sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A ficção brasileira em 2014 Por Cadão Volpato

Valor Econômico - 17/01/2014



Ivonaldo Alexandre/Valor / Ivonaldo Alexandre/Valor


Tezza diz que novo romance não tem nada de autobiográfico: é "ficção em estado puro"


Depois de ter feito um discurso contundente na abertura da participação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro, o escritor Luiz Ruffato pôs ponto final em um novo romance, a sair ainda neste semestre pela Companhia das Letras. "O título é 'Flores Artificiais'", diz o autor. "Um livro que o Luiz Ruffato recebeu, chamado 'Viagens à Terra Alheia', de um engenheiro consultor do Banco Mundial, chamado Dorio Finetto. O Luiz Ruffato reescreveu o livro do engenheiro - são algumas histórias passadas em várias partes do mundo." Contado assim, o mote de "Flores Artificiais" parece apontar para um caminho diferente das densas narrativas de Ruffato, principalmente as que compõem a pentalogia "Inferno Provisório", centrada no universo proletário dos imigrantes mineiros de origem italiana.

"Flores Artificiais" se junta a outras boas novidades do universo ficcional brasileiro prometidas para 2014. Ainda pela Companhia das Letras, um escritor muito fino, o renomado crítico de artes plásticas e professor de história da arte Rodrigo Naves, retoma o percurso de narrador depois de um hiato de 15 anos. Em 1998, Naves publicou, pela mesma editora, o surpreendente "O Filantropo", estranho livrinho, muito magro de tamanho, difícil de classificar, mas belo e importante. "O Filantropo" sobrepunha textos confessionais, pequenos perfis de artistas, boxeadores e gente comum para delinear um narrador arguto, sensível e misterioso.

Dessas magras páginas perturbadoras e bem escritas, num estilo que remete a uma tradição rara na literatura brasileira, parece ter nascido "A Calma dos Dias", o novo e curto livro de Naves. Não é uma continuação do anterior, mesmo porque "O Filantropo" não contava propriamente uma única história. Mas algo daquela atmosfera única, condensada e lírica (no sentido mais seco do termo) se manteve. A espera foi grande, mas ainda neste começo de ano as peças da ficção do autor vão se encaixar um pouco mais.

O editor Marcelo Ferroni, da Alfaguara, anuncia as coisas boas que devem sair pela editora em 2014: "Teremos um romance novo de Maria Valéria Rezende, chamado 'Quarenta Dias'. Depois, o segundo romance da Luisa Geisler [e o primeiro dela na Alfaguara], chamado 'Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente'". Aos 22 anos, Luisa, premiada com seus dois livros anteriores, "Contos de Mentira" e o romance "Quiçá", fez parte da antologia "Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros", da revista "Granta". "Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente" é um título tão intrigante quanto deve ser a sua narrativa.

Pela Alfaguara pode sair, ainda em 2014, o livro de contos de Emilio Fraia, que também estava na antologia da "Granta", intitulado "Sebastopol". O próprio Marcelo Ferroni, que ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2011 com "Método Prático da Guerrilha" (Companhia das Letras), aparece no primeiro semestre com seu segundo romance, "Das Paredes, Meu Amor, os Escravos Nos Contemplam", pela mesma editora. Tem um quê de policial, em tom paródico.

Ferroni apresentou o livro assim para a sua agente Lucia Riff: "Humberto Mariconda tinha tudo para ser uma pessoa realizada: estava prestes a lançar seu primeiro livro, 'A Porrada na Boca Risonha e Outros Contos', e conhecera uma garota rica e enigmática, com quem achava que poderia ser rico e feliz. Seu livro, no entanto, não tem o sucesso esperado. E a garota, Julia, é uma figura fugidia que, ao convidá-lo para passar o fim de semana numa fazenda histórica da família, o submeterá a dramáticas experiências: um crime, uma entrevista com mortos, um duelo. Fechado nesse casarão assombrado por más recordações, isolado do mundo por uma tempestade e alheio à passagem do tempo, Mariconda se verá como o investigador de um crime brutal, que parece saído de um romance".

