quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Marina Colasanti-Arpoador, anos 50‏

Arpoador, anos 50 
 
"E inauguramos o biquíni. Traje de praia naquele tempo era maiô Catalina, de lastex e com saiote" 

 
Marina Colasanti
Estado de Minas: 16/01/2014


Fazia quase 60 anos que não estávamos juntos, não assim, todos ou quase, como no passado. Nosso passado comum, que nos reuniu em fim de tarde da semana passada no Clube Marimbás, no Rio, é o Arpoador no início da década de 1950.

Não era, então, uma praia da moda. Espremida junto à pedra e encostada na pequena Praia do Diabo, num fim de rua ocupado por instalações militares, parecia mais isolada e entregue à própria sorte do que qualquer outro trecho da orla. Talvez justamente por isso, por seu ar quase agreste, atraía sobretudo os estrangeiros do Rio, os recém-cariocas vindos logo antes ou depois da Segunda Guerra.

A areia era clara e limpa, o mar era claro e limpo, não havia quiosques ou vendedores ambulantes, o bar mais próximo era praticamente um pé-sujo, e bem distante. E nós éramos jovens, tão jovens e bonitos.

Pegávamos ondas no peito ou com pequenas tábuas – tentei algumas vezes, não me dei bem –, e os mais valentes iam esperá-las lá longe, no pontão. Mais tarde começaria o surfe, do qual meu irmão, Arduino, foi precursor com uma enorme prancha de madeira.

Em dias de mar manso, arraias surgiam ondulando suas grandes asas, e corríamos até o alto da pedra para vê-las passar acompanhadas por sua própria sombra sobre o fundo de areia. Garoupas cochilavam nas tocas. Um dia, Arduino fisgou um caçonete. A partir do nível da água as pedras eram cobertas por espessa camada de mariscos, que comíamos às vezes, em fins de tarde, cozinhados num latão vazio sobre fogueira improvisada no dorso da rocha.

Coragem era “dar a volta”, sair nadando da Praia do Arpoador, cruzar o pontão, costear em mar aberto a península – se assim a podemos chamar – e sair entre as ondas na Praia do Diabo. Que emoção intensa estar no fundo azul, entre espumas, o corpo tão insignificante e desprotegido naquela imensidão cintilante de sol, e ao redor só o explodir de ondas e gritos de gaivotas. Dei a volta algumas vezes de dia. Mas houve quem o fizesse em noites de luar.

E inauguramos o biquíni. Traje de praia naquele tempo era maiô Catalina, de lastex e com saiote, coisa de miss. Mas nós não éramos misses, éramos garotas um tanto gringas, com outros gostos, e começamos fazendo nossos próprios maiôs de pano. Primeiro inteiros, lonita Renault. Depois, duas peças, e já parecia uma ousadia. Mas, nas praias da Itália, só havia visto minha mãe usar biquíni. E a mãe da minha amiga de fé usava duas peças no Arpoador, abaixo da cintura. Então, na próxima rodada de maiô, cortamos a calça mais baixa, para mostrar o umbigo. Ficou bonito. Dali para a frente, avançamos em ousadia, e nunca mais usamos maiô inteiro.

Foi também o início da pesca de mergulho e sua era de ouro. Os rapazes pescavam no Arpoador, na Gruta da Imprensa, no navio afundado da Barra, na Laje Santo Antônio. E em Angra, nos campeonatos. Eu mergulhava acompanhando meu irmão, não pescava. E, orgulho supremo, fui a primeira mulher a mergulhar na Laje Santo Antônio, em mar aberto.

Depois, crescemos, cada qual seguiu seu rumo, deixamos de ser jovens e fomos ser profissionais. O grupo que havia sido tão unido nunca mais se juntou. Só se recompôs na semana passada. E durante algumas horas estivemos tão próximos e fomos quase tão jovens como havíamos sido naquela praia que nunca mais foi a mesma.

TeVê

TV paga 

 
Estado de Minas: 16/01/2014


 (Columbia/Divulgação)

Guerra ao terror

O Telecine Pipoca exibe hoje, às 22h, o suspense A hora mais escura, dirigido por Kathryn Bigelow. E com Jessica Chastain (foto) no papel de uma agente da CIA que atua no interrogatório de prisioneiros ligados ao grupo Al Qaeda. Após anos de trabalho, as informações coletadas por ela e outros investigadores levam os militares americanos ao esconderijo de Osama bin Laden, o líder da organização terrorista.


Muitas alternativas na  programação de filmes

Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: O impossível, no Telecine Premium; O Lorax – Em busca da trúfula perdida, no Telecine Fun; Vanilla sky, no Telecine Touch; Professor peso-pesado, na HBO HD; Como você sabe, na HBO 2; Tiranossauro, no Max; Agente H – Conspiração terrorista, no Max Prime; Efeito borboleta, na MGM; Erin Brockovich – Uma mulher de talento, no Studio Universal; e Vestida para matar, no TCM. Outras atrações da programação: Clube da comédia, às 21h, no Comedy Central; Capitão América: o primeiro vingador, às 22h30, na Fox; e WW3 – A 3ª Grande Guerra, também às 22h30, no FX.

Cinemax exibe terceiro  ano da série True blood

O Cinemax passa a exibir hoje, na faixa das 21h, a terceira temporada de True blood, marcada pela chegada de novos personagens, como Russel Edgington, o vampiro-rei do Mississipi, que ambiciona aumentar seu poder. Na localidade de Bon Temps, a revelação sobre os ancestrais
de Sookie também é fundamental para o desenvolvimento da trama.

Lixo extraordinário em reprise no Canal Brasil

No segmento dos documentários, um dos destaques é Lixo extraordinário, que registra o trabalho do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), às 22h, no Canal Brasil. No SescTV, às 21h30, a série Coleções apresenta o episódio “Casa potiguar”, mostrando a casa de uma típica família da comunidade pesqueira de Vila de Ponta Negra, em Natal.

Veja como o clima do  planeta está mudando

No canal +Globosat, mais duas boas pedidas: às 17h, Grandes tempestades faz uma análise das mudanças climáticas no planeta nos últimos anos; às 22h, Terra de gigantes revela a riqueza geológica do Brasil. No canal History, mais duas dicas: as maratonas Gigantes da indústria, às 20h, e Humanidade: a história de todos nós, às 22h.

TNT mostra cerimônia  dos indicados ao Oscar


O canal TNT vai transmitir hoje, ao vivo e com exclusividade no Brasil, a partir das 11h, diretamente do Samuel Goldwyn Theater, em Beverly Hills, a cerimônia de indicação das produções e artistas que vão concorrer ao Oscar. Este ano, as estatuetas serão entregues em 2 de março, também com transmissão exclusiva pelo TNT.


Caras & Bocas

Interino
cultura.em@uai.com.br




Roberto Cabrini deu um rolezinho com Luan Santana (SBT/Divulgação)
Roberto Cabrini deu um rolezinho com Luan Santana

Vale a pena ver de novo

O SBT/Alterosa reprisa esta noite a edição especial do programa Conexão repórter com Luan Santana. Roberto Cabrini acompanhou com exclusividade o cantor sertanejo durante quatro meses, mostrando sua rotina e a intimidade em sua “humilde residência”, em um condomínio em Londrina, no Paraná. Luan lembrou suas origens e falou dos desafios que enfrentou para chegar ao sucesso e dos projetos que ainda quer executar. Outro assunto em destaque foi o assédio das fãs. O artista ainda rebateu os boatos de que seria homossexual. No ar à 0h15.

Rafinha Bastos vai mesmo comandar o Agora é tarde
A Bandeirantes fechou com Rafinha Bastos para ser o novo apresentador do programa Agora é tarde. Pelo menos é o que a imprensa paulista deu como certo ontem. O acordo teria sido assinado com Diego Guebel, diretor artístico e de programação da Band. Com novo formato (cenários, vinhetas, abertura e banda), o programa deve voltar à grade da emissora em março.

SBT quer antecipar estreia de Gentili para o carnaval


Por falar em Agora é tarde, o ex-apresentador Danilo Gentili, que é sócio de Rafinha Bastos – eles são donos da casa noturna Comedians, especializada em stand up comedy, na Rua Augusta, em São Paulo –, pode estrear no SBT já no carnaval. Ele iria participar do SBT folia ao lado de Celso Portiolli, Eliana, Helen Ganzarolli, Nadja Haddad, César Filho, Lívia Andrade e, possivelmente, Otávio Mesquita.

José Hamilton Ribeiro é o  repórter mais premiado


O boletim Jornalistas & Cia. divulgou o ranking dos jornalistas brasileiros mais premiados em todos os tempos. Sabe quem é o campeão? O veterano José Hamilton Ribeiro, que empresta seu talento ao Globo rural. Muito merecido!

