrejas Ortodoxa e Anglicana, e pastores protestantes, que se casam, já teriam levado suas comunidades à falência.

O celibato é apenas uma opção de vida, sem a qualidade do matrimônio, que a Igreja enaltece como um dos sete sacramentos – fontes de união com Deus. Se não é um dogma, como afirmou o cardeal Parolin, então pode ser removido, facultando aos atuais e futuros sacerdotes optar ou não por ele. O que abriria aos 5 mil padres casados que atualmente vivem no Brasil a possibilidade de serem reintegrados ao ministério sacerdotal.

Será meio caminho andado para que, no futuro, a Igreja Católica exclua a mulher do estatuto de ser de segunda categoria e permita também a ela o acesso ao sacerdócio, assim como Jesus fez da samaritana e de Maria Madalena as primeiras apóstolas.

TeVê

tv paga 

 
Estado de Minas: 22/01/2014


 (Henrique Pistilli/Divulgação)


Viciados em adrenalina

A semana está farta e variada no canal Off. Hoje são mais duas estreias. Como aperitivo, a emissora abre a segunda temporada de Califorfun, às 21h, com feras do skate, como Tony Alva, Steve Caballero, Christian Hosoi, Tony hawk e o brasileiro Bob Burnquist. Às 21h30 é a vez da série inédita Homem peixe, que acompanha as viagens de Henrique Pistilli (foto), fazendo o que mais gosta, o chamado bodysurf (ou surfe de peito), em praias do Rio de Janeiro, Fernando de Noronha, Indonésia e Havaí.
Trabalhar junto da  natureza é o que há

O episódio de hoje de Alta temporada, às 20h30, no canal GNT, reúne gente que incorporou a vida em natureza à sua profissão: o homem que inaugurou o turismo ecológico em Bonito, a moradora de Alto Paraíso que criou uma rede de economia solidária baseada na Yoga e o mergulhador que recolhe lixo e ajuda a proteger da sujeira o litoral baiano.

Atriz exorciza seus  medos da infância

Mais lembrada como a dançarina Catalina da série My name is Earl e a Sofia de A liga, a atriz norte-americana Nadine Velazquez vai contar com a ajuda da médium Kim Russo para tentar superar traumas da infância em Assombrações dos famosos, às 23h30, no canal Bio. Bem mais cedo, às 16h15, no Nat Geo, “Tesouros da casa mal-assombrada” é o episódio de Demolidores, gravado em uma sombria casa abandonada em Meredith, em New Hampshire.

Louvre restaura tela de Leonardo Da Vinci

No segmento dos documentários, o canal Arte 1 programou para a faixa das 19h o inédito Leonardo Da Vinci – A restauração do século. Coproduzido pelo Museu do Louvre, o documentário mostra o processo para recuperar a obra-prima inacabada de Da Vinci, A Virgem e o Menino com Santa Ana. Considerada a segunda mais importante do artista depois da Mona Lisa, a tela estava ameaçada pelas camadas de verniz aplicadas ao longo dos anos. Os técnicos do museu levaram três anos para concluir o trabalho.

Emissoras valorizam  a produção de curtas

O canal Curta promove toda quarta-feira, às 20h, uma sessão batizada A vida é curta!, e as atrações de hoje são três filmes dirigidos por Betse de Paula: Feliz aniversário, Urbana, Leo 1313 e S.O.S. Brunet. No Canal Brasil, às 18h45, a programação especial Histórias curtas apresenta Trique trique, de Vicente Schereder.

Muitas alternativas  no pacotão de filmes

Já passando para o cinemão, o Telecine Pipoca continua com o especial Cardápio de férias, emendando hoje a animação A origem dos guardiões (12h10), o romance Se ela dança, eu danço 4 (13h55) e o suspense Jack Reacher: o último tiro (15h45). Na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Transeunte, no Canal Brasil; Professor peso-pesado, na HBO; Escola de rock, no Studio Universal; Uma loucura, no Max HD; Terror na Antártida., no Space; Lincoln, no Telecine Premium; O último desafio, no Telecine Pipoca; e Poder absoluto, no TCM. Outras atrações da programação: Forças do destino, às 21h, no Comedy Central; Cidade Baixa, às 21h30, no Arte 1; Avatar, às 22h30, no FX; e Fora de controle, às 22h45, no Universal Channel.