O novo livro do premiadíssimo Cristovão Tezza também sai neste ano pela Record. "Chama-se 'O Professor'", conta Tezza. "Levei praticamente dois anos para escrever. No ano passado, trabalhei nele praticamente todo dia (e viajei pouco)." O escritor havia ganhado todos os prêmios importantes de 2009 por "O Filho Eterno", o livro que mudou a sua vida. Graças a ele, Tezza deixou de ser professor para se transformar em escritor em tempo integral.

"'O Professor' é o meu romance de maturidade, eu acho. O mais, digamos, ambicioso, desde 'O Filho Eterno'. E não tem absolutamente nada de autobiográfico. Ficção em estado puro. E é estranhamente pessimista. Conta a história de um catedrático de filologia românica que, aos 70 anos, se prepara para receber uma homenagem. Numa linguagem que lembra a sintaxe de 'Um Erro Emocional', um narrador duplo vai pontuando fatos de sua vida. O eixo em torno do qual gira o romance é a sua paixão por uma doutoranda francesa, que defendeu uma tese curiosa sobre a cultura brasileira e seus efeitos na nossa linguagem".

Na área dos estreantes, a Cosac Naify aposta no jornalista André Viana. Seu romance de estreia, "O Doente", caiu nas mãos da editora Marta Garcia no ano passado. "Fiz sugestões mínimas", diz ela. "O texto chegou muito pronto." "O Doente" foi escrito ao longo de muitos anos e é resultado de longas conversas gravadas com um personagem real. Sai em março. O ano de 2014 parece começar bem para a literatura brasileira.



TeVê

TV paga



Estado de Minas: 17/01/2014



 (Carnival Films/Divulgação)


Cai o pano

A partir de hoje, o canal +Globosat começa a exibir as duas últimas temporadas de As aventuras do detetive Poirot, série baseada em alguns dos mais de 80 romances policiais escritos por Agatha Christie. Protagonizados por David Suchet (foto), os episódios serão exibidos diariamente à meia-noite, de hoje ao dia 24, incluindo as versões dos clássicos Assassinato no Expresso Oriente, Os trabalhos de Hércules e Cai o pano, o último caso do célebre detetive.

Arte 1 destaca o mestre do suspense, Hitchcock


Por falar em suspense, a noite de hoje no canal Arte 1 é toda de Alfred Hitchcock. Para começar, às 21h30 vai ao ar um documentário biográfico sobre o grande mestre do suspense, dirigido por David Lemon em 2001. Às 22h, será exibida a versão original do clássico O homem que sabia demais, de 1934, com Leslie Banks, Edna Best e Peter Lorre – em 1956, ele seria refilmado, com James Stewart e Doris Day nos
papéis principais.

Pacotão de filmes vai  da comédia ao drama


Também às 22h, a Mostra Internacional de Cinema na Cultura reprisa hoje o longa A grande viagem, do franco-marroquino Ismael Ferroukhi. No mesmo horário, o assinante tem mais seis opções: Natimorto, no Canal Brasil; Muita calma nessa hora, no Telecine Fun; Kill Bill – Volume 2, no Telecine Action; Meu pior pesadelo, no Max; A morte convida para dançar, no Sony; e Os reis de South Beach, no Sony Spin. Outras atrações da programação: Separados pelo casamento, às 20h05, no Universal Channel; Golpe baixo, às 21h, no Comedy Central; Sonhadora, às 21h15, no Viva; Falando grego, às 22h30, no Megapix; Kung Fu Panda 2, às 22h30, na Fox; e O preço do amanhã, também às 22h30, no FX.

Cinema ajuda a criar a pauta do Contraplano


No SescTV, a série Contraplano discute hoje, às 22h, o tema “Em primeira pessoa”, com a participação de Tadeu Chiarelli, professor e curador de artes plásticas, e Hugo Possolo, palhaço, dramaturgo e diretor, ilustrando debate com trechos dos filmes 33, de Kiko Goifman; Um passaporte húngaro, de Sandra Kogut; Rua Santa Fé, de Carmen Castillo; e Diário de uma busca, de Flávia de Castro.

A&E reconstitui crime pela ótica do assassino


O The History Channel dá sequência hoje à maratona Humanidade: a história de todos nós com mais dois episódios, começando às 22h. No canal A&E, às 22h30, estreia a série Palavra de assassino, que relata casos policiais a partir do o ponto de vista do próprio criminoso, de modo que o espectador conheça os motivos que o levaram a cometer o homicídio, além de suas tentativas de enganar os investigadores, a prisão e o julgamento.


CARAS & BOCAS » Próximas cenas

Dani é a nova moradora do orfanato Raio de Luz (Lourival Ribeiro/SBT )
Dani é a nova moradora do orfanato Raio de Luz

o capítulo de hoje da novela Chiquititas, às 20h30, no SBT/Alterosa, Dani (Carolina Chamberlain) é transferida para o Orfanato Raio de Luz depois de Carol (Manuela do Monte) pressionar José Ricardo (Roberto Frota) a cumprir com a palavra dele. O dono do Café Boutique chantageou Carol para que ela terminasse o namoro com Júnior (Guilherme Boury) como condição para reverter o processo que moveu para separar ela e Dani. Enquanto isso, a diretora do orfanato, Cintia (Milena Ferrari) não gosta de saber que o orfanato receberá mais uma criança, o que atrapalhará seu plano de encontrar o tesouro que acredita estar escondido no local.

Magali Biff faz uma vilã em Patrulha salvadora

A atriz Magali Biff, que interpretou a personagem Ernestina na primeira adaptação da novela Chiquititas, em 1997, fará uma participação especial no segundo episódio de Patrulha salvadora, que vai ao ar amanhã, às 20h30, no SBT/Alterosa. Ela interpreta a criminosa Madame Bichô, que sequestra os animais de estimação da cidade de Kauzópolis.

Antônio Fagundes revela  seu processo de criação

O ator Antônio Fagundes é o convidado da semana no programa Viva o sucesso, hoje, às 21h15, no Canal Viva (TV paga). Ele conta como iniciou a carreira, como se prepara para interpretar seus personagens e revela o que o estimula, mesmo após tantos anos, a continuar atuando. Amanhã, vai ao ar a entrevista do cantor Ney Matogrosso.

Samantha Schmütz volta  em breve ao Multishow


Mais uma da TV por assinatura: Samantha Schmütz se prepara para dois novos projetos no Multishow. Seu personagem Juninho Play vira uma animação que estreia em junho, numa produção da Valu Animation Studios em cinco episódios ambientados na Copa do Mundo. O outro projeto será um programa de esquetes de humor e quadros musicais, em que ela vai interpretar canções de Lady Gaga, Beyoncé e Anitta.

TV e internet vão transmitir  show do Raça Negra em BH


Por falar em Multishow, o canal vai transmitir ao vivo, na TV e na web (www.multishow.com.br), o show que o grupo de pagode Raça Negra fará dia 25, no Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, comemorando 30 anos de carreira. O repertório é do CD e DVD Raça Negra e amigos e inclui sucessos como Cheia de manias, É tarde demais, Ah como eu amei e Vida cigana.

Futura orienta estudantes  que farão o Enem em 2014


O Jornal Futura exibe hoje, às 17h, o último episódio da série sobre planejamento escolar. A reportagem traz dicas para os jovens que vão fazer a prova do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, em busca de uma vaga na universidade. O Canal Futura pode ser sintonizado por meio de antenas parabólicas (polarização vertical 20) e em muitas das operadoras de TV por assinatura.

Valdirene já caiu  fora do Big brother


Ela foi a mais lenta em uma prova eliminatória do Big brother Brasil, que valia a permanência no programa. O repórter Vinícius Valverde chegou à casa e explicou que os participantes deveriam colocar oito bolas, numa ordem estabelecida (vermelha, azul, verde e amarela, respectivamente) em tubo com seus respectivos nomes localizados no jardim da casa. O mais lento seria eliminado do programa. Valdirene fez cara de que não entendeu direito as regras e foi a última a levantar o braço, o que significava ter acabado a prova. A ordem das bolas dos participantes não foi conferida. “Faltam duas bolas só”, resmungou a sister. “Você vai no Faustão”, consolaram os colegas. “Você vai posar nua”, disse outra. “Eu não vou sair”, berrou a piradinha. “Foi injusta essa prova, todo mundo viu que eu tive um tempo diferente.” E assim terminou a participação de Valdirene no BBB 14.

