segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

"A questão indígena virou caso de polícia"

LUIZ CARLOS AZEDO
Correio Braziliense - 06/01/2014

Entrevista - Marcos Terena

O líder Marcos Terena falou ao Correio sobre a situação dos índios no país. Para ele, a Funai está acéfala, e o governo é despreparado ao lidar com os conflitos

O Planalto prepara mudanças nas regras para a demarcação de terras indígenas; no Congresso Nacional, os ruralistas querem retirar do Executivo essa prerrogativa. Enquanto isso, os conflitos se intensificam, o mais recente em Humaitá (AM), a 675km de Manaus, onde fica a reserva tenharim. Um índio foi morto, três moradores estão desaparecidos e a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi incendiada. Tudo por causa de um pedágio cobrado pelos índios na rodovia que corta a reserva.

Ao Correio, o líder indígena Marcos Terena faz duras críticas ao governo: “O governo não sabe o que está acontecendo, só toma conhecimento depois que explode o conflito”. Segundo ele, a Funai está acéfala, virou obsoleta e não há interlocutores preparados para lidar com conflitos. “Em Humaitá, quem é o negociador? O ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo) mandou a polícia. A questão indígena virou caso de polícia! É a política que o Chile adotou contra os índios mapuche. O governo brasileiro está usando a mesma metodologia.”

Terena concedeu a entrevista por telefone, da aldeia Terena de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, onde nasceu há quase 60 anos. Entrou na Funai como piloto. Foi fundador da União das Nações Indígenas. Na Eco-92, organizou a Conferência Mundial dos Povos Indígenas sobre Território, Meio Ambiente e Desenvolvimento. É o idealizador dos Jogos dos Povos Indígenas e do Festival das Tradições Indígenas.

O que está havendo com os índios? 
A gente precisa analisar a questão por três ângulos: um é o do colonizador clássico, que é conservador e continua retrógrado em relação ao índio do novo milênio; outro, é a visão assistencialista e paternalista do governo brasileiro, que também é conservadora; o terceiro, é a dinâmica natural e progressiva dos povos indígenas, que é quase invisível. Diante das circunstâncias do ser humano, o índio tem transformado as invasões culturais e econômicas — como hidrovias, hidrelétricas, novas cidades e etc. —, que representariam uma catástrofe étnica, em nova perspectiva de luta e sobrevivência. Esse processo está sendo digerido pelos líderes tradicionais, que chamamos de autoridades, e que o sistema colonizador transformou na figura caricata de caciques. São pessoas que muitas vezes nem falam português, vivem na selva, preservam a cultura e estão muito atentas a esse processo.

O que significa a expressão “índio do novo milênio”?
Está nascendo a figura do chamado “índio-doutor”, a nova geração de líderes indígenas, homens e mulheres, que vão à universidade, fazem mestrado e até mesmo doutorado. Ela gerará em cinco anos a autonomia dos povos indígenas. Teremos os índios tribais juntando força com os índios-doutores. Isso começou em Brasília, nos anos 1980. Uma geração e meia depois, estamos próximos de fazer isso acontecer.

Você se considera um líder indígena tradicional ou um “índio-doutor”? 
Eu era um dos líderes dos povos indígenas quando cheguei a Brasília nos anos 1980. A minha função é pensar e montar estratégias do movimento, a partir do conceito: ‘eu posso ser o que você é sem deixar de ser quem sou’.

Mas esse índio-doutor não pode ser cooptado pelo modo de vida do branco? 
O grande cuidado das autoridades tradicionais é que esse “índio-doutor” não se transforme em um veículo da agressão aos direitos indígenas por meio da cooptação. É por isso que a gente promove eventos como os Jogos dos Povos Indígenas. É preciso que o jovem índio aprenda a cultura do seu povo. Ao contrário do sistema academicista, que cobra resultados, ele tem tempo para aprender com o seu próprio modo de vida. Nós estamos conseguindo fazer isso, embora tenhamos alguns casos de jovens que falam muito bem nos seminários, mas não conversam com os caciques para receber conselhos.

Qual a razão da intensificação dos conflitos com os produtores rurais?
Ele é resultado de um dos itens dos três pontos que citei: o assistencialismo e o paternalismo do governo, a falta de uma política indigenista. Não basta colocar a Funai em um prédio bonito. A Funai é o único órgão do governo responsável por 15% do território brasileiro. Nessa área, são faladas 220 línguas, em 330 sociedades distintas. Nenhum povo é igual a outro. O atual governo não vê isso, só enxerga a capacidade hidrelétrica dos rios, a quantidade de ouro que pode tirar. Não vê o ser humano. Mas, em cinco anos, teremos condições de debater essa situação de igual para igual, inclusive com a elite econômica.

Como você explica a situação em Humaitá? 
É o resultado de um quebra galho econômico. Você faz uma estrada na terra dos índios, eles cobram uma taxa: um carro, R$ 20; um caminhão, R$ 50 — alguém falou isso para os caciques. Como as pessoas dependem da estrada, começaram a pagar. É uma situação que provoca revolta dos usuários desse benefício do governo, que é para todos. A mesma coisa acontece com a Estrada de Ferro Carajás, que corta o Maranhão e o Pará. É um acordo de contrapartida. A moeda indígena é outra.

Esse índio do novo milênio será um agente da nova economia verde ou um sobrevivente do extrativismo da velha economia? 
Eu acredito que há uma evolução do mundo. Os indígenas brasileiros participam das negociações do Banco Mundial. A gente percebe uma preocupação com uma nova ordem. A Organização das Nações Unidas, na última Rio+20, propôs a chamada economia verde. E adotou um termo que ninguém sabe bem o que é, só os índios: sustentabilidade. O agronegócio, por exemplo, adota o termo, mas continua fazendo a monocultura de sempre.

Qual o papel da Funai nessa discussão?
Esse debate está chegando: 15% do território brasileiro são terras indígenas. Neles, estão concentrados grandes recursos econômicos do ponto de vista biológico e mineral. Nós sabemos disso, mas com quem vamos debater? Infelizmente, a Funai não se atualizou para esse debate, não se preparou. Por exemplo, lá em Humaitá, quem é o negociador? O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mandou a polícia. A questão indígena virou caso de polícia!

Cadê os nossos indigenistas?
Não existem mais caras como os irmãos Villas-Boas, o Sydney Possuelo e o Apoena Meirelles. Nos últimos cinco anos, a Funai extinguiu os antigos postos indígenas. Se houvesse um lá em Humaitá, não teria ocorrido isso. Teríamos um funcionário da Funai morando na aldeia, falando a língua dos índios, treinado para lidar com aquelas pessoas. A Funai do PT acabou com isso. Há um vácuo que pega o governo toda hora de surpresa. O governo não sabe o que está acontecendo, só toma conhecimento depois que explode o conflito.

O que está acontecendo no Xingu?
Os índios de lá também estão vivendo uma nova fase. Nos Jogos Indígenas, velhos caciques estavam preocupados com o comportamento dos jovens no huka-huka, que é uma luta tradicional e faz parte do ritual do Quarup. É a única luta que não tem juiz, é um cerimonial. Os jovens estão a transformando em briga. Outra coisa ainda mais grave: estão aprendendo a tomar vitaminas para ficar mais fortes. Isso não acontecia antes porque a força física dos xinguanos era natural. Os jovens estão saindo da aldeia para trabalhar nas fazendas, querem dinheiro para comprar celulares e até mudaram o corte de cabelo.

