sábado, 29 de novembro de 2014

Efeito Pearson - Eduardo Almeida Reis

O bandido que matou o chofer se vangloriou pelo celular. Não cometeu um crime e sim um ato infracional: menor, é inimputável


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 29/11/2014




Ainda que devagarinho, as últimas eleições acusaram o Efeito Pearson em diversas regiões deste país grande e bobo. A começar pelo médico Agnelo dos Santos Queiroz Filho, o radialista Anthony William Matheus de Oliveira, o ex-líder estudantil Luiz Lindbergh Farias Filho, o médico Alexandre Rocha Santos Padilha, o economista Eduardo Matarazzo Suplicy, a advogada Gleise Helena Hoffmann, o médico Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, o engenheiro e economista Edison Lobão Filho, a raiventa Luciana Krebs Genro, seu genitor, o advogado Tarso Fernando Herz Genro, o bispo Marcelo Crivella e vários outros brasileiros e brasileiras.

Como sabe o leitor, o Efeito Pearson resulta de uma fórmula que mistura cresóis e fenóis associados a hidrocarbonetos aromáticos na forma miscível, produzindo um tipo de emulsão essencialmente fina em diluição na água. Assegura o mais amplo espectro de ação bacteriana sobre os microorganismos Salmonella typhimurium, Pseudomonnas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes, Escherichia coli e sobre muitos políticos brasileiros. É a Creolina Pearson, que deve ser usada como desinfetante de instalações agropecuárias como pocilgas, galpões e estábulos, no tratamento das miíases (bicheiras) e nas urnas eletrônicas em soluções de 2% a 4% em água. Cuidado: não usar em felinos!

Crimes

Sempre que alguém queima um ônibus – em cinco dias, só em Santa Catarina, foram 17 – o telejornalismo fica preocupado com os motivos, como se houvesse motivo para botar fogo num ônibus. Virou moda no Brasil inteiro. Em São Paulo, dia desses, o fogo alcançou o motorista, que morreu dois dias depois. Em São Luís (MA), o pobre motorista teve queimaduras tão sérias que passou semanas numa UTI. O bandido que acabou matando o chofer paulista se vangloriou do homicídio em telefonema pelo celular. Não cometeu um crime e sim um ato infracional: menor, é inimputável. E tem por ele o papa Francisco recomendando que não se punam os menores, coitadinhos, o que não impede que sejam estuprados por alguns clérigos.
Duvido que a psiquiatria forense possa explicar certos crimes. Thiago, o vigilante goiano, autor confesso de 39 homicídios, assaltou dois rapazes que tomavam cerveja num bar. Chegou de moto com capacete, apontou o revólver, tomou o dinheiro e os celulares dos dois.

Em seguida, devolveu espontaneamente os celulares e o dinheiro antes de atirar num deles, que morreu. O sobrevivente contou, como vi na tevê, que Thiago estava de capacete, mas tem certeza de que foi ele, porque o reconheceu pelos olhos. Homessa! Foi exatamente pelo olhar que analisei o maluco e escrevi sobre o fato, considerando que não tem o tipo lombrosiano, mas o seu olhar de viés é indicativo do que lhe vai pelos miolos.

Coragem

Magro, bons dentes, cabelos brancos, o psicanalista Contardo Calligaris, de 68 anos, não tem medo de dizer o que pensa. Nascido na Itália, formado em letras, doutor em semiologia, doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provença, na França, casado desde 2011 com a atriz Mônica Torres, foi muito feliz no Manhattan Connection do dia 26 de outubro, logo depois das eleições.

Perguntado sobre a possibilidade de contar com a senhora Rousseff como sua paciente, explicou que seria complicado, porque ela teria que ouvir alguém. Trabalhando “diuturna e noturnamente” pelo bem do Brasil, a senhora Rousseff não dispõe de tempo para ouvir ninguém. Se dispusesse, saberia que “diuturna e noturnamente” não existe em português, considerando que o adjetivo diuturno significa “que se prolonga, prorroga ou protela no tempo; prolongado, longo; demorado, que subsiste por muito tempo”. Noturnamente não existe na consulta eletrônica ao Volp da Academia Brasileira de Letras, mas a senhora Rousseff pode falar com o seu inventor, o honoris causa da Silva, que assinou o Acordo Ortográfico e deve conhecer o sufixo -mente, do latim mens,mentis 'espírito, alma', na formação de advérbios com a noção de 'maneira, modo': fielmente, regularmente, mesmo porque mente muito.

O mundo é uma bola

Veja o pacientíssimo leitor como são perigosos certos ensinamentos da Wikipédia. Descubro que no dia 29 de novembro de 1643 dom João VI criou o Ministério da Justiça no Brasil. Providência difícil, porque dom João VI, aliás João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, nasceu em 1767 e foi a óbito em 1826. Nomes reais são muito compridos, enquanto os plebeus podem ser deliciosos como o da garçonete que pesava minhas marmitas no Couve-Flor: Kerollay. É dos melhores nomes que tenho visto nestes últimos 50 anos. Ainda sonho ver o Brasil entupido de Kerollays e o Google já tem 30.000 entradas para Kerollay.

Em 1877, inauguração da primeira instalação telefônica do Brasil, no Rio de Janeiro, durante o governo do neto de dom João VI. Em 1888, o físico alemão Heinrich Rudolf Hertz prova a existência das ondas eletromagnéticas. Em 1929, isto é, ainda “outro dia”, o almirante norte-americano Richard Byrd foi a primeira pessoa a sobrevoar o Polo Sul. Em minha esplendorosa ignorância pensei que Byrd, em inglês, fosse passarinho, mas é bird, que na Inglaterra também significa "gatinha".

Ruminanças


“Mau caráter: um homem cujas qualidades, preparadas para mostrar como uma caixa de frutas no mercado – as boas para cima – foram abertas do lado errado. Um cavalheiro invertido” (Ambrose Bierce, 1842-1914). 

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