VIVA
A minissérie Amores roubados chega ao fim hoje, na Globo, com ótima sintonia entre o elenco e a qualidade de produção, fotografia e edição, resultando em bons índices
de audiência.

VAIA
O rodízio interminável de apresentadores no Domingo da gente, da Record, não vem funcionando nada bem. Muitos artistas parecem não saber o que estão fazendo diante das câmeras. 

Eduardo Almeida Reis - Currente calamo‏

Currente calamo
 
Ninguém admite o conselho de ir à praia antes das 10h ou depois das 16h


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 17/01/2014




De maneira espontânea, sem parar para pensar ou currente calamo, como se diz em latim, confesso ao leitor que estou muito intrigado: acabo de perder três sueltos, somando 680 palavras, que deveriam compor este Tiro e Queda. Um falava do solstício de verão, outro cuidava não me lembro de quê e o terceiro falava do dia 8 de agosto, data do meu nascimento anos antes de Preta Gil, nascida Preta Maria Gadelha Gil Moreira, anos depois de Ronald Biggs, nascido Ronald Arthur Biggs, ela no Rio de Janeiro, ele em Londres, com as ocupações de ladrão e carpinteiro. Vi na Wikipedia. Palavras que me custaram algum trabalho e sumiram aqui do Windows 7 sem deixar vestígio. Quando acontece algo parecido, clico lá em cima numa setinha azul, virada para a esquerda, e o texto reaparece. Desta vez sumiu e me tomou boa meia hora tentando localizar minhas palavrinhas, sem sucesso. É verdade que nada sei de informática e já passei da idade de aprender. Pior que isso: nada sei de celulares, dos mais simples. Só outro dia aprendi como localizar os números das pessoas que me telefonam quando estou no banho. Todas adivinham os 10 minutos em que estou debaixo do chuveiro. Das 680 palavras sumidas “recuperei” até aqui 207. Faço uma pausa e volto daqui a pouco, ou “daqui há pouco” no português que temos lido na mídia impressa, mesmo porque é meio difícil ler na falada ou televisada.

Voltei! Tanto quanto me lembre, o suelto sobre o solstício de verão cuidava do sol nas praias. É aquela coisa de ser o sol indispensável para a vitamina D, que previne ou cura uma porção de doenças, de mesmo passo em que é um risco danado para o câncer de pele. Ninguém admite o conselho de ir à praia antes das 10h ou depois das 16h. Antes das 10h a humanidade está dormindo; depois das 16h ainda está na praia, onde chegou por volta das 11h. Uma dermatologista disse que a “vermelhidão” é um veneno para a pele, o que deve ser meia verdade. Tenho mais de meio século de vermelhidão e ainda outro dia meu rosto não tinha uma ruguinha. Hoje não sei, porque evito me olhar no espelho. A propensão para o câncer de pele deve ser genética, porque todos conhecemos muitos brasileiros branquíssimos que passaram dos 90 tomando sol o dia inteiro sem cânceres de pele. A onda atual é o filtro solar, difícil de passar e suspeito de não filtrar nada. Vivemos num país em que a maioria dos óculos para sol é pirata. A televisão nos mostra os imensos galpões entupidos de óculos pirateados apreendidos pelas autoridades: não protegem e fazem mal à vista. Presumo que muitos filtros solares não protejam e façam mal à pele.