Isso é uma forma de aculturação?
É o que a gente chama de relação intercultural. O velho Aritana, que é o grande símbolo do Xingu, me contou que as ONGs levaram a internet para lá, mas não têm compromisso com a cultura indígena. Esse novo indiozinho vai querer o celular, vai querer a internet. Em um primeiro momento, isso tem até impacto negativo, mas acredito que acabará sendo útil à preservação da cultura. Quando houve o debate na ONU sobre acesso ao novo conhecimento, dissemos que não deveríamos ser considerados um novo mercado, mas isso é inevitável. Darcy Ribeiro escreveu que os índios estavam sofrendo uma “fricção interétnica”, que os levaria ao desaparecimento. Mas isso não aconteceu, o índio está usando essa fricção para encontrar novos mecanismos de resistência.

Os conflitos com produtores são uma forma de fricção violenta?
Já voei muito por Humaitá antes de a Funai destruir sua aviação para terceirizar os serviços e alugar taxi-aéreo. O conflito de lá é parecido com o dos guaranis-caiovás de Mato Grosso do Sul e o dos terena de Aquidauana. Aqui, havia uma fazenda dentro da aldeia, os fazendeiros foram expulsos e levaram suas coisas, pacificamente, mas a Funai não demarcou a terra por causa de pressões políticas. Quando é que vamos ter um índio na presidência da Funai? Quando vamos ter nossos representantes no Congresso? Quando chegaremos ao poder? Como índios, temos que guardar essas informações tribais para fazer um pedaço desse caminho.

Como assim? 
Temos que provocar um debate político com os candidatos à Presidência. Vamos debater com todos. No meio indígena, não existe ideologia de branco, esquerda e direita, existe governo e índios. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos mostrou isso. Ele era o maior companheiro do índio, mas virou presidente e desestruturou a Funai. Quem é que o governo põe para resolver os conflitos? Põe a Força Nacional, que já tem até um departamento de questões indígenas. Quem é que está treinando esses policiais? É preciso abrir esse debate. É no campo das ideias, que queremos debater essas questões.

As grandes cidades e a pobreza das favelas - ALDO PAVIANI

Correio Braziliense - 06/01/2014

Há muitos parâmetros para avaliarmos o grau de desigualdade social em determinado contexto geográfico, mormente nas metrópoles. As grandes cidades são hospedeiras de massas de empobrecidos, no Brasil e nos países emergentes. As favelas possuem velocidade de espacialização muito superior à capacidade de os governantes tomarem providências para minorar as condições adversas desses fragmentos desprotegidos das grandes cidades, por isso são o território dos desvalidos.

Existem notórias e decantadas favelas no Rio, em São Paulo, Salvador e Brasília. No caso do Rio de Janeiro, são referidas Rocinha, Santa Marta, Morro do Alemão e tantas outras. No caso de São Paulo, a favela marginal do Tietê; em Salvador os arredores da Baía de Todos os Santos; em Brasília, as geminadas favelas do Sol Nascente/Pôr do Sol, o Varjão, a Estrutural (as duas últimas elevadas à condição de Regiões Administrativas).

O que esses conjuntos pobres têm em comum? Em todas: habitações “subnormais”, ruas estreitas, becos, falta de esgotamento sanitário, coleta de lixo, de locais de trabalho na proporção dos habitantes. Há carências múltiplas e complexidade social e ambiental. Por isso, as favelas apresentam a crueza da vida nas “comunidades” mesmo sendo objeto de intervenções “pacificadoras”. Com isso, as crianças podem ir à escola, e as pessoas circulam pelo comércio local, deslocam-se para o trabalho, pois a vida continua.

Na questão ambiental, há enorme passivo, pois as favelas estão enquistadas em morros, sujeitas a riscos ecológicos. A cada ano, ocorrem deslizamentos com mortes, destruição de moradias e seus pertences, levados pelas chuvas torrenciais. Nesses episódios, a natureza agredida mostra a fúria devastadora. E as providências tardam, para desgosto dos favelados. Por todas essas agruras, as favelas deixaram de ter o glamour de 60 anos atrás, como na poética, melodiosa e memorável Chão de estrelas, de Sílvio Caldas.

No caso das favelas de Brasília, a matéria publicada na Carta Capital, edição de 18/12/13, com a manchete “Favela federal”, a respeito do Sol Nascente, merece complementação. Indica-se que, em revista semanal, a pressa deveria ser menor para que o jornalista fosse às fontes e apresentasse cobertura mais próxima da realidade. A respeito da matéria, o texto se fixa na observação factual da favela em questão. Descreve, em pormenor, aspectos da ruas sem asfalto, capta algumas imagens e os depoimentos de moradores.

Com mais cuidado, a busca por estatísticas recentes revelaria também dados positivos, o que agrada aos moradores e o que mudou para melhor. Sabe-se que a favela é lugar de carências e dificuldades, que exige maior presença do poder público, com a atuação mais constante do Estado, pelo ente executivo, no caso, o Governo do Distrito Federal. Há medidas em curso para superar, mesmo em parte, as premências acumuladas em mais de dezena de anos. Registre-se que está em curso a regularização fundiária, implantação da rede de esgoto e asfaltamento de ruas. Mas, sobretudo, ações para reduzir a pobreza.

Por fim, anote-se que a favela Pôr do Sol/Sol Nascente, anexada à Região Administrativa de Ceilândia, foi objeto de levantamento da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), com a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad/2013). Nessa enquete, a estimativa aponta que ambas possuem 78.912 habitantes (15,8% a mais que em 2011) e que há, apenas, 2,25% de analfabetos (abaixo da média – 2,56% – das cidades-satélites); 1,79% da população possui curso superior; apenas 0,11% das crianças de 6 a 14 anos não foram alfabetizadas.

No Pôr do Sol/Sol Nascente, há múltiplas dificuldades em razão da rápida ocupação de terras antes devotadas à agricultura por sitiantes. Mas, ao lado das carências, há dados que amenizam a vida dos moradores, como: em 98,59% das moradias, há abastecimento de água. O esgoto está por ser implantado, pois apenas 6,10% dos domicílios estão ligados à rede geral. A coleta de lixo é feita em 55,85% das moradias, mas avançou em relação a 2011, quando apenas havia coleta em 13,39%.

A Pdad indica que a renda domiciliar média mensal equivale à de outros núcleos pobres, o Varjão, com 2,70 salários mínimos e a Fercal, com 3,09 SM. Sabe-se que a renda da maior cidade do DF (Ceilândia) é de apenas 3,70 SM. Em resumo, há núcleos empobrecidos, fruto de décadas de descaso com a distribuição de renda — tarefa do setor público e do empresariado, no DF. Mas o problema é do Brasil, não apenas de Brasília, isto é, tarefa mais ampla, de todos nós.

O Brasil pode dar certo? - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 06/01/2014

A Europa desenvolvida tornou realidade, na metade do século XX, direitos sociais relevantes. Ninguém precisa perder o patrimônio para ser tratado de uma doença séria, ou gastar boa parte de sua renda para se locomover. É isso o que chamo um país "dar certo". Os efeitos não são só materiais. Também explicam por que as pessoas não furam fila nem invadem o acostamento: sabem que há lugar para todos, que a demanda atende à oferta. Não temos isso no Brasil.

