quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Em grande ESTILO - Carolina Braga

Festival Internacional de Teatro de Bonecos supera dificuldades e chega à 14ª edição com 10 espetáculos de seis países. Produção mineira, o evento fica em cartaz até dia 14, em BH


Carolina Braga
Estado de Minas: 03/09/2014




Ecole des Ventriloques é um dos espetáculos da noite de abertura do Festival Internacional de Teatro de Bonecos (Veronique Vercheval/divulgação)
Ecole des Ventriloques é um dos espetáculos da noite de abertura do Festival Internacional de Teatro de Bonecos


Quando tinha 7 anos, em uma expedição exploratória pelos corredores do colégio de freiras em Paraguaçu, no Sul de Minas, Lelo Silva deparou com o que, para ele, era quase um tesouro. “No porão do auditório, achei duas caixas de papelão lotadas de fantoches. Juntei aquilo, uns amigos e montamos uma história. A gente se apresentava sábado, cobrando chicletes e doce da plateia”, lembra. Algumas décadas se passaram, mas até hoje a inquietação toma conta de Lelo quando ele fala de bonecos e dos universos que cercam essas criaturas.

Até dia 14, o Festival Internacional de Teatro de Bonecos (FITB), idealizado por ele e por Adriana Focas em 2000, volta à agenda de Belo Horizonte depois de superar uma crise. Em 2012, por dificuldades na articulação de patrocínios, houve uma pausa no evento. “Não conseguia nem grana direito e nem espaço”, recorda o produtor. Em 2013, o festival foi realizado de maneira bastante tímida. Agora, com o apoio do Banco do Brasil, promete lembrar os bons e velhos tempos.
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) receberá 10 espetáculos do Brasil, Espanha, Itália, Bélgica, França e Chile, além de 11 caixas de teatro inspiradas na técnica lambe-lambe – montagem em miniatura exibida para um ou dois espectadores por sessão. “Pensamos muito no público de Belo Horizonte e priorizamos a dramaturgia. O tema é a primeira coisa que atrai”, diz Lelo.

O público terá a oportunidade de conferir a combinação de técnicas e dramaturgia no mínimo diferente daquela a que está acostumado. A ideia é despertar no espectador encantamento semelhante ao de Lelo no porão de seu antigo colégio.
Se naquela época o difícil era convencer os colegas de Paraguaçu a embarcar na onda, obviamente, os bonecos de Lelo ganharam outra dimensão. Este ano, para atrair espetáculos que realmente impactaram a curadoria, ele e os colegas da companhia Catibrum toparam construir do zero os cenários das montagens Diagnóstico: Hamlet, da Cia Pelmànec (Espanha); L’Ecole des Ventriloques, da Cia. Point Zéro (Bélgica); e La caravane de l’herreur, da Cia Bakélite (França).

“Fica mais barato, é o caminho para viabilizar o festival e um prazer pra gente. É muito bom ver isso aqui nascendo”, diz Lelo. L’Ecole des Ventriloques, a peça escolhida para a abertura, esta noite, tem sete grandes armários em cena. Embora pareçam ser de ferro, tudo foi feito em madeira dentro da sede onde a Catibrum cria as próprias montagens. Foram necessários 200 metros quadrados de compensado e 2,5 mil parafusos para pôr a estrutura de pé.

L’Ecole des Ventriloques promete ser o espetáculo mais grandioso desta edição do FITB. Com texto do cineasta e escritor chileno Alejandro Jodorowsky, trata-se de um conto filosófico. Ao mesmo tempo em que provoca medo e faz rir, leva para a cena interrogações sobre o status do artista no mundo hoje. O cenário é construído pela segunda vez na América Latina. A primeira foi na terra natal do autor.

Vem do Chile a outra pérola: Otelo, da Cia. Viaje Inmóvil. Entre os diretores está Jaime Lorca, ex-integrante e um dos fundadores da Cia. La Tropa, que oferece olhar contemporâneo para a tragédia passional escrita por William Shakespeare.

Brasil Entre os destaques nacionais está a estreia de O quadro de todos juntos, montagem do grupo mineiro Pigmaleão Escultura que Mexe, em cartaz no dia 10. Uma prévia foi apresentada no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto e na Feira de Teatro de Bonecos de Lleida, na Espanha, onde o espetáculo ganhou o prêmio do júri internacional. “É mais um pedaço da estreia, fazemos tudo aos poucos. A gente fez uma experiência para o Cenas Curtas e, como deu muito certo, acabamos mudando a versão completa do espetáculo. Na verdade, ele está mudando até hoje”, conta o diretor Eduardo Felix.
Segundo ele, a família de porcos que protagoniza a peça não para de crescer. “Aos poucos, ela vai ficando mais complexa. Estamos fazendo de uma maneira pouco convencional. A dramaturgia nasce da pintura, e não da escrita”, completa.

Outra atração que promete ser marcante é a apresentação inclusiva de O som das cores, da Catibrum, no dia 8. A história terá o suporte da audiodescrição para atender os espectadores cegos.


PROGRAMAÇÃO


» Hoje
19h – Tropeço. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
20h – L’Ecole des Ventriloques. Com Cia. Point Zéro (Bélgica)

» Amanhã
20h – L’Ecole des Ventriloques

» Sexta-feira
19h – Tropeço
20h – Diagnóstico: Hamlet. Com Pelmànec (Espanha)

» Sábado
16h – Entre janelas. Com Tato Criação Cênica (PR/BR)
19h – El cubo libre. Com Cia. Dromosofista (Itália)
19h – Diagnóstico: Hamlet

» Domingo
16h – Entre janelas
19h – El cubo libre
19h – O som das cores. Com Cia. Catibrum (MG/BR)


14º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE BONECOS
De hoje ao dia 14. CCBB, Praça da Liberdade, 450. Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Capacidade: 264 pessoas. Programação completa: www.festivaldebonecos.com.br

Made in Minas




“Foi aquela coisa ‘papai, eu quero’. Isto aqui é um sonho”, conta Lelo Silva sobre La caravane de l’herreur, atração a partir do dia 11. Quando assistiu à montagem de Olivier Rannou e Alan Floc’h na programação paralela do festival francês de Charleville, Lelo saiu convicto de que o público de Belo Horizonte precisava ver aquilo. O problema é que a peça se passa dentro de um trailer, tipo motorhome, para plateia de apenas 17 pessoas.

Tem mais: La caravane... é representante do gênero horror, com apenas 17 minutos de duração. Lelo garante: a experiência é rápida e marcante. “Quando a sessão acabou, disse a eles que queria levar a peça para o Brasil, mas não acreditaram. Como o meu francês é meio tímido, acabei não argumentando. De volta a BH, mandei um e-mail para o grupo”, conta.
Adriana Focas também saiu da sessão impactada.. “Quando ele falou em trazer a peça, imaginei pegar um trailer de verdade e fazer algumas modificações. Vimos que não era tão fácil, aí ele sugeriu construir. Pensei: ‘Lelo, agora você endoidou’”, brinca ela. A missão “sobrou” para Tim Santos, cenógrafo da Catibrum. “Se o Tim falasse que sim, aí sim”, completa Adriana. “A princípio, achei impossível. Depois, fui pensando melhor e resolvi pegar esse desafio”, conta Santos.

Desde 26 de julho ele se dedica exclusivamente a construir o trailer. Como os desenhos com todos os detalhes vieram da França, Tim precisou da ajuda de um tradutor para entender as orientações. “Estou muito orgulhoso de conseguir fazer a peça para mostrar o espetáculo aqui. Gosto muito dela”, conclui Lelo, prometendo uma bela surpresa para o público. 

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