Pronto: cheguei às 462 palavras. É tempo de falar do Biggs, que roubou com mais 16 companheiros, no dia 8 de agosto de 1963, do seu e do meu aniversário, 2,6 milhões de libras de um trem que fazia o trajeto Glasgow-Londres. Em dinheiro de hoje, cerca de R$ 152 milhões, uma ninharia diante do que se rouba neste país grande e bobo. Preso, Biggs fugiu da cadeia inglesa e veio parar no Brasil, onde teve um filho com Raimunda, uma ex-stripper. Raimunda não foi uma rima, foi uma solução, porque o nascimento de Michael impediu que seu pai fosse extraditado para a Inglaterra. O menino ficou famoso como Mike, da Turma do Balão Mágico, e seu pai viveu no Brasil como celebridade. Não causou espanto diante das celebridades que se veem por aí, muitas delas roubando mais que Biggs, sendo votadas, eleitas, legislando, governando. A revista Veja, em matéria não assinada sobre a morte aos 84 anos do ladrão inglês, numa casa de repouso em Londres, conclui o texto: “Como se vê, o século 21 segue parecido com o 20”. Peço licença para dizer que, no terreno da ladroeira, o século 20 foi parecidíssimo com o 19. Em 1841, Charles Mackay, no livro Extraordinary popular delusions and madness of crowds, já dizia “da admiração popular pelos grandes ladrões”. Isso no século 19, admiração popular ainda fortíssima em 2014. Alguns poucos dos grandes ladrões são presos e condenados a penas ridículas. Gostam de se intitular presos políticos. É isso aí.

O mundo é uma bola

17 de janeiro de 1642: descoberta em Cabo Verde a Ilha de Santo Antão, sem que o mundo tivesse mudado por causa disso. A ilha é bonita e uma de suas cidades tem, hoje, cerca de 17 mil habitantes. Há outras oito ilhas habitadas no Arquipélago de Cabo Verde. Em 1786 foi descoberto o Cometa Encke, sem que o leitor e o philosopho tivéssemos conhecimento disso. Oficialmente denominado 2P/Encke, tem seu afélio próximo da órbita de Júpiter. O periélio está dentro da órbita de Mercúrio. Foi o segundo cometa periódico descoberto. Parece que o primeiro foi o Halley, que tentei ver quando passou por aqui faz algum tempo. Hoje é o Dia de Santo Antão.

Difícil ver os comerciais na TV - Agnelo Pacheco

Difícil ver os comerciais na TV
Agnelo Pacheco
Publicitário

Estado de Minas: 17/01/2014


Tem publicitário que gosta de dizer que não vê TV aberta, que só lê revistas sofisticadas e fica ligado apenas nas emissoras de rádio classe A. Estão alheios ao universo das pessoas com quem eles falam: a imensa maioria dos consumidores. Como sempre faço, num dia de semana a cada mês, assisto ao horário chamado de “supernobre” da Rede Globo. Que começa no Jornal Nacional e vai até o início do Jornal da Globo.

Recentemente, passei pela experiência de viver uma noite de TV aberta. Enquanto a produção dos programas melhora, principalmente das novelas, a publicidade brasileira, definitivamente, passa por um momento ruim.

Em pleno século 21, é preciso ver mais de 15 comerciais para encontrar um com linguagem própria, criativo. São comerciais em que os anunciantes jogam dinheiro pela janela, tentando vender suas marcas de celulares, cervejas, bancos, carros, além do tradicionalmente pouco criativo varejo. Nessa relação, para ser justo, há um ou dois, em cada categoria, que vêm com a marca da criatividade. No comercial de um dos bancos, só pelo tom da voz do locutor você já faz a identificação de que aquele sai da paisagem, tem uma unidade e usa suas cores como ninguém.

Na categoria “automóveis”, muitas marcas anunciam da mesma forma. Geralmente uma celebridade apresenta para o telespectador as vantagens de comprar esse ou aquele carro. E, depois de algum tempo, você não sabe se aquele carro era da marca X ou da marca Y.

As empresas de telefonia celular entraram na moda das ofertas. Uma dá tarifa zero para ligações entre aparelhos da mesma marca. A outra, um plano com preço fixo para um determinado número de ligações. E quase todas não explicam por que, por causa da sua tecnologia, eu devo dar preferência a elas. Tudo oferta. Tudo passageiro.

Todo profissional que trabalha com criação sabe que a coisa mais fácil do mundo é achar alguém importante e desenvolver um texto para que ele fale para a câmera e pronto. Isso não é criação!