Uma discussão do tema, no Facebook, sugeriu que a centro-direita (ou os liberais, como preferem ser chamados) parece mais consciente, do que a centro-esquerda, da premência deste nosso desastre social. Reconhecer um problema é um passo para resolvê-lo. Só que a centro-direita propõe soluções que não levam em conta, ou só levam em conta enquanto obstáculo, não como oportunidade, a complexidade política de implantá-las.

Parte-se da crença de que a economia brasileira está em séria crise. As políticas distributivistas do PT teriam estancado o espírito de iniciativa empresarial. Seria preciso devolver - ou criar - condições para uma forte expansão econômica. As medidas sugeridas reduzem o papel do Estado, aumentam a concorrência, favorecem a contratação de empregados (isto é, favorecem sua demissão: o diagnóstico é que não se contrata por receio da burocracia que cerca o desligamento do funcionário).

Essas análises estão certas, estão erradas? Não discutirei aqui. Mentes brilhantes as endossam. Mas trazem problemas políticos.

O primeiro está no próprio enunciado da questão que coloquei - do que o Brasil precisa para "dar certo". Os liberais acreditam saber o que falta para o País atender à demanda da rua por transporte, educação, saúde e seguranças decentes - mas suas propostas não vão além de fórmulas teóricas. Na política a teoria é necessária, mas insuficiente: o fundamental é construir, politicamente, as medidas que levem numa determinada direção. Explico.

Em 1994, o País estava travado, tanto pela inflação quanto pela indefinição de quem investiria, o Estado ou a iniciativa privada. Tendo domado a inflação graças ao Plano Real, FHC também venceu as resistências à privatização. Poderia ela não ser a melhor solução, certamente não era a única, mas foi a que ganhou apoio político. Já em 2002, o descontentamento com a desigualdade social permitiu que Lula mudasse o rumo de nossa política. Nos dois casos, houve demanda e liderança políticas. Mas hoje, quando nossos liberais propõem reformas econômicas para resolver sérios problemas sociais, não as traduzem em linguagem política. Ficam na teoria. Daí que lhes seja fácil responder a uma pergunta como a minha, às vezes até ironizando sua suposta ingenuidade, mas que não consigam fazer a teoria deles passar à prática. O problema é que, na política, a melhor teoria vale pouco, se não trouxer resultados.

O segundo problema é que a pasta dental não volta para dentro do tubo. Desregulamentar o mercado de trabalho para fazê-lo crescer causa desconfiança. Como convencer as pessoas de que terão mais e melhores empregos, se não tiverem garantia nenhuma deles? A inclusão social dos últimos anos, embora tenha se dado mais pelo consumo do que pela educação ou cultura, trouxe exigências irreversíveis. Pelo menos enquanto estiver no horizonte o consumo dos bens de consumo necessários (o iogurte de FHC, a geladeira de Lula etc.), não há condições políticas de sustá-lo. Haja China para nos exportar tudo isso, a preço que os ex-miseráveis possam pagar... Mas dificilmente alguém ganhará uma eleição sem aumentar o consumo, o que significa ampliar o crédito ao consumidor, o que implica ir na contramão do que os liberais pregam. Não interessa aqui se eles têm razão ou não; o ponto é que seu discurso não terá apoio político.

Política não é ter razão. Aliás, hoje a centro-direita acredita estar certa e se irrita porque os eleitores não votam nela; só que, vinte anos atrás, era o PT que se sentia assim. Recordar é viver.

Mais um problema. As demandas que hoje prevalecem são sociais, mas as propostas das oposições são essencialmente econômicas. O que é lógico, se elas consideram que a economia está em frangalhos e não sustentará nem o que existe, quanto mais uma expansão do gasto (ou investimento) social. Mas a economia é, quando muito, um meio, enquanto construir uma sociedade justa é um fim, o mais importante dos fins que nos podemos propor. Em especial, não se percebe que, como o cobrador do conto homônimo de Rubens Fonseca, estamos cansados de esperar, e os mais pobres mais que todos nós. Se alguém disser que, para se chegar à elementar justiça social, será preciso dar uma longa volta - seja pelo estatismo, seja pelo neoliberalismo - dificilmente ganhará a confiança do eleitorado. Estamos fartos de desvios que acabaram se eternizando.

Talvez por isso as pesquisas, que mostram a maior parte da população sequiosa de grandes mudanças, não beneficiem a oposição. (O governo é o favorito, não só pelo balanço de uma inclusão social que se realizou sem custos para as classes abonadas, como por ter oposições menos atentas do que deveriam à realidade social). Mas pode ser que em 2014 algum candidato a governador inove, propondo em termos concretos e confiáveis uma agenda que contemple transporte, saúde, educação e segurança públicos. Ou em 2016, alguns candidatos a prefeito despertem para as reivindicações populares. Penso que serão excepcionais: isto é, poucos em quantidade e altos em qualidade. Mas poderão renovar o panorama político brasileiro.

TeVê

TV PAGA » Pelo mundo 

 
Estado de Minas: 06/01/2014
 (GNT/Divulgação)


O ano começa efetivamente hoje para a maioria das emissoras. O canal GNT, por exemplo, abre sua programação de verão com o Superbonita, às 21h30. Nesta curta temporada Luana Piovani vai percorrer o país para descobrir como as mulheres cuidam da beleza durante a estação, dependendo da cultura local. Às 22h30 estreia o Além da conta, com Ingrid Guimarães (foto) mostrando as loucuras de consumo que os brasileiros fazem durante viagens internacionais, começando a série de oito episódios por Nova York.

Pode viajar, mas saiba  como evitar prejuízos

No NatGeo, a novidade é a estreia da segunda temporada de Capitais do delito, às 19h30. A produção faz um alerta para as ações de golpistas que desenvolveram habilidades para pegar carteiras, vender relíquias falsas e fazer ofertas duvidosas a suas vítimas. A missão cabe a Conor Woodman, que usa câmeras escondidas em suas incursões por Nova York e Nova Orleans, Londres, Amsterdã, Cidade do México e Mumbai para revelar os golpes antes mesmo de acontecerem.

Não confunda Ax men  com os heróis X-men

O canal A&E parte para uma maratona da série Obsessivos compulsivos, de hoje a sexta-feira, sempre às 16h, começando com dois casos sobre pessoas que guardam objetos inúteis, o chamado “colecionismo”, um transtorno mental marcado pela necessidade obsessiva de adquirir e acumular de tudo. No canal History, outra maratona, mas com seis episódios inéditos em sequência que vão marcar o fim de temporada de Ax men, hoje, a partir das 18h15.

Os Simpsons dominam a programação da Fox

O canal Fox também faz uma espécie de maratona, que prefere apresentar como a “Retrospectiva amarela”. Ou seja, a emissora mais uma vez vai emendar seis episódios da série de animação Os Simpsons, diariamente, de hoje a sábado, das 20h às 22h30, reunidos sob os temas: “Amor em Springfield”, “Convidados especiais”, “Halloween amarelo”, “Os amores de Bart”, “Volta ao mundo com Os Simpsons” e “Os Simpsons no mundo pop”.