CARAS E BOCAS » Tricotando com Tchaka




Marília Gabriela entrevista hoje o ator Valder Bastos Santos   (Carol Soares/SBT)
Marília Gabriela entrevista hoje o ator Valder Bastos Santos


O programa Gabi quase proibida exibe hoje a entrevista inédita com o ator Valder Bastos Santos, criador da Tchaka Drag Queen, a rainha das festas de São Paulo e madrinha da parada do orgulho gay. Valder é formado em direito, mas desistiu da carreira quando descobriu seu talento para fazer uma personagem que combinava com sua militância no movimento LGBT. No bate-papo, Tchaka fala sobre sua vida pessoal, profissional e seu comprometimento com os direitos homoafetivos. À meia-noite, no SBT/Alterosa.
Confira os convidados de
hoje do ‘Boteco do Ratinho’

Ainda no SBT/Alterosa, o Programa do Ratinho recebe esta noite, às 22h, no “Boteco do Ratinho”, a Turma do Pagode, as duplas sertanejas Rionegro & Solimões e Teodoro & Sampaio e o cantor de axé Tuca, ex-vocalista da banda Jammil e Uma Noites. O programa voltou de férias com força total e novo cenário.

GloboNews festeja 50 anos  de carreira de Tony Ramos

O Arquivo N, que vai ao ar às 23h, na GloboNews (TV paga), comemora hoje os 50 anos de carreira do ator Antônio de Carvalho Barbosa, mais conhecido pelo nome artístico de Tony Ramos. “Trabalhar com o Tony é o melhor coisa do mundo. É um verdadeiro bate-bola”, diz Susana Vieira em uma entrevista ao projeto Memória Globo. Outra conversa que o programa resgata é a que Tony teve com Irene Ravache no programa TV mulher, em 1977. E ainda depoimentos dos autores Manoel Carlos, Silvio de Abreu e Gilberto Braga, fotos do ator quando era criança e cenas de Espelho mágico, sua primeira novela na Globo.

No Viva, a homenageada é  a pioneira Ruth de Souza

Outro grande nome da televisão, do teatro e do cinema, Ruth de Souza é a personalidade da vez da série Damas da TV, às 21h, no canal Viva. A atriz soma mais de 60 anos dedicados à arte. Ela foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e também a estreante entre as protagonistas negras de telenovela, em A cabana do Pai Tomás (1969). No cinema, são mais de 30 filmes. Está afastada das novelas desde 2006, quando viveu Mãe Maria no remake de Sinhá moça, também na Globo.

TV Brasil vai provar a força de Dona Maria do Batuque

Está prevista para terminar hoje, em São Romão, no Norte de Minas, a gravação de “O som da fé de raiz”, episódio da série Visceral Brasil – As veias abertas da música, produzida pela Plural Filmes e Joner Produções, com direção de Márcia Paraiso e que é exibida pela TV Brasil (canal 65 UHF). O documentário focaliza Dona Maria do Batuque, de 82 anos, responsável pela Festa do Batuque na cidade à beira do Rio São Francisco, tradição trazida para o Brasil pelos escravos, reunindo dança de roda, tocadores de roncador e caixa, música e palmas, traduzindo em som e ritmo a região e as histórias do sertão.

Internet revela primeiras  cenas da série Bates Motel

A segunda temporada de Bates Motel, do Universal Channel (TV paga) estreia em 3 de março, nos Estados Unidos. No site aetv.com/bates-motel é possível ver pequenos trechos dos novos episódios, que ainda não têm data de exibição no Brasil.


Paixão no sertão  de Pernambuco

Muitos artistas da Globo estão confirmados no elenco da 47ª edição da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Aliás, já fizeram os primeiros ensaios e provas de figurino, finalizando segunda-feira, no município do Brejo da Madre de Deus, a 160 km do Recife, a gravação das imagens para o filme promocional de encenação, que será realizada de 12 a 19 de abril. Carol Castro fará o papel de Maria, a mãe de Jesus, depois de ter interpretado Madalena na temporada passada – este papel vai ficar com Fernanda Machado, a vilã Leila de Amor à vida. Carlos Machado, o Ignácio, de Amor à vida, parece perfeito para o papel de Pilatos. Já Oscar Magrini será o rei Herodes. O líder da companhia, Jesus, será interpretado novamente pelo pernambucano
José Barbosa. 