Naquela terça-feira, vendo aqueles comerciais, minha filha Eduarda, de 11 anos, ao meu lado perguntou: “Papai, tem gente ganhando para fazer isso aí, chato, né?” E eu respondi: “Tem, minha filha, e o pior é que se acham gênios”.

Não tenho nada contra o uso de artistas e personalidades em comerciais. Quando utilizados com criatividade, o resultado é sempre melhor do que a apresentação de simples anunciadores. Em recente campanha para a Fisk, trabalhamos com os atores Bruno Gagliasso e Paloma Bernardi, interpretando um casal ciumento, em pleno aeroporto. Ajudou muito, superando o número de matrículas que a rede esperava.

Para lançar os telefones celulares em São Paulo, chamei o Jô Soares para fazer personagens diferentes em cada comercial. A história da campanha do Jô com a Telesp Celular é um case. De um planejamento para buscar 200 mil usuários, depois de um mês, tínhamos uma fila de mais de 1 milhão de pessoas.

No varejo, eu tenho certeza de que a culpa não é dos publicitários. Todos sabem como nesse segmento o cliente impõe suas regras e quer seguir tudo o que o concorrente faz. No caso de bebidas, carros, telefonia e bancos, pela qualidade de agências que todos têm, não dá para afirmar que o problema está no anunciante ou nos criativos que tocam suas campanhas. Tem gente que diz que é o cliente que está impondo suas ideias e seus caminhos e que, por medo de perder a conta, muitas agências aceitam. Como tenho acompanhado toda a evolução do marketing e dos clientes no Brasil, não dá para acreditar plenamente nesse motivo. Alguma coisa existe para que a propaganda brasileira tenha caído tanto nos últimos anos em termos de criatividade. Uma coisa é certa: é quase um sacrifício assistir ao horário comercial.

Protestos populares

Protestos populares 
 
Eleição dirá se manifestações de junho tiveram só um lampejo da juventude 
 
Jessé Saturnino
Paulo Diniz
Professores da Faculdade Pará de Minas


Estado de Minas: 17/01/2014

As eleições gerais de 2014 revelarão um dos segredos mais intrigantes do Brasil em sua história democrática recente: o efeito das manifestações de junho passado sobre a forma de votação do eleitor brasileiro. Considerando uma perspectiva estrutural, será que algo mudou? Em qual medida foi alterada a capacidade de julgamento e avaliação do eleitor, no que se refere à escolha de seus representantes junto ao Estado? O fato principal a ser considerado é o protagonismo da juventude brasileira durante a mobilização popular de 2013: além de constituir, visivelmente, o maior grupo que foi às ruas, os jovens forneceram a motivação e a esperança para que brasileiros de outras idades também se manifestassem. De volta à rotina, resta saber se os jovens brasileiros aprenderam alguma lição sobre civismo e democracia, ou se apenas se entediaram e abriram mão de suas reivindicações. Uma terceira hipótese, entretanto, parece mais viável à luz dos tempos pós-modernos em que vivemos.

Alguns autores das ciências sociais afirmam que, em fins do século passado, uma nova configuração social começou a ser vislumbrada, marcada pela destruição da sociedade moderna com a qual todos estavam acostumados. Segundo o sociólogo Zygmunt Baumam, transformou-se o mundo “sólido” da modernidade em um mundo pós-moderno “líquido”. Nesse mundo líquido, as formas e configurações sociais são sempre efêmeras e passageiras; escapam constantemente dos limites tradicionais dos padrões de comportamento, mais estáveis e sólidos, do passado. A política e a participação não ficaram imunes à liquefação do mundo. A mobilização popular do inverno passado, no Brasil, pode negar ou corroborar essa teoria de um mundo líquido: os jovens e suas reivindicações, mostradas em alegres e irreverentes cartazes, mobilizados a partir das redes sociais, podem ter tido apenas um lampejo juvenil. Depois de consumir o produto “manifestação política”, os jovens teriam partido logo depois para consumir outras coisas, e assim terem algo novo para postar em seus perfis nas redes sociais. Ante à perspectiva de que as mobilizações populares de junho tenham sido apenas mais um produto de consumo da juventude brasileira, o que podemos então esperar das eleições do ano que vem? Um coeficiente de mudança ocorrerá, inegavelmente, se não pela ação do eleitor, com certeza pela reação dos vários políticos que buscam se antecipar àquilo que interpretam como sendo “a voz das ruas”.

