domingo, 12 de outubro de 2014

EM DIA COM A PSICANáLISE » De volta às urnas

EM DIA COM A PSICANáLISE » De volta às urnas Deviam prometer menos, mas seriam eleitos se assim o fizessem?


Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 12/10/2014



Segundo turno. Uma nova eleição, agora entre dois mineiros, e seremos responsáveis pelo futuro do país. Faremos nossa escolha compulsória, sem nenhuma garantia de que teremos o que nos prometem. Palavras voam com o vento e muitas das promessas de um e outro não serão realizadas. Promete-se sempre mais do que é possível cumprir.

E, como dizem os bons cristãos, colheremos os frutos do que semeamos. É matemático. Saber que tudo o que escolhemos traz perdas e ganhos é aceitar que o mundo não é perfeito e nenhum político igualmente pode ser, nem nunca será. São humanos e fazem promessas. E quando chegam aos cargos para os quais foram eleitos, são barrados por muitas situações externas, além de, creio, internas. O real é duro. Deviam prometer menos, mas seriam eleitos se assim o fizessem?

Nunca saberemos se aquelas promessas que ficaram esquecidas foram abandonadas ou que urgências e pressões levaram nossos representantes a decidir nem sempre como desejaríamos que fosse. Mesmo assim, temos de fazer essa difícil escolha.
Viveremos os resultados dela a cada dia, e esperamos que vença o melhor. Mas resta uma questão: o melhor para quem? Existe um bem que represente a todos? Que garanta o bem comum numa sociedade com interesses tão diversos e múltiplos, fruto da diferença berrante entre as classes sociais?

Aí está a coisa complicada. O bem comum não é único e o bem particular, o de cada um, no um a um dos votos, somará o total que poderá pender para um lado ou outro. Ninguém tem a garantia sobre o resultado, mesmo que as pesquisas continuem fazendo seu trabalho e nos oferecendo números quase precisos como referências da vontade da maioria.
Aquele que mais se aproximar da vontade da maioria será eleito e todos os opositores deverão respeitar a escolha democrática. Sabemos disso e da impossibilidade de um %u201Ctodos sairemos satisfeitos%u201D. As impossibilidades caminham junto com a vida humana.
Mesmo em questões menores e pessoais, sabemos da impossibilidade de realização total, pois até internamente somos divididos entre o que desejamos e o que podemos de fato realizar. Na vida pública, essa demonstração é inegável. Não podemos servir a dois senhores, embora haja em nós a consciência racional e paixões inconscientes alheias ao nosso conhecimento. Estamos entre pulsões de vida e de morte. Portanto, nem mesmo temos a nossa própria casa totalmente em ordem.

Todos devemos algo à civilização que construímos e pagamos um preço por isso. O resultado de nosso esforço em garantir seu bom funcionamento é um estatuto legal para todos, exceto os que são incapazes de ingressar numa comunidade e, por esse estatuto, cada um contribuirá com o sacrifício de seus instintos (agressividade, sexualidade) e, assim, ninguém ficaria à mercê da força bruta.

A liberdade individual não constitui um dom da civilização, prevalecendo a vontade do grupo, e esse conflito é irreconciliável, uma vez que não existe apenas um bem comum a todos. A civilização foi e é construída com o sacrifício de nossas vontades individuais. O processo civilizatório é tecido pelo sacrifício de cada um e pela formação de laços que conseguimos fazer para lutar juntos contra as adversidades, sejam da natureza, as catástrofes, ou pela sobrevivência da espécie.

Sacrifícios são necessários pela vida comum, que nos exige uma renúncia da felicidade pela segurança. Porém, nos dias de hoje, de capitalismo, individualismo, consumismo e de falsas promessas de felicidade plena, feitas pela indústria da propaganda, ainda concordamos com o sacrifício individual pelo bem comum?

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