quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MARTHA MEDEIROS - Oferendas ao nada

Zero Hora 01/01/2014

Ao reler o livro A alma imoral, do rabino Nilton Bonder, encasquetei com uma expressão que, na primeira leitura, feita anos antes, não havia me despertado a atenção – e isso explica a razão de releituras serem necessárias, pois acontecem num outro momento da vida, em que o que não era relevante passa a ser. E nem preciso dizer que essa predisposição à releitura deveria existir para tudo, não só para livros.

Mas retornando ao ponto.

No livro, o rabino diz que muitos dos nossos sacrifícios e esforços são oferendas ao nada. Oferendas ao nada. Foi esta a expressão que me fez refletir sobre a quantidade de privações e abstinências a que nos submetemos e que têm serventia nula. Zero.

Todo novo ano que se inicia é um convite a uma releitura de si mesmo. Você já passou pelos mesmos janeiros e fevereiros e marços que aí vêm, os mesmos carnavais e páscoas, as mesmas mordidas do Leão, as mesmas estações, o mesmo do mesmo. Se daqui para frente queremos extrair alguma novidade de fato, ela virá da nossa maneira de encarar a vida, de desfrutá-la com mais proveito.

Então, que se oferende flores à Iemanjá, já que rituais de otimismo e fé não fazem mal a ninguém, e que se oferte abraços e bons votos aos amigos, já que a alegria é uma energia que vale a pena ser trocada, e que a gente doe sempre o que temos de melhor, aquilo que nos movimenta – e não o que nos trava.

A timidez, por exemplo. O que a timidez tem feito por você? Ela impede que você se relacione olho no olho, que arrisque uma conversa com um desconhecido, que apresente aos outros seu trabalho, suas propostas, suas ideias. Orgulhar-se da sua timidez, colocando-a num altar, é fazer uma oferenda ao nada.

O que a culpa tem feito por você? Tem impedido você de se responsabilizar pelos seus atos e renegociar com a vida, tem trancafiado você em casa, obrigando-o a lidar incessantemente com questões passadas, tem envelhecido você, consumido você, paralisado você, e você ainda se ajoelha e reza para cultuá-la. Outra oferenda ao nada.

O que a insegurança tem feito por você? Nada. O que o medo tem feito por você? Nada.

O narcisismo, menos ainda. Cultuando esse deus chamado “Eu”, você não olha para fora, não exercita a solidariedade, não considera o sentimento dos outros, não compreende, não perdoa, não evolui. Oferece a si próprio uma homenagem patética, fica preso a uma energia que não circula, não realiza troca alguma. Joga flores para a solidão.

Que em 2014 consigamos romper com nossos receios sobre o que os outros irão pensar de nós, com o que não nos traz retorno, com o que não nos insere no universo de uma forma mais efetiva e bonita. Chega de cultuar impedimentos. Façamos, para variar, oferendas ao risco.

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 01/01/2014


 (TV Globo/Divulgação)
 Polêmicas nos anos 1980
No Damas da TV, no Canal Viva, às 21h, Regina Duarte (foto) conta que gosta dos extremos de sua profissão e confessa que simulou um orgasmo em cena da novela global Coração alado, de 1980, em um de seus papéis mais polêmicos, como Catucha. A cena em que a personagem chega ao prazer ao pensar no amado gerou burburinho na sociedade da época. "Ela, para mim, é um troféu, porque quase eu e Roberto Talma fomos suspensos da Globo. Era uma cena em que Catucha estava pensando no Juca (Tarcísio Meira), o amor da vida dela. Ela aprontou e o colocou na cadeia. E tinha tanto prazer naquilo que o Talma fez a cena toda em close. Era eu pensando nisso como quem se masturba. No fim, ela chegava a um orgasmo por ele estar na cadeia. Apesar de não mostrarmos, foi um barulho. Saíram até cartas das senhoras católicas nas revistas, reclamando muito daquilo."



MAUTNER E GIL JUNTOS EM SHOW GRAVADO NO SESC
Para começar bem o ano, Jorge Mautner e Gilberto Gil estão em show inédito no SescTV, a partir das 22h. O show integra a programação de fim de ano da emissora e ganha reapresentação sábado, às 19h, e domingo, à meia-noite. A direção para TV é de Daniel Pereira. Gravado no primeiro semestre de 2013, no Sesc Pompeia, o show marca o lançamento do álbum Jorge Mautner – O filho do Holocausto, trilha sonora do filme homônimo, dirigido por Pedro Bial e Heitor D’Alincourt.

NO MULTISHOW QUEM FAZ A FESTA É PAUL
O Multishow também entra 2014 em grande estilo. O canal pago exibe hoje, às 18h, o documentário inédito Something new, com Paul McCartney. O especial mostra a criação de New, novo álbum do ex-beatle, a partir de entrevistas com o próprio Paul, integrantes de sua banda e produtores.

LAJES DECORADAS NO MORRO DO ALEMÃO
No Futura, às 14h35, tem exibição de Nas lajes, documentário com direção de Susanna Lira. O filme mostra o significado da laje na vida de alguns moradores do Complexo do Alemão, que vai além do espaço de lazer. Essas construções, que se tornaram referência na arquitetura das comunidades e subúrbios do Rio, são construídas coletivamente. Amigos, vizinhos e parentes se reúnem em mutirão nos fins de semana para “baterem laje”, frequentemente, agregados
em torno de um churrasco
ou feijoada.

CONHEÇA VÁRIAS DELÍCIAS NO PALITO
Cartaz das 19h30 no Fox Life, o episódio “Gostosuras no palito” de Kid in a candy store mostra Adam Gertler abandonando os palitos e descobrindo novas maneiras de desfrutar de suas guloseimas portáteis. Na Hammond's Candies, em Denver, Colorado, pirulitos em forma de espiral crescem e chegam a pesar 2kg, com sabores tão únicos quanto pera, abóbora e bolo de aniversário. Em Hollister, Califórnia, as maçãs carameladas gourmets caem bem longe das árvores. A DeBrito Chocolate Fabric banha vários quilos de maçãs Granny Smith em mais de 40 coberturas, desde caramelo com infusão de café até sal com limão e chili. Na Tootie Pie Co., de San Antonio, no Texas, as porções do bolo gelado Key Lime Margarita são submergidas em um banho de chocolate, e servidas em um palito.

CARAS & BOCAS » Família Terra Cambará

Interino


Filme O tempo e o vento ganha personagens e cenas extras e estreia como minissérie na Globo (Globo/Divulgação)
Filme O tempo e o vento ganha personagens e cenas extras e estreia como minissérie na Globo
 Do cinema para a telinha, estreia hoje, na Globo, depois de Amor à vida, a minissérie O tempo e o vento. A saga da família Terra Cambará é contada por meio das memórias de Bibiana Terra (Fernanda Montenegro), a matriarca, que recebe a visita de seu falecido marido, o capitão Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda). Juntos eles relembram a história não apenas de seu amor, mas de como nasceu a própria família. O filme de Jayme Monjardim, que ganha versão especial para a TV em três capítulos, teve inserção de cenas inéditas, novos personagens, nova edição e montagem. O roteiro é de Letícia Wierzchowski e Tabajara Ruas e a produção de Rita Buzzar. A obra é adaptação livre da obra de Erico Verissimo, série literária iniciada em 1949 com o livro O continente, seguido pelas obras O retrato, em 1951, e O arquipélago, em 1961.


FERIADÃO SBT COMEÇA ÀS 9H E SEGUE DURANTE TODO O DIA
No primeiro dia do ano, a emissora de Silvio Santos exibe o Feriadão SBT, com atrações diferenciadas, de manhã e à tarde. Às 9h, começa a ser transmitido o infantil apresentado por Matheus Ueta e Ana Victória, com desenhos como Tom & Jerry e Scooby-doo. Entre os destaques, a exibição do filme Batman eternamente, às 13h45, e do inédito Dennis, o Pimentinha ataca novamente, às 15h45. Às 19h20, encerrando a programação, será a vez de Dupla do barulho. Nova York é a cidade que acolhe a louca dupla de irmãos Marlon e Shawn. Os jovens são filhos de um interesseiro dono de bar, Pops. Shawn é entregador de encomendas e Marlon é ajudante de garçom no bar do pai. Com o salário de ambos, eles bancam o apartamento que dividem. A rotina de barulho, confusão e atrapalhadas da dupla promete.

LUIZ FERNANDO CARVALHO COMANDA NOVELA E SÉRIE
Depois do quadro “Correio feminino”, no Fantástico, Luiz Fernando Carvalho está empenhado em realizar novos trabalhos na Globo. Sua versão para o livro de Milton Hatoum Dois irmãos terá oito capítulos e estreará este ano. A emissora ainda não revelou detalhes do projeto. E, por falar no diretor de Hoje é dia de Maria, ele também está à frente da nova novela de Benedito Ruy Barbosa, Meu pedacinho de chão. O elenco do folhetim, que entrará no ar assim que Joia rara acabar, é segredo. Corre nos bastidores a notícia de que Bruno Fagundes, filho de Antonio Fagundes, e Juliana Paes estão confirmados.

