quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

RÉVEILLON 2014: CADA MERGULHO É UM FLASH

CL Gente Boa
CLEO GUIMARÃES
genteboa@oglobo.com.br
COM MARIA FORTUNA, ISABELA BASTOS, THAMINE LETA E FERNANDA PONTES

O Globo 02/01/2014

Festa no Copacabana Palace termina com vips de roupa na piscina; Na Lagoa, cachaça é servida em galão de mate




A festa de réveillon do Copacabana Palace,
quem diria, acabou na piscina —
aquela em que Lady Di dava suas braçadas
de madrugada —, com os convidados
mergulhando de roupa e tudo, lá pelas quatro
da manhã. “Vem! vem!”, chamava, lá de dentro,
a atriz Mariana Rios, dirigindo-se a um grupo
de amigos. Ela tinha a seu lado, também só
com a metade do corpo para fora d’água, a gerente-
geral do hotel, Andrea Natal.

Andrea entrou na piscina — atitude que até então
estava sendo repreendida pelos seguranças,
todos muito educados, diga-se de passagem —
ao perceber que aquele mergulho coletivo seria
o final de noite perfeito para os convidados que
dançavam ao som de Rolling Stones e The
Clash como se não houvesse amanhã ali em
volta. Estava um calorão danado e o mergulho
era tudo o que as pessoas queriam. “Foi ótimo,
todo mundo se comportou", disse Andrea, já
com o vestido cor de rosa sequinho. Ela sabia
que era arriscado autorizar a entrada dos convidados
na piscina. No fim, deu tudo certo.
Mais que isso: foi o melhor da festa.

Lá em cima, nos salões do hotel, o clima era
mais conservador, digamos assim, mas não
menos animado. A pista do Golden Room,
que teve até o inevitável show de samba com
mulatas (os turistas piram) também ficou
cheia. Ali perto estava o jogador Conca, agora
de volta ao Flu. “Que saúde!”, brincou um convidado
ao ver o pratão do argentino.



A caminho do disputado camarote da revista
“Contigo”, o prefeito Eduardo Paes encontra
com Antonio Carlos de Almeida Castro,
o Kakay, advogado criminalista que assumiu
a defesa de políticos acusados de corrupção,
como o ex-subchefe da Casa Civil
Waldomiro Diniz. Paes o apresenta assim à
mulher: “Amor, esse é o Kakay, um cara bom
para a gente conhecer, mas não para precisar
dele. Espero nunca precisar, hahaha!”

O pessoal mais arrumadinho da festa ficou
surpreso ao vê-lo de bermuda cáqui, no meio
daquele mundaréu de homens de calças.
“Ué, prefeito, de bermuda?”, quis saber a repórter.
E ele: “Always! Tem que ser, né?” O
prefeito tinha passado o dia todo no hotel.
“Peguei uma piscina lá embaixo, a Narcisa
também estava, tinha que ver!", contou.
No salão, via-se aquela tradicional cena dos
gringos embasbacados com a voluptuosidade
das passistas de escola de samba, e os
brasileiros, de taça de Veuve Clicquot na
mão, cantando “hoje eu vou tomar um porre,
não me socorre, que eu tô feliz..." O repertório
incluiu sucessos de Naldo e Anitta
— a novidade foi a mãozinha no queixo, na
hora do refrão “ba-bando!”, como fez Roberto
Carlos ao cantar “Show das poderosas”
com a cantora em seu especial de Natal.

Corta para a Lagoa. No Lagoon, o que fez sucesso
mesmo na festa New foram os galões de
mate de onde saía... cachaça. “Me dá um chorinho,
moço?”, fazia graça uma das convidadas,
com o copo na mão, repetindo o mantra
dos que costumam pedir, na praia, uma dose
a mais de mate ou limão.

Mais de duas mil pessoas ocuparam um terraço
pouco conhecido pelo público que já
circulou pela Miranda. O calor, como em toda
a cidade, estava infernal, mas e daí? O
povo se acabou de dançar ao som de pagode
anos 1990, Tim Maia, Daft Punk, Anitta
(ela está em todas) e mashups, como o que
misturou músicas de Valesca Popozuda e
Madonna. O clímax foi quando tocou funk.
“Nosso sonho não vai terminaaaar... Desse
jeito que você faaaaz!”, cantavam, a plenos
pulmões, vários grupinhos de mulheres,
muitas delas com um arco de flores na cabeça.
O arco e as sandálias rasteiras estavam
por onde quer que se olhasse.


