sábado, 4 de outubro de 2014

Radiofônicas - Eduardo Almeida Reis

 Mesas de debates são interessantíssimas, com a condição de contar com debatedores inteligentes, divertidos e de fácil digestão


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/10/2014



Comunicadores de nomeada, os senhores José Luiz Datena, que nasceu em Ribeirão Preto, SP, e Milton Neves, natural de Muzambinho, MG, município que vem de proibir a criação de penosas nos quintais urbanos, desentenderam-se numa rádio com direito a palavrões e murros, que teriam terminado no IML, dizem os fofoqueiros. O doutor Datena faz sucesso num programa televisivo voltado para os crimes e as desgraças do dia, enquanto o doutor Neves, tendo nascido no tempo em que sua cidade não proibia penosas nos quintais, aprendeu que as galinhas cantam quando botam ovos. Deve ter sido a causa do merchandising escandaloso que recheia os seus comentários esportivos. Não nos cabe, a mim e ao leitor, entrar no mérito da briga entre os ilustres comunicadores, porque só cuidamos de coisas sérias como homens de bem e de tino.

Rádio é veículo útil e divertido. Pena que 95% das emissoras estejam em mãos religiosas, que as usam para faturar tudo que os crentes têm, além daquilo que sonham ter. Tive algumas experiências radiofônicas e os resultados foram surpreendentes, porque você toma um táxi, tarde da noite, manda tocar para sua casa e o motorista pergunta: “O senhor não tem um programa com o Lery e o Cid?”. Quer dizer: o motorista radiouvinte conhece o passageiro pela voz. Realmente, durante um ano tivemos Mesa de Debates numa rádio juiz-forana: José Carlos de Lery Guimarães, Wilson Cid e o esforçado philosopho. Os dois primeiros inteligentíssimos, cultíssimos, vozes privilegiadas; o terceiro nunca passou de um bobo que fuma charutos.

Mesas de debates são programas interessantíssimos, com a só condição de contar com debatedores inteligentes, divertidos, de fácil digestão. Não dá para catar a laço funcionários da própria emissora: o programa fica uma porcaria. O nosso tinha os dois craques e sempre um convidado, geralmente brilhante, além do tal charuteiro. Ao fim de um ano, realizamos o lucro líquido: um litro de uísque, que bebemos numa noite. Para não estourar o espaço, amanhã conto dos programas que tive na capital de todos os mineiros.

Alimentos

Anda a Nestlé empenhada na adoção de uma política de bem-estar animal, que deve complicar as vidas de mais de 7 mil dos seus fornecedores. A multinacional de alimentos diz que vai parar de comprar produtos provenientes de porcos criados em baias de gestação (?), galinhas em gaiolas em bateria (?) e gado descornado ou cujas caudas tenham sido arrancadas sem anestesia (?). O sinal (?) corre por minha conta, porque a notícia publicada num jornal ficou meio confusa.

Preciso ver nas prateleiras do supermercado se a Nestlé produz margarinas. Se produz, desmoraliza sua anunciada preocupação com o bem-estar animal, a partir do momento em que não se preocupa com o bem-estar humano. A manteiga existe há séculos e a margarina tem cerca de 100 anos. É um veneno criminosamente divulgado pelas multinacionais através dos meios de comunicação, em comerciais produzidos pelas melhores agências para ilaquear os bobos em sua boa-fé através de vídeos cheios de corações sob a forma de almofadinhas. Enganados, os bobos compram e comem aquela porcaria.

De ciência própria, atesto que a Nestlé sabe recompensar os funcionários que nela fazem carreira. Testemunhei o casamento de um amigo, que teve como outro padrinho um açoriano aposentado na direção comercial da Nestlé, depois de entrar na empresa como vendedor de pastinha. Progredindo, teve a educação dos filhos na Europa custeada pela empresa e estava aposentado com US$ 7.000 por mês, naquele tempo uma fortuna.

No capítulo dos ovos, o bom senso nos diz que produzidos pelas aves, que vivem soltas em parques gramados, devem ser mais naturais e saudáveis que os produzidos pelas galinhas debicadas amontoadas em gaiolas mínimas. Nos parques gramados não me refiro aos ovos e às galinhas caipiras: caipirismo é um pavor, que deveria ser proibido por lei. Roupa caipira, festa junina e música sertaneja só a pau. Ressalve-se a caipirinha, bebida preparada com rodelas ou pedaços de limão com casca, geralmente macerados, misturados e batidos com açúcar, gelo e cachaça ou outra aguardente como vodca ou rum. Se preparada com lima-da-pérsia ainda fica melhor.

O mundo é uma bola


4 de outubro de 1910: início da revolução republicana em Portugal depõe o rei dom Manuel II. Conheci no Rio um português chamado Emílio, que lá esteve em Lisboa no dia 4 de outubro, chegou ao Brasil para ser motorista particular e melhorou de vida como corretor de imóveis. Contava episódios da revolução que depôs o rei – correria, fogo de metralha, cadáveres espalhados pelas ruas – e terminava com esta delícia: “A confusão foi tão grande, mas tão grande, que às quatro horas da tarde muita gente ainda não tinha ido almoçar”.

Em 1942, Getúlio Vargas inventa o cruzeiro para moeda oficial de um país grande e bobo. Em 1970, na flor dos seus 27 aninhos, a cantora Janis Joplin morre de uma overdose de heroína. Dizem os especialistas que a heroína é a “melhor” das drogas, pois vicia na primeira picada. Hoje é o Dia Mundial dos Animais e o Dia Mundial da Natureza.

Ruminanças

“Glutoneria é vício solitário; gastronomia, requinte de civilização” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

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