sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Supimpa - Eduardo Almeida Reis

Creio ter modéstia suficiente para saber que as revistas nunca foram planejadas e publicadas visando a me aborrecer


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/12/2014



Desembargador no TJ-MG, José Marcos Vieira não é somente um bom pintor, é um pintor extraordinário. Pena que passe horas e horas estudando processos chatíssimos, parecidos com aqueles que me levaram a fugir da profissão depois de quatro dias como advogado do Sindicato dos Padeiros do Estado da Guanabara.

Ainda bem que o admirável pintor judica num tribunal respeitado e respeitável como o de Minas Gerais. O TJ do estado em que nasci vem de dar ao planeta doloroso exemplo de canalhice no processo movido por um juiz contra bela agente de trânsito, quando foi pilhado dirigindo sem documentos e carteira de habilitação um automóvel sem placas. O referido juiz foi casado com Alice Maria Saldanha Tamborindeguy, advogada que exerceu seis mandatos como deputada estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), senhora que tem a subida honra de ser irmã de Narcisa Cláudia Saldanha Tamborindeguy, autora do livro Ai que loucura!, estrela de um imbecilérrimo programa de tevê chamado Mulheres ricas. Moradora no Edifício Chopin da Avenida Atlântica, Narcisa Cláudia é conhecida pelas festas que promove em seu apartamento infernizando os hóspedes do vizinho Copacabana Palace. Diz a Wikipédia que a mulher rica utiliza “famoso megafone” e tem como vítimas preferidas Madonna e Jô Soares. Madonna vá lá, mas Jô deve ser mágoa porque ela mora num prédio vizinho, enquanto José Eugênio Soares, em menino, morou anos no próprio Copacabana Palace.

Não curemos do TJ-RJ – “Tratemos de coisas limpas, como homens de bem e de tino” –, como dizia Cândido de Figueiredo: por isso volto ao desembargador José Marcos Vieira para recomendar que sem embargo dos embargos, que não recebem a matéria, vistos os autos, cumpra o acórdão embargado e providencie sua aposentadoria para se dedicar exclusivamente à pintura. As belas-artes precisam do seu talento. Tenho dito e philosophado.

Revistas
Creio ter modéstia suficiente para saber que as revistas nunca foram planejadas e publicadas visando a me aborrecer. Editores, subeditores, equipes de reportagem e colaboradores não se reúnem para decidir o conteúdo da próxima edição com o propósito de aprontar 120 páginas que não interessem ao Eduardo: o público-alvo certamente é outro, mas fico chateado de não encontrar um só assunto que me interesse, ressalvado um dos cartunistas que tem traço e graça. Aí é que está: não basta o traço, é preciso que o cavalheiro tenha graça. O humor compensa o traço, ao passo que o bom traço nem sempre tem comicidade, crítica, graça.

Para complicar as coisas, dia desses o editorial de uma revista semanal, assinado pela editora, atropelou o português de maneira irremediável. Se os paramédicos no Samu estivessem na imensa oficina em que roda a revista não teriam condições de salvar o idioma, coitado. Nem se diga que o crime foi erro de digitação, coisa que acontece. Foi o sinal de que a situação está mesmo complicada, tanto assim que uma chamada de importante provedor para matéria que retratava linda odontóloga traficante de drogas e armas, com estoque de ambas em seu consultório, não se acanhou ao escrever que a loura dentista guardava quilos de cocaína e várias metralhadoras na clínica dela. Clíni...ca dela! E a odontotraficante ainda não faz parte da ABOV, Associação Brasileira de Odontologia Veterinária...

O mundo é uma bola

26 de dezembro de 1778: Inconfidência Mineira, reunião conspiratória em casa do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade. Inconfidência que nos remete aos feriados anuais de 21 de abril e à dolorosa distribuição de colares, comendas e medalhas em Ouro Preto. Duvido, mas duvide-ó-dó, que algum dos presos na Operação Lava-Jato não tenha comendas, medalhas, colares da Inconfidência. Todo bandido brasileiro tem.

Na solenidade ouro-pretana há o descompassado desfilar dos Dragões da Inconfidência, que não acertam o passo porque o brasileiro é pouco ou nada marcial, ao contrário dos alemães, dos russos, dos norte-coreanos e de tantos outros povos. Em Ouro Preto o problema é agravado pelo calçamento irregular. Dia 19 do mês passado tive a notícia, através do provedor Terra, de que os Dragões da Independência finalmente acertaram o passo em Brasília, DF. Quatro jovens militares do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas (1º RCG), oficialmente denominado Dragões da Independência, foram presos assaltando postos de gasolina. Sua missão é guarnecer as instalações da Presidência da República, realizar o cerimonial militar representativo da Capital do Brasil, contribuir para a formação do cidadão brasileiro, manter as tradições equestres da Cavalaria; participar de missões de garantia da lei e da ordem (GLO) etc. Deixo a análise dos assaltos a critério do leitor.

Em 1792, começa em Paris o julgamento final de Luís XVI. Em 1825, é aberto o Canal de Erie, que conecta o Lago Erie ao Rio Hudson, no estado de Nova York, como acabo de aprender. Em 1845, o Texas se torna o 28º estado norte-americano. Em 1898, Marie Curie anuncia a descoberta da pechblenda, uma variedade provavelmente impura da uraninita, mas a mesma fonte informa que a pechblenda foi descoberta por Antoine Henri Becquerel, motivo pelo qual o palpitante assunto deve ser estudado pelo pacientíssimo leitor.

 Ruminanças

“Navegar é necessário; viver, não” (Pompeu, 106-48 a.C.). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário