terça-feira, 7 de janeiro de 2014

MARIA ESTER MACIEL » A vez das orquídeas‏

MARIA ESTER MACIEL » A vez das orquídeas
Estado de Minas: 07/01/2014




Sábado passado, Zenóbia fez-me a segunda e última visita da semana, pouco antes de viajar de volta para sua casa – que fica numa chácara entre Patos de Minas e Presidente Olegário. Desta vez, trouxe-me um vaso de orquídeas amarelas e uma caixa de chocolates com amêndoas. O calor estava intenso nesse dia, com um sol incisivo e nenhuma nuvem no céu. Ela chegou por volta das 9h, ainda a tempo de tomar café comigo.

Como sempre, minha cachorra Lalinha recebeu Zenóbia com uma alegria incontida. E quando recebi as orquídeas, perguntei-lhe que espécie era aquela. Ao que minha mestra respondeu: “Há quem a chame de dama dançante ou bailarina. É conhecida ainda como chuva-de-ouro”. Segundo ela, o cultivo dessa orquídea não tem muito segredo. A flor prefere ar úmido, espaço com muita claridade ou sombra moderada, e costuma florescer de janeiro a fevereiro.

Adoro ouvir Zenóbia falar sobre plantas. Sei que seu interesse por orquídeas é antigo, pois as cultiva desde que se formou em biologia, há muitos e muitos anos. Ela mantém um pequeno orquidário em sua chácara, ao qual se dedica várias horas do dia. E ainda costuma brincar, dizendo: “Antes um orquidário que um ofidiário”. O que não quer dizer que não se interesse também por serpentes e outros répteis, como já tive a oportunidade de contar aqui na semana passada.

Zenóbia tem um caderno cheio de listas de nomes científicos de orquídeas. Na sala de visitas de sua casa veem-se alguns quadros com fotografias de várias espécies raras, encontradas e fotografadas por um amigo seu, que costuma passar dias nas montanhas de Minas só para isso. Ele, que é policial, tem também interesse por insetos, em especial as libélulas. No escritório de Zenóbia há uma dessas fotografias feitas por ele. É de uma libélula azul, de espécie tida como uma das menores existentes, encontrada sobretudo em zonas pantanosas ou perto de rios e riachos. O inseto tem uma bela estranheza. Quem quiser ver uma cópia dessa foto na internet basta acessar o link: www.panoramio.com/photo/96460620.

Pelo que Zenóbia contou, existem cerca de 50 mil espécies de orquídeas, sendo muitas criadas a partir do cruzamento de diferentes espécies. Graças à numerosa quantidade de híbridos entre elas, pode-se encontrar uma infinidade de cores e formas da flor, em várias partes do mundo. E não é só a partir da intervenção humana que as orquídeas se misturam, pois a própria natureza também se encarrega dos cruzamentos.

Fiquei surpresa quando Zenóbia me disse já ter listado várias orquídeas que se assemelham a animais. Segundo ela, existem aquelas cuja estrutura lembra a cabeça de um pássaro. Outras trazem pétalas em forma das asas de uma garça ou de um inseto. “A mais engraçada é a que se assemelha a um macaco”, acrescentou, citando ainda a orquídea-burro, a orquídea-abelha e a orquídea-pato voador.

Assim que Zenóbia saiu, tive vontade de também presentear, com essas flores, algumas pessoas que têm sido importantes em minha vida nos últimos meses. Pessoas que me ajudaram na travessia para o ano que começa e a quem dedico, com especial gratidão, esta crônica.

TeVê

TV paga



Estado de Minas: 07/01/2014



 (TV5Monde/Divulgação)

Resgate histórico


Estreia esta noite, às 21h30, na TV5Monde, o telefilme Brasil vermelho (foto), uma produção que reuniu profissionais brasileiros, franceses, portugueses e canadenses, sob a direção de Sylvain Archambault, e que será exibida em duas partes, hoje e terça-feira que vem. Trata-se da adaptação para a televisão do romance Rouge Brésil, de Jean-Christophe Rufin, ganhador do Prêmio Goncourt de 2001. A trama parte da iniciativa do rei da França, Henrique II, de fundar uma colônia no recém-descoberto Novo Mundo. No elenco, os rostos mais conhecidos são os de Stellan Skarsgard e Joaquim de Almeida.