TV paga e internet forçam canais abertos a melhorar

Concorrência com web faz televisão se aproximar da vida real. A conclusão é de Zico Goes, diretor da MTV por cerca de 20 anos e que agora está coordenando o departamento de TV da produtora Conspiração. Segundo Goes, a internet mudou a TV, que está cada vez mais próxima do mundo on-line – e do mundo real. “A TV melhorou muito nos últimos anos, e uma das razões foi a pulverização ocorrida com a TV paga, que trouxe diversidade e transformou a televisão em uma espécie de grande banca de jornal”, afirma também.

Uma atração que vai dar  água na boca do assinante

O canal Bem Simples (TV paga) vai deixar muita gente com água na boca. Hoje, às 19h, o programa A confeitaria exibe o especial “Baú de receitas”, com padeiros e confeiteiros ensinando a preparar eclair de café, taça de canela com banana e creme de confeiteiro.

Topo Gigio vai voltar à telinha


Sucesso na televisão nos anos 1970 e 1980, na Globo e na Bandeirantes, Topo Gigio vai voltar depois de mais de 20 anos – a série do simpático ratinho ficou no ar até 1992. A Sato Company está desenvolvendo um programa sobre pets que terá Topo Gigio como mascote. O conteúdo será produzido na Itália, terra natal de Maria Perego, criadora do personagem e que ainda hoje, aos 90 anos, é a manipuladora do fantoche. “Já temos uma produtora contratada para fazer a captação. E levamos a apresentadora e o diretor daqui. Em duas semanas, fizemos 13 episódios”, conta Nelson Sato, proprietário da distribuidora.

VIVA- O gosto pelos livros é algo comum entre os personagens de Amor à vida (Globo). Parabéns ao autor Walcyr Carrasco por sua colaboração para o incentivo à leitura.

VAIA - Como esperado, a estreia do Big brother, terça-feira à noite, na Globo, atrapalhou a minissérie Amores roubados, que perdeu audiência ao ser empurrada para mais tarde 

Tereza Cruvinel - Vertigens iniciais‏

Tereza Cruvinel - Vertigens iniciais
 
Em 2002, o PMDB apoiou José Serra, deu-lhe a vice e o tempo de tevê, mas descarregou votos foi em Lula. Esse é o risco que corre Dilma, quando acha que o partido não tem para onde correr



Estado de Minas: 16/01/2014


Se eu não tivesse estado ausente deste espaço durante os ritos de passagem do fim do ano, desfrutando do direito periódico ao ócio, teria também especulado sobre as singularidades de 2014: um ano intenso, por conta das eleições e da Copa do Mundo, das interrogações sobre a economia e os humores da alma nacional. Cometeria outras profecias rasas, mas talvez não apostasse que, na política, o novo ano manteria a velocidade e o atropelo dos cronogramas que caracterizaram 2013, acreditando que, com a proximidade dos fatos, os atores moderariam o passo. A primeira quinzena, entretanto, sugere a vertigem continuada: a presidente falou em reforma ministerial e os partidos se agitaram, em especial o PMDB. A sociedade se surpreende com o tal rolezinho de jovens da periferia em shoppings. O Supremo Tribunal Federal segue produzindo vastas emoções e atitudes imperfeitas, enquanto o Ministério Público e o Tribunal Superior Eleitoral travam a primeira disputa pelo poder fiscalizatório nas eleições. Imagine o leitor quando chegar setembro, véspera do pleito.

Como o dia da volta ainda permite a contemplação panorâmica, vejamos estes e outros augúrios de um ano que deve ser inesquecível. Se não por tudo, pelo menos pela Copa, com o Brasil ganhando ou perdendo o torneio mundial.

Cristal trincado

Há poucos meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, para reeleger Dilma, o PT não poderia jamais trincar sua aliança com o PMDB. A rusga do momento não vai levar a um rompimento formal, mas pode ter consequências. Não vai o PMDB jogar fora o poder que tem por causa de um ministério, mas precisa esticar a corda e falar alto, por isso seus caciques se reuniram ontem, reagindo ao aviso de Dilma, de que não lhes dará uma sexta pasta. Ela sabia que a reação viria, mas mesmo assim fustigou o partido, que em seus cálculos não a deixará porque não há melhor caminho a seguir. Para ter um tempo de televisão bem maior que o dos adversários, ela precisa acomodar no governo o Pros e o PTB, e melhorar a posição do PSD. Se o PMDB blefa quando chia e fala em rompimento, como dizem os dilmistas, ela pode estar cometendo um erro de cálculo.