VIVA

Na estreia do SBT na web, Nadja Hadad invadiu a festa de fim de ano patrocinada por Sílvio Santos para os artistas da emissora. Confira no YouTube (www.youtube.com/sbtnaweb) e no site do canal (www.sbt.com.br/sbtnaweb).

VAIA

Na reta final de Amor à vida (Globo), mais uma surpresa: Edith (Bárbara Paz) vai revelar que Jonathan (Thalles Cabral) é mesmo filho de Félix (Mateus Solano). Poxa, quantas reviravoltas! Walcyr Carrasco está exagerando. 

Eduardo Almeida Reis - Comer‏


Estado de Minas: 22/01/2014 
                 

Há pessoas que só pensam em comer, sempre que possível nos melhores restaurantes. Comer é muito gostoso e uma comidinha caprichada tem hora e vez, mas a obsessão de certos gourmets me parece um grande exagero. Lucien Farnoux-Reynaud, citado num dos livros sobre vinhos do excelente Sérgio de Paula Santos, disse: “Dado que o homem é o único animal que bebe sem ter sede, convém que o faça com discernimento”. Frase que não se aplica aos gourmets, porque não acredito que alguém coma sem ter fome. A esquisitice dos foodies, gourmets em inglês, se manifesta quando falam ou escrevem sobre as delícias que comeram, geralmente iguarias que ninguém conhece nem de ouvir falar. Você, caro, preclaro e ousado leitor, já comeu vitela com molejas, aquelas glândulas que ficam juntas à traqueia? Elas mesmas, molejas ou timos, pequenas glândulas situadas no tórax, em frente à traqueia, cuja função é produzir linfócitos T, de importância na resposta imunitária do organismo, e que involuem a partir da puberdade, quando suas funções passam a ser desenvolvidas por outras estruturas. Como pode alguém passar dos 18 anos sem ter comido molejas no “Daniel” de Nova York? No mesmo restaurante você deve comer caranguejos peekytoe com abacate e azeitonas, além de abalone, um molusco, com escarola e croquetinho de arroz. Lá mesmo, em Nova York, você não pode deixar de ir ao “Jean Georges”, comandado pelo chef Jean-Georges Vongerichten, que serve uma sopa fria de pimentões com framboesas, além de granola de pecan e outras castanhas caramelizadas com foie gras, antes do consomê de frango com alcachofras e especiarias, mas tem um detalhe: é frango criado como ave de caça, o que lhe dá um sabor de respeito.

Limites

Pelo visto e ouvido, liberou geral. O palavrão tomou conta dos programas televisivos das senhoras – palavrões cabeludos – e no Jô, às nove da noite, o sexo oral detalhado tornou-se verbal durante entrevista de 15 minutos com um espiroqueta, cronista de um grande jornal, filho de espiroqueta que também é muito citado e dito amigo de sujeitos conhecidos. Sexo oral descrito com todos os efes e erres de chulice durante 15 minutos. Entrevista selecionada para retransmissão às nove da noite. Pelo andar da carruagem, só falta aentrevistar uma jovem noiva que se relacione sexualmente com o seu cão pastor – alemão ou belga, tanto faz. Entrevista durante o relacionamento amoroso no estúdio da tevê. Não invento. Já lhes contei o caso da moça que chegou de táxi engatada ao seu cão pastor, para ser desengatada pelos médicos da Santa Casa. Foi há mais de 20 anos, mas continua acontecendo por aí. Famoso homem de televisão vivia dizendo que o veículo não foi feito para ensinar, mas para divertir. Não consigo entender a restrição ao ensino via tevê, não digo dos cursos a distância, mas o ensinamento na programação normal. Quanto ao divertimento, nada contra, mas cabe a pergunta: sexo oral pormenorizado é divertimento televisivo? Se for, que virá depois dele?