Teve festão também no Royal Tulip, em São
Conrado — o antigo Intercontinental —, organizado
pela promoter Carol Sampaio.
Craque no assunto “famosos”, Carol encheu
o lugar de artistas. Eles eram tantos que Danielle
Winits, acompanhada do atual namorado,
Amaury Nunes, ficou numa certa saia
justa ao cruzar, várias vezes, com dois de
seus ex: Cassio Reis e Jonatas Faro. A atriz
tem um filho com cada.

De todos que estavam ali, talvez a única pessoa
que não viu os fogos tenha sido Barbara
Evans. É que ela passou mal antes da meianoite.
Depois da virada, Sheron Menezzes,
que estava com a afilhada, Manuela, subiu ao
palco e cantou duas música com o Carrossel
de Emoções. Mostrou o maior talento.


Entre o ter e o ter mais - AGOSTINHO VIEIRA

O Globo 02/01/2014

Foram mais de 100 milhões de bilhetes.
Como se um em cada dois brasileiros
resolvesse apostar na sorte grande. O
prêmio da Mega-Sena da Virada superou a
marca dos R$ 220 milhões. O que fazer com
tanto dinheiro? Há quem diga que vai ajudar
os amigos ou doar para instituições de
caridade. Mas, de um modo geral, as
respostas não variam muito: comprar casas
bacanas, carros de luxo, barcos, viagens.

Até aí, nada demais, esse tipo de loteria faz sucesso
no mundo todo e as expectativas são parecidas.
Sonhar não custa nada. O problema é
quando a necessidade de ter, ter mais ou ter muito vira
objetivo de vida. Uma pesquisa divulgada há alguns
dias pelo Instituto Ipsos mostrou que os brasileiros
estão entre os povos mais materialistas do planeta.
Quase 50% disseram concordar com a afirmação:
“Eu meço o meu sucesso pelas coisas que possuo”.
A média mundial é de 34%.

Curiosamente, quem mais valoriza os bens materiais
são os chineses, apesar de viverem numa nação
supostamente comunista. Nada menos que 71% responderam
sim para a mesma questão. Eles são seguidos
pelos indianos, com 58%, pelos turcos, com 57%,
e pelos brasileiros, com 48%. Em contrapartida, apenas
21% dos americanos disseram que medem o sucesso
pelos bens que possuem. O levantamento ouviu
mais de 16 mil pessoas espalhadas por 20 países.

Os chineses também são os que afirmam sentir-se
mais pressionados para atingirem o sucesso profissional
e ganhar dinheiro. O índice de respostas sim para
esta pergunta chegou a 68%, contra 66% dos russos
e sul-africanos e 60% dos indianos. Já o percentual de
brasileiros que dizem sofrer muita pressão para ganhar
dinheiro ficou em 44%. Abaixo da média mundial.
De acordo com a consultoria Brain&Co, os chineses
já são os maiores compradores de itens de luxo
no mundo. Eles respondem por quase um terço do
consumo mundial destes produtos.

Uma conclusão relativamente óbvia deste estudo é
a relação entre o nível de crescimento de um país e a
necessidade do seu povo de ganhar dinheiro, comprar
bens materiais e obter reconhecimento profissional.
Por isso, as nações mais materialistas do planeta
seriam aquelas em processo de desenvolvimento.
Na outra ponta do ranking aparece a desenvolvida
Suécia. Apenas 7% dos moradores do país dizem medir
o seu sucesso pelos bens que possuem.

Os suecos seriam menos materialistas por que são
ricos ou por que encontraram outra forma de felicidade?
Talvez as duas coisas. O Instituto Gallup-Healthways
fez um estudo de observação diária com mil
americanos e concluiu que o nível de renda familiar
a partir do qual o bem-estar deixa de ter relação com
o aumento da renda é de aproximadamente US$ 75
mil por ano. Cerca de R$ 180 mil ou R$ 15 mil por
mês. Dependendo do custo de vida, o valor é menor.

48 %

Dos brasileiros ouvidos por uma pesquisa do Instituto
Ipsos disseram concordar com a afirmação: “Eu meço o
meu sucesso pelas coisas que possuo”. Os chineses
seriam os mais materialistas, 71% responderam sim.

Claro que esse número é discutível. Alguns podem
achá-lo alto demais. Outros, baixo. O fato é que a partir
de um determinado valor que satisfaça as necessidades
básicas da família, não existe uma relação clara
de causa e efeito entre ganhar dinheiro, comprar
coisas e ser feliz. Pesquisas sobre bem-estar feitas regularmente
em mais de 150 países chegam quase
sempre ao mesmo resultado: as pessoas são mais alegres,
sentem-se melhor quando estão com os parentes
e os amigos. Mesmo que seja para discutir o que
fariam se ganhassem a Mega-Sena da Virada.

Se o indivíduo, de um modo geral, se sente melhor
quando está com aquele que ama, por que não criar
mais oportunidades para essa socialização? Na sociedade
do eu, do aqui e do agora, fazemos exatamente
o oposto disso. Passamos horas em engarrafamentos.
Presos dentro de carros que levam apenas uma pessoa.
Nossos prédios não favorecem o convívio. As
praças, ou não existem ou estão abandonadas demais
para que alguém queira estar ali.

Ao mesmo tempo, é possível que nunca na história
da humanidade tenha havido tanta socialização como
hoje. O problema é que ela se dá através das redes
sociais, na velocidade dos dedos que operam os descartáveis
smartphones. Quem quiser pode ter um
milhão de amigos. Não precisa nem sair de casa.

De todos os desafios que o homem enfrentará nos
próximos anos, nenhum se compara com o descontrole
nos níveis de consumo. Ele é potencializado pelo
tamanho da população e pressiona, irresponsavelmente,
os limites físicos do planeta. Se você ainda
não concluiu a sua lista de resoluções para 2014, fica
a sugestão: passe mais tempo com os seus amigos reais
e menos tempo carregando sacolas.

MARINA COLSANTI » Não mais do quê‏

MARINA COLSANTI » Não mais do quê
Estado de Minas: 02/01/2014


Houve um momento de areia fina como talco, e esse momento passou. Íamos até a praia de manhã cedo, muito cedo, as crianças, só as crianças e o pai, no Ford preto. Talvez não fosse Ford, mas era preto. E aquela areia nova para mim, menina criada nas pedregosas praias do Mar Adriático, recebia meus pés como uma seda.

Houve uma primeira fatia de mamão – e pareceu-me ruim –, uma primeira manga – e foi estupenda –, uma primeira noite de verão nos trópicos, com grilos e jasmins, que nunca esquecerei e nunca poderei repetir.

Houve um primeiro amor na infância, um primeiro amor na adolescência, primeiros amores de juventude. Todo amor é primeiro, porque todo amor é único. E mesmo este meu amor que será o último é, antes de todos, o primeiro.

Houve um ferralhar de bonde na madrugada, e jovens em traje a rigor saindo dos bailes da formatura no Centro da cidade, e eu entre esses jovens, arrepanhando a longa saia branca para subir no bonde com meu irmão, e voltar para casa sacudida sobre os trilhos, sentindo nos braços nus o ar ainda quente da noite. Dançar de rosto colado nos bailes era uma possibilidade, e o som da big band uma certeza.

Houve um momento de prova oral e estudo de latim. Os “pontos” que caíam eram 10, tiravam-se de dentro de um saquinho de pano como se numa loteria doméstica ou num bingo, e feliz era quem tivesse nome como o meu, começando por M, porque quando chegasse nossa vez já sabíamos quais eram as perguntas dos professores. As mais inteligentes iam à prova oral de biquíni por baixo da roupa, porque já tinham passado por média e saíam do colégio direto para a praia.

Houve o momento em que a primeira morte atravessou-se no caminho, mas, ao contrário do amor, só uma foi primeira, pois só com a primeira aprendi a viver. As outras nada me ensinaram, repetindo-se iguais, embora diferentes e com diferentes pessoas. Só a primeira me colocou diante da grande interrogação do nada. As seguintes, não mais.

Houve uma primeira embriaguez de réveillon, e foi primeira e última, porque não gostei nem durante, nem depois. Comi pão seco e bebi água no dia 1º, curando ressaca como um santo purga seus pecados. E como um santo não voltei a pecar.

Houve momentos de férias, e dias inteiros passados entre sol e sal, para depois entregar o corpo à mansidão da água doce como se mergulha na tina o ferro em brasa. Havia andorinhas pousadas nas cornijas daqueles verões, e a água do mergulho era sempre mais fria embaixo do que em cima.