Outro aspecto importante deriva do fato de que muitos jovens podem, sim, ter despertado para a política de maneira permanente, assim como ocorreu após os protestos de 1992 e as eleições de 1989.

Independentemente da profundidade e consistência desses efeitos, o que se espera é que a experiência de comunhão real, e não somente virtual, com outras centenas de milhares de pessoas, em torno do objetivo de melhorar a atuação do Poder Público no Brasil, seja por demais impactante para ser deixada de lado como o interesse por uma subcelebridade televisiva qualquer.

Carlos Herculano Lopes - Os três baobás‏

Os três baobás 

"Fiquei sabendo que se trata de espécie nativa da África, onde é sagrada para algumas tribos" 
 
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 17/01/2014


Foi em Cataguases, na Zona da Mata mineira, há coisa de cinco anos, durante uma feira literária, que voltei a me encontrar com o poeta brasiliense Nicolas Behr. Conhecia-o desde o fim da década de 1970, quando nós mesmos fazíamos e vendíamos os nossos livros na rua. Iogurte com farinha, de sua autoria, se tornou um dos clássicos da chamada literatura marginal. Participavam também do evento em Cataguases, entre outros, os escritores Marcelino Freire, Alexei Bueno, Joaquim Branco e Ronaldo Werneck. Foi uma festa de celebração às letras e à amizade, como deve ser.

Num dos três dias em que durou aquele encontro, estávamos em um bar tomando chope, à tarde, quando de repente o assunto, sabe-se lá por que, voltou-se para fauna e flora. Além de excelente poeta, que como nenhum outro sabe falar sobre as belezas e mazelas da capital federal, Nicolas Behr também é especialista em plantas. Tanto que, lá em Brasília, já há um bom tempo, é dono de uma floricultura.

Em algum momento da conversa, já não consigo me lembrar qual, Nicolas me disse: “Vou te dar uma muda de baobá, para você plantar na sua fazenda”. “Baobá? Aquela árvore de O pequeno príncipe?”, perguntei ingenuamente, ao que ele, que tantas vezes já devia ter ouvido essa cantilena, apenas sorriu. No dia seguinte, pela manhã, nos despedimos e não se falou mais no assunto.

Há uns três meses, quando estava aqui na redação do Estado de Minas, de repente, para minha surpresa, recebo um telefonema do amigo: “Vou a Belo Horizonte semana que vem ministrar uma oficina de literatura e levarei sua muda de baobá. Você vai estar aí?”, quis saber o poeta.

Qual não foi minha surpresa quando, ao reencontrá-lo, Nicolas trazia, dentro de uma sacola de pano, umedecidas com folhas de jornais e húmus, não uma, mas três mudas da planta. Como havia pesquisado, fiquei sabendo que se trata de espécie nativa da África, onde é sagrada para algumas tribos. Aqui no Brasil, arrisco-me a dizer, seria prima-irmã da paineira e do embiruçu, tão comuns nestas terras.

No caso dos baobás, como a pesquisa também me ensinou, eles chegam a viver 4 mil anos e ficam tão grossos que, em alguns casos, as pessoas fazem casas dentro dos seus troncos ou os carros passam através deles. É impressionante.

Nem Nicolas Behr nem este modesto cronista iremos durar o suficiente para ver alguém morando dentro de algum dos três baobás que, há pouco mais de dois meses, foram plantados por mim na Chácara São Joaquim, em Coluna, onde voltei na semana passada. Dá gosto ver como as mudas estão bonitas e crescendo.

Ao dar a notícia ao amigo, que fora suas andanças pelo Brasil falando de seus livros continua com a floricultura em Brasília, recebo a seguinte carta: “Se existe vida após a morte? Existe sim... os baobás que plantamos, somos nós, mais vivos do que nunca... Tenho certeza de que os seus estão felizes, pois agora suas raízes podem explorar até o fim do mundo... Saíram da prisão do saquinho e ganharam a terra”.