Telecine comemora os  50 anos de Nicolas Cage


O ator Nicolas Cage completa hoje 50 anos e para homenageá-lo o Telecine Action selecionou quatro de seus filmes mais populares: Presságio (17h45), Con Air – A rota da fuga (19h55), O vidente (22h) e O pacto (23h45). Cage está também em Motoqueiro Fantasma, às 16h25, no Megapix. No Canal Universal, a maratona de comédias continua hoje com O pior trabalho do mundo (19h30), American pie 2 – A segunda vez é ainda melhor (21h30) e Zoolander (23h). No Canal Brasil, às 22h, a atração é Curitiba zero grau. Outros destaques da programação: Melhor é impossível, às 21h, no Comedy Central; Fim, às 21h20, no Max; Hitchcock, às 22h, no Telecine Pipoca; The Yellow Sea, às 22h, no Cinemax; Vips, às 22h15, no Space; e Deus da carnificina, às 23h45, no Telecine Cult.

Maria Paula sai em busca  de terapias alternativas


A GNT segue com novidades em sua programação de verão. Para hoje, mais duas atrações. Às 22h, Maria Paula estreia o Saúde por aí, diretamente da Califórnia, visitando centros de pesquisa e tratamento para experimentar terapias alternativas. Às 22h30, é a vez de Loucuras de verão, com o preparador físico Marcio Atalla falando sobre os excessos que pessoas normalmente cometem para ficar em forma.

Canal +Globosat avalia  mercado de automóveis


No canal +Globosat, estreia hoje, às 17h30, Shifting Gears – Mundo motor, antecipando as tendências do mercado automobilístico, com ênfase na pesquisa de novas tecnologias. No Nat Geo, às 19h, estreia a 12ª temporada de Mayday! Desastres aéreos, nesta fase com as investigações sobre cinco acidentes ocorridos entre 1972 e 2001.

Arte 1 destaca a dança  flamenca e a literatura

Um dos destaques da semana do canal Arte 1, As mulheres do flamenco mostra como foi o processo de criação de um espetáculo por meio de duas famosas dançarinas: Sara Baras e Eva Yerbabuena. Dirigido por Mike Figgis, o documentário vai ao ar às 21h30, e na sequência, às 22h30, o canal apresenta Português, a língua do Brasil, em que Nelson Pereira dos Santos reuniu depoimentos dos escritores Nélida Piñon, Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Ledo Ivo
e Ivan Junqueira

Documentário tenta  fazer justiça a Simonal


Dirigido por Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel em 2009, o documentário Simonal – Ninguém sabe o duro que dei será exibido esta noite, às 18h, pelo canal Bio. A produção mostra que a ascensão ao estrelato do cantor Wilson Simonal foi tão meteórica quanto seu declínio, depois de ser acusado de colaborar com as forças da repressão política no Brasil nas décadas de 1960 e 1970.


CARAS & BOCAS » Cenas dos próximos capítulos 

 


Paula Braun é casada com Mateus Solano (Estevam Avellar/Globo)
Paula Braun é casada com Mateus Solan


O marido Mateus Solano brilha intensamente na telinha com o afetado Félix, mas está chegando a hora de Paula Braun também aparecer com destaque em Amor à vida. Nos próximos capítulos da novela global, sua personagem Rebeca será convocada por César (Antonio Fagundes) para tentar descobrir se Aline (Vanessa Giácomo) o trai em sua própria casa. Tudo começa quando a enfermeira, preocupada com o nível de açúcar no sangue do médico, passa a frequentar a casa onde ele mora. Extremamente desconfiado da mulher, César pedirá que ela veja se algo estranho acontece no local, sobretudo em relação a uma possível traição. Será que Rebeca vai cumprir sua missão? Certo mesmo em Amor à vida é que Paloma (Paolla Oliveira), Félix e Lutero (Ary Fontoura) vão se unir para desmascarar Aline. A vida boa da ex-secretária está prestes a ir por água abaixo. E certamente vai sobrar para Ninho (Juliano Cazarré), o amante que a ajudou a matar Mariah (Lúcia Veríssimo) e enterrar seu corpo no quintal da casa.

Preso injustamente, Franz  logo vai escapar da cadeia

Em Joia rara, também da Globo, Franz (Bruno Gagliasso) vai fugir da prisão depois de acusado de ser o responsável pela suposta morte da ex-mulher Sílvia (Nathalia Dill). A fuga está prevista para ir ao ar no capítulo de sábado, e logo Franz vai descobrir que Sílvia está viva e já recuperada em parte da perda de memória. Aqui, no caso, a verdade vai se virar contra o vilão Manfred (Carmo Dalla Vecchia).

Yudi está bem vivo, apesar  dos boatos nas redes sociais


Brincadeira de mau gosto: mataram Yuri Tamashiro nas redes sociais. Assessores do apresentador se apressaram a desmentir o boato. No Twitter, alguns posts metidos a engraçadinhos diziam que ele havia sido “espancado por crianças que queriam Playstation em vez de Jogo da vida”, fazendo referência aos jogos que ele divulgava no programa Bom dia & cia., no SBT/Alterosa.

Sem espaço na Globo, Xuxa  pode se mudar para os EUA


Por falar em internet, anda circulando na web que Xuxa deve ir morar nos Estados Unidos, depois que a Globo resolveu acabar com o TV Xuxa. Ela aproveitaria a viagem para tratar a inflamação nos ossos do pé, além realizar o sonho da filha Sasha de estudar por lá.

Quem não gostaria de fazer  uma ponta em Os Simpsons?


O canal Fox (TV paga) aposta tudo no desenho Os Simpsons, dedicando uma generosa faixa de sua programação à criação de Matt Groening. O especial Retrospectiva amarela tem sequência na emissora com seis episódios a partir das 20h, contando com convidados como Mark Zuckerberg, Ronaldo, Mick Jagger e David Letterman.

Kibe Loco vai comandar talk  show na TV por assinatura


Antonio Tabet, um dos roteiristas e atores do Porta dos Fundos, o canal de humor mais visitado na internet brasileira, está acertando a apresentação de um talk show em um dos canais do grupo Turner. “O programa vai tratar do universo do humor, mas ainda não posso revelar o canal”, despistou o Kibe Loco.

Televisão cultural

O SescTV está deixando as operadoras Sky e Net, mas outras vão continuar transmitindo sua programação. A Cultura é uma boa alternativa, também com atrações culturais e jornalismo de alto nível, como o Provocações, que vai ao ar hoje, às 23h30, com Antônio Abujamra entrevistando o jornalista Audálio Dantas – a Rede Minas também mostra, mas nas noites de quarta-feira. Outra parceira da Rede Minas é a TV Brasil, que ainda pode ser sintonizada no canal 65 UHF, mas apenas parte de sua programação entra na grade de emissora educativa mineira. Esta noite, por exemplo, a TV Brasil exibe o Observatório da imprensa em homenagem aos jornaleiros, na faixa das 20h.

VIVA
Na quinta-feira, a “re-reprise” de  O cravo e a rosa no Vale a pena ver de novo superou a audiência de outras três novelas da Globo: as inéditas Malhação, Joia rara e Além do horizonte. Surpreendente, não?!

VAIA
A situação da trama adolescente da Globo é a pior: não passou dos 13 pontos de média, o que é péssimo para os padrões da emissora. Fenômeno de longevidade, Malhação vai se arrastando na atual temporada.

Palco e paixão [Cássio Scapin] - Carolina Braga

Palco e paixão
 
Cássio Scapin traz a Belo Horizonte o monólogo Eu não dava praquilo, baseado em depoimento de Myriam Muniz, corajosa defesa da verdadeira arte de representar



Carolina Braga
Estado de Minas: 07/01/2014


O palco nu reforça a importância das palavras e da performance do ator: o teatro é personagem central do monólogo (João Caldas/Divulgação)
O palco nu reforça a importância das palavras e da performance do ator: o teatro é personagem central do monólogo


Popularidade nunca foi o forte de Myriam Muniz. Aliás, a atriz que hoje dá nome a um dos principais prêmios de fomento ao teatro no Brasil era totalmente avessa à mídia. Um paradoxo para quem viveu de contar histórias nos palcos e nas telas. Mas quem construiu uma carreira com tal envergadura não poderia ficar restrita ao circuito fechado dos cults. Na verdade, em tempo de muita superficialidade e culto da fama, muita gente anda precisando conhecer o que Myriam Muniz pensava sobre teatro.

Foi essa resolução que inspirou o ator Cássio Scapin a montar Eu não dava praquilo, monólogo que entra em cartaz amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde faz temporada até dia 19. Quando a atriz morreu, em 2004, algumas amigas se juntaram e decidiram editar um depoimento gravado em vídeo de modo caseiro. Uma das cópias chegou na mão de Scapin.