LETÍCIA PERSILES VOLTA À TV, AGORA NO MULTISHOW
Depois de ser Miriam, protagonista da novela Amor eterno amor (2012), da Globo, Letícia Persiles volta à telinha com a série A segunda vez, no canal pago Multishow. Sua personagem será uma das prostitutas da história, que é baseada no livro A segunda vez que te conheci, de Marcelo Rubens Paiva. A trama vai mostrar o dia a dia de uma agência de garotas de programa. A atração será dirigida por César Rodrigues. Em fase de pré-produção, as gravações da série têm previsão de início este mês.


AZEDOU OU NÃO?
A recusa de Fábio Porchat em apresentar o programa matinal Encontro com Fátima Bernardes, durante as férias da mulher de William Bonner, pode não ter azedado as relações entre ele e a Globo. Isso porque corre nos bastidores a notícia de que o diretor de núcleo Maurício Farias estaria de olho em uma série para o humorista mas ainda não há informações oficiais sobre o programa.


VIVA
São cada vez melhores as tiradas do Junto & misturado, da Globo, que voltou em cinco episódios. Entre as surpresas, Gabriela Duarte.


VAIA
Para os casais abertos de Amor à vida – Michel (Caio Castro) e Silvia (Carol Castro) e Patrícia (Maria Casadevall) e Guto (Márcio Garcia). Em vez de modernos, são muito artificiais.

Frei Betto - Propósitos de ano-novo‏

Propósitos de ano-novo 
 
Quem é feliz sabe muito bem que a felicidade é um estado de espírito, uma sabedoria de vida, uma leveza de coração
Frei Betto

Estado de Minas: 01/01/2014


passagem do ano costuma significar, para muitos de nós, época de bons propósitos. Damos um balanço no ano que findou e, frente ao que se inicia, prometemos a nós mesmos ao menos não repetir os erros cometidos. Tais propósitos variam muito. Para uns, ficar menos dependentes do celular e da internet e dar um pouco mais de atenção aos familiares. Para outros, evitar a obesidade e o risco de diabetes, fazer exercícios físicos e reduzir a comilança engordativa.
O fato é que cada um de nós sabe exatamente onde dói o calo. Resta ter força de vontade para pisar mais leve no chão da vida e evitar tropeços. Mudar de ano e mudar de vida é o que muitos de nós gostariam. O que favorece a distância, por vezes enorme, entre os nossos propósitos e a nossa prática? Por que nem sempre somos coerentes com os ideais que abraçamos?

Aprendi com os mestres da mística que, ao fazer propósitos, temos que primeiro nos perguntar: procedo para agradar a mim mesmo ou preferencialmente aos olhos alheios? Muitas vezes somos movidos a agir contrariando nossa própria vontade, por colocarmos a nossa autoestima na opinião alheia e não na felicidade do nosso coração. É como a mulher que usa salto agulha, embora suportando a dor nos pés e o desconforto da coluna, além do risco de um tombo. Porém, assim ela se considera mais elegante e sedutora aos olhos alheios.

“Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”, disse Jesus (Mateus 6, 21). Se o nosso coração se deixa imantar pela vaidade, pela ambição, pela inveja, é natural que adotemos procedimentos pautados por essa escala de “valores”.
Em uma sociedade tão consumista e competitiva como a nossa, não é fácil sentir-se bem consigo mesmo. A cultura neoliberal impregna o nosso inconsciente de motivações que reduzem o valor que damos a nós mesmos. O tempo todo somos bombardeados pela publicidade que alardeia não ser feliz quem não possui tal carro, não mora em tal bairro, não veste tal grife, não faz tal viagem.

Vejam como nas peças publicitárias todos são felizes e saudáveis! Vejam como os ricos e famosos, que têm acesso a todos esses produtos de luxo, são esbeltos e alegres! Como canta Chico Buarque em Ciranda da bailarina: “Procurando bem / Todo mundo tem pereba / Marca de bexiga ou vacina / E tem piriri, tem lombriga, tem ameba / Só a bailarina que não tem”.
Assim, dançamos conforme a música do consumismo, na esperança de que aquilo que é tido como valor – o carro de luxo, por exemplo – impregne de valor também quem o possui. Sem a posse de produtos de grife e que, supostamente, elevam o nosso status, nos sentimos desvalorizados. Afinal, vivemos em uma sociedade capitalista na qual ninguém tem valor pelo simples fato de ser uma pessoa. Vejam os mendigos e moradores de rua. Quem lhes dá valor?

Para a idolatria do mercado o que possui valor é o produto – o fetiche denunciado por Marx. A pessoa só tem valor se ela se apresenta revestida de produtos valorizados pelo mercado. Assim, o sujeito se faz objeto e o objeto, sujeito.
Eis a inversão total que favorece a depressão, o suicídio e a dependência química. Nesse reino do deus mercado, no qual poucos são os escolhidos e muitos os excluídos, a felicidade é um bem escasso e difícil de ser alcançado, até pelo fato de ser não mercantilizável. Quem no mercado oferece o que mais buscamos, a felicidade? O mercado tenta nos iludir sob a promessa de que a felicidade é o resultado da soma de prazeres.

Quem é feliz sabe muito bem que a felicidade é um estado de espírito, uma sabedoria de vida, uma leveza de coração, uma questão de conteúdo e não de forma, que plenifica, eleva o nosso bem-estar espiritual e faz mergulhar no inefável oceano da amorosidade.

Para alcançá-la é preciso nascer de novo, fazer-se novo no ano-novo, e ousar reduzir a distância entre os bons propósitos e a prática cotidiana viciada por fatores que nos afastam dela. Feliz ano-novo, meus queridos(as) leitores!
PS: Teremos um novo ano curto para aqueles que iniciam a rotina depois do carnaval. Então, serão normais março, abril e maio. Em junho e julho, a Copa do Mundo. Em agosto, setembro e outubro, as eleições. Em novembro, os enfeites da Natal serão desempacotados e logo serão Natal e ano-novo.  

Fernando Brant - A grande bolada‏

A grande bolada

Fernando Brant
Estado de Minas: 01/01/2014


A única grande bolada que recebi foi com bola mesmo. Chutada por um profissional amigo, a redonda bateu em cheio em meu rosto e me abalou um dente. A que todos nós gostaríamos de receber nunca vem, mesmo que façamos de vez em quando uma aposta na loteria – que, sendo de empresa governamental, sempre causa certa desconfiança, com prêmios que se acumulam e acabam saindo para alguém de uma pequena cidade que nem existe no mapa. A mão grande dos governantes federais é insaciável, capaz dos mais variados artifícios para esvaziar nossos bolsos do fruto de nosso trabalho suado. Todo o cuidado é pouco e toda suspeita vale.

As boladas não são para nós, cidadãos, mas as porradas sim. Leio as declarações do coronel Sarney sobre os quase 60 assassinatos e os estupros na penitenciária de São Luís: “A violência ficou restrita aos portões da prisão”. Como se a capital do estado que ele e os seus governam há quase 50 anos não fosse exemplo de miséria, insalubridade, falta de educação e crueldade. Este é o aliado maior dos antes puros, dos defensores da justiça e dos pobres até que as portas dos palácios se abriram para eles.

Outro aliado cara de pau viaja de jato para implantar cabelos no Recife. Passeio pago com o que nos tiram diariamente com impostos, taxas e burocracia. Mais porrada, esta atingindo os músicos e compositores brasileiros: o Senado e a Câmara, irresponsavelmente, passando por cima de qualquer discussão, aprovaram em junho uma lei nefasta que a presidente sancionou. No momento, estamos discutindo a questão, democraticamente, no Supremo. O golpe da aprovação da lei foi apenas um capítulo a mais na série de agressões que os autores vêm recebendo desde que o atual partido governista se instalou em Brasília, há quase 12 anos.

Não ouvi nem li nenhuma palavra do Lula, quando candidato, sobre o propósito de nos perseguir. E não acredito que essa tenha sido ideia dele. Desde os primeiros momentos de seu primeiro mandato, porém, dentro do ministério que deveria cuidar da cultura se instalou um pessoal que parece odiar os criadores de canções. Queriam passar os direitos dos músicos para o pessoal do cinema, mas como, ao mesmo tempo, desejavam mesmo é destruir a grande empresa de comunicação do país, tiveram de recuar. Passaram a falar em flexibilizar os nossos direitos, entregá-los para as telefônicas. E por aí seguiram. Como havia alguns antropólogos nesse grupo, cheguei a pensar que o que eles tinham em mente era nos exterminar para nos estudar, conhecer essa nossa gente estranha e rara.

Sei que a briga continua e que este será um ano importante. Não quero bolada e muito menos porrada. Quero ter reconhecidos os meus direitos. Paz e harmonia para continuar criando canções.

Capas de disco ganham status de obra de arte no livro Onda infinita‏

Ouça com os olhos 
 
Capas de disco ganham status de obra de arte no livro Onda infinita, que reúne projetos gráficos de CDs lançados pela gravadora Dubas. Identidade visual e música se completam 
 
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 01/01/2014


 Ronaldo Bastos é quem imprime visão de bom gosto pela criação gráfica. Os CDs de sua gravadora, a Dubas Música, são prova disso.  (Dubas/Divulgação)
Ronaldo Bastos é quem imprime visão de bom gosto pela criação gráfica. Os CDs de sua gravadora, a Dubas Música, são prova disso.

Ronaldo Bastos é um dos principais letristas do país. Compositor do Clube da Esquina, ele sabe fazer música tão bem quanto capa de disco, apesar de não ser fotógrafo ou designer. Ao longo de sua trajetória, ele conviveu com talentos dessas áreas: Cafi, Kélio Rodrigues, Noguchi e Rico Lins, entre outros. Todos apuraram a visão e o gosto de Ronaldo pela criação gráfica. Os CDs de sua gravadora, a Dubas Música, são prova disso.

Um apanhado dessa produção pode ser conferido em Onda infinita (Editora Zahar). Além de reproduzir o material iconográfico de cerca de 70 CDs – capas, contracapas, encartes, ilustrações, fotografias –, o livro celebra os 10 anos de parceria entre a Dubas e a casa de criação e design 6D.

“Esse trabalho é o resultado do encontro feliz entre um cara que sempre gostou de fazer capas de disco, que sou eu, o Beto Martins, designer talentosíssimo, Leonel Pereda, produtor recém-chegado ao Brasil e encantado pelo que viu e ouviu, e Marcela Boechat, uma grande facilitadora de todos os processos”, conta Ronaldo.

Em 2001, foram lançados dois dos principais títulos do catálogo da Dubas: Juventude/ Slow motion bossa nova e Bossa nova lounge/ Look to the sky. “Muito bem-sucedidos, eles influenciaram a indústria fonográfica brasileira, de artistas a produtores e executivos. Esses discos traziam, além da música de qualidade indiscutível, forte identidade visual que contribuiu decisivamente para estabelecer uma nova linguagem. De lá para cá, foram muitas capas em parceria entre a Dubas e a 6D”, explica o compositor.

Chama a atenção o formato de Onda infinita, semelhante a um vinil de 10 polegadas. Beto Martins, sócio da 6D, conta que a transposição do material para as páginas o surpreendeu: “A gente não sabia como as capas iriam reagir, se perderiam algum detalhe. Mas elas se adaptaram superbem, como se tivessem sido desenhadas para aquele tamanho”.

De cerca de 120 discos, foram escolhidos 70, gravados por artistas como Sylvinha Telles, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Torquato Neto, Fernando Brant, Celso Fonseca, Alaíde Costa e Gilberto Gil, entre outros. Ronaldo Bastos classifica a seleção como feliz e importante, lembrando que capas de LPs antológicos tiveram de ser reformuladas para o formato CD. O repertório desses álbuns traz de bossa nova e samba jazz a MPB e Clube da Esquina.

“Capa de disco pode ser obra de arte. Nem todas o são. A produção industrial não impede o objeto de ser apreciado dessa forma. Assim como gravuras fazem parte de séries numeradas, o CD ou o vinil têm tiragem limitada, com valor artístico para além dos critérios de produção”, acredita Ronaldo. “A diferença entre um Picasso e um grande disco é que um custa US$ 10 milhões e o outro US$ 10”, compara o dono da Dubas.

O multicolorido Onda infinita conta com textos dos jornalistas Arthur Dapieve e Antonio Carlos Miguel e do designer Rico Lins. A edição traz também CD comemorativo com gravações importantes para a MPB. Beto Martins, que enveredou pelo design sob a influência da música – é neto de compositor e filho de jornalista especializado no tema –, lembra que o livro foi produzido em tempo recorde. A ideia, adianta ele, é dar prosseguimento ao projeto.

“Com certeza, a gente quer desdobrar a marca Onda infinita em outros produtos – um novo livro ou disco, não sabemos ainda. Encontramos um caminho legal. E as pessoas reconhecem a importância desse projeto”, conclui Lins.


TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Ronaldo Bastos
. compositor e produtor

Por que o título Onda infinita?
Sempre disse, quando perguntado, que a linha da Dubas era a linha do horizonte. Mas que isso seja bem entendido: o diferencial da Dubas é a direção artística. A gente lançou e lança artistas de estilos diversos, mas com uma visão estética que faz com que todos ocupem harmoniosamente o mesmo ambiente. Quando começou o processo, as primeiras ideias eram frases relativas à relação entre ouvir e ver, mas falar algo como “sons para ouvir” ou “cores para ver” parecia ideia banal. Onda infinita se contrapõe a toda essa propaganda do fim das coisas: o fim do CD, o fim da música, o fim dos direitos, etc. Isso é pouco inteligente. A gente pode viver num mundo em que vários suportes coexistem e os direitos de todos são respeitados. Isso é ser moderno.

Qual é o segredo de uma capa de disco? Há casos em que a embalagem supera a música que está lá dentro?
Se a capa for melhor do que o disco, nem a capa é boa nem o disco é bom. O segredo é a alma do negócio... A capa precisa sugar o olho e o coração da pessoa, além de sugerir mistérios por trás daquela imagem. A boa capa faz você querer ter aquilo imediatamente, pois sabe que não vai se decepcionar.

Os vinis estão de volta. Eles vão segurar a onda da indústria fonográfica no Brasil?
Acho ótimo. O LP nunca deveria ter saído de cena. Há lugar para quase tudo neste mundo. O vinil é um formato importante para a música, não se trata de simples saudosismo ou do fato de contar com proporções que facilitam o deleite visual, o que também acho importante. O som do vinil talvez não seja “perfeito” como o formato digital, mas é mais quente. Emociona – e isso conta muito na música. Quanto a segurar a onda da indústria fonográfica, minha contribuição é muito trabalho para sintonizar a onda infinita.

Verônica Ferriani não se limita a cantar.‏

Novo momento
 
Verônica Ferriani não se limita a cantar. Em seu novo CD, a paulista apresenta as próprias composições e diz que adora inventar histórias de amor. Turnê nacional começa este mês

Ailton Magioli

Estado de Minas: 01/01/2014






"Dei-me a liberdade de não seguir a MPB", Verônica Ferriani, cantora e compositora
Depois da dupla estreia, em 2009, com o solo Verônica Ferriani e com Sobre palavras (disco gravado em parceria com Chico Saraiva), a cantora paulista lança o independente Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. Além de inédito, o repertório é integralmente autoral.

 “Para mim, faz diferença, sim. É um novo momento, que reflete aprendizado e amadurecimento”, afirma Verônica Ferriani. E admite: Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio é um disco verborrágico, inclusive em relação às “coisas de dentro”, centrado no coração e no amor.

Produzido por Marcelo Cabral e Gustavo Ruiz, o trabalho está disponível para download gratuito no site www.veronicaferriani.com , enquanto o CD físico é vendido nas lojas. Depois dos shows de lançamento na capital paulista e em Ribeirão Preto, sua cidade natal, Verônica vai iniciar a turnê nacional este mês.

Estampa e só foi escolhida como a faixa de trabalho. De acordo com a artista, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio a transportou para seu álbum de estreia, em que ela cantava apenas duas inéditas (Na volta da ladeira e Bem feito), com o acréscimo de releituras de Paulinho da Viola, Assis Valente e Gonzaguinha.

“Sempre gostei de cantar, simplesmente. Agora, senti vontade de ser artista maior do que a intérprete. Escrever o que cantar pode ter um peso”, avalia, ressaltando a contundência do ato de compor. “Desde criança, gostava de inventar histórias de amor. Sou romântica”, revela.

A cantora e compositora paulista salienta que seu novo CD tem um recorte de crônica para discutir as relações amorosas. “A personagem do disco não é heroína, mas humana. Eu me vali dos conflitos dela para falar de amor, um grande incentivo para a gente se conhecer e se compreender”, esclarece.

MPB Na opinião da cantora e compositora, de oito anos para cá a nova geração passou a ter voz no mercado da música brasileira, deixando para trás a pecha de “nova MPB”. “Mesmo porque temos influências de muitas outras linguagens”, lembra Verônica, ao justificar o porquê da recusa de rótulos. “Chegamos com vontade de criação e nos desprendendo de referências únicas”, acrescenta. Tentar repetir a trajetória de uma geração brilhante como a de Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina pode afastar o interesse do público pelo trabalho de novos artistas, pondera.

“No novo disco, dei-me a liberdade de não seguir a MPB. Há, sim, uma geração importante que vai continuar produzindo bacana nessa linha, mas também há muita coisa diferente”, adverte, salientando que ela e seus contemporâneos já se colocaram no mercado, oferecendo mais possibilidades de escolha. “Já não é como nos anos 1990, quando o rádio decidia o que as pessoas iam ouvir. A própria mídia mudou muito”, acredita.