O leitor que me conhece há muito tempo, não só por meio da imprensa escrita, como também dos programas radiofônicos e televisionados, sabe que nunca fui santo. Santo Eduardo, o Confessor (c. 1004-1066) foi o penúltimo rei saxão da Inglaterra (1032-1066) e era filho de Ethelred II e da senhora Ema da Normandia, duas vezes rainha consorte da Inglaterra por meio de seus casamentos com Ethelred II, de 1002 a 1016, e Canuto, o Grande, de 1017 a 1035. Parece que teve dois filhos com Ethelred II e um com Canuto, chamado Canuto II, que foi preterido pelo irmão bastardo Haroldo I. Mesmo não sendo santo como o xará, horrorizam-me os rumos tomados pela televisão brasileira. Não é pudicícia, é lógica, é bom senso. Já vi o que pode acontecer quando um cavalo toma o freio nos dentes. Nossa tevê tomou.

O mundo é uma bola

22 de janeiro: em 1462, descoberta a Ilha de São Vicente em Cabo Verde; em 1502, descoberta a Ilha de São Vicente no Brasil; em 1532, fundação da Vila de São Vicente, a primeira do Brasil. Algo me diz que hoje é o Dia de São Vicente. Em 1506 o papa Júlio II criou da Guarda Suíça do Vaticano. Em 1808, chegada ao Brasil da família real portuguesa, transmigrada com a ocupação de Portugal pelas tropas napoleônicas. A Wikipédia fala em “fuga”, palavra forte; prefiro transmigração. Em 1957, Israel se retira da Península de Sinai. Em 2006, Evo Morales assume a Presidência da Bolívia e Cavaco Silva é eleito presidente da República de Portugal. Aníbal Antônio Cavaco Silva, um dos raros portugueses que não é Manuel. Nasceu em Boliqueime, Loulé, dia 15 de julho de 1939. Boliqueime é uma freguesia do concelho de Loulé e fica lá em baixo no mapa de Portugal, sinal de que deve ser algarvia. Em 1788 nasceu George Gordon Byron, sexto barão Byron, conhecido como Lord Byron, poeta inglês que disse: “O galo é o clarim das madrugadas”, frase absolutamente idiota. Confirmada minha suspeita: hoje é o Dia de São Vicente de Saragoça.

Álcool é mais fatal na meia-idade‏

Álcool é mais fatal na meia-idade 

Levantamento indica que, no Brasil, o vício mata principalmente homens com 50 a 59 anos. No país, não há prevenção e o tratamento é pífio 

Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 22/01/2014


Noites intermináveis de festas regadas a álcool podem dar a impressão de que os jovens são as maiores vítimas da ingestão desenfreada de bebidas alcoólicas. Não no Brasil. Uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), publicada no periódico Addiction, contraria a tese. O índice de mortes relacionadas ao vício é maior entre os adultos de 50 a 59 anos. Para os especialistas, a cultura machista e a ineficiência das políticas públicas fazem com que o país ocupe o 5º lugar no ranking das nações americanas com mais óbitos causados pelo álcool.

 Segundo o levantamento com dados de 16 países das Américas do Norte, Central e do Sul, as autoras brasileiras Vilma Gawryszewski e Maristela Monteiro verificaram que, entre 2007 e 2009, o Brasil registrou mais de 22 mil mortes diretamente relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Os homens correspondem a 88,5% do total. Nas nações analisadas, o número total de vítimas por ano chegou a 79.456.

Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (Abrad), acredita que taxas tão elevadas entre os consumidores do sexo masculino são um fato cultural. “Quando a mulher bebe, vira alvo de críticas, preconceito e desvalorização sexual. A sociedade, principalmente os homens, parte do princípio de que elas serão mais fáceis de serem conquistadas, no sentido sexual. O homem, ao contrário, é estimulado a beber, e leva-se isso na brincadeira”, diz o especialista em dependência química pela Universidade de Harvard (EUA) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Um dos bêbados mais conhecidos do Brasil é o personagem João Canabrava, do humorista Tom Cavalcante. Outra versão tragicômica do problema de saúde pública mundial é Barney Gumble, personagem criado por Matt Groening para a série de animação Os Simpsons. “Todos riem quando um homem está alcoolizado e faz alguma gracinha. Mas, quando uma mulher comete algum descontrole, isso gera uma certa consternação. O pai alcoolizado é um problema. A mãe, uma catástrofe”, afirma Jaber.