Houve uma lassidão que só a ausência de aulas permitia, um sono do corpo estendido em areia ou pedra, um hibernar ao contrário, olhos entrefechados, e o mar cintilando entre os cílios. Depois, nadar, nadar, nadar.

Houve essa outra cidade, esse outro corpo, esse outro espaço de verão. Agora, já não há. E é justo assim. O que era vazio foi tomado pela multidão, o que era elástico foi domado pelo desgaste, os trilhos de bonde dormem debaixo do asfalto, as bocas do metrô emergem nas calçadas, e, se não há mais andorinhas no verão, tampouco há cornijas.

Um ano veio e se foi, assim como se foi a areia de seda. O próximo ano chega e o recebemos, expectantes, manga nunca provada. Todo momento passa e é só um momento. Nem os carros são todos pretos, nem a vida é mais do que momentos.

Eduardo Almeida Reis - Maturação

Eduardo Almeida Reis - Maturação

Estado de Minas: 02/01/2014 

A exemplo das boas frutas, as análises pedem amadurecimento. Aquilo que nos parece ruim à primeira vista, analisado com calma geralmente é muito pior. Foi assim com três tabelas publicadas nos jornais há cerca de um mês.
Uma delas informava que o Brasil só tem quatro universidades entre as 100 melhores dos Brics e dos países em desenvolvimento. A USP ficou em 11º, a Unicamp em 24º, a UFRJ em 60º e a Unesp em 87º lugar na análise do Times Higher Education (THE). Com calma, você procura os outros países do Brics e descobre que a África do Sul tem 5 entre as 100 melhores, a Índia tem 10 e a China 25. Estamos em situação melhor que a da Rússia, que só tem duas.
Vistos os Brics temos os sustos: Taiwan, uma ilhota de 23 milhões de formosinos e 36 mil km², tem 21 universidades entre as 100 melhores. Repito: vinte e uma! E a Turquia? Que me diz o leitor da Türkiye Cumhumiyeti? Faz fronteira com países complicados numa região complicadíssima, tem 783 mil km² e 75 milhões de habitantes, 76% dos quais turcos e assustadores 15,7% curdos. Apesar da turcalhada e da turma do Curdistão, a Turquia tem sete melhores universidades contra as nossas quatro.
Mas o ranking do Pisa, exame elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), para avaliar em matemática, leitura e ciências os alunos de 65 nações, entusiasmou o ministro Mercadante. Sua excelência acha que a nossa situação melhorou muito. Sabe onde está o Brasil? Em 58º lugar entre os 65 países avaliados.
De acordo com o Pisa, na avaliação dos estados brasileiros Minas não está bem na foto: 7º lugar entre os 27. E o nosso belo Maranhão conseguiu ficar à frente de Alagoas, que vem em último.

Meteorologia
Chuva forte inundou o Rio na noite de 5 de dezembro e castigou a sofrida região serrana, levando o excelente repórter Rui Gonçalves a entrevistar em São Paulo um professor de meteorologia. Inevitável a pergunta sobre a influência do “aquecimento global” nas chuvaradas. O professor saiu pela tangente, disse que o negócio não é bem assim, que a temporada é de chuvas, algumas torrenciais, determinadas por uma série de fatores.
Devo confessar que já era nascido em 1966 e assisti ao temporal que desabou sobre o Rio no dia 2 de janeiro. Enchentes e deslizamentos deixaram mais de 250 mortos e 50 mil desabrigados. Há 48 anos, o aquecimento global não estava na ordem do dia. Naquela manhã, tive compromisso em Santa Cruz, subúrbio do Rio, e fui de carona no Karmann-Ghia de um amigo de Ipanema ao Centro da cidade, onde concluímos que era melhor parar por ali. Ele foi para o escritório e tomei um ônibus de volta para casa. A tevê era precária, mas o rádio nos dava notícias da calamidade.
Chuvas torrenciais são mais velhas que a Sé de Braga, mas os estragos não eram trágicos porque as cidades, muito menores, não tinham construções nas encostas, pisos cimentados ou asfaltados, havia matas e as águas tinham por onde escoar.

