terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Sol faz bem ao coração

O Globo 21/01/2014

Exposição moderada à luz solar reduz a pressão arterial e diminui risco de doenças 



FLÁVIA MILHORANCE
flavia.milhorance@oglobo.com.br

O sol é como vinho, usado com moderação faz
bem à saúde. Num verão com dias seguidos de
altíssimas temperaturas, poucas nuvens e sol
inclemente, pelo menos uma notícia que não
nos faça fugir e buscar o ar-condicionado. Se
por um lado a exposição aos raios ultravioleta
aumenta o risco de câncer de pele, por outro,
traz benefícios que vão além da absorção de vitamina
D. Um novo estudo britânico mostra
que ela pode reduzir as chances de doenças cardiovasculares.
Cientistas defendem o equilíbrio:
sem exageros, o sol pode ser muito bom
para a saúde.

A informação é do “Journal of Investigative
Dermatology”, periódico do mesmo grupo da
revista “Nature”, que publicou em sua edição
desta semana uma pesquisa relacionando a exposição
ao sol à redução da pressão arterial, diminuindo,
assim, o risco de ataque cardíaco e
acidente
vascular cerebral (AVC). Segundo o
trabalho, a exposição aos raios solares eleva a
produção de um composto — o óxido nítrico —
já produzido pelo organismo e que influenciaria
o processo.

ÓXIDO NÍTRICO ESTÁ LIGADO AO VIAGRA

As doenças cardiovasculares, geralmente associadas
ao aumento da pressão sanguínea, respondem
por 30% das mortes anuais do mundo.
Há anos, pesquisadores notam que a pressão
arterial varia de acordo com a estação do ano e a
latitude. Tanto a pressão sistólica quanto a diastólica
são maiores nos meses de inverno e menores
no verão. Ou seja, o risco de doenças cardiovasculares
aumenta na estação mais fria e
em países longe da linha do equador. Muitos
atribuíam esta variação às mudanças de temperatura,
mas o estudo sugere que a exposição ao
sol pode ser a resposta.

Durante o experimento, a pele de 24 pessoas
saudáveis foi exposta a doses de luz ultravioleta
(UV). Em uma das sessões, os raios UVA foram
bloqueados, e os voluntários foram expostos
apenas ao calor de lâmpadas.

Os resultados da pesquisa realizada pelas universidades
de Southampton e Edimburgo, ambas
no Reino Unido, mostraram que a exposição
ao UVA dilata os vasos sanguíneos, diminui
significativamente a pressão arterial e altera os
níveis de óxido nítrico, sem modificar os níveis
de vitamina D. Produzido naturalmente pelo
corpo, o óxido nítrico é responsável pelo relaxamento
da musculatura vascular — o Viagra é
baseado nos processos bioquímicos dele — e
defende o corpo da ameaça de bactérias.

— Sabemos que o óxido nítrico está presente
em abundância na pele, e está envolvido na regulação
da pressão sanguínea. Quando expostas
à luz do sol, pequenas quantidades desta
substância são transferidas da pele para a circulação,
reduzindo o tônus dos vasos sanguíneos;
como a pressão arterial cai, o mesmo ocorre
com o risco de ataque cardíaco e acidente
vascular cerebral — comentou Martin Feelisch,
professor de Medicina Experimental e Biologia
Integrativa da Universidade de Southampton,
defensor dos benefícios do sol para a saúde.

Segundo ele, pode ser um momento oportuno
para reavaliar os riscos e os benefícios da luz solar
para a saúde humana. Evitar o excesso de exposição
é essencial para prevenir o câncer de
pele, mas evitar totalmente esta exposição pode
aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

Segundo Feelisch, vivemos uma epidemia de
deficiência de vitamina D, muito devido à falta
de exposição ao sol. Isso principalmente em países
temperados, mas também em tropicais, como
o Brasil. Ela é importante, por exemplo, para
o sistema imune e a saúde óssea. Até agora, ele
afirma, os complementos à base desta vitamina
não têm surtido efeito. Por outro lado, um a cada
três cânceres diagnosticados no mundo é de
pele, o que representa mais de 2 milhões com
câncer não melanoma e outros 132 mil com o
melanoma, segundo a OMS.

Maria Ester Maciel - Surpresas de viagem‏

Surpresas de viagem
Maria Ester Maciel
Estado de Minas: 21/01/2014


 Em Londres, o frio está ameno. De vez em quando uma chuva leve, que nem chega a molhar direito. No domingo, houve até sol e céu azul. E por conta disso, muita gente foi para as ruas aproveitar o dia. Comigo não foi diferente. Levantei-me cedo e, ao ver que a manhã estava luminosa, resolvi dar um rolê no Regent’s Park, que fica perto do meu hotel.

 No caminho, uma bela igreja capturou-me os olhos. Como gosto de ver o interior das igrejas nas viagens que faço, não hesitei em entrar nessa antes de seguir para o parque. Era uma igreja anglicana. Ao empurrar a porta central, vi que estava começando uma missa. Fui recebida por uma senhora muito simpática, que me deu as boas-vindas e se ofereceu para me conduzir a um assento. Ela também entregou-me um livro de salmos e um folheto com o roteiro da missa. Fiquei meio sem graça, é claro, pois não tinha pensado em ficar para a cerimônia. No entanto, diante da acolhida da tal senhora e das vozes afinadíssimas de um coral que começou a cantar Mozart, mudei de ideia. E quando me dei conta, já estava acomodada num dos bancos laterais, ao lado de um senhor grisalho que estava acompanhado de um cachorrinho magricela envolvido numa capa de lã xadrez.

A igreja estava cheia. Havia pessoas de todas as idades. Os religiosos, paramentados com roupas vermelhas, conduziam a missa com elegância e certa pompa. Há muito tempo não via uma cerimônia assim, tão solene. Atribuí isso ao gosto que os ingleses têm pelos rituais, todos impecavelmente organizados e realizados. A um certo ponto da missa, soube que haveria também uma cerimônia de batizado. Não só de criancinhas, mas também de adolescentes e adultos.

Acompanhei toda a missa, com certo fascínio. A música e os cantos estavam sublimes. A sensação foi estar numa sala de concertos. Por um instante, fechei os olhos e senti uma íntima (e inesperada) alegria. Nem acreditei quando, ao consultar o relógio, vi que já havia se passado mais de uma hora. Mas era como se o tempo não existisse, ou como se passasse sem passar. Saí de lá com a alma lavada e, como já estava quase na hora de ir encontrar meu filho, deixei o parque para depois.