Comédia, ação e drama no pacotão de cinema

No pacotão de filmes também tem maratona, mais especificamente no Universal Channel, com uma seleção de comédias: Chumbo grosso (18h), Zumbilândia (20h), O pior trabalho do mundo (21h30) e A filha do chefe (23h30).

Na Cultura, a Mostra Internacional de Cinema reservou para hoje, às 22h, o longa Tony Manero, do chileno Pablo Larraín.

No Telecine Premium, também às 22h, estreia Amor em Middleton, com Vera Farmiga e Andy Garcia.

Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Dúvida, no Studio Universal; Duro de matar – Um bom dia para morrer, no Telecine Pipoca; Operação fim de jogo, no Cinemax; O vigarista do ano, na MGM; Um homem de sorte, na HBO; e O Besouro Verde, na HBO HD.

 Outras atrações da programação: Crepúsculo, às 19h30, no Megapix; Call girl, às 21h30, no Max; e Hancock, às 22h30, na Fox.

CARAS E BOCAS » Em dois tempos






Cauã Reymond está em Amores roubados (com Dira Paes), que estreia hoje na Globo, e na reprise de Malhação (destaque), no Viva (Estevam Avellar/Globo)
Cauã Reymond está em Amores roubados (com Dira Paes), que estreia hoje na Globo, e na reprise de Malhação (destaque), no Viva

Se tem muitas atrações inéditas na telinha neste começo de ano, as novidades se estendem também a oportunas reprises, como as que o canal Viva costuma promover quase que semanalmente. E hoje logo com duas ótimas surpresas. Para começar, a reprise da nona temporada de Malhação, exibida originalmente pela Globo em 2002 e que volta agora na TV paga, na faixa das 14h30. Já à noite, às 23h10, será a vez da minissérie O quinto dos infernos, também de 2002. Uma curiosidade é conferir as atuações de artistas em início de carreira, como Juliana Silveira e Henri Castelli (Malhação) e Luana Piovani e Marcos Pasquim (O quinto dos infernos). Ou comparar o novato Cauã Reymond de Malhação com o galã conquistador de Amores roubados, que estreia hoje, às 22h15, na Globo.

Documentário lembra  a saga de Luiz Gonzaga

Por falar em TV por assinatura, o Canal Brasil exibe hoje, às 22h, na sessão É tudo verdade, o documentário O milagre de Santa Luzia. Dirigido por Sérgio Roizenblit em 2009, o filme faz referência ao ícone Luiz Gonzaga, nascido no dia de Santa Luzia (13 de dezembro) e batizado com seu nome. A homenagem se justifica pelo sucesso do “Rei do Baião”, que abriu as portas da indústria fonográfica para a música regional.

André Vasco faz hoje sua  estreia na Bandeirantes

Além de Quem quer casar com meu filho?, que vai cobrir as férias do CQC, a Bandeirantes estreia hoje, às 15h50, o game show Sabe ou não sabe?, comandado por André Vasco, que surgiu na MTV e passou por outras emissoras, como o SBT, onde apresentou o programa Qual é o seu talento?.

Mateus Solano está em  toda lista dos melhores

Ainda repercutem as listas dos melhores e piores na TV em 2013. Como não poderia deixar de ser, existem
diferenças, mas as coincidências proliferam, como a indicação de Mateus Solano entre os grandes nomes das novelas, pelo papel de Félix, em Amor à vida, na Globo. Uma das listas mais recentes é a do blog FabioTV, que pode ser acessado no endereço www.fabiotv.zip.net.

O cerco está se fechando contra a diabólica Aline

Por falar no vilão de  Amor à vida (Globo), nos próximos capítulos vai cair a casa é de Aline (Vanessa Giácomo). Depois de sofrer uma queda
feia e ficar em coma, Ciça (Neusa Maria Faro) vai acordar e contar tudo o que sabe sobre a malvada. Cada vez mais desconfiada de Aline, a médica Paloma (Paolla Oliveira) vai esperar a enfermeira se recuperar para questionar se a queda foi armada. Conversa vai, conversa vem, e Paloma acaba ouvindo da enfermeira sobre uma cova no jardim. É ali que está enterrado o corpo de Mariah (Lúcia Veríssimo), morta por Ninho (Juliano Cazarré) a mando de Aline.


Para aprender brincando

Apesar de meio perdido na grade da Rede Minas, inserido aqui e ali entre tantas atrações infantis, o programa O teco teco é uma das mais curiosas produções no ar atualmente. A dupla formada pelo inventor Cascudo e pelo personagem Betinho roda o mundo em busca de histórias interessantes, como no episódio desta segunda-feira. Vale destacar a atuação do ator baiano Bertrand Duarte, na pele do inventor aventureiro. Filho de uma capitã de navio, Cascudo cresceu navegando pelos sete mares. Foi a partir daí que, mais tarde, já maiorzinho, colocou a mochila nas costas para conhecer os quatro cantos do planeta. Hoje ele vai mostrar o Museu da Maré, enquanto um menino fala sobre seu blog de ciências. A produção vai ao ar também pela TV Brasil (canal 65 UHF).


VIVA

O programa Breve história, da Rede Minas, focaliza hoje, às 22h30, o cenógrafo Paulo Pederneiras, do Grupo Corpo


VAIA

Para a raiva exagerada de quem se diz ofendido pelo humor de Fábio Porchat e o Porta dos Fundos. É só piada, gente! 

Gigante da canção - Ângela Faria

Gigante da canção 
 
Morre aos 66 anos o cantor mineiro Nelson Ned, autor de Tudo passará. Com 45 milhões de discos vendidos, artista superou preconceitos e conquistou o mercado internacional 
 
Ângela Faria
Estado de Minas: 06/01/2014


Nelson Ned em diferentes momentos da carreira: do  jovem prodígio ao cantor das multidões (Arquivo pessoal/ Reprodução Túlio Santos/EM/D.A Press)
Nelson Ned em diferentes momentos da carreira: do jovem prodígio ao cantor das multidões

Com 45 milhões  de discos  vendidos, artista superou preconceitos e conquistou o mercado internacional (Arquivo pessoal/ Reprodução Túlio Santos/EM/D.A Press)
Com 45 milhões de discos vendidos, artista superou preconceitos e conquistou o mercado internacional

Nelson Ned em diferentes momentos da carreira: do  jovem prodígio ao cantor das multidões (Arquivo pessoal)
Nelson Ned em diferentes momentos da carreira: do jovem prodígio ao cantor das multidões

Seu vozeirão conquistou muitos fãs, até mesmo o colombiano Gabriel García Márquez, que chegou a declarar que escrevia ao som da voz do cantor. Com seu 1,12m, ele cantou nos quatro cantos do mundo e vendeu 45 milhões de discos. Portador de displasia espôndilo-epifisária, decorrente de mutação genética, jamais se rendeu ao bullying. Enfrentou o preconceito pelo gênero escolhido para mostrar seu talento: a canção romântica popular. Mineiro de Ubá, onde nasceu em 2 de março de 1947, Nelson d’Ávila Pinto, mais conhecido como Nelson Ned, morreu na manhã de ontem, aos 66 anos, no Hospital Regional de Cotia (SP), em decorrência de choque séptico, broncopneumonia e acidente vascular cerebral.