Pequena...
A internet tem coisas do arco-da-velha como a “Pequena Enciclopédia de Cidades, Vilas e Aldeias de Portugal”. Você baixa em alguns segundos e tem uma quantidade imensa de fotos, cerca de 150, em média, de cada uma das aldeias, vilas e cidades portuguesas, inclusivamente as açorianas e, suponho, as madeirenses. Vi as 142 fotos de Almeida, por motivos óbvios. Não é região das mais bonitas, mas tem uma porção de muros, fortes e estradas antiquíssimos. E a notícia de que posso adquirir as tais fotos.
É uma vila pertencente ao Distrito da Guarda, na região da Beira Interior e sub-região de Beira Interior Norte, com cerca de 1.300 almeidenses. É sede de um município com 517 km² de área e tinha 7.242 habitantes em 2011. O atual município resulta da junção no século 19 de três municípios seculares, Almeida, Castelo Bom e Castelo Mendo, cujas antigas sedes são três vilas medievais fortificadas. Faz fronteira com a Espanha “de onde não vêm bons ventos e casamentos”. A praça-forte de Almeida é candidata a Patrimônio Mundial da Unesco.

O mundo é uma bola
2 de janeiro de 533: Mercúrio é proclamado papa. Como seu nome evocava um deus pagão passou a chamar-se João II. Foi o 56º papa e pontificou durante dois anos, sendo sucedido por Agapito I. Esqueci-me de dizer que no dia 2 de janeiro de 366 os alamanos cruzaram o Rio Reno e invadiram o Império Romano. Alamanos eram povo germânico ocidental, o povo de todos os homens como diziam os romanos, mas eles preferiam chamar-se de suábios.
Em 1492, a Queda de Granada marcou a Reconquista em que os Reis Católicos recuperaram todas as terras que os mouros ocupavam na Península Ibérica.
Em 1920 nasceu Isaac Asimov, escritor e bioquímico russo naturalizado americano, um dos maiores QIs de que se tem notícia.

Ruminanças
“Um homem de grande talento prestará menos atenção à tolice alheia do que um tolo” (Marcel Proust, 1871-1922). 

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 02/01/2014


 (Fichier Aile Cuisse/Divulgação)
 À Francesa
Amantes das comédias não podem perder a exibição hoje, às 21h30, no TV Monde, de A asa ou a coxa (L'aile ou la cuisse – foto), filme francês de 1976 dirigido por Claude Zidi. Em cena, Charles Duchemin, crítico gastronômico, prepara a última edição de seu célebre guia. Com os mais diferentes disfarces, ele seleciona os restaurantes para atribuir ou retirar as preciosas estrelas. Seu arqui-inimigo é Jacques Tricatel, rei de uma cadeia de restaurantes de autoestrada. No elenco, Louis de Funès (Charles Duchemin), Coluche (Gérard Duchemin), Julien Guiomar (Jean Tricatel), Claude Gensac (Marguerite) e Vittorio Caprioli (Vittorio).



THE DRIVER ATERRORIZA UM JOVEM CASAL NO FX
Destaque do FX Cine, às 21h, Rota mortal é dirigido por John Shiban. Sonhando seguir a carreira artística, Nicole (Jaimie Alexander) abandona sua casa no Texas e segue para Los Angeles com o namorado, Jess (Joey Mendicino). Os dois pegam a estrada, mas durante uma parada Jess desaparece misteriosamente. Nicole acaba nas mãos de um sádico. Os diretores de 24 horas, Arquivo X e A bruxa de Blair se uniram para chocar e assustar com as maquinações macabras do caminhoneiro sádico conhecido como The Driver.

NOVO EPISÓDIO DE TERAPIA VIRTUAL
Quem procura diversão não pode perder: no canal TBS, às 20h07, será exibido o novo episódio de Terapia virtual. Na série, a doutora Fiona Wallice, interpretada pela premiada Lisa Kudrow, enfrenta hilárias sessões de análise. A nova temporada é marcada pelo reencontro dela com o ex-colega de elenco de Friends Matt LeBlanc, que interpreta um viciado em jogos on-line. Steve Carel, Meg Ryan e Megan Mulally são alguns dos convidados especiais desta temporada.

FILME ITALIANO SOBRE A VIDA DE SANTA BÁRBARA
Às 21h30 de hoje, o Viva exibe o longa italiano Santa Bárbara (horários alternativos amanhã, às 2h45, e domingo, às 10h). Bárbara (Vanessa Hessler) é a bela filha do governador de Roma na época em que os cristãos eram perseguidos por sua religião. Quando a escrava Giuliana, criada como irmã de Bárbara, é condenada à morte, a jovem se rebela e se converte ao cristianismo, opção que lhe custará a própria vida.