Ainda que os homens estejam na dianteira das estatísticas, o número de mulheres consumidoras de bebidas cresce. Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2012, elas representavam 39% do total de pessoas que bebiam álcool pelo menos uma vez na semana, contra 29% em 2006. “A gente pode dizer que elas são grandes alvos das campanhas de bebida, e a indústria do álcool enxerga hoje no público feminino um grande nicho”, observa Ana Cecília Marques, psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead).

fígado dilacerado Outro motivo para os homens morrerem mais é a resistência em fazer  consultas de rotina. A cirrose, por exemplo, evolui em um período máximo de cinco anos, tempo em que muitos nem sequer passam perto do consultório médico. “O álcool literalmente mata as células do fígado, que, apesar do alto poder de regeneração, não consegue suportar as lesões sucessivas provocadas pelo vício”, explica o clínico médico Sérgio Fernandes.

Segundo Jorge Jaber, um dos motivos para tanta demora no diagnóstico das doenças do fígado entre os homens – esses males representam 54% de todas as mortes relacionadas ao álcool no Brasil, de acordo com o estudo – está no fato de o sistema digestivo deles ser maior e mais eficiente, de forma que conseguem consumir maiores quantidades de bebidas alcoólicas durante mais tempo sem sentirem os efeitos adversos na saúde.

“Não há prevenção. Não existem políticas que forneçam tratamento ou assistência. Não há quem diga para a pessoa que ela precisa de ajuda. A prevenção no Brasil é zero, e o tratamento, pífio. O controle da oferta não existe, pois os adolescentes têm acesso a bebidas”, alerta Ana Cecília.

O problema se repete em outros países analisados. As autoras do trabalho afirmam que toda a América sofre com o descaso em maior ou menor intensidade. “Mortes relacionadas ao álcool são evitáveis por meio de intervenções e políticas que minimizem o consumo. Pesquisas em todo o mundo indicaram que as restrições à disponibilidade de bebidas alcoólicas, o aumento de preços e o controle de marketing interferem efetivamente para reduzir o uso nocivo”, concluem, no estudo.

Abalos psiquiátricos A bebida alcoólica pode causar diretamente 60 tipos de doenças e lesões, como cirrose, pancreatite e transtornos psiquiátricos. Vilma Gawryszewski e Maristela Monteiro ressaltam o risco de o dependente ser acometido por “uma série de doenças mentais ou do sistema nervoso”. Entre elas, a depressão, a ansiedade, as psicoses e a neuropatia periférica.

Na Argentina, no Brasil, em Cuba, na Guatemala e na Nicarágua, os distúrbios neuropsiquiátricos foram responsáveis por cerca de metade das mortes relacionadas ao álcool. Segundo Ana Cecília Marques, um dos problemas mais recorrentes são os acidentes vasculares hemorrágicos. Eles aparecem primeiro com a hipertensão arterial, também causadora dos derrames.

Jorge Jaber explica que o consumo frequente leva à morte dos neurônios, o que resulta em alterações cognitivas e de aprendizado. A memória fica alterada e as dificuldades acometem também os membros periféricos. “Os neurônios responsáveis pelos movimentos, aqueles que saem do cérebro e vão para os músculos, também são destruídos. Por isso, a marcha é comprometida. São as chamadas doenças dos nervos periféricos, crônicas, progressivas e fatais”, diz.

Duas perguntas para...
Maurício Fiore, Antropólogo e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)

O consumo das bebidas alcoólicas é maior entre os homens. Que aspectos sociais estão por trás disso?
Trata-se claramente de uma questão histórica. O ato de beber é mais associado aos homens, inclusive porque normalmente se bebia fora de casa, na cena pública. Há diferenças entre períodos e regiões, mas a capacidade de consumir álcool é, no Ocidente, associada à masculinidade. Isso vem se alterando, principalmente depois do século 20. Os dados indicam que a proporção de mulheres que bebem cresceu, inclusive no Brasil, embora ainda estejam longe dos homens. Há que se considerar também que, em média, a capacidade feminina de absorver o álcool é menor que a masculina.