Em 2003, o cantor e compositor havia sofrido um AVC. Perdeu a visão de um olho e precisava se locomover em cadeira de rodas. Tinha diabetes, hipertensão e foi diagnosticado com mal de Alzheimer em fase inicial. O corpo será cremado hoje no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo.

Nelson Ned foi o primeiro latino-americano a vender 1 milhão de discos nos Estados Unidos, onde se apresentou junto com o espanhol Julio Iglesias e o americano Tony Bennett. Por três vezes lotou o Carnegie Hall, a mítica casa de shows de Nova York. Também se apresentou no famoso Madison Square Garden. Evangélico desde os anos 1990, passou a gravar temas religiosos em discos lançados nos mercados brasileiro, norte-americano e hispânico.

O jornalista Paulo César Araújo, autor do livro Eu não sou cachorro não, afirmou que Nelson Ned era sagaz em relação ao mercado fonográfico. “Ele tinha visão crítica e lúcida com relação ao contexto da música. No Brasil, sempre fez muito sucesso entre as camadas mais populares, mas não dá dúvida de que seu reconhecimento e prestígio foram muito maiores no exterior.”
Do ator Paulo Gracindo o cantor mineiro ganhou o apelido que o consagraria: Pequeno Gigante da Canção. “O começo foi muito difícil para mim, pois o Brasil estava acostumado a só ver anão fazendo show em circo ou pegando alguma ponta em programa humorístico de televisão. Foi muito difícil provar às pessoas que sou pequeno e canto bem, assim como o Ray Charles e o Stevie Wonder são cegos e também cantam”, afirmou Nelson em sua autobiografia, O pequeno gigante da canção. Ele gravou 32 discos. Era ídolo no México, Colômbia, Argentina, Espanha, Portugal, Angola, Luanda e Moçambique, entre outros países. Tudo passará teve 40 regravações em vários idiomas.

Chacrinha Nos anos 1960, Nelson Ned morava com a família em BH, vindo de Ubá. Apresentou-se em programas de auditório nas rádios Guarani e Inconfidência e na TV Itacolomi. Em 1963, mudou-se para o Rio de Janeiro. Peregrinou por rádios, TVs e gravadoras, contou com o empenho de Chacrinha para divulgar seu trabalho até estourar com Tudo passará em 1968.
No Brasil, o mineiro fazia sucesso no programa do Chacrinha e nas rádios populares. Era tratado com desdém pela crítica brasileira, enquanto no exterior despontava como top do showbusiness. Em 1976, interrompeu a carreira por causa de um descolamento da retina. Em meio ao desespero e à dor num hospital norte-americano, tornou-se evangélico.

Em sua autobiografia, Nelson fala do sucesso, da mudança para os Estados Unidos, da fortuna e do envolvimento com mulheres, além de bebidas e drogas. Em 1988, o cantor frequentou as páginas policiais: a mulher, Cida, segundo ele, sofrera acidente com arma de fogo na residência do casal, na capital paulista. Nelson nega ter atirado nela, mas foi processado. Parou de beber e de cheirar cocaína, mas voltou aos vícios. Só se livrou dos tormentos no fim dos anos 1990. Em 2003, sofreu o AVC que interrompeu sua carreira. Perdeu a fortuna e contou com os cuidados dos irmãos Ned Helena, Nélia, Nedson, Neuma, Neyde e Nelci. O cantor foi casado duas vezes e deixou três filhos: Monalisa, Verônica e Nelson Jr.

Ubá Ano passado, o cantor ganhou homenagem em Ubá. O Memorial Nelson Ned abriga pequeno acervo alusivo à carreira dele. “O Brasil perdeu um de seus grandes poetas e compositores. Esse artista levou o nome de Ubá, de Minas Gerais e do Brasil para o mundo”, afirma o pesquisador João Carlos Teixeira Mendes, de 55 anos, responsável pela festa para o conterrâneo.

Cunhado do cantor, Rubens Pereira ressalta a cordialidade, gentileza e generosidade dele com a família. “Nelson ajudou a muita gente, mas não gostava de divulgar isso. Vê-lo cantar, com toda aquela emoção, sempre foi uma alegria para os fãs. Morre o homem, mas não o artista, porque a obra dele vai ficar para sempre”, conclui. (Colaborou Walter Sebastião)


Palavras do cantor

"Quando virei evangélico, era muito depravado, bebia muito, usava muita droga e tinha muitas mulheres. E aí Deus falou comigo de madrugada. Porque Deus fala com a gente é de madrugada: ou você muda, ou vou tirar você daqui. Então eu
resolvi mudar.”

“A coisa que mais sinto falta de Minas é a comida. Eu amo
o Brasil. Eu amo
Minas Gerais
e eu amo Ubá.”

“Conheço o mundo inteiro. Viajei muito. Mas gosto mesmo é de Miami. Foi lá que minha carreira internacional começou. Mas pra mim já está bom. Tá na
hora de sombra e
água fresca.”

“Tenho saudades de mim mesmo.”

Nelson Ned em sua última
entrevista, ao Estado de Minas, em 7 de dezembro de 2013

Festival Música nas Montanhas chega à 15ª edição em Poços de Caldas

Clássicos no verão 
 
Festival Música nas Montanhas chega à 15ª edição em Poços de Caldas. Evento, que vai até dia 18, tem concertos programados em vários espaços da cidade, com entrada franca 

 
Walter Sebastião
Estado de Minas: 06/01/2014

Criador do festival, Jean Reis destaca oportunidade que os jovens têm de tocar em uma orquestra. Evento reúne mil estudantes de todo o país (Leko Machado/Divulgação)
Criador do festival, Jean Reis destaca oportunidade que os jovens têm de tocar em uma orquestra. Evento reúne mil estudantes de todo o país

Concerto todos os dias, com convidados internacionais, alunos e professores de música. É a 15ª edição do Festival Música nas Montanhas, que começou ontem e vai até o dia 18, em Poços de Caldas. O evento cresceu ao longo do tempo, reúne cerca de 1 mil estudantes de música e vai se tornando referência entre os festivais de verão do Brasil. “Nosso interesse não é ser o maior. O desejo é criar o melhor ambiente possível para o estudo e audição da música. Nosso compromisso é com a qualidade, não com a quantidade”, avisa o maestro Jean Reis, de 53 anos, criador do evento e diretor artístico do festival desde a primeira edição.

Música nas Montanhas tem convidados brasileiros e de outros países, que atuam como professores, além de apresentar concertos regidos por Jean Reis, Leon Burke e Jorge Peréz-Gòmez. Mas o orgulho do diretor são os grupos formados com alunos. Como as quatro orquestras sinfônicas, que preparam quatro programas. Acrescente-se uma banda sinfônica e uma orquestra de cordas. E três coros: um sinfônico, um de crianças e outro da terceira idade. As apresentações são em vários locais e horários, desde o Teatro da Urca, palco dos grandes concertos, até hospitais, creches e asilos. “São programações especiais, porque os grupos são formados por alunos selecionados pela alta qualidade”, garante o maestro.