EM BUSCA DE UMA CASA PARA MORAR
No Fox Life, às 20h15, tem House hunters international. No episódio “Casa de férias no Sul da Calábria”, Michelle Moser, professora de matemática em Salinas, na Califórnia, quer comprar uma casa de férias na terra natal de sua avó, na Itália. A professora procura um imóvel com espaço suficiente para ela e seus convidados. Sua lista de preferências inclui vista para o mar, terraço e uma boa cozinha para preparar massas italianas. Michelle espera encontrar um imóvel em pequena cidade ou vila, onde possa ir às compras e aos restaurantes a pé.

Mais dos mesmos

Interino


Amora Mautner vai emendar um trabalho no outro. Depois de Joia rara, ela dirige a trama das nove da Globo (Márcio de Souza/TV Globo)
Amora Mautner vai emendar um trabalho no outro. Depois de Joia rara, ela dirige a trama das nove da Globo
 A dupla responsável por Avenida Brasil (2012), na Globo, voltará ao ar em breve. O novelista João Emanuel Carneiro deve repetir a parceria com a diretora Amora Mautner em seu próximo folhetim, previsto para a faixa das 21h na emissora. Na trama de Tufão (Murilo Benício) e Carminha (Adriana Esteves), os dois ficaram famosos por dar mais liberdade aos atores, com muitas cenas improvisadas. Atualmente, Amora dirige Joia rara, exibida na faixa das 18h. A novela de João Emanuel, ainda sem título, deve estrear no ano que vem.


MURILO BENÍCIO DECIDE VIRAR DIRETOR DE CINEMA
Depois de o ator Selton Mello se tornar cineasta, Murilo Benício leva adiante o plano de dirigir o primeiro longa. A ideia é mostrar o passo a passo da adaptação da peça O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues. Intitulado O beijo, o processo, o filme deve contar com Stênio Garcia no elenco. Andrucha Waddington e Amir Haddad colaborarão com o projeto. Na telinha, Benício será visto a partir de segunda-feira na minissérie Amores roubados, da Globo, dirigida por José Luiz Villamarim. O ator está também escalado para a novela Geração Brasil. Seu personagem deve se envolver com o de Cláudia Abreu.

HUMOR CONFIRMADO NA GRADE DA BANDEIRANTES
Depois de ter sua volta ao CQC cogitada pela imprensa e por Oscar Filho, que deixou recentemente a bancada do programa, Rafinha Bastos confirma apenas participação na nova temporada de A liga. Já Dani Calabresa pode ganhar um projeto solo na Band.

GIOVANNA ANTONELLI VAI TRADUZIR FILMES ERÓTICOS
Além de atuar na novela Em família, nova trama global, Giovanna Antonelli será vista nos cinemas este ano. Ela protagoniza a comédia romântica S.O.S. – Mulheres ao mar, de Cris d’Amato. O longa conta a história de Adriana, tradutora de filmes eróticos que embarca em um cruzeiro com a irmã, Luíza (Fabiula Nascimento), para reconquistar o ex-marido.


NOVA SÉRIE
BoJack Horseman é a próxima série original do Netflix. Trata-se de desenho animado sobre um cavalo que age como gente (dublado por Will Arnett), protagonista de famoso sitcom dos anos 1990, Horsin’ Around. Ele conta com a ajuda do antigo parceiro (Aaron Paul) e de sua agente e ex-amante (Amy Sedaris). A trama começa a ser exibida no meio do ano.


VIVA
Para Hilda Furacão, minissérie baseada no livro de Roberto Drummond. Em cartaz no canal Viva, a adaptação se tornou um clássico da TV brasileira.


VAIA
Para a insistência da Globo em exibir Anitta, presença nos programas Esquenta, Domingão do Faustão, TV Xuxa, Amor à vida, Roberto Carlos especial e Sai do chão. Overdose.

Sangue na mais nova nação do mundo - Vitor Gomes Pinto

Sangue na mais nova nação do mundo 
 
Vitor Gomes Pinto
Escritor, analista internacional

Estado de Minas: 02/01/2014


A mais nova nação do mundo, o Sudão do Sul, não sabe o que fazer com a independência a duras penas conquistada quando, em 9 de julho de 2011, separou-se do Sudão sob os aplausos da comunidade internacional. O cordão umbilical, contudo, nunca foi rompido, pois o contencioso representado pelas ricas áreas limítrofes de Abyei, Unity e Alto Nilo permaneceu sempre em aberto (as reservas já comprovadas farão do Sudão do Sul o terceiro maior produtor do sub-Sahara africano, depois da Nigéria e Angola). Difícil, também, tem sido perdoar ou esquecer a história recente. Darfur, a província sudanesa mais a oeste, na fronteira com Chade, Líbia e República Centro Africana, foi o palco do genocídio que fez o Tribunal Penal Internacional condenar por crimes contra a humanidade o presidente Omar al-Bashir, que por sinal continua governando, embora não possa sair do país para não ser preso pela Interpol.