“O ponto que me pegou é a relação que ela tinha com o ofício, algo que está se perdendo. Hoje há uma valorização midiática. Não que antes não tivesse, mas isso deveria vir como consequência e não em primeiro plano. O mais importante era o trabalho do ator, o que ele queria dizer, muito mais do que esse ego superfaturado que o mercado exige”, analisa o ator.

Emocionado com o que ouviu, Cássio Scapin mostrou o vídeo para o poeta e dramaturgo Cássio Junqueira. “Quando ele me mostrou o depoimento gravado, já sabia tudo praticamente de cor. Ia repetindo o discurso, quase fazendo a personagem. Vendo-o atuar, falei: ‘Faz isso no teatro, é genial’”, conta Junqueira. Foi assim que nasceu texto do espetáculo. Imediatamente, o nome de Elias Andreato surgiu para a direção. “Nunca fui amigo da Myriam. Conheci-a superficialmente e fiquei muito sensibilizado pela simplicidade do discurso. A paixão dela pelo teatro me tocou muito e falei: ‘Faça nem que seja na sala da sua casa’”, conta o diretor.

Inspirado em falas da própria Myriam Muniz e entrevistas com familiares, além da biografia Giramundo – O percurso de uma atriz, organizado por Maria Thereza Vargas, Eu não dava praquilo sintetiza o pensamento teatral da atriz. Às ideias dela são somados fragmentos das obras de Adélia Prado e Clarice Lispector. A montagem é, na verdade, uma crítica a quem escolhe o caminho nos palcos como uma simples fonte de ganho e fama.

“Isso é um fenômeno mundial, tem tanto no teatro como nas artes plásticas: o mercado se sobrepujou à essência. Acho que entramos em uma dinâmica de mundo violenta. O pão feito em casa perdeu um pouco de valor”, pondera o ator. Scapin e Muniz nunca foram amigos, mas a admiração dele pela atriz surgiu no tempo em que ainda era estudante. “Ela era muito feérica. Fiz um curso com ela, eram mais ou menos seis alunos na sala, mas dava aula como se estivesse 100. Tudo era muito grande”, lembra. Desde aquela época, Scapin se impressionou com o modo como ela lidava com o ofício e expunha suas ideias.

Lugar nenhum Indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator e vencedor do APCA na mesma categoria em 2013, Cássio Scapin se diz realizado em poder fazer um espetáculo em que o que está sendo dito tem uma relação íntima com o que pensa. Em 2014, o ator completa 30 anos de carreira profissional. Com a experiência de ter participado de mais de 30 projetos no teatro, 12 na televisão e outros tantos no cinema, surpreende-se com o modo como as pessoas consomem arte hoje em dia.

“Você vê como se fosse qualquer coisa. Com as novas tecnologias, conseguir estar ali é um sacrifício. As pessoas não conseguem desligar os aparelhos. Querem estar em todos os lugares e não estão em nenhum. É uma dinâmica do mundo. Como vamos puxar esse freio de mão para voltar do tamanho do humano?”, questiona. Eu não dava praquilo faz provocações nesse sentido.

O nome do espetáculo é referência a uma frase constante no depoimento da atriz. Para o dramaturgo Cássio Junqueira, o espetáculo revela um processo de construção de personalidade muito intenso. “Ela estava disposta a ir às últimas consequências. Expunha-se para se descobrir, tentava por um caminho, por outro e assim foi se achando. Só se consegue fazer isso com uma sinceridade muito rara”, conclui.

EU NÃO DAVA PRAQUILO
De amanhã ao dia 19. De quarta a sexta, às 20h; sábado, às 18h e 20h; domingo, às 19h. Centro Cultural Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450, (31) 3431-9400. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).


O lugar do ator


Eu não dava praquilo não tem cenário mirabolante nem figurino especial. É basicamente um platô e uma cadeira. “Primeiro pela própria linguagem do teatro. Preencher aquela caixa toda com um monte de alegorias enlouquece o espectador e ele não vai conseguir focar em absolutamente nada”, detalha o diretor Elias Andreato. A escolha foi deixar o ator o mais livre possível. “É sobre uma atriz que morreu fazendo o que mais gostava. Quanto mais neutro e disponível para qualquer outra possibilidade, mais interessante para o ator”, diz.