No caminho de volta para o hotel, veio-me à mente uma outra igreja que tinha visto em Lisboa um dia antes de tomar o avião rumo a Londres. Uma igreja linda, em estilo barroco, decorada com pinturas, painéis de azulejos e talha dourada. O altar, esplendoroso, todo coberto de ouro (do Brasil, é claro). Fica no antigo Convento da Madre de Deus, fundado em 1504 pela rainha D. Leonor, e depois transformado no Museu Nacional do Azulejo. É um lugar meio fora da rota turística, no Bairro Xabregas. Para chegar lá, é só pegar um ônibus na Praça dos Restauradores, no Centro. E não é muito longe. Valeu muito a pena fazer o percurso para conhecer o prédio do antigo convento e a extensa coleção de azulejos que lá se encontra. Um museu tipicamente português, que diz muito da história do país. Ainda pretendo voltar lá outras vezes.

 Acho que amanhã, se não amanhecer chovendo, vou fazer o passeio (que não fiz no domingo) ao Regent’s Park, um dos maiores e mais interessantes de Londres. Aliás, se os ingleses são mestres em rituais e cerimônias, eles também sabem cuidar, com desvelo, de seus parques e jardins. 

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 21/01/2014



 (Discovery/Divulgação)
Entrando numa fria

O Discovery HD Theater estreia hoje, às 23h, o documentário Diamantes de gelo. A produção mostra o processo de extração de diamantes de alto teor de pureza em minas cravadas entre as montanhas geladas canadenses, como a Mina de Diavik (foto). A qualidade dessas pedras tornou o Canadá o terceiro maior produtor de diamantes no mundo, tanto pelo seu valor quanto pela quantidade extraída.

Arte 1 resgata um raro documentário de 1934


Outro documentário em destaque hoje é O homem de Aran, às 21h30, no Arte 1. O cineasta Robert J. Flaherty e uma pequena equipe passaram dois anos em um arquipélago no Oeste da Irlanda no começo da década de 1930 para retratar a dura realidade de uma família de pescadores das Ilhas Aran. Em um ambiente castigado pela força da natureza, com mares violentos e fortes tempestades, o documentário mostra a luta pela sobrevivência desse grupo
de irlandeses.
 
Off chega à Indonésia;  Multishow vai embora

No episódio final de Nalu pelo mundo, às 21h30, no Multishow, enquanto o surfista Everaldo Pato aproveita o último dia para pegar o maior swell da temporada, a mulher Fabiana e a filha Isabelle se despedem de Bali. No canal Off, às 22h30, estreia a terceira temporada de Custo zero, com o free surfer Gabriel Pastori e o designer Rafael Uzai cruzando a mesma Indonésia vendendo produções pessoais e usando o escambo como moeda de troca para seguir viagem pela região.

Educação é tema do  Starte, da GloboNews


A nova temporada do Starte estreia hoje, às 23h30, na GloboNews, tratando de um tema muito importante. Assunto mais que urgente na realidade brasileira, a educação está presente em todas as áreas, inclusive na arte e na cultura. O ponto de partida é a peça Conselho de classe, escrita pelo jovem dramaturgo Jô Bilac e encenada pela Cia. dos Atores.

Magistrado defende mudanças no Brasil


Um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, o juiz maranhense Márlon Reis é o entrevistado de hoje de Antônio Abujamra no programa Provocações, às 23h30, na Cultura. No bate-papo, o juiz defende a mudança do sistema eleitoral e a reforma política no Brasil.

Pacotão de filmes vai  do drama à comédia


Na programação de cinema, o maior destaque é o drama Simone, dirigido por Juan Zapata, às 22h, no Canal Brasil. No Telecine Pipoca, o especial Cardápio de férias continua hoje com a animação Valente (13h), a comédia Uma família em apuros (14h45) e a aventura João e Maria: caçadores de bruxa (16h45). Na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Perfume – A história de um assassino, no Cinemax; O aviador, no Max HD; Moneyball – O homem que mudou o jogo, no Max Prime; X-Men origens: Wolverine, no Telecine Action; A viagem, no Telecine Pipoca; A história de nós dois, no TCM; Minority reporter – A nova lei, no Studio Universal; e Jogo de espiões, na MGM. Outras atrações: O segredo dos animais, às 20h45, no Megapix; Eu e Orson Welles, às 20h55, na Warner; O otário, às 21h, no Comedy Central; e Janie Jones, às 21h55, no Glitz.


CARAS & BOCAS » Jovem veterana

Letícia Colin trabalha com as crianças da comunidade em Além do horizonte (Alex Carvalho/Globo)
Letícia Colin trabalha com as crianças da comunidade em Além do horizonte

Em Além do horizonte (Globo), ela é doce, mas sofre um bocado. Mesmo assim, ainda vai conquistar o coração de Marlon (Rodrigo Simas). Mas Vitória não é o único desafio encarado por Letícia Colin atualmente. A atriz de 24 anos está também em Amor veríssimo, série de humor que estreou há cerca de três semanas no canal GNT. Para quem se lembra do rostinho dela, mas não sabe de onde, uma dica: Letícia fez parte do elenco do seriado Sandy e Júnior (1999–2002) e também passou por Malhação, como tantos outros jovens atores da Globo. No cinema, foi a protagonista de Bonitinha, mas ordinária, remake da peça homônima de Nélson Rodrigues, e trabalhou também nos ainda inéditos Não pare na pista e Amor em Sampa. Ah, ela andou sumida? É que Letícia esteve por um bom tempo na Record e só recentemente retornou à Globo.

Aline esfaqueia Ninho e  vai presa. César sofre AVC
A reta final de Amor à vida (Globo) promete muita emoção e adrenalina. Para começar, Aline (Vanessa Giácomo) e Ninho (Juliano Cazarré) serão desmascarados e, na fuga, a megera vai esfaquear o amante. Ela chega a embarcar para a Bélgica com o dinheiro de César (Antonio Fagundes), mas acaba presa. Ah, Ninho não morrerá e ainda vai contar os planos dos dois a Paloma (Paolla Oliveira), filha de César. Para complicar a trama, César vai sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) após visitar Aline na cadeia e ela confessar todas as falcatruas que já aprontou. Mas César também vai sobreviver após ser operado.

