quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Entre neste JOGO - Carolina Braga

Escritores de vários países são retratados pelo argentino Daniel Mordzinski na exposição Quartos de escrita.... As fotos ficarão expostas durante o Fliaraxá, que começa no dia 9


Carolina Braga
Estado de Minas: 01/10/2014




O peruano   Mario Vargas Llosa (Daniel Mordzinski/divulgação)
O peruano Mario Vargas Llosa


O fotógrafo argentino Daniel Mordzinski, de 54 anos, tem preguiça de falar sobre técnica. Prefere indicar o livro que está lendo a explicar detalhes da câmera que utiliza. A veinte años luz, romance de estreia da conterrânea Elsa Osorio, desperta a atenção dele no momento. Compreensível. Há 36 anos, desde que apontou suas lentes para Jorge Luis Borges num set de filmagens, ele nunca mais parou de retratar escritores. O cinema ficou no passado e a literatura virou alimento.
“Sem a minha paixão pela literatura e pela leitura, tudo teria sido diferente. A intimidade que se cria com o autor é fruto dessa paixão, serve para que o retrato seja uma imagem especial”, explica. Pois Mordzinski nunca se interessou por fotografia, simplesmente. Como ele escreve por meio das imagens, o registro de autores fora de seu hábitat virou linguagem, a ponto de hoje Daniel ser reconhecido como o autor das “fotinskis”.

O trabalho de Mordzinski poderá ser visto na exposição Quartos de escrita – Retratos de escritores em hotéis, uma das atrações do Fliaraxá, que será realizado entre os dias 9 e 12 na cidade mineira de Araxá. Daniel evita a pose tradicional em meio a livros, escrivaninhas e prateleiras. Imagens rápidas, seguras e brincalhonas, as fotinskis são retratos que procuram deixar referências literárias para os livros e buscar o sujeito por trás daquela obra. Isso significa registrar Jorge Amado ao telefone; Gabriel García Márquez sentado em sua própria cama, em Cartagena das Índias (Colômbia); José Saramago na janela; Luis Fernando Verissimo à meia-luz; e Salman Rushdie comendo uvas dentro de uma banheira.

Não se trata de sair bem ou mal na foto, mas de algo novo. “É um ‘re-trato’ entre duas pessoas, que logo vão compartilhá-lo com muita gente. O olhar de quem vê a foto nunca é plano, sempre tem sentimentos, dúvidas, ilusões, curiosidade. É um jogo. Se o escritor entra nele, temos motivos para pensar que poderemos ter uma fotinski”, explica. Para Daniel Mordzinski, a fotografia é uma ferramenta com a qual vai construindo um filme imaginário. “Ao mesmo tempo, é um romance e uma foto”, explica.
Raramente um escritor de projeção internacional escapa às lentes dele. Alguns se tornaram amigos, como o peruano Mario Vargas Llosa, que dedicou uma crônica ao fotógrafo quando cerca de 27 mil negativos de seu acervo foram equivocadamente jogados no lixo por funcionários do diário francês Le Monde, do qual foi colaborador.

O episódio foi parar na Justiça. É algo com o qual o argentino ainda não consegue lidar. “Mais que mero acidente, trata-se de mutilação, da amputação não apenas de uma parte importante da minha vida, de meus sonhos de fotógrafo, mas da memória coletiva de minha geração”, lamenta Daniel Mordzinski. Entre os milhares de negativos descartados durante a mudança de sala havia centenas de fotos inéditas, com registros de Julio Cortázar, Octavio Paz e Adolfo Bioy Casares.

Mordzinski é firme defensor do progresso tecnológico. “Adoro a minha velha Leica, mas creio que o mundo digital melhorou infinitamente a qualidade da nossa vida e de nosso trabalho. Essas vantagens são uma porta aberta para a criatividade. Não quero nem me imaginar voltando a revelar”, brinca. Para ele, a tecnologia deve vir sempre acompanhada de imaginação.
O argentino encara com bom humor a mania da selfie. Ele ainda não pensou em um “selfinski”, embora o considere uma boa ideia. Para o fotógrafo, autorretrato deve sempre ter uma certa graça. “Sem humor, não há vida que valha a pena. De qualquer forma, creio que essa é uma boa moda, pois as pessoas tomam consciência de sua própria situação, compartilham sorrisos, demonstram felicidade e se alegram em estar com os outros. Nestes tempos de crescente individualismo, isso pode ser algo muito positivo”, conclui Daniel Mordzinski.


A PREFERIDA

“É muito difícil escolher uma foto. Toda seleção é parcial e incompleta, mas não quero parecer ganancioso. Digamos que Jorge Luis Borges, claro, foi o Aleph, o início de tudo. Creio que esta foto fala por si mesma: é o mito, a Argentina em preto e branco em plena ditadura, a dignidade entre a escuridão. É também a velha Buenos Aires de San Telmo.” 

EM ARAXÁ

O Fliaraxá – 3º Festival Literário será realizado de 9 a 12 deste mês, em Araxá. O escritor mineiro Luiz Vilela será o homenageado. A mostra Quartos de escrita – Retratos de escritores em hotéis, de Daniel Mordzinski, reúne 70 imagens já expostas na Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Inglaterra, Grécia, França, México, Colômbia e Argentina. Ela ficará em cartaz no Tauá Grande Hotel de Araxá entre os dias 9 e 30 deste mês. Programação completa: www.fliaraxa.com.br. 

Um comentário:

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