quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Delícia - Eduardo Almeida Reis

Delícia


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/11/2014





Fugindo de noticiário chato, dei com este velho costado na ESPN que entrevistava, no programa Bola da Vez, famoso jogador de futebol transformado em comentarista esportivo. Raras vezes me diverti tanto com a interminável sucessão de asneiras do novo comentarista.

Nada impede que um ex-craque se transforme em comentarista esportivo, mania atual dos nossos canais de tevê. Muitos são articulados, divertidos, informados, conhecem os meandros do esporte que praticaram profissionalmente. Vários se transformam em políticos melhores que os políticos profissionais, até porque é impossível que sejam piores.

O rapaz entrevistado no Bola da Vez, que teve sucesso nos gramados, tem uma capacidade de dizer tolices raramente vista em qualquer lugar. Por qualquer motivo fala de paradoxo, como se tivesse noção do que seja um paradoxo, pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria.

Várias vezes disse ter aprendido, no primeiro canal em que trabalhou como comentarista, “coisas que não sabia”, como se tivesse cabimento aprender coisas sabidas. E foi por aí, num besteirol inenarrável, dos mais divertidos que já vi.

Baratas


“Um quilômetro! Um quilômetro!” exclamava o muito saudoso José Carlos de Lèry Guimarães advertindo sobre a distância percorrida pelas baratas quando sentiam o cheiro dos restos de cervejas nos copos ou nas garrafas. Daí a necessidade de lavar e emborcar garrafas vazias. Cervejeiro contumaz, o então jovem philosopho repassou o exagero para as funcionárias domésticas que o assistiam, considerando que nunca soube lavar um copo, uma garrafa, um prato, um talher.

José Carlos foi dos mais brilhantes dos meus amigos, inteligência fulgurante que teria estourado na cidade grande, mas se deixou ficar pela aldeia a cavaleiro do salário de procurador federal. No país dos meus sonhos, todos os jornalistas realmente brilhantes teriam aposentadorias de procuradores federais. Como são poucos, as aposentadorias não pesariam no orçamento da nação, que se beneficiaria do brilho dos profissionais.

Lembrei-me do bom gosto das baratas pelas cervejas, ainda que velhas e quentes, na tarde quente em que matei uma trinca de belgas Duvel, antes de dormir o sono dos justos. Lembrei-me também do nome do jornalista Phíntias Guimarães, que não conheci pessoalmente, pai do José Carlos. É fantástico ser filho de um Phíntias. Fui ao Google, que só tem duas mil entradas para o nome, várias em alemão. Se o leitor souber do Phíntias histórico ou lendário, me conte por favor.

Termométricas

Na tarde em que o termômetro aqui da sala de tevê marcou a temperatura mais alta desta primavera, senti menos calor do que nas tardes em que o termômetro anotava menos dois graus. Só pode ter sido a tal de sensação térmica. O sujeito que a descobriu é um gênio, porque a sensação de frio ou calor geralmente não coincide com as marcas do termômetro. Ventos, umidade relativa e outros fatores devem contribuir, como também deve ser importante aquilo que você comeu ou não comeu, bebeu ou não bebeu.

Termômetro sozinho não basta, mas pode matar de susto. Numa de minhas crises de malária, o termômetro chegou a 41.6 e minha santa companheira telefonou para o médico dizendo que o seu marido e senhor estava com febre de 46.1. Troca de números, coisa que acontece.

Do meu leito ouvi o telefonema e concluí: estou morto. E tive a nítida sensação de entrar no céu, porque a temperatura começou a baixar em consequência do remédio que me deram: a sensação é de entrar no céu. Parecida com a sensação que o Microbrachius dicki, um peixe de 7 cm, com o dicki em forma de L, que viveu há 385 milhões de anos num lago da Escócia e deve ter sido, segundo a ciência, o primeiro bicho deste planeta a fazer sexo, fazer amor (peixe faz amor?), copular. Ensinam os anglófilos que dicki é pinto.

Usava seus bracinhos para transar de lado – di-lo a ciência – o que, transcorridos 385 milhões de anos, continua sendo muito bom. No caso do Microbrachius dicki a posição de ladinho tinha a vantagem de não enxergar a fêmea feia pra dedéu.

O mundo é uma bola

19 de novembro de 1499, parte da Espanha o navegador Vicente Yáñez Pinzón, que teria alcançado a costa brasileira em janeiro do ano seguinte, meses antes do descobrimento oficial pelo nosso Pedro Álvares Cabral. Em 1807, Humphry Davy escreve à Sociedade Real Britânica sobre as propriedades do potássio, elemento que acabara de descobrir. Em 1819, inauguração do Museu do Prado em Madrid, Espanha. Em 1889, o governo provisório brasileiro baixa os primeiros decretos regulamentando a bandeira, o brasão de armas, o hino e o selo nacionais. Em 1906, comemora-se pela primeira vez o Dia da Bandeira no Brasil. Em 1969, Pelé marca no Maracanã o seu milésimo gol às 23h11min, no jogo Vasco x Santos, vencido por 2 a 1 pelos santistas. Hoje é o Dia da Bandeira e o Dia do Cordelista.

Ruminanças

“Que mal terá feito a Deus o pequeno coala para cair no colo da senhora Rousseff?” (R. Manso Neto).

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