Monge mostra que não  é tão bobo como parece


Ainda na Globo, em Joia rara, em meio às maldades de Manfred (Carmo Dalla Vecchia), um caso de amor chama a atenção entre tantos outros: o monge Sonan (Caio Blat) vai abdicar da vida no mosteiro, trocando o Himalaia pelo Rio de Janeiro e Buda por… Matilde (Fabíula Nascimento). Abandonado no altar, o noivo de Matilde, Rubens (Marcos Damigo), vai brigar, berrar, espernear, e depois entra em depressão e começa a beber.

Obesidade é papo sério  para quem acorda cedo


O sobrepeso e a obesidade viraram uma epidemia no Brasil. É o que aponta pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012), do Ministério da Saúde. Quase metade da população está acima do peso. O percentual passou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. De acordo com o levantamento, 52,6% dos homens estão acima do peso. O Opinião Minas discute essa questão hoje, às 8h30, na Rede Minas.

Jovens levam uma vida  normal apesar do HIV


Sério também é o documentário HIV, e daí?, de Claudio Maneja Jr., no Sala de notícias do Canal Futura, hoje, às 14h30. Estudar, trabalhar, amar, lutar por direitos e fazer planos para o futuro são os desafios impostos a dois jovens soropositivos, Ozzy e Micaela. Eles mostram que é possível ter uma vida normal mesmo com o HIV.

Fátima Toledo explica  a preparação de elenco


Umas das mais requisitadas preparadoras de elenco no Brasil, Fátima Toledo lançou ontem o livro Interpretar a vida, viver o cinema, na Livraria Cultura, em São Paulo. Com o método Kundalini, Fátima teve importante participação nos longas Cidade de Deus, Cidade Baixa e Tropa de elite, entre outras produções.

Brasileira comanda  programa nos EUA


A gaúcha Isa Souza, de 38 anos, saiu do Brasil para fazer carreira internacional em direito, mas acabou largando a advocacia e se tornando chef de programa de TV nos Estados Unidos. Em março, ela lança a terceira temporada do Isa, vida y sabor, no canal latino Mega TV. Além disso, a brasileira acaba de lançar seu primeiro livro de receitas em espanhol. Agora, seus olhos se voltam para o Brasil, onde pretende colocar nas livrarias uma publicação em português. E Isa também já começa a elaborar um projeto do seu programa para oferecer aos canais de TV paga do país. Seu estilo não é ensinar a fazer comidas típicas latinas e, sim, valorizar a qualidade de vida. “Fácil, saboroso e saudável”, garante.

VIVA
A BBC anunciou a exibição no Brasil da série Orphan black. A estreia está marcada para 5 de fevereiro, às 23h. A produção é estrelada por Tatiana Maslanay, que foi indicada ao Globo de Ouro por esse trabalho.

VAIA
É duro ter que depender da periguete Valdirene (Tatá Werneck) para segurar a audiência. Pois o Big brother despencou dos 30 pontos depois que a piradinha de Amor à vida foi eliminada do reality show da Globo.

Tereza Cruvinel - Duas palmeiras‏

Duas palmeiras 

Com Mercadante, o Gabinete Civil recupera o papel político e o governo volta a ter um homem forte e um anteparo político que tem feito falta a Dilma 
 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 21/01/2014


A transferência do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para a Casa Civil é a mexida mais relevante feita pela presidente Dilma em seu governo, depois da saída de Antonio Palocci, que ficou apenas cinco meses no cargo. Ao substituí-lo por Gleisi Hoffmann, prestativa, mas quase anódina, Dilma optou pela paisagem da palmeira solitária no gramado palaciano: ela, altaneira, cercada de espécies menores. Com Mercadante no Gabinete Civil, Dilma voltará a ter um homem forte no Planalto, e talvez até um candidato à própria sucessão, caso seja reeleita e ele seja bem-sucedido no cargo.

Tal como Fernando Henrique, que teve na Casa Civil uma figura forte como Clovis Carvalho (seguido de uma discreta mas sólida, como Pedro Parente), Lula não hesitou em ter no posto o então líder mais importante do PT, José Dirceu. E depois a própria Dilma, já conhecida pelo temperamento vulcânico. Ela, já presidente, nos poucos meses que teve Palocci no Planalto, teria se incomodado com a preferência de políticos e empresários pela interlocução com ele, o que gerou especulações de que não teria se empenhado muito para salvá-lo na crise das consultorias mal explicadas. Trocou-o pela leal mas quase apagada Gleisi, afastando qualquer sombra a sua própria figura.

A presença de Mercadante no Gabinete Civil vai alterar bastante a fisionomia do governo. Para começar, a pasta deixará de ser um filtro administrativo-burocrático do governo para recuperar seu histórico papel político, propiciando a Dilma um anteparo que lhe falta nessa área. Resta saber se as atribuições administrativas serão todas transferidas para o ministro Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência, onde também permaneceria, num eventual segundo mandato.

As questões subjetivas terão seu peso. Mercadante é uma personalidade forte e expansiva, rivalizando com a da presidente em voluntarismo. É conhecido por qualidades como a solidez intelectual, a aplicação e a disciplina no trabalho, a combinação entre conhecimento técnico e faro político. E também por traços que desagradam a alguns, como a franqueza e a autossuficiência. Hoje, ele já é a figura mais forte do governo, mas não convive o tempo todo com a presidente. Ele fica no MEC, não no Palácio. Como nos casamentos, tal compartilhamento de poder será testado no cotidiano, que começará em breve.

As barbas de Lula

Mercadante hoje não gravita na esfera lulista, mas tornou-se o quadro petista mais apreciado e respeitado por Dilma. Lula avalizou a troca, mas o fato de ter se reunido ontem com a presidente para discutir, entre outros temas, a reforma ministerial, reitera o que todos sabem: ele continua exercendo forte ascendência sobre ela e seu governo. Pelo menos um novo ministro já teria sido escalado por ele, o sucessor de Padilha na Saúde. Todas as suas sugestões para a campanha têm sido encampadas por ela, inclusive a de agregar o ex-ministro Franklin Martins, que o acompanhou na reunião de ontem e cuidará da campanha na internet e mídias sociais.

Lula reapareceu ontem com a velha e conhecida barba, embora mais rala e branca, por força da idade e da quimioterapia por que passou. Ele começou a deixá-la crescer pouco antes do Natal, e segundo auxiliares, ri quando falam que isso pode reforçar o “volta Lula”. Segue dizendo que a candidata é Dilma, fará tudo por ela, mas não vai privar-se do reencontro com a autoimagem.