O PMDB, com sua máquina e sua capilaridade invejáveis, nunca precisou romper para jogar ao mar candidatos indesejados. Mesmo quando eram do próprio partido, como seu maior nome de todos os tempos, Ulysses Guimarães. Depois de Ulysses, o líder da transição que ficou em quinto lugar na primeira eleição direta pós-ditadura, a de 1989, foi José Serra que experimentou, em 2002, o sabor amargo da “cristianização”, neologismo forjado pela traição do velho PSD a seu candidato em 1950, Cristiano Machado. O PMDB o apoiou oficialmente, dando-lhe a vice, Rita Camata, e um bom tempo de tevê. A maioria das seções estaduais e os mais influentes caciques, entretanto, descarregaram votos em Lula. Esse é o risco que Dilma corre, quando acha que o PMDB não tem para onde correr.

 O cristal vem se trincando desde 2010. Na gaveta de um importante líder do partido dorme um documento que ela assinou na época, prometendo que, em estados onde PMDB e PT não estivessem juntos, iria aos dois palanques ou a nenhum. Mas, em alguns estados, ela foi apenas a comícios de petistas. O PMDB não esqueceu, veio a convivência no governo e novos arranhões no cristal.

A mística do rolê

São dois os discursos correntes sobre o fenômeno do rolezinho. Um, supostamente “de esquerda”, atribui aos encontros um verniz político que ele não tem, explicando-o como consequência da falta de opções de lazer nas periferias. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), agora atento aos sinais das ruas, viu nos rolezinhos um protesto contra o “apartheid social”. Outro discurso, claramente ordeiro e conservador, pede ação policial enérgica contra os grupos que vão “zoar” nos shopping, promovendo correrias e assustando lojistas e frequentadores.

Os textos que os jovens trocam nas redes sociais para combinar os encontros liquidam com o esforço para “politizar” os rolezinhos. Pelo menos os seis que ocorreram em São Paulo entre 7 de dezembro e 11 de janeiro não tinham bandeira alguma. O que eles querem é diversão, “zoada”, como dizem. As meninas vão para ver de perto seus “ídolos” da internet, jovens com milhares de seguidores em seus perfis.

Por outro lado, como poderá a polícia selecionar o acesso aos shoppings, espaços coletivos porém privados, sem incorrer na discriminação e no preconceito? Em Niterói, os convocadores de um rolezinho estão avisando: “Fiquem de olho, racismo é crime”. Ou seja, qualquer ato repressivo pode ser tachado como crime de racismo. Ninguém sabe ainda como lidar com isso, mas é certo que nem a mistificação ideológica nem a repressão pesada darão bons resultados.

Eduardo Almeida Reis-Rotatividade‏

Rotatividade 
 
Consta que a senhora Stival e as duas filhas do casal se recusam a morar na China. Obram muitíssimo bem 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/01/2014


Procurando na Wikipédia o nome de batismo do professor Cuca, Alexi Stival, acabei encontrando a lista dos times que treinou desde 1998, depois de deixar a carreira de jogador de futebol. Vejamos: 1998, Uberlândia; 1999-2000, Avaí; 2000, Inter de Limeira; 2001, Remo; 2001, Inter de Lages; 2002, Gama; 2002, Criciúma; 2003, Paraná; 2003, Goiás; 2004, São Paulo; 2004, Grêmio; 2005, Flamengo; 2005, Coritiba; 2005, São Caetano; 2006-2008, Botafogo; 2008, Santos; 2008, Fluminense; 2009, Flamengo; 2009-2010, Fluminense; 2010-2011, Cruzeiro; 2011-2013, Atlético-MG e agora, em 2014, o chinês Shandong Luneng.

A maioria dos comentaristas brasileiros diz que os técnicos de futebol ganham muito dinheiro e que os salários são superiores à realidade do nosso futebol, mas cabe a pergunta: com essa rotatividade, é possível trabalhar por 10 ou 20 salários mínimos?

Consta que a senhora Stival e as duas filhas do casal se recusam a morar na China. Obram muitíssimo bem. No máximo, uma visita de duas semanas para conhecer um tiquinho do Império do Meio, que as três devem estar escoladas nas mudanças do marido e pai.