 A ONU acaba de aumentar seu contingente na região para 12,5 mil homens, mas tem fracassado de maneira sistemática nas tentativas de colocar lado a lado as distintas etnias e tribos que secularmente alternam guerra e convivência no território sudanês. De acordo com o manual, inimigos tradicionais devem se sentar em volta da mesma mesa, firmar um acordo de paz e, então, passar a dividir o poder como se irmãos fossem. Em julho de 2005, a aplicação dessa teoria transformou o líder rebelde sulista John Garang em vice-presidente do Sudão, mas um mês depois ele morreu num acidente aéreo, o que provocou confrontos entre sulistas e árabes nortistas com centenas de mortos nas ruas de Kartum. Seu substituto, Salva Kiir Mayardiit, bafejado por melhor sorte, não só sobreviveu como selou o acordo de autonomia com Al-Bashir e é hoje o presidente do Sudão do Sul. Sempre em obediência às diretivas internacionais (a força de paz UNMISS, Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, com uma maioria de capacetes azuis indianos, dá sustentação ao governo), Kiir, que é da etnia Dinka, dividiu a administração do novo país em duas, entregando a vice-presidência para Riek Mashar, líder dos Nuer, minoritários, mas dominantes nas províncias petrolíferas.

Autoritário, em meio a denúncias de um milionário escândalo financeiro, em 15 de dezembro, Kiir demitiu não só o seu vice como todo o gabinete. Imediatamente Mashar articulou, sem sucesso, um golpe de Estado e assumiu o comando de um exército rebelde. A resposta foi a dissolução da Guarda Presidencial até então composta por agentes das duas etnias e o massacre dos Nuer. Não há como confundir os integrantes das tribos em luta. Embora sejam todos negros e secularmente dedicados ao pastoreio, os dinkas, famosos por seu porte atlético e beleza física, são gigantes (o povo mais alto da terra) que facilmente alcançam os 2 metros de altura. Já os homens nuer são identificados pela marca facial – seis linhas paralelas feitas à navalha do alto da testa até o nariz, conhecida como Gaar – que recebem ao chegar à puberdade. O relato de Simon K ao jornal The Guardian reflete bem o padrão das guerras de extermínio racial na África. Capturado ele não conseguiu responder a uma pergunta crucial, feita no idioma dinka: “qual é o seu nome?”. Na cela do posto policial quase no centro de Juba, a capital sul-sudanesa, ele contou 252 nuers e viu os canos das armas que entre as barras das grades nas janelas atiravam, suspendiam a fuzilaria para ver se alguém ainda se mexia e atiravam de novo. Dois dias depois, com a chegada de socorro, Simon K e outros 11 tinham sobrevivido imóveis sob os corpos, que, deteriorando-se, cada vez mais os sufocavam.

A base das Nações Unidas está à beira do colapso, invadida por 20 mil fugitivos do conflito em busca de alimentos, água potável e proteção contra o calor intenso do dia e o frio cortante da noite. Não existem soluções fáceis à vista. Uma intervenção do Conselho de Segurança da ONU não tem viabilidade devido ao bloqueio de China e Rússia, fortes aliados de Al-Bashar, e o regime de Kartum pode aproveitar-se do caos e intervir, aliando-se aos nuer de Mashar, para retomar os poços de petróleo que considera serem seus. Por fim, a internacionalização do conflito é eminente. Tropas de Uganda já estão no Sudão do Sul e é cada vez mais instável o quadro político nas vizinhas República Centro Africana e República Democrática do Congo. O governo de Salva Kiir parece afundar depois de receber e desperdiçar bilhões de dólares em ajuda internacional. A delegação africana de alto nível, incluindo o presidente do Quênia e o 1º Ministro da Etiópia, visitou Juba e propôs a cessação das hostilidades e início imediato de diálogos, tentando aliviar a crescente crise humanitária. Resta agora impedir as vinganças e tornar a convivência novamente possível.