Gesto e mensagem
Há uma mensagem para o Supremo e forças conexas no êxito da campanha de arrecadação da família do ex-deputado José Genoino. Em uma semana ou pouco mais, as doações superaram os R$ 667,5 mil que ele foi condenado a pagar. Os que doaram certamente respeitam e cultuam a aura de Genoino, sua vida dedicada às causas que o guiaram da infância pobre à Presidência do PT, passando pela guerrilha, a tortura e os cinco anos de prisão na ditadura. Mas elas externaram também, com as doações, discordância com a forma e o peso das condenações dos réus do mensalão.

Algumas coisas, por sinal, podem acontecer no STF, na presidência interina do ministro Ricardo Lewandowski. Ele só assinaria a ordem de prisão de João Paulo Cunha se mandasse prender também Roberto Jefferson. Não deve fazer uma coisa nem outra, mas pode pedir que seja examinado o pedido de José Dirceu para trabalhar com o advogado Gerardo Grossi e até reexaminar o pedido de Genoino para cumprir a prisão domiciliar em sua casa de São Paulo. Ele só foi para uma casa alugada em Brasília porque Barbosa o obrigou a ficar na capital, onde deixou de morar quando renunciou ao mandato.

Ventos latinos

No Brasil, estamos mais atentos à posse de Michele Bachelet na Presidência do Chile, em 11 de março, por causa da proximidade dos laços afetivos regionais. Mas, este ano, o rodízio do poder na América Latina alcançará sete países, sem contar a eleição brasileira do fim do ano, cujo vencedor só será empossado em 1º de janeiro de 2015. A dança do poder começa agora em fevereiro, na Costa Rica e em El Salvador. Em maio, as trocas serão no Panamá e na Colômbia e, em outubro, na Bolívia e no Uruguai. Em que pese o enfraquecimento do chavismo na Venezuela e a provável reeleição do liberal-conservador Juan Manuel Santos na Colômbia, as pesquisas, hoje, favorecem a esquerda, o bloco reformista que vai de Evo Morales (que busca o terceiro mandato) a Dilma Rousseff (por ora ainda favorita), passando por José Mujica no Uruguai, que pode ser sucedido pelo antecessor Tabaré Vasquez.

Jussara Silveira dedica seu novo disco a fados compostos por Tiago Torres da Silva

Voz da alma 
 
Jussara Silveira dedica seu novo disco a fados compostos por Tiago Torres da Silva. Fã de Amália Rodrigues desde os 10 anos, ela dá sotaque brasileiro ao cancioneiro lusitano 
 
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 21/01/2014


Projeto além-mar reúne a brasileira Jussara Silveira e o compositor e poeta português Tiago Torres da Silva  (João Passos/divulgação)
Projeto além-mar reúne a brasileira Jussara Silveira e o compositor e poeta português Tiago Torres da Silva

Mais do que o encontro de dois artistas e de dois países, reúnem-se “duas águas de um mesmo rio”. A cantora brasileira Jussara Silveira e o compositor e poeta português Tiago Torres da Silva acabam de lançar o disco Água lusa (Dubas), que vem tendo boas críticas e repercussão.

A canção lusitana está presente na vida de Jussara – mineira de Nanuque, no Vale do Mucuri, e radicada em Salvador – desde criança. Sua bela voz se encaixa perfeitamente nas 11 faixas assinadas por Tiago em parcerias com os conterrâneos Pedro Joia, Miguel Ramos e Armando Machado, entre outros.

Mesmo familiarizada com o universo musical da “terrinha” há muitos anos, Jussara conta que deu, sim, um frio na barriga gravar fado, tanto pelo desafio quanto pela responsabilidade. “Costumo citar um verso do Fado da Adiça: ‘não é fadista quem quer/ só é fadista quem calha...’. E calhei! Isso não aconteceria sem o lastro que o Tiago me deu, com tudo o que me ensinou sobre o fado, tudo o que ouvimos e compartilhamos. Mas isso não ocorreria se já não tivesse o fado na alma desde que escutei Amália Rodrigues pela primeira vez, aos 10 anos”, diz a artista.

Jussara faz questão de ressaltar: o disco é cantado por uma brasileira com sotaque brasileiro e que em nenhum momento tenta se passar por fadista. “Não teria graça imitar alguém que nasceu no fado. Já me apresentei para alguns portugueses, e eles observaram que se entende a letra com perfeição. Isso se dá porque faço do meu jeito, com sotaque brasileiro, baiano, mineiro, carioca... Ou seja, com a mistura dos sotaques dos lugares onde vivi. É como se cantasse uma canção de Caymmi, Nelson Cavaquinho, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e/ou de Milton Nascimento”, afirma ela.

Jussara Silveira explica que o importante desse trabalho foi preservar a cantora que ela já é. “Mesmo que a cada dia eu me torne diferente, continuo a mesma”, filosofa. O compositor Tiago Torres da Silva revela que, no começo do projeto, não estava definido exatamente em que ele resultaria. A única certeza é que suas palavras clamavam pela voz de Jussara. Vários brasileiros incluem o fado em seu repertório, lembra Tiago, citando Ângela Maria, Maria Bethânia, Gal Costa e Elba Ramalho. Ele compôs Sereia para Ney Matogrosso. Jussara a incluiu em Água lusa.

“Para mim, esse trânsito é muito natural. Só almas que se dão por inteiro podem cantar fado. Cantores dessa dimensão o fazem não porque são fadistas, mas porque se entregam inteiramente à sua arte. Claro que é diferente, completamente diferente, um brasileiro cantar o fado. E, ao mesmo tempo, é igual”, opina.

Gal A parceria com o Brasil não é novidade para o poeta e compositor. O primeiro disco que Tiago teve foi um compacto de Gal Costa. Autores brasileiros estão entre as referências para ele. “Foi com a música brasileira que aprendi o ofício de ser letrista. Quando comecei a sonhar em ‘contrabandear’ as palavras que escrevo para o Brasil, jamais sonhei que tanta coisa boa fosse acontecer. Ter dirigido Bibi Ferreira foi um sonho. Escutar as minhs palavras nas gargantas de gente tão linda como Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Alcione, Olivia Byington, Seu Jorge, Fafá de Belém e Francis Hime é um assunto do qual não consigo falar sem ficar com os olhos cheios de lágrimas. Tenho muito a agradecer”, celebra.

Para entrar no clima, Água lusa foi totalmente gravado e produzido em Lisboa com músicos locais, como Pedro Joia, Filipe Raposo, Edu Miranda e Ruca Rebordão. “Não há a guitarra portuguesa do fado. O fato de prescindirmos dela é proposital e, mesmo assim, foi relevante a intimidade dos músicos com o fado e o jeito português de fazer música. Por isso foi tão importante gravar o CD em Portugal”, conclui Jussara Silveira.