A parceria entre Elias Andreato e Cássio Scapin vem de longa data. Fizeram juntos, entre outros trabalhos, Visitando o sr. Green, de Jeff Baron, com Paulo Autran. No caso de Eu não dava praquilo, além de ser mais um monólogo para a extensa lista do gênero que ambos têm no currículo, a peça também tem a função de resgatar a memória recente da história do teatro brasileiro.

“A história do teatro brasileiro se resume ao TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), Arena e Oficina. Daí surgiram os grandes atores. Ninguém sabe mais o que significa isso. Se você vai em qualquer escola de teatro, as pessoas só têm noção do que é novela. Desse ponto de vista, Eu não dava praquilo é um oásis para quem gosta de teatro e se dedica a ele”, comenta Andreato.

Para não se influenciar, diferentemente de Cássio Scapin, o diretor preferiu não ver o depoimento gravado de Myriam. Nem por isso ficou livre dela. “Tive muitos sonhos. Ela cuspia no meu pé, lavava o meu caixão. Eu pensava: ‘Ai meu Deus, nem conheci essa mulher’. Mas fui tinhoso”, brinca. Para Andreato, Eu não dava praquilo toca o espectador porque fala de paixão. “É isso que mobiliza qualquer criatura na face da Terra”.


Vida dedicada às artes


Myriam Muniz em Nina, filme dirigido por Heitor Dhalia (Columbia/Divulgação)
Myriam Muniz em Nina, filme dirigido por Heitor Dhalia

Myriam Muniz nasceu em São Paulo, em outubro de 1931. Estudou e praticou enfermagem no Hospital Samaritano, mas ao perceber “que não dava praquilo”, foi tentar a vida de bailarina, integrando o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo. Mais uma vez, percebeu que dançar não era a dela. Em 1958, matriculou-se na Escola de Arte Dramática de São Paulo. Estreou como atriz profissional em 1961 e passou a trabalhar com Augusto Boal, Zé Celso Martinez Correa e Antônio Abujamra. Participou do Teatro de Arena e fez parte do corpo artístico da Cia. Dulcina de Moraes.

Na década de 1970, passou a diversificar suas atividades. Em 1975, foi uma das fundadoras do Teatro-escola Macunaíma, centro experimental de formação teatral. Dedicou-se à direção de shows musicais, entre eles Falso brilhante, de Elis Regina. No cinema, estreou em Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade. O último trabalho na telona foi em Nina (2004) de Heitor Dhalia. Na televisão, participou das minisséries Dona flor e seus dois maridos (1998) e Os Maias (2001). A atriz morreu em 18 de dezembro de 2004. Em 2006, a Funarte instituiu o Prêmio de Teatro Myriam Muniz, para estímulo e fomento à produção e à pesquisa de artes cênicas em todo o país.

Lazer e cultura - Inhotim

Estado de Minas: 07/01/2014 


Galeria Fonte exibe novas obras desde o ano passado     (Rossana Magri/divulgação)
Galeria Fonte exibe novas obras desde o ano passado



O Instituto Inhotim está de portas abertas para receber turistas e mineiros dispostos a aproveitar as férias para fazer passeios culturais. Desde 2006, o centro de arte contemporânea funciona como um dos cartões-postais da Grande BH.

O visitante vai encontrar novidades. Ano passado, houve mudanças no conjunto exposto, sobretudo nas galerias Mata, Praça, Lago e Fonte. Oitenta e seis obras foram trocadas, 170 estão à disposição dos visitantes.

Dezessete artistas apresentaram novos trabalhos desde 2013, entre eles Gabriel Orozco, Geraldo de Barros, Tacita Dean, Rivane Neuenschwander e Luiz Zerbini. Este ano, Anish Kapoor, Michael Heizer, Giuseppe Penone, Claudia Andujar, Olafur Eliasson, Robert Irwin e Carrol Dunham mandarão novidades para lá.

Às terças-feiras, o Instituto Inhotim não cobra ingressos de seus visitantes. Quem não quiser ir de carro até o centro de arte pode recorrer aos ônibus. Eles saem às 9h15 da Rodoviária de BH e voltam às 16h30 – horário válido de terça a sexta-feira. Nos fins de semana a partida está marcada para as 9h15, com retorno às 17h. Informações: (31) 3419-1800.


INHOTIM


Em Brumadinho, acesso pelo km 500 da BR-381. De terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 17h30. Informações e visitas agendadas: (31) 3571-9700. Entrada franca na terça-feira. Quarta e quinta-feira: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Sexta-feira, sábado, domingo e feriado: R$ 28 (inteira) e R$ 14 (meia). Crianças até 5 anos não pagam. Transporte interno: R$ 20.

