quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O novo Oriente Médio‏

Sílvio Musman
Cônsul honorário de Israel em Minas Gerais
Estado de MInas: 04/09/2014 



Não existem países “naturais”. Todos eles formaram-se a partir de invasões, conquistas ou acordos internacionais. Tomem como exemplo nosso Brasil: somos praticamente todos aqui “invasores” vindos dos quatro cantos do globo terrestre que expulsaram os índios, verdadeiros donos da terra. Assim também ocorreu na Europa, Américas, África e Oriente Médio, onde povos foram muitas vezes agrupados sem levar em consideração suas afinidades tribais. Apesar de termos documentos inquestionáveis da presença desses povos na região há milênios, Israel e Palestina foram criados como Estados independentes por uma decisão das Nações Unidas em 1947. Israel, em particular, hoje com cerca de 7 milhões de habitantes, vive circundado por 1,5 bilhão de muçulmanos e milhões de árabes, na sua quase totalidade hostis à sua presença e existência na região.
Legalmente constituído e sendo uma realidade que veio para ficar, Israel é a única nação do mundo obrigada a conviver diariamente com a intimidação, ou seja, aberta e declarada ameaça a sua existência.
Tendo passado por diversas guerras desde sua independência com reais e concretos riscos à sua integridade, acabou sendo forçado a desenvolver forte e eficaz sistema de defesa, sendo hoje reconhecido como a maior potência militar da região, tendo um sofisticado e avançado sistema tecnológico militar. Essa necessidade se tornou prioritária principalmente a partir da Guerra do Yom Kippur em 1973, quando quase viu-se derrotado, tendo isso deixado profundas e ainda não cicatrizadas feridas em sua sociedade.
Qualquer debate sério que tenha como foco as relações entre Israel e palestinos deve, portanto, obrigatoriamente, levar em consideração o tema da segurança do povo e do Estado de Israel, tendo em vista que os riscos vão muito além dos limites geográficos de Gaza e da Cisjordânia.
As lutas pela independência e autonomia palestinas são absolutamente justas e legítimas, e negá-las é negar a própria criação do Estado de Israel. Contudo, defender a legitimidade dos palestinos por meio da deslegitimização de Israel, dos judeus ou do judaísmo não contribui em nada para o avanço positivo da situação. Mesmo potente, desconsiderar suas necessidades de autodefesa e proteção torna o Estado de Israel mais fechado em torno de si mesmo, dificultando concessões em temas importantes para um processo de paz.
Apesar de potencialmente letais, os foguetes palestinos do Hamas realmente não constituem a verdadeira ameaça ao Estado de Israel, mas sim o que representa a presença em Gaza de uma organização como o Hamas, que, na verdade, não luta pelos direitos dos palestinos, mas os usa para atingir seu objetivo maior que é o de destruir Israel, sendo um representante das aspirações de outros atores regionais que compartilham do mesmo objetivo, sendo mandatório citar o Irã com suas pretensões nucleares, essas sim reais e verdadeiras ameaças ao Estado de Israel.
As mudanças geopolíticas por que vem passando o mundo árabe e muçulmano, com o desparecimento das nações tradicionais e surgimento de Estados islâmicos fundamentalistas, são ameaças concretas à estabilidade não só da região como de outros continentes, como citou esta semana o Rei da Arábia Saudita.
Conta a lenda que os mineiros, ao descerem ao subsolo das minas, levavam consigo canários, pois em caso de algum vazamento gasoso tóxico o canarinho morria antes, sinalizando que as próximas vítimas seriam os próprios mineiros. Como diz a deputada europeia Pillar Rahola, Israel é o canário do mundo ocidental com seus valores e hábitos de vida. Israel sucumbindo, todos nós seremos as próximas vítimas da expansão jihadista.
Cabe aos próprios palestinos, por meio do abandono da aspiração em exterminar Israel, da escolha de lideranças que efetivamente defendam seus interesses e que estejam atentas e preparadas para nunca desconsiderar as necessidades de defesa de Israel, abrir as verdadeiras portas rumo a negociações que caminhem em direção a uma situação de liberdade e autonomia palestina e segurança israelense.

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