Três perguntas para...

Jussara Silveira

Como surgiu a ideia de fazer um disco em parceria com Tiago Torres da Silva?
 Desde que nos conhecemos, houve um encanto mútuo, um encanto musical, pelo nosso interesse com a música dos nossos países; ele com a canção popular brasileira e eu com o fado. Tiago conhecia algo do meu trabalho e revelou-me que eu era a mais portuguesa das cantoras brasileiras que ele conhecia. Daí em diante, além da grande amizade, nasceu a ideia de fazermos um disco juntos. Isso faz tempo, e o tempo só nos ajudou a decidir que faríamos um CD com suas canções e parceiros portugueses. É o primeiro álbum de uma cantora brasileira dedicado a um autor português.


Água lusa não é nome de nenhuma das faixas. De onde veio esse título?
Ele tem muito a ver com o disco, com as canções, com o mundo luso, com o fato de falarmos a mesma língua e de nossa existência ser inseparável do mar, como disse o Guilherme Wisnik. ‘Somos a caravela que se lançou ao mar e mudou consigo o eixo do mundo’, escreveu ele. Todo o sentimento luso está contido nesse fato e nessa frase. Isso é a base da relação Brasil/Portugal. O nome foi sugestão do João Passos, um deus luso, ator e fotógrafo que nos acompanhou na produção do disco.

Você é mineira, mas todo mundo te identifica com a Bahia. Como é a sua relação com a terra natal?
Sou de Nanuque, lugar ‘onde eu nasci passa um rio’, o Rio Mucuri. E fui lá ‘confirmar’, quando fiz 20 anos, levada por um colega de escola para de fato conhecer a cidade onde nasci. Meus pais baianos se casaram e foram viver em Nanuque. Com a volta deles para a Cidade da Bahia, fui criada à beira-mar, mas sempre me lembrando do rio da minha aldeia. Minas Gerais fez mais sentido para mim quando cresci e me apaixonei pelo Clube da Esquina, por Drummond e pelo Guimarães Rosa. 

Vício a um clique

Com o uso cada vez mais disseminado da internet, mídias sociais podem interferir ou prejudicar o comportamento sexual das pessoas. Desenvolvimento de doenças e mudança na relação médico-paciente são questionados


Lilian Monteiro
Estado de Minas: 21/01/2014



A vivência da sexualidade na era virtual levanta inúmeras questões sobre até que ponto a internet e as mídias sociais interferem na saúde sexual das pessoas e provoca indagações sobre a ética e valores na era digital, tema desta última reportagem do Estado de Minas da série sobre transtornos da sexualidade. Ao atravessar fronteiras, pôr fim a barreiras culturais e garantir o anonimato, tanta exposição (permitida ou roubada) põe em xeque a possibilidade de aumento das perversões sexuais, desenvolvimento de doenças e até a interferência dessas redes sociais na relação médico-paciente.

Para o professor-adjunto do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amaury Castilino, doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento, o mundo virtual facilita determinadas formas de comunicação que podem concretizar algumas relações afetivas reais. Além disso, algumas pessoas tímidas e outras mais recatadas encontram na internet oportunidades de exposição de desejos que são partilhados por outros. Mas a dúvida é: esse aumento de exposição pessoal pode aumentar as perversões sexuais?. "Pensamentos ou desejos sexuais menos comuns podem ser compartilhados na internet, tornando-os aparentemente usuais para o indivíduo que eventualmente acreditava que estava sozinho naquela fantasia. Esse aspecto pode favorecer a expressão comportamental do desejo por meio de um afrouxamento dos freios morais."

A psiquiatra e psicanalista mineira Marília Brandão Lemos Morais enfatiza que a internet é um meio de comunicação social valioso e um veículo por meio do qual as pessoas podem se apegar afetiva e socialmente, já que as redes sociais promovem o diálogo on-line e off-line. Ao propiciar acesso a conteúdos diversos, vão estar à disposição sites de pornografia, de encontros amorosos e sexuais e de sexo virtual, que, se antes se limitavam ao texto, agora agregam imagens, vídeos, a possibilidade de usar a webcam em tempo real e o contato virtual. "As pessoas compulsivas sexuais usam a internet como veículo da sua compulsão. Muitos têm vida real com seus parceiros, mas não controlam o poder aditivo e viciante de apenas um clique ao seu alcance. No mundo virtual, elas encontram seus grupos e pares com as mesmas preferências, vivências, fantasias. E sabem que serão aceitas, não rejeitadas."

Marília reforça que a internet promove dependência por três fatores. Primeiro, pela acessibilidade, 24 horas, sete dias por semana e, ainda, com a facilidade de aparelhos móveis, podendo estar em qualquer lugar. Segundo, pelo anonimato. A pessoa se sente protegida. E terceiro, por ser um empreendimento de baixo custo, todos têm acesso. "O problema é que quem faz parte do grupo de risco vai estimular o transtorno ao vivenciar na internet a busca de suas fantasias. É uma tendência de ser repetitivo." A médica lembra que há características de personalidade que podem predispor a esse comportamento. São pessoas em fase de fragilidade, solitárias, tímidas e que usam a internet como escape, forma de enfrentamento e desvio dos problemas da vida real. "Num primeiro momento, podem achar interessante. Mas ao se tornar viciante, vai gerar prazer fácil, imediato e estimular um circuito de recompensa e gratificação que, por ser repetitivo, causará problema na vida pessoal. O refúgio na internet é uma forma de alienação afetiva, social e do trabalho que só causa sofrimento", pontua.

A psiquiatra conta que de 5% a 10% dos usuários da população mundial podem se tornar dependentes e não só de sexo, mas de jogos (pôquer e RPG) e da própria navegação. "Há pessoas que acessam por curiosidade. E os compulsivos são capturados pela rede. A internet passa a ser um problema grave. As obsessivas não conseguem desviar o pensamento e, no caso de doentes e criminosos, como os pedófilos, a usam para atrair suas possíveis vítimas."

VIDA MODERNA A médica mineira chama a atenção para o sofrimento dos dependentes. "Eles precisam buscar ajuda porque sozinhos não vão se desvencilhar. Têm de tratar a dependência, ficar um tempo longe, como ocorre no caso da droga ou do álcool. A internet é instrumento da vida moderna, impossível viver sem (usada no trabalho, para acessar banco, fazer compras etc.) e, por isso, é fundamental procurar um tratamento tanto medicamentoso quanto psicoterápico." Marília lembra ainda que pessoas compulsivas e dependentes podem aprender a conviver com o uso da internet de forma saudável, com equilíbrio e contenção.