As duas faces dos antirretrovirais‏ - Bruna Sensêve

Medicamentos aumentaram a longevidade de quem tem Aids, mas são degenerativos e não se sabe quais efeitos provocarão em soropositivos quando consumidos por mais de 30 anos


Bruna Sensêve
Estado de Minas: 07/01/2014



“O meu tesão agora é risco de vida, meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll”, escreveu Cazuza em Ideologia, música lançada em 1988, dois anos antes de o cantor não resistir às complicações decorrentes da doença desenvolvida a partir da temida infecção pelo HIV. A mutante Rita Lee escolheu chamar o micro-organismo de vírus do amor, no título da canção de 1985. “Dentro da gente, beira o caos”, descreveu a roqueira. A poesia em torno da doença tenta definir a angústia e as limitações que a infecção traz para a vida do soropositivo não só no fim da década de 1980 – quando o tratamento era quase inexistente –, mas ainda hoje. Hoje, na terceira reportagem da série sobre a história da Aids, o Estado de Minas traz um pouco dos avanços tecnológicos e científicos, que foram capazes de aumentar a qualidade de vida da pessoa infectada e tornar a doença fatal próxima de uma condição crônica controlável. Mesmo assim, os dramas sociais e as dúvidas permanecem.

A professora aposentada Mara Moreira, de 37 anos, tem o vírus há 19. A infecção ocorreu com seu primeiro parceiro sexual: o marido. Aos 18, ela se casou “na igreja, virgem e evangélica”. “Achei que a Aids estava longe da minha realidade.” Todos os exames pré-nupciais foram feitos, mas, como ela mesma diz, “por puro preconceito e ignorância médica”, menos o anti-HIV. Três meses depois do casamento o marido adoeceu com uma pneumonia insistente. Depois da hospitalização veio o diagnóstico da infecção viral.

“Eu não o culpo porque ele não sabia que estava infectado. Várias pessoas não usam camisinha e acham que a outra pessoa é a culpada. Cada um é responsável por si. Ele tinha que ter solicitado o preservativo, e eu também”, acrescenta. Hoje, o Ministério da Saúde estima que existam pelo menos 150 mil pessoas no Brasil que não sabem estar infectadas pelo vírus. Em abril de 1996, Mara ficou viúva. Casou-se novamente com um parceiro não soropositivo. O preconceito sofrido por ambos durante a relação, que dura sete anos entre idas e vindas, é rasgado: ele foi demitido duas vezesdepois de a condição da mulher ter se tornado pública.

Danos imprevisíveis Entre os efeitos colaterais adquiridos com as duas décadas de tratamento, Mara relata uma alta taxa de triglicerídeos, a lipodistrofia e a impossibilidade de ter filhos. “A minha taxa de células imunes CD4 está baixa e minha carga viral muito alta. Para começar uma gestação,precisa ser o inverso, não pode ter nenhuma DST e tem que usar a medicação que eu já não posso usar.” Ao longo dos anos, ela trocou de tratamento algumas vezes. Quando utilizada a terapia, o organismo pode desenvolver resistência à droga antirretroviral, que não pode ser novamente ministrada.

Mara acredita que as pessoas precisam saber que se trata de uma doença crônica e degenerativa. “A Aids degenera seu sistema imunológico e até o tecido neuroconectivo. Leva a sua memória e traz o envelhecimento precoce”, relata. É possível que os efeitos colaterais vividos pela professora aposentada ainda possam surpreender a comunidade médica. Somente agora, extensas pesquisas puderam acompanhar pacientes que utilizam a medicação por mais de duas décadas. Não se sabe, por exemplo, qual o resultado do uso contínuo por 30 anos ou mais, já que ela começou a ser prescrita em 1987. “O desenho que fazem da epidemia com remédio gratuito, acesso a exames e médicos não é real. A Aids não é cor-de-rosa. As pessoas a comparam com o diabetes, mas não é nada disso”, diz a professora.

O conceito de grupo de risco já não existe. Não se pode dizer que a infecção se concentra em um perfil social específico. Pelo contrário, hoje a Aids acomete indivíduos com características majoritárias na população, como Mara. Um levantamento divulgado no ano passado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, da Secretaria de Saúde de São Paulo, revelou que 68% dos pacientes com HIV e Aids que se tratam no hospital são heterossexuais, sendo 25% mulheres. A maioria tem entre 30 e 40 anos.

