quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Aleluia! - Eduardo Almeida Reis

Aleluia! - Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 12/11/2014



Enfim, uma notícia boa. A gente abre os jornais, liga o televisor e pipocam notícias ruins. É a morte de um colega de turma que você não via há séculos, mas foi seu amigo na faculdade. É a missa de sétimo dia por alma de um querido amigo digno, antes e acima de tudo um cidadão honrado, como poucos houve na história deste país. Ontem, felizmente recebi ótima notícia: casal meu amigo há quase 40 anos está de mudança para Orlando, Flórida, onde já reside sua filha única.

Formado em direito, ex-fazendeiro, arquiteto genial não diplomado, o maridão vendeu tudo que tinha neste país grande e bobo, meteu seus móveis em contêineres e lá se vai de muda para a Flórida, onde comprou bela casa num condomínio vizinho do campo de golfe construído pelo campeão Arnold Palmer, alcunhado The King, um dos maiores jogadores profissionais de golfe da história dos Estados Unidos.

Aposentadoria mais que justa para um casal que não merece continuar andando em carros blindados. O marido chegou a ter três picapes Chevrolet Montana blindadas, compradas de segunda mão por uma tuta e meia de comerciantes suburbanos, que precisam delas para levar suas férias aos bancos.

Meu amigo usava as picapes nas idas ao supermercado, ao cinema, para visitar pessoas e para transportar os móveis que projetava. BH já tem um monte de gente circulando em carros blindados, cavalheiros e damas não necessariamente milionários, que o leitor conhece muito bem. Em rigor, só existe um motivo para este philosopho não andar em carro blindado: já não tenho carro.

De Orlando, o amigo promete me telefonar frequentemente: existem celulares norte-americanos que custam 100 dólares por mês e você pode ligar para o mundo inteiro falando o tempo que quiser. Invejo os moradores da Flórida e os vizinhos do condomínio projetado e construído por The King, que passam a contar com a assessoria estética e técnica de um arquiteto genial.

Horários
Este ano, o horário de verão começou no domingo, 19 de outubro, nos diversos estados em que é imposto, salvo aqui em casa, que começou três dias antes. Na quinta-feira, dia 16, aproveitei a visita do técnico em informática para pedir que adiantasse meus relógios eletrônicos, poupando-me da estrênua tarefa de xingar as mães de todos os responsáveis pela imposição do horário abjeto, xingatório que dura horas e horas porque não sei mexer com os tais relógios: incompatibilidade etária.

Na manhã seguinte, o relógio do quarto marcava 7h, eram 6h, depois de boas oito horas de sono. Desperto, quedei-me no leito sem vontade de levantar. Diagnóstico: spleen. Sou do tempo em que muita gente sofria de spleen, palavra que entrou no idioma dos Pitts e dos Chaucers no século 13, do grego splën via latim splen, di-lo o dicionário do doutor Bill Gates. Não chega a ser depressão: é uma espécie de melancolia, sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação.

Tentei dormir, não consegui, levantei-me e aqui estou para falar do horário de verão, que neste ano é aparentado com o acarajé de Dorival Caymmi. O baiano poetou “todo mundo gosta de acarajé” e todos os debatedores dos programas que vejo na tevê se disseram fãs do horário. Uma enquete feita por Maria Beltrão, durante o Estúdio i, provou que o negócio não é bem assim: 53% dos telespectadores disseram que não gostam do horário.

Tenho horror e não acredito na economia de energia anunciada pelo governo, que nada sabe da economia, da inflação, do pibinho, da ladroeira que ele mesmo orienta na Petrobrás, do mensalão, finge não saber de nada – e não pode avaliar a economia de energia.

Donde se conclui que a crise de spleen está explicada. Vou parando por aqui para almoçar bifes altos, farofa caprichada, espinafre ao alho, salada e uma bela dose de sorvete Häagen-Dazs. Tchau e bênção procês todos.

O mundo é uma bola
12 de novembro de 1532: termina o prazo para os moradores de Genebra declararem sua religião, sob pena de expulsão da cidade, por obra e graça de um sujeito chamado Jean Cauvin. Basta ver seu focinho nos quadros para constatar que não era boa-bisca, mas se casou com Idelette de Bure, porque mulher é danada para gostar de casamento.

Em 1823, o imperador Pedro I manda o Exército invadir o plenário da Assembleia Constituinte prendendo e exilando diversos deputados. E olhem que foi 191 anos antes de o Brasil saber dos parlamentares comprados no escândalo da Petrobras.

Em 1906, o 14-Bis volta a voar, percorrendo 220 metros em menos de 22 segundos. Releva notar que não foi em 1006, mas em 1906, há pouco mais de um século. Em 1993, sai da linha de montagem última unidade do Chevrolet Chevette e já saiu tarde, porque era uma titica de carro, dos piores que já tive. Hoje é o Dia do Diretor de Escola, profissão de risco diante da ferocidade dos atuais alunos.

Ruminanças
“Uma escola onde os alunos mandassem seria uma escola triste. A luz, a moralidade e a arte serão sempre representadas na humanidade por um conjunto de mestres, uma minoria que guarda a tradição do verdadeiro, do bem e do belo” (Renan, 1823-1892).

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