Enquanto isso, o escocês Sir Alexander Chapman Ferguson, CBE, treinou o Manchester United entre 1986 e 2013. Mascando chicletes, ganhou um caminhão de títulos.

Fábrica de colchões

Ligo a televisão no momento em que pega fogo um galpão metálico em Guarulhos, SP. Filmados do helicóptero, o galpão em chamas e um monte de colchões espalhados pelas ruas próximas. O repórter da emissora paulista disse que jornalista não deve deduzir, mas, ao que tudo indicava, uma fábrica de colchões funcionava no local. Vejo populares correndo com diversos colchões. Maldoso, penso que estão saqueando, mas constato que estão levando os produtos de espuma para guardar num lote próximo.

Por culpa do trânsito num princípio de feriadão, os bombeiros demoram a chegar. Vizinhos solícitos tentam ajudar puxando mangueiras de uma fábrica próxima. Em rigor, pequeno incêndio, felizmente sem mortos ou feridos, mas o episódio me lembra a tarde em que nos mudamos do Rio para uma fazendola nas serras, sem luz, estradas e telefone.

Um Fusca e uma Veraneio entupidos de roupas e miudezas. Passo pela fábrica de colchões no Mangue, zona de baixo meretrício do Rio, para pegar os dois colchões de crina, que levaria amarrados em cima da Veraneio. Um deles está pronto e os operários estão espetando o outro com aquelas agulhas que ligam dois quadrinhos de tecidos, formando os gomos.

Galpão imenso, meio da tarde, vejo um foguinho começando na palha estocada perto da rua. Brincando, porque sou brincalhão, falei para o amigo que me ajudava na mudança: “Acho que vamos virar churrasco”. E ele: “Vamos sair correndo!”. Fomos os últimos a sair sem chamuscamentos. Atrás de nós já saíram empregados levemente chamuscados, enquanto outros fugiram para os fundos do galpão.

Resumindo: o galpão torrou, os bombeiros salvaram os empregados que fugiram para os fundos do lote, dois meses depois o fabricante me avisou que, tendo mudado a fábrica de endereço, meus colchões estavam prontos. Fabricante honesto. No dia do incêndio os colchões já estavam pagos.

O mundo é uma bola

Em 16 de janeiro de 27 a.C. o senado romano vota a atribuição do cognome Augustus a Octávio; a partir de então, ele ficará conhecido como César Augusto e a data convenciona o início do Império Romano. Hoje, César Augusto preferiria voar para Recife num jato da força aérea italiana para plantar cabelos. No ano de 929, o emir Abd ar-Rahman III reclama o título de califa de Córdoba. Em 1391, Yusuf II se torna o 11º rei nasrida de Granada. Em 1547, Ivan, o Terrível, se proclama czar da Rússia. Como se vê, o 16 de janeiro é dia de muitas reivindicações.

Ruminanças


“O economista é um sujeito que, quando vê uma coisa funcionando na prática, pergunta se vai funcionar na teoria” (Walter Heller, 1915-1987).

Intervenção genética ameniza a leucemia‏

Intervenção genética ameniza a leucemia
Estudos apresentados em congresso nos EUA indicam resultados positivos para tratar o câncer em células sanguíneas 
 
Julia Chaib
Enviada especial

Estado de Minas: 16/01/2014


Nova Orleans (EUA) e Brasília — Médicos e cientistas têm explorado uma aliada cada vez mais estratégica no tratamento e na busca pela cura do câncer: a terapia genética. Por meio da alteração do código genético, é possível construir antígenos para atacar diretamente o crescimento desordenado das células. Pesquisas nesse sentido foram apresentadas, no mês passado, no encontro da Sociedade Americana de Hematologia, o mais importante congresso da especialidade, e trouxeram resultados promissores para a área.

Em uma delas, a leucemia linfoide aguda recuou em 81% dos participantes submetidos a um tratamento do tipo. Na pesquisa, conduzida pelo médico Stephen Grupp, da Universidade da Pensilvânia (EUA), os cientistas usaram a técnica chamada chimeric antigen receptor (CAR), receptor antígeno quimérico, na tradução livre. Inicialmente, uma máquina filtrou o sangue de cada paciente e separou as células sanguíneas. Os cientistas trabalharam, então, com os linfócitos T – tipo de glóbulo branco ligado à imunidade celular. Essas estruturas foram submetidas a um processo de modificação genética e reinseridas nos participantes para que pudessem atacar as células cancerígenas (veja infográfico).