No Brasil, a legislação para bebidas é tímida. Isso reflete uma tendência do país em não considerar o produto uma droga?
 As políticas públicas sobre álcool no Brasil ainda engatinham. O consumo de álcool é naturalizado e ainda raramente visto como o de uma droga psicoativa. Mas há fatores políticos e econômicos que também impedem que a discussão sobre política de álcool avance. Uma das maiores empresas do mundo é a Ambev, que tem um poder de pressão política grande. Enquanto o Congresso Nacional só consegue fazer mais do mesmo com relação às drogas ilícitas – endurecer penas, sendo que o caminho mundial é o contrário –, no caso do álcool, quase nada avança. 

Giro científico

Giro científico 
 
Estado de Minas: 22/01/2014


DENGUE
Inseticida contra mosquito Aedes

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram, recentemente, um inseticida que pode inibir a picada do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. A novidade está na pimetrozina, antes usada somente no controle de pragas agrícolas. A substância age no aparelho bucal de insetos sugadores como pulgões, cigarrinhas e Aedes, impedindo a sucção de sangue. Testes realizados com fêmeas do pernilongo contaminadas pelo tóxico comprovaram que, por cerca de 50 minutos, elas tentaram introduzir seus estiletes na pele sem obter êxito, morrendo após esse período, seja por exaustão ou pelo efeito do produto. Segundo Octávio Nakano, professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq­USP), a grande diferença entre esse e os inseticidas comuns está no princípio de combate. “São características diferentes. Quando contaminado com a pimetrozina, o mosquito fica incapaz de picar (a pessoa) e transmitir a doença. O princípio levará no máximo 30 minutos para fazer efeito e, por mais que o mosquito demore a morrer, a picada será inofensiva”, explica. O inseticida atua também sobre as larvas que vivem na água, o que possibilita o uso do produto em áreas de foco, como caixas-d'água, garrafas vazias, vasos de planta e latas de lixo. “Elas morrem alguns dias depois de expostas”, afirma o professor. Para que o uso da substância seja liberado, é preciso que a técnica passe por testes de campo e fique comprovado que não trará riscos à saúde humana. Feito isso, a descoberta poderá abrir novos caminhos na erradicação de outras moléstias transmitidas por insetos. (Alessandra Alves, Portal em.com)

CHINA
Poluição do país asiástico cria ciclones

A crescente poluição do ar na China e em outros países asiáticos de rápido crescimento intensificou os ciclones de inverno no Noroeste do Pacífico. Segundo os cientistas, os ciclones de inverno em latitudes que incluem o Noroeste da China, Coreia e Japão geraram ventos mais potentes e mais chuvas, como resultado dos níveis crescentes de poluição por particulados. As partículas de poeira afetam a forma como a unidade se desenvolve nas nuvens e como o calor se distribui em sistemas de tempestades, disse Yuan Wang, do prestigioso Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia. “A mudança significativa na intensidade das tempestades no Pacífico deve ter começado em meados dos anos 1990”, disse Wang à Agência France-Presse ontem. “(Foi) quando indústrias, usinas de energia e carros lançaram grandes quantidades de poluentes do ar”, acrescentou. A queima de combustíveis fósseis na China pode ser responsável ainda por até um quarto da poluição de sulfato no Oeste dos Estados Unidos. Cidades como Los Angeles recebem pelo menos um dia extra de fumaça por ano do óxido de nitrogênio e monóxido de carbono das fábricas chinesas dependentes das exportações. 

INOVAÇÃO
Cientistas se inspiraram nos perus e na facilidade de sua pele em mudar de cor para criar um detector que sinaliza a presença de substâncias químicas perigosas no ar, com a ajuda de um celular.  “Estudamos como a luz é criada e alterada e, depois, usamos o que aprendemos para fabricar novos aparelhos”, resumiu Seung-Wuk Lee, que leciona bioengenharia na Universidade da Califórnia. Lee garante que a pele do peru é capaz de passar do vermelho ao azul e do azul ao branco, devido a pacotes de colágeno (proteína fibrosa, a mais conhecida do reino animal) salpicados de vasos sanguíneos muito densos. Os cientistas descobriram que o espaçamento entre as fibras de colágeno se modifica porque os vasos sanguíneos se dilatam ou contraem influenciados pelo humor da ave, quando ela se excita ou fica brava, por exemplo. A partir daí, eles criaram um aplicativo móvel, o "iColour Analyser", que permite identificar facilmente substâncias tóxicas ou explosivas com a ajuda de uma simples foto de faixas de cor do detector, tirada de um celular. O estudo foi divulgado ontem, na revista Nature Communications. 