O maestro chama atenção para o bom entrosamento entre artistas, plateias, estudantes e a cidade de Poços de Caldas, construindo um ambiente de aprendizado e apreço pela música. “O que é importante, já que a leveza nos relacionamentos colabora para que se faça boa música. Quando há interação entre os instrumentistas, quando o público percebe que há interesse dos participantes em tocar junto, entende melhor que o que está sendo apresentado: é música genuína”, define. O maestro enfatiza o conjunto da programação, mas observa que o modo como os pianistas Flávio Augusto (que vai tocar Liszt e Rachmaninoff) ou o russo Guigla Kapsarava (que vai interpretar concerto de Tchaikovsky), articulam expressividade e competência técnica faz deles artistas singulares.

Jean Reis é mestre em música pela Andrews University e em regência orquestral e violino pela University of Redland. Foi violinista de várias orquestras no Brasil e nos Estados Unidos, regeu grupos na Áustria, França e Argentina, além de atuar como professor convidado de festivais. É o fundador e diretor musical de mais cinco festivais: São Paulo, Maranguape (ES), Lages (SC), Bagé (RS) e Andradas (MG).

Festival MÚsica nas Montanhas

Concertos todos os dias, até 18 deste mês, em Poços de Caldas.
. Teatro da Urca, às 20h30, com convidados do festival e grupos formados durante o evento.

. Primeira Igreja Batista e Teatro da Urca, às 18h, com alunos de nível intermediário.

. Casa de Cultura de Poços de Caldas, dia 11, às 17h; dia 12, às 19h; e dia 18, às 17h.

. Entrada franca. Informações: www.festivalmusicanasmontanhas.com.br

três perguntas para...

Jean Reis
diretor do Música
nas Montanhas


1 Qual a importância e o papel dos festivais?
Festival é o encontro da música. Oferece para os alunos possibilidade de tocar com instrumentistas de outros locais, às vezes em grupos grandes, o que muitos não têm em suas cidades, com repertório significativo que eles não podem tocar sozinhos. É experiência, reciclagem, acesso a professores muito qualificados. Os festivais trazem ainda para as cidades que os abrigam programação intensa, que só existe nos grandes centros. É dose nada homeopática de música.

2 Como você avalia a infraestrutura de espaços para concertos no Brasil?
A situação é muito desigual. Tem cidade que tem teatro e não tem música. Outras têm música e não têm teatro. Há lugares em que os espaços não comportam o público, que é grande; e existem espaços que ficam vazios, porque a programação não desperta interesse. Na minha opinião, o essencial é ter programação que justifique a existência de um teatro. Já vi cidades que queriam comprar os instrumentos antes de ter quem se interessasse em tocá-los. O importante é ter, primeiro, gente que queira estudar música e, depois, os instrumentos.

3 Qual o desafio para quem cria ou administra festivais?
O mesmo posto a todo empreendedor: conseguir orçamento adequado ao projeto. Às vezes fazemos milagres com o que conseguimos.

Eduardo Almeida Reis-O abade está certo‏

O abade está certo 
 
Nos restaurantes, o carro pega na instalação e na reposição de estoque. Você vende bem num fim de semana e cai na real ao fazer a reposição da segunda-feira 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/01/2014




O Colégio São Bento, di-lo o Enem, é o melhor do Rio. Dom Felipe da Silva, alagoano, técnico agrícola, é o abade do Mosteiro de São Bento há um ano e exclui a ideia de admitir meninas em seu colégio, informando que os alunos não têm queixas: “Eles são felizes aqui. São muito amigos. Não pensam em meninas”.

Realmente, o mundo caminha no sentido de meninos que não pensam em meninas e de meninas que não pensam em meninos, como previ (tenho testemunhas) há mais de meio século, ao defender a tese de que homem deve casar com homem e mulher com mulher. Baseei esse alto philosophar no seguinte: não há homem que aguente as oito vezes que sua mulher troca de vestidos e sapatos, perguntando se está bem, antes de sair para uma festa. Como também não há mulher que entenda marido que se levanta de madrugada para assistir às corridas de Fórmula 1. São duas situações entre os muitos descompassos dos casamentos à moda antiga, aqueles de homem com mulher.

No casamento unissex, nada impede que alguns homens procurem mulheres fora do matrimônio e que mulheres, felizes na convivência com suas companheiras, procurem homens para curtir as tardes nos motéis.

Volto ao abade Felipe da Silva para constatar que os meninos do São Bento, no tempo de antigamente, pensavam em meninas. Tenho bom e velho amigo, cristão-novo, que foi aluno do São Bento e desde então não pensa em meninas: se alimenta delas, desde que maiores de idade. Não posso entrar em detalhes, porque sei que sua mulher me lê, mas o homem é fera. Não pode ver saia e o que nela se contém, como também não pode ver calça comprida, desde que vestindo senhoras e senhoritas.

Recuerdos


O dia começou com a notícia de que o Sr. Saatchi, 70, foi visto num restaurante de luxo tentando esgoelar sua mulher, Nigella Lawson, 54, a linda inglesa, de inglês perfeito, que dá aulas de culinária na tevê. À noite tive o Boni e o Ricardo Amaral, no Jô, caitituando o guia de restaurantes que acabam de publicar.

Claro que sonhei com restaurantes. Se sonhasse com o meu teria um pesadelo, mas sonhei que estava instalando um estabelecimento dedicado a servir refeições, a inauguração seria naquele mesmo dia e ainda faltava comprar uma porção de coisas.

Aí é que está: nos restaurantes, o carro pega na instalação e na reposição de estoque. Você vende bem num fim de semana, acha que vai ficar rico e cai na real ao fazer a reposição da segunda-feira. Num acesso de loucura, como já lhes contei, comprei churrascaria e posto de gasolina em Itaipava, às margens da BR-3, hoje BR-040.

Posto inviável, porque na saída de uma curva muito perigosa. Churrascaria horrível por culpa do novo dono, que se perguntava: “Como posso ter um restaurante em que não gosto de comer?”. Havia fregueses que gostavam e vinham do Rio para almoçar os meus churrascos. Um deles, diretor de arte do grupo Bloch, trazia sua família todos os sábados.

Ao contrário do que se possa imaginar, restaurante é o tipo do negócio muito complicado. Isso explica o número espantoso de estabelecimentos que abrem e fecham sem deixar saudades ou notícias. O meu foi transformado em funerária. Fazia sentido: a comida era de matar e a curva, perigosíssima.

Trombadas

No programa Linha de chegada, entrevistado pelo jornalista Reginaldo Leme, Nelson Piquet falou da trombada que deu na curva Tamburello, onde mais tarde morreu Ayrton Senna. Em seu acidente, Piquet bateu de lado com a cabeça e contou ao jornalista que nunca mais foi o mesmo, passou a dormir mal, perdeu como piloto uma fração de segundo por volta.

Mal comparando, é o que acontece com um sujeito que passa dois ou três dias numa UTI. Se o piloto, no acidente, talvez não tenha tempo de pensar na morte, o paciente de UTI tem tempo de sobra durante e depois. E a sensação, creia o preclaro leitor, não é tão agradável como pensar em uma semana de férias em Fortaleza almoçando e jantando lagostas.

Mesmo que a lagosta não me ame, como disse o empresário Olacyr Moraes, ex-rei da soja. Idoso, sempre cercado por belas mocinhas, quando um repórter perguntou: “Dr. Olacyr, o senhor acha mesmo que essas garotas gostam do senhor?”, o empresário respondeu: “Meu amigo, eu gosto muito de lagosta, vou a um restaurante e peço um prato dessa iguaria. Eu não pergunto se a lagosta gosta de mim. Simplesmente como e pago”.