Em laboratório, as células foram reprogramas e se tornaram “soldadinhos” com a missão de atacar as proteínas CD 19, que, quando há a doença, se manifestam dentro dos linfócitos B – glóbulos brancos ligados ao sistema de defesa. A CAR foi aplicada em 27 pacientes (22 crianças e cinco adultos) que não apresentavam mais resposta a nenhum outro tratamento. Em 22, houve remissão da leucemia linfoide aguda. Um doente permaneceu sem as células cancerígenas por um ano, mas as estruturas voltaram a se reproduzir descontroladamente. Seis pacientes que atingiram remissão em um mês sofreram recaída. Uma das crianças está há um ano e meio livre do câncer.

Diante dos resultados, se não representa um potencial de cura, a terapia pode ser usada como ferramenta para que os pacientes ganhem tempo, avaliam especialistas. “Como no caso de quem precisa de doação de medula óssea, mas ainda não conseguiu o doador, por exemplo. A terapia gênica pode fazer o paciente ficar vivo pelo período suficiente de espera”, diz o membro do Comitê Científico da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, Nelson Hamerschlak.

Na avaliação do diretor do Hemocentro da Santa Casa de São Paulo, Carlos Chiattone, o desenvolvimento desse tipo de intervenção representa um salto na oncologia. “É uma terapia dirigida ao alvo. Age diretamente nas células ruins, causando menos efeitos colaterais.” A terapia é cara, custa cerca de US$ 25 mil. Os cientistas acreditam que, quando começar a ser mais usado, o procedimento ficará mais acessível.

Confirmações Usando o mesmo método que a equipe liderada por Stephen Grupp, um grupo de estudiosos do Sunybrook Odette Cancer Center, também nos EUA, alcançou resultados animadores no tratamento de linfomas de células B e leucemia. Na pesquisa conduzida pelo médico James Kochenderfer, foram constatadas a remissão completa do câncer em seis pacientes e a remissão parcial em seis. Os voluntários tiveram efeitos colaterais, como febre, pressão arterial baixa, déficits neurológicos focais e delírio, mas as reações foram controladas em menos de três semanas. Outros 11 pacientes com linfoma e quatro com leucemia linfoide crônica começaram o tratamento há cerca de dois anos no Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Desses, seis tiveram remissão completa; seis, remissão parcial; e uma está com a doença estável. Para os outros, segundo os médicos, ainda é muito cedo para avaliar se a doença está sob controle e em que grau de alívio.

Estudos conduzidos por médicos do mesmo Instituto Nacional do Câncer também foram feitos em pacientes com linfoma e leucemia que já haviam recebido transplante de medula óssea, usando as células dos doadores para fazer a alteração genética. Essa terapia foi conduzida em 10 pacientes. Um deles teve remissão completa e outros três apresentaram redução significativa da doença.

Saiba mais
Primeiro teste em 1990

A tecnologia de terapia gênica já é usada há duas décadas, mas tem apresentado resultados mais expressivos nos últimos cinco anos. Em setembro de 1990, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos realizaram o primeiro tratamento do tipo em Ashanti de Silva. A criança, então com 4 anos, tinha nascido com imunodeficiência combinada grave, uma doença genética que compromete seriamente o sistema imunológico. Os médicos recolheram glóbulos brancos do corpo da menina, cultivaram as células em laboratório, inseriram o gene que faltava nas células e causava o distúrbio e reintroduziram os glóbulos brancos geneticamente modificados na corrente sanguínea de Ashanti. Ela foi submetida outras vezes ao mesmo procedimento porque os leucócitos modificados paravam de funcionar. A menina não ficou curada da enfermidade, mas passou a ter menos resfriados e uma infância mais próxima da normalidade.

Drogas mais eficazes 

Combinar estrategicamente medicamentos foi outra alternativa apresentada no encontro da Sociedade Americana de Hematologia, em Nova Orleans, como intervenção promissora contra o mieloma múltiplo, um câncer incurável no sangue. O pesquisador Thierry Facon liderou um estudo com 1.623 pacientes em que foram testadas três combinações de remédios. As conclusões basearam-se na sobrevida resultante dos diferentes tipos de procedimentos.