Hora de regulamentar a terceirização‏ - Fernando Júnior

Hora de regulamentar a terceirização


Fernando Júnior
Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG)


Estado de Minas: 22/01/2014



No Brasil, atualmente, a terceirização é um dos focos centrais de debates quando o assunto é reforma da legislação trabalhista, sendo a prestação de serviço o principal modelo econômico da atualidade. O setor, em sua maioria, concorda que deve haver urgentemente uma regulamentação trabalhista, porém as opiniões são divergentes em relação a qual o melhor modelo a adotar.

Para suprir a demanda de trabalho da Copa do Mundo e, posteriormente, dos Jogos Olímpicos de 2016, os ministros do Turismo e do Trabalho e Emprego encaminharam à Casa Civil uma proposta de medida provisória para alterar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e criar uma nova modalidade de contratação temporária no país.

De acordo com essa nova proposta, as empresas não precisarão assinar a carteira de trabalho de funcionários para contratos de até três meses. Esta modalidade de contrato prevê que os empreendimentos poderão contratar trabalhadores para períodos curtos, sem a obrigação de registro em carteira. As admissões poderão ser feitas pelo período máximo de 14 dias seguidos ou 60 dias avulsos por ano. Porém, é importante ressaltar que a regulamentação deve ser efetuada oferecendo e assegurando aos funcionários todos os direitos trabalhistas.

De forma paliativa, ao criar condições para que os jovens trabalhem em contratos de curta duração na Copa, o governo já demonstra um avanço neste aspecto. Mas ainda é preciso avaliar essa questão profundamente para que, assim, seja elaborada uma lei que permita que o setor de serviços se expanda de forma sustentável e, principalmente, segura.

De acordo com números divulgados em agosto de 2013, a Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) tinha a expectativa de 123 mil empregos temporários para o final do ano passado. Este índice demonstra que a terceirização é um campo abrangente no Brasil e é necessário rapidamente pensar em uma estrutura mais flexível da Consolidação das Leis Trabalhistas, pois o modelo atual estagna as relações capital-trabalho e impede os avanços dos empreendimentos.

Ao longo de 15 anos, já se contabilizaram 40 milhões de reclamações trabalhistas, sendo que todos os anos aproximadamente 2,5 milhões de processos são realizados nas varas do trabalho de todo o país. Esses números alarmantes mostram que algo está errado no sistema e que essa aura paternalista do governo gerou um círclo vicioso de reclamações.

Uma solução definitiva para o trabalho intermitente traria para o nosso país benefícios imensuráveis, como ampliação da renda familiar sem pressionar os salários; formalização de grande contingente de mão de obra; redução das horas extras não pagas; aumento do recolhimento de impostos e contribuição para a previdência e evolução da legislação com garantia dos direitos trabalhistas.

Além dessas vantagens, a regulamentação facilitaria a obtenção do primeiro emprego (nos EUA o setor de bares e restaurantes é responsável por 27% do primeiro emprego e o maior empregador com 9% dos empregos do país) e geraria 2 milhões de serviços somente nos bares e restaurantes.

Em suma, é necessário reconhecer que os serviços terceirizados são uma realidade de todo o país e é fundamental adequar esse fato à questão trabalhista. Assim, as medidas adotadas para a Copa deveriam ser permanentes, pois caso a regulamentação do trabalho terceirizado seja realmente concretizada, o setor de alimentação fora do lar contará com benefícios como redução do volume de disputas judiciais e favorecerá ainda o desenvolvimento da economia. Além disso, a informalidade do setor, que hoje atinge 65% devido às taxas abusivas de carga tributária somadas à folha de pagamento onerosa, diminuirá consideravelmente.