O mundo é uma bola

6 de janeiro de 353: último ano em que é celebrado pelos católicos o nascimento de Cristo no dia 6. Os ortodoxos continuam a comemorar nesta data. Em 1502, descoberta a Baía de Angra dos Reis pela expedição de Gonçalo Coelho. Recebe o nome em homenagem à visita dos Três Reis Magos ao menino Jesus, comemorada nesse dia.
Belchior, Melchior ou Melquior, Baltazar e Gaspar não seriam reis necessariamente três, mas sacerdotes da religião zoroástrica da Pérsia, ou conselheiros. Diz-se três pela quantidade de presentes oferecidos. Não há relatos bíblicos sobre o nome dos magos.
Hoje é o Dia de Reis.

Ruminanças


“A filosofia é o exílio voluntário entre montanhas geladas” (Nietzsche, 1844-1900).

Batalha mutante contra o HIV‏ - Bruna Sensêve

Batalha mutante contra o HIV 
 
Ao mesmo tempo em que registra aumento no número de infectados, Brasil adota tratamentos de ponta e impulsiona o combate à Aids entre os países da América Latina 

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 06/01/2014


Mais de 35 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV no mundo, anunciou, no fim de 2013, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O número de novos casos caiu 33% nos últimos anos, de 3,4 milhões em 2001 para 2,3 milhões em 2012. Na mesma direção, o número de mortes reduziu de 2,3 milhões em 2005 para 1,6 milhão no ano passado. Na contramão dessas taxas, o Brasil amarga um aumento no número de infectados. Em 2011, foram registrados 38.776 casos, o maior desde a descoberta da doença, segundo o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.

A perigosa estabilidade é observada nos três anos anteriores: 37.359, 38.188 e 38.529, respectivamente. O número de óbitos também encontrou ameaçador equilíbrio, com cerca de 12 mil mortes pela doença desde 2009. A taxa só é menor que a registrada em meados da década de 1990, antes de o coquetel de antirretrovirais ser oferecido no atendimento público de saúde. Os dados não chegam a anunciar uma segunda epidemia da doença, apesar de se aproximarem dos números que causaram tanta comoção na época em que a Aids eclodiu no mundo ocidental.

 “Em alguns meios artísticos, por exemplo, as pessoas perdiam alguém conhecido praticamente de três em três meses”, conta Edgar Hamann, professor e médico do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB). Mas o especialista desconfia que haja, no Brasil, um processo de banalização da doença, fenômeno também observado em países europeus. “As pessoas pensam: ‘Agora estão sobrevivendo, estão bem’. Então, acham que a Aids é curável, o que não é verdade.”

A mudança de mentalidade é vista como um retrocesso pelo médico, pois pode ter motivado uma queda no uso de preservativos, já constatada em pesquisas com jovens. “A gente não pode ver isso como um fenômeno individual. A pessoa está se descuidando porque não sabe, porque não procura se interar ou porque não está entendendo bem? Não é nenhuma dessas respostas. Normalmente, são atitudes que por baixo têm uma partilha, uma concessão de um grupo”, analisa o professor.

Epidemia concentrada Diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita considera a “nova interpretação” sobre a Aids controversa. “Precisamos ter um mecanismo de esclarecimento de que o medicamento é bom, tem eficiência e pode tornar a doença uma condição crônica controlável, mas o melhor é não tê-la.” Segundo Mesquita, o Brasil nunca esteve sob uma epidemia da doença que fosse considerada generalizada. Entre as três gradações usadas para a classificação internacional, o país sempre esteve em um estágio intermediário, chamado de epidemia concentrada.

“Ela é associada principalmente à população de alto risco, mas não só”, explica. A epidemia generalizada é vista em regiões como a África Subsaariana, onde mais de 1% da população tem o HIV. “O Brasil nunca teve esse perfil da epidemia. Embora tivesse avançado bastante, (a doença) nunca tomou essa dimensão”, garante.

O mundo também observa um ressurgimento da infecção causado por comportamentos de risco, aumentado entre homens que fazem sexo com homens em vários cidades europeias. Em Amsterdã, por exemplo, foi relatado um aumento de 68% no comportamento sexual de risco entre esses homens – apesar das altas taxas de testes de HIV e acesso à terapia antirretroviral.

Esse fenômeno mostra sinais em terras brasileiras desde 2008, ano em que o número de homens infectados expostos por relação com outros homens era de 3.120. Nos três anos seguintes, subiu para 3.386, 3.678 e 3.709, respectivamente. Ainda assim, as maiores taxas de infecção desde os anos 2000 permanece entre a população heterossexual, especialmente mulheres. Essa é a forma de exposição que mais levou brasileiras a adquirirem o HIV – uma média de 90% das infecções no sexo feminino desde que o vírus surgiu no país.

Esforço regional Apesar dos números intrigantes, o Brasil tem posição de destaque na América Latina e no Caribe quanto à garantia de acesso ao tratamento contra a Aids. O país está entre as sete nações que alcançaram uma cobertura universal (maior de 80%). As outras são Argentina, Barbados, Chile, Cuba, Guiana e México, de acordo a Organização Mundial da Saúde e Organização Pan-americana de Saúde (OMS/OPAS). Segundo Monica Alonso, conselheira da OMS/OPAS para HIV e Doenças Sexualmente Transmissíveis, o Brasil é um dos líderes da região quanto ao acesso à medicação antirretroviral, e caminha para políticas que permitirão a intervenção mais precoce contra o vírus. “Melhorias no Brasil têm um impacto nas figuras regionais sim. No entanto, há uma direção comum de todos os países da região.”

Para Monica, a América Latina e o Caribe contam com um forte apoio político para o HIV, bem como as redes da sociedade civil. “Um exemplo disso é o Grupo de Cooperação Técnico Horizontal, em que os chefes dos programas nacionais de HIV trocam informações e discutem ações para uma resposta mais articulada na região.” Os números referentes a 2012 representam uma melhoria de 10% em comparação aos coletados dois anos antes pela instituição. Em dezembro de 2012, 725 mil pessoas recebiam antirretrovirais na região, ou 75% do total estimado com necessidade de tratamento.

Já na primeira vez

Quase 6 mil alunos de 12 a 17 anos de 64 escolas de todo o país participaram da pesquisa Este jovem brasileiro entre 16 de abril e 30 de agosto. Ao comparar os dados de anos anteriores, os pesquisadores perceberam um aumentou do número de jovens que não usam preservativo. Em 2006, 78% dos que responderam ao questionário on-line tinham usado camisinha na primeira relação sexual e 61% diziam usá-la sempre. Em 2013, as proporções caíram para 71% e 54%, respectivamente.



Saiba mais

Diversidade infecciosa

A África Subsaariana continua a ser o continente mais afetado pelo HIV, com uma prevalência geral entre os adultos de até 31% na Suazilândia, 25% em Botsuana e 17% na África do Sul, onde a infecção se tornou hiperendêmica. Mas, mesmo dentro de um país, a prevalência da infecção pelo vírus varia conforme o local e o grupo de risco. Na Suazilândia, por exemplo, 54% das mulheres com 30 a 34 anos têm a doença. Em 2010, a prevalência de infecção pré-natal por HIV na África do Sul variou de 18,4% na província de Northern Cape para 39,5% em KwaZulu Natal. Homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, caminhoneiros, pescadores e militares são mais afetados proporcionalmente em todo o mundo.