Mais pobres Para o ativista e coordenador do Grupo pela VIDDA do Rio de Janeiro (GPV-RJ), Márcio Villard, o perfil das pessoas atualmente infectadas se difere em alguns aspectos dos soropositivos dos anos de 1990. O grupo foi fundado em 24 de maio de 1989 e é o primeiro do Brasil formado por pessoas com HIV e Aids, amigos e familiares. Naquela época, a doença atingiu pessoas de poder aquisitivo maior. “No momento, começa a acometer mais as pessoas de classes menos favorecidas e de nível de escolaridade  baixo. Elas começam a sentir o impacto de uma epidemia que não tem mais fronteiras.”

Villard também identifica um crescente grupo de jovens soropositivos. “Se estamos falando de informação, como os mais jovens são mais infectados? Eles têm mais acesso à internet, estão estudando.” A raiz do problema, segundo ele, pode estar nos mitos e na banalização em torno da doença. “Para os jovens, a Aids ainda está ligada a segmentos. É a falta de uma cultura de prevenção.” Segundo o ativista, pesquisas do Ministério da Saúde mostram que, entre os mais jovens, o uso da camisinha no início da relação atinge até 60%. A partir de um  certo envolvimento emocional, esse índice cai drasticamente. “Sou da filosofia de que, por mais que o casal converse, aborde e tenha total segurança um no outro, hoje é preciso bancar um receio, uma dúvida.”

Consequência estética

Trata-se de uma anormal distribuição de gordura corporal. Pode ocorrer aumento de gordura na região do abdômen, entre os ombros, em volta do pescoço ou no tórax. Também é registada perda de gordura da pele, mais aparente nos braços, nas pernas, nas nádegas e no rosto, resultando em enfraquecimento da face, no atrofiamento das nádegas e em veias aparentes nas pernas e braços. Somente esse tipo específico de perda de gordura está diretamente relacionado ao HIV.

Falsa segurança

Seis a cada 10 brasileiras podem ter o contato com o HIV exclusivamente por meio de um parceiro estável, descreve pesquisa da Fundação Perseu Abramo e do Sesc, publicada, em 2013, no livro Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. Pouco mais de 90% delas iniciaram a vida sexual a partir dos 15 anos, e, em geral, se caracterizam como parceiras afetivas estáveis. Porém, na última relação sexual, o uso do preservativo foi de 28%. O perfil das mulheres que não usam a camisinha é de 45 anos ou mais (82%), com escolaridade até o ensino fundamental (81%), renda familiar de até um salário (80%), casadas (86%) e com filhos (79%). Um percentual gritante teve a última relação com parceiro estável (78%) e usou outro método contraceptivo (64%).

O estudo entrevistou 2.365 mulheres e 1.181 homens maiores de 15 anos, de áreas urbanas e rurais de 25 unidades da Federação. Segundo Dulce Ferraz, analista de gestão em saúde da Fiocruz Brasília e pesquisadora do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids, desde os primeiros estudos é observada a associação entre a pessoa infectada e a relação estável. Ela reforça que nunca houve evidência de que as infectadas tinham vários parceiros. “Tanto os homens quanto as mulheres sempre mostraram que o menor uso da camisinha ocorre nas relações estáveis. Há um percentual maior de uso se a relação for casual.”

A maioria dos casos de mulheres infectadas com o HIV no Brasil (87,9%, em 2011), de acordo com o Ministério da Saúde, acontece por meio de relações heterossexuais, sendo a idade de maior vulnerabilidade dos 13 aos 19 anos. Somente nessa faixa etária, o número de infecção no sexo feminino é maior que entre o sexo masculino. Para Dulce, a vulnerabilidade está entremeada com fatores de ordem social e cultural. A pesquisa mostra que quatro a cada 10 mulheres viveram uma situação de violência e, em 93% das vezes, o agressor era o parceiro afetivo. “As mulheres que sofreram humilhação ou violência psicológica têm dificuldade em negociar o uso da camisinha.” Outra questão que surpreende é que, apesar de a maioria das mulheres associar o sexo ao prazer, 11% veem como um dever. “Elas fazem sexo obrigadas, inclusive nas relações estáveis. É uma limitação da autonomia.” (BS)