Ao sair da zona de conforto para se arriscar num mercado repleto de “mais do mesmo”, Verônica Ferriani oferece um menu de boas canções, que vão de Zepelim a Lábia palavra, passando por De boca cheia, Ele não volta mais, Era preciso saber, À segunda vista, Dança a menina, Não é não, Esvaziou, C’est la vie e Estampa e só.

http://youtu.be/dr1sNv10uEQ

Eduardo Almeida Reis-Alvíssaras!‏

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/01/2014 

Alvíssaras!
Primeiro dia de 2014! Se ainda bebesse muito, juro que tomaria um foguete. Só de começar estas bem traçadas, ainda no ano que não deixa saudades, recebi duas notícias que me deixaram numa alegria que não tem tamanho, aquela do pinto no lixo ou na bosta, como queiram. Esta última no sentido de “mancada”. Houaiss nos fala de bostal, do baixo-latim bóstar,áris “estábulo, curral de bois”, derivado de bos,bovis.

Passei boa parte de minha vida pelejando com bois e vacas. Por isso posso afiançar ao caro e preclaro leitor que o ambiente é moralmente limpo, ético, arejado, em tudo e por tudo muito melhor do que certa política feita por aí. Dela não falo, porque hoje é dia de festa, de esperança, de sonhos com um Brasil melhor, mesmo porque não pode piorar.

Ressuscitar
Penso que o primeiro dia do ano merece que se ressuscite um verbo, puro latim, que entrou em nosso idioma no século XIII para ser morto e enterrado há 40 ou 50 anos, mas continua vivo em inglês, hoje a língua universal, com a seguinte explicação para o adjetivo e o substantivo profligate: Mid-16th century. Latin profligatus, past participle of profligare “strike down, ruin” fligere “to strike”.

Deu para entender que me refiro ao verbo profligar. Ninguém mais profliga. Antigamente, a oposição profligava: tentava destruir com argumentos; atacava com palavras; criticava duramente; verberava, fustigava. Oposicionista brilhante era profligador. Discurso de oposicionista, hoje, parece conversa de comadres. Há pouquíssimos oradores alfabetizados.

Seu Paim
Sei que é besteira, mas tenho a preocupação de saber se já escrevi sobre determinada pessoa neste espaço. Ainda que tivesse escrito há dois ou três meses, o leitor não se lembraria. Republicar a crônica textualmente seria desonestidade; mexer do texto para dar a entender que é diferente, desonestidade ainda maior. Desde ontem quero falar do Sr. Paim, farmacêutico em Pedro do Rio, um dos maiores distritos de Petrópolis, RJ.

Usando o “localizar” do Windows, descobri que falei dele num dos meus livrinhos. Aqui vai o texto retocado, porque escrito há 15 anos e o autor não se conforma com um texto que produziu há tanto tempo. Vamos lá: alto, elegante, de fala mansa e gestos equilibrados, sempre metido num jaleco branco que lhe chegava aos joelhos, o Sr. José Paim tinha farmácia bem montada e grande clientela, a começar pela minha família, em Pedro do Rio.

Farmacêutico diplomado, com 40 anos de clínica médica, conhecia mil vezes mais medicina do que a esmagadora maioria dos meninos formados recentemente. Durante anos foi o pediatra de nossas filhas com ótimos resultados.

Depois da consulta, prescrevia o medicamento. Se o cliente não pudesse pagar, levava o remédio fiado, débito anotado no borrador que o excelente patrício guardava numa gaveta. Até que um dia chegou a hora de o farmacêutico operar-se num grande hospital de São Paulo, cirurgia delicada, custo estimado em 20 mil no dinheiro da época. E o paciente não tinha um tostão. Só tinha o estoque de remédios de sua farmácia e 60 mil, no dinheiro da época, anotados no borrador.
Seus filhos saíram em campo e conseguiram receber a terça parte dos 60 mil, suficiente para pagar a cirurgia em São Paulo. E fizeram o pai jurar, com a mão sobre a Bíblia, que jamais venderia uma aspirina fiada. Voltando curado de São Paulo, o Sr. Paim retomou o trabalho na farmácia fiel ao juramento feito.