O Ártico está mais verde, e isso é mau sinal‏

O Ártico está mais verde, e isso é mau sinal
Derretimento do Polo Norte provocado pelo aquecimento global aumenta a cobertura vegetal, mas plantas não conseguem compensar volume de carbono liberado durante a perda do gelo 
 
Estado de Minas: 06/01/2014


Ursos-polares perto da tundra que nasce no Ártico: verões curtos   fazem com que sequestro de CO2 pelas plantas seja pequeno (Steven C. Amstrup/Divulgação - 14/12/10)
Ursos-polares perto da tundra que nasce no Ártico: verões curtos fazem com que sequestro de CO2 pelas plantas seja pequeno

O aquecimento do planeta tem proporcionado um efeito paradoxal no Ártico: a vegetação está florescendo. Contudo, especialistas alertam que o verde que salpica a paisagem branca não deve ser visto como motivo de comemoração nem como um indicativo de que o aumento na temperatura global não é tão ruim quanto se diz. Segundo pesquisadores da Universidade da Flórida, a cobertura vegetal decorrente das mudanças climáticas é insuficiente para compensar a quantidade de carbono liberada com o derretimento do permafrost, a camada congelada abaixo da superfície. Nesse nível do Ártico, há o dobro de CO2 armazenado, comparado com o que circula na atmosfera.

“O que acontecerá quando o permafrost derreter, lançando gases de efeito estufa que podem aumentar ainda mais a temperatura, é uma questão-chave”, diz Ted Schuur, diretor da Rede de Carbono do Permafrost e do Laboratório de Dinâmicas do Ecossistema da Universidade da Flórida. Depois de três anos estudando o primeiro modelo que simula os efeitos do aquecimento global sobre o permafrost, a equipe de Schuur apresentou os resultados da pesquisa em um artigo publicado na revista Ecology.

De acordo com ele, em princípio, o aumento do calor na região parece favorecer o ambiente. “Se você olha para o equilíbrio entre o que as plantas estão fazendo e o que o solo está fazendo, de fato a vegetação compensa tudo o que vem ocorrendo sob a superfície. A vegetação está crescendo mais rapidamente, ficando maior e sequestrando o carbono do ar”, diz. “Sob a perspectiva das mudanças climáticas, essa é uma coisa boa: a tundra compensando qualquer CO2 que seja liberado do solo”, reconhece. O problema, contudo, é que, no Ártico, os verões são muito curtos. O efeito positivo, portanto, passa muito rapidamente e não compensa os estragos que vêm sendo observados no subsolo da região.

Nos extremos polares, o permafrost – que está congelado permanentemente a muitos metros de profundidade há dezenas de milhares de anos – é muito vulnerável ao aquecimento global. “Nós continuamos a medir as emissões de carbono no inverno, e o que acontece é que as plantas perdem as folhas, ficam dormentes, mas os micróbios continuam a consumir o solo, liberando uma quantidade de carbono que anula qualquer benefício obtido no verão”, observa Schuur.
Os cientistas estimam que entre 20% e 90% do depósito de CO2 orgânico no permafrost pode ser decomposto por micróbios, que o convertem para gases de efeito estufa. Estes, por sua vez, aquecem a atmosfera, dando origem a um ciclo: quanto mais quente o planeta, mais gelo derretido. Como a pesquisa continuará nos próximos três anos, o pesquisador diz que está atrás do ponto exato em que as plantas atingem um limite de crescimento e param de absorver carbono, enquanto o permafrost derretido continua a liberar o gás de efeito estufa.

Primavera simulada Para construir o modelo de estudo, a equipe de pesquisadores construiu cercas na neve para criar glaciares que aquecessem, durante o inverno, o solo abaixo da vegetação. “Isso pode parecer estranho, mas o que fizemos foi criar uma espécie de ‘cobertor de neve gigante’, que protegeu o solo do ar frio”, diz Schuur. A neve extra resultou em uma primavera artificial, permitindo aos cientistas observarem, naquele pedaço do Ártico, a estação intermediária do verão e do inverno. “Nós queríamos aquecer a tundra e causar o derretimento do permafrost. Esse foi o primeiro experimento que conseguiu isolar esse efeito em campo. Então, mostramos que é possível simular o que ocorrerá no futuro quando o permafrost se degradar”, afirma o cientista.

Segundo Schuur, apesar do feito, experimentos em laboratório continuam muito importantes. Uma pesquisa recente publicada na revista Nature Climate Change, da qual o biólogo também participou, examinou amostras de permafrost ao longo de 12 anos, uma quantidade de tempo incomum nesse tipo de estudo. Os pesquisadores mostraram que a água nas amostras desempenhou um grande papel sobre a quantidade de carbono liberada para a atmosfera: quanto mais drenado o solo, mais CO2 emitido.

Outra pesquisa citada pelo estudioso da Universidade da Flórida, publicada na Global Change Biology, mostrou que a razão de carbono e nitrogênio no solo do permafrost ajuda a determinar quanto CO2 será liberado em decorrência do derretimento do gelo. “Esses estudos confirmaram que uma significativa quantidade do gás de efeito estufa vai para a atmosfera e ressaltam que há outros fatores além da temperatura que afetam a emissão de carbono. Tudo isso precisa ser bem investigado”, diz o biólogo.

Metano Os efeitos do aquecimento no Ártico também causam preocupação por causa do metano, um gás de efeito estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Um estudo publicado no fim de novembro na revista Nature Geoscience indicou que o mar da Sibéria lança na atmosfera o dobro de metano do que se imaginava – 17 milhões de toneladas por ano. Na terra, esse gás é lançado quando material orgânico congelado se decompõe. Já no leito marinho, ele pode estar estocado em forma gasosa ou de hidrato de metano.

Quando o permafrost submarino se mantém congelado, uma espécie de capa evita que ele escape. Porém, à medida que a camada de gelo é derretida, criam-se buracos pelos quais o metano é lançado. Essas emissões podem ser maiores e mais abruptas do que aquelas resultantes da decomposição.

O Ártico siberiano é uma área rica em metano que compreende mais de 2 milhões de quilômetros quadrados de mar no Oceano Ártico. Trata-se de uma região três vezes maior do que a parte seca da Sibéria, que havia sido considerada, até recentemente, a principal fonte de metano atmosférico do Hemisfério Norte.


Ameaçados

O número de ursos polares no Ártico pode cair, aproximadamente, 66% até 2050 em virtude do aquecimento global, das atividades de caça e da poluição, disse o ministro dos Recursos Naturais e da Ecologia da Rússia, Sergei Donskoi, citado pela rádio Voz da Rússia. Discursando no Fórum Internacional sobre a Conservação do Urso-Polar, em Moscou, ele apontou a recente atividade industrial na região como o principal fator de poluição, o que já vem afetando a vida desses animais de maneira significativa. Atualmente, a população global de ursos-polares está estimada entre
20 mil e 25 mil indivíduos.