Segundo ela, a dependência é recente e nem conta na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) ou no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSMs). "Vários autores escrevem livros, há trabalhos, mas é tudo novo ainda. O doente na internet entra em estado alterado de consciência. A sensação de tempo e hora muda, assim como a de espaço, de quebras de fronteiras, de conversar com alguém na China como se estivesse ao seu lado. Vivem num estado de imersão prazeroso e tudo é novidade, surpresa, sem começo ou fim. Ele pensa que tem controle, mas na realidade o perde. É bom destacar que o ser humano é social, precisa estar agregado, que a fantasia é necessária, mas não pode descontrolar."

Palavra de especialista
Carmita Abdo
psiquiatra, psicoterapeuta, terapeuta sexual, doutora e livre-docente pela USP
Temos dificuldades

"Para evitar o transtorno sexual é importante ter saúde física e emocional. Acham que é pouca coisa? Não é. É preciso ter levado sempre uma vida saudável e para alcançá-la, recomendo: não seja sedentário, pratique exercícios, mantenha o peso, dieta balanceada, não beba em excesso, não use drogas, procure se estressar o menos. Tente aproveitar, passear, trabalhar, mas garantir as horas de sono necessárias. Com tudo isso você evita adoecer ou pelo menos protelar a propensão ao adoecimento, como diabetes, hipertensão, colesterol e triglicérides altos e outras doenças que acarretam prejuízos à sexualidade.  O sexo pode ser melhorado com medicação, mas a causa de um problema sexual deve ser reconhecida e combatida. Só o medicamento para agir nos sintomas é paliativo. O brasileiro gosta muito de sexo, é reconhecido no mundo inteiro como bem resolvido. No entanto, a dificuldade de ereção, ejaculação precoce, falta de desejo das mulheres e a dificuldade do orgasmo delas mostram que temos muita dificuldade. Talvez nossa liberdade com o corpo, a forma tranquila com que falamos do assunto seja diferente de outros povos, mas não o nosso desempenho."

Tratamento pode correr risco

O professor-adjunto do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amaury Castilino comenta  que o uso da internet trouxe um outro tema relevante para os debates no meio médico e na academia: a interferência das redes sociais na relação médico-paciente. Ele explica que é cada vez mais fácil o paciente ter acesso a informações pessoais de médicos e familiares. Dessa forma, informações sobre relacionamentos, filiações religiosas ou partidárias, escolhas de estilo de vida, imagens não profissionais, entre outras, são facilmente obtidas na rede, com meras consultas a sites de relacionamento.

"Algumas delas podem prejudicar a relação profissional e atrapalhar o curso do tratamento. Muitas vezes, os pacientes nem sequer comentam a respeito dessas informações, e o impacto negativo delas pode nunca ser discutido. Ao mesmo tempo em que não se pode exigir que o psiquiatra não participe das redes sociais, esses profissionais precisarão observar alguns aspectos das expectativas sociais a respeito da sua profissão. Além disso, sabe-se que a fala do paciente é modulada de acordo com o que ele sabe sobre o médico e, na psiquiatria, é de fundamental importância que o paciente se sinta à vontade para relatar suas vivências, sem receio de julgamentos pessoais", avalia Castilino.

Para o psiquiatra, as redes sociais são um fenômeno da comunicação moderna. Tornaram-se uma nova forma de vida social, com uma amplitude de possibilidades de contato maior e mais rápida do que tudo que tínhamos anteriormente. "Dessa forma, acaba sendo uma ferramenta importante para a divulgação de informações médicas relevantes para a sociedade. Sobretudo nas formas de grupos para discussões profissionais, as redes sociais tendem a ser aliadas do médico e do paciente na promoção da saúde." Por outro lado, ele lembra que junto com a exposição há também muita mentira, invenção e criação. "Na prática psiquiátrica, muitas vezes podemos enxergar discrepâncias entre os relatos de angústia, depressão e sofrimentos diversos no consultório com a aparente satisfação com a vida mostrada na rede social. O que se coloca no consultório, em geral, é mais livre de críticas e de censura; nas redes sociais coloca-se o que tende a ser aprovado e reforçado por ‘curtições’."

CONFIANÇA Com a exposição virtual, uma questão é saber se o médico pode usar as informações das mídias sociais par fazer diagnóstico?. "Embora esse assunto ainda não tenha sido amplamente discutido nos conselhos de medicina, há uma nítida tendência dos psiquiatras a uma restrição da atuação médica ao que se consegue obter de informação a partir da anamnese no consultório. A busca de dados sobre o paciente a partir da internet pode comprometer a relação de confiança do paciente no seu médico e levar à interrupção do tratamento. Considera-se que uma confrontação do paciente com informações obtidas por busca ativa nas redes sociais pode causar constrangimento inadequado para o tipo de relação que se deseja construir." 

O despertar da caçadora de cometas‏

O despertar da caçadora de cometas 

Sonda enviada ao espaço em 2004 com o objetivo de estudar um cometa volta a funcionar depois de passar dois anos e meio desligada para poupar energia. Encontro com a rocha gelada deve ocorrer em novembro 
 
Estado de Minas: 21/01/2014


Ilustração mostra o robô Philae na superfície do asteroide: estudo da rocha espacial trará informações sobre formação do Sistema Solar (CNES-ESA/AFP)
Ilustração mostra o robô Philae na superfície do asteroide: estudo da rocha espacial trará informações sobre formação do Sistema Solar


Brasília – Rosetta partiu da Terra há quase 10 anos, em março de 2004, para uma viagem solitária. Passou por Marte, avistou de perto dois asteroides e, depois de viajar por sete anos e percorrer mais de 800 milhões de quilômetros, aproximando-se de Júpiter, teve direito a um merecido descanso. Dormiu por dois anos e meio, até que despertou ontem, para cumprir a fase final e mais importante de sua missão: conhecer de perto um cometa e, assim, ajudar os cientistas a desvendar a origem do Sistema Solar e da vida no Planeta Azul.

A viajante espacial é uma sonda enviada pela Agência Espacial Europeia (ESA) rumo ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. O encontro está marcado para novembro, quando, depois de se aproximar da rocha gelada, Rosetta liberará um pequeno aparelho de 100 quilos, o Philae, que pousará sobre o 67P. Munido de 10 instrumentos científicos, Philae fornecerá informações preciosas e detalhadas sobre o objeto cósmico. Isso, obviamente, se tudo continuar ocorrendo como programado.

