quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Efeito Arquibaldo - Eduardo Almeida Reis

Efeito Arquibaldo


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/10/2014



 (LELIS)

Já é tempo de a psiquiatria, baseada nos fatos notórios e na sugestão aqui do eminente philosopho, incluir o Efeito Arquibaldo em suas preocupações profissionais. É a reação do arquibaldo – frequentador habitual de arquibancadas – que só existe nos estádios de futebol. Não confundir com o Efeito Manada, em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma, embora não exista direção planejada. É termo que se refere originalmente ao comportamento animal e, por analogia, se aplica ao comportamento humano. É a manada que compra dólares porque todo mundo está comprando, que visita Roma porque todo mundo está visitando, que vota no governador porque todo mundo está votando – e assim por diante.

Não acredito que poucos torcedores do Grêmio, alguns até de pele mais escura que o quíper do Santos, quisessem xingar o senhor Aranha. Gritaram “macaco!” porque outros estavam gritando – Efeito Arquibaldo – e o Grêmio perdia por 2 a 0. O político mexicano que chamou o senhor Ronaldinho Gaúcho de “macaco brasileiro” especificou sua raiva contra os cidadãos do Brasil, considerando que os mexicanos não podem xingar ninguém de macaco, eles que são o maior grupo de grandes antropoides de língua espanhola.

No jogo do Real Madrid contra o suíço Basel, vencido pelos espanhóis por 5 a 1, boa parte da arquibancada merengue apupou o goalkeeper Iker Casillas Fernández na primeira vez em que tocou na bola. Depois, outra parte da arquibancada passou a aplaudi-lo. Nascido em Móstoles, cidade que faz parte da Grande Madrid, o senhor Casillas tem toda a sua carreira ligada ao clube e nele conquistou uma infinidade de títulos. Mais que um atleta, é um símbolo do Real Madrid. Andou falhando na Copa das Copas, mas toda a seleção da Espanha jogou pedrinhas. Em matéria de Efeito Arquibaldo, nada mais imbecil do que um torcedor do Real Madrid apupar o seu guarda-redes. Amanhã tem mais.

Ortográficas
O acadêmico e gramático Evanildo Bechara publicou artigo num dos jornais que assino. Recusei-me a ler o texto do recifense nascido em 1928, porque o jubilei quando se envolveu com o maldito Acordo Ortográfico do Lula. Aposentei sua gramática, não leio seus artigos, quero mais é que passe bem e muito obrigado. Para, do verbo parar, sem acento, foi demais para os meus nervos. Acento no primeiro a, bem entendido, que no último existe o regionalismo gaúcho pará, “qualquer culto afro-brasileiro e/ou qualquer terreiro desses cultos”, além do estado superiormente governado por Barbalhos, Jatenes e Carepas, com 1.247.954 km², a 13ª maior subdivisão mundial, equivalente à soma das áreas da Tailândia, Camboja, Laos e Vietnã.

Tanto quanto se possa acreditar na Wikipédia, sempre alterada por palacianos e petroleiros, o Pará tem cerca de 8 milhões de habitantes, enquanto a soma dos quatro países citados chega aos 180 milhões. Haja tacacá para que os paraenses possam alcançar os 180 milhões de coestaduanos com o seu clima quente, que pede ar condicionado, proporcionado, como sabe o leitor, pela compra do ar-condicionado. Tá vendo? O diabo do idioma é complicado. Ar condicionado é ar resfriado ou aquecido por meio de aparelho específico, o condicionador de ar, que pede hífen: ar-condicionado.

Bilhete
E-mail que recebi de leitor amigo, belo-horizontino de 50 anos, duas vezes doutorado pelas melhores universidades do planeta, poliglota, cientista, musicólogo, gourmet: “Neste país de presidentas, tenentas, escreventas e estudantas (por força da utilíssima Lei Federal 12.605), a pseudociência estatística (segundo a qual se você come um frango inteiro e eu nenhum, comemos ambos meio frango, a despeito de minha fome) consegue se tornar ainda mais inútil. No início deste ano, o IPEA nos informava que 65% dos pindoraminenses concordavam que mulheres com vestimentas provocantes mereciam ser estupradas, mas poucos dias depois, dizia que 65% eram, na realidade, 29%. Agora, seu irmãozinho, o IBGE, se confunde na análise de dados que, em princípio, deveria ser sua competência maior (ou única) e nos apresenta resultados diametralmente opostos em menos de 24 horas sob a justificativa de que ignoraram alguns ‘numerinhos’. Ainda bem que os resultados dos nossos exames de sangue, urina e fezes não precisam ser processados por eles! ”.

O mundo é uma bola
Dia 22 de outubro de 1797, André-Jacques Gamerin fabrica o primeiro paraquedas bem-sucedido e salta de um balão a 670 metros de altura. Em 1844, o Dia do Grande Desapontamento: inspirados em profecias bíblicas, religiosos norte-americanos esperavam o retorno de Jesus nesse dia. Em 1909, a francesa Élise Déroche é a primeira mulher a fazer um voo solo. Transcorridos 103 aninhos, senhoras e senhoritas pilotam helicópteros e aviões comerciais, com a competência que usavam para pilotar as cinco bocas do fogão a gás nos bons tempos.

Em 1938, é feita, nos Estados Unidos, a primeira cópia xerográfica. Em 1945, fundação da PIDE, a Polícia Internacional e de Defesa do Estado, modelar instituição policial portuguesa, que inspirou algumas das melhores anedotas do Juca Chaves. Hoje é o Dia do Paraquedista, do Enólogo, da Praça e o Dia Mundial de Atenção à Gagueira.

Ruminanças
“Se me engano, sou” (Santo Agostinho, 354-430).

Nenhum comentário:

Postar um comentário