O mieloma múltiplo é um câncer que faz os glóbulos brancos plasmáticos, produtores de anticorpos, atingirem os ossos. A doença consiste em uma proliferação de clones dessas células, que passam a atacar o corpo no lugar de defendê-las. Como não tem cura, o tratamento resume-se justamente em propiciar maior tempo e qualidade de vida aos pacientes.

O estudo First (Frontline Investigation of Lenalidomide + Dexamethasone versus Standard Thalidomide) envolveu 246 centros de pesquisa de 18 países (da América do Norte, da Ásia e da Europa). Pacientes com idade igual ou superior a 65 anos ou aqueles não elegíveis para o transplante foram recrutados. Facon comparou o uso da lenalidomida, usada para tratamento da doença, aliada à dexametasona, um corticoide, com a combinação de melfalano, predinisona e talidomida, em durações diferentes de administração.

O último arranjo – melfalano, predinisona, talidomida – é considerado o tratamento standard da doença. Mas o estudo concluiu que a lenalidomida associada à dexametasona usada de forma contínua aumenta em 22% o tempo de sobrevida dos pacientes em relação às outras terapias. “O resultado é importante porque, quando o tratamento tem impacto na sobrevida em estudos clínicos (com seres humanos), realmente há uma mudança de parâmetros”, avalia Angelo Maiolino, professor de hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No Brasil, no entanto, ainda demorará para que o possível novo padrão de tratamento seja aplicado. Isso porque a lenalidomida não tem registro no país. (JC)

A repórter viajou a convite da Celgene Corporation  

Após 74 anos de pesquisas, 'crocodilo guerreiro' é apresentado‏

Após 74 anos de pesquisas, 'crocodilo guerreiro' é apresentado

Paleontólogos levaram sete décadas para reconstruir o parente distante do jacaré, o Sahitisuchus fluminensis, que surgiu junto com os dinossauros e é considerado a espécie mais antiga achada no Rio de Janeiro


O animal seria um predador carnívoro (com dentes serrilhados e focinho alto e comprido), semiaquático, ágil, com aproximadamente 2m de comprimento    (MARCOS DE PAULA/ESTADÃO)
O animal seria um predador carnívoro (com dentes serrilhados e focinho alto e comprido), semiaquático, ágil, com aproximadamente 2m de comprimento

Crânio foi exibido ontem no Museu de Ciências da Terra, no Bairro da Urca, na capital fluminense (MARCOS DE PAULA/ESTADÃO)
Crânio foi exibido ontem no Museu de Ciências da Terra, no Bairro da Urca, na capital fluminense


Rio de Janeiro – O Rio de Janeiro acaba de ganhar um "novo" habitante. Trata-se do crocodilo guerreiro do Rio de Janeiro, o Sahitisuchus fluminensis, que surgiu junto com os dinossauros, há 230 milhões de anos, e conseguiu sobreviver à extinção dos répteis gigantes, 65 milhões de anos atrás. Essa é a espécie mais antiga encontrada no estado e apresentada ontem, no Museu de Ciências da Terra, na Urca, Zona Sul da cidade. O fóssil do Sahitisuchus fluminensis foi encontrado no Parque Paleontológico de São José de Itaboraí, no município de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, na década de 1940. No Berço dos Mamíferos, como também é conhecido o parque, os cientistas encontraram o crânio parcialmente completo (com 32cm) e bastante conservado, com as primeiras vértebras cervicais acopladas ao crânio.

“A região de Itaboraí é caracterizada por animais pequenos. Mesmo as aves e mamíferos daquela região que sobreviveram costumam ser pequenos”, diz o pesquisador Alexandre Keller. Ele ressaltou que no Parque Paleontológico de São José, único do estado, foram encontrados milhares de ossos e dentes, principalmente de mamíferos marsupiais.

Somente depois de 70 anos de estudos, os paleontólogos Alexandre Keller, André Pinheiro, do Museu de Ciências da Terra do Centro de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), e Diógenes Campos, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguiram reconstruir o animal. A apresentação do crocodilo guerreiro demorou tanto porque os cientistas precisaram reunir outros materiais (como dentes) para identificar características próprias do fóssil. Ele seria um predador carnívoro (com dentes serrilhados e focinho alto e comprido), semiaquático, ágil, com aproximadamente dois metros de comprimento e que (creem os cientistas) caçava em bando. “Estudar essa fauna é muito importante para compreendermos mais sobre o período entre a extinção dos dinossauros e surgimento dos mamíferos”, analisa Campos. Além disso, esse grupo de crocodilos é a única espécie cuja diversidade atual é menor do que a do passado.

O crocodilo guerreiro do Rio de Janeiro pertence a um grupo natural da América do Sul, que tem espécies encontradas também na Bolívia e na Argentina. Apesar de ter sobrevivido à grande extinção do Período Cretáceo (145 milhões a 65 milhões de anos atrás), atualmente, não há descendentes da espécie. “Ainda não sabemos a causa do desaparecimento total desse grupo. Podem ser fatores climáticos ou mesmo migração de outras espécies mais fortes para a América do Sul”, explicou Pinheiro. Mas o Sahitisuchus fluminensis pode ser considerado um parente (muito) distante do jacaré. Hoje, existem apenas cinco espécies de crocodilos na América do Sul.

Reforma em defesa da Constituição - Marcus Vinicius Furtado Coêlho

Reforma em defesa da Constituição 

 
Marcus Vinicius Furtado Coêlho
Presidente do Conselho Federal da OAB

Estado de Minas: 16/01/2014


As eleições constituem o momento no qual pobres e ricos, empresários e trabalhadores, homens e mulheres, negros e brancos, todos temos que possuir direito à igual participação. Foi o que disse o advogado e libertador Nelson Mandela (1918-2013), já em 1944, na Liga Juvenil do Congresso Nacional Africano, quando lançou o manifesto Um homem, um voto. A OAB luta por uma reforma política que seja capaz de equilibrar o pleito, mantendo na disputa aqueles que tenham ideias e propostas, e não apenas o poder econômico. A OAB defende, essencialmente, o princípio básico da igualdade de direitos políticos previsto na Constituição Federal brasileira.

Foi diante dessa prerrogativa que a OAB federal entrou, em 2011, com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra a doação de empresas a partidos políticos e candidatos. A Adin 4.650 começou a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal neste mês. Quatro ministros já votaram a favor da ação, reiterando que pessoas jurídicas não são cidadãos e por isso não possuem a legítima pretensão de participar do processo político-eleitoral. O julgamento foi interrompido e ainda não foi estipulada data para a retomada.

O procurador-geral da República também concluiu pela inconstitucionalidade do financiamento de empresas nas eleições. O investimento empresarial em campanhas eleitorais é inconstitucional por cinco fundamentos autônomos. A saber: as empresas não se enquadram no conceito de povo; a legislação que regula o financiamento é discriminatória por privilegiar quem possui mais renda; a proteção deficiente da legitimidade das eleições dificulta o controle das doações ilegais e do abuso de poder; a escolha constitucional define o partido político como a pessoa jurídica de direito privado apta a participar do processo eleitoral; e, por fim, permite que a renda influencie o processo eleitoral, ferindo a igualdade política entre os cidadãos, candidatos e partidos.

O que move a OAB é a Constituição. De acordo com ela, o Supremo Tribunal Federal tem a função de guardião da ordem jurídica. Ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil foi atribuída a função de voz constitucional da sociedade civil brasileira. A OAB é a classe protetora dos preceitos garantidos na Constituição. O Brasil tem uma das campanhas eleitorais mais caras do mundo, consumindo cerca de 1% do PIB. Para se eleger no país, um deputado federal precisa arrecadar R$ 1 milhão, em média. E um senador precisa de R$ 4 milhões. Sendo, atualmente, 97% dos recursos fruto de doação de empresas. Nesse cenário, um cidadão sem recursos financeiros tem poucas chances de se eleger.

O problema se agrava: apenas 0,5% das empresas brasileiras concentram as doações eleitorais. São poucos os doadores e eles fazem contribuições expressivas, conseguindo manter relações próximas com os candidatos que patrocinam. A OAB também luta pela criminalização do chamado caixa dois de campanha, instituindo penas que vão de dois a oito anos de prisão aos condenados. A iniciativa faz parte do texto do projeto de lei de reforma política Eleições Limpas, liderado pela Ordem, juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

Com o fim das doações de empresas, o volume de dinheiro à disposição de cada partido ou candidato será consideravelmente menor, o que tornará mais visível o uso de recursos ilegais. Dessa maneira serão realizadas campanhas mais modestas com ênfase no conteúdo. O dinheiro deixará de ser o protagonista das eleições brasileiras. O único partido da Ordem dos Advogados do Brasil é a Constituição da República e a sua única ideologia é o Estado democrático de direito.