Imprevistos em missões espaciais são comuns. Do lançamento até o destino, pequenas falhas podem colocar tudo a perder. Por isso, o dia foi tenso no Centro Europeu de Operações Espaciais, em Darmstadt, na Alemanha. Depois de ter quase todos os equipamentos desligados em junho de 2011 – uma medida importante para poupar energia e garantir o fim da missão –, a sonda estava programada para despertar ontem, às 8h no horário de Brasília.

Todo o procedimento, incluindo o de desdobrar seus painéis solares de 14 metros de comprimento, precisava ser executado pela própria máquina, que manteve em funcionamento durante a hibernação apenas algumas partes, como o sistema de energia e relógio do computador principal, que fez o papel de despertador. Não havia nada que os cientistas pudessem fazer da Terra, a não ser torcer para que tudo saísse como previsto. Para aumentar a aflição, a sonda precisava de sete horas para colocar todos os componentes novamente em operação. Só então os responsáveis pela missão de 1,3 bilhão de euros saberiam que tudo estava bem.

A boa notícia chegou por volta das 16h20, para alívio geral. O centro de comando recebeu o sinal de Rosetta, e os técnicos vibraram e aplaudiram. Na conta mantida pela ESA no Twitter e alimentada como se a própria sonda estivesse se comunicando com os internautas (@ESA-Rosetta), logo surgiu a mensagem: “Olá, mundo!” “Agora, cabe a nós dirigi-la até o cometa”, confirmou, ao jornal britânico The Guardian, Andrea Accomazzo, gerente de Operações de Veículos Espaciais da ESA.

Vida Tanto esforço é justificado porque os cientistas estão convencidos de que conhecer melhor os cometas pode levar a uma melhor compreensão de como se formou o Universo e o Sistema Solar. Desde que o Sol e os corpos que o orbitam surgiram, há 4,6 bilhões de anos, essas rochas cobertas de gelo pouco mudaram. Estudá-las, portanto, é uma espécie de arqueologia espacial.

“Abrir essas cápsulas do tempo e observar o gás, a poeira e, particularmente, o gelo de que são feitos fornece grandes pistas sobre a origem do nosso Sistema Solar e, potencialmente, até sobre a vida”, explicou à agência France-Presse o astrofísico Mark McCaughrean. “Essa cápsula do tempo está fechada há 4,6 bilhões de anos. Chegou o momento de abrir a arca do tesouro”, acrescentou. Quando menciona o surgimento da vida, McCaughrean se refere a uma hipótese de que a queda de cometas na Terra foi fundamental para a criação das condições que possibilitaram o aparecimento de organismos no planeta.

Há também um motivo para que o 67P tenha sido o cometa escolhido: o objeto passou bilhões de anos no espaço profundo até que uma passagem perto de Júpiter mudou radicalmente sua órbita em 1959. Dito de outra forma, ele quase não sofreu erosão dos raios solares e seu testemunho sobre o Universo promete ser particularmente compreensível.

Manobras Atualmente, a sonda está próxima a Júpiter. Para chegar lá, circundou três vezes a Terra e uma vez Marte, usando o empuxo gravitacional dos planetas como um estilingue para ganhar velocidade. “Tivemos que circundar o Sol cinco vezes em diferentes órbitas para ganhar velocidade”, explicou Paolo Ferri, diretor da missão solar e planetária da ESA.

Agora que acordou, Rosetta realizará, progressivamente, manobras de frenagem e aceleração a fim de seguir o rastro do cometa 67P. Em agosto, a nave será colocada em uma órbita a apenas 25 quilômetros sobre o cometa, usando 11 câmeras, radar, micro-ondas, infravermelho e outros sensores para esquadrinhar sua superfície.

Finalmente, em novembro, a missão deverá atingir seu ponto de maior tensão. O robô-laboratório Philae, do tamanho de uma geladeira, se desprenderá da sonda que o leva e pousará na superfície acidentada do cometa para realizar experimentos. “Queremos saber tudo sobre o cometa, seu campo magnético, sua composição, sua gravidade, sua temperatura, tudo!”, disse Amalia Ercoli-Finzi, encarregada de um dos muitos experimentos que integram o programa.

Hieróglifos

O nome da sonda é uma citação à Pedra de Roseta, um pedaço de basalto vulcânico descoberto por soldados franceses no Egito em 1799. A peça, hoje no British Museum, em Londres, traz inscrições, incluindo hieróglifos e textos em grego. Ao comparar as duas línguas, historiadores puderam começar a desvendar o significado dos símbolos utilizados pelos antigos egípcios. 

Pedrinhas é coisa nossa‏ - Ronaldo de Castro Garcia

Pedrinhas é coisa nossa 
 
Ronaldo de Castro Garcia - Advogado, sócio do escritório Ronaldo Garcia e Advogados Associados, especialista em ciências criminais

Estado de Minas: 21/01/2014

Em qualquer roda de conversas temos o exemplo claro do brasileiro típico: sempre que podemos, mostramos nossa vocação natural de juízes sobre quaisquer assuntos. Temos opinião formada sobre tudo e todos e é com essa qualidade inata que vamos aos poucos construindo nossa sociedade e todas as instituições que a sustentam. Rotineiro ouvir que bandido bom é bandido morto, que polícia tem mais é que bater em vagabundo e que os direitos humanos só servem para ajudar os bandidos. Pois bem, com essa nossa visão extraordinária de mundo estamos construindo algo que ninguém poderá nos roubar, trilhamos um caminho com destino certo ao lugar que sempre almejamos e poderemos finalmente comemorar uma vitória, seremos a verdadeira materialização do absoluto fracasso humano. Todas as recentes notícias corroboram com a ideia que estamos quase conseguindo esse sucesso triste. Formamos um povo que é ferrenho crítico de si mesmo, que ao se comparar a qualquer outro se vê em desvantagem em qualquer aspecto. Temos governantes que trabalham arduamente para si mesmos, enquanto a engenharia legislativa nacional não para de produzir leis absurdas. Temos um judiciário moroso, sobrecarregado, que em vez de realizar bem o seu trabalho, tenta de forma equivocada usurpar a função mal realizada pelo Legislativo, mas tudo isso ainda não é suficiente.

Vivemos em um país de dimensões continentais com uma diversidade de povos dentro de um mesmo povo, até índios temos, apesar de lutarmos arduamente para acabar com eles. Nós nos odiamos enquanto povo e não nos importamos com o que acontece do outro lado do muro de nossas casas, a dor do vizinho não nos dói e seus gritos de socorro não mais nos incomodam. Mantemos nossos televisores ligados nos programas policialescos e clamamos por leis penais mais severas, queremos diminuir a maioridade penal, queremos mais prisões, mesmo que o dinheiro empregado seja em detrimento de menos escolas. As notícias que chegam dos homicídios bárbaros que ocorreram no presídio em Pedrinhas, no Maranhão, não vão mudar a trajetória que estamos a percorrer. Os presídios em todo o país, em sua maior parte, continuarão sendo depósitos desumanos de pessoas, a população carcerária e sua tendência absurda ao crescimento formam uma enorme sujeira e precisamos sumir com esse problema. Não há que se falar em ressocialização, não é para isso que criamos as nossas prisões, elas foram criadas apenas para prender aqueles que julgamos não pertencer ao mundo dos livres, ainda que grande parte não tenha tido oficialmente julgamento algum.

Com a divulgação dos vídeos dos presos decapitados vários articulistas se empenharam em creditar a atrocidade à “Monarquia Maranhense”, como se o desserviço que prestamos não tivesse participação no evento. Não podemos permitir tal engano, já que, diariamente, com nosso jeitinho brasileiro, burlamos as regras do jogo. Com nosso voto elegemos os piores, com nosso clamor e estupidez as leis vão se recrudescendo; com a nossa preguiça a mentira, o retrocesso e a patifaria ganham corpo. Assim, não permitiremos que nos furtem todo o crédito, afinal não foi nada fácil construir essa realidade. Pedrinhas é coisa nossa!

Reforma e alianças na pauta

Dilma se reúne com Lula no Alvorada para discutir as mudanças ministeriais e o cenário das eleições. Perto de ser anunciado titular da Casa Civil, Mercadante participa do encontro


Paulo de Tarso Lyra
e Daniela Garcia
Estado de Minas: 21/01/2014


Brasília – Durante cinco horas de reunião no Palácio da Alvorada, o provável núcleo central da campanha de Dilma Rousseff à reeleição – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Franklin Martins, o chefe de gabinete de Dilma, Giles de Azevedo, e o ministro da Educação e futuro titular da Casa Civil, Aloizio Mercadante – discutiu a conjuntura política, incluindo as mudanças na Esplanada, os cuidados para que a Copa do Mundo não se transforme em um pesadelo para o Planalto e as ações voltadas para a educação em um eventual segundo mandato. A única ausência foi a do marqueteiro João Santana, não convidado estrategicamente para evitar questionamentos da oposição sobre uma reunião de campanha em pleno dia útil de trabalho e no horário de expediente da presidente. 

Além de Giles de Azevedo, o único integrante do primeiro escalão a participar do encontro foi Mercadante, convidado, durante o fim de semana, para assumir a Casa Civil no lugar de Gleisi Hoffmann. Ela pretende concorrer ao governo do Paraná. Mercadante, inclusive, já despachou parte do dia de ontem no Planalto, preparando a transição de pastas, que será consumada tão logo Gleisi retorne das férias, na quinta-feira. 

A mudança abre espaço para que o atual secretário-executivo do Ministério da Educação, Henrique Paim, assuma o cargo de titular. Paim conta com a simpatia da presidente Dilma e do próprio Mercadante, que pretende indicar o sucessor. Ele também quer manter Marco Antonio Raupp no Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta que está sendo cobiçada pelo PSD de Gilberto Kassab.
O porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, não quis confirmar o convite feito pela presidente a Mercadante. “As mudanças serão anunciadas depois do retorno da viagem da presidenta à Suíça e a Cuba (no fim do mês)”, declarou. Mas Dilma deve conversar ainda hoje com o provável futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro. Ele deve assumir a vaga do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. 

Dilma também se reuniu ontem, no fim da tarde, com o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), que deixará a pasta para concorrer ao governo do Rio de Janeiro. Crivella lidera, até o momento, as pesquisas de intenção de voto e já confirmou que dará palanque a Dilma.
No Rio, Dilma e Lula lutam para conter a briga entre o PT e o PMDB. Pré-candidato petista ao governo estadual, o senador Lindbergh Farias confirmou que a legenda desembarcará da administração fluminense em 28 de fevereiro. Ato contínuo, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), confirmou que renunciará ao mandato para concorrer ao Senado. O gesto reforçará a campanha do atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que disputará o Executivo local.

COPA Antes das eleições, entretanto, o grande evento esportivo do ano no país, a Copa do Mundo, tem tirado o sono de Dilma e dos ministros mais próximos, incluindo os que deixarão a pasta na reforma ministerial que se desenha. Na semana passada, o Estado de Minas mostrou que a presidente pretende fazer, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), um mutirão para evitar rebeliões nos presídios situados nas 12 cidades sede dos jogos. Ela não quer que se repitam as cenas de selvageria que ocorreram no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão.
Dilma também está preocupada com o nível de enfrentamento que o torneio provocará na sociedade. No início do ano, circulou nas redes sociais a hashtag #naovaitercopa, em alusão às manifestações que devem ocorrer no país. O PT reagiu e mandou o recado em sua página em uma grande rede social: #vaitercopa. O governo reconhece que, em junho, as manifestações de rua devem voltar, com mais intensidade. Como as obras de infraestrutura e mobilidade urbana estão atrasadas e os aeroportos tendem a não ficar prontos a tempo de receber os turistas, a tendência é que o nível de insatisfação aumente. 

Uma das principais bandeiras da primeira campanha, Dilma deve dar mais atenção ao setor em um eventual segundo mandato. A presidente se apoia nos royalties do pré-sal para dar um salto na educação, prometido por ela quatro anos atrás, mas que ainda não efetivamente concretizado. Dilma tem o programa Ciência Sem Fronteiras para apresentar, mas a grande marca do primeiro mandato deverá ser o Mais Médicos, no campo da Saúde.

DE VOLTA AO COMEÇO

Curado de um câncer na laringe há sete meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está novamente de barba – embora mais rala e branca –, uma de suas marcas registradas desde que iniciou sua carreira política no fim dos anos 1970. Ele havia tirado a barba no fim de 2011, em função da quimioterapia. Para se antecipar à queda de fios causada pelo tratamento, Lula deixou que ex-primeira-dama Marisa Letícia raspasse sua barba e seu cabelo. A foto foi tirada durante a reunião do ex-presidente com a presidente Dilma, ontem à tarde, no Palácio do Planalto.