Dias depois, mandou chamar sua filha, contadora com escritório a dois quarteirões de distância, que o encontrou no consultório diante de uma jovem mãe paupérrima, com o filhinho no colo: “Mandei chamar você – explicou à contadora – porque este menino tem isto-assim-assim e vai morrer daqui a pouco se não tomar, agora, este remédio, que custa xis. A mãe não tem um tostão. Como fiz o juramento de nunca mais vender fiado, quero saber como devo proceder”. Liberado pela filha, voltou a vender fiado.

O mundo é uma bola
1º de janeiro de 404: o imperador romano Flávio Augusto Honório proíbe combates entre gladiadores em Roma. Em 2014, as televisões brasileiras vivem anunciando combates de MMA e UFC como “esporte” digno de ser veiculado. Em 630, o profeta Maomé parte com o seu exército para Meca visando a capturar a cidade. Em 1001, Estevão I, o Grande, ou Santo Estevão da Hungria, Szent István Király em húngaro, torna-se o primeiro rei da Hungria.
Em 1259, Miguel VIII Paleólogo é proclamado co-imperador do Império de Niceia, que não era da senhora Celso Pitta, mas um império que durou de 1204 a 1261 e tinha como capital a cidade de Niceia, atual Iznik, na Turquia. Em 1502, navegadores portugueses exploram a Baía da Guanabara, que confundem com a foz de um rio chamando-a Rio de Janeiro, o nome da atual segunda cidade mais populosa do Brasil. Em 1527, Fernando I da Áustria é coroado rei da Croácia, que vai jogar com o Brasil no Itaquerão.

Hoje é o Dia Mundial da Paz e o Dia da Fraternidade Universal.

MEC libera consulta de cursos e instituições que admitirão alunos por meio do Sisu e promete divulgar resultado do Enem até sábado‏

Disputa pela universidade 
 
MEC libera consulta de cursos e instituições que admitirão alunos por meio do Sisu e promete divulgar resultado do Enem até sábado. 

Flávia Ayer
Estado de Minas: 01/01/2014


O ano novo começa com definição para estudantes que concorrem a uma vaga nas instituições públicas de ensino superior. O Ministério da Educação (MEC) promete divulgar entre sexta-feira e sábado o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ontem, o MEC liberou a lista de universidades e cursos ofertados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que abrirá inscrições na segunda-feira até às 23h59 do dia 10. Em Minas, são mais de 19 mil vagas em 18 universidades e institutos federais.

As notas do Enem são o critério para classificar candidatos no processo seletivo, que oferece cadeiras em universidades federais, estaduais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia em todo o país. Pelo menos 25% das vagas são voltadas para cotistas, alunos de escolas públicas, de baixa renda, negros, pardos e indígenas. Esta será a primeira edição que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a maior do estado, adota o Sisu. A instituição, que está oferecendo 3.535 vagas, lançou inclusive um site específico (www.ufmg.br/sisu) com informações sobre a sua participação no processo.

A virada do ano está sendo de muita expectativa e ansiedade para a estudante Tainá Diana Rodrigues, de 21 anos. Ela tenta pela quarta vez uma vaga de medicina numa universidade pública. “Apesar de o MEC falar em datas, sabemos que o resultado pode sair a qualquer hora e fico pensando qual será minha nota e em qual universidade vai dar para eu passar”, conta Tainá. Ela tem preferência pela UFMG e pela Universidade Federal de Juiz de Fora. “Acho que a concorrência na UFMG pode aumentar com o Sisu, pois pessoas do Brasil inteiro podem concorrer”, ressalta.

COMO FUNCIONA Em 2013, cerca de 5 milhões de brasileiros fizeram o Enem, pré-requisito de participação no Sisu, que abre oportunidades para o primeiro semestre de 2014. Além de ter feito a última edição do exame, os alunos não podem ter zerado a redação. Para se inscrever no Sisu, o candidato deve entrar no site sisu.mec.gov.br. O sistema funciona como um leilão de vagas e cada candidato pode optar por até dois cursos. Há a possibilidade de alterar as opções durante as inscrições
.
Ao longo do período de inscrições, é possível consultar a relação candidato/vaga, a nota de corte e o total de inscritos em cada opção. Essas informações serão atualizadas uma vez por dia e servem como referência para o interessado saber se tem chances ou não de conseguir uma cadeira em uma determinada graduação. Assim, o candidato vai poder mudar de opção caso não tenha nota suficiente para obter vaga no curso desejado.

A primeira chamada será divulgada em 13 de janeiro, com matrículas nas instituições de ensino nos dias 17, 20 e 21 de janeiro. A segunda chamada será divulgada em 27 de janeiro e, depois desse período, o candidato que não conquistou a vaga entra para uma lista de espera.